summaryrefslogtreecommitdiff
diff options
context:
space:
mode:
authorRoger Frank <rfrank@pglaf.org>2025-10-14 19:56:10 -0700
committerRoger Frank <rfrank@pglaf.org>2025-10-14 19:56:10 -0700
commite5132c710582491f87b762691ff3d9b8a547216f (patch)
tree26282f589c5781bfe7d88f9ed6e19e0fe0ac626d
initial commit of ebook 31654HEADmain
-rw-r--r--.gitattributes3
-rw-r--r--31654-8.txt1623
-rw-r--r--31654-8.zipbin0 -> 36771 bytes
-rw-r--r--31654-h.zipbin0 -> 38408 bytes
-rw-r--r--31654-h/31654-h.htm1668
-rw-r--r--LICENSE.txt11
-rw-r--r--README.md2
7 files changed, 3307 insertions, 0 deletions
diff --git a/.gitattributes b/.gitattributes
new file mode 100644
index 0000000..6833f05
--- /dev/null
+++ b/.gitattributes
@@ -0,0 +1,3 @@
+* text=auto
+*.txt text
+*.md text
diff --git a/31654-8.txt b/31654-8.txt
new file mode 100644
index 0000000..dd14fcf
--- /dev/null
+++ b/31654-8.txt
@@ -0,0 +1,1623 @@
+The Project Gutenberg EBook of Oliveira Martins, by Anthero de Quental
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: Oliveira Martins
+
+Author: Anthero de Quental
+
+Release Date: March 15, 2010 [EBook #31654]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OLIVEIRA MARTINS ***
+
+
+
+
+Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
+of public domain material from Google Book Search)
+
+
+
+
+
+
+ ANTHERO DE QUENTAL
+
+ OLIVEIRA MARTINS
+
+O critico litterario--O economista--O historiador--O publicista--O politico
+
+
+ LISBOA
+ TYPOGRAPHIA DA COMPANHIA NACIONAL EDITORA
+ _50, Largo do Conde Barão, 50_
+ 1894
+
+
+
+OLIVEIRA MARTINS
+
+
+
+ANTHERO DE QUENTAL
+
+OLIVEIRA MARTINS
+
+O critico litterario--O economista--O historiador--O publicista--O politico
+
+
+LISBOA
+TYPOGRAPHIA DA COMPANHIA NACIONAL EDITORA
+_50, Largo do Conde Barão, 50_
+1894
+
+
+
+
+Os Luziadas, ensaio sobre Camões a sua obra, em relação á sociedade
+portugueza e ao movimento da Renascença, por J. P. de Oliveira
+Martins. Porto, 1872.
+
+
+Se a escóla ethnologica está representada, entre os escriptores novos,
+pelo sr. Theophilo Braga, a escóla social e historica--a unica, talvez,
+a que propriamente se devêra dar o nome de philosophica--acaba de achar
+igualmente entre nós um digno representante num escriptor moço e do
+maior futuro, o sr. Oliveira Martins, que num livro recente estudou, a
+proposito de Camões (e para nos explicar Camões), a litteratura
+portugueza do seculo XVI, no ponto de vista largo e comprehensivo, ao
+mesmo tempo politico e psychologico, que caracterisa esta ultima escóla.
+
+Neste ponto de vista, a litteratura de um povo, considerada como um todo
+symetrico, uma obra gigantesca e collectiva, apresenta-se como a
+expressão do seu espirito nacional, determinado não por tal ou tal
+elemento primitivo e, por assim dizer, physiologico, mas pelos
+elementos complexos, uns fataes outros livres, uns criados outros
+herdados, cuja synthese constitue a _idéa_ da sua nacionalidade--raça,
+instituições, religião, tradição historica e vocação politica e
+economica no meio dos outros povos. A idéa nacional, na sua evolução,
+determina gradualmente o que se póde chamar o temperamento da nação; e,
+se esta surda fermentação se manifesta em tudo, nos seus actos e nos
+seus pensamentos, revela-se sobretudo na sua imaginação, isto é, no seu
+ideal, cuja expressão mais livre é a arte e a litteratura. Nesta
+invisivel circulação da seiva interior ha periodos, periodos de
+revolução, de progresso, de retrocesso, de incubação ou de plenitude de
+forças: a estes correspondem invariavelmente os periodos artisticos e
+litterarios, com suas variações de intensidade, lenta formação de
+escólas, morbidos estacionamentos, subitas e inflammadas florescencias.
+E, como nesta vegetação collectiva, cada ramo, cada folha, cada fructo,
+se alimenta com a seiva commum e tem uma vitalidade proporcional á força
+que trabalha o grande tronco, o espirito individual acompanha o espirito
+nacional nas suas evoluções, gradua pela delle a sua intensidade: a sua
+liberdade interior tem por limites, realisando-se, as condições do meio
+em que se desenvolve, e o genio do artista, do poeta, ainda quando
+protesta e se revolta, é sempre _adequado_ ao genio do seu povo e da sua
+época. É por aqui que a historia litteraria se liga á philosophia da
+historia, ou antes, que faz parte della. As grandes épocas litterarias
+coincidem com as épocas de plenitude do sentimento nacional, aquellas
+em que esse sentimento, tomando consciencia de si, se revela em obras
+harmonicas e complexas, que são como que o fructo definitivo da lenta
+elaboração das instituições, dos costumes, dos pensamentos. Reaes e
+juntamente ideaes, essas obras supremas dizem-nos ao mesmo tempo o que
+um povo _foi_ e o que _quiz ser_, descobrem-nos a sua _aspiração_ intima
+e marcam os _limites_ dentro dos quaes lhe foi dado realisal-a. São o
+commentario moral das revoluções politicas e sociaes, e como que os
+annaes da consciencia nacional: e, para a philosophia, é na consciencia
+que a historia encontra a sua explicação definitiva e a sua final
+justificação.
+
+O que diz Camões a quem, depois de o ter lido com olhos de homem de
+gosto, o relê com olhos de philosopho? Camões, responde o snr. Oliveira
+Martins, diz-nos o _segredo_ da nacionalidade portugueza. Houve, com
+effeito, uma nacionalidade portugueza--por mais estranha que esta
+affirmação nos pareça, a nós portuguezes do seculo XIX, que não atinamos
+a encontrar no presente uma _causa vivendi_: houve uma razão de ser
+tanto para as instituições como para os individuos, e uma idéa nacional,
+espalhada como a alma collectiva por todo este corpo, então vivo e agil.
+E não só houve uma nacionalidade portugueza, mas essa nacionalidade,
+superior aos impulsos cegos da raça e á fatalidade da geographia,
+produziu-se como uma obra do esforço e da vontade, não resultado de
+obscuros instinctos primitivos, como um facto politico e moral, não como
+um facto ethnologico. Quando em Hespanha não havia ainda senão catalães,
+castelhanos, leonezes e navarros; em França provençaes, gascões,
+borguinhões, bretões; em Allemanha suabos, austriacos, saxões,
+hanoverianos; em Italia tantos pequenos estados rivaes quantas cidades,
+e não se fazia bem idéa do que fosse ser hespanhol, francez, allemão,
+italiano, porque estas palavras França, Hespanha, Allemanha, Italia
+designavam apenas vagas agrupações naturaes e não grupos organisados--em
+Portugal havia só portuguezes, e ser portuguez tinha uma significação
+definida e precisa. Este é o grande facto, diz o sr. Oliveira Martins,
+que faz delle o seu ponto de partida: daqui, a cohesão politica da
+nação; daqui a sua physionomia moral. Essa cohesão é a unidade; essa
+physionomia é o patriotismo. O patriotismo, pondera acertadamente o sr.
+Oliveira Martins, é cousa muito distincta do amor da terra: e o
+patriotismo, como os portuguezes dos seculos XV e XVI o conceberam, foi
+um phenomeno moral quasi unico na Europa de então, e que os tornou muito
+mais parecidos com os romanos antigos do que com os povos seus
+contemporaneos. O patriotismo é uma idéa abstracta, que excede a
+capacidade toda sentimental da raça; o instincto naturalista da raça dá
+o amor da terra; não vai mais além: só a idéa nacional póde dar o
+patriotismo, comprehendido á romana e á portugueza. O Cid batalha mais
+de uma vez contra os castelhanos, ao lado dos arabes; o condestavel de
+Bourbon vira a sua espada aventureira contra a França que o viu nascer;
+nem por isso deixa o Cid de ser um typo de bravura idealisado pelos
+hespanhoes, e o condestavel de Bourbon um leal cavalleiro para todos os
+cavalleiros de França; mas os Pereiras, combatendo ao lado dos
+castelhanos em Aljubarrota, são malditos, _arrenegados_; e, mais tarde o
+Magalhães será _portuguez no feito, porém não na lealdade_: apostataram
+da idéa nacional. Eis a grande differença. Esta noção do patriotismo
+cria uma ordem de sentimentos particulares dos individuos para com a
+nação, um modo de ser moral peculiar. É o dever patriotico, como o
+comprehenderam, em Roma, Fabricio, Regulo, Catão, em Portugal Castro,
+Albuquerque--o dever patriotico, cuja expressão suprema é o heroismo.
+Leia-se a historia da Europa até ao seculo XVI: abundam os _bravos_, mas
+difficilmente se encontrarão os _heroes_, segundo o typo magnanimo que a
+antiguidade realisou, e que de novo e no seu ponto de vista realisou
+Portugal durante os seculos XV e XVI. No _peito illustre lusitano_ havia
+então alguma cousa de grande e transcendente, que impellia a nação para
+um destino extraordinario e suscitava no meio della os heroes, que
+deviam servir a idéa nacional com a abnegação tenaz e superior com que
+se serve uma idéa religiosa. É que o patriotismo é uma especie de
+religião civil. Foi por essa religião que, durante tres seculos, nos
+erguemos no mundo, para realisar um sonho gigantesco e quasi
+sobre-humano: foi por ella tambem que cahimos exangues e desilludidos,
+porque a realidade faltou ao sonho, porque todo o sonho, com o seu
+idealismo, se exalta primeiro, perturba depois, transvia, endoudece
+aquelles que envolve nas suas nevoas phantasticamente luminosas, mas
+sempre enganadoras.
+
+A época nacional portugueza, por excellencia, é o seculo XVI. Tudo
+concorre então para dar ao espirito dos portuguezes aquelle summo grau
+de tensão, que produz os grandes movimentos nacionaes. A nacionalidade
+rompe com impulso irresistivel os seus limites tradicionaes, transborda
+fremente como um rio caudaloso, e affirma-se na sua plenitude pelas
+descobertas e pelas conquistas. Dentro, a sua força é o resultado da sua
+concentração: pela reforma dos foraes, pela monarchia absoluta, pela
+expulsão dos judeus, attinge o maximo de unidade politica, social,
+religiosa, isto é, o maximo de poder sobre si mesma. Esta energica
+cohesão depura o sentimento nacional, dá-lhe uma segura consciencia de
+si, e leva-o áquelle grau de tensão em que o patriotismo, exaltando-se,
+se transforma numa especie de heroismo universal. A nação faz-se heroe:
+o heroismo é a sua atmosphera ordinaria, e todos participam mais ou
+menos desse contagio sublimador. Daqui, uma concepção particular da vida
+social, do direito, do dever, tanto para a nação como para os
+individuos. _Ser portuguez_ é alguma cousa de especial, um typo _sui
+generis_ de virilidade e nobreza, que todos procuram realisar, e que a
+litteratura idealisa, de que ella se inspira na phase nova em que então
+entra. Com effeito, a esta evolução moral corresponde uma evolução
+litteraria. Á escóla provençal-castelhana, lyrica, aventureira e
+romanesca, succede a grave escóla italiana, com a feição nova que o
+espirito portuguez lhe deu, adoptando-a, isto é, moral e épica. Ao
+trovador Bernardim Ribeiro, ao popular Gil Vicente succedem Sá de
+Miranda e Ferreira, dous romanos. O velho typo cavalheiresco,
+phantasioso e sentimental, empallidece diante desse outro que surge,
+nobre e digno, quasi severo, o homem do dever, não da sensibilidade, que
+João de Barros, Ferreira e Miranda vão levantando, e que Camões virá
+collocar sobre o sublime pedestal épico.
+
+Este typo, o verdadeiro typo portuguez do seculo XVI, como se revela nos
+_Lusiadas_, não é com effeito uma mera invenção do genio de Camões: é
+uma genuina criação nacional, um ideal do sentimento collectivo, que se
+foi gradualmente formando e depurando, até encontrar no grande poeta
+quem lhe désse uma expressão definitiva. É por isso mesmo que elle
+domina, de toda a sua altura, o pensamento e a obra de Camões. O que o
+poeta canta é o heroismo portuguez: _o peito illustre lusitano_: e todo
+o seu poema se resume nisto, como nesse poema se resume toda a vida
+moral portugueza durante um seculo. A razão intima dos acontecimentos,
+dos costumes, das opiniões encontra-se alli: explicam-se por elle, e só
+elles tambem o explicam completamente. O poema e a sociedade são, por
+seu turno, texto e glosa que mutuamente se commentam.
+
+Neste ponto de vista, historico e psycologico, não no ponto de vista
+meramente litterario de uma esteril poetica de convenção, é que os
+_Lusiadas_ devem ser estudados e comprehendidos--e cabe ao sr. Oliveira
+Martins a gloria de ter sido o primeiro a fazel-o, a gloria de ter
+_commentado_ philosophicamente os _Lusiadas_. A esta luz tudo se explica
+na concepção do poema e na substancia moral delle: percebe-se a razão
+deste estranho phenomeno, estranho e unico, do apparecimento de um
+verdadeiro poema epico nacional em plena idade moderna.
+
+Isto em quanto á concepção. Em quanto, porém, a certa ordem de
+sentimentos, que, no ponto de vista épico, são secundarios, mas que
+occupam um grande logar no poema, para os comprehender faz-nos o sr.
+Oliveira Martins considerar outro lado da physionomia tão complexa de
+Camões e da sua época. Com effeito, se Camões é um portuguez do seculo
+XVI, é ao mesmo tempo um artista da Renascença; daqui todo um lado dos
+_Lusiadas_, que excede a idéa nacional, e por onde este profundo poema
+se liga, não já á vida necessariamente estreita de um simples povo, mas
+ao vasto movimento do espirito humano nos tempos modernos. Sem este
+lado, a significação dos _Lusiadas_ seria meramente nacional e local,
+não europêa e universal: teriam só um valor historico e não philosophico
+tambem. Mas Camões, portuguez pelo caracter e pelo coração, era pela
+intelligencia mais do que portuguez sómente. Respirava a atmosphera
+subtil e vivificante da Renascença: no seu vasto espirito, como no dos
+grandes artistas desse tempo, havia um lado mysterioso e profundo que se
+virava, não para o passado ou para o presente, mas para o illimitado
+futuro, presentindo já a revolução moral dos seculos XVIII e XIX. Se
+Camões, como portuguez é patriota e heroico, como homem da Renascença é
+pantheista; pantheista platonico e idealista, já se vê, como Miguel
+Angelo, Leonardo de Vinci, Shakespeare. Portuguez, exalta os feitos por
+onde o seu povo conquista entre as nações um logar proeminente: homem da
+Renascença, sente e interpreta a natureza com um naturalismo impregnado
+de idealidade, que é mais ainda o presentimento de um mundo moral
+novo, do que uma imitação da antiguidade pagan. O sentimento pantheista
+da natureza, sentimento todo moderno, e que devia mais tarde chegar á
+plenitude em Rousseau, Goethe, Hugo, appareceu pela primeira vez em
+Camões. Daqui, o caracter do seu espanto em face dos grandes phenomenos
+maritimos; daqui, a concepção do Adamastor; daqui, o sensualismo da
+primeira parte do canto XI e o idealismo da ultima. É por este lado que
+Camões toma logar entre os grandes espiritos, os _Lusiadas_ entre as
+grandes obras dos tempos modernos. A imaginação prophetica do poeta
+anticipa tres seculos na historia psycologica da humanidade. Com todos
+estes elementos, uns portuguezes, outros europeus, uns locaes, outros
+universaes, recompõe o sr. Oliveira Martins a physionomia complexa de
+Camões e dos _Lusiadas_, com uma lucidez e segurança de critica
+verdadeiramente surprehendentes para quem considerar a completa novidade
+do seu trabalho. A sua luminosa synthese abraça o poeta, a obra e a
+época: e pela épocha, pelo poeta e pela obra faz-nos sentir a intima
+realidade da nação e a sua razão de ser historica. E nessa mesma
+synthese comprehende-se tambem a sua decadencia; triplice decadencia,
+politica, moral, litteraria. Como? pela decadencia da idéa nacional. Com
+effeito, o patriotismo heroico do Portugal do seculo XVI continha em si
+mesmo os germens da propria dissolução. Era grande, mas não era justo:
+ora nada dura no mundo senão pela justiça. Tinha fatalmente de se
+corromper essa orgulhosa idéa nacional, fundada na violencia da
+conquista, na intolerancia religiosa e no despotismo politico. Os
+vicios interiores do organismo nacional appareceram bem depressa:
+appareciam já no tempo de Camões: nos _Lusiadas_ encontram-se de vez em
+quando, estrophes sombrias, que são como um lugubre _cras enim moriemur_
+lançado no meio das alegrias daquelle festim heroico. Era o futuro
+velado e lutuoso que o poeta entrevia num deslumbramento prophetico. A
+nação estava, com effeito, condemnada. O heroismo que tem de durar,
+lança as suas raizes na região mais inalteravel, mais incorruptivel da
+consciencia humana, e as do nosso não chegaram lá: foi uma especie de
+_sezão nacional_; não foi um acto reflectido, filho da liberdade moral,
+um esforço supremo pela justiça; foi apenas um egoismo sublime. Por
+isso, martyres da propria obra, a nossa quéda foi cheia de tristeza e
+confusão, nem nos ficou no rosto a serenidade luminosa dos verdadeiros
+martyres.
+
+As paginas austeras em que o sr. Oliveira Martins estabelece esta
+distincção entre o heroismo da consciencia e o da fatalidade, e mostra
+Portugal condemnado por aquillo mesmo que fizera a sua virtude e a sua
+grandeza, são das mais gravemente pensadas que se teem escripto na nossa
+lingua. É a verdadeira philosophia da historia aquella sua, que reduz e
+subordina toda a actividade humana á consciencia e á justiça. A
+injustiça da idéa nacional, como os portuguezes então a conceberam,
+corrompeu gradualmente as instituições, infiltrou-se nos espiritos e
+perverteu os costumes: a sociedade, minada interiormente, vacillou, em
+despeito do esplendor mentiroso que exteriormente a vestia, e começou a
+desabar. O sr. Oliveira Martins desenhou com mão segura e vivissimo
+colorido o quadro das implacaveis realidades, que, produzidas pelo
+heroico idealismo portuguez, se viraram contra elle, o viciaram e
+acabaram por destruil-o. A nação, atacada deste modo nos seus orgãos
+mais vitaes e na mesma alma, que podia produzir no mundo do espirito, da
+arte, da litteratura? A decadencia social e moral tinha necessariamente
+de corresponder a decadencia litteraria. Um desregramento doentio das
+imaginações privadas de ideal, depois um estreito classicismo e uma
+poetica de academias, succederam á livre e fecunda expansão do genio
+portuguez no mundo do sentimento e da phantasia. A idéa nacional levou
+comsigo para a cova o segredo das criações poeticas. Do seculo XVI até
+hoje não produziu Portugal uma unica obra artistica ou litteraria
+verdadeiramente nacional. De vez em quando, nalguns momentos
+excepcionaes, o genio dalguns homens tem-se levantado como um protesto,
+e tem-se visto ainda uma ou outra obra viva. Mas essa inspiração é toda
+individual, não é nacional: é um producto natural que póde demonstrar
+que a raça não morreu com a nacionalidade, não é filha de um sentimento
+commum e como que organico da sociedade portugueza. A decadencia
+nacional é o grande facto inexoravel da nossa historia, vai em tres
+seculos: a decadencia litteraria é uma fórma della, nada mais.
+
+Decadencia irremediavel? pergunta o sr. Oliveira Martins, nas ultimas
+paginas do seu livro. Não! responde-lhe a philosophia revolucionaria. A
+nossa renovação moral e litteraria será possivel no dia em que, pela
+reforma das instituições sociaes, por uma nova e melhor comprehensão da
+justiça, comece outra vez o espirito a circular neste grande corpo, mais
+inerte ainda do que acabado, volte a animal-o uma alma, um ideal
+collectivo. Então Portugal terá de novo uma razão de ser, e a idéa
+nacional, mais brilhante e mais quente depois do seu eclipse secular,
+fará rebentar outra vez fructos e flores deste chão endurecido sim, mas
+debaixo do qual ha ainda (embora a grande profundidade) fontes vivas em
+abundancia. As grandes acções serão outra vez possiveis, e um melhor e
+mais alto heroismo; por elle serão não só possiveis, mas quasi
+inevitaveis os grandes pensamentos poeticos. A renovação litteraria de
+Portugal é correlativa com a sua renovação social e está dependente
+della: é a conclusão do livro do sr. Oliveira Martins, conclusão que
+todos devemos aceitar, não como uma vaga esperança, mas como uma verdade
+philosophica cuja realisação não depende senão do nosso esforço, da
+energia do nosso sentimento moral. Somos os operarios do nosso proprio
+destino, e desde já as nossas mãos o vão aperfeiçoando: terá a fórma que
+lhe dermos.
