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| author | Roger Frank <rfrank@pglaf.org> | 2025-10-14 19:56:10 -0700 |
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You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: Oliveira Martins + +Author: Anthero de Quental + +Release Date: March 15, 2010 [EBook #31654] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OLIVEIRA MARTINS *** + + + + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + + + + + + ANTHERO DE QUENTAL + + OLIVEIRA MARTINS + +O critico litterario--O economista--O historiador--O publicista--O politico + + + LISBOA + TYPOGRAPHIA DA COMPANHIA NACIONAL EDITORA + _50, Largo do Conde Barão, 50_ + 1894 + + + +OLIVEIRA MARTINS + + + +ANTHERO DE QUENTAL + +OLIVEIRA MARTINS + +O critico litterario--O economista--O historiador--O publicista--O politico + + +LISBOA +TYPOGRAPHIA DA COMPANHIA NACIONAL EDITORA +_50, Largo do Conde Barão, 50_ +1894 + + + + +Os Luziadas, ensaio sobre Camões a sua obra, em relação á sociedade +portugueza e ao movimento da Renascença, por J. P. de Oliveira +Martins. Porto, 1872. + + +Se a escóla ethnologica está representada, entre os escriptores novos, +pelo sr. Theophilo Braga, a escóla social e historica--a unica, talvez, +a que propriamente se devêra dar o nome de philosophica--acaba de achar +igualmente entre nós um digno representante num escriptor moço e do +maior futuro, o sr. Oliveira Martins, que num livro recente estudou, a +proposito de Camões (e para nos explicar Camões), a litteratura +portugueza do seculo XVI, no ponto de vista largo e comprehensivo, ao +mesmo tempo politico e psychologico, que caracterisa esta ultima escóla. + +Neste ponto de vista, a litteratura de um povo, considerada como um todo +symetrico, uma obra gigantesca e collectiva, apresenta-se como a +expressão do seu espirito nacional, determinado não por tal ou tal +elemento primitivo e, por assim dizer, physiologico, mas pelos +elementos complexos, uns fataes outros livres, uns criados outros +herdados, cuja synthese constitue a _idéa_ da sua nacionalidade--raça, +instituições, religião, tradição historica e vocação politica e +economica no meio dos outros povos. A idéa nacional, na sua evolução, +determina gradualmente o que se póde chamar o temperamento da nação; e, +se esta surda fermentação se manifesta em tudo, nos seus actos e nos +seus pensamentos, revela-se sobretudo na sua imaginação, isto é, no seu +ideal, cuja expressão mais livre é a arte e a litteratura. Nesta +invisivel circulação da seiva interior ha periodos, periodos de +revolução, de progresso, de retrocesso, de incubação ou de plenitude de +forças: a estes correspondem invariavelmente os periodos artisticos e +litterarios, com suas variações de intensidade, lenta formação de +escólas, morbidos estacionamentos, subitas e inflammadas florescencias. +E, como nesta vegetação collectiva, cada ramo, cada folha, cada fructo, +se alimenta com a seiva commum e tem uma vitalidade proporcional á força +que trabalha o grande tronco, o espirito individual acompanha o espirito +nacional nas suas evoluções, gradua pela delle a sua intensidade: a sua +liberdade interior tem por limites, realisando-se, as condições do meio +em que se desenvolve, e o genio do artista, do poeta, ainda quando +protesta e se revolta, é sempre _adequado_ ao genio do seu povo e da sua +época. É por aqui que a historia litteraria se liga á philosophia da +historia, ou antes, que faz parte della. As grandes épocas litterarias +coincidem com as épocas de plenitude do sentimento nacional, aquellas +em que esse sentimento, tomando consciencia de si, se revela em obras +harmonicas e complexas, que são como que o fructo definitivo da lenta +elaboração das instituições, dos costumes, dos pensamentos. Reaes e +juntamente ideaes, essas obras supremas dizem-nos ao mesmo tempo o que +um povo _foi_ e o que _quiz ser_, descobrem-nos a sua _aspiração_ intima +e marcam os _limites_ dentro dos quaes lhe foi dado realisal-a. São o +commentario moral das revoluções politicas e sociaes, e como que os +annaes da consciencia nacional: e, para a philosophia, é na consciencia +que a historia encontra a sua explicação definitiva e a sua final +justificação. + +O que diz Camões a quem, depois de o ter lido com olhos de homem de +gosto, o relê com olhos de philosopho? Camões, responde o snr. Oliveira +Martins, diz-nos o _segredo_ da nacionalidade portugueza. Houve, com +effeito, uma nacionalidade portugueza--por mais estranha que esta +affirmação nos pareça, a nós portuguezes do seculo XIX, que não atinamos +a encontrar no presente uma _causa vivendi_: houve uma razão de ser +tanto para as instituições como para os individuos, e uma idéa nacional, +espalhada como a alma collectiva por todo este corpo, então vivo e agil. +E não só houve uma nacionalidade portugueza, mas essa nacionalidade, +superior aos impulsos cegos da raça e á fatalidade da geographia, +produziu-se como uma obra do esforço e da vontade, não resultado de +obscuros instinctos primitivos, como um facto politico e moral, não como +um facto ethnologico. Quando em Hespanha não havia ainda senão catalães, +castelhanos, leonezes e navarros; em França provençaes, gascões, +borguinhões, bretões; em Allemanha suabos, austriacos, saxões, +hanoverianos; em Italia tantos pequenos estados rivaes quantas cidades, +e não se fazia bem idéa do que fosse ser hespanhol, francez, allemão, +italiano, porque estas palavras França, Hespanha, Allemanha, Italia +designavam apenas vagas agrupações naturaes e não grupos organisados--em +Portugal havia só portuguezes, e ser portuguez tinha uma significação +definida e precisa. Este é o grande facto, diz o sr. Oliveira Martins, +que faz delle o seu ponto de partida: daqui, a cohesão politica da +nação; daqui a sua physionomia moral. Essa cohesão é a unidade; essa +physionomia é o patriotismo. O patriotismo, pondera acertadamente o sr. +Oliveira Martins, é cousa muito distincta do amor da terra: e o +patriotismo, como os portuguezes dos seculos XV e XVI o conceberam, foi +um phenomeno moral quasi unico na Europa de então, e que os tornou muito +mais parecidos com os romanos antigos do que com os povos seus +contemporaneos. O patriotismo é uma idéa abstracta, que excede a +capacidade toda sentimental da raça; o instincto naturalista da raça dá +o amor da terra; não vai mais além: só a idéa nacional póde dar o +patriotismo, comprehendido á romana e á portugueza. O Cid batalha mais +de uma vez contra os castelhanos, ao lado dos arabes; o condestavel de +Bourbon vira a sua espada aventureira contra a França que o viu nascer; +nem por isso deixa o Cid de ser um typo de bravura idealisado pelos +hespanhoes, e o condestavel de Bourbon um leal cavalleiro para todos os +cavalleiros de França; mas os Pereiras, combatendo ao lado dos +castelhanos em Aljubarrota, são malditos, _arrenegados_; e, mais tarde o +Magalhães será _portuguez no feito, porém não na lealdade_: apostataram +da idéa nacional. Eis a grande differença. Esta noção do patriotismo +cria uma ordem de sentimentos particulares dos individuos para com a +nação, um modo de ser moral peculiar. É o dever patriotico, como o +comprehenderam, em Roma, Fabricio, Regulo, Catão, em Portugal Castro, +Albuquerque--o dever patriotico, cuja expressão suprema é o heroismo. +Leia-se a historia da Europa até ao seculo XVI: abundam os _bravos_, mas +difficilmente se encontrarão os _heroes_, segundo o typo magnanimo que a +antiguidade realisou, e que de novo e no seu ponto de vista realisou +Portugal durante os seculos XV e XVI. No _peito illustre lusitano_ havia +então alguma cousa de grande e transcendente, que impellia a nação para +um destino extraordinario e suscitava no meio della os heroes, que +deviam servir a idéa nacional com a abnegação tenaz e superior com que +se serve uma idéa religiosa. É que o patriotismo é uma especie de +religião civil. Foi por essa religião que, durante tres seculos, nos +erguemos no mundo, para realisar um sonho gigantesco e quasi +sobre-humano: foi por ella tambem que cahimos exangues e desilludidos, +porque a realidade faltou ao sonho, porque todo o sonho, com o seu +idealismo, se exalta primeiro, perturba depois, transvia, endoudece +aquelles que envolve nas suas nevoas phantasticamente luminosas, mas +sempre enganadoras. + +A época nacional portugueza, por excellencia, é o seculo XVI. Tudo +concorre então para dar ao espirito dos portuguezes aquelle summo grau +de tensão, que produz os grandes movimentos nacionaes. A nacionalidade +rompe com impulso irresistivel os seus limites tradicionaes, transborda +fremente como um rio caudaloso, e affirma-se na sua plenitude pelas +descobertas e pelas conquistas. Dentro, a sua força é o resultado da sua +concentração: pela reforma dos foraes, pela monarchia absoluta, pela +expulsão dos judeus, attinge o maximo de unidade politica, social, +religiosa, isto é, o maximo de poder sobre si mesma. Esta energica +cohesão depura o sentimento nacional, dá-lhe uma segura consciencia de +si, e leva-o áquelle grau de tensão em que o patriotismo, exaltando-se, +se transforma numa especie de heroismo universal. A nação faz-se heroe: +o heroismo é a sua atmosphera ordinaria, e todos participam mais ou +menos desse contagio sublimador. Daqui, uma concepção particular da vida +social, do direito, do dever, tanto para a nação como para os +individuos. _Ser portuguez_ é alguma cousa de especial, um typo _sui +generis_ de virilidade e nobreza, que todos procuram realisar, e que a +litteratura idealisa, de que ella se inspira na phase nova em que então +entra. Com effeito, a esta evolução moral corresponde uma evolução +litteraria. Á escóla provençal-castelhana, lyrica, aventureira e +romanesca, succede a grave escóla italiana, com a feição nova que o +espirito portuguez lhe deu, adoptando-a, isto é, moral e épica. Ao +trovador Bernardim Ribeiro, ao popular Gil Vicente succedem Sá de +Miranda e Ferreira, dous romanos. O velho typo cavalheiresco, +phantasioso e sentimental, empallidece diante desse outro que surge, +nobre e digno, quasi severo, o homem do dever, não da sensibilidade, que +João de Barros, Ferreira e Miranda vão levantando, e que Camões virá +collocar sobre o sublime pedestal épico. + +Este typo, o verdadeiro typo portuguez do seculo XVI, como se revela nos +_Lusiadas_, não é com effeito uma mera invenção do genio de Camões: é +uma genuina criação nacional, um ideal do sentimento collectivo, que se +foi gradualmente formando e depurando, até encontrar no grande poeta +quem lhe désse uma expressão definitiva. É por isso mesmo que elle +domina, de toda a sua altura, o pensamento e a obra de Camões. O que o +poeta canta é o heroismo portuguez: _o peito illustre lusitano_: e todo +o seu poema se resume nisto, como nesse poema se resume toda a vida +moral portugueza durante um seculo. A razão intima dos acontecimentos, +dos costumes, das opiniões encontra-se alli: explicam-se por elle, e só +elles tambem o explicam completamente. O poema e a sociedade são, por +seu turno, texto e glosa que mutuamente se commentam. + +Neste ponto de vista, historico e psycologico, não no ponto de vista +meramente litterario de uma esteril poetica de convenção, é que os +_Lusiadas_ devem ser estudados e comprehendidos--e cabe ao sr. Oliveira +Martins a gloria de ter sido o primeiro a fazel-o, a gloria de ter +_commentado_ philosophicamente os _Lusiadas_. A esta luz tudo se explica +na concepção do poema e na substancia moral delle: percebe-se a razão +deste estranho phenomeno, estranho e unico, do apparecimento de um +verdadeiro poema epico nacional em plena idade moderna. + +Isto em quanto á concepção. Em quanto, porém, a certa ordem de +sentimentos, que, no ponto de vista épico, são secundarios, mas que +occupam um grande logar no poema, para os comprehender faz-nos o sr. +Oliveira Martins considerar outro lado da physionomia tão complexa de +Camões e da sua época. Com effeito, se Camões é um portuguez do seculo +XVI, é ao mesmo tempo um artista da Renascença; daqui todo um lado dos +_Lusiadas_, que excede a idéa nacional, e por onde este profundo poema +se liga, não já á vida necessariamente estreita de um simples povo, mas +ao vasto movimento do espirito humano nos tempos modernos. Sem este +lado, a significação dos _Lusiadas_ seria meramente nacional e local, +não europêa e universal: teriam só um valor historico e não philosophico +tambem. Mas Camões, portuguez pelo caracter e pelo coração, era pela +intelligencia mais do que portuguez sómente. Respirava a atmosphera +subtil e vivificante da Renascença: no seu vasto espirito, como no dos +grandes artistas desse tempo, havia um lado mysterioso e profundo que se +virava, não para o passado ou para o presente, mas para o illimitado +futuro, presentindo já a revolução moral dos seculos XVIII e XIX. Se +Camões, como portuguez é patriota e heroico, como homem da Renascença é +pantheista; pantheista platonico e idealista, já se vê, como Miguel +Angelo, Leonardo de Vinci, Shakespeare. Portuguez, exalta os feitos por +onde o seu povo conquista entre as nações um logar proeminente: homem da +Renascença, sente e interpreta a natureza com um naturalismo impregnado +de idealidade, que é mais ainda o presentimento de um mundo moral +novo, do que uma imitação da antiguidade pagan. O sentimento pantheista +da natureza, sentimento todo moderno, e que devia mais tarde chegar á +plenitude em Rousseau, Goethe, Hugo, appareceu pela primeira vez em +Camões. Daqui, o caracter do seu espanto em face dos grandes phenomenos +maritimos; daqui, a concepção do Adamastor; daqui, o sensualismo da +primeira parte do canto XI e o idealismo da ultima. É por este lado que +Camões toma logar entre os grandes espiritos, os _Lusiadas_ entre as +grandes obras dos tempos modernos. A imaginação prophetica do poeta +anticipa tres seculos na historia psycologica da humanidade. Com todos +estes elementos, uns portuguezes, outros europeus, uns locaes, outros +universaes, recompõe o sr. Oliveira Martins a physionomia complexa de +Camões e dos _Lusiadas_, com uma lucidez e segurança de critica +verdadeiramente surprehendentes para quem considerar a completa novidade +do seu trabalho. A sua luminosa synthese abraça o poeta, a obra e a +época: e pela épocha, pelo poeta e pela obra faz-nos sentir a intima +realidade da nação e a sua razão de ser historica. E nessa mesma +synthese comprehende-se tambem a sua decadencia; triplice decadencia, +politica, moral, litteraria. Como? pela decadencia da idéa nacional. Com +effeito, o patriotismo heroico do Portugal do seculo XVI continha em si +mesmo os germens da propria dissolução. Era grande, mas não era justo: +ora nada dura no mundo senão pela justiça. Tinha fatalmente de se +corromper essa orgulhosa idéa nacional, fundada na violencia da +conquista, na intolerancia religiosa e no despotismo politico. Os +vicios interiores do organismo nacional appareceram bem depressa: +appareciam já no tempo de Camões: nos _Lusiadas_ encontram-se de vez em +quando, estrophes sombrias, que são como um lugubre _cras enim moriemur_ +lançado no meio das alegrias daquelle festim heroico. Era o futuro +velado e lutuoso que o poeta entrevia num deslumbramento prophetico. A +nação estava, com effeito, condemnada. O heroismo que tem de durar, +lança as suas raizes na região mais inalteravel, mais incorruptivel da +consciencia humana, e as do nosso não chegaram lá: foi uma especie de +_sezão nacional_; não foi um acto reflectido, filho da liberdade moral, +um esforço supremo pela justiça; foi apenas um egoismo sublime. Por +isso, martyres da propria obra, a nossa quéda foi cheia de tristeza e +confusão, nem nos ficou no rosto a serenidade luminosa dos verdadeiros +martyres. + +As paginas austeras em que o sr. Oliveira Martins estabelece esta +distincção entre o heroismo da consciencia e o da fatalidade, e mostra +Portugal condemnado por aquillo mesmo que fizera a sua virtude e a sua +grandeza, são das mais gravemente pensadas que se teem escripto na nossa +lingua. É a verdadeira philosophia da historia aquella sua, que reduz e +subordina toda a actividade humana á consciencia e á justiça. A +injustiça da idéa nacional, como os portuguezes então a conceberam, +corrompeu gradualmente as instituições, infiltrou-se nos espiritos e +perverteu os costumes: a sociedade, minada interiormente, vacillou, em +despeito do esplendor mentiroso que exteriormente a vestia, e começou a +desabar. O sr. Oliveira Martins desenhou com mão segura e vivissimo +colorido o quadro das implacaveis realidades, que, produzidas pelo +heroico idealismo portuguez, se viraram contra elle, o viciaram e +acabaram por destruil-o. A nação, atacada deste modo nos seus orgãos +mais vitaes e na mesma alma, que podia produzir no mundo do espirito, da +arte, da litteratura? A decadencia social e moral tinha necessariamente +de corresponder a decadencia litteraria. Um desregramento doentio das +imaginações privadas de ideal, depois um estreito classicismo e uma +poetica de academias, succederam á livre e fecunda expansão do genio +portuguez no mundo do sentimento e da phantasia. A idéa nacional levou +comsigo para a cova o segredo das criações poeticas. Do seculo XVI até +hoje não produziu Portugal uma unica obra artistica ou litteraria +verdadeiramente nacional. De vez em quando, nalguns momentos +excepcionaes, o genio dalguns homens tem-se levantado como um protesto, +e tem-se visto ainda uma ou outra obra viva. Mas essa inspiração é toda +individual, não é nacional: é um producto natural que póde demonstrar +que a raça não morreu com a nacionalidade, não é filha de um sentimento +commum e como que organico da sociedade portugueza. A decadencia +nacional é o grande facto inexoravel da nossa historia, vai em tres +seculos: a decadencia litteraria é uma fórma della, nada mais. + +Decadencia irremediavel? pergunta o sr. Oliveira Martins, nas ultimas +paginas do seu livro. Não! responde-lhe a philosophia revolucionaria. A +nossa renovação moral e litteraria será possivel no dia em que, pela +reforma das instituições sociaes, por uma nova e melhor comprehensão da +justiça, comece outra vez o espirito a circular neste grande corpo, mais +inerte ainda do que acabado, volte a animal-o uma alma, um ideal +collectivo. Então Portugal terá de novo uma razão de ser, e a idéa +nacional, mais brilhante e mais quente depois do seu eclipse secular, +fará rebentar outra vez fructos e flores deste chão endurecido sim, mas +debaixo do qual ha ainda (embora a grande profundidade) fontes vivas em +abundancia. As grandes acções serão outra vez possiveis, e um melhor e +mais alto heroismo; por elle serão não só possiveis, mas quasi +inevitaveis os grandes pensamentos poeticos. A renovação litteraria de +Portugal é correlativa com a sua renovação social e está dependente +della: é a conclusão do livro do sr. Oliveira Martins, conclusão que +todos devemos aceitar, não como uma vaga esperança, mas como uma verdade +philosophica cuja realisação não depende senão do nosso esforço, da +energia do nosso sentimento moral. Somos os operarios do nosso proprio +destino, e desde já as nossas mãos o vão aperfeiçoando: terá a fórma que +lhe dermos. + +Neste trabalho solemne da renovação nacional, grande é a tarefa que está +talhada para a geração nova, e immensa a sua responsabilidade! Estará +ella, pela intelligencia