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+The Project Gutenberg EBook of Noticia de livreiros e impressores de
+Lisbôa na 2ª metade do seculo XVI, by José Joaquim Gomes de Brito
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: Noticia de livreiros e impressores de Lisbôa na 2ª metade do seculo XVI
+
+Author: José Joaquim Gomes de Brito
+
+Release Date: February 20, 2008 [EBook #24657]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK LISBÔA ***
+
+
+
+
+Produced by Rita Farinha and the Online Distributed
+Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was
+produced from images generously made available by National
+Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).)
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+ *Nota de editor:* Devido à quantidade de erros tipográficos
+ existentes neste texto, foram tomadas várias decisões quanto à
+ versão final. Em caso de dúvida, a grafia foi mantida de acordo com
+ o original. No final deste livro encontrará a lista de erros
+ corrigidos.
+
+ Rita Farinha (Fev. 2008)
+
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+GOMES DE BRITO
+
+
+NOTICIA
+
+DE
+
+Livreiros e Impressores em Lisbôa
+
+NA
+
+2.^a METADE DO SECULO XVI
+
+COMPOSTA EM FACE DE UM CODICE DA CAMARA MUNICIPAL DESTA CIDADE
+
+[Figura]
+
+
+1911
+
+Imprensa Libanio da Silva
+_Travessa do Fala-Só, 24_
+LISBOA
+
+
+
+
+Livreiros e Impressores em Lisbôa na 2.^a metade do Seculo XVI
+
+
+
+
+GOMES DE BRITO
+
+
+NOTICIA
+
+DE
+
+Livreiros e Impressores em Lisbôa
+
+NA
+
+2.^a METADE DO SECULO XVI
+
+COMPOSTA EM FACE DE UM CODICE DA CAMARA MUNICIPAL DESTA CIDADE
+
+[Figura]
+
+
+1911
+
+Imprensa Libanio da Silva
+_Travessa do Fala-Só, 24_
+LISBOA
+
+
+
+
+Do _Boletim da Sociedade de Bibliophilos Barbosa Machado_
+
+Tiragem: 50 exemplares
+
+N.^o 44
+
+
+
+
+NOTICIA
+
+DE
+
+Livreiros e Impressores em Lisbôa
+
+NA
+
+2.^a METADE DO SECULO XVI
+
+
+Até o tempo em que o Cardeal D. Henrique, depois rei, procedeu á nova
+circumscripção das parochias de Lisbôa, erijindo mais cinco freguezias a
+ajuntar ás vinte e cinco já existentes (1564 a 1569), demarcando-lhes o
+territorio nos recortes feitos a quatro destas, a secular compartilha
+que resultava deste regimen, estabelecido no intuito de accomodar o
+serviço religioso ás necessidades dos fieis, e sua mais immediata
+satisfação, soffrera tres remodelações. Ordenara a ultima, durante a
+regencia do principe D. João, ausente em França seu pai, o rei D.
+Affonso V, o celebre cardeal de Alpedrinha.
+
+Por effeito daquelle regimen, grande numero de vias públicas lisbonenses
+eram, como ainda hoje o são, compartilhadas por diversas freguezias
+confinantes. O _Summario_ de Christovão Rodrigues de Oliveira, apezar de
+imperfeito neste ponto, nos mostra, pela repetição das _denominações_,
+que não dos _disticos_, porque tal providencia estava ainda por nascer,
+quaes e quantas eram as vias públicas compartilhadas, por effeito da
+remodelação parochial então vigente.
+
+Comprehendia-se entre as deste numero a muito falada «Rua Nova»,
+dividida em dois troços, um mais antigo que o outro; um, o primeiro,
+fazendo parte do territorio da freguezia da Magdalena, o outro
+pertencendo á freguezia de «S. Gião» (S. Julião).
+
+Do mesmo modo, esta notavel rua da Lisbôa medieva, que principiando no
+Pelourinho, ía entroncar na Calcetaria, era conhecida por duas
+denominações, correspondentes á sua compartilha. Á parte oriental,
+territorio da parochia da Magdalena, que terminava no Arco dos Barretes,
+chama Christovão «Rua Nova dos Ferros»; a que desde o predito Arco ía
+embeber-se na Calcetaria, um pouco adiante do Chafariz dos Cavallos, é
+designada na relação do _Summario_, referida á freguezia de S. Gião,
+pela denominação de «Rua Nova dos Mercadores».
+
+
+
+
+I
+
+
+É em toda a extensão da Rua Nova, de um e outro lado della, que, mercê
+de um valioso codice pertencente á Camara Municipal de Lisbôa[1], nós
+vamos encontrar, de porta aberta, nos annos intermedios dos já preditos
+(1565 a 1567), não só alguns dos livreiros e editores já conhecidos dos
+que conversam o passado literario de Portugal, mas outros tambem, ainda
+até agora não mencionados.
+
+Começando a juzante da formosa linha de agua com a qual a Rua Nova
+andava, se pode dizer, parallela, o primeiro que se nos depara é
+Bartholomeu Lopes, que não deixou de si, que saibamos, memoria
+averiguada, mas que poderá ser, porventura, membro de uma notavel
+geração de livreiros deste appelido;--os Lopes.[2]
+
+Em 1563, isto é, dois annos, apenas, antes do primeiro dos dois a que o
+codice de onde extractamos estes apontamentos se refere, havia um
+Christovão Lopes estabelecido «á Porta da Sé», segundo se vê do titulo
+seguinte, que abreviamos, mas se pode ler completo em Innocencio,
+_Diccion. Bibliog._ II, 166:
+
+«_Exposiçam da Regra do glorioso Padre Sancto Augustinho... por frey
+Diogo de Sam Miguel, &--Vendense_ (sic) _á porta da See, em casa de
+Christouam Lopes Liureyro a dous tostões em papel.--Foy impresso em
+Lixboa em casa de Joannes Blavio de Agrippina Colonia--Anno de 1563_».
+
+Vista a propinquidade dos annos, poderá acaso Bartholomeu Lopes ter sido
+irmão, ou filho (?) de Christovão Lopes, e seu successor, passando o
+estabelecimento da Porta da Sé para a Rua Nova, ou estabelecendo-se elle
+ahi de novo.
+
+É possivel tambem que este mesmo livreiro seja pae do livreiro-impressor
+Simão Lopes, que deu em Lisbôa, em 1593, a primeira edição do
+_Itinerario_, de Fr. Pantaleão d'Aveiro, as _Cartas do Japão_, etc., e
+em 1596 reimprimiu a _Chronica de D. João II_, de Garcia de Rezende.
+
+A seguir a Bartholomeu Lopes, seu visinho, estabelecido, até, nas mesmas
+casas, tendo ambos por senhorio um tal Jeronymo Corrêa, tinha a sua
+lojinha Sagramor Fernandes. Era livreiro de modestas posses, a julgar
+pela avaliação que os «lançadores», para tal effeito deputados, deram á
+sua fazenda, na proporção de cuja totalidade deveria, como todos, pagar
+o respectivo escote. O nome baptismal do homem era novellesco, mas as
+_cavallarias_, ao que parece, não eram grandes.
+
+A influencia das novellas de cavallaria faz-se ainda sentir em toda a
+sua pujança no codice que nos facilita esta noticia, imprimindo-lhe um
+matiz pictoresco e variado.
+
+O nome novellesco do obscuro livreiro não é unico entre os seus
+congeneres de ambos os sexos, inscriptos neste curioso recenseamento. A
+par dos Sagramor ha os Lançarote; de envolta com as Ginevras passam as
+Briolanjas. A procedencia francesa e a italiana, dando-se as mãos.
+Lançarote é o «Lancelot» francez; Lancelot du Lac, o heroe cavalheiresco
+de Gauthier Mapp, o amigo de Henrique II de Inglaterra. Sagramor é o
+«Sagromoro» milanez, que Jorge Ferreira aportuguesou, fazendo-o heroe do
+seu _Memorial_; Sagramor Constantino, designado por el-rei Arthur para
+seu successor, se a sorte das armas lhe fôsse adversa.
+
+Por aproposito, lembraremos a dúvida que Barbosa Machado fez nascer,
+ácerca da existencia dos _Triumfos de Sagramor_, novella que, segundo
+elle, teria sido impressa em Coimbra, em 1554, por João Alvarez, mas de
+que parece que nem o douto Abbade de Sever, nem, de certeza, o seu
+successor, o diligente Innocencio, viram jámais exemplar algum. Será
+esta hypotética novella o proprio _Memorial_, assim duplicado pelo
+auctor da _Bibliotheca Lusitana_? Eis um curioso thema, digno, nos
+parece, de attrahir a attenção da nossa Sociedade, e a que o artigo de
+Innocencio (IV, n.^o 2095, pag. 170) prestaria a base.
+
+Em compensação, porém, algumas lojas mais adiante do modesto Sagramor
+achava-se estabelecido o opulento João de Borgonha. Livreiro-editor de
+nomeada, fornecedor de artigos do seu ramo para a fazenda de S. A.,
+proprietario nas visinhanças do seu estabelecimento, e em mais de um
+sitio,[3] os seus teres, como negociante, foram avaliados em «um conto
+de réis».
+
+Na epoca em que o encontrámos, tinha elle por seu «obreiro», talvez o
+que hoje chamariamos seu «director-technico», seu administrador ou seu
+apoderado, a um certo Miguel de Arenas, um castelhano, porventura, como
+da Borgonha seria, com effeito, o patrão; estranjeiros quasi todos,
+estes negociantes das letras portuguezas do seculo XVI, que, vindo
+concorrer com os nacionaes, faziam, ao que parece, mais fortuna que
+elles.[4]
+
+Certo é que Miguel de Arenas estabeleceu-se posteriormente, com o mesmo
+ramo de commercio, de sociedade com João de Molina; tambem, e mais
+vulgarmente conhecido por «João de Hespanha», outro abastado mercador de
+livros, mas não tanto como o seu confrade borgonhez. O negocio de João
+de Hespanha foi avaliado em «duzentos mil réis». Como «obreiro» de João
+de Borgonha, Miguel de Arenas devia fazer bons interesses. Dos seus
+ordenados--e foi por esta circumstancia que o suppuzemos _empregado
+superior_ da casa de seu patrão--foram-lhe arbitrados «cinquo mill rs»,
+para na razão delles pagar o respectivo escote.[5]
+
+A João de Borgonha segue-se, nas tendas de Alvaro de Moraes, o livreiro
+Manoel Carvalho, provavelmente o pae de Sebastião Carvalho, que em 1598
+publicou, em 3.^a edição, a _Recopilaçam das cousas que conuem guardarse
+no modo de preseruar a Cidade de Lisboa_, instrucções redigidas em 1569
+pelos medicos Thomaz Alvarez e Garcia de Salzedo Coronel, e repetidas na
+primeira das datas a que acima nos referimos, «por mandado da cidade de
+Lisbôa», &.[6] Sebastião Carvalho conservaria assim na mesma Rua Nova o
+estabelecimento paterno.
+
+Apresentam-se, logo em seguida a Manoel Carvalho, Diogo Machado, João
+Lopes e «Graviel» de Araujo, dos quaes não viramos ainda noticia, antes
+que o codice que lhes revelou a existencia no'los désse a conhecer. Ao
+ultimo destes segue Diogo Moniz, que por ter apresentado carta de
+familiar do Santo Officio, foi escuso do escote. Porfim, e quasi no
+extremo da parte da rua pertencente á freguezia da Magdalena, o
+«Grafeo», isto é, o livreiro-editor Francisco Grapheo, em cujo
+estabelecimento se vendia a novella _Menina e Moça_, de Bernardim
+Ribeiro, impressa em Colonia, em 1559,[7] e uma das muitas edições da
+_Diana_, do nosso Jorge de Montemor, ao qual ainda não chegara a hora de
+ser incluído nos _Indices expurgatorios_ das duas Inquisições
+peninsulares.
+
+
+
+
+II
+
+
+Continuando na mesma Rua Nova, agora já no territorio da freguezia de
+«S. Giam»; isto é, para a direita do Arco dos Pregos, ainda ahi
+encontramos um Francisco Mendes, que estará no caso de Sagramor
+Fernandes, visto o diminuto do escote, bem como o «framengo» Giraldo de
+Frisa, que pertence tambem, ou nos enganaremos, ao numero dos da sua
+classe, de que não chegára noticia até nossos dias.
+
+Emfim, na mesma Rua Nova, e territorio da sobredita freguezia de «S.
+Giam» (S. Julião), mas da banda das Varandas, encontramos, fronteira ao
+Arco dos Pregos, a «viuva de Salvador Martel», Leonor Nunes, a qual,
+estabelecida, com seu filho, nas casas de Fernão d'Alvarez de Almeida,
+teve pelos lançadores a avaliação de duzentos mil réis.
+
+Salvador Martel foi livreiro conhecido. Deverá ter fallecido no decurso
+das operações do _Lançamento_, de cujo livro tiramos estas singelas
+notas, visto como Tito de Noronha ainda o refere ao anno de 1566.[8]
+
+Algum tanto mais atrás, e tornando ao territorio da freguezia da
+Magdalena, voltando da rua de D. Gil Eanes, pelo «Pelourinho», para a
+rua da Ourivesaria da Prata, em cuja entrada tinham suas lojas os
+«calciteiros», encontramos o livreiro Jeronymo de Aguiar, que tambem não
+conheciamos, e, ali perto, no Poço da Fotéa, o já mencionado João de
+Molina, appelidado no codice que vamos percorrendo «Johão de Espanha»,
+livreiro-editor que rivalisava, sem comtudo o hombrear, como já notámos,
+com o seu opulento confrade João de Borgonha.
+
+Não era, porém, só na famosa Rua Nova, e suas immediações, que se
+encontravam os mercadores de livros. Na rua direita da Porta do
+Ferro,[9] numas casas que ahi possuia a camareira-mór, estava
+estabelecido «Jorge Dagiar» (Aguiar ou Aguilar?) talvez antecessor de
+Antonio de Aguilar, que nesse sitio teve a sua loja em 1576.
+
+Pelas vizinhanças, na «travessa da porta travessa da Madalena», que se
+ligava á «rua do fim do pé da Costa», tinham tambem suas lojas Francisco
+Fernandes e «Bautista da Fonsequa».[10] Lá para a Porta do Mar, entre a
+Mizericordia e a «Fonte da Pregiça»,[11] nas tendas da Cidade que jaziam
+nas costas do Terreiro do Trigo, vendia livros um tal Manoel Francisco,
+lojista de medianos teres, cuja fazenda foi avaliada em 10$000 réis.
+
+Por pouco mais abastado sería tido um Antonio Dias, com estabelecimento
+na rua da Gibetaria,--15$000 réis de fazenda.--E nos mesmos casos Pero
+Castanho, lá para perto de Valverde, numa travessa que vinha de Paio de
+Novaes para aquelle sitio, isto é, por perto do Rocio.
+
+
+
+
+III
+
+
+Estes são os livreiros que encontrámos arrolados em 1565-1567 no _Livro
+do Lançamento_ que nos tem guiado.
+
+São _vinte_, isto é, mais do dobro dos que Tito de Noronha contou em sua
+já lembrada Memoria, referidos aos mesmos annos.
+
+Não poderemos, todavia, affirmar que o João Lopes (1588), da lista
+daquelle auctor, seja o mesmo que figura nestas singelas notas. A
+identidade não se nos afigura improvavel.
+
+Do Christovão Lopes (1563), daquella lista, já dissemos o que temos por
+presumivel. Quanto ao livreiro Antonio Curvete (1565), mencionado tambem
+por Tito, não se nos deparou no longo exame feito ao curioso codice, sob
+este particular ponto de vista. Isto não quere dizer que elle se não
+ache entre os 15:000 nomes contidos no volumoso recenso. Bem poderá,
+porém, ter escapado, por isso que nem sempre as profissões dos fintados
+lhes acompanham os nomes, ou achar-se-ha substituido por outro dos
+arrolados.
+
+Como quer que seja, um e outro do numero total dos livreiros, apontado
+por Tito de Noronha e por nós, como estabelecidos em Lisbôa entre 1565 e
+1567, está muito longe do que mencionou Christovão, onze annos
+antes[12]--«54». Este numero, na verdade, inconcebivel por si só, e sem
+mais explicações, é justificado pelo ignorado auctor da chamada
+_Estatistica de Lisboa_, de 1552, que se guarda na Bibliotheca Nacional,
+de modo assás plausivel, e que, demais, acerta muito satisfatoriamente a
+nossa conta.
+
+Diz, com effeito, o auctor da _Estatistica_:
+
+«Tem XX tendas de livreiros, e [na] maior parte delas i i j, i i i j
+criados e sserã as p^{as} que nellas trabalham huas per outras lx......
+60 p^{as}».
+
+Se em vez de Antonio Curvete, que nos falta, pode estar algum dos
+diversos desconhecidos, de que damos os nomes, hypothese que não parece
+improvavel, haveria nesta capital, de 1565 a 1567, o mesmo numero de
+livreiros que foi contado pelo auctor da _Estatistica_, em 1552.
+
+Adoptada, com effeito, a conta dos «criados» ou «obreyros de livreiros»
+que os lojistas teriam a seu serviço, calculada pelo mesmo auctor, ahi
+teremos o numero de Christovão assaz justificado.
+
+Será a seguinte Noticia dedicada aos _Impressores_.
+
+
+
+
+IV
+
+
+Ao testemunho do curioso codice do Archivo Municipal, que temos seguido,
+na famosa Lisbôa da segunda metade do XVI.^o seculo _seis_ individuos
+exerciam a «arte impressoria», como a denominou Valentim de Moravia, em
+sua traducção do livro de Nicolau Veneto.
+
+O primeiro dos seis «imprimidores», segundo se lhes então chamava, e
+elles a si proprios se designavam, encontrados no alludido codice, é o
+velho João Blavio de Agripina Colonia[13], cujas impressões, conforme a
+tabella organisada por Tito de Noronha, em sua tão curiosa quanto
+instructiva monographia;--_A Imprensa Portugueza durante o seculo XVI_,
+remontam a 1554.
+
+É, porém, de notar que nesta tabella, ou lista chronologica dos
+impressores deste seculo, assigna-se á actividade de João Blavio os onze
+annos, apenas, que começam em 1554, e terminam em 1564.
+
+Ora, o ról do _Livro do Lançamento_, onde apparece este impressor, foi
+recebido pelos _sacadores_ (os encarregados da cobrança da
+extraordinaria imposição) em 11 de março de 1566, e por elles entregue,
+com o producto da cobrança, em 17 de agosto, do mesmo anno.
+
+Vê-se pois que a actividade de João Blavio se prolongou algum tanto mais
+do que o indica a citada lista. O que fica para saber, é que genero de
+trabalhos produziria este typographo durante o lapso de tempo em que se
+averigúa agora ter elle ainda conservado a sua typographia, e a data
+precisa da sua desapparição.[14]
+
+Era pouco importante nesta epoca, segundo parece, a actividade officinal
+de João Blavio. A moderada avaliação de 3$000 réis, que teve, o está
+inculcando.
+
+Achava-se o velho impressor estabelecido no «Beco de Gaspar das Naus»,
+freguezia de «Sam Giam», nas casas de um tal Bento Gonçalves. Aquella
+minguada arteria de Lisbôa tinha sua entrada na Calcetaria, entre a rua
+dos Fornos, a L. e o beco da Ferraria, a O. Rematando-se, ao N., por uma
+especie de cotovello, sem sahida, bifurcava-se na ligação com a rua dos
+Fornos, a que se chamava «beco do Loureiro». O plano Pombalino,
+assentando sobre esta um tanto emmaranhada topographia, mostra-nos, como
+pode ver-se na _Est. I_ da obra valedora do sr. Vieira da Silva, _As
+Muralhas da Ribeira de Lisboa_, o Beco de Gaspar das Naus atravessado
+transversalmente, de cima para baixo, na entrada da rua do Crucifixo,
+tendo a sua abertura no quarteirão que fica entre a esquina P. da rua do
+Crucifixo e a do N. da rua Nova do Almada, fronteira, por conseguinte, á
+parede lateral esquerda da actual igreja da Conceição Nova.
+
+O personagem que deu o nome a este beco, e provavelmente residiu nelle,
+fôra, a julgar pelo que allega o «_Negro_», na _Pratica de oito
+figuras_, do poeta Chiado, sujeito que empunhara no mercado a vara da
+justiça... policial.
+
+Diz com effeito, «Gama»:
+
+/*
+«Não vou por esse caminho!
+Fallae ao que vos pergunto,
+Dizei, negrinho sandeu:
+saibamos que mal vos fiz,
+porque não me daes perdiz,
+pois que m'a compraes do meu?
+*/
+
+Responde o «Negro»:
+
+/*
+«Nunca elle mim acha...
+Muito caro, nunca bem...
+Mim dá-le treze vintem
+pr'o dôzo; não querê dá.
+A regatêra muito máo!
+Mim dize quére vendê?
+Elle logo saconde...
+medo _Gasapar da náo
+proqu'elle logo prende_.»[15]
+*/
+
+Gaspar das Naus não é o unico a quem tenha sido applicado o cognome.
