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| author | Roger Frank <rfrank@pglaf.org> | 2025-10-15 02:15:54 -0700 |
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You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: Memoria sobre a cultura, e productos da cana de assucar + +Author: José Caetano Gomes + +Contributor: José Mariano da Conceição Veloso + +Release Date: April 23, 2008 [EBook #25148] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK MEMORIA SOBRE A CULTURA *** + + + + +Produced by Rita Farinha and the Online Distributed +Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was +produced from images generously made available by National +Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) + + + + + + +</pre> + + +<div> +<div class="fbox"><b>Nota de editor:</b> +Devido à +quantidade de erros tipográficos existentes neste texto, +foram tomadas várias decisões quanto à +versão final. Em caso de dúvida, a grafia foi +mantida de acordo com o original. No final deste livro +encontrará a lista de erros corrigidos.<br /> + +<br /> + +<div style="text-align: right; font-style: italic;"> +Rita +Farinha (Abr. 2008) +</div> + +</div> + +<br /> + +<br /> + +<div class="bbox"><br /> + +<h2> +MEMORIA<br /> + +SOBRE A CULTURA, E PRODUCTOS<br /> + +DA<br /> + +CANA DE ASSUCAR<br /> + +</h2> + +<h3><em>OFFERECIDA</em></h3> + +<h2>A S. ALTEZA REAL.</h2> + +<h3>O PRINCIPE REGENTE<br /> + +NOSSO SENHOR.<br /> + +PELA<br /> + +MESA DA INSPECÇAÕ DO RIO DE JANEIRO.</h3> + +<h3>APRESENTADA POR<br /> + +JOZE CAETANO GOMES,<br /> + +E DE ORDEM DO MESMO SENHOR +<em>PUBLICADA</em><br /> + +POR +<span class="smallcaps">Fr.</span> JOZE MARIANO +VELLOSO. +</h3> + +<br /> + +<div style="text-align: center;"><img style="width: 300px; height: 219px;" alt="" src="images/fig01.png" /><br /> + +</div> + +<br /> + +<h4>LISBOA:<span class="smallcaps"><br /> + +Na Offic. da casa litteraria do +arco do +cego.</span></h4> + +<div class="sbreak"> +<hr /></div> + +<h4><span class="smallcaps">Anno</span> <span class="smallcaps">M. D +CCC.</span></h4> + +</div> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>SENHOR. +</h3> + +<br /> + +<br /> + +<em>A Mesa da Inspecção do Rio de +Janeiro, desejando +conformar-se com os ardentes desejos, que +V. A. R. tem de fazer felices os Habitadores do +Brasil, por huma bem entendida Agricultura, e +desta sorte satisfazer tambem as suas Reaes Ordens, +recomendou a Jose Caetano Gomes, que lhe apresentasse +as reflexões, que os seus vastos conhecimentos +lhe tivessem subministrado, sobre a factura +do Assucar nos Engenhos do Rio de Janeiro, a +que elle satisfez no dia 16 de Março do anno proxime +passado de 1799., lendo perante ella a +presente Memoria, que, sendo dirigida a V. A. R., +se dignou ordenar-me, que houvesse de a fazer imprimir, +em beneficio de seus fieis vasallos dos vastos +dominios, naquelle Continente.</em><br /> + +<br /> + +<em>Como pois André João Antonil no +seu livro +da Cultura, e opulencia do Brasil, não faz mais, +que dar huma simples relação do modo de cultivar +a Canna, extrahir Assucar no Brasil, creio, SENHOR, +ou talvez posso assegurar, que, sobre +este objecto, esta he a primeira cousa, ou a unica +melhor escripta em nossa linguagem pelas sabias, +e luminosas reflexões, com que a enriquece, e que +seu Author he digno das Soberanas vistas de +V. A. R., a cujos pés se prostra</em> +<br /> + +<br /> + +<div class="signature"><em>O mais humilde vassallo</em> +<br /> + +<br /> + +<em>Fr. Jose Mariano da +Conceição.</em></div> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h2>PROEMIO. +</h2> + +<br /> + +<br /> + +Sendo a Provincia do Brasil considerada como +melhor Colonia do Mundo, não se sentindo em +toda ella nenhum dos flagellos da natureza, pois +não há terremotos, furacões, +volcões, fomes, nem +pestes; gozando de hum clima benigno, e, á +excepção +de poucas trovoadas, que servem de depurar +o seu ár, e concorrendo todas as causas fysicas, com +huma vegetação sempre activa, para fazerem a +felicidade +dos seus habitantes, não se poderia comprehender, +o não ter chegado este bello paiz +ao maior gráo de prosperidade possivel, se se não +soubesse, que as causas moraes, podem tanto, ou +mais que as fysicas, para deteriorar o melhor +terreno. +<br /> + +<br /> + +A Agricultura, a primeira, a mais util das +Artes, que nutre a todas, e faz a base da prosperidade, +e força dos Estados, não sahio ainda da +infancia no Brasil; todas as plantas são cultivadas +por costume, e sem principios; as luzes da Europa +culta chegão cá tão fracas, que +não podem +aclarar-nos; as couzas mais triviaes, de que podíamos +ter abundancia, não se sabem trabalhar. A +Canna de Assucar sendo o vegetal mais precioso, +comparado o seu producto, com o que tirão os +Estrangeiros das Antilhas, he menos de ametade. +Entregue a sua cultura á escravos conduzidos por +hum feitor, sem mais talentos que, os que lhe suggere +<span class="pagenum">[II]</span> +a sua ferocidade; a manufactura do Assucar, +e da aguardente, executada por ignorantes, que +não sabem a razão dos factos, nem conhecem a +natureza das differentes partes, que constituem +os liquidos, sobre que trabalhão; os donos das +fábricas +olhando com indifferença para todos estes +objectos, julgando-os indignos da sua applicação; +não he de admirar, que desta sorte haja o atrazamento, +que se vê na cultura, e producto da Cana +de Assucar. +<br /> + +<br /> + +Conheço alguns Senhores de engenho, que se +distinguem pela sua instrucção; para estes +não he +que escrevo; a minha obra he dirigida sómente, +aos que sabem ainda menos do que eu, e que estão +inteiramente entregues á disposição +dos seus +obreiros. A cultura actual, respeito á que se +propõem, +faz huma grande differença. Quem está +costumado a plantar Cana na distancia de hum, +a dois palmos, e que assim se dá bem, difficilmente +poderá conceber, que, plantando na de seis, +lucrará mais. Ainda que a razão, e a experiencia +fação conhecer, que as plantas devem ser +afastadas +humas das outras, segundo a sua grandeza, +e a quantidade de succos, de que carecem, não +pertendo que se adopte o novo methodo, sem que +cada hum se convença por si mesmo da sua efficacia. +Plante-se hum quadrado de doze braças, +que deve conter quatrocentas covas de Cana, segundo +o methodo que se propoem; plante-se outro +quadrado igual, na mesma qualidade de terra, segundo +o methodo que se pratica; faça-se assento +da despeza de huma, e outra cultura separadamente; +apure-se o producto destas duas especies +de plantação; deduzão-se-lhe as +respectivas despezas +e a resulta que se achar he o que se deve +<span class="pagenum">[III]</span> +seguir. As experiencias em pequeno não arruinão +a alguem, e podem ser seguidas de grandes utilidades. +O que digo sobre a cultura da Cana, e +lembro a respeito ás suas dependencias, manufactura +do Assucar, e aguardente; he o que me parece +melhor; porém cada hum deve ver por si mesmo, +e fazer tudo o que a experiencia lhe mostrar mais +util.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h2><span class="smallcaps"></span><a name="c1"></a>DESCRIPÇAÕ<br /> + +DA<br /> + +CANNA DE ASSUCAR, +</h2> + +<h3> +SEGUNDO A VISTA<br /> + +QUE APPRESENTA. +</h3> + +<br /> + +<br /> + +A canna de Assucar, tem a apparencia das +outras cannas destituidas de medulla; he huma planta +da familia das gramineas; como ellas, he cheia +de articulações, ou nós, que +distão huns dos outros, +de meia até quatro pollegadas, segundo a bondade +do terreno, produzindo huma folha em cada +articulação, ou nó, cercada de +pequenas raizes, +onde há hum botão, ou olho, destinado a ser +canna, +se se deposita na terra. Estes espaços entre +cada articulação, a que se chama gomos, +são cheios +de huma medulla esponjosa, elastica, succosa, +doce, cuberta de huma casca pouco dura, lenhosa, +que se deixa penetrar pela unha; destinada a +se extrahir della hum sal essencial, que se chama +Assucar. O seu comprimento, ou altura, he de +seis, a doze palmos, segundo o terreno, na Cappitania +do Rio de Janeiro, e de oito, a doze linhas +de diametro. Succede adquirir algumas braças de +comprido, se cahe, e as raizes, que circundão os +nós, introduzindo-se na terra, fazem collos; +porém +só o que sobe ao ár depois da ultima raiz, he +<span class="pagenum">[2]</span> +que tem doçura, tudo o mais he perdido. A Natureza +tem destinado dezoito mezes a esta planta +para chegar á sua perfeição; se he +colhida antes, +ou depois deste termo, o rendimento he menor +em proporção que delle se afastão; +porém com +maior prejuizo depois, que antes da madureza. Isto +he relativo á Estação; grandes +sêccas, ou grandes +chuvas, accelerão, ou retardão esta colheita. +<br /> + +<br /> + +Ainda que, como outra qualquer planta, a +Canna de Assucar floreça, e dê semente, a +fórma +de se multiplicar, he lançar na terra pequenas estacas +tiradas da parte superior da Canna, onde +não tem doçura; porém isto +só póde fazer-se, quando +a plantação he ao mesmo tempo, que a colheita, +fóra disto toda a Cana desde a raiz he empregada +em estacas. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c2"></a>Como se cultiva +actualmente a Canna de +Assucar.</em> +</h4> + +<br /> + +Cada plantador de Canna, segundo as suas faculdades, +vai com dez, vinte, quarenta, ou mais escravos +com enxadas, limpar de todas as hervas huma +certa porção de terra, onde quer fazer aquillo +a que se chama partido. +<br /> + +<br /> + +As plantas, ervas, ou capins arrancados, ou +cortados com a enxada, são sacudidos da terra pelos +mesmos escravos, que trabalhão enfileirados, +juntos em pequenos monticulos, para no caso de +sobrevir chuva, não pegarem as raizes na terra. +Depois da terra capinada, ou limpa de plantas, +vão os escravos abrir covas com a mesma enxada; +cujas covas são huma especie de regos, de duas, +a tres pollegadas de profundidade, na distancia +<span class="pagenum">[3]</span> +huns dos outros, de hum palmo, a palmo e meio; +e se suppõem a terra muito boa, chegão a dois +palmos. São lançadas nestes regos duas estacas de +Canna, de palmo e meio de comprido, e se cobrem +com a mesma terra, que se tirou da cova. Faz-se +esta plantação em dois tempos; hum quando se +moe para aproveitar os olhos da Canna, que he a +parte superior della, de Junho até Setembro; o outro +em Março, que se tem pela melhor +plantação, +a qual se faz então com as estacas tiradas de +toda a Canna, que se não moeo, com o fim mesmo +de se plantar neste tempo. He de costume a qualquer +das duas plantações dar duas capinas, ou limpas. +A Canna plantada de Junho a Setembro, he +moida no anno seguinte com doze a quatorze mezes; +a plantada em Março, de dezoito a vinte mezes; +huma, e outra se deixa ficar por não se poder +moer, para Canna velha; planta-se, ou moe-se +na safra subsequente. Da Canna, que se cortou, +colhe-se a sócca no anno seguinte, e dahi todos +os annos as ressócas, em quanto no terreno brotão +Cannas. Ainda que se conheça, que estas ressócas +rendem progressivamente ametade, as ultimas +em respeito ás antecedentes, todos as aproveitão +quanto podem. Alguns lavradores, rarissimos, se tem +servido do arado para fazer os regos, e de algum +estrume nas terras já cançadas, porém +o numero +he tão diminuto, que não merece entrar em linha +de conta; o geral he limpar a terra a braço, ajuntar +o capim, fazer covas com a enxada sem ali +huns dos outros, de hum palmo, a palmo e meio; +e se suppõem a terra muito boa, chegão a dois +palmos. São lançadas nestes regos duas estacas de +Canna, de palmo e meio de comprido, e se cobrem +com a mesma terra, que se tirou da cova. Faz-se +esta plantação em dois tempos; hum quando se +moe para aproveitar os olhos da Canna, que he a +parte superior della, de Junho até Setembro; o outro +em Março, que se tem pela melhor +plantação, +a qual se faz então com as estacas tiradas de +toda a Canna, que se não moeo, com o fim mesmo +de se plantar neste tempo. He de costume a qualquer +das duas plantações dar duas capinas, ou limpas. +A Canna plantada de Junho a Setembro, he +moida no anno seguinte com doze a quatorze mezes; +a plantada em Março, de dezoito a vinte mezes; +huma, e outra se deixa ficar por não se poder +moer, para Canna velha; planta-se, ou moe-se +na safra subsequente. Da Canna, que se cortou, +colhe-se a sócca no anno seguinte, e dahi todos +os annos as ressócas, em quanto no terreno brotão +Cannas. Ainda que se conheça, que estas ressócas +rendem progressivamente ametade, as ultimas +em respeito ás antecedentes, todos as aproveitão +quanto podem. Alguns lavradores, rarissimos, se tem +servido do arado para fazer os regos, e de algum +estrume nas terras já cançadas, porém +o numero +he tão diminuto, que não merece entrar em linha +de conta; o geral he limpar a terra a braço, ajuntar +o capim, fazer covas com a enxada sem alinhamento, +plantar sem estercar, fazer toda a plantação +em hum, ou dois partidos, fugindo de terras +virgens, porque, assim como as muito estercadas, +ou estrumadas, fazem a Canna, a que se chama +taioba, quero dizer, muito aquosa, muito oleosa, +e pouco assucarada. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum"><a name="p4">[4]</a></span> +<h4><em><a name="c3"></a>Notas +sobre esta fórma de +plantação.</em> +</h4> + +<br /> + +Sendo a Canna de Assucar huma planta, destinada +pela Natureza a alcançar doze, dezaseis, vinte, +e mais palmos de altura, segundo o terreno, +e até pollegada e meia de diametro, não he +possivel +que possa prosperar plantando-se tão junta; +porque rouba huma a substancia da outra. Tambem +as covas, ou regos, em que se planta, não +tem bastante profundidade; duas, ou tres pollegadas +não bastão para a suster. +<br /> + +<br /> + +Plantando-se sem alinhamento, em confusão, +nunca o sol, e o vento podem aperfeiçoar o seu +succo. Fazendo-se a plantação em hum, ou dois +partidos, póde pegar o fogo em ambos, o que succede +algumas vezes, e fica seu dono empobrecido. +A experiencia tem feito conhecer, que todos os +fructos doces carecem do Sol, e ár para alcançar +a sua perfeição, e que o mesmo sol bata a nu +sobre +a terra, que cobre as suas raizes; não se reunindo +estas circumstancias, os fructos se deteriorão +á proporção. Em Portugal as uvas, a +que chamão +de forcado, são sempre imperfeitas, porque +as arvores, que as cobrem, lhes roubão a luz. +As larangeiras no Brasil, cubertas de erva de passarinho, +dão, pela mesma causa, laranjas pouco +doces. +<br /> + +<br /> + +Ainda que estas larangeiras estejão limpas da +mesma herva, ainda que estejão n'hum campo solitarias; +se a terra, por onde estão permeadas as +suas raizes, está cuberta de herva, ou capim, que +impeça a luz de bater sobre ella, os fructos são +sempre azedos. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[5]</span> +Nenhum author, que trate da Canna de Assucar, +manda plantalla em menos distancia, que a +de tres pés, e alguns querem seis, e sete, que +são nove, e dez palmos e meio de cova a cova: +isto ha de parecer hum paradoxo aos nossos lavradores, +que até tem hum ditado: quero canna mil, +e não gentil. Porém da +perfeição, com que nas +Colonias estrangeiras se faz esta cultura, a mais +preciosa d'America, he que tem procedido o gráo +de prosperidade, a que se tem elevado, e de que +somos privados, por seguirmos sómente hum trilho +cégo, e sem reflexão. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c4"></a>Theoria para a +cultura da Canna de +Assucar.</em> +</h4> + +<br /> + +O Que vou dizer he hum extracto do que tenho +visto sobre esta materia. Os principios para a cultura +da terra, segundo os Antigos, que suppunhão +as raizes das plantas, como os unicos orgãos para +receber a sua nutrição, consistião em +lavrar a +terra com diversos instrumentos para a pôr bem +movel, estrumalla, e depois de hum certo numero +de colheitas, dar-lhe descanço, quero dizer, +conservalla limpa sem nutrir planta alguma. Os estercos, +e estrumes de que se servião, era toda a +especie de excrementos de animaes, e vegetaes +podres. Os modernos adoptando os mesmos principios, +instão por mais lavras; dão o descanço +nos +grandes intervallos, que deixão entre planta e planta; +estes intervallos são lavrados durante a +vegetação; +além dos estrumes de que se servião os Antigos, +accrescentárão o dos marnes, ou terras +saponaceas, +e o dos rebanhos nas terras que se propõem +cultivar; e alguns Authores não querem esterco, +<span class="pagenum">[6]</span> +que substituem com lavras, e mais lavras, +origem da immensidade de instrumentos, que se +tem inventado a este fim. Estes principios são certos +em parte, e em parte diametralmente oppostos +ao fim que se busca. A quem ignorar os descobrimentos +mais modernos, ha de parecer paradoxo +o dizer-se, que a terra natural não concorre +para a vegetação das plantas; que estas +não tirão +della alimento algum, e que só serve de alicerce +para suster a sua corporeïdade. Há terra +vitrescivel, +terra calcarea, terra argillosa, ou barro, marne, +e humus. +<br /> + +<br /> + +A terra vitrescivel absolutamente esteril, he +aquella de que foi composto, e faz a solidez do +nosso Planeta. A terra calcarea he o residuo da +decomposição dos corpos animaes. A terra +argillosa +he o residuo da decomposição dos vegetaes. +<br /> + +<br /> + +O marne, ou terra saponacea, he a combinação +destas duas especies de terra, variado a infinito +com a arêa, ou terra vitrescivel, segundo as +proporções da sua mistura. O humus, materia +tão +preciosa para a vegetação, he a +combinação da decomposição +dos corpos organisados, vegetaes, e +animaes de recente data, que tem a propriedade +de dissolver-se n'agua, pelo oleo animal, e sal do +vegetal, e com este liquido formar hum sabão, que +se transforma em seiba, que he o sangue da planta. +<br /> + +<br /> + +A argilla, ou barro de todas as especies, e as +terras calcareas, são humus envelhecido, a quem +a decomposição dos animaes phlogisticou, e com o +seu gluten, fez tão tenazes as suas partes, que +são impermeaveis ás raizes das plantas; +porém combinadas +com a arêa, ou terra vitrescivel, ficão terras +proprias á vegetação. As plantas +são viventes, +<span class="pagenum"><a name="p7">[7]</a></span> +que tem a faculdade de se reproduzir pela semente, +pelo tronco, e pela raiz. A experiencia de +Boyle, milhares de vezes repetida, e sempre +confirmada, prova com evidencia, que tirão a maior +parte da sua nutrição do ár; ellas tem +vasos absorventes +para receberem o alimento, e vasos exhalantes +para se alliviarem do superfluo; ainda que +estes orgãos se não percebão +á simples vista, a +existencia delles he huma verdade. Assim como os +animaes dão pasto a differentes especies de insectos, +tambem os vegetaes sustentão huma innumeridade +delles; cada hum tem os seus. Huma folha +que cahe de qualquer planta, causa a morte a milhares +de entes invisiveis. O fogo, o ár, a agua, o +humus, e a terra concorrem para a vegetação. O +fogo he o motor, o ár o agente, a agua o vehiculo, +o humus o que faz a seiba. +<br /> + +<br /> + +O fogo como calor, e como luz, faz subir os +fluidos nas plantas desde a raiz; a frescura da noite +os faz descer, fazendo assim huma especie de +circulação, e desta sorte capazes de receber +pelos +vasos absorventes das suas folhas, do seu tronco, +da sua raiz, as partes que os meteoros atmosphericos +lhe communicão. A agua muito composta, +como elemento, faz com o gáz, ou ár fixo, a parte +mais consideravel da planta. O ár como atmospherico, +e o receptaculo onde se combinão todas as +emanações da natureza, serve de todas as sortes +á planta; e o humus faz as partes fixas della. A terra +he a matriz da semente, ou planta, que serve de +cadêa, ou alicerce para esta se desenvolver, e +suster; e a fertilidade que se lhe suppõem, he devida +sómente ás partes do humus, que em si +contém, +boa, ou má, segundo a maior, ou menor +quantidade, que encerra desta preciosa materia, +<span class="pagenum">[8]</span> +segundo a planta; que deve nutrir; deve ser trabalhada, +dividida, ter toda a facilidade para receber +as aguas das chuvas, dos orvalhos, dos outros +meteoros aquosos, todos os principios fecundantes +espalhados na atmosphera, e deixar-se penetrar +das raizes, que se vão estendendo á +proporção +que a planta cresce. A abundancia do humus +nos terrenos cubertos de mato virgem, quando +este mato se derruba, e se põem a terra em +cultura, faz prosperar extraordinariamente os vegetaes +nella cultivados. Este humus, convertendo-se +nas partes solidas das plantas, vai diminuindo +a pouco, e pouco; e passados annos fica a terra +exhaurida desta preciosa materia, e por consequencia +esteril. A experiencia fez conhecer em +todos os tempos, que os estrumes, e materias estercoraes +reparavão de alguma sorte esta falta, e +se usou delles com bom successo; porém que não +bastando, era preciso dar descanço a esta terra, +descobrindo-a de todas as plantas, lavrando-a muitas +vezes, esperando que a atmosphera a fecundasse. +Isto he hum grande erro, porque o calor +do Sol batendo a nu sobre esta terra, a faz arida, +e vindo depois huma chuva, a pequena porção do +humus, que em si contém, he levado a outra parte, +e por consequencia fica ainda mais empobrecido +o mesmo terreno, que com este methodo +se quer enriquecer. He evidentemente demonstrado, +que para a terra não cançar, adquirir, e +conservar o seu humus, e fertilidade, he preciso +que esteja sempre cuberta de plantas. Devem cultivar-se +aquellas de que se pertende utilidade; quando +estas se colherem, lançar a semente de outras +de prompto crescimento, que tenhão grandes, e +brandas raizes, que cubrão bem a terra, taes como +<span class="pagenum"><a name="p9">[9]</a></span> +nabos, rabãos, cenouras, +batatas, aboboras, +etc. e antes de chegarem ao seu total crescimento, +serem lavradas, enterradas; e quando tiverem +apodrecido, ou estiverem reduzidas a humus, plantarem-se, +ou semearem-se aquellas, de que se pertende +redito. +<br /> + +<br /> + +Trabalhando-se continuada, e alternativamente +desta sorte, podem evitar-se todos os estrumes, +e estercos; estes são inventados pelos homens, e +o humus he o da natureza. As vargens que estão +cercadas de serras, collinas, montes, se estas eminencias +se conservão coroadas de matto, são sempre +ferteis, porque o humus, que estes mattos estão +continuadamente depositando na terra, dissolvido +pelas chuvas, vai enriquecer as vargens. As +fraldas destas eminencias podem ser cultivadas para +pequenos vegetaes, se o angulo, que fizerem, +não passar de quarenta, e cinco gráos porque +então só grandes arvores lhes convém. +<br /> + +<br /> + +Os proprietarios destas eminencias, que as +descoroão de mattos, empobrecem o Estado a +perpetuidade; a coroa sendo descuberta, apresenta +huma superficie nua aos raios do Sol, e passados +poucos tempos ficão reduzidas a escalvados; porém +a perda que não se repara mais, he a das chuvas, +que os grandes vegetaes tem a propriedade de chamar. +<br /> + +<br /> + +O humus não basta só para conduzir as plantas +á sua perfeição; ellas carecem ainda +da luz, +3, do ár renovado, 4, de ter a superficie da terra +até onde podem extender-se as suas raizes, despida +de plantas; esta mesma terra revolvida, bem dividida, +e haver entre planta, e planta huma certa +distancia, proporcionada aos succos, de que carecem, +segundo a sua natureza; haver huma escolha +<span class="pagenum">[10]</span> +escrupulosa na semente, ou planta, e conhecer +qual he o tempo proprio para se lançar na +terra, etc. etc. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c5"></a>Como se deve +cultivar a Cana de +Assucar.</em> +</h4> + +<br /> + +A Experiencia tem feito conhecer, que o melhor +tempo de plantar a Canna na Capitania do Rio de +Janeiro, he de Dezembro a Março, para ser moida +de Junho a Septembro do anno subsequente, com +dezoito mezes de idade. Como nestes mezes não +há olhos de Canna, usa-se cortar da Canna, que se +deixou para velha, pequenas estacas; porém esta +Canna velha, que está deteriorada por ter passado +do ponto da sua madureza, tem sim bastante doçura, +porém os botões, ou olhos dos seus +nós, ou +articulações, que he o que deve ser Canna, huns +estão já murchos, outros podres, e por +consequencia +perdidos; e só a parte superior da Canna, que +sempre conserva verdura, pouca doçura, e mesmo +acidez, he o que nasce facilmente. +<br /> + +<br /> + +Ainda que os botões estejão em bom estado, +devem desprezar-se as Cannas velhas, porque em +quanto tem doçura, não nascem, e he preciso hum +mez, e mais tempo para a perderem. Para se fazer +huma plantação perfeita, he preciso fazer a +planta. +No principio da moagem, devem plantar-se os +olhos, ou parte superior da Canna, n'huma terra de +muita substancia, lodosa mesmo, em terreno virgem, +que tenha bem humus, ou seja bem estercado, +para a Canna, que nascer, ser bem ataiobada, +ou selvagem. Desta Canna sem doçura, e bravia, +he que se tirão as estacas para fazer a +plantação; +cujas estacas devem ter o comprimento, +<span class="pagenum">[11]</span> +que alcancem quatro nós, que segundo a distancia +de nó a nó, serão mais compridas, ou +mais +curtas. Esta Canna plantada n'hum terreno tão pouco +proprio para se lhe extrahir o Assucar, não he +perdida; além da utilidade da boa planta, no fim +de dois, ou tres cortes, póde servir para Assucar; +porém deve haver o cuidado de renovar a Canna +para a planta. A Canna de Assucar cresce em todas +as especies de terra; porém as que são gordas, +fortes, baixas, lodosas, novamente roteadas, quero +dizer, donde se derrubou matto virgem, a pezar +do comprimento, ou altura, que alcanção, tem o +succo aquoso, oleoso, pouco assucarado, difficil +de cozer, de purificar, sem rendimento. Hum terreno +ligeiro, poroso, profundo, inclinado até quinze +gráos, he aquelle que a natureza tem destinado +a este rico vegetal. Deve-se dividir o terreno destinado +para a Canna em tres partes, e cada huma +destas partes, subdividir-se em pequenos quadrados +de doze braças cada hum; qualquer que seja +a exposição do terreno, sempre estes pequenos +quadrados hão de ser alinhados de Norte a Sul, +de Leste a Oeste. <a href="#f1"><em>Veja-se a +Estampa +I.</em></a> Cultivão-se +estes pequenos quadrados, deixando os lados de +cada hum delles para todas as partes, livres da +planta da Canna; porém podem occupar-se em +mandioca, carás, batatas, feijão, milho, +aboboras, +ervilhas, etc. Cada hum dos quadrados, se +tiver doze braças de frente, e doze de fundo, +deve conter quatrocentas covas, na distancia humas +das outras de seis palmos. Para se fazerem +estas còvas, não he preciso que todo o quadrado +esteja descuberto de capim, basta que seja limpo +pouco mais que o tamanho dellas, que devem ter +dois palmos de comprido, hum palmo de largo, +<span class="pagenum">[12]</span> +e seis pollegadas de fundo. Comparadas estas covas +com as que se fazem actualmente, hão de +parecer muito grandes, e muitos fundas; e na realidade +o não são, respeito ás que fazem os +Colonos +das Antilhas, e o mesmo digo sobre a distancia +dellas; pois elles chegão a afastallas humas das +outras, até dez palmos e meio, e a dar-lhe dezoito +pollegadas de comprido, doze de largo, e oito +de fundo. O milho para prosperar de serra acima, +para os seus cultores colherem duzentos por hum, +he preciso fazerem as covas na distancia de cinco +a seis palmos, nas quaes lanção quatro, ou cinco +grãos; ora este vegetal não tem o corpo da Canna +de Assucar, nem como ella carece de tanta substancia, +e alimento; a cova de milho he para quatro, +ou cinco pés, a da Cana para oito, ou dez, +que tantas são as que devem nascer, dos olhos, +os botões das duas pequenas estacas, que se +deitão +nas covas, e se devem conservar, cortando todas +as que demais nascerem, porque como ladrões +lhe roubão a substancia. +<br /> + +<br /> + +He certo que com a enxada, que se usa no +Brasil, que he talvez a primeira que se inventou, +e onde não chegou ainda a enxada de Luca, Franceza, +ou Ingleza, he hum pouco difficil fazer esta +especie de covas; são precisas de vinte a trinta +golpes, quando com qualquer das mencionadas, +bastão tres, ou quatro. A nossa enxada he fatigante, +o trabalhador anda curvado; e tendo o ferro de +cinco a seis libras, elle carrega com vinte, ou +mais nas cadeiras; nesta especie de serviço o homem +baxo tem vantagem ao homem alto, a quem +he preciso maior curvatura, e por consequencia +dobrado esforço. Na Republica de Luca, e em algumas +Provincias de França, não se usa de arado, +<span class="pagenum">[13]</span> +nem de charrua, porque a sua enxada equivale ao +trabalho destes instrumentos, e fica a terra mais +bem trabalhada. +<br /> + +<br /> + +No Brasil onde os mesmos instrumentos pouco +uso podem ter, he de huma grande vantagem +o adoptarmos a enxada Luqueza, ou outra com +pouca differença, que he huma especie de +pá, +com dez pollegadas de altura, nove de largura em +cima, oito em baxo, com a grossura de meia pollegada, +a acabar em huma linha, bem temperada +de aço, com hum alvado de seis pollegadas, quatro +a meio ferro, e duas sobresahindo, e com a +vacuidade de pollegada e meia de diametro, que +vai diminuindo insensivelmente, com dois furos no +alvado, para com huma cavilha se fazer firme o +cabo, que deve ter oito palmos de comprido. <a href="#f2"><em>Veja-se +a Estampa II. Fig. I. e II.</em></a> O trabalhador +com este instrumento tem o corpo direito, virado +para o Norte, os calcanhares afastados pouco mais +de meio palmo; a enxada afastada quasi hum palmo +do pé esquerdo; a mão esquerda por todo o +comprimento do braço, pegando no cabo; e a mão +direita pegando no mesmo cabo, quasi no hombro +direito <em>Fig. III.</em> A +mão esquerda levanta a enxada +até onde póde hir, sem que o antebraço +se desuna +do corpo. <em>Fig. IV.</em> A mão +direita da altura, a que +chegou, impelle a enxada com toda a força, e a +esquerda deixa escorregar o cabo, segundo a ferida +que a enxada fez na terra. Para se tirar esta +terra, serve de apoio a mão esquerda, e a direita +carregando no cabo, levanta a pá, e ambas a guião +para lançar a terra a qualquer parte; porém deve +ser regularmente para Oeste, ou Leste. No segundo +movimento, deve chegar-se o calcanhar do pé +esquerdo ao do direito, e este ladear para a direita +<span class="pagenum">[14]</span> +tanto quanto a enxada cava, e assim progressivamente. +<br /> + +<br /> + +Designados os quadrados para a plantação da +Canna, vão a cada hum vinte trabalhadores; o seu +feitor os deve pôr enfileirados olhando para Oeste, +na distancia de seis palmos huns dos outros; manda-os +andar á direita para ficarem virados para o +Norte; manda-lhe passar o pé direito a perfilar com +o esquerdo, na distancia pouco mais que meio palmo; +e desta sorte principião o trabalho, abrindo +as covas de Oeste para Leste, de manhã até ao +meio dia, servindo de guia a sombra do corpo; e +do meio dia para a noite virados para o Sul fazem +o mesmo; ou tambem podem trocar as mãos, porque +se trabalha para o lado direito, assim como +para o esquerdo; devendo buscar-se de qualquer +sorte o alinhamento perfeito das covas de Norte +a Sul, e de Leste a Oeste, o que he essencial para +a perfeição da cultura deste rico vegetal. +<br /> + +<br /> + +Feitas as covas, devem lançar-se nellas duas +estacas de Canna, que não tenhão menos de quatro, +nem mais de cinco botões, para quando nascerem, +fazerem huma soqueira de oito, ou dez +Cannas. Cobrem-se estas estacas com duas pollegadas +de terra, e quando tem nascido a Canna, +e alcançado dois palmos pouco mais de altura, enchem-se +as covas com o resto da terra. Limpão-se +as Cannas de todas as hervas que podem roubar-lhe +a substancia, á proporção que forem +nascendo. +Esta plantação deve fazer-se de Janeiro +até +Março, e não antes, nem depois. Qualquer que +seja a qualidade da terra, não deve pretender-se +mais, que dois cortes; o primeiro dahi a dezoito +mezes, o segundo a que se chama sóca, dahi a +quinze, ou dezaseis mezes. Depois deste segundo +<span class="pagenum">[15]</span> +córte, deve occupar-se o terreno em que esteve +a Canna, com aboboras de todas as especies, que +tem a propriedade de cubrir bem a terra, para que +as raizes da Canna apodreção, e depois de +convertidas +em humus, ficar a terra apta para receber +nova Canna, que dahi a mais de hum anno se lhe +póde confiar. De Janeiro a Março do segundo anno, +cultiva-se a segunda divisão, e no anno seguinte +a terceira. A quarta plantação faz-se nos +mesmos quadrados da primeira; a quinta, nos segundos, +a sexta nos terceiros, a setima nos primeiros +da primeira, a oitava nos da segunda, a +nona nos da terceira, e assim alternativamente; +de sorte que a Canna de cada quadrado tenha intervallo +bastante, que a livre de plantas, que lhe +roubem a luz. Esta fórma de plantação +póde variar-se +a infinito, segundo a quantidade de terreno, +e intelligencia do cultor. +<br /> + +<br /> + +Em lugar de quadrados perfeitos, podem ser +quadrados longos etc., com tanto que se busque +sempre o dar á Canna, a maior quantidade de ár, +e luz possivel; porque a experiencia faz ver com +evidencia, que só a dos aceiros, que recebe continuadamente +a influencia destes dois agentes, he +que alcança perfeição no seu succo; a +que está +para dentro, fica sempre esverdeada, o seu succo +mal digerido, difficil de cozer, e de purificar; por +consequencia o fim do lavrador deve ser quanto +lhe for possivel, fazer todo o Canaveal em aceiro. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[16]</span> +<h4><em><a name="c6"></a>Vantagens desta +fórma de +plantação.</em> +</h4> + +<br /> + +Se há fogos por accidente, he moralmente impossivel, +que passem de huns a outros partidos, +tendo tão grande separação entre si. +Nunca os +carros, nem animaes pizão o Cannaveal, quando +se conduz a Canna á fábrica. Há +facilidade para se +verem as Cannas de todos os pequenos partidos, +para se cortarem os filhos que brotão, que como +ladrões lhe roubão a substancia. +<br /> + +<br /> + +Quasi todo o Cannaveal está em aceiro, quero +dizer, está apto para receber a influencia, e +nutrição, que lhe communica a atmosphera. A +renovação, +e correnteza do ár impede a geração, e +propagação de insectos, taes como baratas, e +outros, +que a sua corrupção tem a propriedade de +chamar. Pelo alinhamento de Norte a Sul, de Leste +a Oeste, recebem as Cannas os raios da luz, que +o Sol póde communicar-lhes, e que lhes são +tão +precisos para a depuração do seu succo. +<br /> + +<br /> + +Facilita o tarefar o trabalho, etc. etc. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c7"></a>Córte +das Cannas.</em> +</h4> + +<br /> + +A Canna de Assucar gasta dezoito mezes a chegar +ao seu ponto de perfeição, porém se +há seccas, +anticipa-se; o gosto, e a vista he que decidem +a colheita; quando está bem doce, e tem a +côr amarellada, he tempo de cortar. He sabido de +todos, que principia a ser doce do pé, e que esta +doçura vai diminuindo gradualmente para a parte +superior, e que junto á bandeira, ou olho, não +<span class="pagenum">[17]</span> +só não tem doçura, porém +mesmo tem acidez, e +he por consequencia hum erro, o aproveitalla até +ás folhas. Deve sim cortar-se bem rente á terra +sem ferir as raizes, porém o palmo junto ás +folhas, +deve-se desprezar. Segundo a sua grandeza, +se ha de cortar em huma, duas, e talvez tres +partes, servindo de ballisa, o não ter mais de cinco, +ou seis palmos, para se appresentar á moenda. +Usa-se, quando se corta, fazer feixes de seis, ou +oito Cannas, segundo a sua grossura, cujos feixes +são amarrados com os olhos das Cannas que se +cortárão. Esta especie de atilhos he tirada dos +feixes +de Canna, quando se appresentão á moenda, +porém escapão muitos, que se espremem com a +Canna; ora, tendo elles acidez, vão deteriorar o +sumo, de que se ha de fazer Assucar, gastar mais +decoada, e lenha, além do tempo, e serviço que +se perde; porque no acto de cortar a Canna, são +precisas quasi tantas pessoas para amarrar, como +para cortar; e para a conducção tanto importa +estar +em feixes, como solta, e o mesmo para se meter +na moenda, onde o trabalhador póde regular +o pegar em seis, ou oito, doze, ou dezaseis, para +as appresentar. Deve haver cuidado de não se +cortar mais Canna, que a que póde moer-se em +vinte e quatro horas, principalmente se o calor he +intenso, porque o sumo fermenta na mesma Canna, +o que arruina a sua qualidade. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c8"></a>Construcção +dos engenhos +actuaes.</em> +</h4> + +<br /> + +Todos os engenhos de fazer Assucar na Capitania +do Rio de Janeiro, qualquer que seja a potencia, +agua, bestas, ou bois, tem a mesma construcção, +<span class="pagenum">[18]</span> +á excepção de tres modernamente +feitos, +que reunem algumas vantagens, todos os mais +he hum grande pião, que faz fazer huma casa de +sessenta palmos livres, acabando em varandas á +roda, algumas subdivididas; cujas varandas são +maiores, ou menores, segundo o destino, que se +lhes dá, de picadeiro, casa de caldeiras, casa de +purgar, casa de encaixe, casa de aguardente, fornalhas, +e varandas de carros; com algumas trapeiras +para dar sahida ao fumo, e luz. No centro desta +grande casa de sessenta palmos, se o engenho +he moido por animaes, está a meza com as moendas; +na moenda do meio, vulgarmente chamada +a moenda grande, que pela sua dentadura faz moer +as dos lados, há quatro aspas, ou almanjarras, a +cada huma das quaes puxão dois animaes, formando +hum circulo á roda da meza, de cincoenta +e seis palmos de diametro, vindo a ter as almanjarras +por onde puxão os oito animaes, vinte e +oito palmos de comprido; os dois palmos que faltão +para os trinta, ou quatro para sessenta da capacidade +da casa, he folga para os animaes, que não +devem roçar pelas paredes. +<br /> + +<br /> + +Se o engenho he de agua, na moenda do +meio há huma grande roda, de trinta e seis a quarenta +palmos de diametro, a qual está n'hum eixo +horisontal, e nelle huma roda vertical, de trinta +a trinta e seis palmos, que nos cubos da sua circumferencia +recebe a agua, que he a potencia. +Há hum engenho de agua com rodizio, ou roda horisontal, +que reunindo a vantagem de tocar dois +ternos de moendas, e ser obra tão perfeita neste +genero, não tem tido imitadores, por parecer á +primeira vista, ser a roda vertical de maior força +que a horisontal, o que he engano, como farei ver. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[19]</span> +<h4><em><a name="c9"></a>Notas sobre +esta fórma de +construcção.</em></h4> + +<br /> + +<br /> + +Para se fazer huma casa de sessenta palmos livres, +são precisas vigas de sessenta e quatro palmos +de comprido, que ficão fracas, se não tiverem +dois palmos por cada face; he custoso achar +estes madeiros, difficultosa a sua conducção, +perigoso +o levallos acima do edificio, que fica sobrecarregado +com este desmarcado pêso, e por +consequencia +fraco. As trapeiras, de que usão para +dar sahida ao fumo, e entrada á luz, são +insufficientes, +e há occasiões, em que quasi se he suffocado +pela fumaça, e sempre he precisa a candêa +para se verem os objectos. Os animaes no seu +giro, circulando as moendas, estorvão a passagem, +aos conductores da Canna, que algumas vezes succede +serem atropellados; os picadeiros de sobrado, +que se fizerão n'hum engenho, para evitar estes +accidentes, não tiverão imitadores; e o mesmo +engenho os abolio por incommodos. O sumo, +que sahe das Cannas pela expressão das moendas, +he conduzido por huma calha ao parol, a que chamão +de caldo frio; no circulo, que fazem as bestas, +atravessão esta calha, o que fórça +pôlla junto +á terra, e o dormente dos moendas com pouca +altura, e por consequencia o não se poder moer +Canna, como deve ser. Ainda que o engenho seja +de agua, como estas fábricas forão feitas por +imitação +de humas a outras, o prospecto he o mesmo, +e não tem os commodos, que se devião buscar; +multiplica-se serviço, por ser preciso usar de +pótes, e barris para levantarem os liquidos, que +devião ser conduzidos por bicas, ou calhas, até +cahirem nos alambiques. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[20]</span> +<h4><em><a name="c10"></a>Nova +construcção de +engenhos.</em></h4> + +<br /> + +Em mechanica o ser senhor da potencia, para +augmentar, diminuir, e modificar a força ao seu +arbitrio; ajuntar a estas vantagens a da elegancia, +commodo, e economia, parece que he tudo, quanto +se póde desejar. +<br /> + +<br /> + +O engenho, que se propõem para modello, +não tem hum páo de maior comprimento, que o +de quarenta e quatro palmos, com huma face de +palmo e meio, e outra de hum palmo, e estes +são os tirantes; todos os mais páos +são de hum +palmo, tres quartos, meio palmo, com menos comprimento, +á excepção dos esteios, com palmo e +meio de face, e de quarenta para cima de comprido. +<br /> + +<br /> + +O edificio por dentro, debaxo de huma cumieira, +tem cento e sessenta palmos de comprido, +quarenta e dois palmos de largura, e trinta e +tres de altura em pé direito. +<br /> + +<br /> + +Na altura de trinta palmos está hum segundo +frechal, que cinge todo o edificio, e serve sômente, +para encabeçar os caibros das varandas, e +deixar hum claro de tres palmos, para dar luz, e +sahida ao fumo. +<br /> + +<br /> + +Este engenho he para o trabalho de bestas, +ou bois, porém a sua construcção he, +como se fosse +para agua, girando tudo sobre pião. Na moenda +do meio tem huma roda com oito aspas, a que +se chama bolandeira, com trinta e seis palmos de +diametro de centro de dente, a centro de dente, +e noventa e seis dentes na sua circumferencia, +que ficão na distancia de pouco mais de palmo +<span class="pagenum">[21]</span> +huns dos outros; os dentes desta roda são de coroa. +Esta roda he movida por hum rodete estrellado +de trinta e dois dentes, cujo eixo em pião +tem duas almanjarras; da ponta de cada huma das +quaes ao centro do eixo, são quatorze palmos. +Os animaes trabalhão nesta máquina, em huma +especie de pôço calçado, com +oito palmos de +profundidade (póde ser mais, ou menos) cercado +com huma varanda. Esta especie de pôço he +formada pelo aterro da casa, onde gira a máquina, +e estão as moendas. Já se vê que, tendo +o +rodete a terça parte da bolandeira, he preciso que +dê tres voltas para a bolandeira dar huma; e, como +os animaes puxão na distancia de quatorze palmos +do centro, devem fazer tres circulos de vinte +e oito palmos de diametro, que fazem oitenta +e quatro palmos, para as moendas darem huma volta, o que faz puxar por +huma almanjarra, ou +alavanca de quarenta e dois palmos. He certo que +oitenta e quatro palmos de diametro fazem oitenta +e quatro passos de circumferencia; e, tendo os +engenhos communs as suas almanjarras em cincoenta +e seis palmos de diametro, que fazem cincoenta +e seis passos de circumferencia, parece +que farão em menos tempo virar as moendas; porém +não he assim; porque a pezar de serem oito +os animaes, que puxão estas almanjarras, e poderem +só quatro, e menos puxar as outras, por +ter a sua alavanca mais quatorze palmos de comprido; +attendendo ás paradas, que os oito animaes +fazem a cada passo, para vencer a resistencia, e +á suavidade, com que os quatro +andaráõ, sem nunca +achar obstaculo, que faça retardar o seu passo +natural, fica igualado o serviço, e talvez superior +o dos quatro: além disto, ainda que eu não +conheça +<span class="pagenum">[22]</span> +no Rio de Janeiro, quem possa occupar sempre, +e no seu devido tempo, esta máquina trabalhando +assim, mettendo Canna como deve metter-se; +quem quizer andar mais veloz, encurte as almanjarras, +e augmente o numero de bestas, e póde +levar isto ao ponto, que lhe parecer; vantagem +de que são privados os engenhos actuaes, que hão +de restringir-se ao numero de oito sómente. +<br /> + +<br /> + +Por esta nova fórma cada hum póde trabalhar, +segundo as suas forças: se em lugar do rodete +pela terça parte, o fizer pela quarta, conservando +as almanjarras no seu comprimento, faz puxar +as bestas por huma alavanca de cincoenta e +seis palmos, e se ha de moer com quatro, póde +fazello com duas, e mesmo huma. Assim como +póde diminuir; se fizer o rodete por ametade, augmenta +o movimento, e fica a almanjarra de vinte +e oito palmos, e tem a vantagem de meter oito, +dez, doze, dezaseis bestas, o que não póde +fazer na construcção actual; porque +então não terião +passagem os carregadores de Canna para as +moendas, que estão sempre desembaraçadas na +construcção, que se propõem; +porém a proporção +da terça parte, he, segundo o meu cálculo, a mais +ajustada. +<br /> + +<br /> + +<a href="#f3"><em>Veja-se a Estampa III.</em></a> +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c11"></a>Sobre o +movimento das moendas.</em> +</h4> + +<br /> + +Eu não tenho noticia de que houvesse ainda quem +regulasse o movimento das moendas, para fazerem +o maior effeito possivel n'hum termo dado, +sendo isto hum objecto, que merece toda a +ponderação. +Vendo que em hum engenho movido por +<span class="pagenum">[23]</span> +bois, dão as moendas huma volta por minuto; n'hum +por bestas quasi volta e meia; nos de agua duas, +tres, quatro, e mais voltas; pensando todos geralmente, +que quanto maior numero de voltas der +em menos tempo, mais moerá, fiz exame a este +respeito, e achei que o movimento de duas voltas +por minuto, he o ponto de perfeição; e que +tanto menos se moerá, quanto se afastarem delle +para mais, ou para menos. Quando boas bestas, +e descançadas, excitadas pelo açoite +puxão pelas +almanjarras a trote, e fazem dar ás moendas duas +voltas e meia por minuto, a Canna fica esmagada, +e não espremida; porque o sumo não tem +tempo da cahir, e passa em cima da Canna para +a outra parte; e como ella he hum corpo esponjoso, +e elastico, logo que cessa o aperto, torna +a beber o mesmo sumo, do qual só numa pequena +parte cahe na meza; e se em duas voltas e meia succede +isto, peior em tres, quatro, e mais. N'hum +engenho movido por bestas, não póde haver excesso +no movimento, poderia talvez prejudicar por +defeito, se houvesse quem tivesse forças para fazer +de dez a doze mil arrobas de Assucar annualmente, +o que nunca succedeo; porém havendo quem +possa fazellas, ou ainda mais, póde pôr dois +ternos +de moendas, que o mesmo rodete faz moer, +segundo o modello que se propõem. Com a roda +vertical dos engenhos de agua, he hum pouco dificultoso +regular o movimento das moendas; só se +a agua he muito alta, o que raras vezes succede; +sendo baxa, e muita, que possa dar-se-lhe +toda a força que se precisa, o rodete he muito +grande, e faz que a bolandeira dê tres, e quatro +voltas por minuto, o que retarda o serviço, como +acima se diz; só se a roda vertical tivesse de cincoenta +<span class="pagenum"><a name="p24">[24]</a></span> +a sessenta palmos de diametro, o que não +póde ser sem muito incommodo. Com a roda horisontal, +vulgarmente chamada rodizio, he facil graduar +o movimento. +<br /> + +<br /> + +O maior, ou menor declivio na bica de ferir +as pennas; maior, ou menor diametro no rodete, +ou no mesmo rodizio, faz conseguir o que +se quer sem custo. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c12"></a>Comparação +da roda vertical +com +a horisontal.</em> +</h4> + +<br /> + +He sabido de todos, que em qualquer máquina, +a agua obra sómente pelo seu pêso. Supponho +ter huma bolandeira com trinta e seis palmos +de diametro, movida por <a href="#e1">hum</a> +rodete de +oito; a +roda vertical de trinta e seis; a agua na altura de +vinte palmos, com quatro pollegadas cubicas, que +são sessenta e quatro, e pesão quasi tres libras. +Onde a vertical recebe o impulso com a maior força, +he no semidiametro, e fim da linha horisontal +do eixo, em dezoito palmos; a agua cahe com +dois palmos de ferida, e doze libras de pêso no +principal cubo; nos que se enchêrão, +pésa com tres +libras em linhas mais curtas. Se os cubos tem capacidade +para receber mais agua, e o pêso +desta +nos mesmos he preciso para o movimento, fica a +máquina vagarosa, e sem o effeito que se quer. +Tem mais o defeito de ficarem as moendas baxas; +não se poderem dar as proporções que +se precisão; +estar tudo cheio de agua, e a roda afeiando +o edificio, estorvando passagens, etc. O mesmo +diametro na bolandeira, e na horisontal, quero +dizer, trinta e seis palmos o diametro da bolandeira, +e trinta e seis o do rodizio, o rodete deve +<span class="pagenum">[25]</span> +ter a oitava parte, ou doze dentes estrelados, tendo +a bolandeira noventa e seis de coroa, e a agua +na mesma quantidade, e altura. Vinte palmos que +a agua tem de altura, são quarenta vezes tres libras, +ou cento e vinte libras, que pésão sobre as +pennas do rodizio com hum jacto de quasi vinte +palmos, se sahisse horisontalmente, porém como +deve ter quinze gráos de declivio para ferir as pennas, +fica em dezaseis. +<br /> + +<br /> + +Este jacto de quinze gráos communica hum +movimento mui veloz ao rodizio, que póde ser +moderado, segundo a necessidade, e o podemos +levar até quarenta e cinco gráos com toda a +vantagem. +Podemos augmentar o diametro do rodizio; +diminuir, ou accrescentar o do rodete; levantar, +ou abaxar as moendas á nossa vontade, +fazendo mais curto, ou mais comprido o eixo do +rodizio; cujas pennas, sendo feitas de páos firmes, +tudo cerne, com tres palmos de comprido, e hum +em quadro, as cavas em meia lua, para receber +a agua, com seis pollegadas pelo comprimento da +penna, cinco na largura, e cinco em profundidade, +tem toda a solidez, e duração possiveis; quando +pelo contrario a roda vertical, composta de +muitas taboinhas, e pequenas juntas, em poucos +tempos fica fóra de serviço. +<br /> + +<br /> + +O modello, que se propõem, para moerem +bestas, serve para o de agua com rodizio, só com +a differença do rodete ser mais pequeno, e a especie +de pôço ser cuberta de sobrado, que dá +passagem +ao eixo; reunindo esta fórma de máquina +além das mais vantagens, a de poder ser movida +por animaes, se por accidente falta a agua, o que +succede algumas vezes, e causa prejuisos. +<br /> + +<br /> + +Não fallo nos engenhos de vento para moer +<span class="pagenum">[26]</span> +Canna, porque a instabilidade, e irregularidade +deste agente no Brasil, o faz inutil. Ainda mesmo +os de agua, se esta for difficultosa, ou que faça +precisar grandes despesas; pondo-se em prática o +modello, não causará muito pesar o moer sem +ella. +<br /> + +<br /> + +<em>A <a href="#f3">Estampa III.</a></em> +mostra o interior, o +plano, +e o exterior da casa do engenho. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c13"></a>Preciso sobre +a dentadura das rodas.</em> +</h4> + +<br /> + +A falta de conhecimento de mechanica nos mestres +de engenhos do Rio de Janeiro, aos quaes com +mais propriedade se pódem chamar curiosos, á +excepção +de alguns, e bem poucos, que tem merecimento, +me faz dizer o que sei a este respeito, +por me parecer que será de alguma utilidade. Quero +fazer huma roda grande, que tenha trinta e seis +palmos de diametro, de centro de dente, a centro +de dente; sabe-se que a devo armar de oito +curvas, ou cambótas, que tenhão de testa, a testa +trinta e sete palmos; porque a dentadura devendo +estar no centro da cambóta, para esta ficar com +fortaleza, deve ter meio palmo para dentro, e meio +para fóra. Huma roda com este diametro não se +póde fazer sem oito aspas. Devo repartir o circulo +em oito partes perfeitamente iguaes, que assignallo; +e como quero pôr neste circulo noventa e seis +dentes, já se vê que pertencem doze a cada oitavo. +<br /> + +<br /> + +O sintel tem feito descrever a linha onde +devem ser postos; reparto em doze partes o oitavo, +e assignallo cada huma com seu ponto, que +serve de centro ao furo para o dente, cujos pontos +<span class="pagenum">[27]</span> +ficão distando huns dos outros nove pollegadas +e meia com pouca differença. +<br /> + +<br /> + +Deve haver o maior cuidado, em que estes +pontos fiquem perfeitamente iguaes, e que não +desmintão nem a grossura de hum cabello; e que +os furos, que se fizerem para os dentes, fiquem +perpendiculares. +<br /> + +<br /> + +O circulo deve ser fixo nas aspas por cavilhas; +quatro destas aspas o sustem, e as outras +quatro prendem-no. +<br /> + +<br /> + +Estas aspas devem assentar no circulo entre +os dentes com huma medida perfeitamente justa, +para a roda não ficar com o que se chama peito. +Se quero fazer huma roda mais pequena, que não +careça de oito aspas, e sim de seis, reparto o circulo +em seis partes iguaes, e procedo da mesma +sorte que para a antecedente; lembrando-me sempre +de não fazer os pontos para os dentes em menos +de nove pollegadas, e podem hir a dez, que +he erro fazellos mais proximos, porque fica a cambóta +fraca; e que nunca deve haver dente, onde +a aspa assentar. Regra geral, o numero das aspas, +he o das divisões, e em cada divisão hum numero +certo de dentes, o que faz ver que nenhuma roda, +tomada no todo, tem os dentes impares. He +sabido de todos, que duas rodas, tendo huma de +fazer mover a outra, ainda que as dentaduras sejão +certas, se forem perfeitamente iguaes, não +podem trabalhar; he preciso que aquella, que está +unida á potencia, tenha huma certa folga nos +dentes, que devem ficar mais largos, que os da +outra, para trabalharem suavemente; a esta folga, +ou maior distancia dos dentes de huma, respeito +aos dentes da outra, he ao que os mestres chamão +compasso. Ora para acharem este compasso +<span class="pagenum"><a name="p28">[28]</a></span> +nas medidas, que fazem, usão das maiores extravagancias; +e o que tem encontrado melhor, depois +de muitos erros, encobrem-no com mysterio +até aos seus aprendizes. Depois de ter feito a roda, +e graduado os seus dentes, para compassar os +do rodete, ou roda que trabalha com a potencia, +abro o compasso (cujas pontas devem ser bem agudas) +e com toda a certeza as assento nos pontos +de dois dentes, o que me dá a distancia de dente +a dente. No centro de huma regoa comprida traço +huma linha, e por esta linha messo, ou conto +quinze compassos; a distancia destes quinze compassos +deve ser signalada por dois pontos. Abro +agora o compasso mais, e a linha descripta dos +quinze divido em quatorze; esta pequena differença +de quatorze a quinze he o apartamento, ou +folga, que devem ter de mais os dentes do rodete, +respeito aos da roda. Se tenho graduado o rodete +primeiro, faço o mesmo que na roda; mésso pelo +compasso a distancia de hum dente a outro; na +linha traçada conto quatorze compassos, aperto +o compasso hum tanto, para que a distancia dos +quatorze se reduza a quinze: esta pequena +diminuição +he, o que devem ter de menos distancia, +os dentes da roda aos do rodete. +<br /> + +<br /> + +Devo lembrar, que estas medidas devem ser +exactas, e que os pontos signalão o centro dos +dentes. Se as rodas, ou rodetes tem os dentes em +coroa, a medida, ou compasso deve ser tomado +na cambóta; se os dentes são em estrella, deve +o compasso ser tomado no centro da ponta do dente. +Segundo o destino da máquina, que se quer +fazer, póde o rodete ser pequeno, e a roda grande; +o rodete ser grande, e a roda pequena, <a href="#e2">ou +ambos</a> de igual tamanho; porém he regra geral, +<span class="pagenum">[29]</span> +que a roda, onde trabalha a potencia, seja +grande, ou pequena, he a que deve ter folga nos +dentes, quero dizer, serem mais apartados, o que +vai de quatorze a quinze, que a outra roda, qualquer +que seja a grandeza. +<br /> + +<br /> + +Os dentes das rodas podem ser todos de coroa, +e todos estrelados; em humas, de coroa, e +em outras estrelados; porém observando-se as regras +dadas, he facil fazellos de qualquer sorte. +He indifferente, que os dentes de qualquer roda +sejão delgados, ou grossos, com tanto que sejão +iguaes em grossura. Hum terno de moendas com +tres palmos de diametro, e oito dentes cada huma, +graduados estes dentes pelo centro da sua ponta, +regidos pela moenda do meio, que he a motora, +e a que deve ter a folga, podem ser os dentes +de cada huma desiguaes, respeito ás outras, +sem defeito no trabalho; todos os dentes da moenda +do meio podem ser muito grossos; menos grossos +os da de hum dos lados, e mais delgados os +da outra, e assim mesmo podem trabalhar com +perfeição. Os dentes das rodas de coroa devem +ser redondos a torno; os em estrella tambem a +sua ponta deve ser redonda, acabando em semicirculo, +segundo o seu diametro. O aguilhão do +eixo, onde anda o rodete, não deve ser fixo nelle, +ha de andar junto n'huma caixa de bronze; +porque, como se ha de gastar pelo movimento, para +o recalçar, basta levantar com huma alçaprema +o mesmo eixo, e logo o aguilhão cahe, +oppõem-se-lhe +outro, que deve haver de sobrecellente. As +almanjarras hão de ficar n'huma altura tal, que os +tirantes, por onde puxão as bestas, corrão em +linha +horisontal ao seu peito; puxão mais desta sorte, +e fatigão-se menos. A besta puxa com o seu +<span class="pagenum">[30]</span> +pêso, e o esforço dos seus musculos serva para +renovar +este pêso, se os tirantes estão muito baxos, +o pêso, que devia empregar-se a puxar, perde-se +em levantar o eixo, e se estão muito altos, a besta +he levantada por diante, e as suas mãos não +achão na terra hum apoio sufficiente para renovar +o seu movimento. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c14"></a>Como se moe +Canna actualmente.</em> +</h4> + +<br /> + +As moendas, de que actualmente se usa na Capitania +do Rio de Janeiro, tem de tres a quatro +palmos de diametro, e outro tanto, pouco mais +de altura. +<br /> + +<br /> + +A sua dentadura he no meio da moenda; +alguns engenhos, rarissimos, tem as moendas dentadas +na parte superior, e aguilhões inteiros de +ferro; porém o commum he terem os dentes no +meio do corpo da moenda, e meios aguilhões de +ferro, e na parte superior hum pescoço, que faz +as vezes de meio aguilhão, feito de hum páo +solido. +Saõ chapeadas de ferro meio largo: estas +chapas tem hum palmo de comprido, e são afastadas +humas das outras a quarta parte de huma +pollegada, ou tres linhas; e pregadas no madeiro +da moenda com seis pregos curtos, e grossos. A +meza, em que estão assentadas estas moendas, não +tem mais altura, que a de quatro a cinco palmos. +Qualquer que seja a potencia que as faça mover, +a Canna he sempre mettida nellas da mesma sorte. +Hum Escravo appresenta hum feixe de Canna +pela sua ponta em linha horisontal, entre a moenda +do meio, e huma das dos lados; continua a +metter segundo, terceiro, quarto, quinto, e sexto +<span class="pagenum">[31]</span> +e outro Escravo da parte opposta, á +proporção que +os feixes de Canna passaõ, depois de espremidos +na primeira, os appresenta da mesma sorte á segunda: +tornão a passar pela primeira, e repassar +pela segunda, o que faz que esta Canna seja espremida +quatro vezes, sempre em linha horisontal. +Em alguns engenhos chegão a passar cinco, e +seis vezes, porém o commum são quatro. Sobre +estas quatro passagens, e suppondõ tres palmos +de diametro nas moendas, he que eu faço o meu +cálculo; e tambem supponho, que hum carro de +Canna contém cento e cincoenta feixes; de seis +Cannas, se são grossas, de oito, se saõ delgadas, +e do comprimento de seis palmos. Tres palmos de +diametro são nove de circumferencia, dando quatro +voltas a moenda, tem passado, e repassado os +seis feixes; dando outras quatro voltas, tem feito +passar os seis feixes reduzidos a bagaço, por consequencia, +para se espremerem seis feixes de Canna, +he preciso que as moendas dem oito voltas, +as quaes n'hum engenho de bestas bem corrente +se não dão em menos de seis minutos, o que +faz +precisar duas horas e meia para se moer hum carro +de Canna, com o numero de feixes, e comprimento +acima ditos, e nove para dez carros, em +vinte e quatro horas. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[32]</span> +<h4><em><a name="c15"></a>Notas sobre +esta fórma de +moer</em></h4> + +<br /> + +As moendas tem pouca altura da dentadura para +baxo, onde anda a chapeação, e póde +metter-se +Canna, que não deve chegar aos dentes; e para +isto se conseguir, he preciso que os feixes se appresentem +á moenda em linha horisontal. A meza +he muito baxa, e como o Escravo, curvando-se +hum pouco, chega com as mãos á moenda, onde +as costuma ter para amparar, e empurrar as partes +minimas da Canna, a que se chama bagaço, he +causa de accidentes, e de muitos Escravos ficarem +sem mãos, o que todos os annos succede em hum, +ou outro engenho. +<br /> + +<br /> + +A chapeação das moendas he grande erro; +huma moenda de tres palmos de diametro, que +fazem nove de circumferencia, precisa de vinte +chapas; a seis pregos, são cento e vinte pequenas +cunhas, que mettidas com muita força pelo comprimento +do madeiro da moenda, a faz abrir em +pequenas raxas, onde póde introduzir-se alguma +porçaõ de sumo de Canna, e não +póde chegar a +lavagem; porque he agua simplesmente lançada, +e a quem falta o aperto, que soffre o sumo da +Canna entre as moendas. +<br /> + +<br /> + +Esta pequena porção de sumo huma vez introduzida +nestas raxas, azéda, e serve de fermento +para fazer desmerecer o sumo que se espreme; +e todos sabem, que huma mui pequena porção de +acido impede o fazer Assucar, e deteriora a sua +qualidade. Ainda mesmo que o madeiro esteja perfeito, +sempre o sumo se introduz por baxo das +chapas, e a agua da lavagem não póde +lá chegar. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[33]</span> +Esta chapeação não impede que as +moendas +sejão torneadas todos os annos, ou todos os dois +annos; he preciso arrancar as chapas, e depois de +torneado o madeiro, repregallas em outro lugar, +tapando com tornos, os buracos, onde estiverão os +pregos; por mais solido que elle seja, não póde +resistir a tres, ou quatro operações destas, sem +que fique fóra de serviço. Vinte chapas, de mais +de duas linhas de grossura, são quarenta angulos, +ou cunhas, que cortão, ou mordem as Cannas, +que á terceira passagem ficão reduzidas a partes +minimas, cujo bagaço, para passar a quarta vez, he +preciso que o Escravo o empurre, e ampare com +as mãos entre as moendas, para poder espremer-se, +e ainda nesta quarta passagem sahe humido. As +ultimas vezes, que este bagaço passa nas moendas, +faz tanta resistencia, que se são de meios +aguilhões, +succede aluirem para os lados, e se são inteiros, +quebrarem. O bagaço, quasi reduzido a pó, +só serve +para estrume depois de ter apodrecido na bagaceira, +o que infecta o ár, que se respira á roda da +fábrica, e faz sempre sentir hum máo cheiro. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c16"></a>Nova +fórma de moer.</em> +</h4> + +<br /> + +As moendas devem ter tres palmos, e pouco +mais de altura, até á dentadura; devem ter tres +palmos de diametro, ser feitas de hum páo bem +firme, e bem lisas, sem chapeação. A meza deve +dar pelos peitos de hum homem, e ter cinco palmos +de largura, inclusos os taboleiros. A Canna +ha de ser appresentada á moenda em linha obliqua, +fazendo hum angulo de quarenta e cinco gráos, +com pouca differença, e perto da dentadura. Assim +<span class="pagenum">[34]</span> +que esta Canna passou, o Escravo da parte opposta +deve dobralla, e appresentalla á moenda pela +sua curvatura, tambem em linha obliqua. Com estas +duas passagens fica a Canna melhor espremida, +que com as quatro, ou mais, que actualmente se +usão. +<br /> + +<br /> + +Para que este serviço continue sem +interrupção, +he preciso que o Escravo, que mette Canna, +appresente á moenda de doze a dezaseis de +cada vez, segundo a sua grossura; o Escravo, da +parte opposta, pega em seis, ou oito destas Cannas, +dobra-as, e appresenta-as á moenda pela sua +curvatura, e faz o mesmo ás outras seis, ou oito, +e assim continua o serviço; porque tendo a Canna +seis palmos de comprido, dobrada fica em tres, e +he preciso que as moendas estejão sempre cheias. +Por mais molle que seja hum páo proprio para moendas, +sempre he muito mais duro que a Canna, +que, sendo hum corpo esponjoso, deprime-se facilmente; +o muito uso poderá gastallo, e será preciso +torneallo, porém creio certamente, que ha de +precisar muito mais tarde deste beneficio, que as +moendas chapeadas, e ha de conservar mais annos +a sua solidez. Conheço huma fábrica de Estampas, +que imprime de oito a dez mil todos os annos, +e trabalha há mais de vinte; que os dois cilindros, +que fazem a fieira, e apertão entre duas +taboas a chapa da impressão, ainda não +forão torneados, +nem o precisão; accrescendo ser isto hum +trabalho de páo contra páo, muito differente da +Canna, que he hum corpo muito mais molle. A +Canna, appresentada em linha horisontal, faz aperto +n'huma parte da moenda sómente, e, appresentada +em linha obliqua, trabalha com todo o corpo. +He certo que as moendas de páo são hum remedio; +<span class="pagenum">[35]</span> +devião ser tambores, ou cilindros de ferro, assim +como se pratica nas Antilhas, despesa que se faz +por huma vez, porém em quanto se não +põem em +prática, deve degradar-se a chapeação, +por ser +desnecessaria, e nociva. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c17"></a>Comparação +da moagem actual +com +a que se +propõem.</em> +</h4> + +<br /> + +Pelo methodo usado, dando a moenda quatro +voltas; são trinta e seis palmos de superficie; tendo +os feixes seis palmos de comprido, e, appresentando-se +em linha recta, ou horisontal, passaõ, e +repassão seis feixes; dando outras quatro voltas, +passão, e repassão em bagaço, +são precisas oito +voltas para moer seis feixes de Canna, o que não +póde fazer-se em menos de seis minutos. He certo +que estes feixes de Canna só tem os seis palmos +de comprido na primeira, e segunda passagem, +ficando reduzidos a pequenas partes para a terceira, +e quarta, o que fará parecer gastarem menos +tempo nas duas ultimas; porém isto deve considerar-se +nullo, pelas paradas que nestas occasiões +fazem as bestas, por ser preciso redobrar o seu +esforço para vencer a resistencia, que o bagaço, +ou Canna, reduzida a pequenas partes, lhe offerece. +Pelo methodo proposto, appresentando-se a Canna +á moenda em linha obliqua, tendo seis palmos de +comprido, fica reduzida a quatro e meio, e he preciso +nas quatro voltas fazer oito entradas, para ganhar +a superficie das moendas, cujas entradas sendo +de doze a dezaseis Cannas, que são dois feixes, +fazem dezaseis; e como passão, e repassao simplesmente, +em quanto nos seis minutos, pelo methodo +<span class="pagenum">[36]</span> +usado se moem seis feixes; moem-se pelo +methodo proposto trinta e dois, e por consequencia +hum carro de cento e cincoenta feixes em +menos de trinta minutos, que em vinte e quatro +horas faz mais de cincoenta carros. Pelo methodo +usado, hum feixe de Canna, appresentado á moenda +em linha horisontal, o aperto que soffre faz, +que estas Cannas fiquem sobrepostas humas acima +das outras; ellas, que tem huma pollegada pouco +menos de diametro, ficão bem espremidas, passando +por huma fieira de huma a duas linhas; porém +do sumo que espremem, que tem de circumdar +a superficie de quasi todas as Cannas, sò huma +pequena parte cahe na meza, e a maior parte, +fluctuando por cima dellas, logo que cessárão de +soffrer a compressão, sendo de natureza esponjosa, +e elastica, tornão a beber o sumo espremido. +Na segunda passagem pouco aperto percebem; porque +passão por huma fieira igual á primeira, e por +consequencia he preciso que sejão reduzidas pela +chapeação a partes minimas, para se lhe +aproveitar +o sumo. Pelo methodo proposto, appresentando-se +a Canna em linha obliqua, quando recebe +o aperto, dá sahida ao sumo pela mesma Canna, +e deposita na meza todo, o que espreme. +<br /> + +<br /> + +Quando acabou de passar a Canna, e o Escravo +da parte opposta a dobra ao meio, para a +appresentar na mesma linha obliqua; pelo seu angulo, +ou curvatura, recebe na fieira da moenda +hum aperto maior que o primeiro; porque em igual +ou superior volume, tem partes mais solidas que +comprimir, faz ficar o bagaço sècco, inteiro, +apto +para se fazer em feixes, que podem servir para as +fornalhas; o que he impossivel no methodo usado, +porque fica reduzido quasi a pó. A differença +<span class="pagenum">[37]</span> +de hum a outro methodo he de nove a cincoenta, +vantagem inapreciavel em semelhantes +fábricas. +Eu não sei que haja em todo o Brasil, quem reuna +forças para moer esta quantidade de Canna de +Junho a Setembro, que he o verdadeiro tempo, +e são cem dias de serviço; talvez não +haverá meia +duzia de fábricas, que possão fazer ametade, +porque +então farião de seis a sette mil arrobas de +Assucar. +Vejo que há engenhos, que para tres, ou +quatro mil arrobas, principião em Maio, e acabão +em Dezembro, por não poderem mais, empregando +dia, e noite neste trabalho, e assim mesmo +perdem Canna, que não podem moer. Trabalhando-se +desta sorte, os homens, e os animaes se estragão, +o dia he para trabalhar, e a noite para +descançar, esta a ordem da natureza, que se não +inverte impunemente. +<br /> + +<br /> + +Adoptando-se esta fórma de moer, póde a +noite ficar salva. Principia-se das quatro horas da +manhã até ao meio dia, das duas horas da tarde +até ás dez da noite; nestas dezaseis horas de +serviço, +cada hum póde trabalhar, segundo as suas +forças. Suppondo que quer moer dezaseis carros +de Canna, faça appresentar á moenda só +seis, ou +oito Cannas (que he hum feixe) continuadamente, +na repassagem faça dobrar tres, ou quatro, +tudo como acima se diz, e desta sorte póde augmentar, +e diminuir, segundo as suas forças, e +vontade. Nestas duas horas depois do meio dia, e +ás dez da noite, basta que sejão lavadas +ás moendas, +menos que o calor não seja intenso, ou que +haja trovoadas; porque então todas as vezes que +se enche o cocho, devem ser lavadas. <a href="#f4"><em>Veja-se +a +Estampa IV.