e pelo coração, pela sciencia e pela virtude, á +altura desta obra austera e formidavel? Muitos o duvidam, vendo-lhe no +rosto uma pallidez de mau agouro... Não me cabe a mim decidil-o: direi +sómente que (quaesquer que tenham de ser os nossos destinos) para +darem testemunho das intenções sérias de uma parte consideravel da nossa +geração, do seu espirito renovador, da sua aspiração a uma melhor +sciencia, bastarão em todo o tempo obras como a _Historia da litteratura +portugueza_, do sr. Theophilo Braga, e o _Ensaio sobre Camões_, do sr. +Oliveira Martins. + +9 de maio de 1872. + + + + +Theoria do socialismo, evolução politica e economica das sociedades +da Europa: por J. P. de Oliveira Martins. Lisboa, 1872. + + +I + +Pelo assumpto do livro, pela maneira porque nelle se resolvem as +questões que o assumpto envolve, e pela muita amizade, além da +affinidade de crença philosophica e politica, que me liga ao autor, +estava eu obrigado a fallar publicamente desta recente e por tantos +lados notavel obra do sr. Oliveira Martins. Se o não tenho ainda feito, +contando o livro perto já de tres mezes depois de publicado, é porque +preoccupações de outra natureza, envolvendo dispendio de tempo e de +attenção para coisas bastante differentes, me teem totalmente impedido. +Agora mesmo, só lhe poderei consagrar uma rapida noticia, expondo apenas +a impressão geral, que uma primeira leitura, por varias occasiões +interrompida, me deixou, tanto dos defeitos como das sérias qualidades, +que avultam na _Theoria do Socialismo_. + +Comecemos pelos defeitos, e pelos pontos em que discordo (sem +pretender por modo algum incluir estas divergencias no numero dos +defeitos) da maneira de vêr do autor. Depois, mais desassombrados, +apreciaremos o pensamento essencial da obra. + +Os defeitos são, me parece, exclusivamente de fórma e composição. Ha uma +idéa fundamental no livro, que determina uma linha logica, +desenvolvendo-se sem soluções de continuidade da primeira até á ultima +pagina; ha, nos pontos que essa linha percorre, uma successão natural +correspondente ao encadeamento normal dos principios e dos factos na +sciencia e na historia. O que falta, porém, é uma definição +_cathegorica_ da idéa geradora, e uma exposição precisa e desenvolvida +dos principios, de tal sorte que estes não se entrevejam sómente, mas +appareçam de facto como a _razão sufficiente_ dos phenomenos historicos +e a elles _adequados_. É a esta falta que se deve attribuir a +difficuldade e obscuridade que encontram as intelligencias não +preparadas por uma conveniente educação philosophica (e são muitas, +desgraçadamente) em certas partes desta obra, aliás methodica e bem +deduzida. Quero com isto dizer que não é da idéa que provém a +obscuridade, mas da composição e do estilo. Bastava que o autor tivesse +dado ás _theses_, que precedem cada um dos seus capitulos, um +desenvolvimento proporcional, em vez de as encerrar em formulas, ás +vezes um tanto algebricas, e que nas suas exposições de principios +_arejasse_ um pouco o estilo, tornando-o mais ductil e menos technico, +para que as abstrações philosophicas se tornassem accessiveis ao +simples senso-commum, a que se reduz o criterio de 90 por cento dos +leitores portuguezes. + +Faço estes reparos, não só para que as pessoas que não comprehenderam +bem certas paginas do livro do sr. Martins se convençam de que essa +obscuridade nada depõe contra a verdade e lucidez da idéa fundamental +delle, como tambem por entender que o estilo nas obras não litterarias, +e até nas de sciencia pura, não deve ser considerado como coisa +accessoria e secundaria. Certamente que não aconselho aos homens de +sciencia que _façam estilo_; mas é que tal conselho não o daria tambem +aos literatos e aos poetas. Para mim, entre ter bom estilo e _fazer +estilo_ ha uma differença essencial: ter bom estilo significa ter o +estilo proprio e conveniente das idéas que se expõem; _fazer estilo_ +significa encobrir a falta de idéas com phrases redundantes e +apparatosas, com aquelles _persicos apparatus_ que já Horacio queria +banidos dos festins e, com maior razão ainda, do discurso. Póde haver, e +ha effectivamente, bom estilo até nas sciencias mais rigorosas, +naquellas a que os espiritos vasios, que querem campar de poeticos, +chamam aridas: ha bom estilo em mathematica, por exemplo, e em chimica: +Lagrange passa por ter escripto algebra com uma elegancia e belleza +verdadeiramente classicas; em chimica, gosa hoje de igual reputação o +illustre Wurtz. Mas deixemos isto, porque não é sobre esthetica que me +propuz escrever. Direi sómente que o sr. O. Martins nunca _faz estilo_, +exactamente porque tem muitas idéas; mas que, por não dispôr ás +vezes convenientemente as suas idéas, consoante os respectivos valores, +_cum pondere, numero et mensura_, deixa passar certas paginas, que, sem +injustiça, podemos acoimar por não terem bom estilo. + +Tomarei tambem nota de alguns pontos em que não concordo com o modo de +vêr do autor da _Theoria_. Não é que essas divergencias de opinião sejam +muito profundas, quero dizer, que versem sobre pontos essenciaes da +doutrina do livro: são, pelo contrario, exotericas, e versam +exclusivamente sobre certas apreciações historicas, indifferentes em +grande parte á conclusão geral que o autor tira da evolução das +sociedades na Europa desde a época romana. Essa conclusão é a minha +tambem, como o leitor verá: e se tomo nota destas divergencias, é porque +não me apraz estar completamente de accordo com quem quer que seja, +maximamente com aquelles cuja intelligencia préso e respeito--e desejo +deixal-o registado. Custar-me-hia tanto não concordar em ponto algum com +o sr. O. Martins, como concordar em todos absolutamente. Espero que o +leitor comprehenderá, sem mais explicações, o que quero dizer. + +Discordo pois, da maneira porque o sr. Martins encara, na sua +generalidade, a Idade-media, considerando-a como um periodo de +retrocesso em relação á civilisação greco-romana, durante o qual os +elementos evolutivos dessa civilisação estacionassem (experimentando +alguma coisa analoga áquillo a que em physiologia se chama _interrupção +de desenvolvimento_), em virtude das sabidas causas ethnologicas, +sociaes e moraes que determinaram a dissolução do mundo antigo, de +tal sorte que todo o movimento europeu, durante aquelles nove a dez +seculos, se reduzisse, de um lado, á tradicção greco-romana, no que ella +tinha de _já definitivo_ e _não evolutivo_, isto é, o Cristianismo e o +Imperio, e do outro lado, ao reapparecimento de elementos primitivos, os +Barbaros, que apenas repetem extemporaneamente phases sociaes, que a +civilisação antiga, havia já seculos, tinha atravessado. Daqui parece o +autor concluir que a evolução normal da civilisação foi perturbada, +durante um certo periodo, pela introducção violenta de elementos +estranhos, constituindo uma como massa indigesta, cuja laboriosa +digestão produzindo uma lethargia secular, explica sufficientemente a +_interrupção de desenvolvimento_ que descobre na idade-media. Esses +elementos anormaes, que a civilisação teve de digerir durante mil annos, +para poder reatar os termos logicos da sua evolução (seculo 5.º, seculo +16.º), foram, de um lado, o Cristianismo com o seu Santo Imperio, do +outro lado os Barbaros com o seu sistema feudal. Ora, de mais de uma +pagina da _Theoria_ concluo eu que, no pensar do sr. Martins, nenhum +destes dois phenomenos é inherente á evolução, pois que vê nas invasões +barbaras só um phenomeno ethnologico e como que uma fatalidade natural, +e no Christianismo uma mera reacção religiosa, um recrudescimento +anomalo de transcendentalismo, quando já pelo Estoicismo, de um lado, e +do outro pelo Epicurismo, entrava o espirito humano na larga estrada da +philosophia natural, e entrevia no horisonte a luz salvadora da +Immanencia. A conclusão a tirar é que, sem estes elementos +perturbadores, não teria havido _interrupção de desenvolvimento_, seriam +poupadas á Humanidade as agonias da sua _paixão_ (como Michelet chama á +Idade-media), o seculo 16.º teria caído no seculo 6.º, e nós hoje +estariamos já aonde só estaremos no seculo 30.º + +Se estas conclusões que não estão explicitas no livro do sr. Martins se +contêem realmente nos seus principios, tenho a objectar-lhe, antes de +tudo, que implicam até certo ponto contradicção com a sua idéa +fundamental, isto é, a Evolução como lei primeira da Civilisação. Que +uma circumstancia ou uma serie de circumstancias exteriores e fataes +possam produzir numa civilisação não sómente uma _interrupção do +desenvolvimento_, mas ainda uma atrophia permanente, comprehende-se e em +nada contradiz a idéa da Evolução. Mas o que a contradiz e o que não se +comprehende é que essa atrophia temporária ou permanente possa ser +expontanea, e saia como um termo necessario da mesma evolução, cuja +essencia é o desenvolvimento. Ora, ainda concedendo que os Barbaros +estejam no primeiro caso (e não me parece que estejam absolutamente, +porque que se as invasões barbaras são um phenomeno natural e fatal, e +um agente exterior, a fraqueza interna de uma civilisação, que succumbe +á barbaria, tem por força de ter uma causa tambem interna, que é preciso +determinar), o Cristianismo é que necessariamente estaria no segundo, e +teriamos assim, neste ponto, a evolução embaraçando-se e +contradizendo-se a si mesma. + +Logo, uma de duas: ou a evolução, em determinados casos, póde +suspender-se expontaneamente, e não só suspender-se, mas até +retroceder e annullar-se a si mesma, o que é contradictorio com a sua +idéa essencial; ou não houve realmente na Idade-media um _retrocesso +geral_ e atrophia dos elementos evolutivos, e é necessario procurar no +estudo comparativo dos elementos immediatamente anteriores e posteriores +a essa idade a existencia de um _quid intimum_, cujo desenvolvimento, +assegurando o resultado total da evolução, como sendo-lhe essencial, +póde ao mesmo tempo, pela sua particular natureza, _suspendel-a +parcialmente_, durante um certo tempo e em determinados pontos. + +Regeitando a primeira hypothese, como envolvendo um absurdo, fica-nos a +segunda, que não só tem a plasticidade sufficiente para se accommodar á +explicação dos phenomenos divergentes e apparentemente contradictorios +de um periodo tão complexo e revolto como a Idade-media, mas encerra +além disso um real valor philosophico, fazendo entrar na historia uma +das idéas fundamentaes das sciencias da organisação, a idéa de _crise_, +e estabelecendo assim entre o mundo da vida e o do espirito uma +concordancia de bastante alcance. + +Nestes termos, diremos que não se deu na Idade-media uma _interrupção +do desenvolvimento_, mas sim uma de aquellas _crises organicas_ +que são proprias e expontaneas na evolução dentro do mundo dos +organismos--fazendo entrar neste a historia, como uma fórma organica +superior e transcendente. Crises taes são um resultado do mesmo +desenvolvimento dessa ordem de forças complexas (que não são +independentes e apenas paralelas, mas convergentes e solidarias) que +actuam segundo leis analogas, tanto nos organismos como nas sociedades e +no espirito. + +Vê-se claramente como desta solidariedade e convergencia, combinadas com +a acção desigual das circumstancias exteriores sobre cada uma dessas +forças, resultem para muitas dellas desencontros e periodos de +estacionamento, em quanto umas esperam para se desenvolverem que outras +tenham attingido um dado grau de desenvolvimento, sem se realisar o qual +ellas mesmas não podem continuar a sua evolução. + +É assim que o sabio paleontologista G. de Saporta (_Origens da vida +sobre o globo_), comparando a evolução solidaria dos reinos animal e +vegetal nas idades primitivas, nos mostra o primeiro, depois de ter +percorrido successivamente uma serie ascendente de typos, estacionar +durante muitos milhares de annos, á espera que o secundo, cujo +desenvolvimento, por causas em parte desconhecidas, fôra mais demorado, +attingisse aquelle termo de ascensão, sem se realisar o qual não podia o +reino animal continuar o seu progresso especifico. Se considerarmos (com +depois dos trabalhos de Darwin e Haekel não podemos deixar de +considerar) que os chamados reinos animal e vegetal não são sómente +paralelos mas solidarios, e constituem realmente um só mundo organico, +teremos um facto consideravel, que a paleontologia nos aponta, o exemplo +de uma immensa e prolongadissima crise, que esse mundo atravessou, a +maior porventura que elle tem atravessado. + +Ora é exactamente uma crise analoga que eu sustento ter soffrido a +sociedade europea durante o periodo da Idade-media: o _reino_ social +e politico, depois de rapido e ininterrupto progresso realisado desde +Homero até aos Antoninos, teve de estacionar, esperando que o _reino_ +moral, atravez das varias _especies_ do cristianismo e da philosophia +escolastica, chegasse a um grau de desenvolvimento paralelo ao seu, que +lhe tornasse possivel continuar a progredir. A solidariedade entre o +progresso social e moral da humanidade, de um lado e do outro o desigual +desenvolvimento destes dois elementos, bem patente no facto singular +(que aliás se explica) de ter o mundo antigo produzido o direito romano +sem sair do polytheismo, dão cabalmente, me parece, a razão sufficiente +deste _desencontro_ de forças, cujo resultado foi a grande crise da +Idade-media. + +É por tudo isto que, a meu ver, a Idade-media não póde ser reduzida, +como parece fazel-o o sr. Martins, a uma simples _tradicção_ e a um +periodo de _atrophia_ dos elementos verdadeiramente evolutivos do mundo +greco-romano. Para mim, são verdadeiramente evolutivos _todos_ os +elementos da idade-media, e a idade-media contém _todos_ os elementos +evolutivos da civilisação antiga: sómente o grande desenvolvimento e as +posições respectivas é que são differentes. Considero o cristianismo +como essencial á evolução; mais, como o termo necessario de todo o +movimento moral da antiguidade: para mim, não só não foi elle um +_incidente_ perturbador, mas não foi de modo algum um incidente. A +_transcendencia_, preparada e organisada por todas as escolas +philosophicas desde Socrates até aos Alexandrinos, incluindo os Estoicos +e até os Espicuristas (cuja metaphisica era tão idealista e a moral +tão mystica como as das outras escolas, e que não foram, como a alguns +tem parecido, os precursores _incompris_ dos racionalistas e +naturalistas modernos), a _transcendencia_, phase necessaria do +pensamento humano, tinha forçosamente de produzir uma religião analoga +na essencia ao Cristianismo; ainda quando lhe faltassem os elementos, +quanto a mim puramente morphologicos, da lenda oriental. Uma prova bem +clara desta ultima asserção, encontro-a na reacção de Juliano, chamado o +Apostata, cuja religião-philosophica não era menos transcendentalistica +e mystica do que a cristan, e que, a ter vingado, haveria produzido uma +theologia e uma igreja exactamente como o Cristianismo. Quero dizer que, +dado o estado moral da humanidade na ultima época do periodo +greco-romano, se o cristianismo não era inevitavel, o que era inevitavel +era uma religião na essencia cristan, isto é, mystica. A exaltação +mystica, que então se apossou do espirito humano, se foi um mal (e não +creio que o fosse absolutamente), foi um mal necessario. Era um termo +logico da Evolução; e a Idade-media, que foi o desenvolvimento desse +termo, não póde por esse lado ser considerada como uma simples _tradicção_. + +Em quanto aos Barbaros, bastar-me-ha dizer que não creio que fossem +elles os destruidores da unidade romana, por si não só prestes a +desfazer-se, mas já meia desfeita nos seculos 5.º e 4.º; que sem elles o +imperio ter-se-hia igualmente desmembrado; que elles não impediram a +extincção da escravidão antiga nem a formação da burguezia; que +independentemente da influencia germanica, já o feudalismo tendia a +formar-se espontaneamente no imperio em dissolução, desde o seculo 4.º; +que finalmente, muito antes das invasões já as sciencias e as lettras +tinham decaido, e começára um entenebrecimento intellectual, de que os +barbaros não devem ser responsaveis; bastar-me-ha dizer isto para que o +sr. Martins aprecie as razões por que, ainda por este lado, nada +encontro de anormal e de perturbador no curso da evolução geral da +civilisação durante a Idade-media, nem vejo que houvesse _interrupção de +desenvolvimento_ produzida por causas estranhas e fortuitas. + +É este o ponto principal da minha divergencia com o autor da _Theoria_ e +por isso o expuz mais detidamente. Os outros, que são ainda mais +indifferentes á idéa geral do livro, sacrifico-os, para entrar quanto +antes na apreciação dessa idéa. + + +II + +Feitas estas reservas, passo a dizer alguma coisa sobre a idéa +fundamental da obra. Obra, ponho eu aqui intencionalmente, porque é +verdadeiramente _uma obra_, e não apenas _um livro_, a "_Theoria do +Socialismo_" Não é uma simples exposição de factos historicos, mais ou +menos curiosos, acompanhada de juizos e considerações, mais ou menos +rasoaveis ou eloquentes: é um todo ordenado e systematico, em que os +factos e as idéas se encadeam logicamente, convergindo para um +centro commum, que é o ponto de vista superior que os abrange e explica +a todos. É um trabalho conjunctamente philosophico e scientifico, em que +as generalizações formuladas pela sciencia historica recebem a sua +sancção final dos principios racionaes em que assenta a philosophia da +historia--tentativa semelhante na essencia e no methodo, embora diversa +nas conclusões e inferior na execução, á que realizou Guizot na sua +"_Historia da Civilisação na Europa_" e Michelet naquella admiravel +"_Introducção á historia universal_". O sr. Martins não é um erudito, +nem um philosopho de profissão: mostrou porém ter sciencia bastante e +sufficiente elevação de pensamento para nunca ser inferior ao que um tal +plano requeria. Ora, tentar isto, e realisal-o, apesar de muitos +defeitos parciaes, com exito feliz na generalidade, é raro merecimento e +que sobejamente justifica, me parece, esta particular designação de +_obra_ que dei ao livro. Escriptos desta natureza e alcance em nenhuma +litteratura são frequentes: o do sr. O. Martins affigura-se-me que é por +ora unico entre nós. Ainda assim, não é bem por isso que me congratulo, +mas por ver na "_Theoria do Socialismo_" um symptoma animador de franca +e séria adopção da idéa nova pelo espirito portuguez: é isto o que me +faz saudar fraternalmente a obra e o autor. + +Socialismo é para muitas pessoas uma palavra aterradora, exactamente +porque não é para essas pessoas mais do que uma palavra. É para outras +um symbolo magico e omnipotente abracadabra, a quem tudo se póde pedir, +de quem tudo se deve esperar, dotado sobrenaturalmente de uma +virtude palingenesica para operar nas coisas humanas uma renovação total +e universal, uma regeneração instantanea e absoluta: estes são os +enthusiastas, que encarnam na palavra socialismo os seus sonhos +individuaes de felicidade, em vez de simplesmente a considerarem como a +expressão de uma ordem de phenomenos objectivos, independente das +imaginações sentimentaes de cada qual, e só adequada á natureza das +sociedades no seu desenvolvimento necessario. Apesar do que ha de +respeitavel nos sentimentos desses crentes, estão elles tão longe como +os outros de saberem o que realmente se deve entender por socialismo. A +uns e outros recommendo o livro do sr. Martins, como muito proprio para +lhes fazer perder tanto as esperanças como os terrores apocalypticos. + +O socialismo não é nem a subversão violenta das instituições e dos +costumes, nem a palingenesia messianica milagrosamente revelada, para +acabar para sempre com os males humanos, por este ou aquelle inspirado +propheta de tal ou qual cenaculo de crentes: e não é uma coisa, +exactamente porque não é a outra. Não ha nisto paradoxo. Quero dizer que +o socialismo não ameaça as instituições e os costumes, que constituem o +organismo e a tradição da humanidade, precisamente porque não é uma +invenção do pensamento individual um systema sem raizes historicas, +exterior á realidade social, mas sáe, pelo contrario, da tradicção e da +historia, é a propria historia e tradicção num periodo das suas +transformações continuas, um parto da razão collectiva e um fructo +natural do mesmo desenvolvimento da sociedade. É por isso que a não +ameaça, porque a sociedade não se destroe a si mesma: desenvolve-se e +transforma-se; o socialismo não é mais do que a palavra que quadra ao +grau de transformação e desenvolvimento do momento actual. O que foi no +primeiro quartel deste seculo o liberalismo, o que tres ou quatro +seculos antes havia sido a monarchia, e antes cinco ou seis as communas +e o feudalismo, é o que será ámanhan (e já hoje começa a ser) o +socialismo: um novo periodo e uma nova fórma no organismo das sociedades +europeas. Tão inevitavel como aquelles, será como elles tão benefico e +tão pouco subversivo, sendo, como elles foram, não um resultado fortuito +de opiniões e interesses de individuos, mas um facto necessario da +Providencia immanente na historia. + +Em que consista esse facto é o que o sr. Martins, fazendo-se interprete +dos phenomenos sociaes, se propôz explicar, e é o que nós, em companhia +delle, vamos examinar. + +Logo na primeira pagina do livro, formula o autor a sua idéa deste modo: +a theoria do socialismo é a evolução.