+
+Neste trabalho solemne da renovação nacional, grande é a tarefa que está
+talhada para a geração nova, e immensa a sua responsabilidade! Estará
+ella, pela intelligencia e pelo coração, pela sciencia e pela virtude, á
+altura desta obra austera e formidavel? Muitos o duvidam, vendo-lhe no
+rosto uma pallidez de mau agouro... Não me cabe a mim decidil-o: direi
+sómente que (quaesquer que tenham de ser os nossos destinos) para
+darem testemunho das intenções sérias de uma parte consideravel da nossa
+geração, do seu espirito renovador, da sua aspiração a uma melhor
+sciencia, bastarão em todo o tempo obras como a _Historia da litteratura
+portugueza_, do sr. Theophilo Braga, e o _Ensaio sobre Camões_, do sr.
+Oliveira Martins.
+
+9 de maio de 1872.
+
+
+
+
+Theoria do socialismo, evolução politica e economica das sociedades
+da Europa: por J. P. de Oliveira Martins. Lisboa, 1872.
+
+
+I
+
+Pelo assumpto do livro, pela maneira porque nelle se resolvem as
+questões que o assumpto envolve, e pela muita amizade, além da
+affinidade de crença philosophica e politica, que me liga ao autor,
+estava eu obrigado a fallar publicamente desta recente e por tantos
+lados notavel obra do sr. Oliveira Martins. Se o não tenho ainda feito,
+contando o livro perto já de tres mezes depois de publicado, é porque
+preoccupações de outra natureza, envolvendo dispendio de tempo e de
+attenção para coisas bastante differentes, me teem totalmente impedido.
+Agora mesmo, só lhe poderei consagrar uma rapida noticia, expondo apenas
+a impressão geral, que uma primeira leitura, por varias occasiões
+interrompida, me deixou, tanto dos defeitos como das sérias qualidades,
+que avultam na _Theoria do Socialismo_.
+
+Comecemos pelos defeitos, e pelos pontos em que discordo (sem
+pretender por modo algum incluir estas divergencias no numero dos
+defeitos) da maneira de vêr do autor. Depois, mais desassombrados,
+apreciaremos o pensamento essencial da obra.
+
+Os defeitos são, me parece, exclusivamente de fórma e composição. Ha uma
+idéa fundamental no livro, que determina uma linha logica,
+desenvolvendo-se sem soluções de continuidade da primeira até á ultima
+pagina; ha, nos pontos que essa linha percorre, uma successão natural
+correspondente ao encadeamento normal dos principios e dos factos na
+sciencia e na historia. O que falta, porém, é uma definição
+_cathegorica_ da idéa geradora, e uma exposição precisa e desenvolvida
+dos principios, de tal sorte que estes não se entrevejam sómente, mas
+appareçam de facto como a _razão sufficiente_ dos phenomenos historicos
+e a elles _adequados_. É a esta falta que se deve attribuir a
+difficuldade e obscuridade que encontram as intelligencias não
+preparadas por uma conveniente educação philosophica (e são muitas,
+desgraçadamente) em certas partes desta obra, aliás methodica e bem
+deduzida. Quero com isto dizer que não é da idéa que provém a
+obscuridade, mas da composição e do estilo. Bastava que o autor tivesse
+dado ás _theses_, que precedem cada um dos seus capitulos, um
+desenvolvimento proporcional, em vez de as encerrar em formulas, ás
+vezes um tanto algebricas, e que nas suas exposições de principios
+_arejasse_ um pouco o estilo, tornando-o mais ductil e menos technico,
+para que as abstrações philosophicas se tornassem accessiveis ao
+simples senso-commum, a que se reduz o criterio de 90 por cento dos
+leitores portuguezes.
+
+Faço estes reparos, não só para que as pessoas que não comprehenderam
+bem certas paginas do livro do sr. Martins se convençam de que essa
+obscuridade nada depõe contra a verdade e lucidez da idéa fundamental
+delle, como tambem por entender que o estilo nas obras não litterarias,
+e até nas de sciencia pura, não deve ser considerado como coisa
+accessoria e secundaria. Certamente que não aconselho aos homens de
+sciencia que _façam estilo_; mas é que tal conselho não o daria tambem
+aos literatos e aos poetas. Para mim, entre ter bom estilo e _fazer
+estilo_ ha uma differença essencial: ter bom estilo significa ter o
+estilo proprio e conveniente das idéas que se expõem; _fazer estilo_
+significa encobrir a falta de idéas com phrases redundantes e
+apparatosas, com aquelles _persicos apparatus_ que já Horacio queria
+banidos dos festins e, com maior razão ainda, do discurso. Póde haver, e
+ha effectivamente, bom estilo até nas sciencias mais rigorosas,
+naquellas a que os espiritos vasios, que querem campar de poeticos,
+chamam aridas: ha bom estilo em mathematica, por exemplo, e em chimica:
+Lagrange passa por ter escripto algebra com uma elegancia e belleza
+verdadeiramente classicas; em chimica, gosa hoje de igual reputação o
+illustre Wurtz. Mas deixemos isto, porque não é sobre esthetica que me
+propuz escrever. Direi sómente que o sr. O. Martins nunca _faz estilo_,
+exactamente porque tem muitas idéas; mas que, por não dispôr ás
+vezes convenientemente as suas idéas, consoante os respectivos valores,
+_cum pondere, numero et mensura_, deixa passar certas paginas, que, sem
+injustiça, podemos acoimar por não terem bom estilo.
+
+Tomarei tambem nota de alguns pontos em que não concordo com o modo de
+vêr do autor da _Theoria_. Não é que essas divergencias de opinião sejam
+muito profundas, quero dizer, que versem sobre pontos essenciaes da
+doutrina do livro: são, pelo contrario, exotericas, e versam
+exclusivamente sobre certas apreciações historicas, indifferentes em
+grande parte á conclusão geral que o autor tira da evolução das
+sociedades na Europa desde a época romana. Essa conclusão é a minha
+tambem, como o leitor verá: e se tomo nota destas divergencias, é porque
+não me apraz estar completamente de accordo com quem quer que seja,
+maximamente com aquelles cuja intelligencia préso e respeito--e desejo
+deixal-o registado. Custar-me-hia tanto não concordar em ponto algum com
+o sr. O. Martins, como concordar em todos absolutamente. Espero que o
+leitor comprehenderá, sem mais explicações, o que quero dizer.
+
+Discordo pois, da maneira porque o sr. Martins encara, na sua
+generalidade, a Idade-media, considerando-a como um periodo de
+retrocesso em relação á civilisação greco-romana, durante o qual os
+elementos evolutivos dessa civilisação estacionassem (experimentando
+alguma coisa analoga áquillo a que em physiologia se chama _interrupção
+de desenvolvimento_), em virtude das sabidas causas ethnologicas,
+sociaes e moraes que determinaram a dissolução do mundo antigo, de
+tal sorte que todo o movimento europeu, durante aquelles nove a dez
+seculos, se reduzisse, de um lado, á tradicção greco-romana, no que ella
+tinha de _já definitivo_ e _não evolutivo_, isto é, o Cristianismo e o
+Imperio, e do outro lado, ao reapparecimento de elementos primitivos, os
+Barbaros, que apenas repetem extemporaneamente phases sociaes, que a
+civilisação antiga, havia já seculos, tinha atravessado. Daqui parece o
+autor concluir que a evolução normal da civilisação foi perturbada,
+durante um certo periodo, pela introducção violenta de elementos
+estranhos, constituindo uma como massa indigesta, cuja laboriosa
+digestão produzindo uma lethargia secular, explica sufficientemente a
+_interrupção de desenvolvimento_ que descobre na idade-media. Esses
+elementos anormaes, que a civilisação teve de digerir durante mil annos,
+para poder reatar os termos logicos da sua evolução (seculo 5.º, seculo
+16.º), foram, de um lado, o Cristianismo com o seu Santo Imperio, do
+outro lado os Barbaros com o seu sistema feudal. Ora, de mais de uma
+pagina da _Theoria_ concluo eu que, no pensar do sr. Martins, nenhum
+destes dois phenomenos é inherente á evolução, pois que vê nas invasões
+barbaras só um phenomeno ethnologico e como que uma fatalidade natural,
+e no Christianismo uma mera reacção religiosa, um recrudescimento
+anomalo de transcendentalismo, quando já pelo Estoicismo, de um lado, e
+do outro pelo Epicurismo, entrava o espirito humano na larga estrada da
+philosophia natural, e entrevia no horisonte a luz salvadora da
+Immanencia. A conclusão a tirar é que, sem estes elementos
+perturbadores, não teria havido _interrupção de desenvolvimento_, seriam
+poupadas á Humanidade as agonias da sua _paixão_ (como Michelet chama á
+Idade-media), o seculo 16.º teria caído no seculo 6.º, e nós hoje
+estariamos já aonde só estaremos no seculo 30.º
+
+Se estas conclusões que não estão explicitas no livro do sr. Martins se
+contêem realmente nos seus principios, tenho a objectar-lhe, antes de
+tudo, que implicam até certo ponto contradicção com a sua idéa
+fundamental, isto é, a Evolução como lei primeira da Civilisação. Que
+uma circumstancia ou uma serie de circumstancias exteriores e fataes
+possam produzir numa civilisação não sómente uma _interrupção do
+desenvolvimento_, mas ainda uma atrophia permanente, comprehende-se e em
+nada contradiz a idéa da Evolução. Mas o que a contradiz e o que não se
+comprehende é que essa atrophia temporária ou permanente possa ser
+expontanea, e saia como um termo necessario da mesma evolução, cuja
+essencia é o desenvolvimento. Ora, ainda concedendo que os Barbaros
+estejam no primeiro caso (e não me parece que estejam absolutamente,
+porque que se as invasões barbaras são um phenomeno natural e fatal, e
+um agente exterior, a fraqueza interna de uma civilisação, que succumbe
+á barbaria, tem por força de ter uma causa tambem interna, que é preciso
+determinar), o Cristianismo é que necessariamente estaria no segundo, e
+teriamos assim, neste ponto, a evolução embaraçando-se e
+contradizendo-se a si mesma.
+
+Logo, uma de duas: ou a evolução, em determinados casos, póde
+suspender-se expontaneamente, e não só suspender-se, mas até
+retroceder e annullar-se a si mesma, o que é contradictorio com a sua
+idéa essencial; ou não houve realmente na Idade-media um _retrocesso
+geral_ e atrophia dos elementos evolutivos, e é necessario procurar no
+estudo comparativo dos elementos immediatamente anteriores e posteriores
+a essa idade a existencia de um _quid intimum_, cujo desenvolvimento,
+assegurando o resultado total da evolução, como sendo-lhe essencial,
+póde ao mesmo tempo, pela sua particular natureza, _suspendel-a
+parcialmente_, durante um certo tempo e em determinados pontos.
+
+Regeitando a primeira hypothese, como envolvendo um absurdo, fica-nos a
+segunda, que não só tem a plasticidade sufficiente para se accommodar á
+explicação dos phenomenos divergentes e apparentemente contradictorios
+de um periodo tão complexo e revolto como a Idade-media, mas encerra
+além disso um real valor philosophico, fazendo entrar na historia uma
+das idéas fundamentaes das sciencias da organisação, a idéa de _crise_,
+e estabelecendo assim entre o mundo da vida e o do espirito uma
+concordancia de bastante alcance.
+
+Nestes termos, diremos que não se deu na Idade-media uma _interrupção
+do desenvolvimento_, mas sim uma de aquellas _crises organicas_
+que são proprias e expontaneas na evolução dentro do mundo dos
+organismos--fazendo entrar neste a historia, como uma fórma organica
+superior e transcendente. Crises taes são um resultado do mesmo
+desenvolvimento dessa ordem de forças complexas (que não são
+independentes e apenas paralelas, mas convergentes e solidarias) que
+actuam segundo leis analogas, tanto nos organismos como nas sociedades e
+no espirito.
+
+Vê-se claramente como desta solidariedade e convergencia, combinadas com
+a acção desigual das circumstancias exteriores sobre cada uma dessas
+forças, resultem para muitas dellas desencontros e periodos de
+estacionamento, em quanto umas esperam para se desenvolverem que outras
+tenham attingido um dado grau de desenvolvimento, sem se realisar o qual
+ellas mesmas não podem continuar a sua evolução.
+
+É assim que o sabio paleontologista G. de Saporta (_Origens da vida
+sobre o globo_), comparando a evolução solidaria dos reinos animal e
+vegetal nas idades primitivas, nos mostra o primeiro, depois de ter
+percorrido successivamente uma serie ascendente de typos, estacionar
+durante muitos milhares de annos, á espera que o secundo, cujo
+desenvolvimento, por causas em parte desconhecidas, fôra mais demorado,
+attingisse aquelle termo de ascensão, sem se realisar o qual não podia o
+reino animal continuar o seu progresso especifico. Se considerarmos (com
+depois dos trabalhos de Darwin e Haekel não podemos deixar de
+considerar) que os chamados reinos animal e vegetal não são sómente
+paralelos mas solidarios, e constituem realmente um só mundo organico,
+teremos um facto consideravel, que a paleontologia nos aponta, o exemplo
+de uma immensa e prolongadissima crise, que esse mundo atravessou, a
+maior porventura que elle tem atravessado.
+
+Ora é exactamente uma crise analoga que eu sustento ter soffrido a
+sociedade europea durante o periodo da Idade-media: o _reino_ social
+e politico, depois de rapido e ininterrupto progresso realisado desde
+Homero até aos Antoninos, teve de estacionar, esperando que o _reino_
+moral, atravez das varias _especies_ do cristianismo e da philosophia
+escolastica, chegasse a um grau de desenvolvimento paralelo ao seu, que
+lhe tornasse possivel continuar a progredir. A solidariedade entre o
+progresso social e moral da humanidade, de um lado e do outro o desigual
+desenvolvimento destes dois elementos, bem patente no facto singular
+(que aliás se explica) de ter o mundo antigo produzido o direito romano
+sem sair do polytheismo, dão cabalmente, me parece, a razão sufficiente
+deste _desencontro_ de forças, cujo resultado foi a grande crise da
+Idade-media.
+
+É por tudo isto que, a meu ver, a Idade-media não póde ser reduzida,
+como parece fazel-o o sr. Martins, a uma simples _tradicção_ e a um
+periodo de _atrophia_ dos elementos verdadeiramente evolutivos do mundo
+greco-romano. Para mim, são verdadeiramente evolutivos _todos_ os
+elementos da idade-media, e a idade-media contém _todos_ os elementos
+evolutivos da civilisação antiga: sómente o grande desenvolvimento e as
+posições respectivas é que são differentes. Considero o cristianismo
+como essencial á evolução; mais, como o termo necessario de todo o
+movimento moral da antiguidade: para mim, não só não foi elle um
+_incidente_ perturbador, mas não foi de modo algum um incidente. A
+_transcendencia_, preparada e organisada por todas as escolas
+philosophicas desde Socrates até aos Alexandrinos, incluindo os Estoicos
+e até os Espicuristas (cuja metaphisica era tão idealista e a moral
+tão mystica como as das outras escolas, e que não foram, como a alguns
+tem parecido, os precursores _incompris_ dos racionalistas e
+naturalistas modernos), a _transcendencia_, phase necessaria do
+pensamento humano, tinha forçosamente de produzir uma religião analoga
+na essencia ao Cristianismo; ainda quando lhe faltassem os elementos,
+quanto a mim puramente morphologicos, da lenda oriental. Uma prova bem
+clara desta ultima asserção, encontro-a na reacção de Juliano, chamado o
+Apostata, cuja religião-philosophica não era menos transcendentalistica
+e mystica do que a cristan, e que, a ter vingado, haveria produzido uma
+theologia e uma igreja exactamente como o Cristianismo. Quero dizer que,
+dado o estado moral da humanidade na ultima época do periodo
+greco-romano, se o cristianismo não era inevitavel, o que era inevitavel
+era uma religião na essencia cristan, isto é, mystica. A exaltação
+mystica, que então se apossou do espirito humano, se foi um mal (e não
+creio que o fosse absolutamente), foi um mal necessario. Era um termo
+logico da Evolução; e a Idade-media, que foi o desenvolvimento desse
+termo, não póde por esse lado ser considerada como uma simples _tradicção_.
+
+Em quanto aos Barbaros, bastar-me-ha dizer que não creio que fossem
+elles os destruidores da unidade romana, por si não só prestes a
+desfazer-se, mas já meia desfeita nos seculos 5.º e 4.º; que sem elles o
+imperio ter-se-hia igualmente desmembrado; que elles não impediram a
+extincção da escravidão antiga nem a formação da burguezia; que
+independentemente da influencia germanica, já o feudalismo tendia a
+formar-se espontaneamente no imperio em dissolução, desde o seculo 4.º;
+que finalmente, muito antes das invasões já as sciencias e as lettras
+tinham decaido, e começára um entenebrecimento intellectual, de que os
+barbaros não devem ser responsaveis; bastar-me-ha dizer isto para que o
+sr. Martins aprecie as razões por que, ainda por este lado, nada
+encontro de anormal e de perturbador no curso da evolução geral da
+civilisação durante a Idade-media, nem vejo que houvesse _interrupção de
+desenvolvimento_ produzida por causas estranhas e fortuitas.
+
+É este o ponto principal da minha divergencia com o autor da _Theoria_ e
+por isso o expuz mais detidamente. Os outros, que são ainda mais
+indifferentes á idéa geral do livro, sacrifico-os, para entrar quanto
+antes na apreciação dessa idéa.
+
+
+II
+
+Feitas estas reservas, passo a dizer alguma coisa sobre a idéa
+fundamental da obra. Obra, ponho eu aqui intencionalmente, porque é
+verdadeiramente _uma obra_, e não apenas _um livro_, a "_Theoria do
+Socialismo_" Não é uma simples exposição de factos historicos, mais ou
+menos curiosos, acompanhada de juizos e considerações, mais ou menos
+rasoaveis ou eloquentes: é um todo ordenado e systematico, em que os
+factos e as idéas se encadeam logicamente, convergindo para um
+centro commum, que é o ponto de vista superior que os abrange e explica
+a todos. É um trabalho conjunctamente philosophico e scientifico, em que
+as generalizações formuladas pela sciencia historica recebem a sua
+sancção final dos principios racionaes em que assenta a philosophia da
+historia--tentativa semelhante na essencia e no methodo, embora diversa
+nas conclusões e inferior na execução, á que realizou Guizot na sua
+"_Historia da Civilisação na Europa_" e Michelet naquella admiravel
+"_Introducção á historia universal_". O sr. Martins não é um erudito,
+nem um philosopho de profissão: mostrou porém ter sciencia bastante e
+sufficiente elevação de pensamento para nunca ser inferior ao que um tal
+plano requeria. Ora, tentar isto, e realisal-o, apesar de muitos
+defeitos parciaes, com exito feliz na generalidade, é raro merecimento e
+que sobejamente justifica, me parece, esta particular designação de
+_obra_ que dei ao livro. Escriptos desta natureza e alcance em nenhuma
+litteratura são frequentes: o do sr. O. Martins affigura-se-me que é por
+ora unico entre nós. Ainda assim, não é bem por isso que me congratulo,
+mas por ver na "_Theoria do Socialismo_" um symptoma animador de franca
+e séria adopção da idéa nova pelo espirito portuguez: é isto o que me
+faz saudar fraternalmente a obra e o autor.
+
+Socialismo é para muitas pessoas uma palavra aterradora, exactamente
+porque não é para essas pessoas mais do que uma palavra. É para outras
+um symbolo magico e omnipotente abracadabra, a quem tudo se póde pedir,
+de quem tudo se deve esperar, dotado sobrenaturalmente de uma
+virtude palingenesica para operar nas coisas humanas uma renovação total
+e universal, uma regeneração instantanea e absoluta: estes são os
+enthusiastas, que encarnam na palavra socialismo os seus sonhos
+individuaes de felicidade, em vez de simplesmente a considerarem como a
+expressão de uma ordem de phenomenos objectivos, independente das
+imaginações sentimentaes de cada qual, e só adequada á natureza das
+sociedades no seu desenvolvimento necessario. Apesar do que ha de
+respeitavel nos sentimentos desses crentes, estão elles tão longe como
+os outros de saberem o que realmente se deve entender por socialismo. A
+uns e outros recommendo o livro do sr. Martins, como muito proprio para
+lhes fazer perder tanto as esperanças como os terrores apocalypticos.
+
+O socialismo não é nem a subversão violenta das instituições e dos
+costumes, nem a palingenesia messianica milagrosamente revelada, para
+acabar para sempre com os males humanos, por este ou aquelle inspirado
+propheta de tal ou qual cenaculo de crentes: e não é uma coisa,
+exactamente porque não é a outra. Não ha nisto paradoxo. Quero dizer que
+o socialismo não ameaça as instituições e os costumes, que constituem o
+organismo e a tradição da humanidade, precisamente porque não é uma
+invenção do pensamento individual um systema sem raizes historicas,
+exterior á realidade social, mas sáe, pelo contrario, da tradicção e da
+historia, é a propria historia e tradicção num periodo das suas
+transformações continuas, um parto da razão collectiva e um fructo
+natural do mesmo desenvolvimento da sociedade. É por isso que a não
+ameaça, porque a sociedade não se destroe a si mesma: desenvolve-se e
+transforma-se; o socialismo não é mais do que a palavra que quadra ao
+grau de transformação e desenvolvimento do momento actual. O que foi no
+primeiro quartel deste seculo o liberalismo, o que tres ou quatro
+seculos antes havia sido a monarchia, e antes cinco ou seis as communas
+e o feudalismo, é o que será ámanhan (e já hoje começa a ser) o
+socialismo: um novo periodo e uma nova fórma no organismo das sociedades
+europeas. Tão inevitavel como aquelles, será como elles tão benefico e
+tão pouco subversivo, sendo, como elles foram, não um resultado fortuito
+de opiniões e interesses de individuos, mas um facto necessario da
+Providencia immanente na historia.
+
+Em que consista esse facto é o que o sr. Martins, fazendo-se interprete
+dos phenomenos sociaes, se propôz explicar, e é o que nós, em companhia
+delle, vamos examinar.