+Houve por esta epoca um outro individuo, chamado Manoel Lopes, tambem
+cognominado «das Naus». Ainda não sabemos em que se occupasse.
+
+
+
+
+V
+
+
+Segue-se, na ordem da leitura, Marcos Borges, que nos apparece arrolado
+como «imprimidor obreyro», residindo em uma de tres vias públicas,
+enfeixadas pelos _lançadores_ da sobredita imposição num só
+titulo:--«_Rua de quebra q... com travessa de calca_ (calça) _frades e
+Rua de pino vay_»[16].
+
+O rol onde figura Marcos Borges foi entregue aos _sacadores_ em 2 de
+maio de 1566, sendo por elles restituido ao thesoureiro da imposição em
+1 de agosto seguinte.
+
+Ora, «ao primeyro de janeiro de 1566» appareceu a público, impresso por
+este typographo, o «_Paradoxo_», de João Cointha, lendo-se no
+frontispicio da obra, além da sobredita data, mais a seguinte
+indicação:--«_Vede se na empressam detraz de nossa senhora da
+Palma_».[17]
+
+Se, pois, Marcos Borges já no 1.^o de janeiro de 1566 estava
+estabelecido por sua conta, e nos dá testemunho irrecusavel do facto na
+obra que lhe foi, porventura, estreia, como é que elle nos apparece
+classificado como «imprimidor obreyro», em maio, deste mesmo anno? Não
+deviam os individuos que o classificaram conhecer bem a sua posição?
+
+Por outro lado, a indicação um tanto vaga: «detrás de nossa senhora da
+Palma» poderia até agora fazer suppôr que Marcos Borges estava, com
+effeito, estabelecido nalgumas casas situadas na parte posterior da
+capella-mór da ermida daquella invocação, onde, de certeza, havia já
+neste tempo casas para alugar, como as continuava havendo em 1755, e a
+ellas se referiram os engenheiros encarregados das medições dos Bairros,
+ordenadas no começo do anno seguinte pelo ministro do rei D. José.[18]
+
+Desde, porém, que Marcos Borges nos apparece residindo num sitio
+differente do indicado na obra, de que terá sido o proprio editor, como
+tal indicação nos auctorisa a crêr, ainda que ambos os locaes fôssem
+convizinhos, o que parece curial é entender-se que o impressor do
+«_Paradoxo_», tendo, com effeito, a sua officina no sitio que a obra
+indica, residiria no «_Pino Vay_», viela ingreme, quasi fronteira á
+parte posterior da ermida, e que laborava a escarpa, no alto da qual
+passava a «rua detraz de Santa Justa», correspondendo, salvo o actual
+aspecto, á rua da Magdalena, na parte que vae da Betesga ao largo dos
+Caldas. Vamos ver adiante que Antonio Gonçalves, confrade, já agora
+celebre, de Marcos Borges, morava numas casas de certa rua, e tinha
+nella, e perto, em outras, a sua officina.
+
+Mas, encosta acima, enlaçava-se no «_Pino vay_» a «_travessa de quebra
+q..._», que rasgando-se entre a «_rua dos torneiros_» e a «_Correaria_»,
+um tanto mais abaixo da abertura inferior do «_Pino vay_», ía formar com
+esta viella, a meio da encosta, o enlace que fica apontado.
+
+São poucos os contribuintes arrolados no grupo das tres vias públicas em
+questão, e tanto se pode suppôr que Marcos Borges, sempre na hypothese
+de ter a sua officina «_atras de nossa senhora da Palma_», morasse no
+«_Pino vay_» como na travessa predita, ou na _rua de calça frades_.
+
+A circumstancia, porém, de não mencionarem os lançadores pessoa alguma a
+fintar na parte posterior da ermida da Palma, justamente no anno em que
+este impressor se declarara, na obra que citámos, estabelecido nesse
+sitio desde o 1.^o de janeiro, tenta-nos a ver em tal indicação um
+_alibi_, por elle empregado, para remediar um inconveniente a que o
+decoro devia attender. O que se nos afigura por mais certo, é que os
+_sacadores_ encontraram, com effeito, Marcos Borges residindo na mesma
+casa onde teria a sua officina, o que era regra, a bem dizer, geral, não
+«atrás da ermida de nossa senhora da Palma», mas na _travessa de quebra
+costas_, uma das tres do grupo onde o seu nome apparece, entre outros, e
+da qual se pode admitir, sem grande violencia, que ficasse fronteira,
+mas do lado opposto da _Correaria_, á parte posterior daquella ermida.
+
+Quanto á menos exacta qualificação que ao impressor foi attribuida pelos
+_sacadores_, pode entender-se egualmente, ou que houve equivoco da parte
+destes, ou que elles quizeram favorecer o recem-estabelecido
+«imprimidor», conservando-lhe a qualificação de «obreyro», com o fim de
+lhe minorar a importancia do escote. Marcos Borges, typographo
+proprietario de officina, poderia, é verdade, ser avaliado em 3$000
+réis, como o fôra o seu confrade João Blavio, e pagaria 21 rs. de
+escote, mas passando, por favor dos _sacadores_, por méro «imprimidor
+obreyro», alcançava o beneficio da «menor contia», que eram 2$500 rs.,
+correspondendo-lhe a contribuição de 17 rs. Era uma differença
+apreciavel. Valia a pena acceitar o favor. Marcos Borges,
+_encolhendo-se_, ganhava 4 réis, isto é, defraudava S. Alteza em obra de
+30 réis, de hoje.
+
+Este impressor, ainda em 1567; isto é, no anno seguinte áquelle em que
+se estabeleceu por sua conta, continuava a dar como séde da sua
+typographia o mesmo sitio: «_detrás de nossa senhora da Palma_». Assim
+se lê, com effeito, no fim da «_Chronica do valoroso principe e
+invencivel capitão Jorge Castrioto_», de Francisco de Andrade. Era então
+já «impressor delrey nosso senhor».
+
+Não continuou, porém, ahi. Do facto ficou testemunho no depoimento de
+Pero Alberto, flamengo, seu obreiro, que a 5 de novembro de 1571
+declarava seu mestre estabelecido no «Arco dos Carangueijos», se não é
+Arco do Caranguejo, simplesmente.[19]
+
+A indicação é preciosa, porque nos mostra quem foi o successor da viuva
+de Germão Galharde, da qual adiante nos occuparemos com tal qual
+individuação.
+
+
+
+
+VI
+
+
+Ao «imprimidor» Marcos Borges seguem-se, no codice que estamos
+examinando, os seus dois confrades Manoel João e Francisco Corrêa,
+encontrados, este na freguezia de Santa Justa, aquelle, na de S.
+Christovão.
+
+É Manoel João o primeiro, e delle e da sua actividade industrial vamos
+dar os breves respigos por nós colhidos nas duas interessantes e
+eruditas monographias de Tito de Noronha--_A Imprensa Portugueza_, e
+_Ordenações do Reino_, ambas referidas ao seculo XVI.[20]
+
+Manoel João exerceu a sua arte entre os annos de 1565 e 1578. Destes
+quatorze annos, porém, os dois primeiros occupou-os o impressor em
+Lisbôa, transferindo-se após a Vizeu, onde trabalhou durante os
+seguintes déz. Em 1576, provavelmente, Manoel João terá voltado a esta
+capital, publicando nella, datados deste mesmo anno, os _Diesisiete
+coloquios_, de Baltazar Collazos. De 1578 em diante, desapparece.
+
+Deverá ter sido limitada, e pouco sortida, a actividade industrial deste
+impressor, accrescendo que as obras sahidas do seu prélo não se
+distinguem por perfeitas. Para o facto concorria tambem o cançado tipo
+de que dispôs, e o papel em que imprimiu. A decadencia da Arte começava
+a accentuar-se.
+
+Dos dois primeiros annos do estabelecimento de Manoel João em Lisbôa
+conhece-se, impressa no anno de 1565, a 4.^a ed. das _Ordenações do
+Reino_, dada a lume, como as anteriores, por mandado régio[21]. Esta
+edição foi feita á custa do livreiro Francisco Fernandes, e será o mesmo
+que referimos no Cap. II ter encontrado estabelecido na «_Travessa da
+porta travessa da Madalena_»; isto é, por perto da actual calçada do
+Correio Velho.
+
+No anno seguinte dava o nosso impressor a lume a segunda edição da
+_Primeira Parte da Chronica dos Menores_, como lembrámos em uma das
+notas do Cap. IV. A esta obra seguiu-se a _Oração na trasladação dos
+ossos de Affonso de Albuquerque_, e depois os _Artigos das Cizas_,
+edição geralmente desconhecida de nossos bibliographos, e de que Tito de
+Noronha menciona tres exemplares; o da livraria de Lord Stuart, e os de
+dois amadores do Porto[22].
+
+Em Vizeu, onde Tito conjectura se estabelecera Manoel João, a convite do
+bispo D. Jorge de Atayde, deu este impressor, em 1569, o _Compendio de
+Confessores_, e no anno seguinte as _Regulae Cancellariae_, de Pio V.
+
+Tal é a noticia abreviada da actividade officinal de Manoel João.
+Cumpriria agora ver como se exprimiu Bastião de Lucena, o escrivão da
+_voluntaria imposição_, graças á qual nos foi possivel ajuntar as poucas
+noticias que constituem o assumpto de nossas singelas notas, ao lançar
+no volumoso codice que estamos compulsando, o nome deste impressor entre
+os fintados da freguezia de S. Christovão. Antes, porém, importa que o
+benevolo leitor nos consinta um breve relance á topographia lisbonense,
+da epoca a que pertence o interessante _Livro do Lançamento_ que temos
+examinado. Ver-se-ha não ser sem motivo a digressão.
+
+
+
+
+VII
+
+
+Quem percorrer as tão bem ordenadas listas da viação pública parochial
+lisbonense, impressas no _Summario_ de Christovão Rodrigues de Oliveira,
+com as suas tres categorias de becos, ruas e travessas perfeitamente
+distinctas, e os seus sessenta e dois «Postos que nam sam ruas», onde o
+auctor, ou os que taes listas organisaram, accommodam os «sitios», os
+adros das parochias, os arcos, as varandas, os terreiros, ficará de todo
+illudido, se cuidar que tudo na vida administrativa de Lisbôa se passava
+com regularidade tão exemplar, em pleno seculo XVI, que todos os
+habitantes da famosa cidade lhe conheciam as vias públicas,
+destrinçando-as umas das outras, como hoje o fazemos, por suas exactas
+denominações e categorias, sem ser preciso designa-las por signaes, ou
+auxiliar-se de referencias mais ou menos complicadas, para lhes
+descreverem a marcha itineraria.
+
+A prova de que tal regularidade não passou dos «roles» que os parochos
+de Lisbôa ministraram ao guarda-roupa do Arcebispo, por ordem deste, e
+Christovão fez imprimir após as noticias que ía dando das differentes
+freguezias, está neste codice que temos manuseado, e de que vamos dando
+noticia a nossos benignos leitores. No breve espaço dos quinze annos que
+medeiam entre a data que é costume attribuir á curiosa obra do solícito
+famulo do prelado lisbonense, é o _Livro do Lançamento_, do Archivo
+Municipal (1551-1565), um grande numero de vias públicas de todas as
+tres categorias se haviam aggregado ás _quinhentas e vinte e uma_, de
+que o _Summario_ pretende dar a conta, não em somma total, mas em sommas
+parciaes, referidas a cada qual das tres categorias[23].
+
+Estava no seu auge o facto que a _Miscellanea_ de Garcia de Resende
+commemora;
+
+/*
+«Lisboa vimos crescer
+Em povos e em grandeza.
+E muito se nobrecer
+Em edificios, riqueza».
+*/
+
+Lisbôa desenvolvera-se a olhos vistos, e uma nova remodelação do
+territorio parochial, divisão unica, de tal qual regularidade por então
+em vigor, e essa mesma mais para o ecclesiastico, do que para o civil,
+estava imminente. Ora, desde o 1.^o de janeiro de 1560 que a freguezia
+de «Santa Catharina do Monte Sinay» encetava, pelo funccionamento da sua
+parochia, a série de providencias, que o Cardeal Infante resolvera
+promover, para instituir mais cinco freguezias na cidade, recortando-as
+no territorio das vinte e quatro já existentes, segundo lembrámos no
+começo destas singelas Notas.
+
+Pois bem: cinco annos depois de ter começado a funccionar esta parochia,
+ainda a grande maioria das vias públicas que lhe sulcavam o territorio
+carecía de denominações, ou os _lançadores_, freguezes nella, e que
+haviam formado os roes da _voluntaria_ derrama, lh'os não conheciam.
+
+A calçada _do Congro_[24] ahi figura já, na verdade, substituindo se á
+denominação bem mais pictoresca de que dispusera, de calçada da _Boa
+Vista_, no tempo em que, seguindo os roes de Christovão, a vemos
+mencionada na freguezia de Nossa Senhora do Loreto, cujo territorio, já
+no começo da segunda metade do seculo XVI, alcançava até o «Valle das
+Chagas». Nascera igualmente a «Rua do Conde», que em nossos dias
+mandaram appelidar «Travessa do Caldeira»[25], a «Bica do Bello», de
+1551, apparece já em 1565 com a denominação com que ficou, de «Rua da
+Bica de Duarte Bello», Fernão Rodrigues de Almada dá o seu appelido á
+rua que ainda agora conserva tal nome, proximo á antiga «Cruz de Pao»,
+desde 1885, «Rua do Marechal Saldanha».
+
+Em compensação, porém, os roes dos _sacadores_ falam-nos de 4 ruas que
+«vão das Chagas para Santa Catharina», assim como de 2 outras que «vão
+por detrás de Santa Catharina, uma para a Costa, outra para o Valle», e
+destas seis não é em nenhuma maneira facil fixar a situação. Por outro
+lado, se conjecturamos que a «rua dereita [~q] vai p'la calçada do
+congro abaixo» seja a actual rua do Sol, a «rua da Cruz para Santa
+Catharina» a actual rua do Marechal Saldanha, a «rua que vai da cruz da
+esperança para as casas de Christovão de mello» a actual rua dos
+Mastros, e assim como estas, outras ruas ou travessas, apenas indicadas
+por informações, nem sempre estas, se se pretendesse fazer um estudo
+comparativo local, seriam faceis de precisar.
+
+Ora, consoante a taes exemplos, tirados, aliás, do territorio parochial
+de uma freguezia incipiente, muitos outros se offerecem neste codice,
+dispersos por diversas freguezias, e até por algumas das mais antigas.
+
+Mas não é só isto. Palpita-nos que certas vias públicas das listas de
+Christovão passaram a ser indicadas por differentes designações, o que
+se explicaria pela decadencia da respectiva determinante. Exemplos deste
+facto ha-os, até bem mais recentes. A calçada de Damião de Aguiar, do
+seculo XVII, passou a ser denominada «calçada do Lavra» (aliás Lavre),
+quando os Lopes de Lavre, do Concelho Ultramarino, vieram, pela
+infallivel lei das renovações, e consequentes substituições, a entrar na
+posse do palacio e ermida que haviam pertencido áquelle desembargador;
+construcção que fórma a esquina esquerda da referida calçada, sobre a
+rua de S. José. Outra calçada, a de Salvador Corrêa de Sá, trocou o nome
+pelo de S. João Nepomuceno, quando os religiosos protegidos pela rainha
+D. Maria Anna de Austria fundaram o seu hospicio, daquella invocação,
+nas abas occidentaes do monte de Santa Catharina.
+
+De outras vias públicas do codice em exame se pode inferir que se haja
+obliterado a significação do nome que as distinguia, visto como é
+evidente que Bastião de Lucena, o escrivão desta derrama, lhes
+desfigurou as denominações, com a mesma inconsciencia com que deformou o
+nome do velho João Blavio de Agripina Colonia. Uma viela, para exemplo;
+uma viela que recordava o appelido de certo parente do arcebispo de
+Genova, Agostinho Salvago, e que viera estabelecer-se em Lisbôa,
+apparece-nos transformada por Lucena em "Beco da Salvaje», e assim
+outras mais. Do mesmo modo que ha, em summa, no _Livro do Lançamento_
+muitas vias públicas não mencionadas no _Summario_ do guarda-roupa, ha
+neste livro noticia de grande numero de outras, de que aquelle codice
+não conservou memoria.
+
+Torna-se, pois, a conciliação entre os roes do _Summario_, e a
+nomenclatura da viação daquelle repositorio difficil, e não se consegue
+que sáia perfeita. A impossibilidade de identificação é manifesta.
+
+
+
+
+VIII
+
+
+Somos assim chegados ao ponto que nos levou á precedente digressão.
+Onde, em que rua, travessa ou beco, apparece fintado, na freguezia de S.
+Christovão, o «imprimidor» Manoel João?
+
+O titulo desta freguezia lê-se no alto da fol. 406, v.^o, do volumoso
+codice, redigido nos seguintes textuaes termos:
+
+«_T.^o da freguezia De san Xpuão--Começa o primeiro rol No chan Dalcamin
+pera a costa_»[26].
+
+Vae seguindo o recenseamento, e a fls. 407 lê-se:
+
+«_Duas ruas [~q] começão De san Xpuão pera san Lourenço_».
+
+No v.^o desta folha, e no alto della, assentou Bastião de Lucena o 8.^o
+lançamento deste titulo. Diz:
+
+«It Manoel Johão Inprimidor em casas Do doutor João de bairos av.^{do}
+[~e] seis mill rs. paguara rij rs»[27]
+
+Portanto, tudo quanto se colhe de similhante informação, sem nada
+adiantar ao nosso proposito, é que este sitio soffreu, em epoca não
+facil de determinar, ainda que não estejâmos longe de fixa-la de 1756
+para diante, consideravel alteração. Hoje, rua que comece de S.
+Christovão para S. Lourenço, apenas conhecemos todos _uma_; a rua das
+Farinhas, á qual o auctor do _Summario_, ou quem para elle escreveu esta
+parte do livro, chama «Rua das Farinheiras». Poderia, porém, ter-se em
+consideração que no terreno que fica entre a parochial de S. Christovão
+e a garganta por onde se penetra na rua das Farinhas, e é denominado
+«rua de S. Christovão», haveria modo de existir nas eras remotas que nos
+occupam, qualquer viela que, embebendo-se em outra similhante, déssem
+ambas as «duas ruas que começam de S. Christovão para S. Lourenço»,
+segundo o abreviado modo de exprimir-se dos lançadores da imposição. É,
+pelo menos, o que resulta das medições do Tombo do _Bairro do Rocio_,
+(1756), a fls. 121, onde se lê: «Largo da Igreja de S. Christovão--Corre
+o seu comprimento N. S. Tem de comprimento desde a rua do Regedor até _á
+travessa que vai para a rua das Farinhas_, 214 p.; de largura pelo N. 35
+p., e pelo S. 45».
+
+Ora, a lista das vias públicas, do _Summario_, que laboravam o
+territorio parochial de S. Christovão comporta 9 ruas, 3 travessas, 1
+adro, 2 terreiros, 1 beco e 1 arco.
+
+De toda esta estatistica de viação, apenas uma rua, a «do Crucifixo»,
+uma travessa, e os dois terreiros se não podem identificar com a actual
+topographia da parochia[28]. E como naquelle tratado, a disposição das
+«Ruas», tal qual quem ordenou a lista das vias públicas della as foi
+escrevendo, nos mostra que se começou do N. para o S. da freguezia, isto
+é da «Rua das Fontainhas», compartilhada pelas parochias de S. Lourenço
+e de Santa Justa, para a extrema opposta; para a «Rua do chão dalcamim»,
+segue-se que a «Rua do Crucifixo», por maior que seja o nosso desejo de
+precisar qual das «duas ruas que vão de S. Christovão para S. Lourenço»
+era a que habitava, com a sua officina, o tipographo Manoel João, não
+parece que possa ser a designada, visto como se apresenta na lista
+parochial após a «Rua do Regedor», isto é, do lado diametralmente
+opposto á provavel situação daquellas duas ruas.
+
+Assim pois, se a tal «travessa que vai para a rua das Farinhas», do
+Tombo Pombalino, não era, como, de facto, não parece ter sido, a «rua do
+Crucifixo», do _Summario_ de Christovão, ainda existente, e conhecida
+por esta denominação em 1712, como se mostra na _Corografia_ de Carvalho
+da Costa, e se não era, portanto, nella que Manoel João estava arrolado,
+tudo que se póde concluir, é que o nosso impressor teve a sua officina
+no territorio da freguezia de S. Christovão, e numa via pública muito
+proxima á séde da parochia, mas para o N. do territorio desta.
+
+Em algum dos proximos capitulos veremos que a fórma imperfeita como os
+_lançadores_ organisaram os roes da derrama dá motivo a iguaes
+hesitações e perplexidades que nos não deixam satisfeito, quanto ao
+sitio em que teve a sua operosa officina tipographica o celebre Germão
+Galharde, e onde vamos ainda encontrar a sua viuva.