--Desculpe-me o meu amigo se lhe +faço ainda questão duma palavra, mas o rigor nos termos não é +indifferente. Duma maneira geral, a theoria do socialismo é certamente a +evolução, mas a evolução dentro da historia e das coisas sociaes tem um +nome mais particular e consagrado: o Progresso, que é a evolução na +série da humanidade. A evolução abrange todas as séries do +desenvolvimento no universo, cosmologico, geologico, organico, etc., e +por isso inclue a humanidade; mas dentro desta é particularmente o +Progresso. Diriamos, pois, com mais rigor: a theoria do socialismo é +o Progresso. Quizera tambem que o autor, nessa sua primeira _these_, +tivesse definido com mais clareza e explicado com mais extensão esta +idéa. Mas não importa: o que não se define totalmente nas primeiras +paginas, torna-se bem patente pelo livro adiante, e isso é o essencial. +O que o autor não diz mostra-o no encadeamento dos factos sociaes e na +successão das doutrinas através da historia, de sorte que o seu livro +representa-nos em relevo essa grande lei do progresso nas suas phases +verdadeiramente significativas. + +Ora, qual é o termo actual do Progresso? o socialismo, responde o sr. +Martins, com a historia na mão. Mas que socialismo? o de Babeuf, o de +Fourier, de Saint-Simon, desta escola, daquella seita, não: simplesmente +o da humanidade. É nesta resposta que está a originalidade e a segura +verdade do livro. O socialismo não sáe de uma escola ou de uma seita: +sáe do mais fundo da consciencia humana, affeiçoada por tres mil annos +de progresso. Não é uma experiencia; é um resultado. + +Resultado de que? Do triplo movimento moral, politico e economico das +sociedades. Abraça o homem todo, e corresponde a uma nova concepção +systhematica (uma _affirmação synthetica_, como dizem os positivistas) +do Universo, da vida humana e das relações sociaes. Neste momento, a +evolução das doutrinas philosophicas, moraes e juridicas, da sciencia +economica, dos phenomenos politicos e dos phenomenos economicos, +converge para um ponto central. A esse ponto chamamos nós Socialismo, +não porque coincida (note-se bem isto) com este ou aquelle systema +dos que inventaram a palavra, mas simplesmente porque vem satisfazer a +aspiração commum a todos elles, que os produziu e de que eram meros +symptomas: de tal sorte que até com alguns desses systemas póde estar em +completa opposição o Socialismo positivo, como está, por exemplo, com o +Communismo. + +Desta tripla evolução moral, politica e economica resultam tres grandes +conclusões. Da evolução no mundo moral resulta a autonomia absoluta da +consciencia humana, independente das pretendidas revelações +sobrenaturaes para descobrir a verdade e determinar a justiça; +independente de qualquer auctoridade, além da sua propria, para conhecer +e praticar a lei moral. Da evolução no mundo politico resulta a +concepção da liberdade como o unico agente organisador e director da +sociedade, com exclusão de qualquer principio anterior ou exterior ao +direito individual, de qualquer auctoridade que não seja a da propria +liberdade sobre si mesma. Da evolução no mundo economico resulta a +affirmação do trabalho como a base unica justa do valor, tendo por +consequencias, de um lado a egualdade dos trabalhadores perante o +capital, mero instrumento do trabalho e a elle sobordinado e garantido +pelo credito e a mutualidade, do outro lado a egualdade dos +trabalhadores entre si, pela divisão do trabalho, que os torna +solidarios e substitue á anarchia da concorrencia individual a +organisação das forças collectivas da producção--e tendo como +resultados, com a annullação dos privilegios capitalista e proprietario, +a consagração da propriedade e do capital individuaes, e a extincção +da lucta das duas classes actuaes, pela conversão de ambas numa unica de +trabalhadores eguaes e livres. + +São estas as tres grandes conclusões, que desentranhando-se de um lento +progresso secular, começam a patentear-se no estado actual das doutrinas +e dos phenomenos moraes, politicos e economicos das sociedades +contemporaneas. + +As phases desse progresso, isto é, o caminho seguido pela intelligencia +humana e pelos factos sociaes para chegarem a estas conclusões, é o que +o sr. Martins historía com muita lucidez e sciencia no seu livro, boa +metade do qual é consagrado a este trabalho de alta critica historica. + +Eu é que, nos limites estreitos deste esboço nem poderei sequer indicar, +com alguns nomes, culminantes, os principaes marcos miliarios no caminho +deste jornadear da humanidade em busca dos seus proprios destinos. Mas +que magestosa _via crucis_! + +Desde a doutrina da Graça, com S. Paulo e S. Agostinho, atravez dos +meandros da Escolastica, depois da inspirada philosophia da renascença e +da philosophia mais scientifica do seculo XVII, chega o espirito humano +a entrever com Vico e os encyclopedistas a doutrina emancipadora da +immanencia, que no seculo XIX formulou de um modo cada vez mais positivo +as escolas de Hegel, Feuerbach, Comte, Proudhon. Evolução paralela +seguem as doutrinas politicas: desde o _omnis potestas a Deo_ e a +_Civitas Dei_, atravez da politica theocratica de S. Thomaz e da +politica Cesarista de Dante, atravez do absolutismo da monarchia +civil de Savedra e Bodin e do despotismo naturalista de Machiavello e +Hobbes, vae o principio tradicional da auctoridade recuando cada vez +mais, com Grotius, Locke, Rousseau, Kant, depois com Fichte, +Rittinghaussen, Proudon, diante do principio racional e humano da +liberdade, até ser por elle absorvido, até só ficar de pé a consciencia +juridica do homem, tendo em si mesma a sua propria e absoluta sancção. +As doutrinas economicas, que só no seculo XVIII se desembaraçam das +politicas, galgam de um salto a distancia que vae da auctoridade +(proteccionismo) á liberdade, e pela bocca de Smith, Rossi, Bastiat, +Stuart Mill, proclamam esta ultima, completa, universal. + +Ideas! theorias! sonhos! dirão alguns. Não! realidades, porque os factos +vão seguindo, par e passo o desenvolvimento das doutrinas. A +secularisação cada vez mais definida do estado e da sociedade; a +transformação das monarchias de direito divino em monarchias temperadas, +depois em democraticas, depois em republicas populares; os direitos +individuaes inscriptos nas constituições; a egualdade civil; a liberdade +da industria; o nivelamento constante das classes; a importancia +crescente do povo trabalhador e das questões do trabalho; o privilegio +capitalista que por toda a parte recúa, batido já nos seus ultimos +intrincheiramentos; o capital que se faz povo, que se faz multidão, e +vae já passando para as mãos do proletariado; um novo mundo economico +que emerge com força do antigo cahos social:--são factos e não utopias, +e esses factos trazem comsigo a sua lição, a sua doutrina. Não sois +vós, conservadores, que tendes por vós a tradição da humanidade, somos +nós revolucionarios, que temos, com o futuro, o passado por nosso lado, +o passado no que elle teve de melhor: a aspiração da liberdade, da +igualdade, da justiça. + +Mas que immenso caminho andado! Eis-nos á porta de um mundo novo! novo e +todavia feito todo com elementos, que os tempos vieram lentamente +accumulando. Organisar esse mundo é a obra do socialismo. Não é de +destruição, essa obra; é de edificação e de consolidação. Não ameaça um +unico direito; define-os a todos e dá-lhes os seus justos logares. Numa +palavra se encerra o socialismo: organisação espontanea. Livre +organisação da industria, do trabalho, do credito, do capital, do +estado; federação juridica e economica, tudo pela liberdade e tudo para +a egualdade; ou como diz, com expressiva concisão, o sr. Oliveira +Martins "uma unica lei, o trabalho, e uma unica norma, a justiça"; eis +ahi como á luz da philosophia da historia se deve comprehender o +socialismo. + +Terei depois disto logrado fazer perceber ao leitor a essencial +differença que existe entre a theoria historica e positiva do socialismo +e o socialismo utupista das seitas? Ao mesmo tempo que sae da historia +como uma natural evolução, perde elle para logo o caracter +contradictorio, problematico e, para tudo dizer, assustador, com que a +principio se apresentou no mundo. Alarga tambem o seu horisonte, deixa +de abraçar sómente uma ordem parcial de phenomenos sociaes, para +abranger todo o movimento renovador da humanidade contemporanea, na +philosophia, na sociedade, no estado e nas consciencias. Filho legitimo +da historia, deixa tambem de a contradizer no que ella tem de essencial, +a familia, a propriedade, a herança, bases da sociedade, duplamente +consagradas pela razão e pela pratica e veneração das gerações. Não +propõe uma construcção arbitraria e artificial da sociedade, mas +pretende sómente ajudal-a no seu desenvolvimento organico, segundo uma +theoria estudada nella mesma, nos seus antecedentes. É, numa palavra, +verdadeiramente conservador o socialismo, por isso mesmo que é +verdadeiramente progressista. E se eu tivesse algum direito de em nome +delle dar um conselho aos homens e aos partidos que, por se julgarem +conservadores, entendem ter obrigação de combater uma philosophia +social, que não conhecem, ou diria a esses illudidos: Fazei-vos +socialistas, se quereis realmente merecer o nome de conservadores, que +por ora não tendes sufficientemente justificado: passae para este lado, +que é onde estão os representantes da verdadeira tradição da humanidade, +tradição não de entenebrecimento e oppressão, de odio e lucta +systematica, mas de luz e liberdade, de paz e conciliação: ou, senão, +examinae pelo menos antes de condemnar, informae-vos antes de +amaldiçoar, aliás teremos de dizer que sois só conservadores da vossa +propria ignorancia e obsecada paixão. + +Mas eu nao tenho direito de dar conselhos a quem não m'os pede nem me +julga auctorisado a dal-os. Depois, talvez este meu candido appello, +para a conciliação e a tolerancia, seja ainda uma daquellas muitas +utopias que só merecem um sorriso de desdenhosa compaixão dos homens +_praticos_ encanecidos no trato das coisas reaes do mundo... Talvez! + +Paciencia. Veremos o que o tempo _praticamente_ responde a tudo isto. + +Fevereiro-Março, 1873. + + + + +Le Portugal contemporain--Oliveira Martins + + +En dehors de la littérature proprement dite, le Portugal ne possède +aujourd'hui qu'un seul écrivain réellement supérieur: c'est M. Oliveira +Martins, l'auteur de la _Bibliotheca das Sciencias sociaes_. Définir son +genre et le classer d'un mot me semble chose presque impossible, par la +simple raison que ce mot n'existe pas encore: _socialiste_ a un sens en +même temps étroit et vague; _sociologiste_ serait un barbarisme. Si, +depuis les Grecs on a toujours écrit l'histoire, disserté sur la +politique et plus ou moins observé l'économie et les moeurs des +nations, ce n'est que depuis un demi-siècle à peine qu'on a été amené à +étudier scientifiquement la Société, en la considérant comme un tout +naturel et réel, dont les phénomènes sont susceptibles d'être ramenés à +des relations générales et fixes, c'est-à-dire à des lois. De là la +constitution d'un nouveau et dernier groupe de sciences, qui est venu +s'ajouter à celles qui existaient déjà: le groupe des sciences morales. + +M. Oliveira Martins (_socialiste_ ou _sociologiste_, comme on voudra) +s'occupe donc de sciences sociales, et, quoique jeune encore, mérite, +par la profondeur de ses recherches, l'originalité et l'ampleur de +ses vues et la fermeté de sa méthode, d'être rangé parmi les mâitres et +promoteurs de ces études nouvelles. En outre, son estyle, par ses +qualités de vigueur, de vie et d'élévation, quoique trop souvent +incorrect et déparé parfois par le mauvais goût, fait de l'auteur de la +_Bibliotheca das Sciencias_ un écrivain de premier ordre. + +Les premiers ouvrages de M. Oliveira Martins (_Theoria do Socialismo_ et +_Portugal e o socialismo_), parus à Lisbonne vers 1873 et 1874, +appelèrent sur les lèvres du petit nombre de personnes en état de les +juger un _Tu Marcellus cris!_ prophétique. Touffus d'idées hardies, mais +encore mal définies, et auxquelles manquait une base solide de +connaissances positives, obscurs et confus par le style, ces deux livres +dénonçaient pourtant les maîtresses qualités qui font le penseur et +l'écrivain d'ordre supérieur. + +En effet, le germe des doctrines exposées plus tard dans la +_Bibliotheca_ s'y trouvait déjà formulé dès la première page dans ces +mots: "La théorie du socialisme c'est l'évolution.", Depuis, la pensée +laborieuse de notre auteur n'a fait qu'approfondir et développer cette +idée, en l'étayant de solides études économiques, politiques et +historiques. + +Laissant là la manière sèche et étroite des économistes et leur méthode +tout abstraite, M. Oliveira Martins conçoit la société comme un tout +vivant, un être collectif qui, comme l'homme lui-même, est à la fois +naturel et rationnel, sujet dans son développement à la double action +des lois de la nature, auxquelles se rattache la sociabilité elle-même +dans ses formes primordiales, et des principes juridiques et moraux qui +sont le domaine propre et exclusif de l'humanité. La lutte, +l'équilibre, la pénétration et l'opposition de ces deux éléments +constituent, aux yeux de nôtre auteur, l'être même de la société, dont +le développement, changeant et variable comme celui de toute chose +vivante, peut présenter des aspects très dissemblables et impropres: +rien n'y est absolu, rien n'y est nécessaire, hormis les lois générales +de la nature et l'essence rationnelle et morale de l'homme. La méthode +des sciences sociales ne peut donc pas être abstraite: elle doit être, +avant tout, historique. + +C'est à ce point de vue, et non pas seulement en naturaliste et +économiste, mais encore en juriste et moraliste, que M. Oliveira Martins +s'est placé pour étudier dans sa _Bibliotheca_ l'ensemble des +phénomènes,--travail, distribution, propriété, classes, gouvernement, +juridiction, culte, etc.,--qui constituent le vaste domaine, encore +imparfaitement jalonné, des sciences sociales. La _Bibliotheca_ comprend +déjà 12 volumes. En outre, M. Oliveira Martins a publié un Mémoire sur +la _Circulation fiduciaire_ et diverses brochures se rattachant toutes +aux questions sociales. L'espace nous manque pour donner même une courte +analyse de chacun des volumes déjà parus de la _Bibliotheca_, et il faut +que je me borne à l'exposition sommaire que je viens de faire des idées +culminantes et de la méthode de l'auteur. Mais je dois au moins appeller +l'attention des personnes compétentes sur deux de ces volumes (_Quadro +das instituições primitivas_ et _O Regime das riquezas_), qui, par leur +grande originalité de vues et de forme, mériteraient bien d'être +traduits en français ou en allemand. + +La fécondité de la méthode historique de l'auteur y devient évidente. A +l'encontre des économistes orthodoxes, qui dessèchent la réalité humaine +dans leurs formules et prétendent réduire la vie de la société à une +espèce d'algèbre inflexible, M. Oliveira Martins, plongeant en pleine +réalité, nous montre l'origine variable et les formes multiples des +institutions sociales assujeties dans leur développement non à des lois +purement naturelles, comme le prétendent les économistes, mais avant +tout à des raisons intimes et _humaines_. Jamais les fatalités +naturelles n'y étouffent complètement l'être moral de l'humanité, et, +même dans ses formes premières et plus rudes, la société apparaît comme +le domaine de la liberté. La concurrence y joue un grand rôle, sans +doute, mais contrecarré ou endigué par des forces juridiques et morales. +La pure mécanique sociale, telle que la rêvent les économistes, n'y +triomphe jamais non plus que cet individualisme abstrait qui serait +plutôt l'idéal de la sauvagerie que celui de la civilisation. Celle-ci, +loin de marcher de plus en plus dans le sens des fameuses "lois +naturelles", tend au contraire à s'en affranchir, et la société, dont +l'idéal est la justice et non la nécessité, va graduellement se +rapprochant de ce type de raison et de liberté qui est l'être même de +l'homme. + +On voit, par ce rapide aperçu, que M. Oliveira Martins se rattache à +l'école appelé en Allemagne des _Katheder-Socialisten_: il doit beaucoup +aussi à ce puissant penseur, si mal compris encore aujourd'hui, P.