+
+Logo na primeira pagina do livro, formula o autor a sua idéa deste modo:
+a theoria do socialismo é a evolução.--Desculpe-me o meu amigo se lhe
+faço ainda questão duma palavra, mas o rigor nos termos não é
+indifferente. Duma maneira geral, a theoria do socialismo é certamente a
+evolução, mas a evolução dentro da historia e das coisas sociaes tem um
+nome mais particular e consagrado: o Progresso, que é a evolução na
+série da humanidade. A evolução abrange todas as séries do
+desenvolvimento no universo, cosmologico, geologico, organico, etc., e
+por isso inclue a humanidade; mas dentro desta é particularmente o
+Progresso. Diriamos, pois, com mais rigor: a theoria do socialismo é
+o Progresso. Quizera tambem que o autor, nessa sua primeira _these_,
+tivesse definido com mais clareza e explicado com mais extensão esta
+idéa. Mas não importa: o que não se define totalmente nas primeiras
+paginas, torna-se bem patente pelo livro adiante, e isso é o essencial.
+O que o autor não diz mostra-o no encadeamento dos factos sociaes e na
+successão das doutrinas através da historia, de sorte que o seu livro
+representa-nos em relevo essa grande lei do progresso nas suas phases
+verdadeiramente significativas.
+
+Ora, qual é o termo actual do Progresso? o socialismo, responde o sr.
+Martins, com a historia na mão. Mas que socialismo? o de Babeuf, o de
+Fourier, de Saint-Simon, desta escola, daquella seita, não: simplesmente
+o da humanidade. É nesta resposta que está a originalidade e a segura
+verdade do livro. O socialismo não sáe de uma escola ou de uma seita:
+sáe do mais fundo da consciencia humana, affeiçoada por tres mil annos
+de progresso. Não é uma experiencia; é um resultado.
+
+Resultado de que? Do triplo movimento moral, politico e economico das
+sociedades. Abraça o homem todo, e corresponde a uma nova concepção
+systhematica (uma _affirmação synthetica_, como dizem os positivistas)
+do Universo, da vida humana e das relações sociaes. Neste momento, a
+evolução das doutrinas philosophicas, moraes e juridicas, da sciencia
+economica, dos phenomenos politicos e dos phenomenos economicos,
+converge para um ponto central. A esse ponto chamamos nós Socialismo,
+não porque coincida (note-se bem isto) com este ou aquelle systema
+dos que inventaram a palavra, mas simplesmente porque vem satisfazer a
+aspiração commum a todos elles, que os produziu e de que eram meros
+symptomas: de tal sorte que até com alguns desses systemas póde estar em
+completa opposição o Socialismo positivo, como está, por exemplo, com o
+Communismo.
+
+Desta tripla evolução moral, politica e economica resultam tres grandes
+conclusões. Da evolução no mundo moral resulta a autonomia absoluta da
+consciencia humana, independente das pretendidas revelações
+sobrenaturaes para descobrir a verdade e determinar a justiça;
+independente de qualquer auctoridade, além da sua propria, para conhecer
+e praticar a lei moral. Da evolução no mundo politico resulta a
+concepção da liberdade como o unico agente organisador e director da
+sociedade, com exclusão de qualquer principio anterior ou exterior ao
+direito individual, de qualquer auctoridade que não seja a da propria
+liberdade sobre si mesma. Da evolução no mundo economico resulta a
+affirmação do trabalho como a base unica justa do valor, tendo por
+consequencias, de um lado a egualdade dos trabalhadores perante o
+capital, mero instrumento do trabalho e a elle sobordinado e garantido
+pelo credito e a mutualidade, do outro lado a egualdade dos
+trabalhadores entre si, pela divisão do trabalho, que os torna
+solidarios e substitue á anarchia da concorrencia individual a
+organisação das forças collectivas da producção--e tendo como
+resultados, com a annullação dos privilegios capitalista e proprietario,
+a consagração da propriedade e do capital individuaes, e a extincção
+da lucta das duas classes actuaes, pela conversão de ambas numa unica de
+trabalhadores eguaes e livres.
+
+São estas as tres grandes conclusões, que desentranhando-se de um lento
+progresso secular, começam a patentear-se no estado actual das doutrinas
+e dos phenomenos moraes, politicos e economicos das sociedades
+contemporaneas.
+
+As phases desse progresso, isto é, o caminho seguido pela intelligencia
+humana e pelos factos sociaes para chegarem a estas conclusões, é o que
+o sr. Martins historía com muita lucidez e sciencia no seu livro, boa
+metade do qual é consagrado a este trabalho de alta critica historica.
+
+Eu é que, nos limites estreitos deste esboço nem poderei sequer indicar,
+com alguns nomes, culminantes, os principaes marcos miliarios no caminho
+deste jornadear da humanidade em busca dos seus proprios destinos. Mas
+que magestosa _via crucis_!
+
+Desde a doutrina da Graça, com S. Paulo e S. Agostinho, atravez dos
+meandros da Escolastica, depois da inspirada philosophia da renascença e
+da philosophia mais scientifica do seculo XVII, chega o espirito humano
+a entrever com Vico e os encyclopedistas a doutrina emancipadora da
+immanencia, que no seculo XIX formulou de um modo cada vez mais positivo
+as escolas de Hegel, Feuerbach, Comte, Proudhon. Evolução paralela
+seguem as doutrinas politicas: desde o _omnis potestas a Deo_ e a
+_Civitas Dei_, atravez da politica theocratica de S. Thomaz e da
+politica Cesarista de Dante, atravez do absolutismo da monarchia
+civil de Savedra e Bodin e do despotismo naturalista de Machiavello e
+Hobbes, vae o principio tradicional da auctoridade recuando cada vez
+mais, com Grotius, Locke, Rousseau, Kant, depois com Fichte,
+Rittinghaussen, Proudon, diante do principio racional e humano da
+liberdade, até ser por elle absorvido, até só ficar de pé a consciencia
+juridica do homem, tendo em si mesma a sua propria e absoluta sancção.
+As doutrinas economicas, que só no seculo XVIII se desembaraçam das
+politicas, galgam de um salto a distancia que vae da auctoridade
+(proteccionismo) á liberdade, e pela bocca de Smith, Rossi, Bastiat,
+Stuart Mill, proclamam esta ultima, completa, universal.
+
+Ideas! theorias! sonhos! dirão alguns. Não! realidades, porque os factos
+vão seguindo, par e passo o desenvolvimento das doutrinas. A
+secularisação cada vez mais definida do estado e da sociedade; a
+transformação das monarchias de direito divino em monarchias temperadas,
+depois em democraticas, depois em republicas populares; os direitos
+individuaes inscriptos nas constituições; a egualdade civil; a liberdade
+da industria; o nivelamento constante das classes; a importancia
+crescente do povo trabalhador e das questões do trabalho; o privilegio
+capitalista que por toda a parte recúa, batido já nos seus ultimos
+intrincheiramentos; o capital que se faz povo, que se faz multidão, e
+vae já passando para as mãos do proletariado; um novo mundo economico
+que emerge com força do antigo cahos social:--são factos e não utopias,
+e esses factos trazem comsigo a sua lição, a sua doutrina. Não sois
+vós, conservadores, que tendes por vós a tradição da humanidade, somos
+nós revolucionarios, que temos, com o futuro, o passado por nosso lado,
+o passado no que elle teve de melhor: a aspiração da liberdade, da
+igualdade, da justiça.
+
+Mas que immenso caminho andado! Eis-nos á porta de um mundo novo! novo e
+todavia feito todo com elementos, que os tempos vieram lentamente
+accumulando. Organisar esse mundo é a obra do socialismo. Não é de
+destruição, essa obra; é de edificação e de consolidação. Não ameaça um
+unico direito; define-os a todos e dá-lhes os seus justos logares. Numa
+palavra se encerra o socialismo: organisação espontanea. Livre
+organisação da industria, do trabalho, do credito, do capital, do
+estado; federação juridica e economica, tudo pela liberdade e tudo para
+a egualdade; ou como diz, com expressiva concisão, o sr. Oliveira
+Martins "uma unica lei, o trabalho, e uma unica norma, a justiça"; eis
+ahi como á luz da philosophia da historia se deve comprehender o
+socialismo.
+
+Terei depois disto logrado fazer perceber ao leitor a essencial
+differença que existe entre a theoria historica e positiva do socialismo
+e o socialismo utupista das seitas? Ao mesmo tempo que sae da historia
+como uma natural evolução, perde elle para logo o caracter
+contradictorio, problematico e, para tudo dizer, assustador, com que a
+principio se apresentou no mundo. Alarga tambem o seu horisonte, deixa
+de abraçar sómente uma ordem parcial de phenomenos sociaes, para
+abranger todo o movimento renovador da humanidade contemporanea, na
+philosophia, na sociedade, no estado e nas consciencias. Filho legitimo
+da historia, deixa tambem de a contradizer no que ella tem de essencial,
+a familia, a propriedade, a herança, bases da sociedade, duplamente
+consagradas pela razão e pela pratica e veneração das gerações. Não
+propõe uma construcção arbitraria e artificial da sociedade, mas
+pretende sómente ajudal-a no seu desenvolvimento organico, segundo uma
+theoria estudada nella mesma, nos seus antecedentes. É, numa palavra,
+verdadeiramente conservador o socialismo, por isso mesmo que é
+verdadeiramente progressista. E se eu tivesse algum direito de em nome
+delle dar um conselho aos homens e aos partidos que, por se julgarem
+conservadores, entendem ter obrigação de combater uma philosophia
+social, que não conhecem, ou diria a esses illudidos: Fazei-vos
+socialistas, se quereis realmente merecer o nome de conservadores, que
+por ora não tendes sufficientemente justificado: passae para este lado,
+que é onde estão os representantes da verdadeira tradição da humanidade,
+tradição não de entenebrecimento e oppressão, de odio e lucta
+systematica, mas de luz e liberdade, de paz e conciliação: ou, senão,
+examinae pelo menos antes de condemnar, informae-vos antes de
+amaldiçoar, aliás teremos de dizer que sois só conservadores da vossa
+propria ignorancia e obsecada paixão.
+
+Mas eu nao tenho direito de dar conselhos a quem não m'os pede nem me
+julga auctorisado a dal-os. Depois, talvez este meu candido appello,
+para a conciliação e a tolerancia, seja ainda uma daquellas muitas
+utopias que só merecem um sorriso de desdenhosa compaixão dos homens
+_praticos_ encanecidos no trato das coisas reaes do mundo... Talvez!
+
+Paciencia. Veremos o que o tempo _praticamente_ responde a tudo isto.
+
+Fevereiro-Março, 1873.
+
+
+
+
+Le Portugal contemporain--Oliveira Martins
+
+
+En dehors de la littérature proprement dite, le Portugal ne possède
+aujourd'hui qu'un seul écrivain réellement supérieur: c'est M. Oliveira
+Martins, l'auteur de la _Bibliotheca das Sciencias sociaes_. Définir son
+genre et le classer d'un mot me semble chose presque impossible, par la
+simple raison que ce mot n'existe pas encore: _socialiste_ a un sens en
+même temps étroit et vague; _sociologiste_ serait un barbarisme. Si,
+depuis les Grecs on a toujours écrit l'histoire, disserté sur la
+politique et plus ou moins observé l'économie et les moeurs des
+nations, ce n'est que depuis un demi-siècle à peine qu'on a été amené à
+étudier scientifiquement la Société, en la considérant comme un tout
+naturel et réel, dont les phénomènes sont susceptibles d'être ramenés à
+des relations générales et fixes, c'est-à-dire à des lois. De là la
+constitution d'un nouveau et dernier groupe de sciences, qui est venu
+s'ajouter à celles qui existaient déjà: le groupe des sciences morales.
+
+M. Oliveira Martins (_socialiste_ ou _sociologiste_, comme on voudra)
+s'occupe donc de sciences sociales, et, quoique jeune encore, mérite,
+par la profondeur de ses recherches, l'originalité et l'ampleur de
+ses vues et la fermeté de sa méthode, d'être rangé parmi les mâitres et
+promoteurs de ces études nouvelles. En outre, son estyle, par ses
+qualités de vigueur, de vie et d'élévation, quoique trop souvent
+incorrect et déparé parfois par le mauvais goût, fait de l'auteur de la
+_Bibliotheca das Sciencias_ un écrivain de premier ordre.
+
+Les premiers ouvrages de M. Oliveira Martins (_Theoria do Socialismo_ et
+_Portugal e o socialismo_), parus à Lisbonne vers 1873 et 1874,
+appelèrent sur les lèvres du petit nombre de personnes en état de les
+juger un _Tu Marcellus cris!_ prophétique. Touffus d'idées hardies, mais
+encore mal définies, et auxquelles manquait une base solide de
+connaissances positives, obscurs et confus par le style, ces deux livres
+dénonçaient pourtant les maîtresses qualités qui font le penseur et
+l'écrivain d'ordre supérieur.
+
+En effet, le germe des doctrines exposées plus tard dans la
+_Bibliotheca_ s'y trouvait déjà formulé dès la première page dans ces
+mots: "La théorie du socialisme c'est l'évolution.", Depuis, la pensée
+laborieuse de notre auteur n'a fait qu'approfondir et développer cette
+idée, en l'étayant de solides études économiques, politiques et
+historiques.
+
+Laissant là la manière sèche et étroite des économistes et leur méthode
+tout abstraite, M. Oliveira Martins conçoit la société comme un tout
+vivant, un être collectif qui, comme l'homme lui-même, est à la fois
+naturel et rationnel, sujet dans son développement à la double action
+des lois de la nature, auxquelles se rattache la sociabilité elle-même
+dans ses formes primordiales, et des principes juridiques et moraux qui
+sont le domaine propre et exclusif de l'humanité. La lutte,
+l'équilibre, la pénétration et l'opposition de ces deux éléments
+constituent, aux yeux de nôtre auteur, l'être même de la société, dont
+le développement, changeant et variable comme celui de toute chose
+vivante, peut présenter des aspects très dissemblables et impropres:
+rien n'y est absolu, rien n'y est nécessaire, hormis les lois générales
+de la nature et l'essence rationnelle et morale de l'homme. La méthode
+des sciences sociales ne peut donc pas être abstraite: elle doit être,
+avant tout, historique.
+
+C'est à ce point de vue, et non pas seulement en naturaliste et
+économiste, mais encore en juriste et moraliste, que M. Oliveira Martins
+s'est placé pour étudier dans sa _Bibliotheca_ l'ensemble des
+phénomènes,--travail, distribution, propriété, classes, gouvernement,
+juridiction, culte, etc.,--qui constituent le vaste domaine, encore
+imparfaitement jalonné, des sciences sociales. La _Bibliotheca_ comprend
+déjà 12 volumes. En outre, M. Oliveira Martins a publié un Mémoire sur
+la _Circulation fiduciaire_ et diverses brochures se rattachant toutes
+aux questions sociales. L'espace nous manque pour donner même une courte
+analyse de chacun des volumes déjà parus de la _Bibliotheca_, et il faut
+que je me borne à l'exposition sommaire que je viens de faire des idées
+culminantes et de la méthode de l'auteur. Mais je dois au moins appeller
+l'attention des personnes compétentes sur deux de ces volumes (_Quadro
+das instituições primitivas_ et _O Regime das riquezas_), qui, par leur
+grande originalité de vues et de forme, mériteraient bien d'être
+traduits en français ou en allemand.
+
+La fécondité de la méthode historique de l'auteur y devient évidente. A
+l'encontre des économistes orthodoxes, qui dessèchent la réalité humaine
+dans leurs formules et prétendent réduire la vie de la société à une
+espèce d'algèbre inflexible, M. Oliveira Martins, plongeant en pleine
+réalité, nous montre l'origine variable et les formes multiples des
+institutions sociales assujeties dans leur développement non à des lois
+purement naturelles, comme le prétendent les économistes, mais avant
+tout à des raisons intimes et _humaines_. Jamais les fatalités
+naturelles n'y étouffent complètement l'être moral de l'humanité, et,
+même dans ses formes premières et plus rudes, la société apparaît comme
+le domaine de la liberté. La concurrence y joue un grand rôle, sans
+doute, mais contrecarré ou endigué par des forces juridiques et morales.
+La pure mécanique sociale, telle que la rêvent les économistes, n'y
+triomphe jamais non plus que cet individualisme abstrait qui serait
+plutôt l'idéal de la sauvagerie que celui de la civilisation. Celle-ci,
+loin de marcher de plus en plus dans le sens des fameuses "lois
+naturelles", tend au contraire à s'en affranchir, et la société, dont
+l'idéal est la justice et non la nécessité, va graduellement se
+rapprochant de ce type de raison et de liberté qui est l'être même de
+l'homme.
+
+On voit, par ce rapide aperçu, que M. Oliveira Martins se rattache à
+l'école appelé en Allemagne des _Katheder-Socialisten_: il doit beaucoup
+aussi à ce puissant penseur, si mal compris encore aujourd'hui, P.-J.
+Proudhon. Mais, socialiste doublé d'un historien, il projette sur toutes
+ces questions une lumière qui les fait voir sous des aspects
+nouveaux en dehors du terrain forcément étroit des écoles et des
+discussions, et dans les larges perspectives de la réalité. Là est, à
+mon avis, sa principale originalité.
+
+Je voudrais être bref; mais je dois pourtant dire encore quelque chose
+des deux ouvrages (_Historia de Portugal_ et _Portugal contemporaneo_),
+qui M. Oliveira Martins a consacrés à l'histoire de notre pays, et qui
+se rattachent à la _Bibliotheca_, plutôt qu'ils n'en font partie. A
+première vue, ces livres semblent ne devoir interesser que les seuls
+Portugais; on verra qu'ils ont une portée bien plus générale.
+
+Le Portugal contemporain est une énigme que personne en Europe ne
+comprend et dont, même chez nous, bien peu de gens savent le mot. On
+cite généralement le Portugal comme un modèle des petits pays libres et
+sages: pas de révolutions ni de luttes de classes; la paix, le
+fonctionnement régulier du régime parlamentaire; on l'oppose souvent à
+l'Espagne, périodiquement convulsionée. Et pourtant ce pays modèle
+est--la Turquie exceptée--le plus mal administré qui soit en Europe.
+Après 50 ans de paix, sa dette publique est une des plus écrasantes et
+elle s'accroît tous les jours, car le budget portugais se solde
+régulièrement en déficit. L'esprit publique est nul en dépit d'une
+multitude de journaux ordinairement éphémères et tous plus insignifiants
+les uns que les autres, et la politique est devenue l'apanage, de haut
+en bas et de droite à gauche, d'une classe de gens à peu près ignares et
+tenus généralement en estime médiocre. Quant à l'armée, le moins qu'on
+en puisse dire est qu'elle est aussi fantastique que coûteuse,
+tandis que l'instruction populaire est lamentable et que l'enseignement
+supérieur (a l'excepction de deux ou trois écoles spéciales) est
+souverainemente pedantesque ou vide[1]. Le seul sentiment
+national un peu perceptible est une espèce de haine sourde et
+instinctive contre l'Espagne, qu'on ne connaît pas, et, dans les classes
+cultivées, l'admiration béate de tout ce qui est français, qu'on suige à
+tort et à travers, dans les lois, les moeurs, la litterature et la
+langue même, qui va s'adultérant de plus en plus.
+
+Voilà, on en conviendra, pour une nation réputée "le modèle des petits
+pays sages et libres", des aspects singulièrement imprévus!
+
+La raison de ce remarquable phénomène de pathologie sociale est que
+Portugal est la seule nation en Europe _qui soit réellement vieille et
+caduque_. On peut lui appliquer les constitutions, les lois, les
+règlements et les phrases qu'on voudra; rien n'y fait, car il n'y a pas
+de stimulants pour la décrepitude. Elle acceptera les libertés comme les
+coups, les constitutions comme les épidemies, avec le calme indifférent
+de l'insensibilité et de l'inconscience. De là sa paix profonde et son
+étonnante sagesse; de là aussi un irrémédiable affaissement. Les
+contradictions sans nombre qui présente notre état social, politique
+et intellectuel, et qui déroutent l'observateur (pas un voyageur en
+Portugal n'a compris ce pays), n'ont pas d'autre raison. Les mots ne
+répondent plus aux choses, et les meilleurs lois ne sont que de petits
+chiffons de papier emportés de France. C'est un système de mensonge naïf
+et inconscient. La réalité, c'est cet affaissement irrémédiable d'un
+organisme national arrivé à l'extrême limite de ses forces vitales.
+
+L'étiologie historique de ce cas remarquable a été faite, pour la
+première fois, et supérieurement, par M. Oliveira Martins, dans son
+_Historia de Portugal_, tandis que son _Portugal Contemporaneo_ fait
+toucher du doigt les contradictions incurables de la situation actuelle,
+issue, non de la raison consciente e d'un effort viril de toute la
+nation, mais des illusions plus au moins généreuses d'un petit nombre de
+révolutionnaires et de l'atonie des masses, sur lesquelles on faisait
+cette expérience doctrinaire: _in anima vili_. On y apprend à connaître
+le _quid_ spécial de la Révolution portugaise de 1834, la fatalité qui y
+menait et qui changeant tout à coup d'aspect, allait présider aux
+convulsions d'abord, puis aux mécomptes, aux désillusions, aux compromis
+lâches, et finalement au marasme actuel. Le _Portugal Contemporaneo_ est
+l'histoire cruelle de cet avortement. L'auteur y fait, pièces en main et
+pas a pas, le procès de ce libéralisme bourgeois, en même temps abstrait
+et utilitaire qui, après 50 ans de domination incontestée, aboutit à une
+situation inextricable et de la débâcle imminente. Comme description
+détaillée d'un cas de pathologie sociale, ce livre, qui, sous d'autres
+rapports, n'interesse que les Portugais, peut offrir un intérêt
+spécial à toux ceux qui s'occupent, en hommes de science et en
+philosophes, des choses de la société.