+
+
+
+
+IX
+
+
+Como o seu confrade Manoel João, tambem Francisco Corrêa, seguindo as
+noticias que deste impressor nos dá Deslandes, em sua _Historia da
+Typographia Portugueza_, exerceu a sua arte fóra de Lisbôa.
+
+Provavel «obreiro de imprimidor» de Germão Galharde, acaso foi convidado
+para ir dirigir em Coimbra a officina do Estudo Real, estabelecida na
+rua da Sophia, como seu presumivel mestre o fôra igualmente, para ir
+organisar a imprensa dos Cruzios, daquella cidade.
+
+Em tal situação ali se demorou, com effeito, Francisco Corrêa desde o
+anno de 1549, em que principia a apparecer, até 1555. Passando por este
+tempo ao Porto, ali deu á estampa o compendio de arithmetica, de Bento
+Fernandes[29]. Transferindo-se em seguida a Lisbôa, onde assentou prélos
+até 1585, anno que parece ter sido o do seu fallecimento, ainda em 1580
+imprimiu em Almeirim, de parceria com seu confrade Antonio Ribeiro,
+segundo informações de Tito de Noronha, _in A Imprensa Portugueza_, as
+_Allegações de direito_ por parte da Infanta D. Catharina, sobrinha do
+Cardeal Infante.
+
+Além destas noticias, publíca tambem Deslandes em sua predita obra o
+Alv. de 12 de novembro de 1566, concedendo a Francisco Corrêa isenção de
+direitos, até certa quantia, do papel que despachasse em cada anno, a
+começar no de 1565. Pelo restante teor deste diploma se prova, outrosim,
+que Francisco Corrêa foi arrendatario das officinas que, por morte de
+João Blavio, ficaram em Lisboa e na India, em Gôa, muito mais que
+provavelmente, sendo-lhe concedidos os 40$000 réis que os herdeiros
+daquelle impressor haviam alcançado se descontassem nos direitos do
+papel que despachassem para o expediente das preditas duas officinas.
+
+Taes são em breve resumo, e salvo a supposição de que Francisco Corrêa
+fôsse compositor na officina de Germão Galharde, que é nossa, as
+noticias colhidas nas obras de Deslandes e de Tito de Noronha, acima
+apontadas, ácerca deste notavel tipographo, cujos trabalhos, além de
+numerosos, se avantajam, a testemunho do segundo daquelles dois
+auctores, em sua tão curiosa monographia das _Ordenações do Reino_, em
+nitidez e satisfactorio aspecto, aos do seu confrade Manoel João.
+
+
+Ao percorrermos no _Livro do Lançamento_ o «3.^o rol da freguezia de
+Santa Justa», ahi se nos deparou a «Rua de Valverde», e nella, como
+16.^o contribuinte:
+
+«Francisco corea [~e]presor [~e] casas de margaida de matos avaliado
+[~e] seis mill rs paguara Rij rs.»
+
+O rol a que nos referimos teve começo na rua que ía do mosteiro de S.
+Domingos para a Porta de Santo Antão. Comprehendia a rua do Chafariz do
+Rocio para a Mancebia, a que ía da estrebaria del-rei ao longo do muro
+para a Porta de Santo Antão, a «rua do beco» do chafariz do Rocio, e
+finalmente, a rua de Valverde, que laborou, provavelmente, parte da
+actual Praça dos Restauradores, da banda do S., e vindo imbeber-se,
+talvez, na rua de Mestre Gonçalo, isto é, no terreno da rua do Principe,
+e por perto da actual calçada do Duque.
+
+Para o seguinte estudo, a viuva de Germão Galharde, a que acima
+alludimos, e o glorioso impressor da primeira edição dos Lusiadas,
+Antonio Gonçalves.
+
+
+
+
+X
+
+
+Vamos folheando o volumoso recenseamento, onde colhemos as informações
+que temos transmitido a nossos benignos leitores, e achamo-nos agora em
+face do 7.^o e ultimo rol da freguezia da Magdalena[30].
+
+Começam os sucintos apontamentos itinerarios dados neste rol aos
+_sacadores_ encarregados da cobrança das _voluntarias_ fintas, pela:
+
+«_Rua Dos torneyros [~q] travessa para as pedras negras pela rua de
+Ilusuarte Peris[31] ate a rua drt.^a da Costa_».
+
+Não ocorreu ao escrivão desta derrama, escrevendo para comparochianos,
+conhecedores como aos seus dedos de todas as enredadas arterias da sua
+freguezia, que alguns seculos depois, compatricios seus viriam que
+tivessem interesse em perceber, mais do que as suas garatujas
+pictorescas, as suas abreviadas, e até menos exactas indicações do
+territorio parochial a que se referiam!
+
+Se tal, com effeito, se houvera dado, não só Bastião de Lucena não
+estabeleceria, contra a exacta nomenclatura local, que a _rua_ dos
+Torneiros atravessava para as Pedras Negras, vertendo assim uma confusão
+de desnortear na compartilha parochial, mas não sacrificaria á extrema
+concisão que adoptou a precisa clareza, para sabermos agora a que via
+pública, entre as comprehendidas na sua abreviada indicação, viria a
+pertencer o 35.^o lançamento, dos 38 lançados sob o correspondente
+enunciado, e que é o seguinte:
+
+«_It A molher de germão galharde [~e]primidor em casas suas avaliada
+[~e] settenta mill rs paguará i i i j c l v rs_»[32].
+
+Com effeito, uma vez que se nos deparára aqui a viuva do celebre
+impressor francês, que tanto realce deu á typographia lisbonense do
+XVI.^o seculo, e tão util foi ás letras portuguesas destas afastadas
+eras, bem natural fôra que desejassemos precisar o sitio, a rua, a
+travessa ou beco onde a digna matrona residisse. O mesmo seria que
+ficarmos sabendo precisamente onde seu defuncto marido terá tido a sua
+operosa officina.
+
+A difficuldade, porém, mostra-se insuperavel, ainda quando reponhamos,
+até, em seu logar a desfigurada topographia local, e se, posteriormente,
+nenhum outro indicio nos não fizer suspeitar onde possa ter estado
+estabelecida esta tão interessante imprensa, teremos o desgosto de nos
+contentarmos, á semelhança do que nos aconteceu, tratando de Manoel
+João, com as vagas indicações que ficam expressas.
+
+Procurando formar idéa da ordem que presidiu á elaboração dos roes desta
+freguezia, concluímos que os lançadores adoptaram a orientação
+topographico-descriptiva do sul para o norte, isto é, das muralhas
+marginaes da cidade para cima; «Rua Nova dos Ferros», «Porta d'Erva» e
+«Porta da Ribeira», «Carnaçarias Velhas», «Pelourinho», «Misericordia»,
+«Rua do Principe», «Rua da Ferraria Velha, por detrás da Conceição»,
+«Cristaleiras», «Rua dos Fanqueiros», «Rua dos Corrieiros de obra grossa
+e delgada», &, &. Todos estes sitios, todas estas vias públicas entram
+nos seis anteriores roes, com outras que, por abreviar, se não
+mencionam. Este 7.^o rol comprehende, portanto, a zona alta da
+freguezia, e dentro delle observa-se disposição igual á que se adoptou
+para os anteriores.
+
+Se bem entendemos, pois, o breve apontamento de Bastião de Lucena, havia
+na freguezia da Magdalena uma via pública, uma viella, como tantas
+outras deste tempo, que, partindo de qualquer ponto, por agora
+indeterminado, atravessava, mas não directamente, para as Pedras Negras.
+A travessia fazia-se com o auxilio da rua de Ilusuarte Peris. Portanto,
+o que se queria indicar aos _sacadores_, é que, principiando _as suas
+visitas_ pela tal via pública, erradamente classificada e denominada
+«Rua dos Torneiros», e continuando-as pela rua de Ilusuarte Peris, que
+se lhe seguia, fôssem indo até alcançar a rua direita da Costa, nesse
+tempo, como agora e sob a denominação de calçada do Correio Velho,
+limite léste da predita freguezia. Uma vez chegados áquella rua, os
+_sacadores_, conforme se deprehende da continuação da leitura deste 7.^o
+rol, descê-la-íam, entrariam na rua do Arco de Dona Tareja; isto é,
+retrocederiam para Oeste, e desta rua continuariam o seu itinerario por
+onde já nos não importa segui-los.
+
+Está tudo muito bem, menos uma circumstancia importante. Não houve em
+Lisbôa, em tempo algum, nenhuma «rua dos Torneiros», nem na freguezia da
+Magdalena, nem em nenhuma outra freguezia da cidade. Existiu, sim, a
+«rua da Tornoaria», mas essa pertencia á freguezia de S. Nicolau.
+Passava pela parte posterior do edificio parochial deste orago, e era,
+por conseguinte, o mais septemtrional dos successivos tramos em que se
+fraccionava a longa, e em parte alcantilada via pública que ligava uma á
+outra as duas sédes parochiaes.
+
+Para se ir da Magdalena a S. Nicolau, haveria de percorrer-se a
+Correaria, a Fancaria, a Tornoaria, e ainda quando se quizesse admittir
+que os _lançadores_, e Bastião de Lucena com elles, haviam chamado «rua
+dos Torneiros» á rua da Tornoaria, daqui se vê que tal rua não podia ser
+compartilhavel entre a freguezia de S. Nicolau e a da Magdalena, como o
+não eram as suas duas parceiras, a Correaria e a Fancaria.
+
+Temos, pois, de recorrer ao Summario, de Christovão Rodrigues de
+Oliveira, para destramar a meada.
+
+Em boa hora o fazemos, porque a via pública que o solicito guarda-roupa
+do arcebispo D. Fernando nos aponta como situada na freguezia da
+Magdalena, em 1551, é a «_travessa dos Torneiros_». Ora, é evidentemente
+tal «_travessa_» aquella a que se referem os lançadores, porque
+partindo, cá em baixo, da Tornoaria, em sentido transversal para L.,
+galgava a barreira que separava o valle da Baixa das cumiadas que iam
+terminar na Alcaçova, e surdindo muito proximamente no local fronteiro á
+actual Travessa das Pedras Negras, ía soldar-se á Rua de Ilusuarte
+Peris. Cumpre, no emtanto, advertir que o sitio que no seculo XVI.^o deu
+origem á denominação «Pedras Negras» não era precisamente onde se
+rasgam, pela planta Pombalina, a rua e a travessa d'esta denominação, e
+que a rua de Ilusuarte Peris, ou desapparecera nos provaveis aspectos
+diversos que o sitio apresentou entre os seculos XVI.^o e XVIII.^o, ou
+se conservava ainda, acaso, ás vesperas do terremoto de 1755, mas com
+differente denominação; o que não seria de extranhar, como já
+observámos. As «Pedras Negras», como era o sitio a que deram o nome,
+anteriormente ainda ao seculo XVI.^o, póde vêr-se a configuração
+provavel que tiveram em mais escuras eras, na planta que acompanha a
+obra valedora do sr. Vieira da Silva:--As Muralhas da Ribeira de Lisboa.
+
+A «rua de Ilusuarte Peris» é que na mencionada planta não apparece, e
+mal se suppõe onde possa ter sido[33]. A travessa dos Torneiros é o
+«Beco de Nossa Senhora da Conceição», da sobredita planta, muito mais
+que provavelmente.
+
+
+
+
+XI
+
+
+Fixados como é, já agora, possivel fazê-lo, a muito perto de trezentos e
+cincoenta annos de distancia, e com tão escassos elementos
+topographicos, estes indispensaveis pormenores, digamos agora o que se
+sabe do activo industrial de quem fôra «molher» a pessoa a quem se
+referiu o lançamento que é assumpto ao nosso despretencioso estudo.
+
+
+Germão Galharde, francês de nação, o que elle não deixou de recordar-nos
+em algumas de suas assignaturas[34], foi, como anda sabido, o mais
+operoso impressor que teve o XVI.^o seculo português. Estabelecido em
+Lisbôa pelos primeiros annos delle, conhecem-se, executadas no espaço de
+mais de quarenta annos, e até 1560, data da sua morte, «70 edições»
+sahidas da sua officina, sem contar as leis avulsas, impressas, em
+geral, numa folha apenas[35].
+
+Quem poderá dizer quantas mais obras Germão Galharde terá executado, de
+que o seculo ultimo e o acual não lograram já ter
+conhecimento?--Interrogação é esta que terá de ficar sem resposta.
+Sabe-se apenas que da sua officina começaram a apparecer edições datadas
+de 1519, e que um lapso de revisão, importante, levou alguns
+bibliophilos a retro-fixar o começo da operosa actividade do celebre
+impressor no ultimo anno da primeira década do seculo que o viu
+trabalhar; no de 1509.
+
+Foi o caso que o _Missal_ da igreja de Evora, de que se guarda um bom
+exemplar na Bibliotheca Nacional, apresenta como data de impressão este
+predito anno. Notou-se o facto, e houve quem, não lhe occorrendo de
+quantos lapsos anda tecida a historia da typographia, em geral, tirasse
+delle irreflectido motivo para declarar Galharde estabelecido desde
+aquelle supposto anno. O academico Silva Tullio, que tanto no caso
+estava de desilludir os menos avisados, constituiu-se exactamente o
+paladino d'elles, sustentando contra Tito de Noronha a hypothetica
+possibilidade de ter o _Missal_ sahido das officinas de Galharde no anno
+impugnado.
+
+Rebateu Tito, a nosso ver humilde com raciocinios de pêso, as razões que
+Tullio bem escusára de ter produzido, visto como, se a verdade historica
+bem pouco poderia ganhar com semelhante improvavel accrescimo á
+actividade officinal do impressor francês, assás mal parados ficaram, em
+troca, os créditos do prestante conservador, insistindo em sustentar a
+méra presumpção que tudo se conjurava para invalidar[36].
+
+Tito, tendo feito notar o isolamento em que a data de 1509, attribuida
+áquelle livro, ficava das obras por Galharde impressas em 1520, e quão
+pouco provavel era que entre um e outro anno obra alguma, naquella
+typographia impressa, viesse quebrar o largo periodo de onze annos de
+inactividade officinal, lembrou que o _Missal Eborense_ poderá ter sido
+impresso em _1529_, tendo faltado na subscripção latina o vocabulo
+«_vigesimo_»[37]. Esta probabilidade nada tem, com effeito, contra si
+que a invalide, e um facto, porque assim o digâmos hodierno, a vem
+demonstrar plausivel:
+
+Convidou o editor Fernandes Lopes a Innocencio Francisco da Silva para
+dirigir a reimpressão do _Elucidario_, de Santa Rosa de Viterbo. Em 1865
+sahiu, com effeito, a lume esta obra dividida em dois tomos, como a 1.^a
+edição, imprimindo-se no 1.^o uma «Advertencia preliminar» do illustre
+bibliographo, a qual elle datou do «1.^o de junho de 1865». Pois bem;...
+na capa e no frontispicio de cada um dos dois tomos assignou-se a esta
+reimpressão, por data, o anno de MCCCLXV! Este lapso, sendo tão patente,
+salta para logo aos olhos de quem manuzear a obra[38].
+
+Continuemos agora a examinar quanto se nos offereça, do pouco
+aproveitavel que nos tem sido possivel ajuntar, que se relacione com a
+vida deste grande trabalhador typographo, que tanto illustrou a sua
+arte, e tantos testemunhos nos deixou, apesar das muito mais que certas
+lacunas da lista das suas impressões, da perfeição com que sustentou os
+créditos da sua officina.
+
+
+
+
+XII
+
+
+Dos antecedentes do operoso impressor nada se conhece. Que terra de
+França lhe fôsse a terra natal; quando tenha vindo para Lisbôa, e se
+para esta cidade veiu, acaso, contratado como «_obreiro de imprimidor_»
+de algum de seus tres antecessores, Valentim de Moravia, João Pedro de
+Cremona ou Hermann de Kempis, que entre nós ficou «Armão de Campos»,
+hypotheses que nos não parecem descabidas, outras tantas interrogações
+são que teem de ficar sem resposta.
+
+Por igual, destinadas estão ao mesmo resultado as que se referem ao modo
+como o activo «imprimidor» constituiu familia. Germão Galharde casou
+aqui, e tarde, ou veiu já casado para Lisbôa, o que não parece? Sua
+mulher era estrangeira, ou nascera em Portugal? Que o velho typographo
+deixou um filho, por ventura continuador da sua prole, eis o de que não
+resta dúvida. E que falleceu deixando-o ainda menor, tambem não é menos
+certo. O livro que estamos examinando no-lo confirmará.
+
+Suppondo que nascera em 1490, por exemplo, Germão Galharde poderia
+contar vinte e tres annos, quando, ao que Tito de Noronha conjectura,
+veiu a fallecer Valentim Fernandes[39]. E se tal data estivesse certa
+pouco teriam sobrevivido ao Patriarcha da Imprensa em Portugal os seus
+consocios João Pedro de Cremona e «Armão de Campos, bombardeiro de
+el-rei», successivamente desapparecidos, em 1514, o primeiro, em 1518 o
+segundo.
+
+Valentim Fernandes, porém, segundo adiante vai ver-se, ainda n'este
+último anno trabalhava, e se este, afinal, tem de ser considerado o
+último da sua vida, bem poderá ter-se dado que Germão Galharde,
+obreiro--quem sabe?--de qualquer d'estes seus tres antecessores, se
+habilitasse com o material do celebre impressor da viuva de D. João II,
+para começar a sua laboração de conta propria, logo no anno seguinte ao
+do desapparecimento d'este. Em 1519, com effeito, parece ter-se Germão
+Galharde estreiado com a primeira edição da _Arismetyca_, de Gaspar
+Nicolas,[40] levando desde então a vida cheia de laboriosa occupação até
+os provaveis setenta annos, se exceptuarmos os dois que passou em
+Coimbra, em Lisboa, e, porventura, na mesma casa.
+
+Aonde era ella situada?
+
+Vêr-se-ha n'este estudo se é possivel responder, por presumpções, a tal
+pergunta.
+
+
+
+
+XIII
+
+
+Chamou-se Anna Picaya a mulher do operoso impressor, e se não foi
+portuguesa, que a não deixa parecer compatriota nossa o appelido,
+arriscado será attribuir-se-lhe esta ou aquella nacionalidade.
+Confessemos, emtanto, que se um desengano d'esta ordem pudesse
+admittir-se _por palpite_, inclinados temos sempre estado a que Anna
+Picaya haja sido biscainha.
+
+Casou Germão Galharde moço ainda? Esperou, pelo contrario, a idade da
+experiencia, para dar-se ao matrimonio? Não temos, como já ficou
+observado, modo de responder desenganadamente a taes perguntas. Tudo que
+pudémos conjecturar, é que o filho que deixou menor terá vindo ao mundo,
+adiantado já seu pae em annos, se muito não erra a conta que lhe démos,
+ao vir busca-lo a Morte.
+
+Esta circumstancia, comtudo, não se oppõe a que já houvesse outros
+filhos, e até poderia parecer que os houve, com effeito, se fôsse
+possivel interpretar um tanto latitudinariamente certas expressões de um
+documento que não tarda a vir transcripto a este estudo.
+
+No emtanto, e posto que a typographia da _Viuva de Germão Galharde_ se
+sustentasse ainda durante alguns annos, depois do fallecimento do seu
+celebre fundador, o seu material veiu a passar a novo proprietario, e
+nada nos indica terem-se filhos maiores, se os havia, ou ter-se o menor
+que ficou ao tempo do obito paterno, occupado, homem feito, na arte, que
+o progenitor tanto illustrou.
+
+Este appelido, a partir d'então, mergulha no esquecimento, pelo menos
+aqui, em Lisbôa; e apenas a meio do seculo XVII o nosso illustre
+polygrapho D. Francisco Manoel se lembrára, escrevendo ao seu amigo
+Azevedo, da lenda dos _Galhardos_ da Serra da Estrella, que aliás
+nenhuma relação tem com os de que aqui tratamos, para comparação da
+brevidade com que fizera um seu livrinho. Esta carta, porém, inédita
+ficára, com a collecção a que pertence, até que um distincto cultor da
+memoria de tão infeliz quão abalisado epistolographo a trouxe a lume em
+nossos dias[41].
+
+Assim continúa o esquecimento, sem interrupção, por esses tempos fóra. A
+meiados porém do XVII.^o seculo apparece-nos, de repente, um typographo
+«Galhardo». Diplomava-se com o titulo de «_Impressor do sr. Cardeal
+Patriarcha_»; chamou-se Antonio Rodrigues Galhardo, e teve a sua casa,
+com capella, horta e mais officinas, no Pateo a que a sua familia dava o
+nome;--o _Pateo dos Galhardos_, a Santa Izabel[42]. Muito depois, (1837)
+filhos seus, ligados sob a firma «_Galhardo & Irmãos_», imprimem na rua
+da Procissão, n.^o 45, entre outros livros, a «_Chronica de El-Rei D.
+Sebastião, por Fr. Bernardo da Cruz, publicada por A. Herculano e o Dr.
+A. C. Payva._»
+
+Antonio Rodrigues Galhardo é descendente do «imprimidor» francês Germão
+Galharde? Quem, já agora, poderá affirma-lo, ou quem estará habilitado
+para nega-lo?