-J. +Proudhon. Mais, socialiste doublé d'un historien, il projette sur toutes +ces questions une lumière qui les fait voir sous des aspects +nouveaux en dehors du terrain forcément étroit des écoles et des +discussions, et dans les larges perspectives de la réalité. Là est, à +mon avis, sa principale originalité. + +Je voudrais être bref; mais je dois pourtant dire encore quelque chose +des deux ouvrages (_Historia de Portugal_ et _Portugal contemporaneo_), +qui M. Oliveira Martins a consacrés à l'histoire de notre pays, et qui +se rattachent à la _Bibliotheca_, plutôt qu'ils n'en font partie. A +première vue, ces livres semblent ne devoir interesser que les seuls +Portugais; on verra qu'ils ont une portée bien plus générale. + +Le Portugal contemporain est une énigme que personne en Europe ne +comprend et dont, même chez nous, bien peu de gens savent le mot. On +cite généralement le Portugal comme un modèle des petits pays libres et +sages: pas de révolutions ni de luttes de classes; la paix, le +fonctionnement régulier du régime parlamentaire; on l'oppose souvent à +l'Espagne, périodiquement convulsionée. Et pourtant ce pays modèle +est--la Turquie exceptée--le plus mal administré qui soit en Europe. +Après 50 ans de paix, sa dette publique est une des plus écrasantes et +elle s'accroît tous les jours, car le budget portugais se solde +régulièrement en déficit. L'esprit publique est nul en dépit d'une +multitude de journaux ordinairement éphémères et tous plus insignifiants +les uns que les autres, et la politique est devenue l'apanage, de haut +en bas et de droite à gauche, d'une classe de gens à peu près ignares et +tenus généralement en estime médiocre. Quant à l'armée, le moins qu'on +en puisse dire est qu'elle est aussi fantastique que coûteuse, +tandis que l'instruction populaire est lamentable et que l'enseignement +supérieur (a l'excepction de deux ou trois écoles spéciales) est +souverainemente pedantesque ou vide[1]. Le seul sentiment +national un peu perceptible est une espèce de haine sourde et +instinctive contre l'Espagne, qu'on ne connaît pas, et, dans les classes +cultivées, l'admiration béate de tout ce qui est français, qu'on suige à +tort et à travers, dans les lois, les moeurs, la litterature et la +langue même, qui va s'adultérant de plus en plus. + +Voilà, on en conviendra, pour une nation réputée "le modèle des petits +pays sages et libres", des aspects singulièrement imprévus! + +La raison de ce remarquable phénomène de pathologie sociale est que +Portugal est la seule nation en Europe _qui soit réellement vieille et +caduque_. On peut lui appliquer les constitutions, les lois, les +règlements et les phrases qu'on voudra; rien n'y fait, car il n'y a pas +de stimulants pour la décrepitude. Elle acceptera les libertés comme les +coups, les constitutions comme les épidemies, avec le calme indifférent +de l'insensibilité et de l'inconscience. De là sa paix profonde et son +étonnante sagesse; de là aussi un irrémédiable affaissement. Les +contradictions sans nombre qui présente notre état social, politique +et intellectuel, et qui déroutent l'observateur (pas un voyageur en +Portugal n'a compris ce pays), n'ont pas d'autre raison. Les mots ne +répondent plus aux choses, et les meilleurs lois ne sont que de petits +chiffons de papier emportés de France. C'est un système de mensonge naïf +et inconscient. La réalité, c'est cet affaissement irrémédiable d'un +organisme national arrivé à l'extrême limite de ses forces vitales. + +L'étiologie historique de ce cas remarquable a été faite, pour la +première fois, et supérieurement, par M. Oliveira Martins, dans son +_Historia de Portugal_, tandis que son _Portugal Contemporaneo_ fait +toucher du doigt les contradictions incurables de la situation actuelle, +issue, non de la raison consciente e d'un effort viril de toute la +nation, mais des illusions plus au moins généreuses d'un petit nombre de +révolutionnaires et de l'atonie des masses, sur lesquelles on faisait +cette expérience doctrinaire: _in anima vili_. On y apprend à connaître +le _quid_ spécial de la Révolution portugaise de 1834, la fatalité qui y +menait et qui changeant tout à coup d'aspect, allait présider aux +convulsions d'abord, puis aux mécomptes, aux désillusions, aux compromis +lâches, et finalement au marasme actuel. Le _Portugal Contemporaneo_ est +l'histoire cruelle de cet avortement. L'auteur y fait, pièces en main et +pas a pas, le procès de ce libéralisme bourgeois, en même temps abstrait +et utilitaire qui, après 50 ans de domination incontestée, aboutit à une +situation inextricable et de la débâcle imminente. Comme description +détaillée d'un cas de pathologie sociale, ce livre, qui, sous d'autres +rapports, n'interesse que les Portugais, peut offrir un intérêt +spécial à toux ceux qui s'occupent, en hommes de science et en +philosophes, des choses de la société. + +Les causes premières de cette maladie profonde à laquelle succombe +actuellement la nation portugaise ont été mises en lumière par M. +Oliveira Martins, dans son _Historia de Portugal_. + +Em 1580, après la catastrophe d'Alcacer-Kibir, le Portugal était +réellement mort. L'oeuvre féconde et glorieuse de sa vie historique +était accomplie; mais l'ouvrier héroïque gisait exténué. L'application +en grand, pendant trois quarts de siècle, d'un faux système +d'exploitation coloniale avait ruiné le pays et troublé profondement sa +constitution sociale: le jésuitisme, d'un autre côté, avait épaissi ou +perverti son intelligence, brisé son ressort moral, faussé son libre +génie, et, en étouffant tous les germes de l'esprit moderne que la +Renaissance avait si abondamment semés, paralysé tout développement +ulterieur et tué l'avenir. Philippe II, en réunissant le Portugal à la +couronne d'Espagne, n'a donc fait que cueillir un fruit mûr. L'histoire +du Portugal aurait dû finir à cette époque-là. La restauration nationale +de 1640 a été un fait en grande partie artificiel, possible seulement +par l'abbatement de l'Espagne, qui avait perdu sa force d'attraction. + +Le nouveau Portugal, qui commence à cette date-là, n'a rien de l'autre, +rien de sa force noble, de son hardi génie. Ce n'est qu'un triste +bâtard, un être malingre et malvenu, le produit artificiel de la +diplomatie, que son grand ami, l'Anglais hérétique, protège, rudoye, +amuse et exploite. De sa seule force, il ne tiendrait pas debout: il +est donc juste qu'il paye celui qui le soutient. Il le payera des +restes de son noble héritage, de ses colonies, qui s'en iront l'une +après l'autre grossir l'empire de la nouvelle reine des mers; il le +payera encore en traités de commerce, qui le ruineront au profit de son +loyal protecteur. Cela s'appella la glorieuse restauration portugaise de +1640--oeuvre néfaste entre toutes, qui démembra l'Espagne et compromit +pour des siècles, peut-être pour toujours, l'avenir de la peninsule +ibérique. + +Mais, à côté de l'Anglais hérétique, le jésuite aussi avait travaillé à +cette oeuvre glorieuse: il reçut sa paye. On lui abandonna +complètement l'éducation, l'âme de la nation. Le Portugal a été, pendant +deux siècles, plus encore que le Paraguay, le véritable paradis des +jésuites. Leur produit spécial, leur oeuvre de prédilection, le cagot, +y arriva à la plus merveilleuse perfection. Le cagotisme a été +véritablement le trait, le signe particulier du nouveau Portugal: c'est +par là qu'il acquit une physionomie. Comme état de psychologie +collective, il survécut à la destruction des jésuites, il a traversé les +révolutions: il s'est accommodé du libéralisme, et, chose surprenante, +de l'incrédulité elle-même! Il dure toujours, et la situation trouble, +maladive, énigmatique d'aujourd'hui est avant tout son oeuvre. + +Voilà, aussi brièvement que possible, la vérité sur le Portugal moderne. +Cette vérité n'était pas inconnue avant les livres de M. Oliveira +Martins: on la pressentait plus au moins, en tâtonnant à travers le +brouillard d'illusions séculaires et officielles: quelques-uns même +avaient osé la formuler. Mais, seuls, les livres de M. Oliveira +Martins l'on déduite historiquement, c'est-à-dire, en présentant +nettement les faits et en les ramenant à leurs causes. Dans ces livres +si vivants, si incisifs, la forme est narrative et pittoresque, le fond +est philosophique. C'est de la très ferme étiologie historique. En +suivant l'histoire à travers la variété animée des scènes et des +personnages, le lecteur s'aperçoit tout-à-coup qu'on lui a fait une +démonstration en règle. Ce n'est pas là une des moindres originalités de +la manière de M. Oliveira Martins. + +Du reste, pour nous autres, tout est original dans ces livres, l'idée +comme la forme, le point de vue critique comme la manière réaliste. Le +Portugal, depuis sa Révolution, n'avait encore eu qu'un seul homme +supérieurement doué et fortement préparé pour le travail de l'histoire: +A. Herculano. Mais, outre que Herculano ne s'est jamais occupé que de +l'histoire anterieure à 1580 (qu'on peut considerer comme l'histoire +d'une autre nation) il était trop dogmatique dans ses vues et trop raide +et guindé dans son estyle, pour qu'on puisse trouver dans ses livres la +vie et la philosophie, c'est-à-dire l'âme et la forme de l'histoire. Son +oeuvre puissant d'effort et de savoir, souvent éloquente, a suivi +toutefois une direction trop particulière. + +Pour les autres qui se sont occupés de l'histoire moderne du Portugal, +Rebello da Silva, en dépit de son admirable talent litteraire, n'a été +qu'un médiocre rhéteur: Pinheiro Chagas n'est qu'un compilateur dénué de +toute critique et même de toute idée. Ceux qui ont osé affronter les +livres de M. Theophilo Braga ont eu quelquefois la consolation d'y +rencontrer l'ombre d'une idée neuve et juste et quelques aperçus hardis +ou ingénieux, trop vite noyés dans le fatras babylonien d'une +érudition en délire. Les ouvrages historiques de M. Oliveira Martins +restent donc originaux au premier chef et sans précédents dans nôtre +litterature. Dans les litteratures étrangères, ils se rattachent surtout +à Michelet et Carlyle--avec moins d'imagination et d'intention poétique, +mais avec plus de fermeté et de largeur dans les vues. + +Vous allez croire maintenant que l'homme audacieux qui a osé dire à son +pays les vérités les plus cruelles et les plus humiliantes pour sa +vanité, doit être chez nous une espèce de paria, un lépreux tenu à +distance par le monde officiel, quelque chose comme Proudhon l'a été en +France sa vie durant? + +Rassurez-vous. M. Oliveira Martins est membre de l'Académie Royale de +Lisbonne et de l'Institut universitaire de Coimbra. + +Il a vu un de ses livres, et non pas des moins sévères (_A circulação +fiduciaria_), couronné par cette même Académie Royale. Le monde officiel +le fête, le choye, l'aime de tout son coeur. Les ministres sont très +heureux quand il veut bien se charger de quelque travail qui demande +beaucoup de savoir et beaucoup de désinteressement. Je ne sache pas non +plus que ces terribles livres aient eu de contradicteurs. En un mot, il +ne tiendrait qu'a lui d'être l'homme du jour dans le pays qu'il a si +malmené. + +Etonnant, n'est-ce pas?--Pour qui sait comprendre, ce simple fait en dit +plus long que de gros volumes! + +1884. + + [1] Un seul fait suffira. A l'Ecole des hautes études litteraires + (_curso superior de lettras_) de Lisbonne, la chaire de litterature + ancienne est occupé par un monsieur qui ne ne sait pas un mot de + grec--et, chose plus curieuse encore, parmi les membres du jury de + concours qui l'a reçu (composé de professeurs du dit _Curso + superior_ et de membres délégués de l'Académie royale de Lisbonne), + _pas un seul non plus ne connaissait le grec_! + + + + +Oliveira Martins e o partido progressista + + +CARTA A SEBASTIÃO D'ARRUDA DA COSTA BOTELHO + + +Villa do Conde, 1 de agosto de 1885 + + _Meu Sebastião_ + +....................................................................... + +Mando-te esses numeros da _Provincia_ para veres o caracter imponente, +que teve a manifestação do Porto e o tom a que o O. Martins tem sabido +levantar o Progressismo, que tão desafinado andava. Verás tambem que +elle não renegou, nem se desdiz. A bandeira que desfralda é a do +Socialismo, como até aqui. Convencido como está, e estão todos os que +sabem observar os factos, da incapacidade actual, (e que o será ainda +por muito tempo), do partido republicano para fundar seja o que fôr e +vendo ao mesmo tempo a imminencia de uma crise pavorosa, o O. Martins +fez acto verdadeiro de patriotismo, procurando aquelles elementos, que +bem dirigidos e transformados, poderão por ventura fornecer ainda um +ponto de apoio no meio do naufragio. Um homem como O. Martins, não dá um +passo destes, nem toma posição de tamanha responsabilidade, sem ter +visto bem as cousas e estudado o melhor caminho. Tem sido approvado por +muita da melhor gente. O O. Martins é o unico homem politico superior +que temos, pois reune a um elevado caracter um saber vasto e não só +theorico mas technico e um poder de trabalho incomparavel. Quando um tal +homem dá um passo, como elle deu, o dever da gente seria, ainda quando o +não approve, é não o estorvar na sua tentativa, reconhecendo a pureza +das suas intenções. Os republicanos, porém, cobriram-n'o de insultos e +imputações as mais baixas--e no dia seguinte o que fizeram? foram +alliar-se com os regeneradores, para combater o movimento por elle +iniciado, movimento que pode falhar, mas que é sem duvida sério e +exprime o sentir nacional, pelo menos neste ponto de querer acabar com +essa alliança da burocracia com a finança, que é a fatalidade do partido +regenerador, origem da corrupção politica e de um systematico +desgoverno. Destruir essa oligarchia burocratico-financeira, que nos +domina e desmoralisa, ha tantos annos, e impedir por meio de leis +convenientes que ella possa de futuro tornar a formar-se, parece-me +coisa muito mais importante do que uma simples alteração no caracter do +poder executivo, cousa que deve ficar para depois, pois só as reformas +economicas e financeiras tornarão aquella outra puramente politica, não +só possivel, mas fecunda e duradoura. Isto tanto mais, quanto está +imminente a bancarrota e uma tremenda crise social; a proclamação da +Republica, não só não remediaria esses grandes males, (pois que +influencia póde ter uma reforma só politica nos elementos +financeiros e economicos?) mas traria mais uma complicação e +elemento de desordem, como ainda em 1873 se viu em Hespanha. Convém, +pelo contrario, addiar essa questão, visto que não é urgente, e não +complicar com ella a outra, urgentissima. É de boa politica, como é de +boa logica, dividir as questões para as resolver, e começar por +aquellas, que resolvidas, podem facilitar a resolução das outras. +Impedir que tudo venha a baixo parece ser a cousa mais urgente. Depois +reformar a constituição economica, de modo a impedir que um tal estado +de cousas possa vir a repetir-se. E só depois organisar a constituição +politica, tanto no que toca ao legislativo, como ao executivo, de modo a +dar estabilidade e duração aos progressos realisados. Pódes crêr que +estas são hoje, como sempre foram, as aspirações do O. Martins, que +continúa sendo tão bom socialista e republicano como era dantes. Eu, por +mim, approvo-o inteiramente na marcha que vae seguindo, e desejava que +toda a gente séria lhe désse o apoio indispensavel, ainda aos maiores +politicos, para fazerem qualquer cousa. Se todos começarem a +hostilisal-o, é claro que nada poderá fazer. Virá a terra, e com elle a +ultima esperança deste pobre Portugal. Então teremos o diluvio. + +Adeus, meu Sebastião. Do teu de c. + + _A. de Q._ + + + + +INDICE + +Os Lusiadas, ensaio sobre Camões e a sua obra, em relação á sociedade +portugueza e ao movimento da Renascença, por J. P. de Oliveira Martins. +Porto, 1872 (Folhetim do _Primeiro de Janeiro_) ... 5 + +Theoria do socialismo, evolução politica e economica das Sociedades da +Europa, por J. P. de Oliveira Martins. Lisboa, 1872 (Artigos do _Diario +Popular_) ... 18 + +Le Portugal contemporain--Oliveira Martins (Estudo publicado na _Revue +Universelle et Internationale_). Paris, 1884 ... 39 + +Oliveira Martins e o partido progressista, carta a Sebastião de Arruda +da Costa Botelho, testamenteiro do grande poeta-philosopho ... 50 + + + + +NOTA + + +O presente opusculo constitue a mais respeitosa homenagem dos +testamenteiros de Anthero de Quental á memoria do glorioso escriptor +Oliveira Martins. + + +PREÇO 300 réis + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of Oliveira Martins, by Anthero de Quental + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OLIVEIRA MARTINS *** + +***** This file should be named 31654-8.txt or 31654-8.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/1/6/5/31654/ + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. 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Companhia Nacional Editora"> + <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=iso-8859-15"> + <style type="text/css"> + body{margin-left: 10%; + margin-right: 10%; + } + .pn { + text-indent: 0em; + position: absolute; + left: 92%; + font-size: smaller; + text-align: right; + color: silver; + } + #corpo p{text-align: justify; text-indent: 1em;} + h2 {text-align: center; font-size: 1.2em; margin-top: 4em;} + #corpo p.sinopse {margin: 0; font-size: small; text-indent: 0;} + hr {border: 0; border-top: solid 1px #000; width: 90%;} + #corpo .rodape p{ + font-size: 0.8em; + margin: 2em; + } + </style> +</head> + +<body> + + +<pre> + +The Project Gutenberg EBook of Oliveira Martins, by Anthero de Quental + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: Oliveira Martins + +Author: Anthero de Quental + +Release Date: March 15, 2010 [EBook #31654] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OLIVEIRA MARTINS *** + + + + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + + + + + +</pre> + +<p> </p> + +<div style="text-align:center;"> + +<div style="border: solid 2px #000;"> +<p style="font-size: 1.2em;">ANTHERO DE QUENTAL</p> + +<hr style="width: 30%;"> + +<p style="font-size: 2em;">O<small>LIVEIRA</small> M<small>ARTINS</small></p> + +<hr style="width: 50%;"> + +<p style="font-size: 0.8em;">O critico litterario—O economista—O historiador—O publicista—O politico</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p>LISBOA <br> +T<small>YPOGRAPHIA DA</small> C<small>OMPANHIA</small> N<small>ACIONAL</small> +E<small>DITORA</small> <br> +<em>50, Largo do Conde Barão, 50</em><br> +1894</p> +</div> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p style="font-size: 1.2em;">OLIVEIRA MARTINS</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p style="font-size: 1.2em;">ANTHERO DE QUENTAL</p> + +<hr style="width: 30%;"> + +<p style="font-size: 2em;">O<small>LIVEIRA</small> M<small>ARTINS</small></p> + +<hr style="width: 50%;"> + +<p style="font-size: 0.8em;">O critico litterario—O economista—O historiador—O publicista—O politico</p> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p>LISBOA <br> +T<small>YPOGRAPHIA DA</small> C<small>OMPANHIA</small> N<small>ACIONAL</small> +E<small>DITORA</small> <br> +<em>50, Largo do Conde Barão, 50</em><br> +1894</p> +</div> + +<p> </p> + +<div id="corpo"> +<h2><a name="SECTION0001000">Os Luziadas, ensaio sobre Camões a +sua obra, em relação á sociedade portugueza e ao movimento da Renascença, por +J. P. de Oliveira Martins. Porto, 1872.</a></h2> + +<p>Se a escóla ethnologica está representada, entre os escriptores novos, pelo +sr. Theophilo Braga, a escóla social e historica—a unica, talvez, a que +propriamente se devêra dar o nome de philosophica—acaba de achar igualmente +entre nós um digno representante num escriptor moço e do maior futuro, o sr. +Oliveira Martins, que num livro recente estudou, a proposito de Camões (e para +nos explicar Camões), a litteratura portugueza do seculo <small>XVI</small>, no +ponto de vista largo e comprehensivo, ao mesmo tempo politico e psychologico, +que caracterisa esta ultima escóla.