+
+Les causes premières de cette maladie profonde à laquelle succombe
+actuellement la nation portugaise ont été mises en lumière par M.
+Oliveira Martins, dans son _Historia de Portugal_.
+
+Em 1580, après la catastrophe d'Alcacer-Kibir, le Portugal était
+réellement mort. L'oeuvre féconde et glorieuse de sa vie historique
+était accomplie; mais l'ouvrier héroïque gisait exténué. L'application
+en grand, pendant trois quarts de siècle, d'un faux système
+d'exploitation coloniale avait ruiné le pays et troublé profondement sa
+constitution sociale: le jésuitisme, d'un autre côté, avait épaissi ou
+perverti son intelligence, brisé son ressort moral, faussé son libre
+génie, et, en étouffant tous les germes de l'esprit moderne que la
+Renaissance avait si abondamment semés, paralysé tout développement
+ulterieur et tué l'avenir. Philippe II, en réunissant le Portugal à la
+couronne d'Espagne, n'a donc fait que cueillir un fruit mûr. L'histoire
+du Portugal aurait dû finir à cette époque-là. La restauration nationale
+de 1640 a été un fait en grande partie artificiel, possible seulement
+par l'abbatement de l'Espagne, qui avait perdu sa force d'attraction.
+
+Le nouveau Portugal, qui commence à cette date-là, n'a rien de l'autre,
+rien de sa force noble, de son hardi génie. Ce n'est qu'un triste
+bâtard, un être malingre et malvenu, le produit artificiel de la
+diplomatie, que son grand ami, l'Anglais hérétique, protège, rudoye,
+amuse et exploite. De sa seule force, il ne tiendrait pas debout: il
+est donc juste qu'il paye celui qui le soutient. Il le payera des
+restes de son noble héritage, de ses colonies, qui s'en iront l'une
+après l'autre grossir l'empire de la nouvelle reine des mers; il le
+payera encore en traités de commerce, qui le ruineront au profit de son
+loyal protecteur. Cela s'appella la glorieuse restauration portugaise de
+1640--oeuvre néfaste entre toutes, qui démembra l'Espagne et compromit
+pour des siècles, peut-être pour toujours, l'avenir de la peninsule
+ibérique.
+
+Mais, à côté de l'Anglais hérétique, le jésuite aussi avait travaillé à
+cette oeuvre glorieuse: il reçut sa paye. On lui abandonna
+complètement l'éducation, l'âme de la nation. Le Portugal a été, pendant
+deux siècles, plus encore que le Paraguay, le véritable paradis des
+jésuites. Leur produit spécial, leur oeuvre de prédilection, le cagot,
+y arriva à la plus merveilleuse perfection. Le cagotisme a été
+véritablement le trait, le signe particulier du nouveau Portugal: c'est
+par là qu'il acquit une physionomie. Comme état de psychologie
+collective, il survécut à la destruction des jésuites, il a traversé les
+révolutions: il s'est accommodé du libéralisme, et, chose surprenante,
+de l'incrédulité elle-même! Il dure toujours, et la situation trouble,
+maladive, énigmatique d'aujourd'hui est avant tout son oeuvre.
+
+Voilà, aussi brièvement que possible, la vérité sur le Portugal moderne.
+Cette vérité n'était pas inconnue avant les livres de M. Oliveira
+Martins: on la pressentait plus au moins, en tâtonnant à travers le
+brouillard d'illusions séculaires et officielles: quelques-uns même
+avaient osé la formuler. Mais, seuls, les livres de M. Oliveira
+Martins l'on déduite historiquement, c'est-à-dire, en présentant
+nettement les faits et en les ramenant à leurs causes. Dans ces livres
+si vivants, si incisifs, la forme est narrative et pittoresque, le fond
+est philosophique. C'est de la très ferme étiologie historique. En
+suivant l'histoire à travers la variété animée des scènes et des
+personnages, le lecteur s'aperçoit tout-à-coup qu'on lui a fait une
+démonstration en règle. Ce n'est pas là une des moindres originalités de
+la manière de M. Oliveira Martins.
+
+Du reste, pour nous autres, tout est original dans ces livres, l'idée
+comme la forme, le point de vue critique comme la manière réaliste. Le
+Portugal, depuis sa Révolution, n'avait encore eu qu'un seul homme
+supérieurement doué et fortement préparé pour le travail de l'histoire:
+A. Herculano. Mais, outre que Herculano ne s'est jamais occupé que de
+l'histoire anterieure à 1580 (qu'on peut considerer comme l'histoire
+d'une autre nation) il était trop dogmatique dans ses vues et trop raide
+et guindé dans son estyle, pour qu'on puisse trouver dans ses livres la
+vie et la philosophie, c'est-à-dire l'âme et la forme de l'histoire. Son
+oeuvre puissant d'effort et de savoir, souvent éloquente, a suivi
+toutefois une direction trop particulière.
+
+Pour les autres qui se sont occupés de l'histoire moderne du Portugal,
+Rebello da Silva, en dépit de son admirable talent litteraire, n'a été
+qu'un médiocre rhéteur: Pinheiro Chagas n'est qu'un compilateur dénué de
+toute critique et même de toute idée. Ceux qui ont osé affronter les
+livres de M. Theophilo Braga ont eu quelquefois la consolation d'y
+rencontrer l'ombre d'une idée neuve et juste et quelques aperçus hardis
+ou ingénieux, trop vite noyés dans le fatras babylonien d'une
+érudition en délire. Les ouvrages historiques de M. Oliveira Martins
+restent donc originaux au premier chef et sans précédents dans nôtre
+litterature. Dans les litteratures étrangères, ils se rattachent surtout
+à Michelet et Carlyle--avec moins d'imagination et d'intention poétique,
+mais avec plus de fermeté et de largeur dans les vues.
+
+Vous allez croire maintenant que l'homme audacieux qui a osé dire à son
+pays les vérités les plus cruelles et les plus humiliantes pour sa
+vanité, doit être chez nous une espèce de paria, un lépreux tenu à
+distance par le monde officiel, quelque chose comme Proudhon l'a été en
+France sa vie durant?
+
+Rassurez-vous. M. Oliveira Martins est membre de l'Académie Royale de
+Lisbonne et de l'Institut universitaire de Coimbra.
+
+Il a vu un de ses livres, et non pas des moins sévères (_A circulação
+fiduciaria_), couronné par cette même Académie Royale. Le monde officiel
+le fête, le choye, l'aime de tout son coeur. Les ministres sont très
+heureux quand il veut bien se charger de quelque travail qui demande
+beaucoup de savoir et beaucoup de désinteressement. Je ne sache pas non
+plus que ces terribles livres aient eu de contradicteurs. En un mot, il
+ne tiendrait qu'a lui d'être l'homme du jour dans le pays qu'il a si
+malmené.
+
+Etonnant, n'est-ce pas?--Pour qui sait comprendre, ce simple fait en dit
+plus long que de gros volumes!
+
+1884.
+
+ [1] Un seul fait suffira. A l'Ecole des hautes études litteraires
+ (_curso superior de lettras_) de Lisbonne, la chaire de litterature
+ ancienne est occupé par un monsieur qui ne ne sait pas un mot de
+ grec--et, chose plus curieuse encore, parmi les membres du jury de
+ concours qui l'a reçu (composé de professeurs du dit _Curso
+ superior_ et de membres délégués de l'Académie royale de Lisbonne),
+ _pas un seul non plus ne connaissait le grec_!
+
+
+
+
+Oliveira Martins e o partido progressista
+
+
+CARTA A SEBASTIÃO D'ARRUDA DA COSTA BOTELHO
+
+
+Villa do Conde, 1 de agosto de 1885
+
+ _Meu Sebastião_
+
+.......................................................................
+
+Mando-te esses numeros da _Provincia_ para veres o caracter imponente,
+que teve a manifestação do Porto e o tom a que o O. Martins tem sabido
+levantar o Progressismo, que tão desafinado andava. Verás tambem que
+elle não renegou, nem se desdiz. A bandeira que desfralda é a do
+Socialismo, como até aqui. Convencido como está, e estão todos os que
+sabem observar os factos, da incapacidade actual, (e que o será ainda
+por muito tempo), do partido republicano para fundar seja o que fôr e
+vendo ao mesmo tempo a imminencia de uma crise pavorosa, o O. Martins
+fez acto verdadeiro de patriotismo, procurando aquelles elementos, que
+bem dirigidos e transformados, poderão por ventura fornecer ainda um
+ponto de apoio no meio do naufragio. Um homem como O. Martins, não dá um
+passo destes, nem toma posição de tamanha responsabilidade, sem ter
+visto bem as cousas e estudado o melhor caminho. Tem sido approvado por
+muita da melhor gente. O O. Martins é o unico homem politico superior
+que temos, pois reune a um elevado caracter um saber vasto e não só
+theorico mas technico e um poder de trabalho incomparavel. Quando um tal
+homem dá um passo, como elle deu, o dever da gente seria, ainda quando o
+não approve, é não o estorvar na sua tentativa, reconhecendo a pureza
+das suas intenções. Os republicanos, porém, cobriram-n'o de insultos e
+imputações as mais baixas--e no dia seguinte o que fizeram? foram
+alliar-se com os regeneradores, para combater o movimento por elle
+iniciado, movimento que pode falhar, mas que é sem duvida sério e
+exprime o sentir nacional, pelo menos neste ponto de querer acabar com
+essa alliança da burocracia com a finança, que é a fatalidade do partido
+regenerador, origem da corrupção politica e de um systematico
+desgoverno. Destruir essa oligarchia burocratico-financeira, que nos
+domina e desmoralisa, ha tantos annos, e impedir por meio de leis
+convenientes que ella possa de futuro tornar a formar-se, parece-me
+coisa muito mais importante do que uma simples alteração no caracter do
+poder executivo, cousa que deve ficar para depois, pois só as reformas
+economicas e financeiras tornarão aquella outra puramente politica, não
+só possivel, mas fecunda e duradoura. Isto tanto mais, quanto está
+imminente a bancarrota e uma tremenda crise social; a proclamação da
+Republica, não só não remediaria esses grandes males, (pois que
+influencia póde ter uma reforma só politica nos elementos
+financeiros e economicos?) mas traria mais uma complicação e
+elemento de desordem, como ainda em 1873 se viu em Hespanha. Convém,
+pelo contrario, addiar essa questão, visto que não é urgente, e não
+complicar com ella a outra, urgentissima. É de boa politica, como é de
+boa logica, dividir as questões para as resolver, e começar por
+aquellas, que resolvidas, podem facilitar a resolução das outras.
+Impedir que tudo venha a baixo parece ser a cousa mais urgente. Depois
+reformar a constituição economica, de modo a impedir que um tal estado
+de cousas possa vir a repetir-se. E só depois organisar a constituição
+politica, tanto no que toca ao legislativo, como ao executivo, de modo a
+dar estabilidade e duração aos progressos realisados. Pódes crêr que
+estas são hoje, como sempre foram, as aspirações do O. Martins, que
+continúa sendo tão bom socialista e republicano como era dantes. Eu, por
+mim, approvo-o inteiramente na marcha que vae seguindo, e desejava que
+toda a gente séria lhe désse o apoio indispensavel, ainda aos maiores
+politicos, para fazerem qualquer cousa. Se todos começarem a
+hostilisal-o, é claro que nada poderá fazer. Virá a terra, e com elle a
+ultima esperança deste pobre Portugal. Então teremos o diluvio.
+
+Adeus, meu Sebastião. Do teu de c.
+
+ _A. de Q._
+
+
+
+
+INDICE
+
+Os Lusiadas, ensaio sobre Camões e a sua obra, em relação á sociedade
+portugueza e ao movimento da Renascença, por J. P. de Oliveira Martins.
+Porto, 1872 (Folhetim do _Primeiro de Janeiro_) ... 5
+
+Theoria do socialismo, evolução politica e economica das Sociedades da
+Europa, por J. P. de Oliveira Martins. Lisboa, 1872 (Artigos do _Diario
+Popular_) ... 18
+
+Le Portugal contemporain--Oliveira Martins (Estudo publicado na _Revue
+Universelle et Internationale_). Paris, 1884 ... 39
+
+Oliveira Martins e o partido progressista, carta a Sebastião de Arruda
+da Costa Botelho, testamenteiro do grande poeta-philosopho ... 50
+
+
+
+
+NOTA
+
+
+O presente opusculo constitue a mais respeitosa homenagem dos
+testamenteiros de Anthero de Quental á memoria do glorioso escriptor
+Oliveira Martins.
+
+
+PREÇO 300 réis
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of Oliveira Martins, by Anthero de Quental
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OLIVEIRA MARTINS ***
+
+***** This file should be named 31654-8.txt or 31654-8.zip *****
+This and all associated files of various formats will be found in:
+ https://www.gutenberg.org/3/1/6/5/31654/
+
+Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
+of public domain material from Google Book Search)
+
+
+Updated editions will replace the previous one--the old editions
+will be renamed.
+
+Creating the works from public domain print editions means that no
+one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
+(and you!) can copy and distribute it in the United States without
+permission and without paying copyright royalties. Special rules,
+set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
+copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
+protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project
+Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
+charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you
+do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
+rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose
+such as creation of derivative works, reports, performances and
+research. They may be modified and printed and given away--you may do
+practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is
+subject to the trademark license, especially commercial
+redistribution.
+
+
+
+*** START: FULL LICENSE ***
+
+THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
+PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK
+
+To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
+distribution of electronic works, by using or distributing this work
+(or any other work associated in any way with the phrase "Project
+Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
+Gutenberg-tm License (available with this file or online at
+https://gutenberg.org/license).
+
+
+Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
+electronic works
+
+1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
+electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
+and accept all the terms of this license and intellectual property
+(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all
+the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
+all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
+If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
+Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
+terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
+entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.
+
+1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be
+used on or associated in any way with an electronic work by people who
+agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few
+things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
+even without complying with the full terms of this agreement. See
+paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
+and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
+individual work is in the public domain in the United States and you are
+located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
+copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
+works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
+are removed. Of course, we hope that you will support the Project
+Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
+freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
+this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
+the work. You can easily comply with the terms of this agreement by
+keeping this work in the same format with its attached full Project
+Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.
+
+1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern
+what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in
+a constant state of change. If you are outside the United States, check
+the laws of your country in addition to the terms of this agreement
+before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
+creating derivative works based on this work or any other Project
+Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning
+the copyright status of any work in any country outside the United
+States.
+
+1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:
+
+1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate
+access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
+whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
+phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
+Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
+copied or distributed:
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
+from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
+posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
+and distributed to anyone in the United States without paying any fees
+or charges. If you are redistributing or providing access to a work
+with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
+work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
+through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
+Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
+1.E.9.
+
+1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
+with the permission of the copyright holder, your use and distribution
+must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
+terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked
+to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
+permission of the copyright holder found at the beginning of this work.
+
+1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
+License terms from this work, or any files containing a part of this
+work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.
+
+1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
+electronic work, or any part of this electronic work, without
+prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
+active links or immediate access to the full terms of the Project
+Gutenberg-tm License.
+
+1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,
+compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
+word processing or hypertext form. However, if you provide access to or
+distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
+"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
+posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
+you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
+copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
+request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
+form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
+License as specified in paragraph 1.E.1.
+
+1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
+performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
+unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.
+
+1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing
+access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
+that
+
+- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
+ the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
+ you already use to calculate your applicable taxes. The fee is
+ owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
+ has agreed to donate royalties under this paragraph to the
+ Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments
+ must be paid within 60 days following each date on which you
+ prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
+ returns. Royalty payments should be clearly marked as such and
+ sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
+ address specified in Section 4, "Information about donations to
+ the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."
+
+- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
+ you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
+ does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
+ License. You must require such a user to return or
+ destroy all copies of the works possessed in a physical medium
+ and discontinue all use of and all access to other copies of
+ Project Gutenberg-tm works.
+
+- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
+ money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
+ electronic work is discovered and reported to you within 90 days
+ of receipt of the work.
+
+- You comply with all other terms of this agreement for free
+ distribution of Project Gutenberg-tm works.
+
+1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
+electronic work or group of works on different terms than are set
+forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
+both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
+Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the
+Foundation as set forth in Section 3 below.
+
+1.F.
+
+1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
+effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
+public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
+collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
+works, and the medium on which they may be stored, may contain
+"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
+corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
+property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
+computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
+your equipment.
+
+1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
+of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
+Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
+Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
+liability to you for damages, costs and expenses, including legal
+fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
+LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
+PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
+TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
+LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
+INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
+DAMAGE.
+
+1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
+defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
+receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
+written explanation to the person you received the work from. If you
+received the work on a physical medium, you must return the medium with
+your written explanation. The person or entity that provided you with
+the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
+refund. If you received the work electronically, the person or entity
+providing it to you may choose to give you a second opportunity to
+receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy
+is also defective, you may demand a refund in writing without further
+opportunities to fix the problem.
+
+1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth
+in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
+WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
+WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.
+
+1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied
+warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
+If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
+law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
+interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
+the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any
+provision of this agreement shall not void the remaining provisions.
+
+1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
+trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
+providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
+with this agreement, and any volunteers associated with the production,
+promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
+harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
+that arise directly or indirectly from any of the following which you do
+or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
+work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
+Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.
+
+
+Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
+electronic works in formats readable by the widest variety of computers
+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
+because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
+809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at https://pglaf.org
+
+For additional contact information:
+ Dr. Gregory B. Newby
+ Chief Executive and Director
+ gbnewby@pglaf.org
+
+
+Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation
+
+Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
+spread public support and donations to carry out its mission of
+increasing the number of public domain and licensed works that can be
+freely distributed in machine readable form accessible by the widest
+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
+
+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
+with these requirements. We do not solicit donations in locations
+where we have not received written confirmation of compliance. To
+SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
+particular state visit https://pglaf.org
+
+While we cannot and do not solicit contributions from states where we
+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
+against accepting unsolicited donations from donors in such states who
+approach us with offers to donate.
+
+International donations are gratefully accepted, but we cannot make
+any statements concerning tax treatment of donations received from
+outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
+
+Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
+methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
+ways including including checks, online payments and credit card
+donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate
+
+
+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
+
+Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
+
+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
+keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
+
+
+Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
+
+ https://www.gutenberg.org
+
+This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
+subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
diff --git a/31654-8.zip b/31654-8.zip
new file mode 100644
index 0000000..d34f57a
--- /dev/null
+++ b/31654-8.zip
Binary files differ
diff --git a/31654-h.zip b/31654-h.zip
new file mode 100644
index 0000000..4a7ed67
--- /dev/null
+++ b/31654-h.zip
Binary files differ
diff --git a/31654-h/31654-h.htm b/31654-h/31654-h.htm
new file mode 100644
index 0000000..2be2f3d
--- /dev/null
+++ b/31654-h/31654-h.htm
@@ -0,0 +1,1668 @@
+<!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.01 Transitional//EN"
+ "http://www.w3.org/TR/html4/loose.dtd">
+<html>
+<head>
+ <title>Oliveira Martins, por Antéro de Quental</title>
+ <meta name="Author" content="Antero de Quental">
+ <meta name="Edition" content="Lisboa. 1894. Companhia Nacional Editora">
+ <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=iso-8859-15">
+ <style type="text/css">
+ body{margin-left: 10%;
+ margin-right: 10%;
+ }
+ .pn {
+ text-indent: 0em;
+ position: absolute;
+ left: 92%;
+ font-size: smaller;
+ text-align: right;
+ color: silver;
+ }
+ #corpo p{text-align: justify; text-indent: 1em;}
+ h2 {text-align: center; font-size: 1.2em; margin-top: 4em;}
+ #corpo p.sinopse {margin: 0; font-size: small; text-indent: 0;}
+ hr {border: 0; border-top: solid 1px #000; width: 90%;}
+ #corpo .rodape p{
+ font-size: 0.8em;
+ margin: 2em;
+ }
+ </style>
+</head>
+
+<body>
+
+
+<pre>
+
+The Project Gutenberg EBook of Oliveira Martins, by Anthero de Quental
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: Oliveira Martins
+
+Author: Anthero de Quental
+
+Release Date: March 15, 2010 [EBook #31654]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OLIVEIRA MARTINS ***
+
+
+
+
+Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
+of public domain material from Google Book Search)
+
+
+
+
+
+
+</pre>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div style="text-align:center;">
+
+<div style="border: solid 2px #000;">
+<p style="font-size: 1.2em;">ANTHERO DE QUENTAL</p>
+
+<hr style="width: 30%;">
+
+<p style="font-size: 2em;">O<small>LIVEIRA</small> M<small>ARTINS</small></p>
+
+<hr style="width: 50%;">
+
+<p style="font-size: 0.8em;">O critico litterario&mdash;O economista&mdash;O historiador&mdash;O publicista&mdash;O politico</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>LISBOA <br>
+T<small>YPOGRAPHIA DA</small> C<small>OMPANHIA</small> N<small>ACIONAL</small>
+E<small>DITORA</small> <br>
+<em>50, Largo do Conde Barão, 50</em><br>
+1894</p>
+</div>
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="font-size: 1.2em;">OLIVEIRA MARTINS</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="font-size: 1.2em;">ANTHERO DE QUENTAL</p>
+
+<hr style="width: 30%;">
+
+<p style="font-size: 2em;">O<small>LIVEIRA</small> M<small>ARTINS</small></p>
+
+<hr style="width: 50%;">
+
+<p style="font-size: 0.8em;">O critico litterario&mdash;O economista&mdash;O historiador&mdash;O publicista&mdash;O politico</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>LISBOA <br>
+T<small>YPOGRAPHIA DA</small> C<small>OMPANHIA</small> N<small>ACIONAL</small>
+E<small>DITORA</small> <br>
+<em>50, Largo do Conde Barão, 50</em><br>
+1894</p>
+</div>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div id="corpo">
+<h2><a name="SECTION0001000">Os Luziadas, ensaio sobre Camões a
+sua obra, em relação á sociedade portugueza e ao movimento da Renascença, por
+J. P. de Oliveira Martins. Porto, 1872.</a></h2>
+
+<p>Se a escóla ethnologica está representada, entre os escriptores novos, pelo
+sr. Theophilo Braga, a escóla social e historica&mdash;a unica, talvez, a que
+propriamente se devêra dar o nome de philosophica&mdash;acaba de achar igualmente
+entre nós um digno representante num escriptor moço e do maior futuro, o sr.