+
+Emtanto, a coincidencia é para notar, e para notar fica sendo, tambem,
+que esta familia Galhardo veiu a apparentar-se com Alexandre Herculano,
+pelo casamento de um amigo de juventude do Grande Escriptor, e depois
+seu camarada na emigração, o fallecido general da arma de artilharia,
+que foi, quando coronel, director da Escola do Exercito, Joaquim Antonio
+Rodrigues Galhardo, com a irmã do Auctor da Historia de Portugal.
+
+
+
+
+XIV
+
+
+Quando Germão Galharde falleceu, andava-se imprimindo na sua officina a
+_quarta_ edição do «_Reportorio dos Tempos em linguajem portugues_».
+
+Este Repertorio, composto pelo saragoçano André de Ly, fôra vertido em
+linguagem, com addições, por Valentim Fernandes, que dedicou a traducção
+a Antonio Carneiro, secretario do rei D. Manoel.
+
+Ora acontece--e n'este passo se patenteia quão arriscadas são
+affirmativas peremptorias em especies tão dubitativas--; acontece, íamos
+dizendo, que em _Documentos para a Historia da Typographia Portugueza_,
+impressos em 1888, affirmou o tão sabedor Deslandes «não ser conhecido
+exemplar algum da impressão d'este _Repertorio_ feita por Valentim
+Fernandes, comquanto se deva ter por certo que a houvesse dado á estampa
+em sua vida.»
+
+--Que veiu a dar-se então?--Veiu a dar-se facto igual ao succedido com o
+exemplar do _Testamento da Infanta D. Maria_, impresso em 1610, e que o
+catalogo da Livraria Fernando Palha, ao descrever o exemplar que aquelle
+bibliophilo possuía declara «_seul exemplaire connu d'une pièce non
+citée par les bibliographes_».
+
+Succede, porém, que em 1907, percorrendo nós um Inventario de Codices
+adquiridos pela Bibliotheca Nacional, publicado no _Boletim das
+Bibliothecas e Archivos_, N.^o 1--3.^o anno, 1904, depara-se-nos a
+menção de certo Codice da Coll. Vimieiro, em cujo miôlo viémos a
+encontrar um exemplar do predito _Testamento_, da mesma edição de 1610!
+
+Tal achado annulou, por conseguinte, o privilegio de «_seul exemplaire
+connu..._», attribuido pelo catalogo sobredito ao exemplar que
+descreveu!
+
+Ao diligente bio-bibliophilo Deslandes outro tanto acontecera. Não lhe
+fôra dado conhecer a bibliotheca do curioso architecto José Maria
+Nepomuceno, e eis que, fallecido este, divulga-se em 1897 o catalogo da
+famosa livraria de que era possuidor intelligente. Ora, sob o N.^o 683,
+ahi appareceu minuciosamente descripto um exemplar do _Reportorio dos
+tempos_, que «posto não traga indicado o logar da impressão, nem o anno,
+se póde quasi affirmar ter sido composto em Lisbôa, e no anno de 1518,
+por isso que as taboas (astronomicas) indicam começarem «no presente
+anno»,--o predito.
+
+E já agora, observaremos que, sendo este _Reportorio_, como no rosto
+indica, «trelladado e empremido por Val[~e]tym fernãdes alemam», está
+n'estes termos implicito o testemunho formal de que o celebre impressor,
+contra o que julga Tito de Noronha, _in_ Ordenações do Reino, ainda
+cinco annos após o de 1513 era vivo, e exercia a arte.
+
+
+Por voltar a Germão Galharde, sabe-se que por A. de 17 de março de 1539,
+lhe foi outorgado privilegio de déz annos, para imprimir de novo o
+_Reportorio_ de que se trata. Deslandes, porém, affirma, e d'esta vez
+ainda não se apresentou facto que o contradiga, não conhecer, nem lhe
+constar que outrem conhecesse, exemplar algum da impressão d'este livro,
+tirada durante os déz annos do mencionado privilegio.
+
+Declara, comtudo, em contraposição, _ter visto_ exemplares sahidos da
+officina de Galharde em 1521 e 1528; edições estas que não andam notadas
+por nossos bibliographos.
+
+Por fórma que, havendo já _tres_ edições conhecidas do _Reportorio dos
+tempos_, bem parece que sêja, por ora, capitulada _quarta_, como o
+fizémos, a de que se está tratando. Isto, em obsequio ás que se dizem
+datadas de 1519, bem como á de 1557, citada por Barbosa, das quaes, até
+agora, não se achou porque se confirme a existencia.
+
+
+
+
+XV
+
+
+Foi Anna Picaya que terminou a impressão do _Reportorio_, objecto do
+anterior capitulo.
+
+Na Nota[43] _infra_ trasladâmos a competente subscripção.
+
+A seguir a este livro, vem em 1561, editado pelo opulento João de
+Borgonha, o tão fallado elogio da Sigéa, de Mestre André de Resende; em
+1563, nova edição do precioso _Reportorio_, especie de _Diario
+Ecclesiastico_, dos Oratorianos, sem o qual nossos avós do XVIII.^o
+seculo não podiam passar. Finalmente, em 1564, dá ainda a Viuva de
+Germão Galharde o _Exemplo pera bien bivir_, de Fernão Peres de Gusmão,
+obra acabada a 21 de março do predito anno[44].
+
+D'esta data em diante, até 5 de setembro de 1898, nada mais se soube que
+se relacionasse com a officina typographica da viuva Galharde. Naquelle
+dia, porém, publica o dr. Sousa Viterbo, como notámos no fêcho do Cap.
+V. e correspondente nota, destes _Estudos_, resumido e commentado, o
+depoimento, por denúncia feita na Inquisição em 5 de novembro de 1571,
+do flamengo Pero Alberto, obreiro de Marcos Borges.[45] Resulta de tal
+depoimento o ficarem desde então confirmados dois factos; mais proximo
+um, mais remoto o outro. Pelo primeiro, corrobora-se a existencia da
+typographia da viuva Galharde em 1563. Este não é essencial. Que a
+celebre typographia funccionava ainda 1564 já nós sabiamos, e o leitor
+comnosco. O que tem valôr é o outro facto; o que revela a transferencia
+da imprensa de Marcos Borges de «_detrás de nossa Senhora da Palma_»
+para o Arco do Carangueijo. A indicação considerámo-la preciosa, porque
+nos indicava quem fôra o successor da viuva Galharde; isto é, porque
+vinha concorrer, ainda que de modo indirecto, para nos fortalecer na
+presumpção de que era no Arco do Carangueijo, com effeito, onde vamos
+dentro em pouco encontrar Anna Picaya, com seu filho menor, que Germão
+Galharde fundára a officina por elle mantida durante 41 annos.
+
+
+Que terá, porém, succedido entre 21 de março de 1564, data do ultimo
+livro, conhecido, impresso pela «Viuva Galharde», e 1571, anno em que
+Marcos Borges nos apparece estabelecido, segundo todas as
+probabilidades, na casa que ella occupara?
+
+Tudo que é possivel responder, resume-se no seguinte:
+
+Qualquer que haja sido o motivo, o velho estabelecimento typographico
+pouco mais terá produzido, depois de 1564, sob a gerencia da viuva de
+Germão Galharde, e se mais alguma obra veiu a lume, após a de Fernão
+Peres de Gusmão, perdeu-se, como quasi de certeza outras se perderam,
+impressas pelo fundador da casa.[46]
+
+Certo é que a meiados de 1566, e contra o que estabeleceu Tito de
+Noronha, já Antonio Gonçalves, o nomeado impressor da 1.^a ed. dos
+Lusiadas, trabalhava por sua conta, muito distante do Arco do
+Carangueijo, com material que pertencêra á officina de Galharde.
+
+Com effeito, do exame comparativo de algumas das obras impressas em uma
+e outra das duas officinas resulta absoluta certeza que Antonio
+Gonçalves utilisou frontispicios e letras iniciaes de phantasia que
+pertenceram áquelle. Já Tito de Noronha deixára notado o facto, em uma
+de suas tão copiosas quanto instructivas monographias.
+
+Por nossa parte, temos por bem possivel que o 4.^o de dez folhas n. n.,
+onde se acha impresso o _Auto das Regateiras_, de Antonio Ribeiro, o
+_Chiado_, e que não tendo segundo Innocencio narra, logar, data, nem
+nome de impressor, apresenta, comtudo, na portada letras que parece
+quererem designar _Germão Galharde_, haja saído da officina de Antonio
+Gonçalves, applicando-lhe este alguma gravura de frontispicio que haja
+feito parte do material daquelle impressor.
+
+Não temos, nesta occasião, o vagar preciso para examinar este folheto,
+que se acha na Bibliotheca Nacional, e pertenceu á livraria de D.
+Francisco de Mello Manoel da Camara. Acaso do exame resultaria alguma
+cousa de mais positivo. Seja, porém, como fôr, uma prova de decidir é a
+propria composição do frontispicio dos Lusiadas, impressos por Antonio
+Gonçalves em 1572. As peças que o compõem pertenceram ao material de
+Germão Galharde. Esta asserção comprova-se, pondo em conspecto o
+frontispicio da edição _princeps_ dos Lusiadas (a do pelicano com o
+collo para a esquerda do leitor, bem entendido), e a do _Summario_, de
+Christovão Rodrigues de Oliveira, sahido a lume procedente da officina
+de Galharde, depois de 1551, com toda a certeza, e talvez em 1554.
+
+Já em 1570 Antonio Gonçalves aproveitára este mesmo frontispicio no
+_Reportorio dos tempos_, que lhe coube imprimir tambem, edição que a
+Innocencio parece ter escapado, mas de que ha um exemplar nos Reservados
+da Bibliotheca Nacional. Este sempre lembrado impressor terá começado
+por ser «imprimidor-obreiro» do velho typographo francês, sendo bem
+possivel que se haja conservado na casa, após a morte de seu mestre.
+Resolvida Anna Picaya a fechar a officina, ou, porventura, fallecida,
+terá o seu official, disposto a estabelecer-se, uma vez que a casa
+acabava, comprado os aprestos desta. Tudo parece conciliar-se para
+acreditar tal supposição.
+
+Mais difficil é o precisar desde quando Marcos Borges terá passado a
+occupar as casas da viuva, e o motivo que lhe facilitaria o
+estabelecer-se nellas. Não parece, com effeito, que as duas
+operações--venda do material a um, e cedencia da casa a outro, se
+cedencia foi, hajam resúltado da mesma causa;--o desfazer da velha
+officina. Lembremo-nos que em 1567, isto é, um anno após o
+estabelecer-se Antonio Gonçalves, como provaremos, ainda Marcos Borges
+imprimia a _Chronica de Jorge Castrioto_ no mesmo sitio onde começára a
+sua laboração; «_atrás de nossa senhora da Palma_». Presumivel será,
+pois, que Anna Picaya se haja conservado, com seu filho, nas suas casas,
+após ter acabado com a officina, vindo, porventura, a fallecer depois de
+1568, adquirindo--quem sabe?--Marcos Borges a propriedade, e
+estabelecendo-se nella.
+
+Como quere que sêja, vamos ver agora como se chegou a presumir que a
+typographia de que temos tratado haja sido no Arco do Caranguejo.
+
+
+
+
+XVI
+
+
+Fallecido Germão Galharde, procedeu-se a inventario, sendo Anna Picaya
+nomeada «titor» de seu filho Antonio. Concorriam mais filhos, já
+maiores, á herança? Eis o de que não ha certeza. Das quatro obras unicas
+de que nos restam exemplares, sahidas da officina do extincto, após a
+morte deste, tres dizem-se impressas «_em casa da viuva molher que foi
+de Germão Galharde_.» No titulo e subscripção da quarta, porém, segunda
+na ordem chronologica da impressão, lê-se:
+
+«_Lvdovicae Sigaeae_ | _Tvmvlvs_ | ¶ _L. Andrea Resendio_ | _Auctore_ |
+¶ _Apvd haeredes Germani_ | _Galiardi. An._ | _MDLXI_ | ¶ _Olyssippone_
+| ¶ _Venalis apud Iohannem de Borgo_ | _Regium Bibliopolam, in vico
+nouo_.»[47]
+
+Ora, esta excepção, «_haeredes_», que aliás não resolve a dúvida, por
+isso que realisado o casamento de Galharde «á moda do reino»,
+co-herdeira com o filho menor era a viuva, meieira na casa, parece-nos
+ter sido muito de proposito empregada naquelle impresso por motivo que a
+occasião tornava perfeitamente plausivel. Corria por esse tempo o
+inventario seus termos, e habilitavam se á herança do chefe da familia a
+sua viuva e o filho menor. A expressão _haeredes_, posta na subscripção
+do _Elogio_, de Mestre André de Resende, em 1561, era, portanto, de todo
+o ponto bem cabida; exprimia a situação de ambos, como inventariantes e
+como industriaes. Por isso se empregou.
+
+Quando os saccadores, em desempenho do seu cargo, _convidaram_ a viuva
+impressora a entregar-lhes a importancia do escote que lhe coubera na
+_voluntaria_ imposição, (entre 15 de fevereiro e 31 de outubro de 1566)
+pagou ella, sem repugnar, os 455 rs. em que foi fintada. Especie de
+contribuição extraordinaria de maneio, a que só escapavam os
+privilegiados;--familiares do Santo Officio, servidores de S. A. e quem
+quer que tivesse armas e cavallo, e «jogasse lança de dezoito palmos
+para cima»[48],--era para todos os mais a commum sorte; não havia
+fugir-lhe.
+
+Mas, fechara-se, emfim, o inventario, julgara-se a partilha, e
+liquidou-se o que vinha a tocar ao menor; a sua legitima. Importava em
+«cincoenta e nove mil, quinhentos e vinte e dois réis». Havia mais
+orphãos em semelhantes circumstancias. A provisão de S. A.
+beneficiava-os, para os effeitos da _voluntaria_ derrama, com o desconto
+do «terço» do valor total apurado, para que sobre o remanescente
+recahisse o talho. Anna Picaya, tutora de seu filho, teria de pagar por
+elle «duzentos e oitenta réis». Reclamou. Agora, não era a obrigação do
+estabelecimento; era a legitima do orphão, despiedada,--provaria
+até--illegalmente desfalcada. O menor Antonio Galharde era filho de um
+homem que durante mais de quarenta annos tinha prestado assignalados
+serviços ás letras do país que adoptara por patria. Os seus prélos não
+tinham gemido só em serviço de quantos praticavam a nobre arte de
+escrever, senão que tinham tambem trabalhado para a corôa. Antonio
+Galharde era filho de um «official impressor da casa real»[49]; a
+isenção de que seu pae, se vivo fôra, gosaria, porque não mandava S. A.
+que aproveitasse ao filho menor?
+
+Que S. A., pois, «inclinasse por um pouco a magestade.» Á triste viuva,
+sobrecarregada com os encargos da tutella e ao filho orphão
+devia-se-lhes contemplação. Ambos receberiam mercê no favoravel despacho
+com que S. A. se servisse attende-los.
+
+E se isto assim se passou, pode affirmar-se que a «titor» do menor
+Antonio Galharde venceu! No traslado da certidão do orphanologico que
+baixara aos encarregados da cobrança, e foi lançado a fl.^s 685 e segg.,
+do _Livro do Lançamento_, riscou-se a designação do escote, escripta na
+margem esquerda, averbando-se na direita a significativa cota, constante
+do proprio documento remissor que segue:
+
+
+«ORFFAÃOS»
+
+«T^o Dos orfãos que Johão Do sal escrivão Delles Mandou a esta cassa do
+lançam.^{to} per sua sua certidão»
+...........................................................................
+...........................................................................
+
+«It Ant.^o filho de Jermão Galharde Imprimidor tem de ligitima cinquoèta
+e noue mill e quinhètos e vinte e dous rs abatido o terco paguara
+dozètos e oytenta rs e sua titor[50] Ana Picaya sua may m^{or} ao arquo
+do cangreijo»
+
+A margem direita do livro está escripto: «abatido p.^{la} provisão de S.
+A. não vay a Rol»
+
+
+Parece, pois, poder concluir-se do teor desta certidão que a casa que
+Germão Galharde possuia, e onde residia e tinha a sua officina
+typographica, era _ao Arco do Carangueijo_, isto é, no extremo N. da rua
+deste nome, para além da actual rua das Pedras Negras, partindo em linha
+obliqua do começo da travessa do Almada. O chanfro existente no cunhal
+posterior do predio que faz face ao Largo da Magdalena, do lado de L., e
+que todos podem notar, é quanto resta do Arco de Dona Thereza, de onde
+ascendia para o N. a «Rua do Arco do Carangueijo.»
+
+Passaremos agora a tratar de Antonio Gonçalves, e findaremos.
+
+
+
+
+XVII
+
+
+Affirmámos no cap. XV.^o d'estes _Estudos_ que a meiados de 1566 já
+Antonio Gonçalves, o nomeado impressor da 1.^a ed. dos Lusiadas,
+trabalhava por sua conta, muito distante do Arco do Caranguejo.
+
+Vamos procurar dizer onde era.
+
+Preliminarmente, porém, preciso se torna lembrar que na segunda metade
+do seculo XVI, correspondente ao anno supra mencionado, Lisbôa, sob o
+ponto de vista da sua divisão ecclesiastica, a unica por então
+estabelecida, achava-se, de um modo geral, dividida em tres grandes
+zonas; a oriental, a central e a septentrional. Confrangidas em torno
+dos pendores da primitiva cidade, e descendo para a vertente sul que
+lhes corresponde, todas as parochias de limitado territorio,
+successivamente fundadas durante os quatro seculos anteriores. Na
+extrema esquerda, imminente ao Tejo, a de Santo Estevão,
+excepcionando-se do acanhado territorio de todas as mais, pela tira
+enorme que a alongava até Enxobregas[51]. Ao centro, S. Nicolau e Santas
+Justa e Rufina, soffregas de territorio, dominando tudo, abrangendo
+tudo, reservando apenas cada uma d'ellas para si as eminencias
+correspondentes á orientação das respectivas sédes. A primeira,
+alastrando-se por boa parte do valle central da cidade, e trepando para
+o «Bairro do Almirante», o Carmo e circumvisinhanças, bracejava, a
+oeste, para os ferragiaes atinentes ás muralhas, dando a mão ás suas
+duas convisinhas dos Martyres e do Loreto. A freguezia de Santa Justa,
+mais extensa ainda do que a de S. Nicolau, dominando, ao septemtrião, o
+resto da chãa que aquella lhe deixava, investia pelo povoado em fóra até
+á Areia Gorda, por um lado, até Arroios, pelo outro, galgava o monte de
+Sant'Anna, laborava as cumiadas que a aproximavam da Alcaçova, mal
+permittindo, suzerana desdenhosa, como a sua possante companheira, que
+algumas pequenas parochias circumstantes affirmassem a desvaliosa
+existencia.
+
+Eis porque se lê no «Livro do Lançamento» que temos manuseado, a fls.
+539, v.^o, o seguinte titulo:
+
+«_Começa o quatorzeno Rol Da freguezia De Santa Justa: Na Rua das Casas
+de Manoel a.^o_ (Affonso) _até ao postiguo De Santo André_».
+
+Estamos, pois, junto ao, de nossos dias, chamado Arco de Santo André,
+que acaba de ser derribado, e que a Divisão Parochial do Patriarcha D.
+Fernando de Sousa e Silva, de 1780, mandou considerar, por dentro e por
+fóra, no territorio da freguezia daquella invocação constituindo em 1566
+extremas de N. E. da parochia de Santa Justa.
+
+Por escusado temos affirmar que nas listas da viação parochial,
+estampadas no Summario de Christovão Rodrigues d'Oliveira, organisadas
+em 1551, ou pouco depois,[52] não se encontra semelhante denominação de
+rua, se tal modo de indicar uma via pública pode ser classificado
+«denominação». É, com effeito, evidente que o redactor d'esta especie de
+matriz, conteúda no «Livro do Lançamento» em exame, sabia bem quem era o
+individuo a quem chamou «Manoel Affonso», seu contemporaneo ou não. Por
+nossa parte estamos persuadidos que Bastião de Lucena grandemente se
+equivocou, atribuindo o baptismal «Manoel» a um individuo que se chamou
+Estevão, pois que esse é que teve casas na rua de que se trata, tendo
+ambos o mesmo sobrenome. Manoel Affonso, que foi um dos sacadores deste
+«Quatorzeno Rol», era proprietario, sim, mas no Beco do Poço do Ceitil.
+Tinha ahi uma _atafana_[53] e n'ella residia. Da coincidencia de
+sobrenomes terá, porventura, nascido o equivoco.
+
+Como quer que seja, o designar semelhante indicação a rua onde deviam
+começar as operações da cobrança, apresenta-se, tanto para o lançador
+das fintas como para os sacadores d'ellas, facto natural, correntio. A
+via pública de que se tracta poderia ter outra qualquer denominação, que
+para uns e outros esta que lhe foi attribuida bastou.
+
+E bastou tambem para nós.