</p> + +<p>Neste ponto de vista, a litteratura de um povo, considerada como um todo +symetrico, uma obra gigantesca e collectiva, apresenta-se como a expressão do +seu espirito nacional, determinado não por tal ou tal elemento primitivo e, por +assim<span class="pn">{6}</span> dizer, physiologico, mas pelos elementos +complexos, uns fataes outros livres, uns criados outros herdados, cuja synthese +constitue a <em>idéa</em> da sua nacionalidade—raça, instituições, religião, +tradição historica e vocação politica e economica no meio dos outros povos. A +idéa nacional, na sua evolução, determina gradualmente o que se póde chamar o +temperamento da nação; e, se esta surda fermentação se manifesta em tudo, nos +seus actos e nos seus pensamentos, revela-se sobretudo na sua imaginação, isto +é, no seu ideal, cuja expressão mais livre é a arte e a litteratura. Nesta +invisivel circulação da seiva interior ha periodos, periodos de revolução, de +progresso, de retrocesso, de incubação ou de plenitude de forças: a estes +correspondem invariavelmente os periodos artisticos e litterarios, com suas +variações de intensidade, lenta formação de escólas, morbidos estacionamentos, +subitas e inflammadas florescencias. E, como nesta vegetação collectiva, cada +ramo, cada folha, cada fructo, se alimenta com a seiva commum e tem uma +vitalidade proporcional á força que trabalha o grande tronco, o espirito +individual acompanha o espirito nacional nas suas evoluções, gradua pela delle +a sua intensidade: a sua liberdade interior tem por limites, realisando-se, as +condições do meio em que se desenvolve, e o genio do artista, do poeta, ainda +quando protesta e se revolta, é sempre <em>adequado</em> ao genio do seu povo e +da sua época. É por aqui que a historia litteraria se liga á philosophia da +historia, ou antes, que faz parte della. As grandes épocas litterarias +coincidem com as épocas de plenitude<span class="pn">{7}</span> do sentimento +nacional, aquellas em que esse sentimento, tomando consciencia de si, se revela +em obras harmonicas e complexas, que são como que o fructo definitivo da lenta +elaboração das instituições, dos costumes, dos pensamentos. Reaes e juntamente +ideaes, essas obras supremas dizem-nos ao mesmo tempo o que um povo +<em>foi</em> e o que <em>quiz ser</em>, descobrem-nos a sua <em>aspiração</em> +intima e marcam os <em>limites</em> dentro dos quaes lhe foi dado realisal-a. +São o commentario moral das revoluções politicas e sociaes, e como que os +annaes da consciencia nacional: e, para a philosophia, é na consciencia que a +historia encontra a sua explicação definitiva e a sua final justificação.</p> + +<p>O que diz Camões a quem, depois de o ter lido com olhos de homem de gosto, o +relê com olhos de philosopho? Camões, responde o snr. Oliveira Martins, diz-nos +o <em>segredo</em> da nacionalidade portugueza. Houve, com effeito, uma +nacionalidade portugueza—por mais estranha que esta affirmação nos pareça, a +nós portuguezes do seculo <small>XIX</small>, que não atinamos a encontrar no +presente uma <em>causa vivendi</em>: houve uma razão de ser tanto para as +instituições como para os individuos, e uma idéa nacional, espalhada como a +alma collectiva por todo este corpo, então vivo e agil. E não só houve uma +nacionalidade portugueza, mas essa nacionalidade, superior aos impulsos cegos +da raça e á fatalidade da geographia, produziu-se como uma obra do esforço e da +vontade, não resultado de obscuros instinctos primitivos, como um facto +politico e moral, não como um facto ethnologico. Quando em Hespanha não havia +ainda senão catalães, castelhanos, leonezes<span class="pn">{8}</span> e +navarros; em França provençaes, gascões, borguinhões, bretões; em Allemanha +suabos, austriacos, saxões, hanoverianos; em Italia tantos pequenos estados +rivaes quantas cidades, e não se fazia bem idéa do que fosse ser hespanhol, +francez, allemão, italiano, porque estas palavras França, Hespanha, Allemanha, +Italia designavam apenas vagas agrupações naturaes e não grupos organisados—em +Portugal havia só portuguezes, e ser portuguez tinha uma significação definida +e precisa. Este é o grande facto, diz o sr. Oliveira Martins, que faz delle o +seu ponto de partida: daqui, a cohesão politica da nação; daqui a sua +physionomia moral. Essa cohesão é a unidade; essa physionomia é o patriotismo. +O patriotismo, pondera acertadamente o sr. Oliveira Martins, é cousa muito +distincta do amor da terra: e o patriotismo, como os portuguezes dos seculos +<small>XV</small> e <small>XVI</small> o conceberam, foi um phenomeno moral +quasi unico na Europa de então, e que os tornou muito mais parecidos com os +romanos antigos do que com os povos seus contemporaneos. O patriotismo é uma +idéa abstracta, que excede a capacidade toda sentimental da raça; o instincto +naturalista da raça dá o amor da terra; não vai mais além: só a idéa nacional +póde dar o patriotismo, comprehendido á romana e á portugueza. O Cid batalha +mais de uma vez contra os castelhanos, ao lado dos arabes; o condestavel de +Bourbon vira a sua espada aventureira contra a França que o viu nascer; nem por +isso deixa o Cid de ser um typo de bravura idealisado pelos hespanhoes, e o +condestavel de Bourbon um leal cavalleiro para todos os cavalleiros de França; +mas<span class="pn">{9}</span> os Pereiras, combatendo ao lado dos castelhanos +em Aljubarrota, são malditos, <em>arrenegados</em>; e, mais tarde o Magalhães +será <em>portuguez no feito, porém não na lealdade</em>: apostataram da idéa +nacional. Eis a grande differença. Esta noção do patriotismo cria uma ordem de +sentimentos particulares dos individuos para com a nação, um modo de ser moral +peculiar. É o dever patriotico, como o comprehenderam, em Roma, Fabricio, +Regulo, Catão, em Portugal Castro, Albuquerque—o dever patriotico, cuja +expressão suprema é o heroismo. Leia-se a historia da Europa até ao seculo +<small>XVI</small>: abundam os <em>bravos</em>, mas difficilmente se +encontrarão os <em>heroes</em>, segundo o typo magnanimo que a antiguidade +realisou, e que de novo e no seu ponto de vista realisou Portugal durante os +seculos <small>XV</small> e <small>XVI</small>. No <em>peito illustre +lusitano</em> havia então alguma cousa de grande e transcendente, que impellia +a nação para um destino extraordinario e suscitava no meio della os heroes, que +deviam servir a idéa nacional com a abnegação tenaz e superior com que se serve +uma idéa religiosa. É que o patriotismo é uma especie de religião civil. Foi +por essa religião que, durante tres seculos, nos erguemos no mundo, para +realisar um sonho gigantesco e quasi sobre-humano: foi por ella tambem que +cahimos exangues e desilludidos, porque a realidade faltou ao sonho, porque +todo o sonho, com o seu idealismo, se exalta primeiro, perturba depois, +transvia, endoudece aquelles que envolve nas suas nevoas phantasticamente +luminosas, mas sempre enganadoras.</p> + +<p>A época nacional portugueza, por excellencia, é o seculo <small>XVI</small>. +Tudo concorre então para dar ao<span class="pn">{10}</span> espirito dos +portuguezes aquelle summo grau de tensão, que produz os grandes movimentos +nacionaes. A nacionalidade rompe com impulso irresistivel os seus limites +tradicionaes, transborda fremente como um rio caudaloso, e affirma-se na sua +plenitude pelas descobertas e pelas conquistas. Dentro, a sua força é o +resultado da sua concentração: pela reforma dos foraes, pela monarchia +absoluta, pela expulsão dos judeus, attinge o maximo de unidade politica, +social, religiosa, isto é, o maximo de poder sobre si mesma. Esta energica +cohesão depura o sentimento nacional, dá-lhe uma segura consciencia de si, e +leva-o áquelle grau de tensão em que o patriotismo, exaltando-se, se transforma +numa especie de heroismo universal. A nação faz-se heroe: o heroismo é a sua +atmosphera ordinaria, e todos participam mais ou menos desse contagio +sublimador. Daqui, uma concepção particular da vida social, do direito, do +dever, tanto para a nação como para os individuos. <em>Ser portuguez</em> é +alguma cousa de especial, um typo <em>sui generis</em> de virilidade e nobreza, +que todos procuram realisar, e que a litteratura idealisa, de que ella se +inspira na phase nova em que então entra. Com effeito, a esta evolução moral +corresponde uma evolução litteraria. Á escóla provençal-castelhana, lyrica, +aventureira e romanesca, succede a grave escóla italiana, com a feição nova que +o espirito portuguez lhe deu, adoptando-a, isto é, moral e épica. Ao trovador +Bernardim Ribeiro, ao popular Gil Vicente succedem Sá de Miranda e Ferreira, +dous romanos. O velho typo cavalheiresco, phantasioso e sentimental, +empallidece diante desse outro que surge,<span class="pn">{11}</span> nobre e +digno, quasi severo, o homem do dever, não da sensibilidade, que João de +Barros, Ferreira e Miranda vão levantando, e que Camões virá collocar sobre o +sublime pedestal épico.</p> + +<p>Este typo, o verdadeiro typo portuguez do seculo <small>XVI</small>, como se +revela nos <em>Lusiadas</em>, não é com effeito uma mera invenção do genio de +Camões: é uma genuina criação nacional, um ideal do sentimento collectivo, que +se foi gradualmente formando e depurando, até encontrar no grande poeta quem +lhe désse uma expressão definitiva. É por isso mesmo que elle domina, de toda a +sua altura, o pensamento e a obra de Camões. O que o poeta canta é o heroismo +portuguez: <em>o peito illustre lusitano</em>: e todo o seu poema se resume +nisto, como nesse poema se resume toda a vida moral portugueza durante um +seculo. A razão intima dos acontecimentos, dos costumes, das opiniões +encontra-se alli: explicam-se por elle, e só elles tambem o explicam +completamente. O poema e a sociedade são, por seu turno, texto e glosa que +mutuamente se commentam.</p> + +<p>Neste ponto de vista, historico e psycologico, não no ponto de vista +meramente litterario de uma esteril poetica de convenção, é que os +<em>Lusiadas</em> devem ser estudados e comprehendidos—e cabe ao sr. Oliveira +Martins a gloria de ter sido o primeiro a fazel-o, a gloria de ter +<em>commentado</em> philosophicamente os <em>Lusiadas</em>. A esta luz tudo se +explica na concepção do poema e na substancia moral delle: percebe-se a razão +deste estranho phenomeno, estranho e unico, do apparecimento de um verdadeiro +poema epico nacional em plena idade moderna.<span class="pn">{12}</span></p> + +<p>Isto em quanto á concepção. Em quanto, porém, a certa ordem de sentimentos, +que, no ponto de vista épico, são secundarios, mas que occupam um grande logar +no poema, para os comprehender faz-nos o sr. Oliveira Martins considerar outro +lado da physionomia tão complexa de Camões e da sua época. Com effeito, se +Camões é um portuguez do seculo <small>XVI</small>, é ao mesmo tempo um artista +da Renascença; daqui todo um lado dos <em>Lusiadas</em>, que excede a idéa +nacional, e por onde este profundo poema se liga, não já á vida necessariamente +estreita de um simples povo, mas ao vasto movimento do espirito humano nos +tempos modernos. Sem este lado, a significação dos <em>Lusiadas</em> seria +meramente nacional e local, não europêa e universal: teriam só um valor +historico e não philosophico tambem. Mas Camões, portuguez pelo caracter e pelo +coração, era pela intelligencia mais do que portuguez sómente. Respirava a +atmosphera subtil e vivificante da Renascença: no seu vasto espirito, como no +dos grandes artistas desse tempo, havia um lado mysterioso e profundo que se +virava, não para o passado ou para o presente, mas para o illimitado futuro, +presentindo já a revolução moral dos seculos <small>XVIII</small> e +<small>XIX</small>. Se Camões, como portuguez é patriota e heroico, como homem +da Renascença é pantheista; pantheista platonico e idealista, já se vê, como +Miguel Angelo, Leonardo de Vinci, Shakespeare. Portuguez, exalta os feitos por +onde o seu povo conquista entre as nações um logar proeminente: homem da +Renascença, sente e interpreta a natureza com um naturalismo impregnado de +idealidade, que é mais ainda o presentimento<span class="pn">{13}</span> de um +mundo moral novo, do que uma imitação da antiguidade pagan. O sentimento +pantheista da natureza, sentimento todo moderno, e que devia mais tarde chegar +á plenitude em Rousseau, Goethe, Hugo, appareceu pela primeira vez em Camões. +Daqui, o caracter do seu espanto em face dos grandes phenomenos maritimos; +daqui, a concepção do Adamastor; daqui, o sensualismo da primeira parte do +canto <small>XI</small> e o idealismo da ultima. É por este lado que Camões +toma logar entre os grandes espiritos, os <em>Lusiadas</em> entre as grandes +obras dos tempos modernos. A imaginação prophetica do poeta anticipa tres +seculos na historia psycologica da humanidade. Com todos estes elementos, uns +portuguezes, outros europeus, uns locaes, outros universaes, recompõe o sr. +Oliveira Martins a physionomia complexa de Camões e dos <em>Lusiadas</em>, com +uma lucidez e segurança de critica verdadeiramente surprehendentes para quem +considerar a completa novidade do seu trabalho. A sua luminosa synthese abraça +o poeta, a obra e a época: e pela épocha, pelo poeta e pela obra faz-nos sentir +a intima realidade da nação e a sua razão de ser historica. E nessa mesma +synthese comprehende-se tambem a sua decadencia; triplice decadencia, politica, +moral, litteraria. Como? pela decadencia da idéa nacional. Com effeito, o +patriotismo heroico do Portugal do seculo <small>XVI</small> continha em si +mesmo os germens da propria dissolução. Era grande, mas não era justo: ora nada +dura no mundo senão pela justiça. Tinha fatalmente de se corromper essa +orgulhosa idéa nacional, fundada na violencia da conquista, na intolerancia +religiosa<span class="pn">{14}</span> e no despotismo politico. Os vicios +interiores do organismo nacional appareceram bem depressa: appareciam já no +tempo de Camões: nos <em>Lusiadas</em> encontram-se de vez em quando, estrophes +sombrias, que são como um lugubre <em>cras enim moriemur</em> lançado no meio +das alegrias daquelle festim heroico. Era o futuro velado e lutuoso que o poeta +entrevia num deslumbramento prophetico. A nação estava, com effeito, +condemnada. O heroismo que tem de durar, lança as suas raizes na região mais +inalteravel, mais incorruptivel da consciencia humana, e as do nosso não +chegaram lá: foi uma especie de <em>sezão nacional</em>; não foi um acto +reflectido, filho da liberdade moral, um esforço supremo pela justiça; foi +apenas um egoismo sublime. Por isso, martyres da propria obra, a nossa quéda +foi cheia de tristeza e confusão, nem nos ficou no rosto a serenidade luminosa +dos verdadeiros martyres.</p> + +<p>As paginas austeras em que o sr. Oliveira Martins estabelece esta distincção +entre o heroismo da consciencia e o da fatalidade, e mostra Portugal condemnado +por aquillo mesmo que fizera a sua virtude e a sua grandeza, são das mais +gravemente pensadas que se teem escripto na nossa lingua. É a verdadeira +philosophia da historia aquella sua, que reduz e subordina toda a actividade +humana á consciencia e á justiça. A injustiça da idéa nacional, como os +portuguezes então a conceberam, corrompeu gradualmente as instituições, +infiltrou-se nos espiritos e perverteu os costumes: a sociedade, minada +interiormente, vacillou, em despeito do esplendor mentiroso que exteriormente a +vestia, e começou a desabar. O<span class="pn">{15}</span> sr. Oliveira Martins +desenhou com mão segura e vivissimo colorido o quadro das implacaveis +realidades, que, produzidas pelo heroico idealismo portuguez, se viraram contra +elle, o viciaram e acabaram por destruil-o. A nação, atacada deste modo nos +seus orgãos mais vitaes e na mesma alma, que podia produzir no mundo do +espirito, da arte, da litteratura? A decadencia social e moral tinha +necessariamente de corresponder a decadencia litteraria. Um desregramento +doentio das imaginações privadas de ideal, depois um estreito classicismo e uma +poetica de academias, succederam á livre e fecunda expansão do genio portuguez +no mundo do sentimento e da phantasia. A idéa nacional levou comsigo para a +cova o segredo das criações poeticas. Do seculo <small>XVI</small> até hoje não +produziu Portugal uma unica obra artistica ou litteraria verdadeiramente +nacional. De vez em quando, nalguns momentos excepcionaes, o genio dalguns +homens tem-se levantado como um protesto, e tem-se visto ainda uma ou outra +obra viva. Mas essa inspiração é toda individual, não é nacional: é um producto +natural que póde demonstrar que a raça não morreu com a nacionalidade, não é +filha de um sentimento commum e como que organico da sociedade portugueza. A +decadencia nacional é o grande facto inexoravel da nossa historia, vai em tres +seculos: a decadencia litteraria é uma fórma della, nada mais.</p> + +<p>Decadencia irremediavel? pergunta o sr. Oliveira Martins, nas ultimas +paginas do seu livro. Não! responde-lhe a philosophia revolucionaria. A nossa +renovação moral e litteraria será possivel<span class="pn">{16}</span> no dia +em que, pela reforma das instituições sociaes, por uma nova e melhor +comprehensão da justiça, comece outra vez o espirito a circular neste grande +corpo, mais inerte ainda do que acabado, volte a animal-o uma alma, um ideal +collectivo. Então Portugal terá de novo uma razão de ser, e a idéa nacional, +mais brilhante e mais quente depois do seu eclipse secular, fará rebentar outra +vez fructos e flores deste chão endurecido sim, mas debaixo do qual ha ainda +(embora a grande profundidade) fontes vivas em abundancia. As grandes acções +serão outra vez possiveis, e um melhor e mais alto heroismo; por elle serão não +só possiveis, mas quasi inevitaveis os grandes pensamentos poeticos. A +renovação litteraria de Portugal é correlativa com a sua renovação social e +está dependente della: é a conclusão do livro do sr. Oliveira Martins, +conclusão que todos devemos aceitar, não como uma vaga esperança, mas como uma +verdade philosophica cuja realisação não depende senão do nosso esforço, da +energia do nosso sentimento moral. Somos os operarios do nosso proprio destino, +e desde já as nossas mãos o vão aperfeiçoando: terá a fórma que lhe dermos.</p> + +<p>Neste trabalho solemne da renovação nacional, grande é a tarefa que está +talhada para a geração nova, e immensa a sua responsabilidade! Estará ella, +pela intelligencia e pelo coração, pela sciencia e pela virtude, á altura desta +obra austera e formidavel? Muitos o duvidam, vendo-lhe no rosto uma pallidez de +mau agouro... Não me cabe a mim decidil-o: direi sómente que (quaesquer que +tenham de ser os nossos destinos) para<span class="pn">{17}</span> darem +testemunho das intenções sérias de uma parte consideravel da nossa geração, do +seu espirito renovador, da sua aspiração a uma melhor sciencia, bastarão em +todo o tempo obras como a <em>Historia da litteratura portugueza</em>, do sr. +Theophilo Braga, e o <em>Ensaio sobre Camões</em>, do sr. Oliveira Martins.</p> + +<p> </p> + +<p>9 de maio de 1872.<span class="pn">{18}</span></p> + +<p> </p> + +<h2><a name="SECTION0002000">Theoria do socialismo, evolução +politica e economica das sociedades da Europa: por J. P. de Oliveira Martins. +Lisboa, 1872.