</em></a> +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[38]</span> +<h4><em><a name="c18"></a>Descripção +do que +contém a casa de caldeiras +actualmente.</em> +</h4> + +<br /> + +A Casa de +caldeiras, onde se fabrica o Assucar, +he de cinco a oito palmos, mais baxa que a do engenho, +e contém o que se segue. Parois de caldo frio, +Parois de caldo quente, Rominhois, Espumadeiras, +Batedeiras, Repartideiras, Caldeira, e Coxinha, +Bangué com suas tachas, Esfriadeira, Fôrmas +para lançar a calda, de que se faz o Assucar +bruto, Carcanha, Massa de Mamono, Espatulas, +Tanque de preparar o barro, que ha de clarificar +o Assucar, Vasos com decoada, e Vasos com agua. +Parol de caldo frio, he hum cocho, ou especie de +tanque, feito de taboas, e pelo commum cavado +n'hum grosso madeiro, com maior, ou menor comprimento, +e largura, e capacidade de conter tanto +liquido, quanto encha a caldeira, sem sobejar. Há +alguns engenhos, que já os tem de cobre. +<br /> + +<br /> + +Parol de caldo quente, he o mesmo que de +caldo frio, porém maior, por ser destinado a receber +o liquido depurado da caldeira, huma, e +mais vezes, donde passa para as tachas. Rominhol +he huma especie de cassarola de cobre, que pòde +conter de quatro a seis libras de agua; quando tem +hum cabo comprido, e com elle se tira o liquido +da caldeira para o parol de caldo quente, toma o +nome de pomba. Espumadeira, todos sabem o que +he, a que serve nos engenhos, tem hum cabo até +dez palmos. Batedeïra, he huma chapa de cobre +circular, com pouco mais de hum palmo de diametro, +huma concavidade de duas pollegadas no +centro, que vai diminuindo para a circumferencia, +<span class="pagenum">[39]</span> +com hum cabo comprido. Repartideira, he huma +especie de cassarola de cobre, que póde conter +até dez libras de agua. +<br /> + +<br /> + +A Caldeira, he pelo commum de ferro, tem +de cinco a seis palmos de diametro na boca, outro +tanto de altura, sendo menos larga no fundo; +he assentada de fórma, que fica a sua boca pouco +mais alta que a superficie do terreno, sendo este +ladrilhado á roda della, com huma pequena +inclinação, +que faz correr as espumas que a Caldeira +lança a hum receptaculo, a que se chama Cochinha. +A Cochinha, he hum pequeno tanque de +taboas, que tem seu registo; o liquido que recebe, +que não são espumas, torna a passar para a +Caldeira; as espumas por huma calha coberta, vão +depositar-se ao seu receptaculo na casa da aguardente. +<br /> + +<br /> + +Bangué, he huma fornalha comprida, com +quatro palmos de altura, que contém tres, quatro, +e cinco tachas de ferro, de tres a quatro palmos +de diametro, da maior á menor, que se distinguem +com os nomes, quando são tres (o que he +o mais commum) de tacha de receber, de cozer, +e de bater. No mesmo bangué está outra tacha +encravada, +que não recebe fogo, que se distingue +com o nome de bacia, ou esfriadeira, e he de cobre, +para onde passa a calda de Assucar em ponto, +e desta bacia he que vai para as fôrmas. As +fôrmas são feitas de barro, de figura conica, de +dois palmos pouco mais de diametro na boca, acabando +para o fundo quasi agudas, com hum buraco +de meia pollegada. A Espatula, he huma especie +de pá de taboa, que serve de mexer o Assucar +nas fôrmas, e impedir a sua mui prompta +condensação. +A Carcanha, he o aparelho de fazer a +<span class="pagenum">[40]</span> +decoada, que se faz com a cinza de toda a lenha, +preferindo a de gorarema, ou páo de alho, que se +tem reconhecido ser rica em alcali; a esta cinza +misturão algumas hervas acres, para augmentar o +que chamão queimo da decoada; enchem com +esta cinza, e hervas, doze a vinte fôrmas, que +ficão +levantadas do chão alguns palmos, enfiadas em +buracos proporcionados feitos em taboas; lanção +em cima destas fôrmas agua quente, que, filtrando-se +por entre as hervas acres, e a cinza, cahe pelo +furo da fôrma gotta a gotta, n'hum recipiente, +donde se tira para o uso. A massa de Mamono, +são as sementes deste vegetal bem pizadas. O tanque +de preparar o barro, he hum cocho, no qual +se deita muita agua, e barro, que com hum rodo +se faz dissolver, ficando n'huma especie de lodo, +que se lança em cima das fôrmas de Assucar bruto. +Os vasos, onde está a decoada, e agua para o +uso, são fôrmas com algum defeito, a que se tapa +o buraco que tem no fundo. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c19"></a>Como se +trabalha na fàbrica do +Assucar.</em> +</h4> + +<br /> + +Cheio que seja o parol de caldo frio, do sumo +das Cannas espremidas nas moendas (o que actualmente +se não faz em menos de quatro a seis horas) +corre por huma calha para a caldeira, que fica hum +palmo por encher. +<br /> + +<br /> + +Esta caldeira, que tem sua fornalha particular, +e hum Escravo, que a serve com lenha, principia +a receber hum fogo violento; á +proporção que +o liquido aquece, sobe á sua superficie huma especie +de gusmo, a que se chama cachassa, que +he tirada com a espumadeira pelo obreiro, que governa +<span class="pagenum"><a name="p41">[41]</a></span> +a caldeira, e lançada na cochinha para por +huma calha ser conduzida á casa da aguardente. +Esta operação, a que se chama descachassar a +caldeira, dura tanto tempo, quanto tarda o ferver +o liquido, o que pelo commum, segundo o grande +calor que recebe, não chega a meia hora. Logo +que ferve, principia o uso da decoada; lanção-lhe +mais, ou menos rominhois della, segundo que o +sumo da Canna contém mais, ou menos partes oleosas, +e tem maior, ou menor densidade; e se he +muito denso, e rico em sal, interpoladamente se +lhe lança agua, e decoada. Esta decoada, combinando-se +com o oleo, faz hum sabão, que náda +na superficie do liquor em fórma de espuma, que +he tirada á proporção, que se ajunta. +<br /> + +<br /> + +Quando a violencia do fogo, dilatando o liquido, +o faz sublevar acima das bordas da caldeira, às vezes hum, e +dois palmos; huma pitada de +massa de Mamono, lançada em cima, instantaneamente +o faz abater, e reduz a mais de hum palmo +abaixo das bordas della. O signal, para se conhecer +se o liquor desta caldeira tem o cosimento +preciso, a que chamão estar limpa, ou ajudada, +he hum segredo, de que fazem mysterio os Mestres +de Assucar; ora isto he huma gente, pretos, +pardos, ou Indios, que pelo commum não sabem +lêr, e, em quanto a mim, não tem outro merito, +e sciencia, que a de serem fiéis, duros ao somno, +e terem hum pouco de cuidado, por ser preciso +nestas fábricas trabalhar de dia, e de noite. Quando +se julga limpo o liquido da caldeira, passa ao +parol de caldo quente, onde he lançado a braço, +pelo +caldeireiro, com a pomba. Continua o trabalho +com mais caldo frio; estando prompto, passa ao +parol de caldo quente, e quando neste parol há +<span class="pagenum"><a name="p42">[42]</a></span> +quantidade sufficiente para passar ás tachas, e, que +depois destas trabalharem, não possão parar +á falta +delle, enche-se a primeira tacha, chamada de +receber, depois de ter aqui engrossado alguma cousa, +passa della a braço para a de coser, e desta para +a de bater. Assim que o liquido passou da tacha +de receber para a de coser, enche-se a de receber, +e assim progressivamente, de sorte que as +tachas não fiquem paradas. Todas estas tachas são +espumadas, e levão massa de Mamono. A fórma +de bater na ultima tacha, he levantar o liquido, +que já está em calda, com a batedeira, e virallo +com inclinação sobre huma parede alta, forrada de +tijolo, que borda, e circumda, mais que ao meio, +a mesma tacha, e quando suppõem ter alcançado +o ponto necessario, he, desta tacha de bater, passado +para a bacia de esfriar, e daqui com a repartideira +vai para as fôrmas, que estão no que se +chama tendal, que he huma especie de anteparo, +cheio de bagaço de Canna, em cima de cujo bagaço +estão as fôrmas, que são no numero de +sete, +a que chamão huma venda; não se enchem de huma +vez, he repartida a calda por todas; e como +a quantidade, que se apurou, não chega para as encher, +completão-se com o segundo, e terceiro cosimento. +Esta calda, lançada nas fôrmas, he mexida +com a espatula, para impedir a condensação, +e agregação mui prompta da gran do Assucar, a +que chamão coalhar. <a href="#e3">Quando</a> +as fôrmas ficão cheias, +e o Assucar coalha, tira-se a rolha, que tapa o +buraco do fundo, para dar sahida ao mel, ou Assucar +decomposto, cujo mel he conduzido por huma +calha ao seu receptaculo. O Assucar mui trigueiro, +que contém estas fôrmas, he o que se chama +Assucar bruto. Passão agora do tendal para a +<span class="pagenum">[43]</span> +casa de purgar. Esta casa he assobradada, e nas +taboas do soalho há muitos buracos redondos, de +seis pollegadas de diametro, onde se firmão as +fôrmas, +para serem barreadas. +<br /> + +<br /> + +A coxia, ou casa, que fica por baxo deste +sobrado, he ladrilhada com inclinação das paredes +ao centro, onde há hum canal, que recebe o mel, +que as fôrmas de si lanção, e o conduz +a hum tanque, +donde se tira para o uso. Do tanque de preparar +o barro, se tira em huma vasilha, a especie +de lodo, a que he reduzido, e se lança em cima +das fôrmas: este lodo, que conserva a agua em +si, a vai largando a pouco, e pouco, a qual, introduzindo-se +por entre o Assucar, precipita o mel, +para sahir pelo buraco do fundo da fôrma. Sêcco +que seja este barro, tira-se da fôrma, lança-se +segundo, +e ainda terceiro. Com estes tres barros, +se suppõem ficar a fôrma, como chamão, +lavada. +Succede poucas vezes ser o Assucar desta fôrma +todo branco, o commum he ser branco da superficie, +até huma terça parte da fôrma, menos +branco +a segunda terça parte, trigueiro, dos dois terços +para o fundo. Estas tres especies de Assucar, +se distinguem com os nomes de fino, ou redondo, +batido, e mascavado; este ultimo he ainda subdividido +em diversos mascavados, segundo, que he +mais, ou menos trigueiro. +<br /> + +<br /> + +O Assucar, assim trabalhado, diminue huma +terça parte, pouco mais, ou menos, em quantidade +de sorte, que, se as fôrmas contém tres arrobas +de Assucar bruto, fica reduzido a duas de todas +as qualidades. Depois que o Assucar se suppõem +purgado, passa da casa de purgar para o terreiro, +ou eira, onde he tirado das fôrmas, e com +hum facão divididas as qualidades; e depois de reduzido +<span class="pagenum">[44]</span> +a pequenas partes, he lançado em differentes +toldos, ou lençoes de panno grosso, para +que o calor do Sol lhe faça evaporar a humidade, +e desseque. +<br /> + +<br /> + +He dalli conduzido á casa do encaixe, onde +se deita em caixas, que podem conter de quarenta +a cincoenta arrobas; e socado a pilões; e pregadas +as caixas, conduzidas ao armazem, ou trapiche, +onde, depois de julgadas as qualidades pela +Meza da Inspecção, he vendido. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c20"></a>Notas sobre +esta fórma de fazer +Assucar.</em> +</h4> + +<br /> + +Por não se saber moer Canna, gasta muito tempo +o parol a encher-se. Nestas quatro, e mais horas, +que o sumo da Canna, liquido mui composto, +se deixa em repouso, fermenta; o que deprava o +liquor, e diminue a quantidade de Assucar, e sua +qualidade. +<br /> + +<br /> + +Se o parol he de madeira, conserva sempre +em si hum fermento, que ajuda extraordinariamente +esta deterioração. Quando o caldo da Canna +passa do parol para a caldeira, vai frio; esta, +que he de ferro coado, e está muito quente, recebendo +repentinamente huma impressão tão +estranha, +póde rachar, o que muitas vezes succede. +Hum calor moderado, que faz subir á superficie +do liquor, as partes impuras, a que se chama cachassa, +não dura o tempo que he preciso; logo +que a caldeira levanta fervura, todas as partes são +confundidas: a decoada, que se lhe lança, tem +a propriedade de se combinar com as partes oleosas, +e acidas, e de nenhuma sorte com este gusmo, +que incorporando-se com o Assucar, o faz +<span class="pagenum">[45]</span> +trigueiro, e perder a qualidade. O obreiro, que +governa esta caldeira, ainda que o descachassalla +não dure meia hora, faz hum trabalho fatigante, +pela postura curva, em que he preciso estar; e +mais se fatiga ainda, quando, julgando-a limpa, +lança o liquido a braço com a pomba, no parol de +caldo quente. Os parois de caldo quente, tem o +mesmo defeito, que os de caldo frio, se são de +madeira; e se o liquido, que nelles se deposita, +chega a esfriar, o que quasi sempre succede. O +bangué, he proporcionado ao pouco, que se trabalha. +<br /> + +<br /> + +A construcção desta fornalha, he positivamente +má, o fogo faz o seu effeito inversamente. +A tacha, chamada de receber, que póde com +mais calor, por ser o liquido que contém, menos +denso, he a ultima proxima á chaminé; a de cozer, +está no meio, a de bater, e apurar o Assucar, +he junto á boca da fornalha. +<br /> + +<br /> + +Para que a tacha de receber tenha maior calor, +descobrem-lhe mais o fundo, menos a de cozer, +e muito pouco á de bater. Ainda que o liquido, +que contém estas tachas, esteja a ferver, +a voz do Mestre de Assucar não cessa de dizer: +<em>Fornalheiro, deita lenha</em>. +<br /> + +<br /> + +Este fogo demasiado decompõem o Assucar, +transforma-o em mel, ou Assucar queimado. Em +algumas fábricas há já +bangués, em que quatro, e +cinco tachas recebem o fogo directamente; porém +os obreiros, que as fazem, gente material, e sem +principios; os Mestres de Assucar, tirados do seu +trilho, sem capacidade para moderar o fogo, que +pela fornalha direta, se augmenta muito; huma +boca mui pequena, que nellas se pôz, e faz precisar +o rachar-se lenha, ou servir-se só de lenha +<span class="pagenum">[46]</span> +miuda; hum crivo desproporcionado, a boca da +fornalha aberta, todas estas cousas fazem, com +que a maior parte use das antigas. +<br /> + +<br /> + +A bacia, ou esfriadeira, he inutil. As fôrmas +de barro tem pequena base, e muita altura; ainda +que estes defeitos não fossem bastantes, a sua +fragilidade devia fazellas desprezar. A decoada, e +fórma de a fazer, não póde ser mais +defeituosa; +as hervas acres, só servem de a tingir, e a côr, +que lhe communicão, se incorpora com o Assucar. +Tenho visto parar engenhos, e bem notaveis, por +falta de decoada; ainda que haja cinza, são precisos +dois, e tres dias para se fazer; não há regra, +humas vezes he forte, outras fraca. +<br /> + +<br /> + +A massa de Mamono, quasi sempre he podre, +ao menos conserva hum cheiro detestavel. Não há +escolha no barro para clarificar o Assucar; qualquer +serve, he sempre de hum cinzento escuro, +e quando, depois de sêcco, se tira de cima da +fôrma, +deixa encostrado sobre o Assucar, hum sedimento +negro. A fórma de seccar o Assucar no terreiro, +he pessima; além de ser preciso ter sentinela, +ainda que quem o vigia, seja hum Argos, +não impede, que se furte muita parte; a formiga, +a galinha, o cão, o porco, todos o comem; o vento +faz depositar nelle mil impuresas; se há chuvas +continuadas, o que succede muitas vezes, não podendo +as fôrmas sahir da casa de purgar, mélla o +Assucar nellas; a estufa salta aos olhos, porém +ninguem a pôz ainda em prática. O bater +a calda, +levantando-a da tacha na batedeira, com +inclinação +sobre huma parede, onde cahe muita parte +della, não sei que isto possa servir para fazer Assucar, +vejo que se faz hum encostramento na parede, +que he preciso fação para o arrancar; esta +<span class="pagenum">[47]</span> +especie de Assucar encostrado, a que se chama rapadura, +para ter algum valor, he preciso tornar á +primeira tacha, e antes que a ella vá, tem mil +descaminhos. O tanque do mel, além de ser huma +verdadeira sentina, hum aggregado de mil imundicias, +o mel faz apodrecer o tijolo, a que faz +perder pela terra muita parte, que bem acondicionada, +se aproveitaria em aguardente. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c21"></a>Principios, +que devem conduzir o fabricante de +Assucar.</em> +</h4> + +<br /> + +Quando de hum todo, ou composto, se quer +extrahir huma parte, he preciso conhecer esta +parte, e as mais, que com ella fazem o mesmo +todo, e saber a fórma de as separar. O Assucar +purificado, segundo <em>Cartheuser</em>, he +hum corpo +concreto, salino, formado de huma terra soluvel, +de hum acido subtil (de que huma parte he intimamente +unida a huma base alcalina, e calcarea) +e de huma substancia oleosa inflammavel. +<br /> + +<br /> + +O sumo, ou caldo de Canna, que contém +este sal delicioso, he hum composto de agua, +mel, oleo, e acido; e das materias extractivas, +da casca, dos nós, e das fibras longitudinaes da +mesma Canna. +<br /> + +<br /> + +Deve-se buscar na fábrica do Assucar, o separar +estas tres especies de materias extractivas, +rezinosas, ou feculas (que fazem o que se chama +cachassa) o oleo, e acido superabundantes, e evaporar +a agua. +<br /> + +<br /> + +Estas operações, que são chymicas, +sendo +bem feitas, constituem o bom Mestre de Assucar. +<br /> + +<br /> + +O unico meio, até agora conhecido, para +<span class="pagenum">[48]</span> +separar as tres feculas, que fazem a cachassa, he +hum calor, que a mão não possa supportar, +porém +que de nenhuma fórma chegue ao gráo de fervura. +Para separar o oleo, e acido superabundantes, não +se sabe de outro meio mais, que os alcalis, vegetal, +e calcareo, quero dizer, as decoadas de cinza, +e de cal, combinadas. +<br /> + +<br /> + +Qualquer destas duas decoadas por si, tem +a propriedade de se unir aos oleos, e acidos, e fazer +com elles hum sabão, que se mostra na fórma +de espuma; porém Bergman observou, que o alcali +calcareo prefere o acido, e o alcali vegetal o +oleo; o que faz precisar a combinação destas duas +especies da alcalis, para a depuração do Assucar. +Se o sumo, ou caldo de Canna he muito aquoso, +oleoso, acido, pouco assucarado, quero dizer, produzido +por huma Canna taióba, ou selvagem, deve +ser servida a caldeira com decoada pura, no +ponto, em que fica, segundo a fórma de a fazer, +que logo direi. +<br /> + +<br /> + +Se, pelo contrario, he rico em sal, pouco aquoso, +muito denso, produzido por huma Canna de +boa qualidade, deve a decoada ser enfraquecida +com agua pura. Esta maior, ou menor força da +decoada, he relativa ao sumo, ou caldo de Canna, +por ser preciso ter, onde se empregue, para +deteriorar o Assucar, e communicar-lhe hum gosto +lexivial. +<br /> + +<br /> + +A evaporação da agua deve ser feita por hum +fogo graduado, e poupado; por ser fysicamente +demonstrado, que qualquer liquido, chegando a +levantar fervura, tem alcançado o maior gráo de +calor, de que he capaz, e que he em pura-perda, +toda a mais lenha, que se lança na fornalha. Este +calor demasiado, perdido para a evaporação, +decompõem +<span class="pagenum">[49]</span> +o Assucar, e o reduz a mel, ou Assucar +queimado. A evaporação de qualquer liquido, he +em rasão da sua superficie; para esta se augmentar, +he preciso levantar o liquido, e deixallo cahir +em columna; tanta he a superficie desta, quanta +a augmentação da +evaporação, respeito á que tinha +na tacha simplesmente fervendo. +<br /> + +<br /> + +Todo o liquido mucoso, doce, tendo fluidez +sufficiente, ajudado pelo calor, e influxo do ár, +entra promptamente em fermentação. Esta +fermentação +decompõem o Assucar, que tranforma em +espirito, de sorte, que certa quantidade de liquido, +que produziria vinte, se chega a fermentar, +póde dar sómente quinze, dez, e mesmo nada, e +esse menos que se fizer, ha de ser de má qualidade. +O gráo de frio, que géla a agua, impede a +fermentação, porém este meio +só a natureza o póde +dar, e no Brasil he impossivel; o que temos na +nossa mão, e facil, he darmos, e conservarmos +hum calor ao liquido, que quasi o faça ferver. A +rasão porque se diz, ser bom trabalhar em quente, +e muito máo em frio, he por este frio ser +o do ár, que no Brasil ajuda prodigiosamente a +fermentação, +e o quente, he o liquido quasi fervendo, +que a impede. +<br /> + +<br /> + +Ora, sahindo o caldo quasi fervendo da caldeira, +e passando ás tachas quasi com esta quentura, +trabalha-se bem, e apura-se o mais possivel; +esfriando no parol, assim que alcança o calor, +que favorece a fermentação, entra logo nella, +porque a natureza não pára; e quanto mais tempo +assim se conserva, tanto mais se deteriora, +perde o rendimento, e custa a trabalhar. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[50]</span> +<h4><em><a name="c22"></a>Preparo para +manufacturar o Assucar.</em> +</h4> + +<br /> + +Dois parois de cobre bem estanhados, que não +tenhão mais de dois palmos de altura, com sufficiente +largura, e comprimento, para conter cada +hum tanto liquido, quanto caiba na caldeira, sem +sobejar. Devem ser cubertos de taboas, para impedir +o mui livre contacto do ár; com hum furo +na tampa, para dar entrada a hum grosso, e comprido +funil, que recebe da calha o sumo da Canna, +e o deposita no fundo do parol. +<br /> + +<br /> + +Devem ter na parte mais commoda do fundo +hum grosso furo, onde he soldado, hum curto tubo, +que hum comprido torno tapa, para, quando +for tempo, dar sahida ao liquido, que huma calha +conduz á caldeira. Devem ter sua fornalha, que +póde ser commua a ambos, e serem +assentados +nella com huma pequena inclinação, para facilitar +a sahida do liquido. +<br /> + +<br /> + +Duas caldeiras, cada huma com sua fornalha; +assentadas o mais alto possivel, bordadas de +ladrilho, com sua cochinha para receber sómente +espumas. Dois funis grandes de folha de flandres, +com altura, que possão chegar ao fundo das caldeiras. +Hum bangué de tres tachas, cuja +proporção, +e fórma adiante descreverei. Quatro esfriadores. +O esfriador, he huma especie de caixão, +com dois palmos de altura, oito de comprido, e +tres de largo, feito de cossueiras de boa madeira, +bem aplainadas. +<br /> + +<br /> + +Cem fôrmas. A fôrma tem a figura de prisma +triangular, deve ser feita de cossueiras de boa madeira, +bem aplainadas, de quatro palmos de comprido, +<span class="pagenum">[51]</span> +dois, ou mais de largura, fazendo huma +abertura de dois palmos, fechando em baxo, e deixando +aberta huma fenda de duas linhas; aplainadas +no fundo, para fazerem hum assento de tres +a quatro pollegadas; as cabeças hão de ser +malhetadas, +e feitas com toda a solidez. +<br /> + +<br /> + +A <a href="#f7"><em>Figura II.</em> da +<em>Estampa VII.</em></a>, mostra a +fôrma vista com a boca para cima; e a <a href="#f7"><em>Figura +III.</em></a> +mostra a mesma fôrma com o fundo para cima, e +a fenda aberta para escôo do mel. +<br /> + +<br /> + +Tres baldes de valvula em polé, hum para +servir as caldeiras, outro as duas primeiras tachas, +e o terceiro he para servir sómente a tacha, chamada +de bater. Estes baldes devem ser de estanho, +a valvula, do mesmo metal, assentada em +boa solla; a ponta desta valvula deve conter hum +pequeno aro, onde jogue hum arame grosso de dois +palmos, e meio de comprido; neste arame, que +acaba tambem em aro, prende huma delgada corda, +que, passando na polé, chegando á mão +do +obreiro, facilita-lhe o levantar a valvula, e deixar +cahir o liquido em columna, ou sobre huma calha, +segundo a necessidade. O balde tem dois palmos +de altura, e palmo e meio por cada face, e +póde conter noventa libras de agua; a valvula tem +pouco mais de hum palmo quadrado, e a columna +de liquido, que descarrega, he de hum palmo. O +apoio da polé está em tres palmos, a alavanca he +de seis, e como pésa mais, o obreiro balanceia +o pêso do balde cheio, com trinta e tantas libras. +A <a href="#f6"><em>Estampa VI.