+Oliveira Martins, que num livro recente estudou, a proposito de Camões (e para
+nos explicar Camões), a litteratura portugueza do seculo <small>XVI</small>, no
+ponto de vista largo e comprehensivo, ao mesmo tempo politico e psychologico,
+que caracterisa esta ultima escóla.</p>
+
+<p>Neste ponto de vista, a litteratura de um povo, considerada como um todo
+symetrico, uma obra gigantesca e collectiva, apresenta-se como a expressão do
+seu espirito nacional, determinado não por tal ou tal elemento primitivo e, por
+assim<span class="pn">{6}</span> dizer, physiologico, mas pelos elementos
+complexos, uns fataes outros livres, uns criados outros herdados, cuja synthese
+constitue a <em>idéa</em> da sua nacionalidade&mdash;raça, instituições, religião,
+tradição historica e vocação politica e economica no meio dos outros povos. A
+idéa nacional, na sua evolução, determina gradualmente o que se póde chamar o
+temperamento da nação; e, se esta surda fermentação se manifesta em tudo, nos
+seus actos e nos seus pensamentos, revela-se sobretudo na sua imaginação, isto
+é, no seu ideal, cuja expressão mais livre é a arte e a litteratura. Nesta
+invisivel circulação da seiva interior ha periodos, periodos de revolução, de
+progresso, de retrocesso, de incubação ou de plenitude de forças: a estes
+correspondem invariavelmente os periodos artisticos e litterarios, com suas
+variações de intensidade, lenta formação de escólas, morbidos estacionamentos,
+subitas e inflammadas florescencias. E, como nesta vegetação collectiva, cada
+ramo, cada folha, cada fructo, se alimenta com a seiva commum e tem uma
+vitalidade proporcional á força que trabalha o grande tronco, o espirito
+individual acompanha o espirito nacional nas suas evoluções, gradua pela delle
+a sua intensidade: a sua liberdade interior tem por limites, realisando-se, as
+condições do meio em que se desenvolve, e o genio do artista, do poeta, ainda
+quando protesta e se revolta, é sempre <em>adequado</em> ao genio do seu povo e
+da sua época. É por aqui que a historia litteraria se liga á philosophia da
+historia, ou antes, que faz parte della. As grandes épocas litterarias
+coincidem com as épocas de plenitude<span class="pn">{7}</span> do sentimento
+nacional, aquellas em que esse sentimento, tomando consciencia de si, se revela
+em obras harmonicas e complexas, que são como que o fructo definitivo da lenta
+elaboração das instituições, dos costumes, dos pensamentos. Reaes e juntamente
+ideaes, essas obras supremas dizem-nos ao mesmo tempo o que um povo
+<em>foi</em> e o que <em>quiz ser</em>, descobrem-nos a sua <em>aspiração</em>
+intima e marcam os <em>limites</em> dentro dos quaes lhe foi dado realisal-a.
+São o commentario moral das revoluções politicas e sociaes, e como que os
+annaes da consciencia nacional: e, para a philosophia, é na consciencia que a
+historia encontra a sua explicação definitiva e a sua final justificação.</p>
+
+<p>O que diz Camões a quem, depois de o ter lido com olhos de homem de gosto, o
+relê com olhos de philosopho? Camões, responde o snr. Oliveira Martins, diz-nos
+o <em>segredo</em> da nacionalidade portugueza. Houve, com effeito, uma
+nacionalidade portugueza&mdash;por mais estranha que esta affirmação nos pareça, a
+nós portuguezes do seculo <small>XIX</small>, que não atinamos a encontrar no
+presente uma <em>causa vivendi</em>: houve uma razão de ser tanto para as
+instituições como para os individuos, e uma idéa nacional, espalhada como a
+alma collectiva por todo este corpo, então vivo e agil. E não só houve uma
+nacionalidade portugueza, mas essa nacionalidade, superior aos impulsos cegos
+da raça e á fatalidade da geographia, produziu-se como uma obra do esforço e da
+vontade, não resultado de obscuros instinctos primitivos, como um facto
+politico e moral, não como um facto ethnologico. Quando em Hespanha não havia
+ainda senão catalães, castelhanos, leonezes<span class="pn">{8}</span> e
+navarros; em França provençaes, gascões, borguinhões, bretões; em Allemanha
+suabos, austriacos, saxões, hanoverianos; em Italia tantos pequenos estados
+rivaes quantas cidades, e não se fazia bem idéa do que fosse ser hespanhol,
+francez, allemão, italiano, porque estas palavras França, Hespanha, Allemanha,
+Italia designavam apenas vagas agrupações naturaes e não grupos organisados&mdash;em
+Portugal havia só portuguezes, e ser portuguez tinha uma significação definida
+e precisa. Este é o grande facto, diz o sr. Oliveira Martins, que faz delle o
+seu ponto de partida: daqui, a cohesão politica da nação; daqui a sua
+physionomia moral. Essa cohesão é a unidade; essa physionomia é o patriotismo.
+O patriotismo, pondera acertadamente o sr. Oliveira Martins, é cousa muito
+distincta do amor da terra: e o patriotismo, como os portuguezes dos seculos
+<small>XV</small> e <small>XVI</small> o conceberam, foi um phenomeno moral
+quasi unico na Europa de então, e que os tornou muito mais parecidos com os
+romanos antigos do que com os povos seus contemporaneos. O patriotismo é uma
+idéa abstracta, que excede a capacidade toda sentimental da raça; o instincto
+naturalista da raça dá o amor da terra; não vai mais além: só a idéa nacional
+póde dar o patriotismo, comprehendido á romana e á portugueza. O Cid batalha
+mais de uma vez contra os castelhanos, ao lado dos arabes; o condestavel de
+Bourbon vira a sua espada aventureira contra a França que o viu nascer; nem por
+isso deixa o Cid de ser um typo de bravura idealisado pelos hespanhoes, e o
+condestavel de Bourbon um leal cavalleiro para todos os cavalleiros de França;
+mas<span class="pn">{9}</span> os Pereiras, combatendo ao lado dos castelhanos
+em Aljubarrota, são malditos, <em>arrenegados</em>; e, mais tarde o Magalhães
+será <em>portuguez no feito, porém não na lealdade</em>: apostataram da idéa
+nacional. Eis a grande differença. Esta noção do patriotismo cria uma ordem de
+sentimentos particulares dos individuos para com a nação, um modo de ser moral
+peculiar. É o dever patriotico, como o comprehenderam, em Roma, Fabricio,
+Regulo, Catão, em Portugal Castro, Albuquerque&mdash;o dever patriotico, cuja
+expressão suprema é o heroismo. Leia-se a historia da Europa até ao seculo
+<small>XVI</small>: abundam os <em>bravos</em>, mas difficilmente se
+encontrarão os <em>heroes</em>, segundo o typo magnanimo que a antiguidade
+realisou, e que de novo e no seu ponto de vista realisou Portugal durante os
+seculos <small>XV</small> e <small>XVI</small>. No <em>peito illustre
+lusitano</em> havia então alguma cousa de grande e transcendente, que impellia
+a nação para um destino extraordinario e suscitava no meio della os heroes, que
+deviam servir a idéa nacional com a abnegação tenaz e superior com que se serve
+uma idéa religiosa. É que o patriotismo é uma especie de religião civil. Foi
+por essa religião que, durante tres seculos, nos erguemos no mundo, para
+realisar um sonho gigantesco e quasi sobre-humano: foi por ella tambem que
+cahimos exangues e desilludidos, porque a realidade faltou ao sonho, porque
+todo o sonho, com o seu idealismo, se exalta primeiro, perturba depois,
+transvia, endoudece aquelles que envolve nas suas nevoas phantasticamente
+luminosas, mas sempre enganadoras.</p>
+
+<p>A época nacional portugueza, por excellencia, é o seculo <small>XVI</small>.
+Tudo concorre então para dar ao<span class="pn">{10}</span> espirito dos
+portuguezes aquelle summo grau de tensão, que produz os grandes movimentos
+nacionaes. A nacionalidade rompe com impulso irresistivel os seus limites
+tradicionaes, transborda fremente como um rio caudaloso, e affirma-se na sua
+plenitude pelas descobertas e pelas conquistas. Dentro, a sua força é o
+resultado da sua concentração: pela reforma dos foraes, pela monarchia
+absoluta, pela expulsão dos judeus, attinge o maximo de unidade politica,
+social, religiosa, isto é, o maximo de poder sobre si mesma. Esta energica
+cohesão depura o sentimento nacional, dá-lhe uma segura consciencia de si, e
+leva-o áquelle grau de tensão em que o patriotismo, exaltando-se, se transforma
+numa especie de heroismo universal. A nação faz-se heroe: o heroismo é a sua
+atmosphera ordinaria, e todos participam mais ou menos desse contagio
+sublimador. Daqui, uma concepção particular da vida social, do direito, do
+dever, tanto para a nação como para os individuos. <em>Ser portuguez</em> é
+alguma cousa de especial, um typo <em>sui generis</em> de virilidade e nobreza,
+que todos procuram realisar, e que a litteratura idealisa, de que ella se
+inspira na phase nova em que então entra. Com effeito, a esta evolução moral
+corresponde uma evolução litteraria. Á escóla provençal-castelhana, lyrica,
+aventureira e romanesca, succede a grave escóla italiana, com a feição nova que
+o espirito portuguez lhe deu, adoptando-a, isto é, moral e épica. Ao trovador
+Bernardim Ribeiro, ao popular Gil Vicente succedem Sá de Miranda e Ferreira,
+dous romanos. O velho typo cavalheiresco, phantasioso e sentimental,
+empallidece diante desse outro que surge,<span class="pn">{11}</span> nobre e
+digno, quasi severo, o homem do dever, não da sensibilidade, que João de
+Barros, Ferreira e Miranda vão levantando, e que Camões virá collocar sobre o
+sublime pedestal épico.</p>
+
+<p>Este typo, o verdadeiro typo portuguez do seculo <small>XVI</small>, como se
+revela nos <em>Lusiadas</em>, não é com effeito uma mera invenção do genio de
+Camões: é uma genuina criação nacional, um ideal do sentimento collectivo, que
+se foi gradualmente formando e depurando, até encontrar no grande poeta quem
+lhe désse uma expressão definitiva. É por isso mesmo que elle domina, de toda a
+sua altura, o pensamento e a obra de Camões. O que o poeta canta é o heroismo
+portuguez: <em>o peito illustre lusitano</em>: e todo o seu poema se resume
+nisto, como nesse poema se resume toda a vida moral portugueza durante um
+seculo. A razão intima dos acontecimentos, dos costumes, das opiniões
+encontra-se alli: explicam-se por elle, e só elles tambem o explicam
+completamente. O poema e a sociedade são, por seu turno, texto e glosa que
+mutuamente se commentam.</p>
+
+<p>Neste ponto de vista, historico e psycologico, não no ponto de vista
+meramente litterario de uma esteril poetica de convenção, é que os
+<em>Lusiadas</em> devem ser estudados e comprehendidos&mdash;e cabe ao sr. Oliveira
+Martins a gloria de ter sido o primeiro a fazel-o, a gloria de ter
+<em>commentado</em> philosophicamente os <em>Lusiadas</em>. A esta luz tudo se
+explica na concepção do poema e na substancia moral delle: percebe-se a razão
+deste estranho phenomeno, estranho e unico, do apparecimento de um verdadeiro
+poema epico nacional em plena idade moderna.<span class="pn">{12}</span></p>
+
+<p>Isto em quanto á concepção. Em quanto, porém, a certa ordem de sentimentos,
+que, no ponto de vista épico, são secundarios, mas que occupam um grande logar
+no poema, para os comprehender faz-nos o sr. Oliveira Martins considerar outro
+lado da physionomia tão complexa de Camões e da sua época. Com effeito, se
+Camões é um portuguez do seculo <small>XVI</small>, é ao mesmo tempo um artista
+da Renascença; daqui todo um lado dos <em>Lusiadas</em>, que excede a idéa
+nacional, e por onde este profundo poema se liga, não já á vida necessariamente
+estreita de um simples povo, mas ao vasto movimento do espirito humano nos
+tempos modernos. Sem este lado, a significação dos <em>Lusiadas</em> seria
+meramente nacional e local, não europêa e universal: teriam só um valor
+historico e não philosophico tambem. Mas Camões, portuguez pelo caracter e pelo
+coração, era pela intelligencia mais do que portuguez sómente. Respirava a
+atmosphera subtil e vivificante da Renascença: no seu vasto espirito, como no
+dos grandes artistas desse tempo, havia um lado mysterioso e profundo que se
+virava, não para o passado ou para o presente, mas para o illimitado futuro,
+presentindo já a revolução moral dos seculos <small>XVIII</small> e
+<small>XIX</small>. Se Camões, como portuguez é patriota e heroico, como homem
+da Renascença é pantheista; pantheista platonico e idealista, já se vê, como
+Miguel Angelo, Leonardo de Vinci, Shakespeare. Portuguez, exalta os feitos por
+onde o seu povo conquista entre as nações um logar proeminente: homem da
+Renascença, sente e interpreta a natureza com um naturalismo impregnado de
+idealidade, que é mais ainda o presentimento<span class="pn">{13}</span> de um
+mundo moral novo, do que uma imitação da antiguidade pagan. O sentimento
+pantheista da natureza, sentimento todo moderno, e que devia mais tarde chegar
+á plenitude em Rousseau, Goethe, Hugo, appareceu pela primeira vez em Camões.
+Daqui, o caracter do seu espanto em face dos grandes phenomenos maritimos;
+daqui, a concepção do Adamastor; daqui, o sensualismo da primeira parte do
+canto <small>XI</small> e o idealismo da ultima. É por este lado que Camões
+toma logar entre os grandes espiritos, os <em>Lusiadas</em> entre as grandes
+obras dos tempos modernos. A imaginação prophetica do poeta anticipa tres
+seculos na historia psycologica da humanidade. Com todos estes elementos, uns
+portuguezes, outros europeus, uns locaes, outros universaes, recompõe o sr.
+Oliveira Martins a physionomia complexa de Camões e dos <em>Lusiadas</em>, com
+uma lucidez e segurança de critica verdadeiramente surprehendentes para quem
+considerar a completa novidade do seu trabalho. A sua luminosa synthese abraça
+o poeta, a obra e a época: e pela épocha, pelo poeta e pela obra faz-nos sentir
+a intima realidade da nação e a sua razão de ser historica. E nessa mesma
+synthese comprehende-se tambem a sua decadencia; triplice decadencia, politica,
+moral, litteraria. Como? pela decadencia da idéa nacional. Com effeito, o
+patriotismo heroico do Portugal do seculo <small>XVI</small> continha em si
+mesmo os germens da propria dissolução. Era grande, mas não era justo: ora nada
+dura no mundo senão pela justiça. Tinha fatalmente de se corromper essa
+orgulhosa idéa nacional, fundada na violencia da conquista, na intolerancia
+religiosa<span class="pn">{14}</span> e no despotismo politico. Os vicios
+interiores do organismo nacional appareceram bem depressa: appareciam já no
+tempo de Camões: nos <em>Lusiadas</em> encontram-se de vez em quando, estrophes
+sombrias, que são como um lugubre <em>cras enim moriemur</em> lançado no meio
+das alegrias daquelle festim heroico. Era o futuro velado e lutuoso que o poeta
+entrevia num deslumbramento prophetico. A nação estava, com effeito,
+condemnada. O heroismo que tem de durar, lança as suas raizes na região mais
+inalteravel, mais incorruptivel da consciencia humana, e as do nosso não
+chegaram lá: foi uma especie de <em>sezão nacional</em>; não foi um acto
+reflectido, filho da liberdade moral, um esforço supremo pela justiça; foi
+apenas um egoismo sublime. Por isso, martyres da propria obra, a nossa quéda
+foi cheia de tristeza e confusão, nem nos ficou no rosto a serenidade luminosa
+dos verdadeiros martyres.</p>
+
+<p>As paginas austeras em que o sr. Oliveira Martins estabelece esta distincção
+entre o heroismo da consciencia e o da fatalidade, e mostra Portugal condemnado
+por aquillo mesmo que fizera a sua virtude e a sua grandeza, são das mais
+gravemente pensadas que se teem escripto na nossa lingua. É a verdadeira
+philosophia da historia aquella sua, que reduz e subordina toda a actividade
+humana á consciencia e á justiça. A injustiça da idéa nacional, como os
+portuguezes então a conceberam, corrompeu gradualmente as instituições,
+infiltrou-se nos espiritos e perverteu os costumes: a sociedade, minada
+interiormente, vacillou, em despeito do esplendor mentiroso que exteriormente a
+vestia, e começou a desabar. O<span class="pn">{15}</span> sr. Oliveira Martins
+desenhou com mão segura e vivissimo colorido o quadro das implacaveis
+realidades, que, produzidas pelo heroico idealismo portuguez, se viraram contra
+elle, o viciaram e acabaram por destruil-o. A nação, atacada deste modo nos
+seus orgãos mais vitaes e na mesma alma, que podia produzir no mundo do
+espirito, da arte, da litteratura? A decadencia social e moral tinha
+necessariamente de corresponder a decadencia litteraria. Um desregramento
+doentio das imaginações privadas de ideal, depois um estreito classicismo e uma
+poetica de academias, succederam á livre e fecunda expansão do genio portuguez
+no mundo do sentimento e da phantasia. A idéa nacional levou comsigo para a
+cova o segredo das criações poeticas. Do seculo <small>XVI</small> até hoje não
+produziu Portugal uma unica obra artistica ou litteraria verdadeiramente
+nacional. De vez em quando, nalguns momentos excepcionaes, o genio dalguns
+homens tem-se levantado como um protesto, e tem-se visto ainda uma ou outra
+obra viva. Mas essa inspiração é toda individual, não é nacional: é um producto
+natural que póde demonstrar que a raça não morreu com a nacionalidade, não é
+filha de um sentimento commum e como que organico da sociedade portugueza. A
+decadencia nacional é o grande facto inexoravel da nossa historia, vai em tres
+seculos: a decadencia litteraria é uma fórma della, nada mais.</p>
+
+<p>Decadencia irremediavel? pergunta o sr. Oliveira Martins, nas ultimas
+paginas do seu livro. Não! responde-lhe a philosophia revolucionaria. A nossa
+renovação moral e litteraria será possivel<span class="pn">{16}</span> no dia
+em que, pela reforma das instituições sociaes, por uma nova e melhor
+comprehensão da justiça, comece outra vez o espirito a circular neste grande
+corpo, mais inerte ainda do que acabado, volte a animal-o uma alma, um ideal
+collectivo. Então Portugal terá de novo uma razão de ser, e a idéa nacional,
+mais brilhante e mais quente depois do seu eclipse secular, fará rebentar outra
+vez fructos e flores deste chão endurecido sim, mas debaixo do qual ha ainda
+(embora a grande profundidade) fontes vivas em abundancia. As grandes acções
+serão outra vez possiveis, e um melhor e mais alto heroismo; por elle serão não
+só possiveis, mas quasi inevitaveis os grandes pensamentos poeticos. A
+renovação litteraria de Portugal é correlativa com a sua renovação social e
+está dependente della: é a conclusão do livro do sr. Oliveira Martins,
+conclusão que todos devemos aceitar, não como uma vaga esperança, mas como uma
+verdade philosophica cuja realisação não depende senão do nosso esforço, da
+energia do nosso sentimento moral. Somos os operarios do nosso proprio destino,
+e desde já as nossas mãos o vão aperfeiçoando: terá a fórma que lhe dermos.</p>
+
+<p>Neste trabalho solemne da renovação nacional, grande é a tarefa que está
+talhada para a geração nova, e immensa a sua responsabilidade! Estará ella,
+pela intelligencia e pelo coração, pela sciencia e pela virtude, á altura desta
+obra austera e formidavel? Muitos o duvidam, vendo-lhe no rosto uma pallidez de
+mau agouro... Não me cabe a mim decidil-o: direi sómente que (quaesquer que
+tenham de ser os nossos destinos) para<span class="pn">{17}</span> darem
+testemunho das intenções sérias de uma parte consideravel da nossa geração, do
+seu espirito renovador, da sua aspiração a uma melhor sciencia, bastarão em
+todo o tempo obras como a <em>Historia da litteratura portugueza</em>, do sr.
+Theophilo Braga, e o <em>Ensaio sobre Camões</em>, do sr. Oliveira Martins.</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>9 de maio de 1872.<span class="pn">{18}</span></p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<h2><a name="SECTION0002000">Theoria do socialismo, evolução
+politica e economica das sociedades da Europa: por J. P. de Oliveira Martins.