</a> </h2> + +<p> </p> + +<h2><a name="SECTION0002100">I</a> </h2> + +<p>Pelo assumpto do livro, pela maneira porque nelle se resolvem as questões +que o assumpto envolve, e pela muita amizade, além da affinidade de crença +philosophica e politica, que me liga ao autor, estava eu obrigado a fallar +publicamente desta recente e por tantos lados notavel obra do sr. Oliveira +Martins. Se o não tenho ainda feito, contando o livro perto já de tres mezes +depois de publicado, é porque preoccupações de outra natureza, envolvendo +dispendio de tempo e de attenção para coisas bastante differentes, me teem +totalmente impedido. Agora mesmo, só lhe poderei consagrar uma rapida noticia, +expondo apenas a impressão geral, que uma primeira leitura, por varias +occasiões interrompida, me deixou, tanto dos defeitos como das sérias +qualidades, que avultam na <em>Theoria do Socialismo</em>.</p> + +<p>Comecemos pelos defeitos, e pelos pontos em<span class="pn">{19}</span> que +discordo (sem pretender por modo algum incluir estas divergencias no numero dos +defeitos) da maneira de vêr do autor. Depois, mais desassombrados, apreciaremos +o pensamento essencial da obra.</p> + +<p>Os defeitos são, me parece, exclusivamente de fórma e composição. Ha uma +idéa fundamental no livro, que determina uma linha logica, desenvolvendo-se sem +soluções de continuidade da primeira até á ultima pagina; ha, nos pontos que +essa linha percorre, uma successão natural correspondente ao encadeamento +normal dos principios e dos factos na sciencia e na historia. O que falta, +porém, é uma definição <em>cathegorica</em> da idéa geradora, e uma exposição +precisa e desenvolvida dos principios, de tal sorte que estes não se entrevejam +sómente, mas appareçam de facto como a <em>razão sufficiente</em> dos +phenomenos historicos e a elles <em>adequados</em>. É a esta falta que se deve +attribuir a difficuldade e obscuridade que encontram as intelligencias não +preparadas por uma conveniente educação philosophica (e são muitas, +desgraçadamente) em certas partes desta obra, aliás methodica e bem deduzida. +Quero com isto dizer que não é da idéa que provém a obscuridade, mas da +composição e do estilo. Bastava que o autor tivesse dado ás <em>theses</em>, +que precedem cada um dos seus capitulos, um desenvolvimento proporcional, em +vez de as encerrar em formulas, ás vezes um tanto algebricas, e que nas suas +exposições de principios <em>arejasse</em> um pouco o estilo, tornando-o mais +ductil e menos technico, para que as abstrações philosophicas se<span +class="pn">{20}</span> tornassem accessiveis ao simples senso-commum, a que se +reduz o criterio de 90 por cento dos leitores portuguezes.</p> + +<p>Faço estes reparos, não só para que as pessoas que não comprehenderam bem +certas paginas do livro do sr. Martins se convençam de que essa obscuridade +nada depõe contra a verdade e lucidez da idéa fundamental delle, como tambem +por entender que o estilo nas obras não litterarias, e até nas de sciencia +pura, não deve ser considerado como coisa accessoria e secundaria. Certamente +que não aconselho aos homens de sciencia que <em>façam estilo</em>; mas é que +tal conselho não o daria tambem aos literatos e aos poetas. Para mim, entre ter +bom estilo e <em>fazer estilo</em> ha uma differença essencial: ter bom estilo +significa ter o estilo proprio e conveniente das idéas que se expõem; <em>fazer +estilo</em> significa encobrir a falta de idéas com phrases redundantes e +apparatosas, com aquelles <em>persicos apparatus</em> que já Horacio queria +banidos dos festins e, com maior razão ainda, do discurso. Póde haver, e ha +effectivamente, bom estilo até nas sciencias mais rigorosas, naquellas a que os +espiritos vasios, que querem campar de poeticos, chamam aridas: ha bom estilo +em mathematica, por exemplo, e em chimica: Lagrange passa por ter escripto +algebra com uma elegancia e belleza verdadeiramente classicas; em chimica, gosa +hoje de igual reputação o illustre Wurtz. Mas deixemos isto, porque não é sobre +esthetica que me propuz escrever. Direi sómente que o sr. O. Martins nunca +<em>faz estilo</em>, exactamente porque tem muitas idéas;<span +class="pn">{21}</span> mas que, por não dispôr ás vezes convenientemente as +suas idéas, consoante os respectivos valores, <em>cum pondere, numero et +mensura</em>, deixa passar certas paginas, que, sem injustiça, podemos acoimar +por não terem bom estilo.</p> + +<p>Tomarei tambem nota de alguns pontos em que não concordo com o modo de vêr +do autor da <em>Theoria</em>. Não é que essas divergencias de opinião sejam +muito profundas, quero dizer, que versem sobre pontos essenciaes da doutrina do +livro: são, pelo contrario, exotericas, e versam exclusivamente sobre certas +apreciações historicas, indifferentes em grande parte á conclusão geral que o +autor tira da evolução das sociedades na Europa desde a época romana. Essa +conclusão é a minha tambem, como o leitor verá: e se tomo nota destas +divergencias, é porque não me apraz estar completamente de accordo com quem +quer que seja, maximamente com aquelles cuja intelligencia préso e respeito—e +desejo deixal-o registado. Custar-me-hia tanto não concordar em ponto algum com +o sr. O. Martins, como concordar em todos absolutamente. Espero que o leitor +comprehenderá, sem mais explicações, o que quero dizer.</p> + +<p>Discordo pois, da maneira porque o sr. Martins encara, na sua generalidade, +a Idade-media, considerando-a como um periodo de retrocesso em relação á +civilisação greco-romana, durante o qual os elementos evolutivos dessa +civilisação estacionassem (experimentando alguma coisa analoga áquillo a que em +physiologia se chama <em>interrupção de desenvolvimento</em>), em virtude das +sabidas causas ethnologicas, sociaes e moraes que<span class="pn">{22}</span> +determinaram a dissolução do mundo antigo, de tal sorte que todo o movimento +europeu, durante aquelles nove a dez seculos, se reduzisse, de um lado, á +tradicção greco-romana, no que ella tinha de <em>já definitivo</em> e <em>não +evolutivo</em>, isto é, o Cristianismo e o Imperio, e do outro lado, ao +reapparecimento de elementos primitivos, os Barbaros, que apenas repetem +extemporaneamente phases sociaes, que a civilisação antiga, havia já seculos, +tinha atravessado. Daqui parece o autor concluir que a evolução normal da +civilisação foi perturbada, durante um certo periodo, pela introducção violenta +de elementos estranhos, constituindo uma como massa indigesta, cuja laboriosa +digestão produzindo uma lethargia secular, explica sufficientemente a +<em>interrupção de desenvolvimento</em> que descobre na idade-media. Esses +elementos anormaes, que a civilisação teve de digerir durante mil annos, para +poder reatar os termos logicos da sua evolução (seculo 5.º, seculo 16.º), +foram, de um lado, o Cristianismo com o seu Santo Imperio, do outro lado os +Barbaros com o seu sistema feudal. Ora, de mais de uma pagina da +<em>Theoria</em> concluo eu que, no pensar do sr. Martins, nenhum destes dois +phenomenos é inherente á evolução, pois que vê nas invasões barbaras só um +phenomeno ethnologico e como que uma fatalidade natural, e no Christianismo uma +mera reacção religiosa, um recrudescimento anomalo de transcendentalismo, +quando já pelo Estoicismo, de um lado, e do outro pelo Epicurismo, entrava o +espirito humano na larga estrada da philosophia natural, e entrevia no +horisonte a luz salvadora da Immanencia. A conclusão<span +class="pn">{23}</span> a tirar é que, sem estes elementos perturbadores, não +teria havido <em>interrupção de desenvolvimento</em>, seriam poupadas á +Humanidade as agonias da sua <em>paixão</em> (como Michelet chama á +Idade-media), o seculo 16.º teria caído no seculo 6.º, e nós hoje estariamos já +aonde só estaremos no seculo 30.º</p> + +<p>Se estas conclusões que não estão explicitas no livro do sr. Martins se +contêem realmente nos seus principios, tenho a objectar-lhe, antes de tudo, que +implicam até certo ponto contradicção com a sua idéa fundamental, isto é, a +Evolução como lei primeira da Civilisação. Que uma circumstancia ou uma serie +de circumstancias exteriores e fataes possam produzir numa civilisação não +sómente uma <em>interrupção do desenvolvimento</em>, mas ainda uma atrophia +permanente, comprehende-se e em nada contradiz a idéa da Evolução. Mas o que a +contradiz e o que não se comprehende é que essa atrophia temporária ou +permanente possa ser expontanea, e saia como um termo necessario da mesma +evolução, cuja essencia é o desenvolvimento. Ora, ainda concedendo que os +Barbaros estejam no primeiro caso (e não me parece que estejam absolutamente, +porque que se as invasões barbaras são um phenomeno natural e fatal, e um +agente exterior, a fraqueza interna de uma civilisação, que succumbe á +barbaria, tem por força de ter uma causa tambem interna, que é preciso +determinar), o Cristianismo é que necessariamente estaria no segundo, e +teriamos assim, neste ponto, a evolução embaraçando-se e contradizendo-se a si +mesma.</p> + +<p>Logo, uma de duas: ou a evolução, em determinados casos, póde suspender-se +expontaneamente,<span class="pn">{24}</span> e não só suspender-se, mas até +retroceder e annullar-se a si mesma, o que é contradictorio com a sua idéa +essencial; ou não houve realmente na Idade-media um <em>retrocesso geral</em> e +atrophia dos elementos evolutivos, e é necessario procurar no estudo +comparativo dos elementos immediatamente anteriores e posteriores a essa idade +a existencia de um <em>quid intimum</em>, cujo desenvolvimento, assegurando o +resultado total da evolução, como sendo-lhe essencial, póde ao mesmo tempo, +pela sua particular natureza, <em>suspendel-a parcialmente</em>, durante um +certo tempo e em determinados pontos.</p> + +<p>Regeitando a primeira hypothese, como envolvendo um absurdo, fica-nos a +segunda, que não só tem a plasticidade sufficiente para se accommodar á +explicação dos phenomenos divergentes e apparentemente contradictorios de um +periodo tão complexo e revolto como a Idade-media, mas encerra além disso um +real valor philosophico, fazendo entrar na historia uma das idéas fundamentaes +das sciencias da organisação, a idéa de <em>crise</em>, e estabelecendo assim +entre o mundo da vida e o do espirito uma concordancia de bastante alcance.</p> + +<p>Nestes termos, diremos que não se deu na Idade-media uma <em>interrupção do +desenvolvimento</em>, mas sim uma de aquellas <em>crises organicas</em> que são +proprias e expontaneas na evolução dentro do mundo dos organismos—fazendo +entrar neste a historia, como uma fórma organica superior e transcendente. +Crises taes são um resultado do mesmo desenvolvimento dessa ordem de forças +complexas (que não são independentes e apenas paralelas,<span +class="pn">{25}</span> mas convergentes e solidarias) que actuam segundo leis +analogas, tanto nos organismos como nas sociedades e no espirito.</p> + +<p>Vê-se claramente como desta solidariedade e convergencia, combinadas com a +acção desigual das circumstancias exteriores sobre cada uma dessas forças, +resultem para muitas dellas desencontros e periodos de estacionamento, em +quanto umas esperam para se desenvolverem que outras tenham attingido um dado +grau de desenvolvimento, sem se realisar o qual ellas mesmas não podem +continuar a sua evolução.</p> + +<p>É assim que o sabio paleontologista G. de Saporta (<em>Origens da vida sobre +o globo</em>), comparando a evolução solidaria dos reinos animal e vegetal nas +idades primitivas, nos mostra o primeiro, depois de ter percorrido +successivamente uma serie ascendente de typos, estacionar durante muitos +milhares de annos, á espera que o secundo, cujo desenvolvimento, por causas em +parte desconhecidas, fôra mais demorado, attingisse aquelle termo de ascensão, +sem se realisar o qual não podia o reino animal continuar o seu progresso +especifico. Se considerarmos (com depois dos trabalhos de Darwin e Haekel não +podemos deixar de considerar) que os chamados reinos animal e vegetal não são +sómente paralelos mas solidarios, e constituem realmente um só mundo organico, +teremos um facto consideravel, que a paleontologia nos aponta, o exemplo de uma +immensa e prolongadissima crise, que esse mundo atravessou, a maior porventura +que elle tem atravessado.</p> + +<p>Ora é exactamente uma crise analoga que eu sustento ter soffrido a sociedade +europea durante o<span class="pn">{26}</span> periodo da Idade-media: o +<em>reino</em> social e politico, depois de rapido e ininterrupto progresso +realisado desde Homero até aos Antoninos, teve de estacionar, esperando que o +<em>reino</em> moral, atravez das varias <em>especies</em> do cristianismo e da +philosophia escolastica, chegasse a um grau de desenvolvimento paralelo ao seu, +que lhe tornasse possivel continuar a progredir. A solidariedade entre o +progresso social e moral da humanidade, de um lado e do outro o desigual +desenvolvimento destes dois elementos, bem patente no facto singular (que aliás +se explica) de ter o mundo antigo produzido o direito romano sem sair do +polytheismo, dão cabalmente, me parece, a razão sufficiente deste +<em>desencontro</em> de forças, cujo resultado foi a grande crise da +Idade-media.</p> + +<p>É por tudo isto que, a meu ver, a Idade-media não póde ser reduzida, como +parece fazel-o o sr. Martins, a uma simples <em>tradicção</em> e a um periodo +de <em>atrophia</em> dos elementos verdadeiramente evolutivos do mundo +greco-romano. Para mim, são verdadeiramente evolutivos <em>todos</em> os +elementos da idade-media, e a idade-media contém <em>todos</em> os elementos +evolutivos da civilisação antiga: sómente o grande desenvolvimento e as +posições respectivas é que são differentes. Considero o cristianismo como +essencial á evolução; mais, como o termo necessario de todo o movimento moral +da antiguidade: para mim, não só não foi elle um <em>incidente</em> +perturbador, mas não foi de modo algum um incidente. A <em>transcendencia</em>, +preparada e organisada por todas as escolas philosophicas desde Socrates até +aos Alexandrinos, incluindo os Estoicos e até os Espicuristas (cuja metaphisica +era<span class="pn">{27}</span> tão idealista e a moral tão mystica como as das +outras escolas, e que não foram, como a alguns tem parecido, os precursores +<em>incompris</em> dos racionalistas e naturalistas modernos), a +<em>transcendencia</em>, phase necessaria do pensamento humano, tinha +forçosamente de produzir uma religião analoga na essencia ao Cristianismo; +ainda quando lhe faltassem os elementos, quanto a mim puramente morphologicos, +da lenda oriental. Uma prova bem clara desta ultima asserção, encontro-a na +reacção de Juliano, chamado o Apostata, cuja religião-philosophica não era +menos transcendentalistica e mystica do que a cristan, e que, a ter vingado, +haveria produzido uma theologia e uma igreja exactamente como o Cristianismo. +Quero dizer que, dado o estado moral da humanidade na ultima época do periodo +greco-romano, se o cristianismo não era inevitavel, o que era inevitavel era +uma religião na essencia cristan, isto é, mystica. A exaltação mystica, que +então se apossou do espirito humano, se foi um mal (e não creio que o fosse +absolutamente), foi um mal necessario. Era um termo logico da Evolução; e a +Idade-media, que foi o desenvolvimento desse termo, não póde por esse lado ser +considerada como uma simples <em>tradicção</em>.</p> + +<p>Em quanto aos Barbaros, bastar-me-ha dizer que não creio que fossem elles os +destruidores da unidade romana, por si não só prestes a desfazer-se, mas já +meia desfeita nos seculos 5.º e 4.º; que sem elles o imperio ter-se-hia +igualmente desmembrado; que elles não impediram a extincção da escravidão +antiga nem a formação da burguezia; que independentemente da influencia<span +class="pn">{28}</span> germanica, já o feudalismo tendia a formar-se +espontaneamente no imperio em dissolução, desde o seculo 4.º; que finalmente, +muito antes das invasões já as sciencias e as lettras tinham decaido, e +começára um entenebrecimento intellectual, de que os barbaros não devem ser +responsaveis; bastar-me-ha dizer isto para que o sr. Martins aprecie as razões +por que, ainda por este lado, nada encontro de anormal e de perturbador no +curso da evolução geral da civilisação durante a Idade-media, nem vejo que +houvesse <em>interrupção de desenvolvimento</em> produzida por causas estranhas +e fortuitas.</p> + +<p>É este o ponto principal da minha divergencia com o autor da +<em>Theoria</em> e por isso o expuz mais detidamente. Os outros, que são ainda +mais indifferentes á idéa geral do livro, sacrifico-os, para entrar quanto +antes na apreciação dessa idéa.</p> + +<p> </p> + +<h2><a name="SECTION0002200">II</a> </h2> + +<p>Feitas estas reservas, passo a dizer alguma coisa sobre a idéa fundamental +da obra. Obra, ponho eu aqui intencionalmente, porque é verdadeiramente <em>uma +obra</em>, e não apenas <em>um livro</em>, a "<em>Theoria do Socialismo</em>" +Não é uma simples exposição de factos historicos, mais ou menos curiosos, +acompanhada de juizos e considerações, mais ou menos rasoaveis ou eloquentes: é +um todo ordenado e systematico, em que os factos e as idéas se encadeam<span +class="pn">{29}</span> logicamente, convergindo para um centro commum, que é o +ponto de vista superior que os abrange e explica a todos. É um trabalho +conjunctamente philosophico e scientifico, em que as generalizações formuladas +pela sciencia historica recebem a sua sancção final dos principios racionaes em +que assenta a philosophia da historia—tentativa semelhante na essencia e no +methodo, embora diversa nas conclusões e inferior na execução, á que realizou +Guizot na sua "<em>Historia da Civilisação na Europa</em>" e Michelet +naquella admiravel "<em>Introducção á historia universal</em>". O sr. Martins +não é um erudito, nem um philosopho de profissão: mostrou porém ter sciencia +bastante e sufficiente elevação de pensamento para nunca ser inferior ao que um +tal plano requeria. Ora, tentar isto, e realisal-o, apesar de muitos defeitos +parciaes, com exito feliz na generalidade, é raro merecimento e que sobejamente +justifica, me parece, esta particular designação de <em>obra</em> que dei ao +livro. Escriptos desta natureza e alcance em nenhuma litteratura são +frequentes: o do sr. O. Martins affigura-se-me que é por ora unico entre nós. +Ainda assim, não é bem por isso que me congratulo, mas por ver na "<em>Theoria +do Socialismo</em>" um symptoma animador de franca e séria adopção da idéa +nova pelo espirito portuguez: é isto o que me faz saudar fraternalmente a obra +e o autor.</p> + +<p>Socialismo é para muitas pessoas uma palavra aterradora, exactamente porque +não é para essas pessoas mais do que uma palavra. É para outras um symbolo +magico e omnipotente abracadabra, a quem tudo se póde pedir, de quem tudo se +deve<span class="pn">{30}</span> esperar, dotado sobrenaturalmente de uma +virtude palingenesica para operar nas coisas humanas uma renovação total e +universal, uma regeneração instantanea e absoluta: estes são os enthusiastas, +que encarnam na palavra socialismo os seus sonhos individuaes de felicidade, em +vez de simplesmente a considerarem como a expressão de uma ordem de phenomenos +objectivos, independente das imaginações sentimentaes de cada qual, e só +adequada á natureza das sociedades no seu desenvolvimento necessario. Apesar do +que ha de respeitavel nos sentimentos desses crentes, estão elles tão longe +como os outros de saberem o que realmente se deve entender por socialismo. A +uns e outros recommendo o livro do sr. Martins, como muito proprio para lhes +fazer perder tanto as esperanças como os terrores apocalypticos.