+
+De facto, se esta cobrança devia começar n'uma rua que ia até o postigo
+de Santo André, que importa que lançador e sacadores lhe chamassem, ou
+verdadeira ou equivocadamente, «Rua das casas de Manoel Affonso», se
+dúvida não pode haver que tal via pública outra não é, senão o troço
+mais ou menos modificado, no material e no aspecto topographico, da
+actual Costa do Castello que vae do baluarte de S. Lourenço ao agora já
+derribado Arco de Santo André?
+
+Aquelle baluarte, entreposto nos lanços do norte da _cêrca velha_ da
+primitiva Lisboa, foi aproveitado pelos constructores da cêrca de D.
+Fernando, para lhe apoiarem no paramento o arco do postigo que tomou
+aquella denominação, tambem conhecido por «Postigo da Rosa», depois da
+fundação do mosteiro da rua das Farinhas.[54] Qualquer de nossos
+benevolos leitores pode ver ainda agora os vestigios das nervuras do
+arco embebidas no vetusto panno do baluarte, assim como, do lado
+opposto, os restos desfigurados do cubello onde o mesmo arco ia
+assentar. Tudo isto foi arrasado no ultimo anno do seculo XVIII.
+
+Do postigo de S. Lourenço, a _cêrca nova_ descia a escarpa que vinha
+confundir-se no labiryntho de vielas que demoravam, como ainda agora,
+entre o vetusto edificio do chamado Colleginho e a Mouraria. Era-lhes
+canal de communicação com a «rua de Manoel Affonso» a «Rua do Poço do
+Ceitil», entalada entre a muralha nova e os muros da cêrca da Casa de
+«Santo Antão», a que depois se chamou «o Velho» para o distinguir da
+nova casa dos jesuitas, actual Hospital de S. José. Esta «Rua do Poço do
+Ceitil», desde muito desapparecida, mas de que a carta topographica da
+Commissão Geodesica, dada a lume em 1875, ainda nos quere parecer que
+marca os vestigios, constituiu a cabeceira do «Trezeno rol» da freguezia
+de Santa Justa.
+
+Conclue-se daqui pois que os arroladores continuavam a adoptar a marcha
+ascencional, como em nosso anterior estudo vimos, por isso que,
+explorada a zona de que aquella rua era o começo, passaram a encabeçar o
+14.^o Rol pela via publica immediata.
+
+
+
+
+XVIII
+
+
+Além destas razões de congruencia, confirmando ser, com effeito, a «Rua
+das casas de Manoel Affonso» o troço da atual Costa do Castello que
+ficou indicado, outros testemunhos positivos existem que nos asseguram a
+identidade da rua do seculo XVI com a via publica do seculo XX.
+
+Não podemos dispensar-nos de os apresentar, por muito que tal resolução
+possa parecer extranha ao nosso objecto. Ver-se-ha que o não é.
+
+Por Alv. datado de Evora, a 8 de junho de 1573, foi commettida ao
+Licenceado Luiz Lourenço a organisação do tombo das propriedades
+foreiras á Camara desta cidade. De tal diligencia se conservam os
+respectivos Livros no Archivo Municipal. Examinando o segundo destes
+Livros, que tem seu começo na «Rua do Arco do Rosio, da banda da praça
+da palha», na freguezia de Santa Justa, averigua-se que de 1547 a 1565
+havia a Cidade effectuado dez aforamentos na «rua que vai da porta de
+Santo André para o postigo de Sam Lourenço, que por outro nome se chama
+Villa Quente»[55].
+
+Confrontado este titulo com o que Bastião de Lucena escreveu no Livro
+que estamos estudando, acha-se que a situação da via pública do Tombo da
+Cidade é de todo o ponto a mesma que se lê naquelle Livro, salvo a
+orientação, que diametralmente diverge, visto que o juiz do Tombo partiu
+do postigo de Santo André para o de S. Lourenço, e Bastião de Lucena fez
+o contrario, para o que, segundo acabamos de ver, teve uma excellente
+razão de ordem.
+
+Ora, que tanto uma como outra das duas descripções se accomodam sem
+obice algum á topographia actual, não resta dúvida, pois que o caminho
+de nossos dias municipalmente chamado Costa do Castello, começando na
+sua extrema oriental no fim da rua do Milagre de Santo Antonio, passa,
+ao inflectir para o N., rente ao panno de muralha do baluarte de S.
+Lourenço, e continúa até terminar junto do agora derruido Arco de Santo
+André.
+
+Se o leitor paciente o seguir comnosco, encontrará, á sua direita, antes
+da rampa que termina a Costa e atinente a um lanço de muralha que
+sustenta um pequeno quintal, uma porta, tendo o n.^o de policia 92 A,
+dando accésso a extenso escadorio, que torneja, lá no alto, á direita, e
+segue em varios e apertados lanços até encontrar, á esquerda, a
+famigerada _Porta do Moniz_, aquella porta do Castello, origem da lenda
+que Herculano pulverisou.[56] No Tombo do Licenceado Luiz Lourenço, as
+escadas alludidas são a «Rua que vai da rua direyta para o Postigo do
+Moniz». As casas que ladeavam a entrada de tal «Rua» foram levantadas em
+chãos pertencentes á Cidade.
+
+As da banda do Postigo de S. Lourenço, na frente do muro do quintal
+acima alludido, e vinham a ser as «derradeiras casinhas quando querem
+voltar da dita rua pelo caminho que vai ao Postigo do Moniz», possuia-as
+um casal, Antonio Fernandes e sua mulher Barbara Gonçalves, «parda». As
+da banda do Postigo de Santo André pertenciam a Estevão Affonso,
+porteiro. E eis porque desta circumstancia nos veiu a tentação de achar
+que Bastião de Lucena se equivocou, atribuindo a Manoel Affonso as casas
+deste Estevão. Se o porteiro foi dos primeiros edificadores que teve
+este troço da Costa do Castello (1547), é bem provavel que o seu nome
+servisse de conhecença para a _sua_ rua, então quando era este individuo
+o segundo de quantos foreiros a Cidade teve n'aquelle sitio, e aquelle o
+modo de distinguir as vias publicas lisbonenses umas das outras.
+
+Alem dos emphiteutas da Camara acima mencionados, outros havia que
+figuram em ambos os documentos que temos citado. Assim, a Cidade tinha
+aforado ao dr. Affonso Figueira, desembargador da Casa do Civel e
+Ouvidor do crime, em dois annos diversos, 1555 e 1557, tres chãos, sobre
+os quaes este magistrado levantara casas, e um quarto que elle reservara
+para seu quintal, e que o era ao tempo do Tombo que vamos seguindo. A
+loja de uma das casas estava em 1566 ocupada pelo tecelão «João
+Francisquo», conservando-se senhorio, o magistrado sobredito. Este ahi
+mesmo residiria, mas a toga excepcionou-o da obrigação do escote, e por
+isso só naquella qualidade apparece no rol da derrama. Do mesmo modo
+aforara a Cidade, em 1542 e 1547, dois outros chãos perto dos
+antecedentes, a uma Guiomar Dias. Esta, precedendo a competente licença,
+fez venda, em 1561, de uma das casas que n'elles edificara a Ambrosio
+Luis, feitor da imposição dos vinhos.
+
+Ora, tanto o magistrado Affonso Figueira como o funccionario fiscal
+apparecem em sua devida altura no Rol de Bastião de Lucena, isto é, são
+mencionados como proprietarios das respectivas casas, indo do Postigo de
+Santo André para o baluarte de S. Lourenço, sendo a concordancia
+perfeita entre os dois documentos, por isso que umas das casas do dr.
+Affonso Figueira são no Tombo da Cidade, as primeiras, indo do Arco de
+Santo André, partindo pelo N. E. com as de Ambrosio Luis e com outras de
+outro aforamento, realisado por aquelle magistrado dois annos
+depois.[57]
+
+Absolutamente certos, pois, de que dizer «Rua das Casas de Manoel
+Affonso até o Postigo de Santo André», e «Rua que vai da Porta de Santo
+André para o Postigo de Sam Lourenço» é referir-se a uma mesma via
+pública, e que tal referencia corresponde ao troço actual da Costa do
+Castello, que vai do Baluarte de S. Lourenço até o desembocar da mesma
+Costa no alto da calçada de Santo André, pedimos ao leitor benigno nos
+perdoe a longa e porventura enfadonha digressão topographica, na
+consideração de ser necessaria a nosso empenho:--o precisar, sem especie
+nenhuma de dúvida, onde foi que teve a sua officina typographica o já
+agora tão nomeado Antonio Gonçalves, «imprimidor» da notavel edição
+_princeps_ do poema Os Lusiadas, do Grande Epico Luis de Camões, das
+duas que trazem a data de 1572, a que apresenta o _Pelicano_
+frontispicial com o collo voltado para a esquerda do leitor.
+
+
+
+
+XIX
+
+
+A 17 de setembro de 1566, Manoel Affonso, atafaneiro, morador ao Poço do
+Ceitil e Jeronymo Gonçalves, serralheiro, morador na rua dos
+Cavalleiros, escolhidos para _sacadores_ do «quatorzeno» rol da
+freguezia de Santa Justa, receberam nos Paços do concelho desta «mui
+nobre, sempre leal cidade de Lisboa», onde se tratava de dar execução ao
+Regimento da cobrança do _voluntario_ imposto a que nos temos referido,
+as competentes copias do predito Rol, e trataram de avial-as.
+
+Deviam começar, como vimos, da extrema superior da «Rua do Poço do
+Ceitil,» que desembocava, segundo dissemos, proximo do Baluarte de S.
+Lourenço, pela parte posterior do Postigo da _Cerca nova_, sendo a
+primeira do «trezeno» Rol.
+
+Percorrendo toda a rua até o Postigo de Santo André, voltavam os dois
+_sacadores_ para a calçada desta denominação, internavam-se na Rua da
+Amendoeira, davam volta á travessa desta rua, que lá vimos ainda hoje, e
+sahindo pela rua das Tendas, que parece não lográra ainda um qualquer
+nome, vinham á dos Cavalleiros, findando-lhes a tarefa no «Beco de Thomé
+Correa»; um beco sem sahida, de nossos dias chamado _Beco do Forno_,
+primeiro á esquerda naquella rua, indo da Mouraria, e que tem lá, não
+sabemos porque bullas, advertencia de ser «_logradouro particular_»(!).
+
+Acompanhemos os honrados exactores na sua perigrinação pela rua que ía
+do «Baluarte de Sam Lourenço ao Postigo de Santo André».
+Despedir-mo-nos-hemos ahi d'elles. O que deste Postigo por diante
+haveriam de fazer não nos interessa. Depois veremos, por simples
+curiosidade, qual foi o importe da sua cobrança na area que lhes fôra
+designada.
+
+Por agora, attentemos um momento na feição da discutida via publica
+lisbonense, como ella parece ter sido no 2.^o semestre do anno de 1566.
+
+Devia apresentar, ao menos por partes, mais largura do que hoje vemos
+ter, posto que não se avantajasse grandemente, neste particular, ás
+convisinhas. Muito mais desafogada era ella, por certo, do que é hoje.
+
+Ao longo da sua margem direita, indo para Santo André, e até
+alcançar-lhe o Postigo, 21 propriedades, se a tal classificação poderiam
+aspirar as modestas casinhas que se iam encostando á barbacã do
+Castello, tendo na sua frente uma larga perspectiva panoramica, de
+surprehendente effeito. Da esquerda, a ondulada ribanceira, por onde,
+ainda 35 annos antes, se espreguiçava a miseranda Villa Quente, até ir
+topar com a cêrca do Colleginho. Lá quasi ao começar o forte declive
+que, tal qual hoje, terminava a rua, o postigo aberto na muralha por
+onde se começava a subir para o do Moniz. Diante d'elle, atravessada no
+caminho, a cruz de pao, demarcatoria nos titulos do Tombo municipal. Por
+ahi perto, talvez, sempre da esquerda, algum pequeno grupo de casinhas,
+restos da subvertida povoação. Após, os declives sobre os quaes se
+levantou, no seculo seguinte, o palacete que assenta no espigão da
+calçada de Santo André.
+
+Isto, quanto á topographia local.
+
+Vejamos agora quanto respeita ás construcções, e, porfim, aos que as
+habitavam.
+
+As 21 casas da margem direita, que a rua contava pertenciam a outros
+tantos proprietarios. Destes, 12 habitavam nas proprias casas, ou sós,
+ou tendo inquilinos. De todos os 21, o senhorio mais importante, era o
+clerigo Francisco Dias. O seu predio--algumas barraquitas,
+provavelmente--alojava 9 inquilinos, entre os quaes, 2 cegos. De
+consideração, na ordem social, Joanne Fernandes, moço da camara da
+Infanta D. Isabel, tendo na loja por inquilino um «sapateiro remendão».
+Joanne Fernandes morava nas proprias casas de que era dono, e foram-lhe
+avaliadas em 30$000 réis. Pegado ao postigo de Santo André, não esqueça
+o nosso conhecido magistrado Affonso Figueira, e confrontando com elle,
+o Ambrosio Luiz, que superintendia na imposição dos vinhos. Algures, ali
+perto, um Joanes, cantor de el-rei, que nem por ser tal, se esquivou ao
+escote. Fecham a lista três senhoras do appelido Viegas; Filippa,
+Antonia e Anna.--Tres irmãas?--Que sabemos nós? Os predios das duas
+primeiras, avaliados em 50$000 réis cada um, obrigaram-nas a 350 réis de
+contribuição. As casas de Anna Viegas,--coisa parecida, é mais que
+certo--com as barracas do Padre Dias, foram computadas no dobro; em
+100$000 réis, e por isso teve de pagar 700 réis.
+
+O predio devia valer a somma em que foi avaliado. Alem da senhoria,
+habitavam n'elle mais 6 inquilinos; 3 varões e 3 femeas, como se diz em
+estatistica de população. Entre as femeas, duas eram viuvas; dos varões,
+um fallecera ao tempo de chegarem lá os _sacadores_, outro abalara para
+parte incerta. O terceiro era typographo;--chamava-se Antonio Gonçalves,
+e tinha aqui a sua officina. Elle e Maria Luiz, sua mulher, moravam mais
+abaixo, para o lado de Santo André, no predio do pintor Garcia
+Fernandes.
+
+
+
+
+XX
+
+
+Estava, pois, Antonio Gonçalves estabelecido já em setembro de 1566,
+isto é, dois annos mais cedo, do que o que lhe suppôs Tito de Noronha,
+na tabella com que enriqueceu a sua tão valiosa monographia _A Imprensa
+Portugueza durante o seculo XVI_.
+
+É evidente que o auctor se governou, para a inscripção da data «1568»,
+pela data do primeiro livro que se conhece, sahido dos prélos deste
+impressor;--as obras poeticas de Cadaval Gravio. (Pag. 82). O facto,
+porém, corrobora o asserto já por nós enunciado nestas Notas; convem a
+saber: que hemos de convencer-nos, todos os que perlustramos estas
+materias, que, assim como a nenhum habitante da Terra será jámais
+permittido ver a outra face do globo lunar, assim nos está vedado, e aos
+que depois de nós vierem, o descortinar quantas obras, e quaes assumptos
+vieram a lume, só no seculo XVI que seja, em Lisboa, que para sempre de
+nós e dos porvindouros ficarão ignorados.
+
+É provavel que Antonio Gonçalves continuasse a residir na Costa do
+Castello, e ahi mantivesse egualmente a sua officina, até passar a
+melhor vida. Nestas afastadas eras, o _inquilinato_ ainda tinha mui
+fracas as azas. Voejava pouco, e com pouco se contentava. Ahi onde se
+constituia familia, ahi onde se ganhava a vida, ahi se criavam affectos;
+ahi se lançavam raizes. Na mesma parochia, onde marido e mulher uma vez
+se desobrigavam, até o ultimo dia da vida se ficavam desobrigando.
+N'ella recebiam a agua lustral do baptismo, n'ella se casavam, n'ella
+continuavam a prole. Depois, no chão sagrado que todos os fieis pisavam,
+vindo adorar a Deus, tinham todos, quantas vezes de geração em
+geração!--o proprio e final encerro.
+
+Pela nota com que fechamos, emfim, estes singellos apontamentos, que um
+acaso nos permittiu redigir, se verá desde quando e até quando se
+conhecem impressões sahidas da officina de Antonio Gonçalves, e quaes as
+obras que se sabe terem sido objecto d'ellas.
+
+Não esqueça referir que a officina de Antonio Gonçalves foi avaliada em
+5$000 réis, pagando o futuro impressor dos Lusiadas o escote de 35 réis
+para as necessidades da corôa.
+
+A 26 de abril de 1567 deram os honrados _sacadores_ do «Quatorzeno Rol
+da Freguezia de Santa Justa» por finda a sua tarefa, entregando, com a
+nota de 239 addições cobradas, ao Thesoureiro da Cidade, André Luiz,
+recebedor do dinheiro deste Lançamento, a quantia de 26$476 réis, em que
+ellas importaram, jurando aos Santos Evangelhos terem procedido como
+homens de bem.
+
+Eis a Nota das impressões conhecidas, sahidas dos prélos de Antonio
+Gonçalves, redigida por simples apontamentos, por se não ter prestado a
+occasião a uma minuciosa e integra descripção bibliographica das que
+será ainda possivel ver.
+
+ 1568--_Pythographia e Brachyologia_--Poemas publicados por Cadaval
+ Gravio, segundo Tito de Noronha, in _A Primeira Edição dos
+ Lusiadas_, pag. 82.
+
+ 1569--_Constituições Extravagantes do Arcebispado de Lisboa_ (3.^a
+ ed.)--aos 7 dias do mes de Fevereiro. Mencionadas por Innocencio,
+ _Diccion_, Tom. II, 105.
+
+ » --_Leis extravagantes_ collegidas e relatadas por mandado do
+ muito alto e muito poderoso rey D. Sebastiam, nosso senhor, por
+ Duarte Nunes do Liam.--Innoc. II, 210.
+
+ 1570--_Repertorio dos Tempos_. Visto por nós na Sala dos
+ _Reservados_ da Bibliotheca Nacional--B--11. Tem o frontispicio
+ dois annos após empregado pelo mesmo impressor _in_ Lusiadas, de
+ Luiz de Camões. Material que pertenceu a Germão Galharde.
+
+ 1571--_De Rebus Emmanuelis_, do Bispo D. Jeronymo Osorio. Cit. por
+ Innocencio--Letra J. pag. 272.
+
+ 1572--Os Lusiadas--por Luiz de Camões. Frontispicio que pertenceu a
+ Germão Galharde--(_Pelicano tendo o pescoço voltado para a esquerda
+ do leitor_).
+
+ 1572--_Primeira Parte do Compendio da Chronica da Ordem... do Monte
+ do Carmo_, por Fr. Simão Coelho. Deve cotejar-se a noticia de
+ Innocencio com a descripção impressa no _Catalogo_ n.^o 7 da
+ Livraria de José dos Santos & Irmão.
+
+ 1573--_Commentario do cêrco de Goa e Chaul_, &--Ha um exemplar na
+ Livraria da Torre do Tombo.
+
+ 1574--_Successo do Segundo Cêrco de Diu_, de Jeronymo
+ Côrte-Real.--Ha um exemplar entre os _Reservados_ da Bibliotheca
+ Nacional, mas não chegámos a vê-lo, por falta de occasião.
+
+ » --_Regras que ensinam a maneira de escrever a orthographia
+ portuguesa_, por Pedro de Magalhães de Gandavo. Informações de
+ Innocencio, pois se não conhece exemplar algum.
+
+ 1576--_Historia da provincia de Sancta Cruz_, &, pelo mesmo auctor
+ supra-citado. É util ler a informação de Innocencio, ácerca deste
+ rarissimo livro.
+
+Por muito satisfeito nos daremos, que esta _Noticia_ logre alcançar o
+agrado de nossos consocios, mais certos leitores que ella poderá ter.
+Por sua especial bondade nos relevarão elles, de certo, as deficiencias
+que se nella notarem, antes filhas da mingua de recursos, do que da
+falta de boa vontade em alcançar o impossivel;--dá-las completas.
+
+
+ Julho, 1913.
+
+ Gomes de Brito.