+Lisboa, 1872.</a> </h2>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<h2><a name="SECTION0002100">I</a> </h2>
+
+<p>Pelo assumpto do livro, pela maneira porque nelle se resolvem as questões
+que o assumpto envolve, e pela muita amizade, além da affinidade de crença
+philosophica e politica, que me liga ao autor, estava eu obrigado a fallar
+publicamente desta recente e por tantos lados notavel obra do sr. Oliveira
+Martins. Se o não tenho ainda feito, contando o livro perto já de tres mezes
+depois de publicado, é porque preoccupações de outra natureza, envolvendo
+dispendio de tempo e de attenção para coisas bastante differentes, me teem
+totalmente impedido. Agora mesmo, só lhe poderei consagrar uma rapida noticia,
+expondo apenas a impressão geral, que uma primeira leitura, por varias
+occasiões interrompida, me deixou, tanto dos defeitos como das sérias
+qualidades, que avultam na <em>Theoria do Socialismo</em>.</p>
+
+<p>Comecemos pelos defeitos, e pelos pontos em<span class="pn">{19}</span> que
+discordo (sem pretender por modo algum incluir estas divergencias no numero dos
+defeitos) da maneira de vêr do autor. Depois, mais desassombrados, apreciaremos
+o pensamento essencial da obra.</p>
+
+<p>Os defeitos são, me parece, exclusivamente de fórma e composição. Ha uma
+idéa fundamental no livro, que determina uma linha logica, desenvolvendo-se sem
+soluções de continuidade da primeira até á ultima pagina; ha, nos pontos que
+essa linha percorre, uma successão natural correspondente ao encadeamento
+normal dos principios e dos factos na sciencia e na historia. O que falta,
+porém, é uma definição <em>cathegorica</em> da idéa geradora, e uma exposição
+precisa e desenvolvida dos principios, de tal sorte que estes não se entrevejam
+sómente, mas appareçam de facto como a <em>razão sufficiente</em> dos
+phenomenos historicos e a elles <em>adequados</em>. É a esta falta que se deve
+attribuir a difficuldade e obscuridade que encontram as intelligencias não
+preparadas por uma conveniente educação philosophica (e são muitas,
+desgraçadamente) em certas partes desta obra, aliás methodica e bem deduzida.
+Quero com isto dizer que não é da idéa que provém a obscuridade, mas da
+composição e do estilo. Bastava que o autor tivesse dado ás <em>theses</em>,
+que precedem cada um dos seus capitulos, um desenvolvimento proporcional, em
+vez de as encerrar em formulas, ás vezes um tanto algebricas, e que nas suas
+exposições de principios <em>arejasse</em> um pouco o estilo, tornando-o mais
+ductil e menos technico, para que as abstrações philosophicas se<span
+class="pn">{20}</span> tornassem accessiveis ao simples senso-commum, a que se
+reduz o criterio de 90 por cento dos leitores portuguezes.</p>
+
+<p>Faço estes reparos, não só para que as pessoas que não comprehenderam bem
+certas paginas do livro do sr. Martins se convençam de que essa obscuridade
+nada depõe contra a verdade e lucidez da idéa fundamental delle, como tambem
+por entender que o estilo nas obras não litterarias, e até nas de sciencia
+pura, não deve ser considerado como coisa accessoria e secundaria. Certamente
+que não aconselho aos homens de sciencia que <em>façam estilo</em>; mas é que
+tal conselho não o daria tambem aos literatos e aos poetas. Para mim, entre ter
+bom estilo e <em>fazer estilo</em> ha uma differença essencial: ter bom estilo
+significa ter o estilo proprio e conveniente das idéas que se expõem; <em>fazer
+estilo</em> significa encobrir a falta de idéas com phrases redundantes e
+apparatosas, com aquelles <em>persicos apparatus</em> que já Horacio queria
+banidos dos festins e, com maior razão ainda, do discurso. Póde haver, e ha
+effectivamente, bom estilo até nas sciencias mais rigorosas, naquellas a que os
+espiritos vasios, que querem campar de poeticos, chamam aridas: ha bom estilo
+em mathematica, por exemplo, e em chimica: Lagrange passa por ter escripto
+algebra com uma elegancia e belleza verdadeiramente classicas; em chimica, gosa
+hoje de igual reputação o illustre Wurtz. Mas deixemos isto, porque não é sobre
+esthetica que me propuz escrever. Direi sómente que o sr. O. Martins nunca
+<em>faz estilo</em>, exactamente porque tem muitas idéas;<span
+class="pn">{21}</span> mas que, por não dispôr ás vezes convenientemente as
+suas idéas, consoante os respectivos valores, <em>cum pondere, numero et
+mensura</em>, deixa passar certas paginas, que, sem injustiça, podemos acoimar
+por não terem bom estilo.</p>
+
+<p>Tomarei tambem nota de alguns pontos em que não concordo com o modo de vêr
+do autor da <em>Theoria</em>. Não é que essas divergencias de opinião sejam
+muito profundas, quero dizer, que versem sobre pontos essenciaes da doutrina do
+livro: são, pelo contrario, exotericas, e versam exclusivamente sobre certas
+apreciações historicas, indifferentes em grande parte á conclusão geral que o
+autor tira da evolução das sociedades na Europa desde a época romana. Essa
+conclusão é a minha tambem, como o leitor verá: e se tomo nota destas
+divergencias, é porque não me apraz estar completamente de accordo com quem
+quer que seja, maximamente com aquelles cuja intelligencia préso e respeito&mdash;e
+desejo deixal-o registado. Custar-me-hia tanto não concordar em ponto algum com
+o sr. O. Martins, como concordar em todos absolutamente. Espero que o leitor
+comprehenderá, sem mais explicações, o que quero dizer.</p>
+
+<p>Discordo pois, da maneira porque o sr. Martins encara, na sua generalidade,
+a Idade-media, considerando-a como um periodo de retrocesso em relação á
+civilisação greco-romana, durante o qual os elementos evolutivos dessa
+civilisação estacionassem (experimentando alguma coisa analoga áquillo a que em
+physiologia se chama <em>interrupção de desenvolvimento</em>), em virtude das
+sabidas causas ethnologicas, sociaes e moraes que<span class="pn">{22}</span>
+determinaram a dissolução do mundo antigo, de tal sorte que todo o movimento
+europeu, durante aquelles nove a dez seculos, se reduzisse, de um lado, á
+tradicção greco-romana, no que ella tinha de <em>já definitivo</em> e <em>não
+evolutivo</em>, isto é, o Cristianismo e o Imperio, e do outro lado, ao
+reapparecimento de elementos primitivos, os Barbaros, que apenas repetem
+extemporaneamente phases sociaes, que a civilisação antiga, havia já seculos,
+tinha atravessado. Daqui parece o autor concluir que a evolução normal da
+civilisação foi perturbada, durante um certo periodo, pela introducção violenta
+de elementos estranhos, constituindo uma como massa indigesta, cuja laboriosa
+digestão produzindo uma lethargia secular, explica sufficientemente a
+<em>interrupção de desenvolvimento</em> que descobre na idade-media. Esses
+elementos anormaes, que a civilisação teve de digerir durante mil annos, para
+poder reatar os termos logicos da sua evolução (seculo 5.º, seculo 16.º),
+foram, de um lado, o Cristianismo com o seu Santo Imperio, do outro lado os
+Barbaros com o seu sistema feudal. Ora, de mais de uma pagina da
+<em>Theoria</em> concluo eu que, no pensar do sr. Martins, nenhum destes dois
+phenomenos é inherente á evolução, pois que vê nas invasões barbaras só um
+phenomeno ethnologico e como que uma fatalidade natural, e no Christianismo uma
+mera reacção religiosa, um recrudescimento anomalo de transcendentalismo,
+quando já pelo Estoicismo, de um lado, e do outro pelo Epicurismo, entrava o
+espirito humano na larga estrada da philosophia natural, e entrevia no
+horisonte a luz salvadora da Immanencia. A conclusão<span
+class="pn">{23}</span> a tirar é que, sem estes elementos perturbadores, não
+teria havido <em>interrupção de desenvolvimento</em>, seriam poupadas á
+Humanidade as agonias da sua <em>paixão</em> (como Michelet chama á
+Idade-media), o seculo 16.º teria caído no seculo 6.º, e nós hoje estariamos já
+aonde só estaremos no seculo 30.º</p>
+
+<p>Se estas conclusões que não estão explicitas no livro do sr. Martins se
+contêem realmente nos seus principios, tenho a objectar-lhe, antes de tudo, que
+implicam até certo ponto contradicção com a sua idéa fundamental, isto é, a
+Evolução como lei primeira da Civilisação. Que uma circumstancia ou uma serie
+de circumstancias exteriores e fataes possam produzir numa civilisação não
+sómente uma <em>interrupção do desenvolvimento</em>, mas ainda uma atrophia
+permanente, comprehende-se e em nada contradiz a idéa da Evolução. Mas o que a
+contradiz e o que não se comprehende é que essa atrophia temporária ou
+permanente possa ser expontanea, e saia como um termo necessario da mesma
+evolução, cuja essencia é o desenvolvimento. Ora, ainda concedendo que os
+Barbaros estejam no primeiro caso (e não me parece que estejam absolutamente,
+porque que se as invasões barbaras são um phenomeno natural e fatal, e um
+agente exterior, a fraqueza interna de uma civilisação, que succumbe á
+barbaria, tem por força de ter uma causa tambem interna, que é preciso
+determinar), o Cristianismo é que necessariamente estaria no segundo, e
+teriamos assim, neste ponto, a evolução embaraçando-se e contradizendo-se a si
+mesma.</p>
+
+<p>Logo, uma de duas: ou a evolução, em determinados casos, póde suspender-se
+expontaneamente,<span class="pn">{24}</span> e não só suspender-se, mas até
+retroceder e annullar-se a si mesma, o que é contradictorio com a sua idéa
+essencial; ou não houve realmente na Idade-media um <em>retrocesso geral</em> e
+atrophia dos elementos evolutivos, e é necessario procurar no estudo
+comparativo dos elementos immediatamente anteriores e posteriores a essa idade
+a existencia de um <em>quid intimum</em>, cujo desenvolvimento, assegurando o
+resultado total da evolução, como sendo-lhe essencial, póde ao mesmo tempo,
+pela sua particular natureza, <em>suspendel-a parcialmente</em>, durante um
+certo tempo e em determinados pontos.</p>
+
+<p>Regeitando a primeira hypothese, como envolvendo um absurdo, fica-nos a
+segunda, que não só tem a plasticidade sufficiente para se accommodar á
+explicação dos phenomenos divergentes e apparentemente contradictorios de um
+periodo tão complexo e revolto como a Idade-media, mas encerra além disso um
+real valor philosophico, fazendo entrar na historia uma das idéas fundamentaes
+das sciencias da organisação, a idéa de <em>crise</em>, e estabelecendo assim
+entre o mundo da vida e o do espirito uma concordancia de bastante alcance.</p>
+
+<p>Nestes termos, diremos que não se deu na Idade-media uma <em>interrupção do
+desenvolvimento</em>, mas sim uma de aquellas <em>crises organicas</em> que são
+proprias e expontaneas na evolução dentro do mundo dos organismos&mdash;fazendo
+entrar neste a historia, como uma fórma organica superior e transcendente.
+Crises taes são um resultado do mesmo desenvolvimento dessa ordem de forças
+complexas (que não são independentes e apenas paralelas,<span
+class="pn">{25}</span> mas convergentes e solidarias) que actuam segundo leis
+analogas, tanto nos organismos como nas sociedades e no espirito.</p>
+
+<p>Vê-se claramente como desta solidariedade e convergencia, combinadas com a
+acção desigual das circumstancias exteriores sobre cada uma dessas forças,
+resultem para muitas dellas desencontros e periodos de estacionamento, em
+quanto umas esperam para se desenvolverem que outras tenham attingido um dado
+grau de desenvolvimento, sem se realisar o qual ellas mesmas não podem
+continuar a sua evolução.</p>
+
+<p>É assim que o sabio paleontologista G. de Saporta (<em>Origens da vida sobre
+o globo</em>), comparando a evolução solidaria dos reinos animal e vegetal nas
+idades primitivas, nos mostra o primeiro, depois de ter percorrido
+successivamente uma serie ascendente de typos, estacionar durante muitos
+milhares de annos, á espera que o secundo, cujo desenvolvimento, por causas em
+parte desconhecidas, fôra mais demorado, attingisse aquelle termo de ascensão,
+sem se realisar o qual não podia o reino animal continuar o seu progresso
+especifico. Se considerarmos (com depois dos trabalhos de Darwin e Haekel não
+podemos deixar de considerar) que os chamados reinos animal e vegetal não são
+sómente paralelos mas solidarios, e constituem realmente um só mundo organico,
+teremos um facto consideravel, que a paleontologia nos aponta, o exemplo de uma
+immensa e prolongadissima crise, que esse mundo atravessou, a maior porventura
+que elle tem atravessado.</p>
+
+<p>Ora é exactamente uma crise analoga que eu sustento ter soffrido a sociedade
+europea durante o<span class="pn">{26}</span> periodo da Idade-media: o
+<em>reino</em> social e politico, depois de rapido e ininterrupto progresso
+realisado desde Homero até aos Antoninos, teve de estacionar, esperando que o
+<em>reino</em> moral, atravez das varias <em>especies</em> do cristianismo e da
+philosophia escolastica, chegasse a um grau de desenvolvimento paralelo ao seu,
+que lhe tornasse possivel continuar a progredir. A solidariedade entre o
+progresso social e moral da humanidade, de um lado e do outro o desigual
+desenvolvimento destes dois elementos, bem patente no facto singular (que aliás
+se explica) de ter o mundo antigo produzido o direito romano sem sair do
+polytheismo, dão cabalmente, me parece, a razão sufficiente deste
+<em>desencontro</em> de forças, cujo resultado foi a grande crise da
+Idade-media.</p>
+
+<p>É por tudo isto que, a meu ver, a Idade-media não póde ser reduzida, como
+parece fazel-o o sr. Martins, a uma simples <em>tradicção</em> e a um periodo
+de <em>atrophia</em> dos elementos verdadeiramente evolutivos do mundo
+greco-romano. Para mim, são verdadeiramente evolutivos <em>todos</em> os
+elementos da idade-media, e a idade-media contém <em>todos</em> os elementos
+evolutivos da civilisação antiga: sómente o grande desenvolvimento e as
+posições respectivas é que são differentes. Considero o cristianismo como
+essencial á evolução; mais, como o termo necessario de todo o movimento moral
+da antiguidade: para mim, não só não foi elle um <em>incidente</em>
+perturbador, mas não foi de modo algum um incidente. A <em>transcendencia</em>,
+preparada e organisada por todas as escolas philosophicas desde Socrates até
+aos Alexandrinos, incluindo os Estoicos e até os Espicuristas (cuja metaphisica
+era<span class="pn">{27}</span> tão idealista e a moral tão mystica como as das
+outras escolas, e que não foram, como a alguns tem parecido, os precursores
+<em>incompris</em> dos racionalistas e naturalistas modernos), a
+<em>transcendencia</em>, phase necessaria do pensamento humano, tinha
+forçosamente de produzir uma religião analoga na essencia ao Cristianismo;
+ainda quando lhe faltassem os elementos, quanto a mim puramente morphologicos,
+da lenda oriental. Uma prova bem clara desta ultima asserção, encontro-a na
+reacção de Juliano, chamado o Apostata, cuja religião-philosophica não era
+menos transcendentalistica e mystica do que a cristan, e que, a ter vingado,
+haveria produzido uma theologia e uma igreja exactamente como o Cristianismo.
+Quero dizer que, dado o estado moral da humanidade na ultima época do periodo
+greco-romano, se o cristianismo não era inevitavel, o que era inevitavel era
+uma religião na essencia cristan, isto é, mystica. A exaltação mystica, que
+então se apossou do espirito humano, se foi um mal (e não creio que o fosse
+absolutamente), foi um mal necessario. Era um termo logico da Evolução; e a
+Idade-media, que foi o desenvolvimento desse termo, não póde por esse lado ser
+considerada como uma simples <em>tradicção</em>.</p>
+
+<p>Em quanto aos Barbaros, bastar-me-ha dizer que não creio que fossem elles os
+destruidores da unidade romana, por si não só prestes a desfazer-se, mas já
+meia desfeita nos seculos 5.º e 4.º; que sem elles o imperio ter-se-hia
+igualmente desmembrado; que elles não impediram a extincção da escravidão
+antiga nem a formação da burguezia; que independentemente da influencia<span
+class="pn">{28}</span> germanica, já o feudalismo tendia a formar-se
+espontaneamente no imperio em dissolução, desde o seculo 4.º; que finalmente,
+muito antes das invasões já as sciencias e as lettras tinham decaido, e
+começára um entenebrecimento intellectual, de que os barbaros não devem ser
+responsaveis; bastar-me-ha dizer isto para que o sr. Martins aprecie as razões
+por que, ainda por este lado, nada encontro de anormal e de perturbador no
+curso da evolução geral da civilisação durante a Idade-media, nem vejo que
+houvesse <em>interrupção de desenvolvimento</em> produzida por causas estranhas
+e fortuitas.</p>
+
+<p>É este o ponto principal da minha divergencia com o autor da
+<em>Theoria</em> e por isso o expuz mais detidamente. Os outros, que são ainda
+mais indifferentes á idéa geral do livro, sacrifico-os, para entrar quanto
+antes na apreciação dessa idéa.</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<h2><a name="SECTION0002200">II</a> </h2>
+
+<p>Feitas estas reservas, passo a dizer alguma coisa sobre a idéa fundamental
+da obra. Obra, ponho eu aqui intencionalmente, porque é verdadeiramente <em>uma
+obra</em>, e não apenas <em>um livro</em>, a "<em>Theoria do Socialismo</em>"
+Não é uma simples exposição de factos historicos, mais ou menos curiosos,
+acompanhada de juizos e considerações, mais ou menos rasoaveis ou eloquentes: é
+um todo ordenado e systematico, em que os factos e as idéas se encadeam<span
+class="pn">{29}</span> logicamente, convergindo para um centro commum, que é o
+ponto de vista superior que os abrange e explica a todos. É um trabalho
+conjunctamente philosophico e scientifico, em que as generalizações formuladas
+pela sciencia historica recebem a sua sancção final dos principios racionaes em
+que assenta a philosophia da historia&mdash;tentativa semelhante na essencia e no
+methodo, embora diversa nas conclusões e inferior na execução, á que realizou
+Guizot na sua "<em>Historia da Civilisação na Europa</em>" e Michelet
+naquella admiravel "<em>Introducção á historia universal</em>". O sr. Martins
+não é um erudito, nem um philosopho de profissão: mostrou porém ter sciencia
+bastante e sufficiente elevação de pensamento para nunca ser inferior ao que um
+tal plano requeria. Ora, tentar isto, e realisal-o, apesar de muitos defeitos
+parciaes, com exito feliz na generalidade, é raro merecimento e que sobejamente
+justifica, me parece, esta particular designação de <em>obra</em> que dei ao
+livro. Escriptos desta natureza e alcance em nenhuma litteratura são
+frequentes: o do sr. O. Martins affigura-se-me que é por ora unico entre nós.
+Ainda assim, não é bem por isso que me congratulo, mas por ver na "<em>Theoria
+do Socialismo</em>" um symptoma animador de franca e séria adopção da idéa
+nova pelo espirito portuguez: é isto o que me faz saudar fraternalmente a obra
+e o autor.</p>
+
+<p>Socialismo é para muitas pessoas uma palavra aterradora, exactamente porque
+não é para essas pessoas mais do que uma palavra. É para outras um symbolo
+magico e omnipotente abracadabra, a quem tudo se póde pedir, de quem tudo se
+deve<span class="pn">{30}</span> esperar, dotado sobrenaturalmente de uma
+virtude palingenesica para operar nas coisas humanas uma renovação total e
+universal, uma regeneração instantanea e absoluta: estes são os enthusiastas,
+que encarnam na palavra socialismo os seus sonhos individuaes de felicidade, em
+vez de simplesmente a considerarem como a expressão de uma ordem de phenomenos
+objectivos, independente das imaginações sentimentaes de cada qual, e só
+adequada á natureza das sociedades no seu desenvolvimento necessario. Apesar do
+que ha de respeitavel nos sentimentos desses crentes, estão elles tão longe
+como os outros de saberem o que realmente se deve entender por socialismo. A
+uns e outros recommendo o livro do sr. Martins, como muito proprio para lhes
+fazer perder tanto as esperanças como os terrores apocalypticos.</p>
+
+<p>O socialismo não é nem a subversão violenta das instituições e dos costumes,
+nem a palingenesia messianica milagrosamente revelada, para acabar para sempre
+com os males humanos, por este ou aquelle inspirado propheta de tal ou qual
+cenaculo de crentes: e não é uma coisa, exactamente porque não é a outra. Não
+ha nisto paradoxo. Quero dizer que o socialismo não ameaça as instituições e os
+costumes, que constituem o organismo e a tradição da humanidade, precisamente
+porque não é uma invenção do pensamento individual um systema sem raizes
+historicas, exterior á realidade social, mas sáe, pelo contrario, da tradicção
+e da historia, é a propria historia e tradicção num periodo das suas
+transformações continuas, um parto da razão collectiva e um fructo natural do
+mesmo desenvolvimento da sociedade. É por isso<span class="pn">{31}</span> que
+a não ameaça, porque a sociedade não se destroe a si mesma: desenvolve-se e
+transforma-se; o socialismo não é mais do que a palavra que quadra ao grau de
+transformação e desenvolvimento do momento actual. O que foi no primeiro
+quartel deste seculo o liberalismo, o que tres ou quatro seculos antes havia
+sido a monarchia, e antes cinco ou seis as communas e o feudalismo, é o que
+será ámanhan (e já hoje começa a ser) o socialismo: um novo periodo e uma nova
+fórma no organismo das sociedades europeas. Tão inevitavel como aquelles, será
+como elles tão benefico e tão pouco subversivo, sendo, como elles foram, não um
+resultado fortuito de opiniões e interesses de individuos, mas um facto
+necessario da Providencia immanente na historia.</p>
+
+<p>Em que consista esse facto é o que o sr. Martins, fazendo-se interprete dos
+phenomenos sociaes, se propôz explicar, e é o que nós, em companhia delle,
+vamos examinar.</p>
+
+<p>Logo na primeira pagina do livro, formula o autor a sua idéa deste modo: a
+theoria do socialismo é a evolução.&mdash;Desculpe-me o meu amigo se lhe faço ainda
+questão duma palavra, mas o rigor nos termos não é indifferente. Duma maneira
+geral, a theoria do socialismo é certamente a evolução, mas a evolução dentro
+da historia e das coisas sociaes tem um nome mais particular e consagrado: o
+Progresso, que é a evolução na série da humanidade. A evolução abrange todas as
+séries do desenvolvimento no universo, cosmologico, geologico, organico, etc.,
+e por isso inclue a humanidade; mas dentro desta é particularmente o Progresso.