</p> + +<p>O socialismo não é nem a subversão violenta das instituições e dos costumes, +nem a palingenesia messianica milagrosamente revelada, para acabar para sempre +com os males humanos, por este ou aquelle inspirado propheta de tal ou qual +cenaculo de crentes: e não é uma coisa, exactamente porque não é a outra. Não +ha nisto paradoxo. Quero dizer que o socialismo não ameaça as instituições e os +costumes, que constituem o organismo e a tradição da humanidade, precisamente +porque não é uma invenção do pensamento individual um systema sem raizes +historicas, exterior á realidade social, mas sáe, pelo contrario, da tradicção +e da historia, é a propria historia e tradicção num periodo das suas +transformações continuas, um parto da razão collectiva e um fructo natural do +mesmo desenvolvimento da sociedade. É por isso<span class="pn">{31}</span> que +a não ameaça, porque a sociedade não se destroe a si mesma: desenvolve-se e +transforma-se; o socialismo não é mais do que a palavra que quadra ao grau de +transformação e desenvolvimento do momento actual. O que foi no primeiro +quartel deste seculo o liberalismo, o que tres ou quatro seculos antes havia +sido a monarchia, e antes cinco ou seis as communas e o feudalismo, é o que +será ámanhan (e já hoje começa a ser) o socialismo: um novo periodo e uma nova +fórma no organismo das sociedades europeas. Tão inevitavel como aquelles, será +como elles tão benefico e tão pouco subversivo, sendo, como elles foram, não um +resultado fortuito de opiniões e interesses de individuos, mas um facto +necessario da Providencia immanente na historia.</p> + +<p>Em que consista esse facto é o que o sr. Martins, fazendo-se interprete dos +phenomenos sociaes, se propôz explicar, e é o que nós, em companhia delle, +vamos examinar.</p> + +<p>Logo na primeira pagina do livro, formula o autor a sua idéa deste modo: a +theoria do socialismo é a evolução.—Desculpe-me o meu amigo se lhe faço ainda +questão duma palavra, mas o rigor nos termos não é indifferente. Duma maneira +geral, a theoria do socialismo é certamente a evolução, mas a evolução dentro +da historia e das coisas sociaes tem um nome mais particular e consagrado: o +Progresso, que é a evolução na série da humanidade. A evolução abrange todas as +séries do desenvolvimento no universo, cosmologico, geologico, organico, etc., +e por isso inclue a humanidade; mas dentro desta é particularmente o Progresso. +Diriamos, pois, com mais rigor: a theoria<span class="pn">{32}</span> do +socialismo é o Progresso. Quizera tambem que o autor, nessa sua primeira +<em>these</em>, tivesse definido com mais clareza e explicado com mais extensão +esta idéa. Mas não importa: o que não se define totalmente nas primeiras +paginas, torna-se bem patente pelo livro adiante, e isso é o essencial. O que o +autor não diz mostra-o no encadeamento dos factos sociaes e na successão das +doutrinas através da historia, de sorte que o seu livro representa-nos em +relevo essa grande lei do progresso nas suas phases verdadeiramente +significativas.</p> + +<p>Ora, qual é o termo actual do Progresso? o socialismo, responde o sr. +Martins, com a historia na mão. Mas que socialismo? o de Babeuf, o de +Fourier, de Saint-Simon, desta escola, daquella seita, não: simplesmente o da +humanidade. É nesta resposta que está a originalidade e a segura verdade do +livro. O socialismo não sáe de uma escola ou de uma seita: sáe do mais fundo da +consciencia humana, affeiçoada por tres mil annos de progresso. Não é uma +experiencia; é um resultado.</p> + +<p>Resultado de que? Do triplo movimento moral, politico e economico das +sociedades. Abraça o homem todo, e corresponde a uma nova concepção +systhematica (uma <em>affirmação synthetica</em>, como dizem os positivistas) +do Universo, da vida humana e das relações sociaes. Neste momento, a evolução +das doutrinas philosophicas, moraes e juridicas, da sciencia economica, dos +phenomenos politicos e dos phenomenos economicos, converge para um ponto +central. A esse ponto chamamos nós Socialismo, não porque coincida (note-se +bem<span class="pn">{33}</span> isto) com este ou aquelle systema dos que +inventaram a palavra, mas simplesmente porque vem satisfazer a aspiração commum +a todos elles, que os produziu e de que eram meros symptomas: de tal sorte que +até com alguns desses systemas póde estar em completa opposição o Socialismo +positivo, como está, por exemplo, com o Communismo.</p> + +<p>Desta tripla evolução moral, politica e economica resultam tres grandes +conclusões. Da evolução no mundo moral resulta a autonomia absoluta da +consciencia humana, independente das pretendidas revelações sobrenaturaes para +descobrir a verdade e determinar a justiça; independente de qualquer +auctoridade, além da sua propria, para conhecer e praticar a lei moral. Da +evolução no mundo politico resulta a concepção da liberdade como o unico agente +organisador e director da sociedade, com exclusão de qualquer principio +anterior ou exterior ao direito individual, de qualquer auctoridade que não +seja a da propria liberdade sobre si mesma. Da evolução no mundo economico +resulta a affirmação do trabalho como a base unica justa do valor, tendo por +consequencias, de um lado a egualdade dos trabalhadores perante o capital, mero +instrumento do trabalho e a elle sobordinado e garantido pelo credito e a +mutualidade, do outro lado a egualdade dos trabalhadores entre si, pela divisão +do trabalho, que os torna solidarios e substitue á anarchia da concorrencia +individual a organisação das forças collectivas da producção—e tendo como +resultados, com a annullação dos privilegios capitalista e proprietario, a +consagração da propriedade<span class="pn">{34}</span> e do capital +individuaes, e a extincção da lucta das duas classes actuaes, pela conversão de +ambas numa unica de trabalhadores eguaes e livres.</p> + +<p>São estas as tres grandes conclusões, que desentranhando-se de um lento +progresso secular, começam a patentear-se no estado actual das doutrinas e dos +phenomenos moraes, politicos e economicos das sociedades contemporaneas.</p> + +<p>As phases desse progresso, isto é, o caminho seguido pela intelligencia +humana e pelos factos sociaes para chegarem a estas conclusões, é o que o sr. +Martins historía com muita lucidez e sciencia no seu livro, boa metade do qual +é consagrado a este trabalho de alta critica historica.</p> + +<p>Eu é que, nos limites estreitos deste esboço nem poderei sequer indicar, com +alguns nomes, culminantes, os principaes marcos miliarios no caminho deste +jornadear da humanidade em busca dos seus proprios destinos. Mas que magestosa +<em>via crucis</em>!</p> + +<p>Desde a doutrina da Graça, com S. Paulo e S. Agostinho, atravez dos meandros +da Escolastica, depois da inspirada philosophia da renascença e da philosophia +mais scientifica do seculo XVII, chega o espirito humano a entrever com Vico e +os encyclopedistas a doutrina emancipadora da immanencia, que no seculo XIX +formulou de um modo cada vez mais positivo as escolas de Hegel, Feuerbach, +Comte, Proudhon. Evolução paralela seguem as doutrinas politicas: desde o +<em>omnis potestas a Deo</em> e a <em>Civitas Dei</em>, atravez da politica +theocratica de S. Thomaz e da politica Cesarista de Dante, atravez do +absolutismo<span class="pn">{35}</span> da monarchia civil de Savedra e Bodin e +do despotismo naturalista de Machiavello e Hobbes, vae o principio tradicional +da auctoridade recuando cada vez mais, com Grotius, Locke, Rousseau, Kant, +depois com Fichte, Rittinghaussen, Proudon, diante do principio racional e +humano da liberdade, até ser por elle absorvido, até só ficar de pé a +consciencia juridica do homem, tendo em si mesma a sua propria e absoluta +sancção. As doutrinas economicas, que só no seculo XVIII se desembaraçam das +politicas, galgam de um salto a distancia que vae da auctoridade +(proteccionismo) á liberdade, e pela bocca de Smith, Rossi, Bastiat, Stuart +Mill, proclamam esta ultima, completa, universal.</p> + +<p>Ideas! theorias! sonhos! dirão alguns. Não! realidades, porque os factos vão +seguindo, par e passo o desenvolvimento das doutrinas. A secularisação cada vez +mais definida do estado e da sociedade; a transformação das monarchias de +direito divino em monarchias temperadas, depois em democraticas, depois em +republicas populares; os direitos individuaes inscriptos nas constituições; a +egualdade civil; a liberdade da industria; o nivelamento constante das classes; +a importancia crescente do povo trabalhador e das questões do trabalho; o +privilegio capitalista que por toda a parte recúa, batido já nos seus ultimos +intrincheiramentos; o capital que se faz povo, que se faz multidão, e vae já +passando para as mãos do proletariado; um novo mundo economico que emerge com +força do antigo cahos social:—são factos e não utopias, e esses factos trazem +comsigo a sua lição, a sua doutrina.<span class="pn">{36}</span> Não sois vós, +conservadores, que tendes por vós a tradição da humanidade, somos nós +revolucionarios, que temos, com o futuro, o passado por nosso lado, o passado +no que elle teve de melhor: a aspiração da liberdade, da igualdade, da justiça. +</p> + +<p>Mas que immenso caminho andado! Eis-nos á porta de um mundo novo! novo e +todavia feito todo com elementos, que os tempos vieram lentamente accumulando. +Organisar esse mundo é a obra do socialismo. Não é de destruição, essa obra; é +de edificação e de consolidação. Não ameaça um unico direito; define-os a todos +e dá-lhes os seus justos logares. Numa palavra se encerra o socialismo: +organisação espontanea. Livre organisação da industria, do trabalho, do +credito, do capital, do estado; federação juridica e economica, tudo pela +liberdade e tudo para a egualdade; ou como diz, com expressiva concisão, o sr. +Oliveira Martins "uma unica lei, o trabalho, e uma unica norma, a justiça"; +eis ahi como á luz da philosophia da historia se deve comprehender o +socialismo.</p> + +<p>Terei depois disto logrado fazer perceber ao leitor a essencial differença +que existe entre a theoria historica e positiva do socialismo e o socialismo +utupista das seitas? Ao mesmo tempo que sae da historia como uma natural +evolução, perde elle para logo o caracter contradictorio, problematico e, para +tudo dizer, assustador, com que a principio se apresentou no mundo. Alarga +tambem o seu horisonte, deixa de abraçar sómente uma ordem parcial de +phenomenos sociaes, para abranger todo o movimento<span class="pn">{37}</span> +renovador da humanidade contemporanea, na philosophia, na sociedade, no estado +e nas consciencias. Filho legitimo da historia, deixa tambem de a contradizer +no que ella tem de essencial, a familia, a propriedade, a herança, bases da +sociedade, duplamente consagradas pela razão e pela pratica e veneração das +gerações. Não propõe uma construcção arbitraria e artificial da sociedade, mas +pretende sómente ajudal-a no seu desenvolvimento organico, segundo uma theoria +estudada nella mesma, nos seus antecedentes. É, numa palavra, verdadeiramente +conservador o socialismo, por isso mesmo que é verdadeiramente progressista. E +se eu tivesse algum direito de em nome delle dar um conselho aos homens e aos +partidos que, por se julgarem conservadores, entendem ter obrigação de combater +uma philosophia social, que não conhecem, ou diria a esses illudidos: Fazei-vos +socialistas, se quereis realmente merecer o nome de conservadores, que por ora +não tendes sufficientemente justificado: passae para este lado, que é onde +estão os representantes da verdadeira tradição da humanidade, tradição não de +entenebrecimento e oppressão, de odio e lucta systematica, mas de luz e +liberdade, de paz e conciliação: ou, senão, examinae pelo menos antes de +condemnar, informae-vos antes de amaldiçoar, aliás teremos de dizer que sois só +conservadores da vossa propria ignorancia e obsecada paixão.</p> + +<p>Mas eu nao tenho direito de dar conselhos a quem não m'os pede nem me julga +auctorisado a dal-os. Depois, talvez este meu candido appello,<span +class="pn">{38}</span> para a conciliação e a tolerancia, seja ainda uma +daquellas muitas utopias que só merecem um sorriso de desdenhosa compaixão dos +homens <em>praticos</em> encanecidos no trato das coisas reaes do mundo... +Talvez!</p> + +<p>Paciencia. Veremos o que o tempo <em>praticamente</em> responde a tudo isto. +</p> + +<p> </p> + +<p>Fevereiro-Março, 1873.<span class="pn">{39}</span></p> + +<p> </p> + +<h2><a name="SECTION0003000">Le Portugal contemporain—Oliveira +Martins</a> </h2> + +<p>En dehors de la littérature proprement dite, le Portugal ne possède +aujourd'hui qu'un seul écrivain réellement supérieur: c'est M. Oliveira +Martins, l'auteur de la <em>Bibliotheca das Sciencias sociaes</em>. Définir son +genre et le classer d'un mot me semble chose presque impossible, par la simple +raison que ce mot n'existe pas encore: <em>socialiste</em> a un sens en même +temps étroit et vague; <em>sociologiste</em> serait un barbarisme. Si, depuis +les Grecs on a toujours écrit l'histoire, disserté sur la politique et plus ou +moins observé l'économie et les mœurs des nations, ce n'est que depuis un +demi-siècle à peine qu'on a été amené à étudier scientifiquement la Société, en +la considérant comme un tout naturel et réel, dont les phénomènes sont +susceptibles d'être ramenés à des relations générales et fixes, c'est-à-dire à +des lois. De là la constitution d'un nouveau et dernier groupe de sciences, qui +est venu s'ajouter à celles qui existaient déjà: le groupe des sciences +morales.</p> + +<p>M. Oliveira Martins (<em>socialiste</em> ou <em>sociologiste</em>, comme on +voudra) s'occupe donc de sciences sociales, et, quoique jeune encore, mérite, +par la profondeur de ses recherches, l'originalité et l'ampleur<span +class="pn">{40}</span> de ses vues et la fermeté de sa méthode, d'être rangé +parmi les mâitres et promoteurs de ces études nouvelles. En outre, son estyle, +par ses qualités de vigueur, de vie et d'élévation, quoique trop souvent +incorrect et déparé parfois par le mauvais goût, fait de l'auteur de la +<em>Bibliotheca das Sciencias</em> un écrivain de premier ordre.</p> + +<p>Les premiers ouvrages de M. Oliveira Martins (<em>Theoria do Socialismo</em> +et <em>Portugal e o socialismo</em>), parus à Lisbonne vers 1873 et 1874, +appelèrent sur les lèvres du petit nombre de personnes en état de les juger un +<em>Tu Marcellus cris!</em> prophétique. Touffus d'idées hardies, mais encore +mal définies, et auxquelles manquait une base solide de connaissances +positives, obscurs et confus par le style, ces deux livres dénonçaient pourtant +les maîtresses qualités qui font le penseur et l'écrivain d'ordre supérieur. +</p> + +<p>En effet, le germe des doctrines exposées plus tard dans la +<em>Bibliotheca</em> s'y trouvait déjà formulé dès la première page dans ces +mots: "La théorie du socialisme c'est l'évolution.", Depuis, la pensée +laborieuse de notre auteur n'a fait qu'approfondir et développer cette idée, en +l'étayant de solides études économiques, politiques et historiques.</p> + +<p>Laissant là la manière sèche et étroite des économistes et leur méthode tout +abstraite, M. Oliveira Martins conçoit la société comme un tout vivant, un être +collectif qui, comme l'homme lui-même, est à la fois naturel et rationnel, +sujet dans son développement à la double action des lois de la nature, +auxquelles se rattache la sociabilité elle-même dans ses formes primordiales, +et des principes juridiques et moraux qui sont le domaine<span +class="pn">{41}</span> propre et exclusif de l'humanité. La lutte, l'équilibre, +la pénétration et l'opposition de ces deux éléments constituent, aux yeux de +nôtre auteur, l'être même de la société, dont le développement, changeant et +variable comme celui de toute chose vivante, peut présenter des aspects très +dissemblables et impropres: rien n'y est absolu, rien n'y est nécessaire, +hormis les lois générales de la nature et l'essence rationnelle et morale de +l'homme. La méthode des sciences sociales ne peut donc pas être abstraite: elle +doit être, avant tout, historique.</p> + +<p>C'est à ce point de vue, et non pas seulement en naturaliste et économiste, +mais encore en juriste et moraliste, que M. Oliveira Martins s'est placé pour +étudier dans sa <em>Bibliotheca</em> l'ensemble des phénomènes,—travail, +distribution, propriété, classes, gouvernement, juridiction, culte, etc.,—qui +constituent le vaste domaine, encore imparfaitement jalonné, des sciences +sociales. La <em>Bibliotheca</em> comprend déjà 12 volumes. En outre, M. +Oliveira Martins a publié un Mémoire sur la <em>Circulation fiduciaire</em> et +diverses brochures se rattachant toutes aux questions sociales. L'espace nous +manque pour donner même une courte analyse de chacun des volumes déjà parus de +la <em>Bibliotheca</em>, et il faut que je me borne à l'exposition sommaire que +je viens de faire des idées culminantes et de la méthode de l'auteur. Mais je +dois au moins appeller l'attention des personnes compétentes sur deux de ces +volumes (<em>Quadro das instituições primitivas</em> et <em>O Regime das +riquezas</em>), qui, par leur grande originalité de vues et de forme, +mériteraient bien d'être traduits en français ou en allemand.<span +class="pn">{42}</span></p> + +<p>La fécondité de la méthode historique de l'auteur y devient évidente. A +l'encontre des économistes orthodoxes, qui dessèchent la réalité humaine dans +leurs formules et prétendent réduire la vie de la société à une espèce +d'algèbre inflexible, M. Oliveira Martins, plongeant en pleine réalité, nous +montre l'origine variable et les formes multiples des institutions sociales +assujeties dans leur développement non à des lois purement naturelles, comme le +prétendent les économistes, mais avant tout à des raisons intimes et +<em>humaines</em>. Jamais les fatalités naturelles n'y étouffent complètement +l'être moral de l'humanité, et, même dans ses formes premières et plus rudes, +la société apparaît comme le domaine de la liberté. La concurrence y joue un +grand rôle, sans doute, mais contrecarré ou endigué par des forces juridiques +et morales. La pure mécanique sociale, telle que la rêvent les économistes, n'y +triomphe jamais non plus que cet individualisme abstrait qui serait plutôt +l'idéal de la sauvagerie que celui de la civilisation. Celle-ci, loin de +marcher de plus en plus dans le sens des fameuses "lois naturelles", tend au +contraire à s'en affranchir, et la société, dont l'idéal est la justice et non +la nécessité, va graduellement se rapprochant de ce type de raison et de +liberté qui est l'être même de l'homme.</p> + +<p>On voit, par ce rapide aperçu, que M. Oliveira Martins se rattache à l'école +appelé en Allemagne des <em>Katheder-Socialisten</em>: il doit beaucoup aussi à +ce puissant penseur, si mal compris encore aujourd'hui, P.-J. Proudhon. Mais, +socialiste doublé d'un historien, il projette sur toutes ces questions une +lumière qui les fait voir sous des aspects nouveaux<span class="pn">{43}</span> +en dehors du terrain forcément étroit des écoles et des discussions, et dans +les larges perspectives de la réalité. Là est, à mon avis, sa principale +originalité.