+
+
+
+
+ADDENDA
+
+
+«Aos cinquo dias do mes de novembro de mil e qujnhentos setenta e hum
+annos em Lisboa nos estaos na casa do despacho da Santa Inquisiçam
+estando hi os senhores jnquisidores perante elles pareceo Pero Alberto,
+flamengo de naçam, natural de Envres de jdade que dise ser de vimte e
+dous pera vimte e tres annos e dise que hee jmpremidor e trabalha na
+jmpresã de Marcos Borjes ao Arco de Cramgejo e pera em todo dizer
+verdade lhe deu juramento dos Santos Evangelhos e prometeu de a dizer e
+denunciando dise que elle vinha a este Santo Officio pera desencarregar
+sua consciencia e dizer o que sabja o qual hee que avera oito annos que
+elle partio desta cidade pera Arrochella com hum João de Leam, frances
+lyurejro o qual lhe disseram em Castella que estava nesta cidade e que
+fora ja preso pollo Santo Officio e jsto de preso lhe diseram aquj em
+Lisboa e tambem ffoj com elles hum cornelio flamengo de naçam, naturall
+de Olanda que tambem hee jmprimidor e trabalhava en casa da viuva de
+Germam Galhardo e asj foj com elles hum frances por nome Pierres
+d'Alltabel casado nesta cidade com hua criada ou paremta de Njcolao
+Botardo que viuja na rua noua e vende papel e tambem era jmpresor ajnda
+que o nam usaua muito os quaes todos quatro hiam determjnados pera
+jmpremjr huas horas de Nosa Senhora em portugues e o João de Leam fazia
+o gasto e o Pierres e elle confesante e outro hiam por obrejros e
+chegando Arrochella por lhe nam quererem dar licença pera as jmprjmjr as
+não jmprimjram e jmprimjram em lugar das oras ha gramatica de Joannes
+Espauterio e dizendo elle denunciante ao Cornelio em hum domjnguo se
+jriam ouvir mjssa e ouvindo jsto João de Leam perguntou ao Cornelio que
+era o que elle denunciante dezja e o Cornelio lhe respondeo que elle
+denunciante querja jr ouvjr mjssa ao que respondeo o dito João de Leam
+dizendo que senam podia ouvir mjssa na Arrochella porem queriam a
+pregaçam e dizendo jsto antes de jamtar ás oito ou noue horas o dito
+Joam de Leam os leuou todos tres a hua casa grande onde estaua muita
+gente e muitos banquuos e começarão a camtar por huns libros que tinham
+nas mãos e dezião Joam de Leam e Cornelio que aquillo que cantavam eram
+Salmos mas elle denunciante nam entendeo a linguoa e despois se pos hum
+homem em hua cadejra alta a ler por hum liuro em frances espaço de hua
+hora e o que leo elle denunciante nam entendeo e acabado de ler se
+sajram todos da dita casa e se foram a jamtar e dahj a tres ou quatro
+dias elle denunciante, dejxou a dita companhia na Arrochella e se foj
+pera Leam de França, perguntado que gente era aquela que estaua na casa
+da Arrochella onde elle denunciante foj com ho dito Joam de Leam e
+Cornelio e Pierres ouvjr cantar os salmos, disse que eram lutheranos,
+perguntado que doutrjna era a que se lia na dita casa ou se lho diseram,
+dise que Joam de Leam lhe disera que aquela era doutrjna e lej de
+Christo e toda aquela gente se chamavam ugunotes, perguntado se era
+aquella doutrjna que aly se jnsinaua a gente a jgreja catholica Romana
+disse que aquella doutrjna nam era da jgreja Romana porque nem a casa
+onde se lia era jgreja se nam hua casa sem santos como cavalaryza,
+perguntado se allgua pesoa o presuadio ou lhe dise que crese aquella
+doutrjna que alj ensinavã, dise que nam, perguntado com quem entrara na
+dita casa e onde estiveram sentados dise que com Joam de Leam e Cornelio
+e o Pierres e todos quatro se sentaram juntos em hum banquo e estiueram
+todos asj atee o cabo da predica que se sajram perguntado se sabe que
+allgua pesoa aprouaua a dita doutrjna que se lia na dita casa disse que
+soomente Joam de Leam lhe disse que aquella doutrjna era muito boa e lej
+de Christo e que os papistas chamavam aquella gente ugunotes e o mesmo
+lhe dise Pierres d'Alltabel perguntado quãntas vezes foram a dita casa
+onde se lia a dita doutrjna dise que hua soo vez foj la com os que dito
+tem, perguntado se vira jr allgua pesoa aos ditos ajuntamentos majs
+vezes, dise que nam, que os companhejros nam sabe se tornaram laa majs
+vezes porque elle se partio como dito tem pera Leam de França e dispois
+destar seis ou sete meses em Leam de França se tornou a Espanha onde foj
+preso pollo Santo Officio de Toledo e saio reconciliado com habito que
+lhe tiraram loguo no cadafalso e lhe deram em pena que estivesse alj em
+Toledo hun anno o qual esteue e despois pedio licença pera jr trabalhar
+a Salamanqua e outras partes e lhe diserã que podia andar por toda
+Espanha e porem que se nam embarcasse pera outro reyno sem sua licença e
+que ho principall intento que o trouxe a esta casa ffoj por lhe parecer
+que se podia saber nella que elle foj, estando na Arrochella aquela casa
+com ho dito Joam de Leam e os companhejros ouvir a doutrjna dos
+lutheranos por quãoto hum Alexandre Lopez christão novo e outros que a
+ese tempo la estavam lhe diseram que elle denunciante fora ouvir a dita
+doutrjna e que se vem dasemto pera trabalhar aquj em seu officio e que
+ja isto confesou em Toledo com ho majs hall nam dise e do costume dise
+estava bem com todos e lhe ffoj mandado ter segredo no caso e elle o
+prometeo sob carguo do dito juramento e por o promottor fiscal requerer
+a elles senhores inquisidores que por ser o dito denunciante estrangeiro
+e se poder absentar pera lugar nam certo lhe reteficasemos em fforma
+elles senhores mandaram chamar os muito reverendos padres frej Belchior
+de Sam Mjguel e frej Estevam Caveira, ambos da ordem do bem aventurado
+Sam Domingos e pregadores perante os quaes despois de tomarem juramento
+de ter segredo em forma o dito denunciante disse que o dito contheudo em
+esta sua denunciaçam que eu notario lhe li toda de verbo ad verbum e
+lida e por elle entendida disse que asj o disera e estava escripto na
+verdade e afirma e ratefica e de nouo torna a dizer e asjnou com os
+ditos senhores inquisidores e os ditos padres que estiveram presentes
+por honestas e religiosas pesoas e eu Joam Velho notario appostolico o
+sprevi, diz no riscado Symam de Saa Pereira e declarou sendo perguntado
+que na dita casa onde estava o dito ajuntamento de gente segundo seu
+parecer, Pierres tinha hum liuro na mam e que todos os ditos seus
+companhejros a saber Joam de Leam e Pierres e Cornelio cantavam com ha
+majs gente os ditos Sallmos em frances que elle denunciante nam entendia
+e asynou com elles Senhores padres e eu Joam Velho notario appostolico o
+sprevi (aa.) _Jorge Gonsallvez Ribeiro_--_Pedro Alberto_--_Simão de Saa
+Pereira_--_Frej Belchior de São Miguel_--_Frej Estevão Caveira_».
+
+_Livro de Denuncias do Santo Officio_ (n.^o 106).
+
+
+
+
+Notas:
+
+[1] O _Livro do Lançamento e Serviço que a Cidade de Lisboa fez a El-Rei
+Nosso Senhor_, de que démos abreviada noticia no jornal _Novidades_, de
+9 de junho de 1897, tendo começado em 15 de abril de 1565, e terminado
+em 6 de setembro de 1567 as operações da cobrança, de que o alludido
+_Livro_ é muito curioso registo.
+
+[2] «_T.^o da fr. Da Madalena--Rua Nova dos feros Danbas as bandas_»
+f.^o 44, V.
+
+[3] João de Borgonha era proprietario de umas casas na «rua da
+Gibetaria», que tinham 5 inquilinos. Tinha outras casas na «rua do
+Terreiro da Portagem», onde eram seus inquilinos um Pedro de Sousa,
+ourives de ouro, e um João Fernandes, mercador, recem-chegado do Peru.
+
+Os outros dois inquilinos, dos 4 que o predio tinha, não são de
+importancia.
+
+Finalmente, este abastado livreiro-editor ainda possuia umas «tendas»
+nas costas do Terreiro do Trigo.
+
+[4] Ás vezes, tambem não eram de todo bem succedidos em suas um tanto
+arriscadas especulações; testemunha, Alonso de Leon, que, em 1575, foi
+denunciado á Inquisição por um tal Raphael Perestrello, porque entre os
+livros de que era mercador, em Lisbôa, vendia alguns, impressos em
+Flandres ou em França, «_e falavam contra o officio divino e contra a
+missa_».
+
+_Arch. Histor. Portug._ fasc. n.^{os} 75 e 76, pag. 153.
+
+[5] «It Migel darenas liureiro seu obreiro......... avaliado [~e] cinquo
+mil rs...» (fol. 45 do cit. codice).
+
+Ácerca deste Miguel de Arenas e de seu parceiro João de Molina, assim
+como de João de Borgonha, e outros livreiros e impressores de que esta
+Noticia se occupa, leem-se com fructo os artigos que lhes respeitem _in
+Docum. para a Hist. da Typogr. Portug. &_, de Venancio Deslandes,
+Lisboa, Imp. Nac., 1888.
+
+[6] A _Recopilaçam_ tivera, segundo as primordiaes informações de
+Barbosa Machado, posteriormente ampliadas por Innocencio, duas edições;
+uma, de Coimbra, por Antonio de Maris, 1569, outra, de Lisbôa, por
+Marcos Borges, 158O. Nem de uma, nem de outra apparece, desde muito,
+exemplar algum.
+
+De uma terceira edição,--aquella a que o texto se refere--apenas existia
+um exemplar na copiosa livraria do convento de S. Francisco da Cidade.
+Delle se serviu Alexandre das Neves Portugal, para ajuntar á 2.^a ed.
+das _Advertencias dos meios que os particulares podem usar para
+preservar-se da peste, &_, por aquelle naturalista redigidas, e mandadas
+publicar pela Academia, em 1797 (?)
+
+Exhausta, com effeito, esta 1.^a ed., voltou a douta corporação a fazer
+reimprimir 2.^a, em 1801, ajuntando-lhe, porém, agora, mas com rosto e
+paginação especial, o opusculo dos dois medicos sevilhanos, o qual na
+1.^a apenas fôra objecto de simples referencia, impressa no Prologo. O
+formato das duas edições das _Advertencias_ é de 12.^o
+
+Ficou, pois, a _Recopilaçam_ em 4.^a ed., copiada da de 1598, conforme
+se vê na folha do rosto.
+
+[7] Parece ser esta a 3.^a edição, havendo entre esta e a de Ferrara,
+1554, uma de Evora, 1557-58. Nas edições de Ferrara, e de Colonia
+chama-se á novella: _Hystoria de Menina e Moça_. Veja-se no pref. de
+_Menina e Moça_, ed. do Porto, 1891, a Nota ^1 de pag. LXXVIII, do punho
+do nosso consocio, sr. D. José Pessanha. Innocencio não mencionou a ed.
+de Ferrara, por onde entende ser 2.^a esta de Colonia.
+
+[8] _A Imprensa Portugueza no Seculo XVI_, cap. 4.^o--Livreiros. No
+Archivo da Camara desta capital ha uma carta de venda, em que interessa
+a corporação dos livreiros da Irmandade de Santa Catharina, datada de 11
+de maio de 1557, e na qual Salvador Martel assigna como testemunha de
+certas diligencias. Vid. _Elem. para a Hist. do Mun. de Lisboa_, Tom.
+II, 584, nota da pag. anter.
+
+[9] «_T.^o da freguezia da See_», fol. 9.
+
+[10] A «rua da Costa», da relação de Christovão, na freguezia da
+Magdalena. Nesta freguezia dá a mesma relação «Duas travessas que não
+tem nome». Uma destas poderá ser aquella onde estavam estabelecidos os
+dois livreiros.
+
+[11] Como se vê por este exemplo e o outro supra, Bastião de Lucena,
+escrivão deste recenceamento, obrigava a syllaba «gi» a soar como «gui»,
+o que não é peregrino entre a gente menos letrada deste seculo.
+
+A Fonte da Preguiça ficava «além da Porta do Mar», para oeste das casas
+de Affonso de Albuquerque «que tem as pontas de diamantes», e logo a
+seguir a outras que pertenciam á Cidade, segundo o que se lê no _L.^o
+1.^o do Tombo das propriedades foreiras á Camara_, codice do Archivo
+Municipal.
+
+Sobre a fonte erguiam-se umas casas, onde, na occasião deste arrolamento
+(1565), morava um tal Francisco d'Arruda, de quem, infelizmente, Bastião
+de Lucena não mencionou a occupação.
+
+[12] Temos a opinião de que o _Summario_ não sahiu a lume antes de 1554,
+embora se haja inferido das expressões de seu antes compilador, do que
+auctor, a data de 1551.
+
+[13] É forçoso confessar que Bastião de Lucena, o escrivão deste
+recenseamento, teria feito, se de tal se lhe quizesse suppôr o
+proposito, quanto houvera sido preciso para negar á posteridade a
+existencia do velho Johanes Blavius, tão mal affirmada nas folhas
+amarelladas do codice, onde lhe foi desfigurado o nome.
+
+O respectivo lançamento diz, com effeito, e em verdade, o seguinte:
+
+«It cladio colon Inprimidor em cassas de bento giz av^{do} [~e] tres
+mill rs paguara xxj rs»
+
+Ora, não só não houve nenhum impressor estabelecido, deste tempo, que se
+chamasse Claudio, querendo ver a falta de um «u» no nome proprio escrito
+por Lucena, nem o «imprimidor» arrolado era simples «obreyro»; isto é,
+official typographo, para nós desconhecido, porque, nesse caso, o
+escrivão do recenseamento o declararia tal, como o fizera a respeito de
+Miguel de Arenas, e o fez, referindo-se a Marcos Borges, segundo adiante
+veremos.
+
+O presumivel, pois, será que Bastião de Lucena haja desfigurado o nome
+de João Blavio, reunindo em dois inintelligiveis vocabulos o appelido do
+impressor, e a indicação da sua terra natal.
+
+[14] De certeza, temos que a «_Primeira Parte da Chronica dos Menores_»,
+de Fr. Marcos de Lisboa, que João Blavio imprimira em 1557, editada por
+João de Borgonha, foi reimpressa por Manoel João, em 1566. Pareceria
+curial que o impressor da 1.^a edição, estando ainda vivo, e
+estabelecido, como o vemos pelo texto, fosse o encarregado da
+reimpressão, tanto mais que foi o mesmo João Blavio que em 1562
+imprimiu, por conta daquelle opulento editor, a _Segunda Parte_ da
+indicada _Chronica_.
+
+Pelo numero de obras, de que ha noticia terem existido, sem que
+chegassem até nós, se póde fazer idéa de quantas se terão perdido, em
+edições que se não repetiram, e não conheceremos jamais.
+
+Não anda liquido qual fôsse a 1.^a ed. do _Palmeirim_, em linguagem
+portuguêsa, sendo certo que, se o conselheiro Macedo teve a que dizia
+ser 3.^a ed., impressa em 1564, outras duas anteriores houvera já, que
+assim como esta, se não conhecem.
+
+Tampouco se conhece a 1.^a ed. da _Aulegraphia_, de Jorge Ferreira de
+Vasconcellos, deduzindo-se apenas pelo titulo da de 1561 dever ser esta
+a 2.^a, pelo menos.
+
+Da _Comedia Ulysipo_, do mesmo Jorge Ferreira, tambem se não conhece a
+1.^a ed., muito anterior, por certo, á que seu genro D. Antonio de
+Noronha emprehendeu em 1619. Quanto aos _Triumphos de Sagramor_, do
+mesmo Ferreira, resta saber se as conjecturas de Innocencio, ácerca da
+existencia desta obra prevalecerão, ou não.
+
+Enfim, uma prova, ainda que indirecta, de que se imprimiram no seculo
+XVI^o. obras, de que nenhuma noticia resta, é que ha, applicados a
+outras obras conhecidas, frontispicios que decerto não foram feitos para
+ellas, senão para outras, em que pela primeira vez appareceriam, sem se
+saber quaes fossem, e quem hajam sido seus autores.
+
+[15] Obras do Poeta Chiado, colligidas, &, por Alberto Pimentel.
+
+[16] «_T^o Da freguesia De San Nicoláo_», fol. 176.
+
+«It Marcos Borjes Inprimidor obreyro em cassas da molher do doutor ant^o
+medis/Bracal paguara x b j i rs»
+
+[17] Eis o texto completo do rosto desta obra:
+
+«_Paradoxo ou sentença philosophica contra a opinião do vulgo: Que a
+natureza não fez o homem senão a industria. Dirigido ao muy alto &
+inuictissimo Rey de Portugal dom Sebastião Primeyr_ (sic) _deste nome.
+Por Jo Cointha Senhor des Boulez Fidalgo frances... Agora nouamente,
+feyto & impresso nesta cidade de Lixboa em casa de Marcos Borges
+empressor del Rey nosso senhor. Ao primeyr_ (sic) _de Janeyro de 1566.
+Vede se na empressão detras de nossa senhora da Palma_».
+
+Em 29 quartos de papel, sem numeração. Innocencio descreve o exemplar
+deste raro opusculo pertencente a Figanière.
+
+[18] «Arcos por traz da Ermida da Palma.» Lado de L. 4 propriedades;
+lado do S. outras 4. _Tombo do Bairro do Rocio, fls. 156 e 156 v.^o_
+
+Como simples esclarecimento, que facilite o ajuisar da situação desta
+ermida, diremos que ficava por muito proximo do pequeno largo ainda
+agora conhecido por largo dos Torneiros, rasgando-se na rua dos
+Fanqueiros, na extrema L. da rua de S. Nicolau.
+
+[19] «_A Imprensa em Portugal no seculo XVI_», artigo de Sousa Viterbo
+_in Diario de Noticias_, de 5 de setembro de 1898.
+
+[20] O segundo destes valiosos estudos foi dado a lume na _Archeologia
+Artistica_, 1.^o anno, vol. I, fasc. II, publicada pelo sr. Joaquim de
+Vasconcellos--Porto, 1873.
+
+[21] Manoel João rubricou os fêchos do 1.^o e do 2.^o Livros desta
+compilação, imprimindo «Manoel», empregando, comtudo, o «u» nos tres
+ultimos. Notemos que Tito de Noronha é tambem um de nossos diversos
+auctores modernos que seguem o exemplo dos que, nomeadamente no seculo
+XVII.^o, adoptaram o «o» na graphia do nome proprio «Manoel»,
+distinguindo-o assim, e crêmos que bem, do seu igual castelhano.
+
+Francisco Manoel, Bocage, que adoptou para distinctivo academico o
+anagrama do seu baptismal: _Elmano_, e já bem proximo a nós o estadista
+Manoel da Silva Passos, ortographaram com «o» o seu nome proprio. A
+mesma pratica se observa entre as familias nobres que usam deste nome
+proprio, por appellido ou sobre-nome.
+
+[22] Uma anterior edição deste _Regimento_, datada de 1542, sahira dos
+prélos de Germão Galharde. Innocencio cita-a na letra A (Artigos), e
+Tito igualmente se lhe refere na monographia _Ordenações do Reino_, pag.
+82.
+
+[23] O pobre do guarda-roupa, improvisado pregoeiro das grandezas de
+Lisbôa, não attendendo a mais nada, sommou os «roles» das vias públicas
+das 23 freguezias que os tiveram (porque S. Martinho não teve «role»), e
+achou o total das 521, das tres categorias, que pormenorisou quasi no
+final do livro, sem contar as 2 calçadas e alguns «adros» que elle, ou
+outrem, fez entrar na especial dos «62 Postos», a que no texto se fez
+referencia.
+
+Não attentou, porém, o diligente chronista lisbonense na _compartilha
+parochial_, e sommando, sem mais exame, as 23 relações de vias públicas
+que os priores e curas da cidade lhe facilitaram, por ordem do
+Arcebispo, não deu porque 38 destas, obedecendo áquelle sistema, se
+apresentam _80 vezes_ repetidas por 2 e 3 freguezias, o que reduziu, por
+conseguinte, a 479 o numero verdadeiro das vias públicas constantes do
+_Summario_.
+
+Deve porém advertir-se que na Lisbôa do tempo deste livro havia já muito
+antigas vias públicas que, por qualquer circumstancia, nelle não
+figuram. Daremos para exemplo, por ter adquirido a particular
+notoriedade que lhe vem de figurar no _Monge de Cister_, a celebre «rua
+de D. Mafalda», que os lançadores de 1565 arrolaram, «com suas travessas
+e hospital» (o dos Palmeiros), na freguezia da «Madanela».
+
+[24] Já deixámos explicado como o vocabulo «congro» traduz, neste caso,
+um acentuado barbarismo. Ao vulgo, é mais que certo, escapou
+naturalmente o termo letrado «combro», de que poucos estariam, neste
+tempo; como ainda agora, no caso de alcançar o significado. A ignorancia
+dos letreireiros que, ao alvorejar o seculo transcurso, foram
+encarregados pela Administração Geral dos Correios de appôr os disticos
+nas vias públicas da nossa capital, foi origem a muitos desconcertos
+desta ordem. Assim, o Pateo do «Porcili», appelido italiano, foi
+convertido em Pateo do «Pocildes», o beco dos «Beguinos» ficou-se
+chamando beco dos «Biguinhos»; outro beco, o da «Calheta»,
+transformou-se em beco da «Galheta», a Praça dos «Remolares» foi muito
+tempo conhecida por Praça dos «Romulares», &. Infelizmente, não occorreu
+verificar se a graphia dos _artistas_ saíra triumphante da prova, e por
+isso, ainda agora se andam remediando estas aberrações ortographicas
+municipaes.