+Diriamos, pois, com mais rigor: a theoria<span class="pn">{32}</span> do
+socialismo é o Progresso. Quizera tambem que o autor, nessa sua primeira
+<em>these</em>, tivesse definido com mais clareza e explicado com mais extensão
+esta idéa. Mas não importa: o que não se define totalmente nas primeiras
+paginas, torna-se bem patente pelo livro adiante, e isso é o essencial. O que o
+autor não diz mostra-o no encadeamento dos factos sociaes e na successão das
+doutrinas através da historia, de sorte que o seu livro representa-nos em
+relevo essa grande lei do progresso nas suas phases verdadeiramente
+significativas.</p>
+
+<p>Ora, qual é o termo actual do Progresso? o socialismo, responde o sr.
+Martins, com a historia na mão. Mas que socialismo? o de Babeuf, o de
+Fourier, de Saint-Simon, desta escola, daquella seita, não: simplesmente o da
+humanidade. É nesta resposta que está a originalidade e a segura verdade do
+livro. O socialismo não sáe de uma escola ou de uma seita: sáe do mais fundo da
+consciencia humana, affeiçoada por tres mil annos de progresso. Não é uma
+experiencia; é um resultado.</p>
+
+<p>Resultado de que? Do triplo movimento moral, politico e economico das
+sociedades. Abraça o homem todo, e corresponde a uma nova concepção
+systhematica (uma <em>affirmação synthetica</em>, como dizem os positivistas)
+do Universo, da vida humana e das relações sociaes. Neste momento, a evolução
+das doutrinas philosophicas, moraes e juridicas, da sciencia economica, dos
+phenomenos politicos e dos phenomenos economicos, converge para um ponto
+central. A esse ponto chamamos nós Socialismo, não porque coincida (note-se
+bem<span class="pn">{33}</span> isto) com este ou aquelle systema dos que
+inventaram a palavra, mas simplesmente porque vem satisfazer a aspiração commum
+a todos elles, que os produziu e de que eram meros symptomas: de tal sorte que
+até com alguns desses systemas póde estar em completa opposição o Socialismo
+positivo, como está, por exemplo, com o Communismo.</p>
+
+<p>Desta tripla evolução moral, politica e economica resultam tres grandes
+conclusões. Da evolução no mundo moral resulta a autonomia absoluta da
+consciencia humana, independente das pretendidas revelações sobrenaturaes para
+descobrir a verdade e determinar a justiça; independente de qualquer
+auctoridade, além da sua propria, para conhecer e praticar a lei moral. Da
+evolução no mundo politico resulta a concepção da liberdade como o unico agente
+organisador e director da sociedade, com exclusão de qualquer principio
+anterior ou exterior ao direito individual, de qualquer auctoridade que não
+seja a da propria liberdade sobre si mesma. Da evolução no mundo economico
+resulta a affirmação do trabalho como a base unica justa do valor, tendo por
+consequencias, de um lado a egualdade dos trabalhadores perante o capital, mero
+instrumento do trabalho e a elle sobordinado e garantido pelo credito e a
+mutualidade, do outro lado a egualdade dos trabalhadores entre si, pela divisão
+do trabalho, que os torna solidarios e substitue á anarchia da concorrencia
+individual a organisação das forças collectivas da producção&mdash;e tendo como
+resultados, com a annullação dos privilegios capitalista e proprietario, a
+consagração da propriedade<span class="pn">{34}</span> e do capital
+individuaes, e a extincção da lucta das duas classes actuaes, pela conversão de
+ambas numa unica de trabalhadores eguaes e livres.</p>
+
+<p>São estas as tres grandes conclusões, que desentranhando-se de um lento
+progresso secular, começam a patentear-se no estado actual das doutrinas e dos
+phenomenos moraes, politicos e economicos das sociedades contemporaneas.</p>
+
+<p>As phases desse progresso, isto é, o caminho seguido pela intelligencia
+humana e pelos factos sociaes para chegarem a estas conclusões, é o que o sr.
+Martins historía com muita lucidez e sciencia no seu livro, boa metade do qual
+é consagrado a este trabalho de alta critica historica.</p>
+
+<p>Eu é que, nos limites estreitos deste esboço nem poderei sequer indicar, com
+alguns nomes, culminantes, os principaes marcos miliarios no caminho deste
+jornadear da humanidade em busca dos seus proprios destinos. Mas que magestosa
+<em>via crucis</em>!</p>
+
+<p>Desde a doutrina da Graça, com S. Paulo e S. Agostinho, atravez dos meandros
+da Escolastica, depois da inspirada philosophia da renascença e da philosophia
+mais scientifica do seculo XVII, chega o espirito humano a entrever com Vico e
+os encyclopedistas a doutrina emancipadora da immanencia, que no seculo XIX
+formulou de um modo cada vez mais positivo as escolas de Hegel, Feuerbach,
+Comte, Proudhon. Evolução paralela seguem as doutrinas politicas: desde o
+<em>omnis potestas a Deo</em> e a <em>Civitas Dei</em>, atravez da politica
+theocratica de S. Thomaz e da politica Cesarista de Dante, atravez do
+absolutismo<span class="pn">{35}</span> da monarchia civil de Savedra e Bodin e
+do despotismo naturalista de Machiavello e Hobbes, vae o principio tradicional
+da auctoridade recuando cada vez mais, com Grotius, Locke, Rousseau, Kant,
+depois com Fichte, Rittinghaussen, Proudon, diante do principio racional e
+humano da liberdade, até ser por elle absorvido, até só ficar de pé a
+consciencia juridica do homem, tendo em si mesma a sua propria e absoluta
+sancção. As doutrinas economicas, que só no seculo XVIII se desembaraçam das
+politicas, galgam de um salto a distancia que vae da auctoridade
+(proteccionismo) á liberdade, e pela bocca de Smith, Rossi, Bastiat, Stuart
+Mill, proclamam esta ultima, completa, universal.</p>
+
+<p>Ideas! theorias! sonhos! dirão alguns. Não! realidades, porque os factos vão
+seguindo, par e passo o desenvolvimento das doutrinas. A secularisação cada vez
+mais definida do estado e da sociedade; a transformação das monarchias de
+direito divino em monarchias temperadas, depois em democraticas, depois em
+republicas populares; os direitos individuaes inscriptos nas constituições; a
+egualdade civil; a liberdade da industria; o nivelamento constante das classes;
+a importancia crescente do povo trabalhador e das questões do trabalho; o
+privilegio capitalista que por toda a parte recúa, batido já nos seus ultimos
+intrincheiramentos; o capital que se faz povo, que se faz multidão, e vae já
+passando para as mãos do proletariado; um novo mundo economico que emerge com
+força do antigo cahos social:&mdash;são factos e não utopias, e esses factos trazem
+comsigo a sua lição, a sua doutrina.<span class="pn">{36}</span> Não sois vós,
+conservadores, que tendes por vós a tradição da humanidade, somos nós
+revolucionarios, que temos, com o futuro, o passado por nosso lado, o passado
+no que elle teve de melhor: a aspiração da liberdade, da igualdade, da justiça.
+</p>
+
+<p>Mas que immenso caminho andado! Eis-nos á porta de um mundo novo! novo e
+todavia feito todo com elementos, que os tempos vieram lentamente accumulando.
+Organisar esse mundo é a obra do socialismo. Não é de destruição, essa obra; é
+de edificação e de consolidação. Não ameaça um unico direito; define-os a todos
+e dá-lhes os seus justos logares. Numa palavra se encerra o socialismo:
+organisação espontanea. Livre organisação da industria, do trabalho, do
+credito, do capital, do estado; federação juridica e economica, tudo pela
+liberdade e tudo para a egualdade; ou como diz, com expressiva concisão, o sr.
+Oliveira Martins "uma unica lei, o trabalho, e uma unica norma, a justiça";
+eis ahi como á luz da philosophia da historia se deve comprehender o
+socialismo.</p>
+
+<p>Terei depois disto logrado fazer perceber ao leitor a essencial differença
+que existe entre a theoria historica e positiva do socialismo e o socialismo
+utupista das seitas? Ao mesmo tempo que sae da historia como uma natural
+evolução, perde elle para logo o caracter contradictorio, problematico e, para
+tudo dizer, assustador, com que a principio se apresentou no mundo. Alarga
+tambem o seu horisonte, deixa de abraçar sómente uma ordem parcial de
+phenomenos sociaes, para abranger todo o movimento<span class="pn">{37}</span>
+renovador da humanidade contemporanea, na philosophia, na sociedade, no estado
+e nas consciencias. Filho legitimo da historia, deixa tambem de a contradizer
+no que ella tem de essencial, a familia, a propriedade, a herança, bases da
+sociedade, duplamente consagradas pela razão e pela pratica e veneração das
+gerações. Não propõe uma construcção arbitraria e artificial da sociedade, mas
+pretende sómente ajudal-a no seu desenvolvimento organico, segundo uma theoria
+estudada nella mesma, nos seus antecedentes. É, numa palavra, verdadeiramente
+conservador o socialismo, por isso mesmo que é verdadeiramente progressista. E
+se eu tivesse algum direito de em nome delle dar um conselho aos homens e aos
+partidos que, por se julgarem conservadores, entendem ter obrigação de combater
+uma philosophia social, que não conhecem, ou diria a esses illudidos: Fazei-vos
+socialistas, se quereis realmente merecer o nome de conservadores, que por ora
+não tendes sufficientemente justificado: passae para este lado, que é onde
+estão os representantes da verdadeira tradição da humanidade, tradição não de
+entenebrecimento e oppressão, de odio e lucta systematica, mas de luz e
+liberdade, de paz e conciliação: ou, senão, examinae pelo menos antes de
+condemnar, informae-vos antes de amaldiçoar, aliás teremos de dizer que sois só
+conservadores da vossa propria ignorancia e obsecada paixão.</p>
+
+<p>Mas eu nao tenho direito de dar conselhos a quem não m'os pede nem me julga
+auctorisado a dal-os. Depois, talvez este meu candido appello,<span
+class="pn">{38}</span> para a conciliação e a tolerancia, seja ainda uma
+daquellas muitas utopias que só merecem um sorriso de desdenhosa compaixão dos
+homens <em>praticos</em> encanecidos no trato das coisas reaes do mundo...
+Talvez!</p>
+
+<p>Paciencia. Veremos o que o tempo <em>praticamente</em> responde a tudo isto.
+</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>Fevereiro-Março, 1873.<span class="pn">{39}</span></p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<h2><a name="SECTION0003000">Le Portugal contemporain&mdash;Oliveira
+Martins</a> </h2>
+
+<p>En dehors de la littérature proprement dite, le Portugal ne possède
+aujourd'hui qu'un seul écrivain réellement supérieur: c'est M. Oliveira
+Martins, l'auteur de la <em>Bibliotheca das Sciencias sociaes</em>. Définir son
+genre et le classer d'un mot me semble chose presque impossible, par la simple
+raison que ce mot n'existe pas encore: <em>socialiste</em> a un sens en même
+temps étroit et vague; <em>sociologiste</em> serait un barbarisme. Si, depuis
+les Grecs on a toujours écrit l'histoire, disserté sur la politique et plus ou
+moins observé l'économie et les m&oelig;urs des nations, ce n'est que depuis un
+demi-siècle à peine qu'on a été amené à étudier scientifiquement la Société, en
+la considérant comme un tout naturel et réel, dont les phénomènes sont
+susceptibles d'être ramenés à des relations générales et fixes, c'est-à-dire à
+des lois. De là la constitution d'un nouveau et dernier groupe de sciences, qui
+est venu s'ajouter à celles qui existaient déjà: le groupe des sciences
+morales.</p>
+
+<p>M. Oliveira Martins (<em>socialiste</em> ou <em>sociologiste</em>, comme on
+voudra) s'occupe donc de sciences sociales, et, quoique jeune encore, mérite,
+par la profondeur de ses recherches, l'originalité et l'ampleur<span
+class="pn">{40}</span> de ses vues et la fermeté de sa méthode, d'être rangé
+parmi les mâitres et promoteurs de ces études nouvelles. En outre, son estyle,
+par ses qualités de vigueur, de vie et d'élévation, quoique trop souvent
+incorrect et déparé parfois par le mauvais goût, fait de l'auteur de la
+<em>Bibliotheca das Sciencias</em> un écrivain de premier ordre.</p>
+
+<p>Les premiers ouvrages de M. Oliveira Martins (<em>Theoria do Socialismo</em>
+et <em>Portugal e o socialismo</em>), parus à Lisbonne vers 1873 et 1874,
+appelèrent sur les lèvres du petit nombre de personnes en état de les juger un
+<em>Tu Marcellus cris!</em> prophétique. Touffus d'idées hardies, mais encore
+mal définies, et auxquelles manquait une base solide de connaissances
+positives, obscurs et confus par le style, ces deux livres dénonçaient pourtant
+les maîtresses qualités qui font le penseur et l'écrivain d'ordre supérieur.
+</p>
+
+<p>En effet, le germe des doctrines exposées plus tard dans la
+<em>Bibliotheca</em> s'y trouvait déjà formulé dès la première page dans ces
+mots: "La théorie du socialisme c'est l'évolution.", Depuis, la pensée
+laborieuse de notre auteur n'a fait qu'approfondir et développer cette idée, en
+l'étayant de solides études économiques, politiques et historiques.</p>
+
+<p>Laissant là la manière sèche et étroite des économistes et leur méthode tout
+abstraite, M. Oliveira Martins conçoit la société comme un tout vivant, un être
+collectif qui, comme l'homme lui-même, est à la fois naturel et rationnel,
+sujet dans son développement à la double action des lois de la nature,
+auxquelles se rattache la sociabilité elle-même dans ses formes primordiales,
+et des principes juridiques et moraux qui sont le domaine<span
+class="pn">{41}</span> propre et exclusif de l'humanité. La lutte, l'équilibre,
+la pénétration et l'opposition de ces deux éléments constituent, aux yeux de
+nôtre auteur, l'être même de la société, dont le développement, changeant et
+variable comme celui de toute chose vivante, peut présenter des aspects très
+dissemblables et impropres: rien n'y est absolu, rien n'y est nécessaire,
+hormis les lois générales de la nature et l'essence rationnelle et morale de
+l'homme. La méthode des sciences sociales ne peut donc pas être abstraite: elle
+doit être, avant tout, historique.</p>
+
+<p>C'est à ce point de vue, et non pas seulement en naturaliste et économiste,
+mais encore en juriste et moraliste, que M. Oliveira Martins s'est placé pour
+étudier dans sa <em>Bibliotheca</em> l'ensemble des phénomènes,&mdash;travail,
+distribution, propriété, classes, gouvernement, juridiction, culte, etc.,&mdash;qui
+constituent le vaste domaine, encore imparfaitement jalonné, des sciences
+sociales. La <em>Bibliotheca</em> comprend déjà 12 volumes. En outre, M.
+Oliveira Martins a publié un Mémoire sur la <em>Circulation fiduciaire</em> et
+diverses brochures se rattachant toutes aux questions sociales. L'espace nous
+manque pour donner même une courte analyse de chacun des volumes déjà parus de
+la <em>Bibliotheca</em>, et il faut que je me borne à l'exposition sommaire que
+je viens de faire des idées culminantes et de la méthode de l'auteur. Mais je
+dois au moins appeller l'attention des personnes compétentes sur deux de ces
+volumes (<em>Quadro das instituições primitivas</em> et <em>O Regime das
+riquezas</em>), qui, par leur grande originalité de vues et de forme,
+mériteraient bien d'être traduits en français ou en allemand.<span
+class="pn">{42}</span></p>
+
+<p>La fécondité de la méthode historique de l'auteur y devient évidente. A
+l'encontre des économistes orthodoxes, qui dessèchent la réalité humaine dans
+leurs formules et prétendent réduire la vie de la société à une espèce
+d'algèbre inflexible, M. Oliveira Martins, plongeant en pleine réalité, nous
+montre l'origine variable et les formes multiples des institutions sociales
+assujeties dans leur développement non à des lois purement naturelles, comme le
+prétendent les économistes, mais avant tout à des raisons intimes et
+<em>humaines</em>. Jamais les fatalités naturelles n'y étouffent complètement
+l'être moral de l'humanité, et, même dans ses formes premières et plus rudes,
+la société apparaît comme le domaine de la liberté. La concurrence y joue un
+grand rôle, sans doute, mais contrecarré ou endigué par des forces juridiques
+et morales. La pure mécanique sociale, telle que la rêvent les économistes, n'y
+triomphe jamais non plus que cet individualisme abstrait qui serait plutôt
+l'idéal de la sauvagerie que celui de la civilisation. Celle-ci, loin de
+marcher de plus en plus dans le sens des fameuses "lois naturelles", tend au
+contraire à s'en affranchir, et la société, dont l'idéal est la justice et non
+la nécessité, va graduellement se rapprochant de ce type de raison et de
+liberté qui est l'être même de l'homme.</p>
+
+<p>On voit, par ce rapide aperçu, que M. Oliveira Martins se rattache à l'école
+appelé en Allemagne des <em>Katheder-Socialisten</em>: il doit beaucoup aussi à
+ce puissant penseur, si mal compris encore aujourd'hui, P.-J. Proudhon. Mais,
+socialiste doublé d'un historien, il projette sur toutes ces questions une
+lumière qui les fait voir sous des aspects nouveaux<span class="pn">{43}</span>
+en dehors du terrain forcément étroit des écoles et des discussions, et dans
+les larges perspectives de la réalité. Là est, à mon avis, sa principale
+originalité.</p>
+
+<p>Je voudrais être bref; mais je dois pourtant dire encore quelque chose des
+deux ouvrages (<em>Historia de Portugal</em> et <em>Portugal
+contemporaneo</em>), qui M. Oliveira Martins a consacrés à l'histoire de notre
+pays, et qui se rattachent à la <em>Bibliotheca</em>, plutôt qu'ils n'en font
+partie. A première vue, ces livres semblent ne devoir interesser que les seuls
+Portugais; on verra qu'ils ont une portée bien plus générale.</p>
+
+<p>Le Portugal contemporain est une énigme que personne en Europe ne comprend
+et dont, même chez nous, bien peu de gens savent le mot. On cite généralement
+le Portugal comme un modèle des petits pays libres et sages: pas de révolutions
+ni de luttes de classes; la paix, le fonctionnement régulier du régime
+parlamentaire; on l'oppose souvent à l'Espagne, périodiquement convulsionée. Et
+pourtant ce pays modèle est&mdash;la Turquie exceptée&mdash;le plus mal administré qui
+soit en Europe. Après 50 ans de paix, sa dette publique est une des plus
+écrasantes et elle s'accroît tous les jours, car le budget portugais se solde
+régulièrement en déficit. L'esprit publique est nul en dépit d'une multitude de
+journaux ordinairement éphémères et tous plus insignifiants les uns que les
+autres, et la politique est devenue l'apanage, de haut en bas et de droite à
+gauche, d'une classe de gens à peu près ignares et tenus généralement en estime
+médiocre. Quant à l'armée, le moins qu'on en puisse dire est qu'elle est aussi
+fantastique<span class="pn">{44}</span> que coûteuse, tandis que l'instruction
+populaire est lamentable et que l'enseignement supérieur (a l'excepction de
+deux ou trois écoles spéciales) est souverainemente pedantesque ou vide<a
+name="tex2html1" href="#foot276"><sup>[1]</sup></a>. Le seul sentiment national
+un peu perceptible est une espèce de haine sourde et instinctive contre
+l'Espagne, qu'on ne connaît pas, et, dans les classes cultivées, l'admiration
+béate de tout ce qui est français, qu'on suige à tort et à travers, dans les
+lois, les m&oelig;urs, la litterature et la langue même, qui va s'adultérant de
+plus en plus.</p>
+
+<p>Voilà, on en conviendra, pour une nation réputée "le modèle des petits pays
+sages et libres", des aspects singulièrement imprévus!</p>
+
+<p>La raison de ce remarquable phénomène de pathologie sociale est que Portugal
+est la seule nation en Europe <em>qui soit réellement vieille et caduque</em>.
+On peut lui appliquer les constitutions, les lois, les règlements et les
+phrases qu'on voudra; rien n'y fait, car il n'y a pas de stimulants pour la
+décrepitude. Elle acceptera les libertés comme les coups, les constitutions
+comme les épidemies, avec le calme indifférent de l'insensibilité et de
+l'inconscience. De là sa paix profonde et son étonnante sagesse; de là aussi un
+irrémédiable affaissement. Les contradictions sans nombre qui présente<span
+class="pn">{45}</span> notre état social, politique et intellectuel, et qui
+déroutent l'observateur (pas un voyageur en Portugal n'a compris ce pays),
+n'ont pas d'autre raison. Les mots ne répondent plus aux choses, et les
+meilleurs lois ne sont que de petits chiffons de papier emportés de France.