</p> + +<p>Je voudrais être bref; mais je dois pourtant dire encore quelque chose des +deux ouvrages (<em>Historia de Portugal</em> et <em>Portugal +contemporaneo</em>), qui M. Oliveira Martins a consacrés à l'histoire de notre +pays, et qui se rattachent à la <em>Bibliotheca</em>, plutôt qu'ils n'en font +partie. A première vue, ces livres semblent ne devoir interesser que les seuls +Portugais; on verra qu'ils ont une portée bien plus générale.</p> + +<p>Le Portugal contemporain est une énigme que personne en Europe ne comprend +et dont, même chez nous, bien peu de gens savent le mot. On cite généralement +le Portugal comme un modèle des petits pays libres et sages: pas de révolutions +ni de luttes de classes; la paix, le fonctionnement régulier du régime +parlamentaire; on l'oppose souvent à l'Espagne, périodiquement convulsionée. Et +pourtant ce pays modèle est—la Turquie exceptée—le plus mal administré qui +soit en Europe. Après 50 ans de paix, sa dette publique est une des plus +écrasantes et elle s'accroît tous les jours, car le budget portugais se solde +régulièrement en déficit. L'esprit publique est nul en dépit d'une multitude de +journaux ordinairement éphémères et tous plus insignifiants les uns que les +autres, et la politique est devenue l'apanage, de haut en bas et de droite à +gauche, d'une classe de gens à peu près ignares et tenus généralement en estime +médiocre. Quant à l'armée, le moins qu'on en puisse dire est qu'elle est aussi +fantastique<span class="pn">{44}</span> que coûteuse, tandis que l'instruction +populaire est lamentable et que l'enseignement supérieur (a l'excepction de +deux ou trois écoles spéciales) est souverainemente pedantesque ou vide<a +name="tex2html1" href="#foot276"><sup>[1]</sup></a>. Le seul sentiment national +un peu perceptible est une espèce de haine sourde et instinctive contre +l'Espagne, qu'on ne connaît pas, et, dans les classes cultivées, l'admiration +béate de tout ce qui est français, qu'on suige à tort et à travers, dans les +lois, les mœurs, la litterature et la langue même, qui va s'adultérant de +plus en plus.</p> + +<p>Voilà, on en conviendra, pour une nation réputée "le modèle des petits pays +sages et libres", des aspects singulièrement imprévus!</p> + +<p>La raison de ce remarquable phénomène de pathologie sociale est que Portugal +est la seule nation en Europe <em>qui soit réellement vieille et caduque</em>. +On peut lui appliquer les constitutions, les lois, les règlements et les +phrases qu'on voudra; rien n'y fait, car il n'y a pas de stimulants pour la +décrepitude. Elle acceptera les libertés comme les coups, les constitutions +comme les épidemies, avec le calme indifférent de l'insensibilité et de +l'inconscience. De là sa paix profonde et son étonnante sagesse; de là aussi un +irrémédiable affaissement. Les contradictions sans nombre qui présente<span +class="pn">{45}</span> notre état social, politique et intellectuel, et qui +déroutent l'observateur (pas un voyageur en Portugal n'a compris ce pays), +n'ont pas d'autre raison. Les mots ne répondent plus aux choses, et les +meilleurs lois ne sont que de petits chiffons de papier emportés de France. +C'est un système de mensonge naïf et inconscient. La réalité, c'est cet +affaissement irrémédiable d'un organisme national arrivé à l'extrême limite de +ses forces vitales.</p> + +<p>L'étiologie historique de ce cas remarquable a été faite, pour la première +fois, et supérieurement, par M. Oliveira Martins, dans son <em>Historia de +Portugal</em>, tandis que son <em>Portugal Contemporaneo</em> fait toucher du +doigt les contradictions incurables de la situation actuelle, issue, non de la +raison consciente e d'un effort viril de toute la nation, mais des illusions +plus au moins généreuses d'un petit nombre de révolutionnaires et de l'atonie +des masses, sur lesquelles on faisait cette expérience doctrinaire: <em>in +anima vili</em>. On y apprend à connaître le <em>quid</em> spécial de la +Révolution portugaise de 1834, la fatalité qui y menait et qui changeant tout à +coup d'aspect, allait présider aux convulsions d'abord, puis aux mécomptes, aux +désillusions, aux compromis lâches, et finalement au marasme actuel. Le +<em>Portugal Contemporaneo</em> est l'histoire cruelle de cet avortement. +L'auteur y fait, pièces en main et pas a pas, le procès de ce libéralisme +bourgeois, en même temps abstrait et utilitaire qui, après 50 ans de domination +incontestée, aboutit à une situation inextricable et de la débâcle imminente. +Comme description détaillée d'un cas de pathologie sociale, ce livre, qui, sous +d'autres rapports, n'interesse que les Portugais,<span class="pn">{46}</span> +peut offrir un intérêt spécial à toux ceux qui s'occupent, en hommes de science +et en philosophes, des choses de la société.</p> + +<p>Les causes premières de cette maladie profonde à laquelle succombe +actuellement la nation portugaise ont été mises en lumière par M. Oliveira +Martins, dans son <em>Historia de Portugal</em>.</p> + +<p>Em 1580, après la catastrophe d'Alcacer-Kibir, le Portugal était réellement +mort. L'œuvre féconde et glorieuse de sa vie historique était accomplie; +mais l'ouvrier héroïque gisait exténué. L'application en grand, pendant trois +quarts de siècle, d'un faux système d'exploitation coloniale avait ruiné le +pays et troublé profondement sa constitution sociale: le jésuitisme, d'un autre +côté, avait épaissi ou perverti son intelligence, brisé son ressort moral, +faussé son libre génie, et, en étouffant tous les germes de l'esprit moderne +que la Renaissance avait si abondamment semés, paralysé tout développement +ulterieur et tué l'avenir. Philippe II, en réunissant le Portugal à la couronne +d'Espagne, n'a donc fait que cueillir un fruit mûr. L'histoire du Portugal +aurait dû finir à cette époque-là. La restauration nationale de 1640 a été un +fait en grande partie artificiel, possible seulement par l'abbatement de +l'Espagne, qui avait perdu sa force d'attraction.</p> + +<p>Le nouveau Portugal, qui commence à cette date-là, n'a rien de l'autre, rien +de sa force noble, de son hardi génie. Ce n'est qu'un triste bâtard, un être +malingre et malvenu, le produit artificiel de la diplomatie, que son grand ami, +l'Anglais hérétique, protège, rudoye, amuse et exploite. De sa seule force, il +ne tiendrait pas debout: il est<span class="pn">{47}</span> donc juste qu'il +paye celui qui le soutient. Il le payera des restes de son noble héritage, de +ses colonies, qui s'en iront l'une après l'autre grossir l'empire de la +nouvelle reine des mers; il le payera encore en traités de commerce, qui le +ruineront au profit de son loyal protecteur. Cela s'appella la glorieuse +restauration portugaise de 1640—œuvre néfaste entre toutes, qui démembra +l'Espagne et compromit pour des siècles, peut-être pour toujours, l'avenir de +la peninsule ibérique.</p> + +<p>Mais, à côté de l'Anglais hérétique, le jésuite aussi avait travaillé à +cette œuvre glorieuse: il reçut sa paye. On lui abandonna complètement +l'éducation, l'âme de la nation. Le Portugal a été, pendant deux siècles, plus +encore que le Paraguay, le véritable paradis des jésuites. Leur produit +spécial, leur œuvre de prédilection, le cagot, y arriva à la plus +merveilleuse perfection. Le cagotisme a été véritablement le trait, le signe +particulier du nouveau Portugal: c'est par là qu'il acquit une physionomie. +Comme état de psychologie collective, il survécut à la destruction des +jésuites, il a traversé les révolutions: il s'est accommodé du libéralisme, et, +chose surprenante, de l'incrédulité elle-même! Il dure toujours, et la +situation trouble, maladive, énigmatique d'aujourd'hui est avant tout son +œuvre.</p> + +<p>Voilà, aussi brièvement que possible, la vérité sur le Portugal moderne. +Cette vérité n'était pas inconnue avant les livres de M. Oliveira Martins: on +la pressentait plus au moins, en tâtonnant à travers le brouillard d'illusions +séculaires et officielles: quelques-uns même avaient osé la formuler. Mais, +seuls, les livres de M. Oliveira Martins<span class="pn">{48}</span> l'on +déduite historiquement, c'est-à-dire, en présentant nettement les faits et en +les ramenant à leurs causes. Dans ces livres si vivants, si incisifs, la forme +est narrative et pittoresque, le fond est philosophique. C'est de la très ferme +étiologie historique. En suivant l'histoire à travers la variété animée des +scènes et des personnages, le lecteur s'aperçoit tout-à-coup qu'on lui a fait +une démonstration en règle. Ce n'est pas là une des moindres originalités de la +manière de M. Oliveira Martins.</p> + +<p>Du reste, pour nous autres, tout est original dans ces livres, l'idée comme +la forme, le point de vue critique comme la manière réaliste. Le Portugal, +depuis sa Révolution, n'avait encore eu qu'un seul homme supérieurement doué et +fortement préparé pour le travail de l'histoire: A. Herculano. Mais, outre que +Herculano ne s'est jamais occupé que de l'histoire anterieure à 1580 (qu'on +peut considerer comme l'histoire d'une autre nation) il était trop dogmatique +dans ses vues et trop raide et guindé dans son estyle, pour qu'on puisse +trouver dans ses livres la vie et la philosophie, c'est-à-dire l'âme et la +forme de l'histoire. Son œuvre puissant d'effort et de savoir, souvent +éloquente, a suivi toutefois une direction trop particulière.</p> + +<p>Pour les autres qui se sont occupés de l'histoire moderne du Portugal, +Rebello da Silva, en dépit de son admirable talent litteraire, n'a été qu'un +médiocre rhéteur: Pinheiro Chagas n'est qu'un compilateur dénué de toute +critique et même de toute idée. Ceux qui ont osé affronter les livres de M. +Theophilo Braga ont eu quelquefois la consolation d'y rencontrer l'ombre d'une +idée neuve et juste et quelques aperçus hardis ou ingénieux,<span +class="pn">{49}</span> trop vite noyés dans le fatras babylonien d'une +érudition en délire. Les ouvrages historiques de M. Oliveira Martins restent +donc originaux au premier chef et sans précédents dans nôtre litterature. Dans +les litteratures étrangères, ils se rattachent surtout à Michelet et +Carlyle—avec moins d'imagination et d'intention poétique, mais avec plus de +fermeté et de largeur dans les vues.</p> + +<p>Vous allez croire maintenant que l'homme audacieux qui a osé dire à son pays +les vérités les plus cruelles et les plus humiliantes pour sa vanité, doit être +chez nous une espèce de paria, un lépreux tenu à distance par le monde +officiel, quelque chose comme Proudhon l'a été en France sa vie durant?</p> + +<p>Rassurez-vous. M. Oliveira Martins est membre de l'Académie Royale de +Lisbonne et de l'Institut universitaire de Coimbra.</p> + +<p>Il a vu un de ses livres, et non pas des moins sévères (<em>A circulação +fiduciaria</em>), couronné par cette même Académie Royale. Le monde officiel le +fête, le choye, l'aime de tout son cœur. Les ministres sont très heureux +quand il veut bien se charger de quelque travail qui demande beaucoup de savoir +et beaucoup de désinteressement. Je ne sache pas non plus que ces terribles +livres aient eu de contradicteurs. En un mot, il ne tiendrait qu'a lui d'être +l'homme du jour dans le pays qu'il a si malmené.</p> + +<p>Etonnant, n'est-ce pas?—Pour qui sait comprendre, ce simple fait en dit +plus long que de gros volumes!</p> + +<p> </p> + +<p>1884.<span class="pn">{50}</span></p> + + +<div class="rodape"> +<p><a name="foot276" href="#tex2html1"><sup>[1]</sup></a> Un seul fait suffira. +A l'Ecole des hautes études litteraires (<em>curso superior de lettras</em>) de +Lisbonne, la chaire de litterature ancienne est occupé par un monsieur qui ne +ne sait pas un mot de grec—et, chose plus curieuse encore, parmi les membres +du jury de concours qui l'a reçu (composé de professeurs du dit <em>Curso +superior</em> et de membres délégués de l'Académie royale de Lisbonne), <em>pas +un seul non plus ne connaissait le grec</em>!</p> +</div> + +<p> </p> + +<h2><a name="SECTION0004000">Oliveira Martins e o partido +progressista</a> </h2> + +<hr style="width: 20%"> + +<p style="text-align: center;"><small>CARTA A</small> S<small>EBASTIÃO +D'</small>A<small>RRUDA DA</small> C<small>OSTA</small> B<small>OTELHO</small> +</p> + +<p>Villa do Conde, 1 de agosto de 1885</p> + +<p style="text-align: right;"><em>Meu Sebastião</em></p> + +<hr style="border: 0; border-bottom: dotted 2px #000;"> + +<p>Mando-te esses numeros da <em>Provincia</em> para veres o caracter +imponente, que teve a manifestação do Porto e o tom a que o O. Martins tem +sabido levantar o Progressismo, que tão desafinado andava. Verás tambem que +elle não renegou, nem se desdiz. A bandeira que desfralda é a do Socialismo, +como até aqui. Convencido como está, e estão todos os que sabem observar os +factos, da incapacidade actual, (e que o será ainda por muito tempo), do +partido republicano para fundar seja o que fôr e vendo ao mesmo tempo a +imminencia de uma crise pavorosa, o O. Martins fez acto verdadeiro de +patriotismo, procurando aquelles elementos, que bem dirigidos e transformados, +poderão por ventura fornecer ainda um ponto de apoio no meio do naufragio. Um +homem como O. Martins, não dá um passo destes, nem toma posição de tamanha +responsabilidade, sem<span class="pn">{51}</span> ter visto bem as cousas e +estudado o melhor caminho. Tem sido approvado por muita da melhor gente. O O. +Martins é o unico homem politico superior que temos, pois reune a um elevado +caracter um saber vasto e não só theorico mas technico e um poder de trabalho +incomparavel. Quando um tal homem dá um passo, como elle deu, o dever da gente +seria, ainda quando o não approve, é não o estorvar na sua tentativa, +reconhecendo a pureza das suas intenções. Os republicanos, porém, cobriram-n'o +de insultos e imputações as mais baixas—e no dia seguinte o que fizeram? foram +alliar-se com os regeneradores, para combater o movimento por elle iniciado, +movimento que pode falhar, mas que é sem duvida sério e exprime o sentir +nacional, pelo menos neste ponto de querer acabar com essa alliança da +burocracia com a finança, que é a fatalidade do partido regenerador, origem da +corrupção politica e de um systematico desgoverno. Destruir essa oligarchia +burocratico-financeira, que nos domina e desmoralisa, ha tantos annos, e +impedir por meio de leis convenientes que ella possa de futuro tornar a +formar-se, parece-me coisa muito mais importante do que uma simples alteração +no caracter do poder executivo, cousa que deve ficar para depois, pois só as +reformas economicas e financeiras tornarão aquella outra puramente politica, +não só possivel, mas fecunda e duradoura. Isto tanto mais, quanto está +imminente a bancarrota e uma tremenda crise social; a proclamação da Republica, +não só não remediaria esses grandes males, (pois que influencia póde ter uma +reforma só politica nos elementos financeiros<span class="pn">{52}</span> e +economicos?) mas traria mais uma complicação e elemento de desordem, como ainda +em 1873 se viu em Hespanha. Convém, pelo contrario, addiar essa questão, visto +que não é urgente, e não complicar com ella a outra, urgentissima. É de boa +politica, como é de boa logica, dividir as questões para as resolver, e começar +por aquellas, que resolvidas, podem facilitar a resolução das outras. Impedir +que tudo venha a baixo parece ser a cousa mais urgente. Depois reformar a +constituição economica, de modo a impedir que um tal estado de cousas possa vir +a repetir-se. E só depois organisar a constituição politica, tanto no que toca +ao legislativo, como ao executivo, de modo a dar estabilidade e duração aos +progressos realisados. Pódes crêr que estas são hoje, como sempre foram, as +aspirações do O. Martins, que continúa sendo tão bom socialista e republicano +como era dantes. Eu, por mim, approvo-o inteiramente na marcha que vae +seguindo, e desejava que toda a gente séria lhe désse o apoio indispensavel, +ainda aos maiores politicos, para fazerem qualquer cousa. Se todos começarem a +hostilisal-o, é claro que nada poderá fazer. Virá a terra, e com elle a ultima +esperança deste pobre Portugal. Então teremos o diluvio.</p> + +<p>Adeus, meu Sebastião. Do teu de c.</p> + +<p> </p> + +<p style="text-align: right;"><em>A. de Q.</em></p> + +<p><span class="pn">{53}</span></p> + +<p> </p> + +<h2>INDICE</h2> + +<div style="font-size: small;"> + +<p><a href="#SECTION0001000">Os Lusiadas, ensaio sobre Camões e a sua obra, em relação á sociedade +portugueza e ao movimento da Renascença, por J. P. de Oliveira Martins. Porto, +1872 (Folhetim do <em>Primeiro de Janeiro</em>) ... 5</a></p> + +<p><a href="#SECTION0002000">Theoria do socialismo, evolução politica e economica das Sociedades da +Europa, por J. P. de Oliveira Martins. Lisboa, 1872 (Artigos do <em>Diario +Popular</em>) ... 18</a></p> + +<p><a href="#SECTION0003000">Le Portugal contemporain—Oliveira Martins (Estudo publicado na <em>Revue +Universelle et Internationale</em>). Paris, 1884 ... 39</a></p> + +<p><a href="#SECTION0004000">Oliveira Martins e o partido progressista, carta a Sebastião de Arruda da +Costa Botelho, testamenteiro do grande poeta-philosopho ... 50</a></p> + +</div> + +<p><span class="pn">{54}</span></p> + +<p> </p> + +<h2>NOTA</h2> + +<p>O presente opusculo constitue a mais respeitosa homenagem dos testamenteiros +de Anthero de Quental á memoria do glorioso escriptor Oliveira Martins.</p> + +<p> </p> + +<p style="text-align: center;">PREÇO 300 réis</p> +</div> + + + + + + + +<pre> + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of Oliveira Martins, by Anthero de Quental + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK OLIVEIRA MARTINS *** + +***** This file should be named 31654-h.htm or 31654-h.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/1/6/5/31654/ + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. 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It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. 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Donations are accepted in a number of other +ways including including checks, online payments and credit card +donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate + + +Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic +works. + +Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm +concept of a library of electronic works that could be freely shared +with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project +Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. + + +Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed +editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. +unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + https://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. + + +</pre> + +</body> +</html> diff --git a/LICENSE.txt b/LICENSE.txt new file mode 100644 index 0000000..6312041 --- /dev/null +++ b/LICENSE.txt @@ -0,0 +1,11 @@ +This eBook, including all associated images, markup, improvements, +metadata, and any other content or labor, has been confirmed to be +in the PUBLIC DOMAIN IN THE UNITED STATES. + +Procedures for determining public domain status are described in +the "Copyright How-To" at https://www.gutenberg.org. + +No investigation has been made concerning possible copyrights in +jurisdictions other than the United States. 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