</em></a> +mostra o trabalho do +balde. Huma +estufa. Esta casa tão util, absolutamente precisa, +que a negligencia, a ignorancia, a falta de +economia tem despresado, deve ter até vinte palmos +em quadro, feita de paredes mestras, cuberta +<span class="pagenum">[52]</span> +de abobada reforçada; com duas aberturas da +altura de hum homem, e cada huma com duas +portas, feitas de cossueiras; huma destas aberturas +communica com a casa de purgar, e a outra +com a casa de encaixe. Deve ter tambem huma +janella alta com dobradas portas, para se abrirem +defóra, quando for preciso refrescar o ár da +estufa. +Todas estas portas devem ter boas chaves. Dentro +desta casa, sobre pontaletes, se fazem tres taboleiros, +com taboas bem sêccas, bem desempenadas, +bem lisas, unidas com meio fio, que fiquem +acima huns dos outros, de seis a oito palmos. O +soalho desta casa, deve ser feito sobre abobada, +ou aterrado sobre ella. Na parte exterior, que +communica com a varanda, tem esta abobada huma +abertura, que dá passagem ao calor, communicado +por huma fornalha, a huma chapa de cobre +circular bem grossa, de tres palmos de diametro. +Esta fornalha tem seu cinzeiro, e he servida com +lenha pelo fornalheiro do Bangué. Quatro ensinhos +para os esfriadores. Este ensinho tem vinte dentes, +dezoito em prisma quadrangular, e os dois +dos lados, em prisma triangular, afastados huns +dos outros, duas linhas, e cada dente tem dois +palmos de altura. A <a href="#f5"><em>Figura II.</em> +da +<em>Estampa V.</em></a>, +mostra os dentes vistos de topo, com a +disposição, +figura, e distancia, que devem ter no seu estado +natural; o escuro da Figura, he a espiga, que se +introduz no taboão, onde se firma o cabo porque +puxa o obreiro. +<br /> + +<br /> + +Alguns pannos, para servir de coadores. Espumadeiras, +Rominhois, Repartideiras, Manteiga +de cacáo, ou qualquer oleo doce, para impedir a +sublevação do liquido. Vasilhas de barro para +decoada, +porque as de madeira communicão-lhe côr. +<span class="pagenum">[53]</span> +Quatro raspas de ferro, que tenhão a fórma de +enchós +de martello. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c23"></a>Fórma +de fazer a decoada.</em> +</h4> + +<br /> + +Peneira-se meio alqueire de cal, para separar +todas as partes não calcinadas; deita-se em huma +fôrma, ou qualquer vasilha de bom barro, eleva-se +a hum forno de telha, ou tijolo, ou a qualquer +parte, onde receba grande fogo; o calor, que aqui +recebe, faz evaporar a agua da sua extincção, e +a reduz a cal viva, ou virgem. +<br /> + +<br /> + +Deita-se esta cal virgem n'huma caldeira, +que contenha doze vezes o seu volume de agua; +depois de se demorar hum quarto de hora, tira-se +esta agua com hum rominhol, e se côa para outra +caldeira. Tomão-se duas partes de cinza, que +he hum alqueire (porque a cinza deve ter dobrada +porção da cal) e deita-se tambem n'huma caldeira, +que contenha doze vezes o seu volume de +agua, mexe-se bem com huma espatula, deixa-se +assentar, tira-se esta agua impregnada do sal da +cinza, e côa-se para a mesma caldeira, onde está +a agua de cal. Faz-se fogo a esta agua; a +evaporação +concentra os alcalis da cinza, e cal, faz-se de +vez em quando a prova, tirando n'hum rominhol +huma pouca desta decoada, deitando-lhe hum ovo +fresco em cima; quando este ovo não vai ao fundo, +que sobrenada huma parte delle, e descobre +meia pollegada, pouco mais, ou menos, está feita +a decoada no seu ponto. A cinza que ficou, tambem +não he perdida; deitada, e espalhada debaxo +Deita-se esta cal virgem n'huma caldeira, +que contenha doze vezes o seu volume de agua; +depois de se demorar hum quarto de hora, tira-se +esta agua com hum rominhol, e se côa para outra +caldeira. Tomão-se duas partes de cinza, que +he hum alqueire (porque a cinza deve ter dobrada +porção da cal) e deita-se tambem n'huma caldeira, +que contenha doze vezes o seu volume de +agua, mexe-se bem com huma espatula, deixa-se +assentar, tira-se esta agua impregnada do sal da +cinza, e côa-se para a mesma caldeira, onde está +a agua de cal. Faz-se fogo a esta agua; a +evaporação +concentra os alcalis da cinza, e cal, faz-se de +vez em quando a prova, tirando n'hum rominhol +huma pouca desta decoada, deitando-lhe hum ovo +fresco em cima; quando este ovo não vai ao fundo, +que sobrenada huma parte delle, e descobre +meia pollegada, pouco mais, ou menos, está feita +a decoada no seu ponto. A cinza que ficou, tambem +não he perdida; deitada, e espalhada debaxo +de hum alpendre, ou telheiro, o ár, em poucos +mezes, communica-lhe novos saes, e queimada de +novo, produz mais alcali. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[54]</span> +<h4><em><a name="c24"></a>Descripção, +e +proporções do +Bangué.</em></h4> + +<br /> + +O Bangue deve conter tres tachas, a primeira, +a que chamão de receber, tem quatro palmos de +diametro na boca, a segunda tres e meio, e a terceira +tres. A primeira tacha, tem a boca quatro +palmos acima da superficie da casa, chamada de +caldeiras; a segunda tacha, seis palmos, e meio, +e a terceira oito palmos, e meio; o que faz precisar +haver degráos da primeira para a segunda, e +desta para a terceira; e huma rampa da ultima, +para a conducção da calda. A +disposição das tachas +desta fórma, he para a columna do fogo arrastar +pelo seu fundo, por huma linha de trinta gráos. +A boca da fornalha tem palmo, e meio, ou hum +pé quadrado, deve ser feita de ferro vergalháo +bem +grosso, e ter huma porta de ferro, que só deve +abrir-se, quando se servir com lenha. Da porta desta +fornalha, pela abobada, que cobre o cinzeiro, +se descreve huma linha de quinze gráos, até dez +palmos do interior della, onde fórma hum resalto +de dois palmos, e dahi se descreve outra linha de +trinta e cinco gráos, que tambem tem dez palmos +de comprido, e acaba na parede, que fórma a +chaminé. +Esta chaminé he hum quadrado de oito +pollegadas por cada face, que corresponde ao centro +da fornalha. +<br /> + +<br /> + +Na abobada, que cobre o cinzeiro, há hum +buraco de seis pollegadas em quadro, que corresponde +ao centro do fundo da primeira tacha, e +deve ser formado por huma barra de ferro vergalháo +grosso, quadrilaterado. +<br /> + +<br /> + +A boca deste cinzeiro, deve ter dois palmos +<span class="pagenum">[55]</span> +quadrados, e elle ser ladrilhado. A <a href="#f5"><em>Estampa +V. +Fig. I.</em></a> mostra o bangué com as paredes +dos +lados +abatidas, para se ver facilmente todo o seu interior, +e proporções. +<br /> + +<br /> + +Num. 1, 2, e 3, as tres tachas; 4, a boca +da fornalha; 5, o vão da fornalha; 6, o resalto +de dois palmos; 7, a boca da chaminé; 8, a boca +do cinzeiro; 9, o vão do cinzeiro; 10, a +communicação +do cinzeiro, com a fornalha. +<br /> + +<br /> + +A linha de 4 a 7, he de 30 gráos: A linha de +6 a 7, he de 35 gráos: A linha de 4 a 6, he de +15 gráos: O cheio, são paredes de tijolo: O +ponteado +he o aterro. +<br /> + +<br /> + +Esta fornalha he a de Macquer, adoptada no +modo possivel á fábrica do Assucar. Servida com +lenha, o fogo accêso, a boca tapada, o ár +rarificado +dentro pelo calor, com tão prompta sahida +pela chaminé, absorve, pelo canal do cinzeiro, huma +columna de ár, com maior, ou menor rapidez, +segundo a sahida que tem. +<br /> + +<br /> + +Este ár, alimentando o fogo, o faz subir tambem +em columna ao centro do fundo da primeira +tacha, e daqui corre, arrastando o fundo da segunda, +e terceira, para sahir pela chaminé. Esta +sahida, que he de sessenta e quatro pollegadas +quadradas, respeito á da entrada, pelo cinzeiro, +que he de trinta e seis, augmenta extraordinariamente +o movimento, e por consequencia, a intensidade +do calor. Este calor, com dois tijolos na boca +da chaminé, modera-se, segundo a precisão. +Estando todo o vacuo da chaminé aberto, e a fornalha +com lenha sufficiente, he o maior calor possivel; +e com a mesma quantidade de lenha, tapando-se +mais, ou menos, a boca da chaminé, +diminue proporcionalmente. A fórma de alimentar +<span class="pagenum">[56]</span> +o fogo desta fornalha, he lançar-lhe dentro hum +páo, que tenha até seis pollegadas de diametro, +pouco mais, ou menos, com oito palmos de comprido, +cuja ponta se faz chegar até ao resalto, e +alguns feixes de bagaço; este páo se puxa com hum +gancho de ferro, a chegar a ponta a cobrir a +communicação +do cinzeiro, com a fornalha, á +proporção, +que o fogo a devora; e assim se continua, +A Estampa mostra tambem o fogo. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c25"></a>Preparo do +barro para clarificar o +Assucar.</em> +</h4> + +<br /> + +O tanque de preparar o lodo, com que se ha de +clarificar o Assucar, he o actualmente praticado; +porém em lugar de barro cinzento escuro, deve, +usar-se de barro branco, de que há abundancia +em todas as partes, com o cuidado de o depurar +da arêa, e pirites. Piza-se, que fique em pó, huma +porção de barro branco bem sêcco, +deita-se +este pó n'hum cocho cheio de agua, agita-se com +hum rodo, e dá-se tempo a que as pirites, e arêas +como mais pesadas, se precipitem ao fundo. Esta +agua impregnada das particulas barrentas, tira-se +com hum rominhol para o tanque de preparar o +lodo. Continua-se o mesmo serviço, torna-se a +passar a agua impregnada do barro; e quando há +sufficiente quantidade, deixa-se assentar, e tira-se +a agua superabundante; e deste barro assim purificado, +he que se fórma o lodo, para clarificar o +Assucar. Se a agua, depois de precipitado o barro, +conserva alguma côr, deve-se tirar, e lanç +O tanque de preparar o lodo, com que se ha de +clarificar o Assucar, he o actualmente praticado; +porém em lugar de barro cinzento escuro, deve, +usar-se de barro branco, de que há abundancia +em todas as partes, com o cuidado de o depurar +da arêa, e pirites. Piza-se, que fique em pó, huma +porção de barro branco bem sêcco, +deita-se +este pó n'hum cocho cheio de agua, agita-se com +hum rodo, e dá-se tempo a que as pirites, e arêas +como mais pesadas, se precipitem ao fundo. Esta +agua impregnada das particulas barrentas, tira-se +com hum rominhol para o tanque de preparar o +lodo. Continua-se o mesmo serviço, torna-se a +passar a agua impregnada do barro; e quando há +sufficiente quantidade, deixa-se assentar, e tira-se +a agua superabundante; e deste barro assim purificado, +he que se fórma o lodo, para clarificar o +Assucar. Se a agua, depois de precipitado o barro, +conserva alguma côr, deve-se tirar, e lançar +outra, e agitar com o barro precipitado, até que +fique cristallina, para que não vá incorporar, +com +o Assucar, a côr, que o barro póde communicar-lhe. +<span class="pagenum">[57]</span> +Isto he trabalho, que se faz por huma vez, +porque este barro póde durar sempre. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c26"></a>Methodo para +trabalhar na fábrica do +Assucar.</em> +</h4> + +<br /> + +Assim que o caldo da Canna espremida nas moendas +cahe da bica no funil, que o conduz ao fundo +do parol, accende-se logo fogo na sua fornalha, +cujo fogo se entretem gradualmente, de sorte, +que o liquido nunca chegue a levantar fervura; +porém que a mão não possa supportar o +seu +calor, o qual se conserva, em quanto os parois +contiverem liquido. Quando, depois de cheio o +primeiro, passa a bica para encher o segundo, +trata-se este segundo da mesma sorte que o primeiro. +Cheio o segundo parol, passa o liquido para +a primeira caldeira, por huma calha, que se +ajusta ao seu fundo, na parte, onde está o tubo +de descarga; e antes do torno se tirar, põem-se +hum coador sobre a calha, para não passar á +caldeira +mais que o liquido; devendo haver o maior +cuidado, quando se aproximar ao fundo o gusmo, +a que se chama cachassa, que o calor fez subir á +superficie, de tapar logo, para que á caldeira +não +vá parte alguma delle. Deita-se então agua neste +parol, e lava-se, cuja agua se mistura com o gusmo, +e o ajuda a correr por huma calha, ao seu receptaculo, +na casa da aguardente. Depois de cheio +segunda vez o primeiro parol, passa o liquido do +segundo para a segunda caldeira, com as mesmas +precauções do primeiro, e assim continua o +trabalho, +não se despejando nunca hum, sem que o +outro esteja cheio. Ficando a caldeira quasi hum +<span class="pagenum">[58]</span> +palmo por encher, lança-se fogo na fornalha, para +fazer ferver o liquido, havendo sempre a lembrança, +que, chegando a levantar fervura, he escusado +deitar mais lenha, porque he perdida; porém +esta fervura deve-se entreter. Principia agora +o uso da decoada. Introduz-se na caldeira hum dos +dois grandes funis, e por elle he que se lança a decoada, +para os alcalis fazerem subir do fundo á +superficie, o oleo, e acido superabundantes, em +fórma de espuma, que se separa, assim que aparece. +Quando se não vem mais espumas escuras, +julga-se limpa a caldeira, e principia a simples +evaporação; +porém o liquido desta caldeira não passa +ás tachas, sem que a outra caldeira esteja tambem +com o seu liquido depurado. Estando o liquido de +ambas as caldeiras prompto, passa ás tachas o da +primeira, para renovar o trabalho com o segundo +liquido do primeiro parol, e assim vai continuando; +de sorte, que as caldeiras tem tres usos: são +vasos depuratorios, vasos evaporatorios, e parois +de caldo quente. O liquido da caldeira, sobe no +balde de valvula, que por huma calha o conduz á +primeira, e segunda tacha; este balde serve tambem +de augmentar a evaporação, levantando o liquido, +e deixando-o cahir em columna, se há necessidade +de accelerar este serviço nas caldeiras. +As tres tachas do Bangué, devem ser consideradas, +como vasos evaporatorios. A primeira, chamada +de receber, e a segunda de coser, recebem +o liquido da caldeira; depois de engrossar nellas +hum pouco, passa para a tacha, chamada de bater; +nesta ultima he, que o liquor alcança a sua +perfeição; para o concentrar, deve ser levantado +no balde muitas vezes, e deixallo cahir em columna. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[59]</span> +Quando desta fórma tem alcançado o ponto, +passa para o esfriador. Estas tres tachas podem +ser todas, de receber, de coser, e de bater, +tendo cada huma seu balde, e passar a calda de +cada huma dellas para o esfriador; porém, como a +primeira tacha recebe mais fogo, que a segunda, +e esta, que a terceira, e o fogo, se he violento, +queima o Assucar, que reduz a mel, he melhor +fazer a concentração na terceira tacha, sempre +com o cuidado, de que a fornalha não tenha mais +fogo, que o preciso para levantar fervura. +<br /> + +<br /> + +Distingue-se o ponto da calda de Assucar em +tres estados, que são ponto fraco, ponte forte, e +ponto muito forte. Conhece-se o ponto fraco, quando, +tomando huma pouca de calda com o dedo +indes, e unindo esta calda ao pollegar, e apartando +estes dedos, a calda não faz fios. +<br /> + +<br /> + +O ponto muito forte he, quando, tomando +a calda da mesma sorte, e ella se estende em fios +por todo o apartamento dos dedos, sem quebrar. +<br /> + +<br /> + +O ponto forte, ou bom ponto he, quando se +fórmão estes fios, e, antes de chegarem a todo o +apartamento dos dedos, quebrão a duas, tres, ou +quatro pollegadas. A grossura dos olhos, que fórma +a calda, fervendo na tacha, mais, ou menos +grossos, indica a sufficiente concentração. Isto +he +huma cousa conhecida, e facil, porém que o uso +ensina mais, que todos os discursos. Estando a +calda no ponto forte, passa em repartideiras para +o esfriador. +<br /> + +<br /> + +O ár, que bate na superficie desta calda, e +refresca continuadamente as paredes do esfriador, +faz coalhar o Assucar n'huma especie de costra, a +qual se engrossa cada vez mais, até incorporar tudo +o que he Assucar, deixando apartada a parte +<span class="pagenum">[60]</span> +melosa; porém este Assucar, coalhado tão +promptamente, +alcança tanta dureza, e a sua gran he +tão unida á outra, que faz impossivel a passagem +da agua para a sua clarificação. A espatula, de +que +se usa, para o remexer nas fôrmas conicas, não +sendo sufficiente, he indispensavel o uso do ensinho +já descripto; hum obreiro com este util instrumento, +em huma das cabaças do esfriador, puxando-o +a si, e impulsando-o para a outra cabeça; +encostando-o no puxar, a huma das paredes, no +impulsar á outra, impede a aggregação +mui prompta +da gran do Assucar, para a agua, que o barro +largar, fazer o seu effeito. Este esfriador, segundo +a sua grandeza, não póde encher-se com o primeiro +cosimento, e carece, que se lhe ajuntem outros; +porém o uso do ensinho principia desde o primeiro, +até se encher, e sahir o Assucar para as fôrmas. +Não há necessidade, de que o obreiro esteja +sempre com o ensinho na mão; deve trabalhar de +vez em quando, porém sem descuido. He essencial, +que o Assucar não vá para as fôrmas +frio, e +sim n'hum gráo de quentura, que permitta o meter-lhe +o dedo. +<br /> + +<br /> + +As fôrmas molhadas, assentadas n'huma taboa +desempenada, podem receber o Assucar, sem +que pela fenda de duas linhas, que tem no seu +fundo, elle possa cahir. O Assucar deve ser deitado +nellas com espumadeiras grandes; esta operação +deve ser prompta, e ao mesmo tempo vagarosa; +prompta, em que he preciso varias espumadeiras, +sem descuido no trabalho; e vagarosa, porque +tirando as espumadeiras o Assucar, carece demorado +algum tempo sobre o esfriador, para deixar +cahir dentro muita parte do mel, de sorte que +para as fôrmas vá o menos possivel. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[61]</span> +A fôrma deve ficar meia pollegada, por encher, +e depois de esfriar nella o Assucar, tirada +da sua taboa, e esgotado o mel, que ajuntou no +seu fundo, passa para a casa de purgar, em paviola. +Esta casa basta que tenha quarenta e dois +palmos de largura, e sessenta de comprido; o seu +sobrado na altura de doze palmos; as vigas de hum +palmo de grossura, afastadas humas das outras, +quatro palmos, e meio; as taboas do soalho, da +largura de dois palmos, ou mais, com o vão entre +taboa, e taboa, de duas pollegadas. +<br /> + +<br /> + +A coxia desta casa póde ser ladrilhada, para +mais aceio. Se parecer fraco o vigamento, pontaletes +o fazem firme. Esta coxia deve estar bem +munida de calhas, para cahir o mel das fôrmas. +<br /> + +<br /> + +As calhas são mui simples, e podem ser feitas +de taboas de seis pollegadas de largura, e duas +de grossura, cavado o centro na profundeza de huma +pollegada a diminuir para os lados; são firmadas +na viga, defronte da abertura de duas pollegadas +do apartamento das taboas do soalho, com +declivio a acabar na altura de hum barril, que recebe +o mel que nellas cahe, e o leva a huma pipa, +que o guarda. +<br /> + +<br /> + +Cada barril, que deve ter seu funil de folha +com rallo, recebe o de duas calhas, e estas, o de +muitas fôrmas. +<br /> + +<br /> + +As calhas assim dispostas, fazem a vista de +zigzag vertical. Chegando a fôrma á casa de +purgar, +he assentada entre viga, e viga, que fique a +fenda de duas linhas do seu fundo, no meio do +apartamento de duas pollegadas, que tem as taboas +do soalho. +<br /> + +<br /> + +Raspa-se a superficie desta fôrma, para igualar +o Assucar; enche-se do lodo branco, que está +<span class="pagenum">[62]</span> +preparado; e quando este lodo sécca, tira-se, para +diluido tornar a servir. Com huma raspa se tira +desta fôrma o Assucar embranquecido, e quando +vai ficando trigueiro, sobre este mais escuro se +lança novo lodo; raspa-se outra vez, e torna-se +a lançar mais lodo, e assim até ficar o Assucar +desta +fórma todo branco. +<br /> + +<br /> + +O fim desta operação he impedir, que ao +Assucar já branco não passe mais agua; porque, +não tendo partes melosas, que precipitar, dissolve +o Assucar, que confunde com o mel, e o faz +esvaido, ou sem força, e ainda que fique muito +alvo, não indemniza a perda. +<br /> + +<br /> + +O Assucar raspado passa á estufa, e he lançado +nos taboleiros della, para seccar. O calor +desta estufa deve ser mais forte que, o que communica +o Sol, que não excede a quarenta e cinco +gráos do thermometro de Reaumur; e na estufa +se póde levar até sessenta gráos, +porém não +mais, porque então o fará trigueiro. Se +não houver +thermometro, deve regular, o poder-se entrar +dentro, e demorar algum tempo; porém se +não se puder entrar, ou parar, he preciso moderar +o calor, porque he forte. Quando o Assucar +está sêcco, o que succede em oito a doze horas, +segundo o calor que recebeo, cessa o fogo; abre-se +a janella, tira-se para a casa de encaixe, sóca-se, +etc. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[63]</span> +<h4><em><a name="c27"></a>Como se +trabalha na fábrica da +aguardente.</em> +</h4> + +<br /> + +Todos os Mestres de aguardente sabem, que +hum liquido doce fermenta, que esta fermentação +o faz vinhoso, e que este vinho destilado, produz +aguardente, em maior, ou menor quantidade, segundo +o gráo de doçura, que em si contém +este +liquido. Segundo este principio, a cachassa, ou +fezes do caldo da Canna; as espumas da caldeira, +e tachas, que são materias por si bastantemente +doces, são recebidas em parois; e como levão +comsigo +muito caldo de Canna puro, tem bastante fluidez, +para que, cheio o parol, entre logo em +fermentação. +<br /> + +<br /> + +Estes parois, ou especies de tanques são cavados +n'hum grosso madeiro, e ficão quasi hum, +palmo por encher. +<br /> + +<br /> + +Geralmente são descubertos; e alguma +excepção +que há, com esteiras he, que lhe tirão a +maior communicação com o ár. Assim que +a fermentação +se estabelece, o movimento, que em si +faz o liquido, com hum certo zunido, faz subir +á superficie, huma côdea de materias impuras, +que vai engrossando cada vez mais; porém abre-se +de vez em quando, para dar passagem ao gás, +ou ár fixo, que se desprende, e foge do mesmo +liquido em fermentação. Quando o zunido cessa, +e que a costra se desfaz, e mistura com o vinho, +que neste estado toma o nome de guarápa, he o +ponto, para passar ao alambique. +<br /> + +<br /> + +Alguns esperão ainda, que huma luz se não +apague no vão, que occupa o gás, da superficie +do liquido á borda do parol. Não havendo mais +cachassa, +<span class="pagenum">[64]</span> +misturão huma terça parte de mel com +duas de agua, para se seguir o mesmo effeito; ou +misturão mel, cachassa, e agua, porque estas cousas +em si são indifferentes, e seguem-se os mesmos +effeitos. Se succede algumas vezes estar a guarápa +em ponto, e o alambique occupado, deitão +agua na guarápa, para não passar, segundo dizem, +e quando há occasião, vai para o alambique. +<br /> + +<br /> + +Nestes alambiques não há regra, cada hum +tem os seus; porém nas fábricas mais modernas, +o commum he, sèrem os chamados, +<em>tromba de +elephante</em>. Recebem o fogo pelo fundo, até +huma +terça parte da altura da cucurbita, ou caldeira; +outros recebem pelo fundo, e pelas paredes, onde +se pratica huma espiral, que acaba na chaminé. +Todos tem serpentina de cobre, e já vi alguma +de estanho, e nada de refrigerante. O primeiro liquido, +que sahe pela serpentina, que he fleuma, +he lançado fóra; e assim que principia a correr o +espirito, vai para o recipiente, a que chamão balsa; +esta cheia, he levada para a pipa, ou tonel. +<br /> + +<br /> + +A serpentina, que he huma espiral de quatro, +cinco voltas, está firme n'huma grande tina +cheia de agua, sempre quente, devendo ser bem +fria. +<br /> + +<br /> + +Todo este trabalho he feito sem principios; +se alguns se gabão de fazer muita aguardente, não +he, porque saibão aproveitar, sim porque he feita +á custa do Assucar. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[65]</span> +<h4><em><small><a name="c28"></a></small>Principios, +que devem conduzir o Mestre +Aguardenteiro.</em></h4> + +<br /> + +He efficazmente demonstrado, que só a parte +doce, ou assucarada de qualquer liquido, he que +pela fermentação se póde mudar em +vinho, de +que se tira o espirito ardente. Esta mudança, que +a fermentação faz, he em mais, ou menos tempo, +segundo a densidade do liquido, quero dizer +mais, ou menos assucarado. +<br /> + +<br /> + +Se he pouco doce, fermenta mais depréssa, +e assim relativamente; de sorte que se chega a +ter a consistencia de mel, não há +fermentação, ou +ao menos não he sensivel. Há tres especies de +fermentação; +fermentação espirituosa, +fermentação +acida, e fermentação podre, ou alcalina; ou +antes, +só há a fermentação podre, +que passa pelos +dois primeiros estados, de espirituosa, e acida. +Quando hum liquido mucoso doce, pela fermentação +se faz vinhoso, toda a parte assucarada he +decomposta, e mudada em espirito. +<br /> + +<br /> + +Se não se aproveita no alambique, e passa +á fermentação acida, he decomposto +este vinho, +e mudado em vinagre; se então vai ao alambique, +sahe hum acido. +<br /> + +<br /> + +Se se deixa continuar a fermentação, e passa +á alcalina, alcança o liquido hum cheiro +detestavel, +e pelo alambique sahe sómente alcali volatil, +ou o producto das materias podres. Estas mudanças, +ou decomposições, accelerão-se, ou +retardão-se, +segundo o maior, ou menor calor do ár, +que he o principal agente da fermentação. +<br /> + +<br /> + +No gráo de frio, que géla a agua, não +há +<span class="pagenum">[66]</span> +fermentação, ou ao menos não he +sensivel; e o +mesmo succede n'hum gráo de calor de sessenta +gráos para cima, do thermometro de Reaumur, +quero dizer, que a mão não póde +supportar. Quando +o calor da atmosphera, ou do lugar, onde se +faz a fermentação, chega a dez gráos +do mesmo +thermometro, ella se estabelece, e se augmenta +cada vez mais até aos trinta e cinco, que he o maximum; +de trinta e cinco para cima, entra a enfraquecer +proporcionalmente, até aos sessenta em +que pára. Estes sessenta gráos para a +fermentação +são iguaes ao zero, ou gèlo de Reaumur. Nunca +o gráo do frio no Rio de Janeiro póde impedir a +fermentação, por ser o calor da atmosphera, de +vinte a trinta gráos; e são raros os dias no +Inverno, +onde chega a quatorze, e nunca menos. Quando +hum liquido entra em fermentação espirituosa, +não a soffre ao mesmo tempo em toda a sua massa; +já algumas partes tem fermentado, e vão passando +a acidas, quando outras ainda não +principiárão; +o que faz precisar hum fermento, que excite +o movimento em todas as suas partes, ao mesmo +tempo. +<br /> + +<br /> + +Este fermento, a natureza o dá na espuma, +e costra, que se fórma sobre hum primeiro liquido, +que fermentou, que mesmo se póde desseccar +para o uso. +<br /> + +<br /> + +Ajudando o calor da atmosphera tão poderosamente +a fermentação, deve o Mestre Aguardenteiro +impedir, quanto lhe for possivel, que com o +gás, que se desprende do liquido, se não dissipem +partes espirituosas; para o que ha de conservar os +vasos, onde ella se faz, com pouca communicação +com o ár; e em lugar de cochos, e abertos, sirva-se +de pipas, e ainda melhor de dornas, com o +<span class="pagenum">[67]</span> +fundo largo, a boca estreita, com sua tampa, e +nella hum pequeno furo, e de grandeza proporcionada +aos alambiques. Deve ter tambem o maior cuidado, +em determinar o seu trabalho de sorte, que +não tenha mais guarápa que destilar, que os +alambiques +não possão vencer; e que he melhor, que +estes esperem, que aquella, por não haver meio +de impedir a sua depravação. +<br /> + +<br /> + +O ponto principal, donde depende toda a felicidade, +ou o maior producto possivel da fermentação +espirituosa, he, o saber conhecer precisamente +o instante, em que a guarápa deve passar +ao alambique. O signal infallivel, que designa este +instante, foi descuberto por M. Gentil, Prior de +Fontenet, e membro de muitas Academias, «O +sabor, diz este grande homem, he huma qualidade, +que he o objecto do gosto, e este sentido +não póde enganar-se entre o sabor vinhoso, +e o sabor assucarado; e como o cheiro vinhoso +acompanha sempre o sabor vinhoso, he impossivel +errar sobre a relação destes dois sentidos. +Não he preciso suppôr estes sentidos bem +delicados, +e bem exquisitos, nem hum grande discernimento +para fazer a distincção; todo o homem +organisado, como o commum dos homens, +distinguirá o sabor vinhoso, do sabor assucarado, +com tanta facilidade, quanta poderia distinguir +a côr vermelha, da côr verde.... O signal +determinado, e infallivel, que designa de huma +maneira invariavel, o momento, em o qual, a +fermentação tem chegado ao gráo +preciso, e a +que he unida a maior perfeição de vinho; o +momento, +no qual o vinho não he assàs feito, e +depois do qual vem a ser aspero, grosseiro; he +o momento mesmo, onde, depois de muitas +degustações +<span class="pagenum">[68]</span> +successivas, nas quaes temos sentido +a diminuição do sabor assucarado. Este sabor, +depois +de se ter enfraquecido gradualmente, desaparece +subitamente; então he o signal preciso, +fixo, e seguro para se tirar o vinho da dorna: +isto he huma ordem irrevogavel, que a natureza +prescreve á arte, e que signala o momento fatal, +a que he unida a perfeição deste liquor.... +Fura-se a dorna no meio da altura, que occupa +o liquor, e tapa-se com hum pequeno torno; logo, +que a fermentação se estabelece, tira-se o +torno, e deixa-se correr o liquor n'hum pequeno +copo para o provar. Assim, que se percebe huma +diminuição, marcada no sabor assucarado, e +huma augmentação no sabor vinhoso, que +são inseparaveis, +deve haver cuidado na dorna, fazer +a prova com frequencia, ter os vasos promptos +para receber o liquor; e se o signal aparece no +meio da noite, não differir para o outro dia o aproveitallo; +esta noite segura huma recompensa, que +deve fazer esquecer a necessidade do repouso. +Este signal commum, he proporcionado á intelligencia +de todos; he ainda identico, e invariavel, +para hum mosto de excellente qualidade, como +da mais mediocre; para huma grande quantidade +de liquido, como para huma pequena; para +huma fermentação viva, forte, tumultuosa, +e prompta, como para huma fraca, lenta, etc. +Ou seja o calor do ár proporcionado, ou intenso, +sempre he o mesmo; he preciso sómente, +se a fermentação tem sido mui rapida, ter mais +cuidado na dorna, porque chega mais depréssa +ao ponto, e he de maior prejuiso á passagem.» +<br /> + +<br /> + +Até aqui M. Gentil. Quando a guarápa indica +este ponto, a costra, que a fermentação produzio, +<span class="pagenum"><a name="p69">[69]</a></span> +está sobre ella; no tempo que gasta a desfazer-se, +misturar-se com o vinho, dissipar-se o +gás, que a sobrenadava para não apagar a luz, +tem-se evaporado muito espirito, e outro tem passado +a acido, pela fermentação acetosa, que +immediatamente +segue a espirituosa, porque a natureza +não pára hum instante; e daqui se póde +inferir, +o quanto se perde, pela fórma de tomar o +ponto, no estado actual. +<br /> + +<br /> + +Depois da boa fermentação com o seu ponto +tomado a tempo, nada concorre tanto para huma +boa distilação, como a abundancia de agua, +na casa d'aguardente. +<br /> + +<br /> + +Se no refrigerante não corre sempre agua +fria, para a condensação do vapor, e na tina da +serpentina, para fazer cahir frio o liquor no recipiente, +há huma diminuição incalculavel, na +quantidade, +e qualidade d'aguardente. +<br /> + +<br /> + +A falta de principios, nos fabricantes deste +genero, não lhe deixa conhecer esta perda, porque +lhe não he sensivel á simples vista. Olha-se +com tanta indifferença para este objecto, que eu +já vi n'huma fábrica, cujo dono não +passa por +ignorante, querer hum individuo tomar banho com +a agua da tina da serpentina, suppondo-a fria, ou +ao menos tepida; e, tirando a torneira, para lhe +cahir no corpo, estava tão quente, que quasi levantou +vessiculas. Considere-se, quanto espirito se +dissiparia, sendo refrescado com agua neste estado. +<br /> + +<br /> + +Se o engenho he de agua, tem a tina da serpentina +sua bica, porém tão pequena, que eu nunca +vi, que a aguardente deixasse de correr com +quentura. Á excepção de alguns +engenhos, que +tem ao pé huma pequena fonte, o commum he, +<span class="pagenum">[70]</span> +o ser a agua carregada ás costas, e ás vezes de +bem longe. Era natural a lembrança de mandar +abrir hum pôço, e com huma bomba tirar a agua +que se precisasse, principalmente neste paiz, onde +em menos de vinte palmos se acha a quantidade +que se quer, porém só tenho visto hum; quando +a despesa, que com elle se fizesse, bem paga +ficava na primeira safra. +<br /> + +<br /> + +O que se vai dizer sobre o gráo de calor para +a distilação, he theoria de Macquer, sobre a +dos espiritos ardentes. +<br /> + +<br /> + +He huma verdade chymica, que a quantidade +de fogo para a distilação, deve ser em +razão da +coherencia, ou apêgo das partes, que se querem +fazer evaporar, aquellas, que são compostas de +principios mais fixos. +<br /> + +<br /> + +Se se expõem á acção do +fogo, compostos, +que contenhão principios volateis, e principios +fixos; +os primeiros, rarificados pelo calor, procurárão +separar-se dos segundos; e se o esforço que +para isto fizerem, for superior ao seu apêgo, a +separação terá lugar, e a +evaporação se fará. Se +se querem distilar substancias mui compostas, mui +capazes de ser alteradas pelo calor, e que contenhão +principios da maior volatilidade, taes como +são muitas plantas cheirosas, os liquores espirituosos, +e outros desta natureza, he preciso usar +do alambique guarnecido de hum banho de maria, +quero dizer, que o alambique não receba mais calor, +que o que póde communicar-lhe hum vaso +com agua fervendo, sobre a qual se assenta o mesmo +alambique. Como na distilação que se faz no +alambique, os vapores dos corpos volateis sobem +verticalmente, e se condensão na sua parte superior, +ou capello, esta sorte de distilação tem sido +<span class="pagenum">[71]</span> +chamada <em>per ascensum</em>. Podem +fazer-se distilar +mui commodamente desta sorte, todas as materias +bem volateis, que possão subir ao gráo de +calor, que não exceda o da agua fervendo; taes +são os espiritos rectores, o espirito ardente, a agua, +e todos os oleos essenciaes, etc. +<br /> + +<br /> + +O que se passa na distilação em geral, he +mui simples, e mui facil de conceber. As substancias +volateis, se fazem especificamente mais ligeiras, +quando soffrem hum gráo de calor conveniente, +reduzem-se em vapores, e se dissiparião +debaxo desta fórma, se não fossem retidas, e +determinadas +a passar a lugares mais frios, onde se +condensão, e tomão a fórma de +liquores, se são +dessa natureza. Como a distilação se faz sempre +em vasos fechados, falta o concurso do ár exterior +ás materias, que se levantão nesta +operação, +o qual he com tudo muito proprio para augmentar, +e accelerar a subida dos corpos volateis. Mas +póde-se dizer, que esta lentura, occasionada pelo +defeito do ár, he antes util, que desavantajosa; +porque em geral, quanto mais huma substancia +volatil, que se separa da outra substancia mais fixa, +se separa com lentura, tanto mais esta separação +he exacta. +<br /> + +<br /> + +Por esta razão, quando se quer distilar, segundo +as regras d'Arte, se he obrigado a conduzir +a distilação de sorte, que a substancia volatil +soffra +só o gráo de calor necessario para a separar; +e isto he sobre tudo indispensavel; quando não há +grande differença no gráo de volatilidade dos +principios +dos corpos, que se querem decompôr pela +distilação. Póde-se estabelecer, como +regras geraes, +e essenciaes á distilação; que se deve +sómente +applicar o gráo de calor necessario, para fazer +<span class="pagenum">[72]</span> +subir as substancias, que se devem destilar; e +que a lentura he tão vantajosa, quanto a +precipitação +he prejudicial nesta operação, etc. +<br /> + +<br /> + +Comparando o que diz este grande Chymico, +com a quantidade de fogo, que se atêa na fornalha +do alambique, para distilar aguardente, parece +impossivel, que entre tantos distiladores no Brasil, +não houvesse ainda hum, que, abrindo os +olhos da rasão, e guiando-se por ella, se afastasse +da trilha dos mais, o que augmentaria consideravelmente +a quantidade, e qualidade deste genero, +sem ser á custa do Assucar, nem com a perda +de huma immensidade de lenha. A fornalha, +que se propõem desenhada na <a href="#f7"><em>Estampa +VII.</em></a>, he +a do mesmo Macquer, adoptada a esta manufactura. +<br /> + +<br /> + +Communica-se ao cinzeiro, por hum buraco +de seis pollegadas de comprido, e duas de largo. +O vão da chaminé, he de quatro pollegadas em +quadro; a boca da fornalha tem hum palmo em +quadro, e sua porta de ferro. +<br /> + +<br /> + +Na Estampa tem as paredes dos lados abatidas, +para se ver a construcção por dentro, e +o petipé faz conhecer as suas dimensões. O fogo +se entretem, e modera da mesma sorte, que no +bangué do Assucar. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[73]</span> +<h4><em><small><a name="c29"></a></small>Discurso +sobre o alambique</em></h4> + +<br /> + +Naõ há instrumento chymico, em que se tenha +tanto trabalhado, como no alambique. Grandes +homens tem buscado em todos os tempos a sua +perfeição, e continuar-se ainda hoje este +trabalho, +prova que ainda não se achou. Parecerá +temeridade, +o arriscar eu as minhas idéas, depois dos +maiores Chymicos terem fallado; porém lembra-me, +que hum grande homem póde procurar huma +cousa, e não a achar, e hum rustico, ou outro +de intelligencia mui limitada, vêla. Tem-se usado +de refrigerantes, e vio-se, que quando a agua desta +bacia era fria, parava a distilação, e que +só +se restabelecia, quando alcançava huma certa quentura. +<br /> + +<br /> + +A rasão convincente deste facto he, que os +vapores subindo á superficie interna do capello, e +condensando-se repentinamente pela frieza, engrossavão +muito, e pelo seu pêso cahião em gottas +na superficie do liquido; e que a agua hum tanto +quente, impedindo esta condensação tão +prompta, +permittia, que os vapores menos engrossados, +se encaminhassem ao canal praticado na circumferencia +do mesmo capello, para sahirem pelo seu +bico. +<br /> + +<br /> + +Daqui se concluio, que os refrigerantes erão +inuteis. Entrão agora as theorias. Huns, crendo, +que a condensação se fazia na serpentina, fazem +subir a ella o vapor por hum gargalo, em fórma +de <em>tromba de elephante</em>; outros +modificão esta especie +de tromba, e dão hum grande diametro á +caldeira do alambique, com mui pouca altura; e +<span class="pagenum">[74]</span> +fazem principiar a serpentina com hum grande +diametro, e acabar n'hum mui pequeno; outros, +em fim, augmentão a superficie do capello; porém +he geral em todos, o fazerem hum pescoço á +caldeira, +maior, ou menor, segundo a sua fantazia, +e só Chaptal quer, que a caldeira seja hum cilindro +perfeito, porém nada de refrigerante. Todos +estes alambiques obrão com maior, ou menor +proveito; e eu tenho visto distilar sem refrigerante, +nem serpentina, o que me prova, que o contacto +do ár no capello do alambique, tem bastante +força para condensar o vapor; não se aproveita +tanto, como com a serpentina, porém he pela +dissipação do liquor, por sahir mui quente do +bico +do alambique. Sendo a evaporação em +razão da +superficie, e subindo os vapores perpendiculares, +de que ninguem duvida, só Chaptal acertou, +tirando o pescoço á sua caldeira, e fazendo-a +cilindrica; +porque a abobada abatida, que nasce das +paredes da caldeira, até onde fórma o +pescoço, +exposta ao contacto do ár, condensa o vapor que +nella toca, e a unica sahida que tem, he tornar +para a caldeira; he por consequencia preciso mais +tempo, e maior fogo, para que o vapor se enfie +por este pescoço, segundo a maior, ou menor superficie +que o ár toca, e o maior, ou menor diametro +do pescoço, mais, ou menos longitude da +superficie, onde se faz a evaporação, +á parte onde, +condensando-se, póde encaminhar-se á serpentina. +O refrigerante he preciso, e indispensavel +para huma boa distilação. Se a frieza da agua +condensa +mui promptamente o vapor, e as gôttas engrossadas +são precipitadas na caldeira pelo seu pêso, +he porque a abobada do capello, sendo muito +abatida, não lhe dá huma facil correntesa; a que +<span class="pagenum">[75]</span> +eu tenho visto mais levantada, he a do capello de +Baumé, que faz hum angulo de cincoenta gráos; +ora hum angulo de cincoenta gráos facilita tanto +a cahida, como a correntesa; ha de correr, e cahir +indistinctamente; porém se este angulo for de +sessenta e cinco gráos, por mais grossas que +sejão +as gôttas, tem mais facilidade para correr, que +para cahir, e por consequencia, quanto vapor subir, +tanto se aproveitará. +<br /> + +<br /> + +A caldeira do alambique, que se propoem, +he hum cilindro de quatro palmos de altura, e quatro +de diametro. O capello, que he de figura conica, +deve ter de altura o diametro da sua base, +tirado da superficie externa do canal, ou goteira, +que acaba no bico, para fazer hum angulo de sessenta +e cinco gráos. +<br /> + +<br /> + +Este capello deve ser de estanho puro, porque +o espirito come o cobre; e para ficar mais +barato, e mais duravel, póde ser o estanho ligado +em partes iguaes com o zinco. Proximo á sua +base, tem hum tubo de pollegada e meia de diametro, +que huma tampa do mesmo metal fecha +em rosca, pelo qual se introduz na caldeira o vinho +para distilar; e he cercado de huma chapa +de cobre, soldada na circumferencia, na parte, +onde principia o calor, que se ha de introduzir na +caldeira; cuja chapa fórma hum cilindro da altura +do cone, e serve de bacia, para conter a agua que +esfria o capello, onde se condensa o vapor, e o +canal, que o conduz ao bico. Esta bacia, ou refrigerante, +tem n'huma das paredes, proximo á +sua base, hum pequeno tubo de pollegada de diametro, +para dar sahida á agua, que continuadamente +deve correr sobre a ponta do cone; e tambem +dá passagem ao tubo, por onde se carrega de +<span class="pagenum">[76]</span> +vinho a caldeira do alambique. A caldeira tem seu +tubo de descarga, para sahirem as fézes depois da +distilação, cujo tubo deve fechar em rosca na +caldeira, +para, no caso de ser preciso tiralla, não desmanchar +a parede da fornalha; porém que o tape +hum simples torno. A. <a href="#f7"><em>Veja-se a +Estampa VII. +Fig. I.</em></a> A serpentina de oito linhas de diametro, +em espiral de oito voltas. Eu não posso comprehender +as rasões que se dão, para ella principiar +com hum grande diametro, e acabar n'hum tão pequeno; +creio, que a condensação do vapor se faz +no capello, que a frieza d'agua, batendo nelle, a +favorece prodigiosamente, e que a serpentina serve +só de refrescar o liquor, para cahir frio no recipiente; +ora este effeito consegue-se melhor com +o pequeno, que com o grande diametro; porque +a agua tem huma pequena columna de ár que esfriar, +e toca o liquor de mais perto em todas as +partes do canal. Se dou quatro palmos de diametro +á caldeira do alambique, he para que o seu fundo +seja de huma chapa de cobre inteira, e sem +emendas; a altura, qualquer que seja o diametro, +nunca deve passar de quatro palmos. Tambem, +se o diametro for muito grande, fica incommodo +o capello, por ser preciso levantar o cone em +proporção: +e eu não conheço fábrica, que, +trabalhando +bem, possa occupar sempre dois alambiques +assim construidos. +<br /> + +<br /> + +Os alambiques, que contém pipa e meia, e +duas pipas de guarápa, servem mais de +ostentação, +que de utilidade; o seu rendimento em espirito, +não equivale, proporção guardada, ao +dos +mais pequenos. A materia da serpentina, merece +a maior attenção, não deve ser de +cobre, nem de +metal com elle ligado; o espirito corroe o cobre, +<span class="pagenum">[77]</span> +dissolve o zinabre, e com a aguardente se engole +hum veneno; eu bem sei, que o espirito o disfarça +alguma cousa, e que he em pequena quantidade +respeito á sua massa; porém o ser pouco, +e sem os terriveis effeitos, que causa dissolvido +pelos acidos, não impede, que ataque a economia +animal, e pouco a pouco a destrua. Desejava que fosse +de prata pura, sem liga alguma de cobre. +<br /> + +<br /> + +Os Artistas, que trabalhão em prata, tem +mais pericia que os caldeireiros; podem fazer as +chapas de prata com a grossura da folha de Flandres, +reforçada; e, se lhe for mais cómodo, formar +a espiral em poligono de cinco, ou mais angulos; +o effeito he o mesmo. Esta despesa não he +tão grande, que qualquer Senhor de engenho não +possa com ella, e a duração excederá +á da sua vida. +Talvez haverá, quem tenha esta idéa por +extravagancia, +que a escarneça, e teime em usar de +serpentina de cobre; porém o miseravel que isto +fizer, se não for por ignorancia, merece a maior +compaixão, por ter huma alma gangrenada pela +avareza, que lhe faz olhar com despreso, para a +saude, e vida dos homens. Quizera tambem, que +o recipiente fosse hum garrafão, e nada de +complicações, +nem torneiras de chave, faceis de desmanchar, +e difficultosas de concertar, porque me +lembro das pessoas, que lidão nestas fábricas. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[78]</span> +<h4><em><a name="c30"></a>Ordem do +trabalho para fazer +aguardente.