+
+[25] Este _Conde_ era um Domingos Fernandes, que tinha por alcunha «_o
+conde_». Era «porteiro do concelho», e morava na rua a que déra a
+alcunha, em casas suas.
+
+Pela coincidencia, notaremos que, ha quarenta e tantos annos,
+estacionava na então denominada Rua de S. Francisco, um moço de fretes,
+chamado tambem Domingos Fernandes, e que tendo sido criado de Almeida
+Garrett, era conhecido pela alcunha: _o visconde_, do titulo daquelle
+que fôra seu patrão.
+
+[26] Não se nos afigura fóra de proposito esclarecer que o Chão
+d'Alcamim («Alcamim, hortaliça sêcca», segundo Fr. João de Sousa, _in
+Vestigios da Lingua Arabica_), antigo cemiterio mourisco, e
+posteriormente provavel cemiterio da freguezia de S. Mamede, formava a
+divisoria territorial das duas freguezias, esta, e a de S. Christovão,
+uma das suas convisinhas. Ficava sobranceiro ao modesto mas antiquissimo
+edificio parochial daquella invocação; isto é, occupava o terreno por
+onde agora discorre a calçada do conde de Penafiel, e ligava-se á Costa
+do Castello, tal qual esta calçada se liga á juncção da extrema da rua
+do Milagre de Santo Antonio com o principio da sobredita Costa. A igreja
+parochial de S. Mamede assentava no sitio da meia laranja, denominada
+Largo do Correio-Mor.
+
+Ainda em principios da segunda metade do seculo passado, o terreno
+montuoso onde fôra o Chão d'Alcamim era vulgarmente conhecido pela
+denominação de _Entulhos da rua de S. Mamede_. No alto da rampa que se
+rasga sobre a Costa, e no rez-do-chão do predio que para ella faz
+esquina, á esquerda de quem sobe, estava estabelecida, na face de leste,
+sob o n.^o 5, a tipographia de Luis Correia da Cunha, onde se imprimia,
+em 1860, a edição em 16.^o dos Lusiadas, de Luis de Camões, adoptada
+para texto poetico nos Institutos de ensino livre, daquella época. Esta
+edição foi repetida pelo mesmo tipographo, em 1864, em formato igual, e
+igual numero de paginas.
+
+[27] Como estamos no terreno resvaladio das supposições e das
+probabilidades, seja-nos permittido aventurar a supposição de que este
+dr. João de Barros possa ser o proprio homonymo do auctor das _Decadas_,
+com quem alguma vez foi confundido, e que em 1540 deu a lume na cidade
+do Porto o _Espelho de Casados_, impresso por Vasco Dias Tanco de
+Frexenal. Dr. João de Barros ou nasceu no Porto ou em Braga, e vivia
+ainda em 1553, mas, se como informa Barbosa Machado, elle foi do
+Desembargo do rei D. João III, e seu escrivão da camara, não sería
+impossivel que, fixando residencia, por tal facto, era Lisbôa,
+adquirisse para sua habitação a casa onde Manoel João estabeleceu a sua
+officina.
+
+[28] É patente que todo aquelle plaino, aquella _achada_ de que ahi
+perto se perpetúa a secular recordação (largo e rua assim denominados)
+passou, e por mais de uma vez, por grande transformação, depois do
+terremoto de 1755. Os antigos paços de S. Christovão, que occupavam na
+parte posterior muito maior area, do que a do actual palacio que foi dos
+Vagos, ficaram circumscriptos ao que ahi vemos. O lado esquerdo das ruas
+do Regedor e de S. Christovão foi refeito. O proprio adro da parochia,
+onde havia _dois_ cruzeiros, foi modificado. A medieval «travessa do
+monturo do benete» converteu-se, se não no todo, em parte ao menos, nas
+Escadinhas de S. Christovão; o «arco de João Corrêa», que se encostava á
+esquina dos velhos paços, donde a gentil princeza, irmã de Affonso V,
+sahiu desposada para Allemanha, refeito com o palacio novo, desappareceu
+posteriormente, deixando por testemunha da sua existencia ali o grande
+chanfro que modificou o cunhal do palacio, tal qual o lá vemos.
+
+[29] Esta noticia, transcripta como no texto advertimos, do livro
+opportunissimo de Venancio Deslandes, e se lê a pag. 42, nota 1,
+conjugada com os largos esclarecimentos da pag. 63 e seg. nota 1, da
+mesma obra, ácerca do rarissimo _Tratado_ de Bento Fernandes, vem
+esclarecer o intrincado caso a que Innocencio se refere, ao registar
+este auctor, no vol. II do seu _Diccionario_.
+
+Após ter inscripto a obra, sob o n.^o 1858, seguindo a indicação de
+Antonio Ribeiro dos Santos, que em suas _Memorias_, a pag. 108, déra
+noticia della, como impressa no Porto, em 1541, por Vasco Dias Tanco de
+Frexenal, parecendo, todavia, não a ter visto, nota, com effeito, o
+experiente bibliographo que Barbosa já se referira a esta mesma obra,
+como impressa em 1555. Innocencio fecha a sua noticia, confessando que
+tambem nunca vira o _Tratado_, nem sabia onde existisse.
+
+Agora se concilia, pois, tudo. Bento Fernandes terá, com effeito, dada
+uma 1.^a edição em 1541, tirada dos prélos de Vasco Dias Tanco,
+repetindo 2.^a no proprio anno em que parece ter fallecido, a julgar
+pelo que escreveu o auctor da _Descripção Topographica do Porto_; isto
+é, em 1555, utilisando agora os serviços de Francisco Corrêa.
+
+Accrescente se que Noronha, no final das _Tabellas_ da _Imprensa
+Portugueza no Seculo XVI_, pag. 29, assigna a Vasco Dias Tanco os annos
+de 1540 1541, como os da sua permanencia no Porto, onde teria impresso 3
+obras. Do mesmo modo, na Introdução do _Espelho de Casados_, do dr. João
+de Barros, fol. 7, v.^o, regista a presença de Francisco Corrêa naquella
+cidade em 1555.
+
+Vê-se, pois, que os dois auctores estão perfeitamente concordes, no
+tocante a cada uma das phases da vida dos dois tipographos, supra
+alludidas.
+
+[30] «T.^o da fr. da Magdalena», f.^o 82 v.^o
+
+[31] Aliás _Lisarte_, de que, definitivamente, veíu a formar-se
+_Lisardo_, por ex. «_Silvya de Lysardo_» (1597), passando assim o que
+parece ter sido nome proprio a appelido, como o seu consimilhante
+_Jusarte_, que de ambos os modos foi, de frequencia, empregado.
+
+A Jusarte Pacheco, morto no accomettimento de Calecut, filho do grande
+Duarte Pacheco, chama Gaspar Corrêa «Lisuarte Pacheco», segundo se lê na
+_Lenda de Affonso de Albuquerque_, pag. 19. Na descendencia do genovês
+«Salvago», naturalisado pelo rei D. Manoel, anda um Jusarte Salvago, a
+quem D. João III nomeou Almoxarife dos Armazens de Lisboa.
+
+De Jusarte, appellido, se deriva Zuzarte, e assim o nota o sr. Anselmo
+Braamcamp Freire, descrevendo o Brasão dos Jusartes na _Armaria
+Portuguesa_, pag. 284, da folha appensa ao Arch. Hist. Port., vol. VIII,
+fasc. 87 e 88.
+
+Ao passo, porém, que Jusarte alterna com Lisuarte ou Lisarte, como nomes
+proprios, vêmos Jusarte empregado n'este mesmo seculo, e muito proximo
+aos tempos dos Pachecos, na India, como appelido.
+
+Assim, o proprio Gaspar Corrêa, além de outros de menos nomeada, se
+occupa extensamente na _Lenda_ do 5.^o Governador D. Duarte de Meneses,
+de Martim Affonso de Mello Jusarte, capitão de Ormuz, cujos trabalhos em
+Malaca e outras partes narra com individuação.
+
+Este appelido, revivescendo no seculo XVII na pessoa do escriptor Fr.
+Pedro da Cruz Jusarte, vem até nossos dias ligado a uma das familias
+mais consideradas do Alemtejo; a dos Condes de Avillez, cujos
+antepassados e descendentes o empregam logo a seguir ao sobrenome--p.
+ex.: «Jorge d'Avillez Jusarte de Sousa Tavares de Campos».
+
+Quanto ao ramo dos Zuzartes, vemos, ainda no _Tombo Pombalino_ D.
+Marianna da Silva Zuzarte, proprietaria em 1755 de casas no beco do
+Bugio. Quando, posteriormente, se formou a rua da Saúdade, derrubada a
+parte do beco onde taes casas eram, foi-lhes marcado terreno e
+alinhamento na nova rua, para a reconstrucção, que veiu a receber o
+numero de policia 8. Em nossos dias, era proprietario d'estas casas um
+cavalheiro Araujo Zuzarte, antigo administrador de um dos Bairros d'esta
+Cidade.
+
+[32] Isto é: 455 réis.
+
+[33] Este «Ilusuarte Peris», cujo nome e appelido parecem ter soffrido a
+truculenta sorte de João Blavio de Agripina Colonia, sob a pena barbara
+de Bastião de Lucena, era proprietario na rua que tinha o seu nome,
+sendo elle que, provavelmente, a _fundou_, á semelhança de outros muitos
+exemplos mais, quer por aforamentos feitos á corôa dos terrenos onde se
+edificavam as primeiras casas, quer por qualquer outro modo que
+attribuísse aos _fundadores_ um tal qual direito de propriedade no
+denominar das vias públicas.
+
+As casas de Ilusuarte Peris constam dos lançamentos 27 a 29 do grupo
+comprehendido no titulo expresso no texto, e tinham por inquilinos:
+
+«Margaida Ribeyra, Francisca Anriquez, molher cortezan e Eytor
+Fernandes, Indio».
+
+O mesmo Ilusuarte Peris tinha tambem outras casas na «rua das
+Cristaleyras» e ahi eram seus inquilinos uma viuva e um tintureiro. Esta
+rua apparece já nos roes de Christovão (1554?). A de «Ilusuarte Peris»
+deve ter-se formado nos annos que separam a obra do guarda-roupa do
+Arcebispo lisbonense do recenseamento que estamos examinando.
+
+[34] Em qualquer das duas edições da _Pratica Darismetyca_ (1519 e
+1530), impressas por Galharde, se declara este «_frãcez_», passando a
+primeira por ter sido a sua estreia, como chefe de officina. Por igual
+lhe declara a nacionalidade a subscripção do Livro 2.^o das
+_Ordenações_, bem como a do 3.^o, e ainda a dos _Statutos da Ordem de
+Santiago_, não sendo difficil que se registem mais exemplos.
+
+Tambem no _Memorial de Pecados_, de Garcia de Resende, impresso em 1521,
+apparece o appelido d'este impressor composto, em parte, á
+francesa;--«_Gaillarde_», e nas _Ordenações_, «_Galhard_». Além d'estas,
+ha outras variantes, taes como, a da _Cronica llamada el triunfo, &_,
+onde parece que se lê «_Gallarde_», e a do _Cerimonial da missa_, que
+imprime «_Gallardo_». Na _Cartilha que cont[~e] breuem[~e]te_ é que o
+appelido do celebre impressor apparece como veiu a ficar:--«_Galhardo_».
+
+Na diplomatica de D. João III chama se-lhe: «_Germão Galharte_».
+
+[35] Affirma-o, como facto por elle proprio verificado, o conspicuo
+bibliographo Tito de Noronha, _in_ Ordenações do Reino--Seculo XVI,
+_apud_ Archeologia Artistica, _1.^o anno, vol. 1, fasc. II, cap. XI_,
+pag. 76 (1873).
+
+Repetiu a affirmativa _in_ A Primeira Edição dos Lusiadas, Porto, 1880,
+a pag. 80, nota (68), _in fine_.
+
+[36] _Jornal do Commercio_, de 2 de maio do 1871.
+
+[37] Mais outra vez vem a lume o titulo d'este livro quasi quatro vezes
+secular. É como segue:
+
+«Missale secumdum consuetudinem Elborensis ecclesiae noviter impressum».
+
+Na subscripção final lê-se:
+
+«Impressum Ulixipone expensis magistri Antonii Lermet Elborensis
+civitatis librarius per Germanus Galhardum. Anno salutis nostre
+millessimo _quingentessimo nono_. Pridie Kalendas martii. Deo Gratias».
+
+Assim, pelo plausivel alvitre de Tito de Noronha, entre
+«_quingentessimo_» e «_nono_» devia ter-se composto _vigesimo_, falta
+que só quem não sabe quanto é facil de escapar, ainda ao mais attento
+revisor, o salto da composição de um vocabulo entalado entre outros, e
+n'uma data, principalmente, não comprehenderá. No texto se exemplifica
+um curioso similhante caso de nossos dias.
+
+[38] Em sua Bibliographia Historica Portugueza consigna Figanière ter
+visto em um exemplar da terceira Decada da *Asia*, de João de Barros,
+impresso por João de Barreira em 1563, a omissão typographica M. D.
+LIII.
+
+[39] Isto é, em 1513-«Ordenações do Reino--Seculo XVI», pag. 31.
+
+Adiante veremos que a conjectura não se confirma.
+
+[40] Gaspar Nicolas, natural de Guimarães, foi escrivão da tabola de
+Coimbra e das cizas da mesma cidade, como consta de varios diplomas de
+nomeação e quitação, das chancellarias de D. Manoel e D. João III, no
+Arch. Nac. da Torre do Tombo.
+
+Era, pois, como hoje diriamos, um funccionario de fazenda, e, portanto,
+no caso de se occupar da materia que foi assumpto ao seu, desde seculos,
+rarissimo livro.
+
+Tito de Noronha determinou, em 1874, o começo da actividade officinal de
+Germão Galharde, pelo conhecimento que teve do exemplar e edição citados
+no texto; exemplar, pertencente, ou que veiu a pertencer ao sr. visconde
+de Azevedo. Innocencio, porém já em 1859 notava que no catalogo da
+livraria de Joaquim Pereira da Costa andava descripto um exemplar da
+_Pratica Darismetyca_, com a data de 1519. Ao diligente bibliographo,
+parecia, comtudo, _erro_ semelhante data, e aqui vêmos como se enganou!
+
+Germão Galharde, como está registado no começo da nota ^1, de pag. 44,
+fez 2.^a edic. do Tratado sobredito em 1530.
+
+[41] Eis as expressões do fecundissimo polygrapho:
+
+«Duvido se tem V. m. já noticia de outro livrinho que estou imprimindo,
+e o fiz mais depressa do que a _Calsada dos Galhardos_. Chamo-lhe
+Pantheon, terá quatro até sinco folhas, com 2500 versos.»
+
+Bibliot. Nacion. de Lisbôa--MM s.--Fundo antigo, 155. «Cartas de D.
+Francisco Manuel de Mello a Antonio Luiz de Azevedo, com introd. e
+notas, por Edgar Prestage--Imp. Nac. 1911». É a n.^o 24, e o passo lê-se
+a pag. 70.
+
+[42] Este pateo é o primeiro, á esquerda, na rua de Santo Ambrosio,
+tendo o portão que lhe dá entrada o n.^o 17. Depois que os Galhardos o
+largaram, habitaram ahi _as Patinhas_, isto é, as filhas de um Don José
+Patiño que exerceu aqui, em Lisbôa, qualquer cargo official do seu
+país.--Um appelido estrangeiro convertido em assumpto de galhofa.
+
+Morreram _as Patinhas_, e succedeu na denominação do pateo um tal José
+Alexandre, que ahi persistiu até ha pouco.
+
+Hoje, o Pateo é _Villa_, porque os estrangeirismos, ainda que prestem a
+riso, são-nos mais bem acceitos, do que o que sempre teve sabor
+nacional. Já o dizia, ainda que por fórma muito mais conceituosa, no
+seculo XVII, um dos nossos mais distinctos escriptores.
+
+Emfim, a _Villa_ appellida-se «_Domingues_», e voltará a andar por ali
+outra vez o dominio castelhano...
+
+[43] Frontispicio:
+
+«_Reportorio dos tempos em linguajem português.
+
+Foy impresso em Lixboa em casa de Germão Galharde, Anno 1560._»
+
+Fecho:
+
+«_Acabou-se o Reportorio dos Tempos em linguagem português. Agora
+nouamente emendado e impresso cõ muytas cousas acrescentadas de nouo_,
+etc., _O qual foy impresso em a muy nobre e s[~e]pre leal cidade de
+Lixboa, em casa da viuua, molher que foi de Germão Galharde [~q] sancta
+gloria aja. Anno de 1560._»
+
+[44] Reservados da Bibliotheca Nacional--A--443.
+
+[45] Tendo nosso presado amigo, sr. dr. Antonio Baião, publicado no
+Archivo Historico Portuguez, vol. VII, pag. 150 e seg., (1909) o
+extracto desta denuncia, como fazendo parte de suas noticias ácerca da
+_Inquisição em Portugal e Brazil_, appensaremos aos presentes _Estudos_
+o seu teor, na integra, para que nossos benignos leitores possam ajuisar
+plenamente do valor deste documento, não só quanto ao caso que nos
+occupa, senão tambem quanto ao que elle revela, sob o ponto de vista do
+triste estado dos espiritos em Portugal, na época tão bem retratada no
+predito documento.
+
+Ao nosso presado amigo muito agradecemos o grande obsequio que lhe
+ficámos devendo, com a copia deste depoimento, que tão amavel quão
+solicitamente se serviu communicar-nos.
+
+[46] Entre as gravuras frontispiciaes conhecidas do seculo XVI algumas
+ha que foram executadas para obras que não chegaram até nós. Lembra-nos,
+por exemplo, a que se vê na Sala dos Reservados da Bibliotheca Nacional,
+n.^o A--149, que deve ter sido expressamente aberta para obra differente
+daquella em que ali se nos patenteia, e que todavia, se não conhece.
+
+Porventura se terá presente o que, referindo-nos em uma das Notas do
+Cap. IV, á _Primeira Parte da Chronica dos Menores_, de Fr. Marcos de
+Lisboa, se nos offereceu ponderar, a respeito de obras que se sabe terem
+sido impressas, mas que de todo desappareceram.
+
+[47] Nosso venerado Patrono, Diogo Barbosa Machado, já déra noticia
+desta obra, com a competente indicação, _ipsis verbis_, do respectivo
+titulo.
+
+A ella se referiu, repetindo-o, ainda que menos pontualmente, o
+incançavel Innocencio, notando, com assás de razão, as imperfeições
+infelismente commettidas pelo douto Antonio Ribeiro dos Santos, no
+tocante a este particular motivo.
+
+Ultimamente, o Sr. Anselmo Braamcamp Freire deu a descripção da obra, e
+seu titulo, imprimindo este com toda a perfeição, _in_ Archivo Historico
+Portuguez, vol. VIII, n.^{os} 8 a 11 (92 a 95--1911), fielmente
+transcriptos uma e outro dos que lhe deu a Sr.^a D. Carolina Michaëlis
+de Vasconcellos, por copia do exemplar que a S. Ex.^a pertence. É este
+mesmo titulo que está presente na occasião, e se transcreve de
+preferencia aos dois citados _supra_.
+
+[48] Manda, todavia, a Ordenação, no Liv. II, Tit. 61, «que qualquer
+pessoa que de nós tiver Privilegio, de qualquer sorte que seja, ou que o
+tenha por respeito da pessoa com quem viver, em qualquer maneira que
+pelo Privilegio da tal pessoa guardado fôr, tenha lança de _vinte
+palmos_, ou dahi para cima, em sua casa».--Isto é, tenha lança de
+4,^{m}40, ou superior a esta medida.
+
+Vê-se, portanto, do confronto dos dois textos que a medida-padrão destas
+armas diminuira, pelo discurso do tempo, muito perto de 0,50.
+
+Na Europa do XIV.^o seculo, a medida mais commum das lanças com que se
+armava a gente collecticia a soldo de qualquer procer, era, segundo
+Cibrario, _in_ Economia Politica da Meia Edade, de _dezoito pés_, o que
+corresponde a 5,^{m}94.
+
+[49] Carta de 14 de fevereiro de 1530, _in_ Deslandes, Doc. para a Hist.
+da Typ. Portug.
+
+[50] Este vocabulo, e o seguinte em abreviatura, «morador», denunciam
+uns restos de barbarismos de concordancia, que ainda nesta epoca já
+adiantada do seculo, e até no seguinte, transparecem aqui, ali, no
+commum falar e escrever.
+
+Reinava uma como especie de preguiça em acommodar á fórma feminina os
+vocabulos em _or_, e um que outro mais.
+
+A materia foi superiormente versada pelo tão infeliz, quão abalisado
+philologo Francisco Dias Gomes, que em sua «_Analyse sobre a elocução e
+estylo de Sá de Miranda_», deu, entre varios exemplos, um, com o
+primeiro dos dois apontados vocabulos, tirado de Ruy de Pina:--«E a
+entregou aa Ifante Dona Briatriz como _titor_ que era do duque Dom Diogo
+seu filho.»