+C'est un système de mensonge naïf et inconscient. La réalité, c'est cet
+affaissement irrémédiable d'un organisme national arrivé à l'extrême limite de
+ses forces vitales.</p>
+
+<p>L'étiologie historique de ce cas remarquable a été faite, pour la première
+fois, et supérieurement, par M. Oliveira Martins, dans son <em>Historia de
+Portugal</em>, tandis que son <em>Portugal Contemporaneo</em> fait toucher du
+doigt les contradictions incurables de la situation actuelle, issue, non de la
+raison consciente e d'un effort viril de toute la nation, mais des illusions
+plus au moins généreuses d'un petit nombre de révolutionnaires et de l'atonie
+des masses, sur lesquelles on faisait cette expérience doctrinaire: <em>in
+anima vili</em>. On y apprend à connaître le <em>quid</em> spécial de la
+Révolution portugaise de 1834, la fatalité qui y menait et qui changeant tout à
+coup d'aspect, allait présider aux convulsions d'abord, puis aux mécomptes, aux
+désillusions, aux compromis lâches, et finalement au marasme actuel. Le
+<em>Portugal Contemporaneo</em> est l'histoire cruelle de cet avortement.
+L'auteur y fait, pièces en main et pas a pas, le procès de ce libéralisme
+bourgeois, en même temps abstrait et utilitaire qui, après 50 ans de domination
+incontestée, aboutit à une situation inextricable et de la débâcle imminente.
+Comme description détaillée d'un cas de pathologie sociale, ce livre, qui, sous
+d'autres rapports, n'interesse que les Portugais,<span class="pn">{46}</span>
+peut offrir un intérêt spécial à toux ceux qui s'occupent, en hommes de science
+et en philosophes, des choses de la société.</p>
+
+<p>Les causes premières de cette maladie profonde à laquelle succombe
+actuellement la nation portugaise ont été mises en lumière par M. Oliveira
+Martins, dans son <em>Historia de Portugal</em>.</p>
+
+<p>Em 1580, après la catastrophe d'Alcacer-Kibir, le Portugal était réellement
+mort. L'&oelig;uvre féconde et glorieuse de sa vie historique était accomplie;
+mais l'ouvrier héroïque gisait exténué. L'application en grand, pendant trois
+quarts de siècle, d'un faux système d'exploitation coloniale avait ruiné le
+pays et troublé profondement sa constitution sociale: le jésuitisme, d'un autre
+côté, avait épaissi ou perverti son intelligence, brisé son ressort moral,
+faussé son libre génie, et, en étouffant tous les germes de l'esprit moderne
+que la Renaissance avait si abondamment semés, paralysé tout développement
+ulterieur et tué l'avenir. Philippe II, en réunissant le Portugal à la couronne
+d'Espagne, n'a donc fait que cueillir un fruit mûr. L'histoire du Portugal
+aurait dû finir à cette époque-là. La restauration nationale de 1640 a été un
+fait en grande partie artificiel, possible seulement par l'abbatement de
+l'Espagne, qui avait perdu sa force d'attraction.</p>
+
+<p>Le nouveau Portugal, qui commence à cette date-là, n'a rien de l'autre, rien
+de sa force noble, de son hardi génie. Ce n'est qu'un triste bâtard, un être
+malingre et malvenu, le produit artificiel de la diplomatie, que son grand ami,
+l'Anglais hérétique, protège, rudoye, amuse et exploite. De sa seule force, il
+ne tiendrait pas debout: il est<span class="pn">{47}</span> donc juste qu'il
+paye celui qui le soutient. Il le payera des restes de son noble héritage, de
+ses colonies, qui s'en iront l'une après l'autre grossir l'empire de la
+nouvelle reine des mers; il le payera encore en traités de commerce, qui le
+ruineront au profit de son loyal protecteur. Cela s'appella la glorieuse
+restauration portugaise de 1640&mdash;&oelig;uvre néfaste entre toutes, qui démembra
+l'Espagne et compromit pour des siècles, peut-être pour toujours, l'avenir de
+la peninsule ibérique.</p>
+
+<p>Mais, à côté de l'Anglais hérétique, le jésuite aussi avait travaillé à
+cette &oelig;uvre glorieuse: il reçut sa paye. On lui abandonna complètement
+l'éducation, l'âme de la nation. Le Portugal a été, pendant deux siècles, plus
+encore que le Paraguay, le véritable paradis des jésuites. Leur produit
+spécial, leur &oelig;uvre de prédilection, le cagot, y arriva à la plus
+merveilleuse perfection. Le cagotisme a été véritablement le trait, le signe
+particulier du nouveau Portugal: c'est par là qu'il acquit une physionomie.
+Comme état de psychologie collective, il survécut à la destruction des
+jésuites, il a traversé les révolutions: il s'est accommodé du libéralisme, et,
+chose surprenante, de l'incrédulité elle-même! Il dure toujours, et la
+situation trouble, maladive, énigmatique d'aujourd'hui est avant tout son
+&oelig;uvre.</p>
+
+<p>Voilà, aussi brièvement que possible, la vérité sur le Portugal moderne.
+Cette vérité n'était pas inconnue avant les livres de M. Oliveira Martins: on
+la pressentait plus au moins, en tâtonnant à travers le brouillard d'illusions
+séculaires et officielles: quelques-uns même avaient osé la formuler. Mais,
+seuls, les livres de M. Oliveira Martins<span class="pn">{48}</span> l'on
+déduite historiquement, c'est-à-dire, en présentant nettement les faits et en
+les ramenant à leurs causes. Dans ces livres si vivants, si incisifs, la forme
+est narrative et pittoresque, le fond est philosophique. C'est de la très ferme
+étiologie historique. En suivant l'histoire à travers la variété animée des
+scènes et des personnages, le lecteur s'aperçoit tout-à-coup qu'on lui a fait
+une démonstration en règle. Ce n'est pas là une des moindres originalités de la
+manière de M. Oliveira Martins.</p>
+
+<p>Du reste, pour nous autres, tout est original dans ces livres, l'idée comme
+la forme, le point de vue critique comme la manière réaliste. Le Portugal,
+depuis sa Révolution, n'avait encore eu qu'un seul homme supérieurement doué et
+fortement préparé pour le travail de l'histoire: A. Herculano. Mais, outre que
+Herculano ne s'est jamais occupé que de l'histoire anterieure à 1580 (qu'on
+peut considerer comme l'histoire d'une autre nation) il était trop dogmatique
+dans ses vues et trop raide et guindé dans son estyle, pour qu'on puisse
+trouver dans ses livres la vie et la philosophie, c'est-à-dire l'âme et la
+forme de l'histoire. Son &oelig;uvre puissant d'effort et de savoir, souvent
+éloquente, a suivi toutefois une direction trop particulière.</p>
+
+<p>Pour les autres qui se sont occupés de l'histoire moderne du Portugal,
+Rebello da Silva, en dépit de son admirable talent litteraire, n'a été qu'un
+médiocre rhéteur: Pinheiro Chagas n'est qu'un compilateur dénué de toute
+critique et même de toute idée. Ceux qui ont osé affronter les livres de M.
+Theophilo Braga ont eu quelquefois la consolation d'y rencontrer l'ombre d'une
+idée neuve et juste et quelques aperçus hardis ou ingénieux,<span
+class="pn">{49}</span> trop vite noyés dans le fatras babylonien d'une
+érudition en délire. Les ouvrages historiques de M. Oliveira Martins restent
+donc originaux au premier chef et sans précédents dans nôtre litterature. Dans
+les litteratures étrangères, ils se rattachent surtout à Michelet et
+Carlyle&mdash;avec moins d'imagination et d'intention poétique, mais avec plus de
+fermeté et de largeur dans les vues.</p>
+
+<p>Vous allez croire maintenant que l'homme audacieux qui a osé dire à son pays
+les vérités les plus cruelles et les plus humiliantes pour sa vanité, doit être
+chez nous une espèce de paria, un lépreux tenu à distance par le monde
+officiel, quelque chose comme Proudhon l'a été en France sa vie durant?</p>
+
+<p>Rassurez-vous. M. Oliveira Martins est membre de l'Académie Royale de
+Lisbonne et de l'Institut universitaire de Coimbra.</p>
+
+<p>Il a vu un de ses livres, et non pas des moins sévères (<em>A circulação
+fiduciaria</em>), couronné par cette même Académie Royale. Le monde officiel le
+fête, le choye, l'aime de tout son c&oelig;ur. Les ministres sont très heureux
+quand il veut bien se charger de quelque travail qui demande beaucoup de savoir
+et beaucoup de désinteressement. Je ne sache pas non plus que ces terribles
+livres aient eu de contradicteurs. En un mot, il ne tiendrait qu'a lui d'être
+l'homme du jour dans le pays qu'il a si malmené.</p>
+
+<p>Etonnant, n'est-ce pas?&mdash;Pour qui sait comprendre, ce simple fait en dit
+plus long que de gros volumes!</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>1884.<span class="pn">{50}</span></p>
+
+
+<div class="rodape">
+<p><a name="foot276" href="#tex2html1"><sup>[1]</sup></a> Un seul fait suffira.
+A l'Ecole des hautes études litteraires (<em>curso superior de lettras</em>) de
+Lisbonne, la chaire de litterature ancienne est occupé par un monsieur qui ne
+ne sait pas un mot de grec&mdash;et, chose plus curieuse encore, parmi les membres
+du jury de concours qui l'a reçu (composé de professeurs du dit <em>Curso
+superior</em> et de membres délégués de l'Académie royale de Lisbonne), <em>pas
+un seul non plus ne connaissait le grec</em>!</p>
+</div>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<h2><a name="SECTION0004000">Oliveira Martins e o partido
+progressista</a> </h2>
+
+<hr style="width: 20%">
+
+<p style="text-align: center;"><small>CARTA A</small> S<small>EBASTIÃO
+D'</small>A<small>RRUDA DA</small> C<small>OSTA</small> B<small>OTELHO</small>
+</p>
+
+<p>Villa do Conde, 1 de agosto de 1885</p>
+
+<p style="text-align: right;"><em>Meu Sebastião</em></p>
+
+<hr style="border: 0; border-bottom: dotted 2px #000;">
+
+<p>Mando-te esses numeros da <em>Provincia</em> para veres o caracter
+imponente, que teve a manifestação do Porto e o tom a que o O. Martins tem
+sabido levantar o Progressismo, que tão desafinado andava. Verás tambem que
+elle não renegou, nem se desdiz. A bandeira que desfralda é a do Socialismo,
+como até aqui. Convencido como está, e estão todos os que sabem observar os
+factos, da incapacidade actual, (e que o será ainda por muito tempo), do
+partido republicano para fundar seja o que fôr e vendo ao mesmo tempo a
+imminencia de uma crise pavorosa, o O. Martins fez acto verdadeiro de
+patriotismo, procurando aquelles elementos, que bem dirigidos e transformados,
+poderão por ventura fornecer ainda um ponto de apoio no meio do naufragio. Um
+homem como O. Martins, não dá um passo destes, nem toma posição de tamanha
+responsabilidade, sem<span class="pn">{51}</span> ter visto bem as cousas e
+estudado o melhor caminho. Tem sido approvado por muita da melhor gente. O O.
+Martins é o unico homem politico superior que temos, pois reune a um elevado
+caracter um saber vasto e não só theorico mas technico e um poder de trabalho
+incomparavel. Quando um tal homem dá um passo, como elle deu, o dever da gente
+seria, ainda quando o não approve, é não o estorvar na sua tentativa,
+reconhecendo a pureza das suas intenções. Os republicanos, porém, cobriram-n'o
+de insultos e imputações as mais baixas&mdash;e no dia seguinte o que fizeram? foram
+alliar-se com os regeneradores, para combater o movimento por elle iniciado,
+movimento que pode falhar, mas que é sem duvida sério e exprime o sentir
+nacional, pelo menos neste ponto de querer acabar com essa alliança da
+burocracia com a finança, que é a fatalidade do partido regenerador, origem da
+corrupção politica e de um systematico desgoverno. Destruir essa oligarchia
+burocratico-financeira, que nos domina e desmoralisa, ha tantos annos, e
+impedir por meio de leis convenientes que ella possa de futuro tornar a
+formar-se, parece-me coisa muito mais importante do que uma simples alteração
+no caracter do poder executivo, cousa que deve ficar para depois, pois só as
+reformas economicas e financeiras tornarão aquella outra puramente politica,
+não só possivel, mas fecunda e duradoura. Isto tanto mais, quanto está
+imminente a bancarrota e uma tremenda crise social; a proclamação da Republica,
+não só não remediaria esses grandes males, (pois que influencia póde ter uma
+reforma só politica nos elementos financeiros<span class="pn">{52}</span> e
+economicos?) mas traria mais uma complicação e elemento de desordem, como ainda
+em 1873 se viu em Hespanha. Convém, pelo contrario, addiar essa questão, visto
+que não é urgente, e não complicar com ella a outra, urgentissima. É de boa
+politica, como é de boa logica, dividir as questões para as resolver, e começar
+por aquellas, que resolvidas, podem facilitar a resolução das outras. Impedir
+que tudo venha a baixo parece ser a cousa mais urgente. Depois reformar a
+constituição economica, de modo a impedir que um tal estado de cousas possa vir
+a repetir-se. E só depois organisar a constituição politica, tanto no que toca
+ao legislativo, como ao executivo, de modo a dar estabilidade e duração aos
+progressos realisados. Pódes crêr que estas são hoje, como sempre foram, as
+aspirações do O. Martins, que continúa sendo tão bom socialista e republicano
+como era dantes. Eu, por mim, approvo-o inteiramente na marcha que vae
+seguindo, e desejava que toda a gente séria lhe désse o apoio indispensavel,
+ainda aos maiores politicos, para fazerem qualquer cousa. Se todos começarem a
+hostilisal-o, é claro que nada poderá fazer. Virá a terra, e com elle a ultima
+esperança deste pobre Portugal. Então teremos o diluvio.</p>
+
+<p>Adeus, meu Sebastião. Do teu de c.</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="text-align: right;"><em>A. de Q.</em></p>
+
+<p><span class="pn">{53}</span></p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<h2>INDICE</h2>
+
+<div style="font-size: small;">
+
+<p><a href="#SECTION0001000">Os Lusiadas, ensaio sobre Camões e a sua obra, em relação á sociedade
+portugueza e ao movimento da Renascença, por J. P. de Oliveira Martins. Porto,
+1872 (Folhetim do <em>Primeiro de Janeiro</em>) ... 5</a></p>
+
+<p><a href="#SECTION0002000">Theoria do socialismo, evolução politica e economica das Sociedades da
+Europa, por J. P. de Oliveira Martins. Lisboa, 1872 (Artigos do <em>Diario
+Popular</em>) ... 18</a></p>
+
+<p><a href="#SECTION0003000">Le Portugal contemporain&mdash;Oliveira Martins (Estudo publicado na <em>Revue
+Universelle et Internationale</em>). Paris, 1884 ... 39</a></p>
+
+<p><a href="#SECTION0004000">Oliveira Martins e o partido progressista, carta a Sebastião de Arruda da
+Costa Botelho, testamenteiro do grande poeta-philosopho ... 50</a></p>
+
+</div>
+
+<p><span class="pn">{54}</span></p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<h2>NOTA</h2>
+
+<p>O presente opusculo constitue a mais respeitosa homenagem dos testamenteiros
+de Anthero de Quental á memoria do glorioso escriptor Oliveira Martins.</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="text-align: center;">PREÇO 300 réis</p>
+</div>
+
+
+
+
+
+
+
+<pre>
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of Oliveira Martins, by Anthero de Quental
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OLIVEIRA MARTINS ***
+
+***** This file should be named 31654-h.htm or 31654-h.zip *****
+This and all associated files of various formats will be found in:
+ https://www.gutenberg.org/3/1/6/5/31654/
+
+Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
+of public domain material from Google Book Search)
+
+
+Updated editions will replace the previous one--the old editions
+will be renamed.
+
+Creating the works from public domain print editions means that no
+one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
+(and you!) can copy and distribute it in the United States without
+permission and without paying copyright royalties. Special rules,
+set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
+copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
+protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project
+Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
+charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you
+do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
+rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose
+such as creation of derivative works, reports, performances and
+research. They may be modified and printed and given away--you may do
+practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is
+subject to the trademark license, especially commercial
+redistribution.
+
+
+
+*** START: FULL LICENSE ***
+
+THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
+PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK
+
+To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
+distribution of electronic works, by using or distributing this work
+(or any other work associated in any way with the phrase "Project
+Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
+Gutenberg-tm License (available with this file or online at
+https://gutenberg.org/license).
+
+
+Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
+electronic works
+
+1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
+electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
+and accept all the terms of this license and intellectual property
+(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all
+the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
+all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
+If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
+Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
+terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
+entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.
+
+1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be
+used on or associated in any way with an electronic work by people who
+agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few
+things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
+even without complying with the full terms of this agreement. See
+paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
+and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
+individual work is in the public domain in the United States and you are
+located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
+copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
+works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
+are removed. Of course, we hope that you will support the Project
+Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
+freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
+this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
+the work. You can easily comply with the terms of this agreement by
+keeping this work in the same format with its attached full Project
+Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.
+
+1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern
+what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in
+a constant state of change. If you are outside the United States, check
+the laws of your country in addition to the terms of this agreement
+before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
+creating derivative works based on this work or any other Project
+Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning
+the copyright status of any work in any country outside the United
+States.
+
+1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:
+
+1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate
+access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
+whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
+phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
+Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
+copied or distributed:
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
+from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
+posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
+and distributed to anyone in the United States without paying any fees
+or charges. If you are redistributing or providing access to a work
+with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
+work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
+through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
+Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
+1.E.9.
+
+1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
+with the permission of the copyright holder, your use and distribution
+must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
+terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked
+to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
+permission of the copyright holder found at the beginning of this work.
+
+1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
+License terms from this work, or any files containing a part of this
+work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.
+
+1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
+electronic work, or any part of this electronic work, without
+prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
+active links or immediate access to the full terms of the Project
+Gutenberg-tm License.
+
+1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,
+compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
+word processing or hypertext form. However, if you provide access to or
+distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
+"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
+posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
+you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
+copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
+request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
+form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
+License as specified in paragraph 1.E.1.
+
+1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
+performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
+unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.
+
+1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing
+access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
+that
+
+- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
+ the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
+ you already use to calculate your applicable taxes. The fee is
+ owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
+ has agreed to donate royalties under this paragraph to the
+ Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments
+ must be paid within 60 days following each date on which you
+ prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
+ returns. Royalty payments should be clearly marked as such and
+ sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
+ address specified in Section 4, "Information about donations to
+ the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."
+
+- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
+ you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
+ does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
+ License. You must require such a user to return or
+ destroy all copies of the works possessed in a physical medium
+ and discontinue all use of and all access to other copies of
+ Project Gutenberg-tm works.
+
+- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
+ money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
+ electronic work is discovered and reported to you within 90 days
+ of receipt of the work.
+
+- You comply with all other terms of this agreement for free
+ distribution of Project Gutenberg-tm works.
+
+1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
+electronic work or group of works on different terms than are set
+forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
+both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
+Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the
+Foundation as set forth in Section 3 below.
+
+1.F.
+
+1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
+effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
+public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
+collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
+works, and the medium on which they may be stored, may contain
+"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
+corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
+property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
+computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
+your equipment.
+
+1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
+of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
+Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
+Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
+liability to you for damages, costs and expenses, including legal
+fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
+LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
+PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
+TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
+LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
+INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
+DAMAGE.
+
+1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
+defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
+receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
+written explanation to the person you received the work from. If you
+received the work on a physical medium, you must return the medium with
+your written explanation. The person or entity that provided you with
+the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
+refund. If you received the work electronically, the person or entity
+providing it to you may choose to give you a second opportunity to
+receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy
+is also defective, you may demand a refund in writing without further
+opportunities to fix the problem.
+
+1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth
+in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
+WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
+WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.
+
+1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied
+warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
+If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
+law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
+interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
+the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any
+provision of this agreement shall not void the remaining provisions.
+
+1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
+trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
+providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
+with this agreement, and any volunteers associated with the production,
+promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
+harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
+that arise directly or indirectly from any of the following which you do
+or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
+work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
+Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.
+
+
+Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
+electronic works in formats readable by the widest variety of computers
+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
+because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
+809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at https://pglaf.org
+
+For additional contact information:
+ Dr. Gregory B. Newby
+ Chief Executive and Director
+ gbnewby@pglaf.org
+
+
+Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation
+
+Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
+spread public support and donations to carry out its mission of
+increasing the number of public domain and licensed works that can be
+freely distributed in machine readable form accessible by the widest
+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
+
+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
+with these requirements. We do not solicit donations in locations
+where we have not received written confirmation of compliance. To
+SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
+particular state visit https://pglaf.org
+
+While we cannot and do not solicit contributions from states where we
+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
+against accepting unsolicited donations from donors in such states who
+approach us with offers to donate.
+
+International donations are gratefully accepted, but we cannot make
+any statements concerning tax treatment of donations received from
+outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
+
+Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
+methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
+ways including including checks, online payments and credit card
+donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate
+
+
+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
+
+Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
+
+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
+keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
+
+
+Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
+
+ https://www.gutenberg.org
+
+This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
+subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
+
+
+</pre>
+
+</body>
+</html>
diff --git a/LICENSE.txt b/LICENSE.txt
new file mode 100644
index 0000000..6312041
--- /dev/null
+++ b/LICENSE.txt
@@ -0,0 +1,11 @@
+This eBook, including all associated images, markup, improvements,
+metadata, and any other content or labor, has been confirmed to be
+in the PUBLIC DOMAIN IN THE UNITED STATES.
+
+Procedures for determining public domain status are described in
+the "Copyright How-To" at https://www.gutenberg.org.
+
+No investigation has been made concerning possible copyrights in
+jurisdictions other than the United States. Anyone seeking to utilize
+this eBook outside of the United States should confirm copyright
+status under the laws that apply to them.
diff --git a/README.md b/README.md
new file mode 100644
index 0000000..79f7bf8
--- /dev/null
+++ b/README.md
@@ -0,0 +1,2 @@
+Project Gutenberg (https://www.gutenberg.org) public repository for
+eBook #31654 (https://www.gutenberg.org/ebooks/31654)