</em> +</h4> + +<br /> + +Tres quartas partes de agua, huma quarta parte +de mel, são lançados na dórna, a qual +deve +conter sómente, tanto desta especie de mosto, +quanto caiba em dois alambiques, ficando elles +hum palmo por encher. Deita-se neste mosto bastantes +fézes de huma fermentação antecedente, +que +se mistura bem com todo o liquido; tapa-se a dorna, +deixando aberto o pequeno furo da tampa, +para a communicação do ár, e que a +mesma dórna +fique ao menos dois palmos por encher. Assim +que principia a fermentação, prova-se o liquor, e +continua-se a prova, até chegar ao ponto determinado +por M. Gentil. +<br /> + +<br /> + +Ainda que o vinho neste ponto se considere +claro, e se tire por huma torneira, que a dorna +tem no fundo, não deve passar ao alambique, sem +que seja por hum coador, para que não vão nelle +partes grosseiras; porque estas, hindo ao fundo da +caldeira, e recebendo o fogo immediatamente, +queimão-se, e communicão ao espirito, o +empireuma, +ou gosto de queimado, que he indistructivel. +Já se vê, que esta dorna deve estar n'huma +altura tal, que o seu vinho possa correr por huma +calha, que o lança no alambique pelo tubo da sua +carga; em cujo tubo está hum funil de folha proporcionado, +e neste funil he, que se deve pôr o coador. +Como a fermentação se fez com pouca +communicação +com o ár, e o gás, que se soltou, e +fugio do mosto, se conserva na mesma dorna, e +causa promptamente a morte a todo o animal, que +o inspirar, não, porque elle em si seja veneno, +<span class="pagenum">[79]</span> +mas porque, sendo incompressivel, e inelastico, o +afoga, assim como a agua; deve haver todo o cuidado, +para prevenir qualquer funesto effeito. Antes +do vinho hir para o alambique, já o refrigerante +deste está cheio de agua, assim como a tina da serpentina; +cuja agua continúa sempre a correr n'huma, +e outra parte, e a sahir pelos seus respectivos +tubos, em quanto dura a distilação. Principia +esta, lançando logo bastante fogo debaxo do alambique, +para sahir a fleuma, que se despreza; e assim +que entra a correr o espirito, modera-se o fogo, +e entretem-se sòmente o que he preciso; havendo +sempre a lembrança de perder antes por +menos, que por mais, e que a lentura he tão proveitosa +para a quantidade, e qualidade, quanto a +precipitação he prejudicial. Assim que cessa de +correr +o espirito, ou corre sòmente, o que se chama +agua fraca, tira-se o fogo ao alambique, e descarrega-se +das suas fézes pelo tubo de descarga; muda-se +a bica do refrigerante, e a da tina para cahirem +dentro delle, e desta sorte ser lavado; e +de dia, tira-se-lhe o capello, para se fazer este +beneficio mais individualmente. Não fallo nas qualidades, +que deve ter a aguardente para ser perfeita, +porque he desconhecido neste paiz o areometro. +<br /> + +<br /> + +A forma de a escolher, he agitalla n'hum pequeno +copo, e a maior, ou menor demora da espuma, +que faz, he, o que lhe mostra a bondade; +e qualquer que ella seja, toda tem sahida. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[80]</span> +<h4><em><a name="c31"></a>Sobre o +tratamento do gado, e +bestas.</em> +</h4> + +<br /> + +Todos os animaes de serviço no Brasil comem +no pasto; ainda se tivessem pastos abundantes, +como há muito gado, e bestas baratos (porque estas +nunca excedem a dezaseis, e os bois a oito +mil reis) poderia supprir a quantidade, á qualidade, +e força; porém não succede assim. +Qualquer +engenho tem cem bois, e quarenta bestas; +como a moagem he no tempo da secca, e não há +divisão de pastos, e estes forão feitos +á trinta, +cincoenta, e mais annos, e nunca renovados, a +herva, ou capim, que nelles nasce, não tem substancia, +o Sol a dessécca; e os animaes cançados, +e inanidos vão aos brejos, onde vem alguma +verdura, e com o capim, que póde ser-lhe util, +engolem plantas venenosas, que os matão. Dizem +que isto he peste, porém a fome he, que lhe faz +comer, o que lhe he nocivo. Há annos, em que +a mortandade he tal, que parão engenhos de moer. +A este respeito, assim como de outros, a abundancia +he que faz a miseria. Se hum boi custasse +cincoenta mil reis, huma besta oitenta; vinte de +huns, doze de outras, farião melhor serviço, +sustentados +com o cará, batata, mandioca, guandu, +abobora, e outras muitas cousas, de que com curiosidade +póde haver abundancia, sem contar a +mansidão, que alcanção estes animaes +assim tratados, +podendo-se fazer delles, o que se quizer a +qualquer hora. Ainda não vi hum curral calçado, +nem cuberto; enterrados os bois até á barriga he +o commum. Depois de passarem assim a noite, +vão para o carro em jejum; trabalhão muitas +horas, +<span class="pagenum">[81]</span> +sahem esfalfados, e a fome faz-lhe devorar +o que encontrão. Tenho visto gastar horas a meter +bois em carros, e bestas nas almanjarras dos +engenhos; se estes animaes sahissem da estrebaria +com a barriga cheia, hirião para o serviço +mansamente, +não haverião marradas, nem coices, o +que evitaria accidentes que sempre há, além do +adiantamento do trabalho, que a sua braveza estorva. +Ao menos devera ser o campo dividido em +quatro partes, passando o gado de humas para outras, +não se demorar mais de dez dias em cada +huma, e não entrar na ultima, de que sahio, +senão depois de trinta, ou mais dias. Desta sorte +teria tempo de crescer a herva, seria o seu succo +melhor digerido, e por consequencia mais nutritivo +para o animal. Se em lugar do pasto estar dividido +em quatro, fosse dividido em oito partes, +e que o gado se demorasse em cada huma só quatro, +ou cinco dias, ainda seria melhor. +<br /> + +<br /> + +Talvez parecerá, á simples vista, esta +multiplicidade +de pastos divididos, superfluidade, porém +he hum ganho real, porque, além de prosperar o +gado extraordinariamente assim tratado, sendo as +divisões com cèrcas vivas, podem servir os seus +galhos para o fogo das fornalhas; e os mesmos pequenos +pastos, reduzidos a terras lavradas, plantar-se +nelles Canna. Os curraes serem calçados, e +cubertos, e recolhidos nelles os animaes, que devessem +trabalhar de noite, ou de madrugada, os +quaes terião sua ração, não +de olhos de Canna, +sim dos fructos acima mencionados. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[82]</span> +<h4><em><a name="c32"></a>Cêrcas +vivas, e mortas.</em> +</h4> + +<br /> + +He notavel o serviço, que se perde em cêrcas, +quasi continuado, e sempre insufficiente. Os +moirões são da madeira, que se encontra, o mesmo +as varas, amarradas a cipó, que antes de seis +mezes apodrece. Se aparece algum bocado de cêrca +viva, he para fazer conhecer a facilidade de se +naturalisar em todas as partes, onde o seu uso póde +ser util. Não há paiz, como o Brasil com tantas +arvores, e arbustos, de que se possão fazer +cêrcas vivas. As de limão, e cidra, são +conhecidas, +porém aparecem como amostra. Todos os páos +brancos de casca leitosa, e grande miolo, pegão +bem de estaca, e são de prompto crescimento. Todas +as especies de figueiras bravas, são excellentes; +com ellas em dois, ou tres annos, podem ficar +as cêrcas impenetraveis, e o decóte annual, +servir de lenha para as fornalhas. Plantem-se as +estacas alinhadas na distancia de dez palmos, que +fiquem na altura de seis. Cortem-se os pimpolhos, +ou brotas, que nascerem para a parte de fora, ou +de dentro, conservando as dos lados, ou comprimento +da cêrca, nas quaes se prenderá algum +pêso, +para as fazer dobrar brandamente; quando cruzarem, +faz-se huma ferida na casca das duas brotas, +enxertão-se, e fazem-se firmes com hum pequeno +espeque, assim como mostra a <a href="#f8"><em>Figura +I.</em> +da <em>Estampa VIII.</em></a> Mergulhão-se +os galhos na terra, +onde tomão raiz, e fazem a vista, que se mostra +na <a href="#f8"><em>Figura II.</em></a>; +haja hum pouco de +cuidado, e +em poucos tempos se verá o effeito. As cêrcas +assim +feitas, hão de ser de arvores da mesma especie; +<span class="pagenum">[83]</span> +e de qualquer que sejão mesmo das fructiferas, +podem servir, ainda que com mais demora. +<br /> + +<br /> + +Como há partes, onde as cêrcas vivas se +faráõ +impraticaveis; para se fazerem as cêrcas mortas +com aceio, solidez, e sem perder muito tempo, +quando se fizer alguma derrubada, devem torrar-se +os páos de madeira firme, taes como de gorauna, +ipé, e brasil, etc. no comprimento de doze +palmos para moirões; e os páos de boa qualidade +proprios para varas, no de onze. Quando os +trabalhadores se recolhem do serviço, trazem estes +páos, que depositão n'hum armazem. Em tempo +de chuva, parte dos escravos falquejão estes +moirões dos dois lados, ou os quadrejão; outros +lhe fazem buracos, distantes por huma bitola de +dois palmos, que passem de parte a parte, e cada +moirão deve levar quatro, principiando de meio +palmo da cabeça para baxo; e outros escravos +proporcionão +as pontas das varas, a caber nos buracos +dos moirões até meio páo; cujos +buracos não +devem ter menos de duas pollegadas em quadro. +Depois de haver huma boa provisão de moirões, +e varas, querendo-se fazer qualquer cêrca, +mandão-se +fazer os buracos na terra alinhados, e na +distancia de dez palmos livres, com dois e meio +de fundo. Quando estiverem feitos, no acto de +hirem os trabalhadores para o serviço, carregão +as +varas, e moirões, lançando estes cada hum em seu +buraco; ficão só dois escravos endireitando-os, e +firmando-os na terra. He visivel, que desta sorte +tem as cêrcas outra duração. A +<em>Figura III.</em> mostra +os moirões, e varas. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[84]</span> +<h4><em><a name="c33"></a>Lenhas.</em> +</h4> + +<br /> + +He quasi geral a falta da lenha nos engenhos dos +suburbios do Rio de Janeiro; alguns já a comprão, +e outros não tardaráõ a fazello. Nos +campos dos +Goitacazes, antes de dez annos pararáõ mais de +ametade das fábricas á falta della. Se +há paiz, onde +isto se não devêra temer, he todo o Brasil, pela +immensidade de arvores, que pegão bem de estaca, +e em poucos annos alcanção a maior grandeza. +<br /> + +<br /> + +O cajá, o cabui, a mangueira, as figueiras, +geralmente todos os páos brancos pegão com a +maior +facilidade. +<br /> + +<br /> + +Os pinheiros, que são espontaneos de serra +acima, nascem bem de serra abaxo, semeando-se +os pinhões de vez, e em poucos annos se fazem +grandes arvores, que podem servir a infinitos usos. +O guandu, ou hervilha de Angóla, arbusto, que +tem a propriedade de nascer, e prosperar em toda +a qualidade de terreno, mesmo no que se suppõem +peior; depois de colhido o fructo, de Junho até +Agosto, que he excellente legume, póde decotar-se +pelo pé, operação de que carece, para +a reproducção +de outro; de cujas folhas são avidos todos +os animaes herbivoros, e cujos troncos, e ramos, +podem servir para as fornalhas. +<br /> + +<br /> + +Deve haver o cuidado de tirar as estacas para +plantar, de hum terreno analogo áquelle, onde +se devem plantar; se o terreno for sêcco, devem +ser tiradas de sequeiro, e o mesmo, se for humido. +<br /> + +<br /> + +Ainda que haja mattos virgens, sempre as lenhas +<span class="pagenum">[85]</span> +se devem plantar; os páos de matto virgem +fazem só brazas, e para as caldeiras, onde se precisa +hum fogo activo, os ramos, os galhos são melhores; +çapé mesmo feito em +feixes, o bagaço da +Canna, dão hum calor mais forte, que madeira +dura, principalmente se he em grossos tóros, como +se usa commummente. Talvez parecerá isto +paradoxo a quem não tem idéa do como se queima +em Portugal o tijolo, a telha, a cal, onde se +emprega sómente tojo, carqueja, rama de pinho, +e mattos carrasqueiros. As estacas, para plantar, +tambem podem ser tiradas das raizes das arvores, +fazendo-as de hum palmo de comprido, havendo +o cuïdado de não ferir a sua casca, e de as plantar +n'hum terreno bem estrumado; desta sorte não +falhão. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c34"></a>Carros.</em> +</h4> + +<br /> + +Ainda não lembrou a ninguem na Capitania do +Rio de Janeiro, o fazer uso da carreta, em lugar +do carro, sendo a vantagem tão visivel. As rodas +do carro, tem o trilho de huma a duas pollegadas, +com cinco a seis palmos de altura; o trilho +das da Carreta, he de quatro a cinco pollegadas, +com nove a dez palmos de altura. Ora n'hum paiz +de caminhos não calçados, pantanosos, he +infinitamente +melhor a carreta, cujas dão tanta folga +aos animaes, além de não se enterrarem tanto, e +facilitarem o virar de hum para outro lado, sem +forcejar no cabeçalho; custando menos na sua +construcção, +por haver maior quantidade de madeiras +que lhe sirvão, não precisar tanto ferro, e mesmo +se póde fazer sem elle; e onde dois bois puxão +mais +<span class="pagenum">[86]</span> +sem tanta fadiga, que os seis do Carro. Devo lembrar, +que os raios da roda da Carreta, não devem +ser inclinados para fóra, como os das rodas de +sege; hão de ser perpendiculares ao cubo, o que +lhe conserva toda a fortaleza. +<br /> + +<br /> + +<h4><em><a name="c35"></a>Capinas.</em> +</h4> + +<br /> + +Hum dos objectos, que merece toda a atenção, +e que dá grande trabalho aos Lavradores do Brasil, +são as capinas, ou limpas das hervas gulosas, +que pullulão extraordinariamente, e roubão a +substancia +destinada ás plantas, de que pretendem +utilidade. A fórma de fazer esta limpa, he muito +defeituosa; a enxada, de que se usa, não dá +bastante +expedição; o seu ferro fere a terra, formando +hum angulo de mais de sessenta gráos, e não +tem a propriedade de arrancar as pequenas raizes, +sem a perda de muito tempo. +<br /> + +<br /> + +Em lugar da enxada, deve-se adoptar hum +raspador, cujo ferro tenha seis pollegadas de alto, +e doze de comprido, temperado de aço, e cortante; +que tenha o cabo reforçado, e encavado de +sorte, que na mão do obreiro faça formar ao corte +hum angulo até quinze gráos. O trabalhador pega +com a mão esquerda na ponta do cabo, e com +a direita na altura a que chega, carrega sobre o +mesmo; e tendo o corpo de perfil, com inclinação +para a direita, balancêa-o para a esquerda, forcejando +sobre o raspador, e faz arrastar o seu corte +quasi dois palmos, e assim continua, sem nunca +o levantar; parece, que desta sorte cortará mais +capim, que dez enxadas. Para arrancar as pequenas +raizes, se há precisão de o fazer, tem mais +propriedade +<span class="pagenum">[87]</span> +hum ensinho, com seis dentes de ferro +curvos, firmados n'hum grosso madeiro, onde prenda +hum cabo reforçado; cujos dentes devem sobresahir +até tres pollegadas, e serem afastados, +huns dos outros, duas; he visivel, que arrancará +mais raizes, que muitas enxadas. A <a href="#f6"><em>Figura +II.</em> da +<em>Estampa VI.</em></a> mostra o raspador. A +<a href="#f6"><em>Figura III.</em></a>, +o +mesmo raspador visto de perfil com o seu cabo. +<br /> + +<br /> + +A <a href="#f6"><em>Figura IV.</em></a>, +he o ensinho com +dentes de +ferro curvos para arrancar pequenas raizes. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[88]</span> +<h2><a name="c36"></a>NOTAS<br /> + +QUE PERTENCEM A ESTA OBRA. +</h2> + +<br /> + +<div class="break"> +<hr /></div> + +<br /> + +<h3><a href="#p4">NOTA I. Pag. 4.</a> +</h3> + +<br /> + +Na Provincia do Minho, e em outras partes, há muita +uva, que não pode amadurecer, porque as cêpas +são encostadas +a arvores, cujas folhas impedindo, que a luz toque +nos cachos, não se pode aperfeiçoar o seu succo, +nem alcançar +doçura, condição, sem a qual se +não pode fazer vinho +generoso. +<br /> + +<br /> + +Estas uvas são sempre azêdas, e o seu vinho quasi +não +tem valor, por aspero, e inexportavel. He enriquecer aos +seus habitantes, e por consequencia ao Estado, o dizer a forma, +porque podem fazer vinho generoso, e com todas as +qualidades, que lhe adquirem grande valor, e +exportação. +O meio simples, innocente, e infallivel, para conseguir esta +perfeição, he ajuntar ao mosto máo, +antes da fermentação, +huma certa quantidade de Assucar, maior, ou menor, +segundo a qualidade do mosto; porém que nunca +poderá exceder +a huma arroba por pipa, por mais verde, que elle +possa ser; e governar-se a fermentação, assim +como se diz +nos principios para fazer aguardente. Esta despeza ha de ser +compensada com usura na venda do vinho, pelo excesso de +verde, a maduro, e bom. Macquer chegou a fazer vinho +de verjus, que he huma uva, que nunca amadurece, e se +servem della em França para tempero acido, assim como nos +nos servimos do limão. Fez tambem, com uva muito +má, vinho +liquoroso, vinho como o de Tockay, que he feito de +uva muito doce, quasi em passa, simplesmente com a +addicção +do Assucar. Não he preciso, que o Assucar seja branco, +basta o mascavado, e mesmo o mel, se houver em abundancia. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="break"> +<hr /></div> + +<br /> + +<span class="pagenum">[89]</span> +<h3><a href="#p7">NOTA II. Pag. 7.</a> +</h3> + +<br /> + +Boyle pesou huma pouca de terra vegetal, de que encheo +hum caixão; depositou nesta terra huma semente de buxo, +e a regava, quando era preciso. +<br /> + +<br /> + +Passados annos, pesando este buxo, achou, que tinha cento +e tantas libras, e a terra só tinha diminuido algumas +onças. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="break"> +<hr /></div> + +<br /> + +<h3><a href="#p9">NOTA III. Pag. 9 +</a></h3> + +<br /> + +A luz depura as emanações dos vegetaes, prepara +com +ellas o elemento, que respirão os animaes, e rehabilita o +que a sua respiração tem corrompido; porque o +animal inspira +ár, e expira gás: o vegetal, pelo contrario, +absorve +gás, e transpira ár puro; porem este +ár á sombra, e de +noite, corrompe-se, se a luz o não purifica. A materia, que +vive nos animaes, e nos vegetaes, tem huma dependencia +absoluta da luz; ella tem a faculdade de penetrar os corpos +que toca, produzir nelles calor, desenvolver o que tem no +seu seio, e aperfeiçoar os seus succos. As plantas, que +são +privadas da luz, por muito juntas, ficão delgadas, as +folhas, +e as hastes de hum verde desmaiado, por consequencia enfermas, +e sem darem o producto, que se devia esperar. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="break"> +<hr /></div> + +<br /> + +<h3><a href="#p9">NOTA IV. Ibid. +</a></h3> + +<br /> + +O ar he absolutamente preciso para entreter a vida animal, +e vegetal. Se he corrompido, se não se renova, os +animaes, e os vegetaes padecem, deperigão, e morrem. +Já +se disse em a nota antecedente, que os animaes inspiravão +ár, e expiravão gás; e que os vegetaes +absorvião gás, e transpiravão +ár puro. Esta troca reciproca, estabelecida pelo Author +da natureza, he a que faz ser o ár, que se respira no +campo, tão saudavel, e nocivo, o das grandes +povoações. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[90]</span> +No campo há toda a facilidade para se fazer esta troca, +que tanto se difficulta nas Cidades. +<br /> + +<br /> + +O gás, ou ár fixo, que os animaes +expirão, e os vegetaes +absorvem, he hum liquido incompressivel, que, não +sendo misturado com sufficiente quantidade de ár puro, mata +os animaes, que o inspirão, afogando-os, assim como faz +a agua, ou qualquer liquido que nos seja visivel; porém elle +se conhece so pelos effeitos, nas victimas que faz perecer, +e não á simples vista. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="break"> +<hr /></div> + +<br /> + +<h3><a href="#p41">NOTA V. Pag. 41. +</a></h3> + +<br /> + +Franklin navegando em frota na America do Norte, vio +serem maltratados por huma tempestade, todos os Navios, e +so dois novamente concertados, e alcatroados, sentirão muito +pouco os seus effeitos. Vio tambem algumas gôttas de azeite +lançado no mar, cuja reunião encheria apenas huma +colher, +temperar as ondas a mais de cem toezas, com huma +celeridade de expanção tão +maravilhosa, como a sua divisão; +e que este effeito do azeite, ou qualquer oleo, principalmente +do vegetal, era sobre tudo efficaz, para evitar o perigo +dos mares encapelados. Todas as pessoas, que tem sentido +no mar grandes tormentas, sabem, que os mares encapelados +procedem de huma grande serra de mar, que agitado +pelos ventos, forma huma horrorosa columna, a qual +dobrando, ou encapelando, se por desgraça encontra alguma +embarcação, seja ella a maior Náo, +lançando-lhe dentro milhares +de toneis de agua, a faz sossobrar. A pezar de ser +Franklin quem isto diz, eu, que sabia o que erão mares +encapellados, +suspendi a minha crença, parecendo-me impossivel, +que huma tão pequena quantidade de materia, fizesse +cessar hum tão terrivel effeito: porém a primeira +vez, +que vi fazer Assucar, e que hum grande fogo lançado debaxo +de huma caldeira, fazendo sublevar acima das bordas della +alguns palmos o liquido, que continha, e que huma pitada +de massa de Mamono, reduzia repentinamente este liquido +á sua altura natural, lembrei-me logo da +observação +de Franklin, e ainda que eu não possa conceber o porque +isto se faz; se huma pitada de massa de Mamono, que poderá +conter apenas meio grão de azeite, e azeite crasso, he +capaz de impedir a sublevação, e fuga do liquido +de huma +<span class="pagenum">[91]</span> +caldeira abrazada, creio certamente, que algumas oitavas de +azeite bem expansivel, tal como o de amendobi, de que há +abundancia em Angola, lançado por huma seringa de delgado +canudo, contra o maior mar encapelado, o reduzirá a +onda simples, que não tem perigo de consequencias para os +Navios. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="break"> +<hr /></div> + +<br /> + +<h3><a href="#p69">NOTA VI. Pag. 69.</a></h3> + +<br /> + +<br /> + +O ponto indicado por M. Gentil, he para se fazer o vinho +da uva; porém como todos os mostos são compostos +dos mesmos principios, com mui pequenas +modificações, o +que succede no mosto da uva, he commum ao da maçan para +a cidra, ao da cevada para a cerveja, ao sumo, e productos +da Canna de Assucar, para se fazer aguardente. A passagem +da dorna, ou cuba para a pipa, com os acidos mineraes, +para impedir a fermentação ulterior; como do +vinho +de Canna, ou guarápa, o que se pretende he aguardente, +tambem he o ponto desta guarápa, passar ao alambique para +a distilação. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[92]</span> +<h2><a name="c37"></a>EXPLICAÇÃO +DAS ESTAMPAS. +</h2> + +<br /> + +<br /> + +<h3><a href="#f1">ESTAMPA I.</a> +</h3> + +<br /> + +<b>FIG. I.</b> +Forma dos partidos para a Canna, com +doze braças em quadro, e o mesmo de intervallo +entre cada partido. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. II.</b> +Quadrados longos, que fórmão tambem +partidos, com menos intervallo. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. III.</b> +Quadrados longos, com outra direcção. +A agulha, que está no centro, he para mostrar o +alinhamento, que devem ter os pequenos partidos, +para a Canna ser plantada de Norte a Sul, +e de Leste a Oeste.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3><a href="#f2">ESTAMPA II.</a> +</h3> + +<br /> + +<b>FIG. I.</b> A +folha da enxada sem cabo. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. II.</b> A +mesma enxada encavada. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. III.</b> O +trabalhador com a enxada prompto a +trabalhar. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. IV.</b> O +mesmo trabalhador, trabalhando. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3><a href="#f3">ESTAMPA III.</a> +</h3> + +<br /> + +<b>FIG. I.</b> He +a vista exterior da casa do engenho, +tomada ao longo. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. II.</b> He +a vista plana da mesma casa. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. III.</b> He +a vista exterior da entrada da casa +do engenho, que mostra tambem as varandas para +picadeiros, e outras serventias. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[93]</span> +<h3><a href="#f4">ESTAMPA IV.</a> +</h3> + +<br /> + +Mostra a fórma de moer Canna, pelo methodo que +se propõem.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3><a href="#f5">ESTAMPA V.</a></h3> + +<br /> + +<b>FIG. I.</b> Mostra o bangué de tres tachas, +com as +paredes dos lados abatidas, para se ver o interior; +e o fogo fazendo o seu effeito. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. II.</b> Mostra os dentes em prisma para o ensinho, +vistos de topo, com a grossura, e fórma, +que devem ter, e distancia de huns a outros; o +mais escuro he a espiga, que deve entrar no madeiro, +onde prende o cabo. A. e B. figura dos dezoito +dentes do centro do mesmo ensinho. C. figura +dos dois dentes, que devem fazer os lados.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3><a href="#f6">ESTAMPA VI.</a> +</h3> + +<br /> + +<b>FIG. I.</b> Mostra hum trabalhador, cavando com a +enxada, +como se pratica em França, Inglaterra, etc. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. II.</b> Fórma do raspador para as +limpas, ou capinas. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. III.</b> O mesmo raspador de perfil, para mostrar +a direcção, que deve ter encavado. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. IV.</b> Figura do ensinho, para arrancar pequenas +raizes. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. V.</b> Mostra o balde de valvula trabalhando; a +polé póde ser feita de taboas, assim como o sexto +circulo, onde se vem os sinaes dos fuzelos, +que sustem as duas cordas que prendem o balde, +e tambem a corda, que levanta a valvula. +O apoio da balança está em tres palmos, e o +trabalhador +puxa por huma alavanca de seis. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[94]</span> +<b>FIG. VI.</b> Pessa onde joga a polé, e que +facilita +o seu movimento para todas as partes.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3><a href="#f7">ESTAMPA VII.</a> +</h3> + +<br /> + +<b>FIG. I.</b> He o alambique na sua fornalha com o fogo +acêzo. O refrigerante deixa ver a figura do +capello, fazendo hum angulo de 65 gráos, e o +petipé mostra as dimensões do alambique, e +fornalha. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. II.</b> He a fôrma de Assucar, vista com +a boca +para cima. +<br /> + +<br /> + +FIG. III. He a mesma fôrma, deixando ver a abertura +do seu fundo.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3><a href="#f8">ESTAMPA VIII.</a> +</h3> + +<br /> + +<b>FIG. I.</b> Faz ver como se fazem cêrcas +vivas. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. II.</b> Mostra os ramos entrelaçados, e +mergulhados +na terra. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. III.</b> Mostra os moirões, e varas para +as +cêrcas +mortas. +<br /> + +<br /> + +<b>FIG. IV.</b> He hum quarto circulo, para dar a conhecer, +o que são gráos de +elevação. Na linha +horisontal do mesmo, se vem duas pollegadas, +repartidas em linhas. Huma pollegada tem doze +linhas, hum palmo tem oito pollegadas, hum pé +tem doze pollegadas. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[95]</span> +<h2>INDICE<br /> + +</h2> + +<h3> +DO QUE CONTEM ESTA MEMORIA. +</h3> + +<br /> + +<table style="text-align: left; width: 620px; height: 166px;" border="0" cellpadding="2" cellspacing="2"> + + <tbody> + + <tr> + + <td><em>Descripção da Canna de +Assucar, +segundo +a vista que +appresenta.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c1">Pag. +1</a> </td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Como se cultiva actualmente a Canna de +Assucar.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c2">2</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Notas sobre esta fôrma de +plantação.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c3">4</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Theoria para a cultura da Canna de +Assucar.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c4">5</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Como se deve cultivar a Canna de +Assucar.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c5">10</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Vantagens desta fôrma de +plantação.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c6">16</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Córte das +Cannas.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c7">Ib.</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Construcção dos +engenhos +actuaes.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c8">17</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Notas sobre esta fórma de +construcção.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c9">19</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Nova construcção de +engenhos</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c10">20</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Sobre o movimento das +moendas.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c11">22</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Comparação da roda +vertical com +a +horisontal.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c12">24</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Preciso sobre a dentadura das +rodas.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c13">26</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Como se moe Canna +actualmente.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c14">30</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Notas sobre esta fórma de +moer.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c15">32</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Nova fórma de +moer.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c16">33</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Comparação da moagem +actual com +a que se +propõem.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c17">35</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Descripção do que +contém a casa de caldeiras +actualmente.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c18">38</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Como se trabalha na fábrica do +Assucar.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c19">40</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Notas sobre esta fórma de fazer +Assucar.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c20">44</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Principios, que devem conduzir o fabricante +de +Assucar.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c21">47</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Preparo para manufacturar o +Assucar.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c22">50</a></td> + + </tr> + + </tbody> +</table> + +<span class="pagenum">[96]</span> +<table style="text-align: left; width: 620px; height: 166px;" border="0" cellpadding="2" cellspacing="2"> + + <tbody> + + <tr> + + <td style="width: 548px;"><em>Fórma +de fazer a +decoada.</em></td> + + <td style="text-align: right; width: 52px;"><a href="#c23">53</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="width: 548px;"><em></em><em>Descripção, +e +proporções do +Bangué.</em></td> + + <td style="width: 52px; text-align: right;"><a href="#c24">54</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="width: 548px;"><em>Preparo do barro +para clarificar o +Assucar.</em></td> + + <td style="width: 52px; text-align: right;"><a href="#c25">56</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="width: 548px;"><em>Methodo para +trabalhar na fábrica do +Assucar.</em></td> + + <td style="width: 52px; text-align: right;"><a href="#c26">57</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="width: 548px;"><em>Como se trabalha +na fábrica da +aguardente.</em></td> + + <td style="width: 52px; text-align: right;"><a href="#c27">63</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Principios, que devem conduzir o Mestre +Aguardenteiro.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c28">65</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Discurso sobre o +alambique.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c29">73</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Ordem do trabalho para fazer +aguardente.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c30">78</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Sobre o tratamento do gado, e +bestas.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c31">80</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Cêrcas vivas, e +mortas.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c32">82</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Lenhas.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c33">84</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Carros.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c34">85</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Capinas.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c35">86</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Notas.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c36">88</a></td> + + </tr> + + <tr> + + <td><em>Explicação das +Estampas.</em></td> + + <td style="text-align: right;"><a href="#c37">92</a></td> + + </tr> + + </tbody> +</table> + +<em></em><em></em><em></em><br /> + +<h4>FIM.</h4> + +<br /> + +<br /> + +<div class="signature"> +<em><a name="f1"></a>Est. 1</em><br /> + +</div> + +<img style="border: 1px solid ; width: 600px; height: 915px;" alt="" src="images/fig02.png" /><br /> + +<br /> + +<br /> + +<a name="f2"></a><br /> + +<img style="border: 1px solid ; width: 600px; height: 903px;" alt="" src="images/fig03.png" /><br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="signature"><em><a name="f3"></a>Est. +3<br /> + +</em></div> + +<img style="border: 1px solid ; width: 600px; height: 944px;" alt="" src="images/fig04.png" /><br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="signature"> +<em><a name="f4"></a>Est. 4</em><br /> + +</div> + +<img style="border: 1px solid ; width: 600px; height: 875px;" alt="" src="images/fig05.png" /><br /> + +<br /> + +<a name="f5"></a><br /> + +<img style="border: 1px solid ; width: 600px; height: 911px;" alt="" src="images/fig06.png" /><br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="signature"><em><a name="f6"></a>Est. +6</em><br /> + +</div> + +<img style="border: 1px solid ; width: 600px; height: 986px;" alt="" src="images/fig07.png" /><br /> + +<br /> + +<a name="f7"></a><br /> + +<img style="border: 1px solid ; width: 600px; height: 933px;" alt="" src="images/fig08.png" /><br /> + +<br /> + +<div class="signature"><em><a name="f8"></a>Est. +8</em></div> + +<img style="border: 1px solid ; width: 600px; height: 948px;" alt="" src="images/fig09.png" /><br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="fbox"> +<h2>Lista de erros corrigidos</h2> + +<div style="text-align: center;">Aqui encontram-se +listados todos os erros encontrados e corrigidos:</div> + +<br /> + +<br /> + +<table style="width: 80%; text-align: left; margin-left: auto; margin-right: auto;" border="0" cellpadding="4" cellspacing="4"> + + <tbody> + + <tr align="right"> + + <td style="width: 61px;"></td> + + <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 121px;">Original</td> + + <td style="text-align: center; width: 5px;"></td> + + <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 135px;">Correcção</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right; width: 61px;"><a name="e1"></a><a href="#p24">#pág. +24</a></td> + + <td style="text-align: center; width: 121px;">hnm</td> + + <td style="text-align: center; width: 5px;">...</td> + + <td style="text-align: center; width: 135px;">hum</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right; width: 61px;"><a name="e2"></a><a href="#p28">#pág. +28</a></td> + + <td style="text-align: center; width: 121px;">ou ou +ambos</td> + + <td style="text-align: center; width: 5px;">...</td> + + <td style="text-align: center; width: 135px;">ou +ambos</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right; width: 61px;"><a name="e3"></a><a href="#p42">#pág. +42</a></td> + + <td style="text-align: center; width: 121px;">Quaudo</td> + + <td style="text-align: center; width: 5px;">...</td> + + <td style="text-align: center; width: 135px;">Quando</td> + + </tr> + + </tbody> +</table> + +<br /> + +<div style="text-align: center;"><br /> + +A numeração das páginas foi alterada +no índice de forma a corresponder à +numeração real das páginas do livro +original.</div> + +<div style="text-align: center;"><br /> + +<br /> + +</div> + +</div> + +</div> + + + + + + + + +<pre> + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of Memoria sobre a cultura, e productos +da cana de assucar, by José Caetano Gomes + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK MEMORIA SOBRE A CULTURA *** + +***** This file should be named 25148-h.htm or 25148-h.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + http://www.gutenberg.org/2/5/1/4/25148/ + +Produced by Rita Farinha and the Online Distributed +Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was +produced from images generously made available by National +Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project +Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you +charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you +do not charge anything for copies of this eBook, complying with the +rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose +such as creation of derivative works, reports, performances and +research. They may be modified and printed and given away--you may do +practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is +subject to the trademark license, especially commercial +redistribution. + + + +*** START: FULL LICENSE *** + +THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE +PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK + +To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free +distribution of electronic works, by using or distributing this work +(or any other work associated in any way with the phrase "Project +Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project +Gutenberg-tm License (available with this file or online at +http://gutenberg.org/license). + + +Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm +electronic works + +1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm +electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to +and accept all the terms of this license and intellectual property +(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all +the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy +all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession. +If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project +Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the +terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or +entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8. + +1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be +used on or associated in any way with an electronic work by people who +agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few +things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works +even without complying with the full terms of this agreement. See +paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project +Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement +and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic +works. See paragraph 1.E below. + +1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation" +or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project +Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the +collection are in the public domain in the United States. If an +individual work is in the public domain in the United States and you are +located in the United States, we do not claim a right to prevent you from +copying, distributing, performing, displaying or creating derivative +works based on the work as long as all references to Project Gutenberg +are removed. 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If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived +from the public domain (does not contain a notice indicating that it is +posted with permission of the copyright holder), the work can be copied +and distributed to anyone in the United States without paying any fees +or charges. If you are redistributing or providing access to a work +with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the +work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1 +through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the +Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or +1.E.9. + +1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted +with the permission of the copyright holder, your use and distribution +must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional +terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked +to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the +permission of the copyright holder found at the beginning of this work. + +1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm +License terms from this work, or any files containing a part of this +work or any other work associated with Project Gutenberg-tm. + +1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this +electronic work, or any part of this electronic work, without +prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with +active links or immediate access to the full terms of the Project +Gutenberg-tm License. + +1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary, +compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any +word processing or hypertext form. However, if you provide access to or +distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than +"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version +posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org), +you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a +copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon +request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other +form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm +License as specified in paragraph 1.E.1. + +1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying, +performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works +unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9. + +1.E.8. 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INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the +trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone +providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance +with this agreement, and any volunteers associated with the production, +promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works, +harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees, +that arise directly or indirectly from any of the following which you do +or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm +work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any +Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause. + + +Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm + +Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of +electronic works in formats readable by the widest variety of computers +including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at http://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +http://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact +information can be found at the Foundation's web site and official +page at http://pglaf.org + +For additional contact information: + Dr. Gregory B. Newby + Chief Executive and Director + gbnewby@pglaf.org + + +Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation + +Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide +spread public support and donations to carry out its mission of +increasing the number of public domain and licensed works that can be +freely distributed in machine readable form accessible by the widest +array of equipment including outdated equipment. Many small donations +($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt +status with the IRS. + +The Foundation is committed to complying with the laws regulating +charities and charitable donations in all 50 states of the United +States. Compliance requirements are not uniform and it takes a +considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up +with these requirements. We do not solicit donations in locations +where we have not received written confirmation of compliance. To +SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any +particular state visit http://pglaf.org + +While we cannot and do not solicit contributions from states where we +have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition +against accepting unsolicited donations from donors in such states who +approach us with offers to donate. + +International donations are gratefully accepted, but we cannot make +any statements concerning tax treatment of donations received from +outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff. + +Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation +methods and addresses. Donations are accepted in a number of other +ways including checks, online payments and credit card donations. +To donate, please visit: http://pglaf.org/donate + + +Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic +works. + +Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm +concept of a library of electronic works that could be freely shared +with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project +Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support. + + +Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed +editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S. +unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + http://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. + + +</pre> + +</body> +</html> diff --git a/25148-h/images/fig01.png b/25148-h/images/fig01.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..717ae6e --- /dev/null +++ b/25148-h/images/fig01.png diff --git a/25148-h/images/fig02.png b/25148-h/images/fig02.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..d97d5f0 --- /dev/null +++ b/25148-h/images/fig02.png diff --git a/25148-h/images/fig03.png b/25148-h/images/fig03.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..58b3079 --- /dev/null +++ b/25148-h/images/fig03.png diff --git a/25148-h/images/fig04.png b/25148-h/images/fig04.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..51948c9 --- /dev/null +++ b/25148-h/images/fig04.png diff --git a/25148-h/images/fig05.png b/25148-h/images/fig05.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..476dae8 --- /dev/null +++ b/25148-h/images/fig05.png diff --git a/25148-h/images/fig06.png b/25148-h/images/fig06.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..2233f93 --- /dev/null +++ b/25148-h/images/fig06.png diff --git a/25148-h/images/fig07.png b/25148-h/images/fig07.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..6843e15 --- /dev/null +++ b/25148-h/images/fig07.png diff --git a/25148-h/images/fig08.png b/25148-h/images/fig08.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..67c2da1 --- /dev/null +++ b/25148-h/images/fig08.png diff --git a/25148-h/images/fig09.png b/25148-h/images/fig09.png Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..3067a5c --- /dev/null +++ b/25148-h/images/fig09.png |