+
+Correlativamente, os determinativos não acompanhavam a fórma feminina
+que designavam, como n'aquelle caso que nos occorre do informador de
+Christovão Rodrigues de Oliveira: «_Os_ dignidades que ha na See.»
+
+A Memoria de Francisco Dias lê-se entre as de Litteratura da Academia,
+tom. IV, pag. 26 e segg.
+
+[51] A freguezia de Santa Engracia só teve Breve de desannexação da de
+Santo Estevão em 1568. Só depois de 1606 é que o edificio parochial foi
+patente ao culto. O parocho de Santo Estevão pastoreou durante _trinta e
+um annos_ ambas as freguezias cummulativamente; isto é, desde 1576, anno
+em que começou, emfim, a vigorar a desannexação, até 1607, em que havia
+já na nova parochia cartorio proprio, e independente da parochia
+_mater_. Veja-se o que escrevemos no vol. VIII, pag. 5, do Archivo
+Historico Portuguez--1910--Art. _As Tenças Testamentarias da Infanta D.
+Maria_.
+
+[52] Já temos advertido que o livro do guarda-roupa do Arcebispo de
+Lisboa não pode ser da data que anda em costume attribuir-se-lhe;--1551.
+O proprio livro contém em alguma de suas paginas, ao referir-se á
+Misericordia, e ás esmolas que esta Instituição recebia, a confirmação
+do que affirmamos.
+
+Como, porém, o auctor conta ter sido no anno de 1551 que o Arcebispo lhe
+commetteu o encargo de fazer o livro, nada se oppõe a que desde este
+anno elle começasse a colligir os materiaes para elle, dirigindo-se aos
+parochos, para alcançar os «roles» das vias publicas, feitos--é
+evidente--á face das _desobrigas_. E como entre encommenda-los e o
+conseguir have-los á mão sempre mediaria algum tempo, sendo 25 os
+parochos collaboradores n'esta obra de louvores ás grandezas e
+magnificencias lisbonenses, pareceu-nos que pelos termos que empregámos
+alcançariamos exprimir com exacção o nosso pensamento.
+
+[53] E portanto _atafaneiro_. É vóz arabica;--«_atahana_».
+
+[54] O traçado descrito e os pormenores são os que resultam da leitura
+do passo respectivo no Tom. VIII dos _Elementos para a Historia do
+Municipio de Lisboa_, de nosso tão distinto colega, sr. Freire de
+Oliveira, aliada á do muito elucidativo texto tecnico da valedora
+monografia _A Cêrca Moura de Lisboa_, do nosso prestante amigo sr.
+Vieira da Silva.
+
+Nossa, é só a conjectura de que os edificadores da cêrca de D. Fernando
+apoiariam o postigo de Santo André á torre que a _barbacã_ ou cinta
+muralhada que circundava o monte do Castello ali poderia ter,
+aproveitando os lanços d'esta para ligarem á velha a nova cêrca,
+partindo, para a continuação da obra, do baluarte de S. Lourenço. Resta
+uma pergunta:--Tinha _toda_ a muralha que abraçava o monte do Castello,
+desde a Porta de D. Fradique até á porta da Alcaçova ou de S. Jorge ou
+vice-versa, antiguidade egual á do baluarte de S. Lourenço? Por outra, é
+tudo obra mourisca, ou anterior, se tal baluarte o é tambem?
+
+[55] Villa Quente, que um desagregamento do solo pendurado do monte do
+Castello subvertera em 1531, e passa, a nosso vêr, menos
+justificadamente, por um _tremor de terra_ mais, a ajuntar á longa lista
+dos que tem affligido Lisboa, no decorrer dos seculos, era um punhado de
+humildes casas, semeadas entre o começo da actual calçada de Santo
+André, e o «caminho que ía ao postigo do Monis», diante de cuja entrada
+havia uma «cruz de pao». A rampa que o pequeno povoado occupava para o
+N. da cinta muralhada que circumdava o monte do Castello, e o abrangia
+como um annel, em toda a sua circumferencia, estendia-se pelo limitado
+espaço que servia de recosto á cêrca de Santo Antão (Colleginho), vindo
+confundir-se com os meandros de betesgas e encruzilhadas que o separavam
+da Mouraria, constituindo o que alguma vez se chamou «o bairro da rua
+suja».
+
+[56] _Historia de Portugal_, vol. I, 3.^a ed. MDCCCLXIII; nota XXIII, a
+pag. 531.
+
+[57] Aforamento de um chão junto da Porta de Santo André, da banda de
+fóra, no principio da rua que vai da dita Porta para o postigo de Sam
+Lourenço, feito pela cidade ao dr. Affonso Figueira, onde este
+magistrado edificara umas casas que partiam da banda do Poente _com muro
+e torre da cidade, &_.
+
+Esta _torre_ é a que suppomos existir já na barbacã do Castello, no
+angulo formado pelo lanço que devia descer da Porta de D. Fradique a
+entestar com a parte que se continuava na rua que ia ao baluarte de S.
+Lourenço.
+
+Deveria jazer pela parte posterior do actual _Passo_, e terá sido
+aproveitada para guarda do Postigo de Santo André. Dominava assim a
+aspera calçada que se lhe desenrolava em frente, e vinha ligar-se á
+muito antiga «Rua dos Cavalleiros.»
+
+
+
+Lista de erros corrigidos
+
+
+Aqui encontram-se listados todos os erros encontrados e corrigidos:
+
+
+ +----------+---------------------+----------------------+
+ | | Original | Correcção |
+ +----------+---------------------+----------------------+
+ |#pág. 11| Bernaldim | Bernardim |
+ |#pág. 16| testemunh | testemunho |
+ |#pág. 22| ondo | onde |
+ |#pág. 22| admtitir | admitir |
+ |#pág. 46| typographfa | typographia |
+ |#pág. 57| quo | que |
+ |#pág. 66| persuadido | persuadidos |
+ | | | |
+ |#nota 38| Portugteza | Portugueza |
+ +----------+---------------------+----------------------+
+
+
+Os símbolos de igual (da pág. 81) foram substituídos por traços longos
+('--').
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of Noticia de livreiros e impressores de
+Lisbôa na 2ª metade do seculo XVI, by José Joaquim Gomes de Brito
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK LISBÔA ***
+
+***** This file should be named 24657-8.txt or 24657-8.zip *****
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+
+Produced by Rita Farinha and the Online Distributed
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+will be renamed.
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+(and you!) can copy and distribute it in the United States without
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+Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
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+do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
+rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose
+such as creation of derivative works, reports, performances and
+research. They may be modified and printed and given away--you may do
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+
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+things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
+even without complying with the full terms of this agreement. See
+paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
+and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
+individual work is in the public domain in the United States and you are
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+and the Foundation web page at http://www.pglaf.org.
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+ <title>Not&iacute;cia de livreiros e impressores em
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+<pre>
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+The Project Gutenberg EBook of Noticia de livreiros e impressores de
+Lisbôa na 2ª metade do seculo XVI, by José Joaquim Gomes de Brito
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: Noticia de livreiros e impressores de Lisbôa na 2ª metade do seculo XVI
+
+Author: José Joaquim Gomes de Brito
+
+Release Date: February 20, 2008 [EBook #24657]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK LISBÔA ***
+
+
+
+
+Produced by Rita Farinha and the Online Distributed
+Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was
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+
+
+
+
+
+
+</pre>
+
+
+<div>
+<div>
+<div class="fbox"><b>Nota de editor:</b>
+Devido &agrave;
+quantidade de erros tipogr&aacute;ficos existentes neste texto,
+foram tomadas v&aacute;rias decis&otilde;es quanto &agrave;
+vers&atilde;o final. Em caso de d&uacute;vida, a grafia foi
+mantida de acordo com o original. No final deste livro
+encontrar&aacute; a lista de erros corrigidos.<br />
+
+<br />
+
+<div style="text-align: right; font-style: italic;">Rita
+Farinha (Fev. 2008)
+</div>
+
+</div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<div class="bbox"><br />
+
+<h3>GOMES DE BRITO</h3>
+
+<br />
+
+<h2>
+NOTICIA<br />
+
+<br />
+
+<span class="smallcaps">de</span><br />
+
+<br />
+
+Livreiros e Impressores
+em Lisb&ocirc;a</h2>
+
+<h3><span class="smallcaps">na</span></h3>
+
+<h3>
+2.&ordf; METADE DO SECULO XVI</h3>
+
+<br />
+
+<div class="smallcaps" style="text-align: center;">composta
+em face de um codice<br />
+
+da camara municipal desta cidade<br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<div style="text-align: center;"><img style="width: 100px; height: 138px;" alt="" src="images/fig01.png" /><br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+<div style="text-align: center;"><br />
+
+1911<br />
+
+<br />
+
+<span class="smallcaps">Imprensa Libanio da Silva</span><br />
+
+<em>Travessa do Fala-S&oacute;, 24</em><br />
+
+</div>
+
+<div style="text-align: center;" class="smallcaps">lisboa</div>
+
+<br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h2>Livreiros e Impressores em Lisb&ocirc;a<br />
+
+na 2.&ordf; metade do Seculo XVI</h2>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>GOMES DE BRITO</h3>
+
+<br />
+
+<h2>
+NOTICIA<br />
+
+<br />
+
+<span class="smallcaps">de</span><br />
+
+<br />
+
+Livreiros e Impressores
+em Lisb&ocirc;a</h2>
+
+<h3><span class="smallcaps">na</span><span class="smallcaps"><br />
+
+<br />
+
+2.&ordf; METADE DO SECULO XVI</span></h3>
+
+<br />
+
+<div class="smallcaps" style="text-align: center;">composta
+em face de um codice<br />
+
+da camara municipal desta cidade<br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<div style="text-align: center;"><img style="width: 100px; height: 138px;" alt="" src="images/fig01.png" /><br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+<div style="text-align: center;"><br />
+
+1911<br />
+
+<br />
+
+<span class="smallcaps">Imprensa Libanio da Silva</span><br />
+
+<em>Travessa do Fala-S&oacute;, 24</em><br />
+
+</div>
+
+<div style="text-align: center;" class="smallcaps">lisboa</div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<div style="text-align: center;">Do <em>Boletim da
+Sociedade de Bibliophilos</em><br />
+
+<em>Barbosa Machado</em><br />
+
+<br />
+
+Tiragem: 50 exemplares<br />
+
+<br />
+
+N.&ordm; 44<br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<div style="text-align: center;"><img style="width: 500px; height: 172px;" alt="" src="images/fig02.png" /><br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>NOTICIA<br />
+
+<br />
+
+<span class="smallcaps">de
+</span><br />
+
+Livreiros e Impressores em Lisb&ocirc;a<br />
+
+<br />
+
+<span class="smallcaps">na</span><br />
+
+<br />
+
+<span class="smallcaps">2.&ordf; METADE DO SECULO XVI</span>
+</h3>
+
+</div>
+
+<br />
+
+<div class="sbreak">
+<hr /></div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+At&eacute; o tempo em que o Cardeal D. Henrique, depois
+rei, procedeu &aacute; nova circumscrip&ccedil;&atilde;o
+das parochias de Lisb&ocirc;a,
+erijindo mais cinco freguezias a ajuntar &aacute;s vinte e
+cinco j&aacute; existentes (1564 a 1569), demarcando-lhes o
+territorio
+nos recortes feitos a quatro destas, a secular compartilha
+que resultava deste regimen, estabelecido no intuito
+de accomodar o servi&ccedil;o religioso &aacute;s necessidades
+dos fieis, e sua mais immediata satisfa&ccedil;&atilde;o,
+soffrera tres
+remodela&ccedil;&otilde;es. Ordenara a ultima, durante a
+regencia do
+principe D. Jo&atilde;o, ausente em Fran&ccedil;a seu pai, o
+rei D.
+Affonso V, o celebre cardeal de Alpedrinha.<br />
+
+<br />
+
+Por effeito daquelle regimen, grande numero de vias
+p&uacute;blicas lisbonenses eram, como ainda hoje o s&atilde;o,
+compartilhadas
+por diversas freguezias confinantes. O
+<em>Summario</em>
+de Christov&atilde;o Rodrigues de Oliveira, apezar de
+imperfeito neste ponto, nos mostra, pela
+repeti&ccedil;&atilde;o das
+<em>denomina&ccedil;&otilde;es</em>,
+que n&atilde;o dos <em>disticos</em>,
+porque tal providencia
+estava ainda por nascer, quaes e quantas eram as
+<span class="pagenum">[6]</span>
+vias p&uacute;blicas compartilhadas, por effeito da
+remodela&ccedil;&atilde;o
+parochial ent&atilde;o vigente.<br />
+
+<br />
+
+Comprehendia-se entre as deste numero a muito falada
+&laquo;Rua Nova&raquo;, dividida em dois tro&ccedil;os, um
+mais antigo
+que o outro; um, o primeiro, fazendo parte do territorio da
+freguezia da Magdalena, o outro pertencendo &aacute; freguezia
+de &laquo;S. Gi&atilde;o&raquo; (S. Juli&atilde;o).<br />
+
+<br />
+
+Do mesmo modo, esta notavel rua da Lisb&ocirc;a medieva,
+que principiando no Pelourinho, &iacute;a entroncar na Calcetaria,
+era conhecida por duas denomina&ccedil;&otilde;es,
+correspondentes
+&aacute; sua compartilha. &Aacute; parte oriental, territorio
+da parochia
+da Magdalena, que terminava no Arco dos Barretes,
+chama Christov&atilde;o &laquo;Rua Nova dos Ferros&raquo;;
+a que
+desde o predito Arco &iacute;a embeber-se na Calcetaria, um
+pouco adiante do Chafariz dos Cavallos, &eacute; designada na
+rela&ccedil;&atilde;o do
+<em>Summario</em>, referida &aacute;
+freguezia de S. Gi&atilde;o,
+pela denomina&ccedil;&atilde;o de &laquo;Rua Nova dos
+Mercadores&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>I</h3>
+
+<br />
+
+&Eacute; em toda a extens&atilde;o da Rua Nova, de um e outro
+lado della, que, merc&ecirc; de um valioso codice pertencente
+&aacute; Camara Municipal de Lisb&ocirc;a<sup><a href="#1">[1]</a></sup>, n&oacute;s
+vamos encontrar, de
+porta aberta, nos annos intermedios dos j&aacute; preditos (1565
+a 1567), n&atilde;o s&oacute; alguns dos livreiros e editores
+j&aacute; conhecidos
+dos que conversam o passado literario de Portugal,
+mas outros tambem, ainda at&eacute; agora n&atilde;o
+mencionados.<br />
+
+<br />
+
+Come&ccedil;ando a juzante da formosa linha de agua com a
+<span class="pagenum">[7]</span>
+qual a Rua Nova andava, se pode dizer, parallela, o primeiro
+que se nos depara &eacute; Bartholomeu Lopes, que n&atilde;o
+deixou de si, que saibamos, memoria averiguada, mas que
+poder&aacute; ser, porventura, membro de uma notavel
+gera&ccedil;&atilde;o
+de livreiros deste appelido;&#8213;os Lopes.<sup><a href="#2">[2]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+Em 1563, isto &eacute;, dois annos, apenas, antes do primeiro
+dos dois a que o codice de onde extractamos estes apontamentos
+se refere, havia um Christov&atilde;o Lopes estabelecido
+&laquo;&aacute; Porta da S&eacute;&raquo;, segundo se
+v&ecirc; do titulo seguinte,
+que abreviamos, mas se pode ler completo em Innocencio,
+<em>Diccion. Bibliog.</em> II, 166:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;<em>Exposi&ccedil;am da Regra do glorioso
+Padre Sancto Augustinho...
+por frey Diogo de Sam Miguel, &amp;&#8213;Vendense</em> (sic)
+<em>&aacute; porta da See, em
+casa de Christouam Lopes
+Liureyro a dous tost&otilde;es em papel.&#8213;Foy impresso
+em Lixboa em casa de Joannes Blavio de Agrippina
+Colonia&#8213;Anno de 1563</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Vista a propinquidade dos annos, poder&aacute; acaso Bartholomeu
+Lopes ter sido irm&atilde;o, ou filho (?) de Christov&atilde;o
+Lopes,
+e seu successor, passando o estabelecimento da Porta da
+S&eacute; para a Rua Nova, ou estabelecendo-se elle ahi de novo.<br />
+
+<br />
+
+&Eacute; possivel tambem que este mesmo livreiro seja pae do
+livreiro-impressor Sim&atilde;o Lopes, que deu em Lisb&ocirc;a,
+em
+1593, a primeira edi&ccedil;&atilde;o do
+<em>Itinerario</em>, de Fr.
+Pantale&atilde;o
+d'Aveiro, as <em>Cartas do
+Jap&atilde;o</em>, etc., e em 1596 reimprimiu
+a <em>Chronica de D. Jo&atilde;o II</em>,
+de Garcia de Rezende.<br />
+
+<br />
+
+A seguir a Bartholomeu Lopes, seu visinho, estabelecido,
+at&eacute;, nas mesmas casas, tendo ambos por senhorio
+um tal Jeronymo Corr&ecirc;a, tinha a sua lojinha Sagramor
+<span class="pagenum">[8]</span>
+Fernandes. Era livreiro de modestas posses, a julgar pela
+avalia&ccedil;&atilde;o que os
+&laquo;lan&ccedil;adores&raquo;, para tal effeito
+deputados,
+deram &aacute; sua fazenda, na propor&ccedil;&atilde;o de
+cuja totalidade deveria,
+como todos, pagar o respectivo escote. O nome baptismal
+do homem era novellesco, mas as
+<em>cavallarias</em>, ao
+que parece, n&atilde;o eram grandes.<br />
+
+<br />
+
+A influencia das novellas de cavallaria faz-se ainda sentir
+em toda a sua pujan&ccedil;a no codice que nos facilita esta
+noticia, imprimindo-lhe um matiz pictoresco e variado.<br />
+
+<br />
+
+O nome novellesco do obscuro livreiro n&atilde;o &eacute; unico
+entre
+os seus congeneres de ambos os sexos, inscriptos neste
+curioso recenseamento. A par dos Sagramor ha os Lan&ccedil;arote;
+de envolta com as Ginevras passam as Briolanjas.
+A procedencia francesa e a italiana, dando-se as m&atilde;os.
+Lan&ccedil;arote &eacute; o &laquo;Lancelot&raquo;
+francez; Lancelot du Lac, o heroe
+cavalheiresco de Gauthier Mapp, o amigo de Henrique
+II de Inglaterra. Sagramor &eacute; o
+&laquo;Sagromoro&raquo; milanez,
+que Jorge Ferreira aportuguesou, fazendo-o heroe do seu
+<em>Memorial</em>; Sagramor Constantino,
+designado por el-rei
+Arthur para seu successor, se a sorte das armas lhe f&ocirc;sse
+adversa.<br />
+
+<br />
+
+Por aproposito, lembraremos a d&uacute;vida que Barbosa Machado
+fez nascer, &aacute;cerca da existencia dos
+<em>Triumfos de
+Sagramor</em>, novella que, segundo elle, teria sido
+impressa
+em Coimbra, em 1554, por Jo&atilde;o Alvarez, mas de que parece
+que nem o douto Abbade de Sever, nem, de certeza,
+o seu successor, o diligente Innocencio, viram j&aacute;mais
+exemplar
+algum. Ser&aacute; esta hypot&eacute;tica novella o proprio
+<em>Memorial</em>,
+assim duplicado pelo auctor da <em>Bibliotheca
+Lusitana</em>?
+Eis um curioso thema, digno, nos parece, de attrahir
+a atten&ccedil;&atilde;o da nossa Sociedade, e a que o artigo
+de
+Innocencio (IV, n.&ordm; 2095, pag. 170) prestaria a base.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[9]</span>
+Em compensa&ccedil;&atilde;o, por&eacute;m, algumas lojas
+mais adiante do
+modesto Sagramor achava-se estabelecido o opulento Jo&atilde;o
+de Borgonha. Livreiro-editor de nomeada, fornecedor de
+artigos do seu ramo para a fazenda de S. A., proprietario
+nas visinhan&ccedil;as do seu estabelecimento, e em mais de um
+sitio,<sup><a href="#3">[3]</a></sup> os
+seus teres, como negociante, foram avaliados
+em &laquo;um conto de r&eacute;is&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Na epoca em que o encontr&aacute;mos, tinha elle por seu
+&laquo;obreiro&raquo;, talvez o que hoje chamariamos seu
+&laquo;director-technico&raquo;,
+seu administrador ou seu apoderado, a um certo
+Miguel de Arenas, um castelhano, porventura, como da
+Borgonha seria, com effeito, o patr&atilde;o; estranjeiros quasi
+todos, estes negociantes das letras portuguezas do seculo
+XVI, que, vindo concorrer com os nacionaes, faziam,
+ao que parece, mais fortuna que elles.<sup><a href="#4">[4]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+Certo &eacute; que Miguel de Arenas estabeleceu-se posteriormente,
+com o mesmo ramo de commercio, de sociedade
+<span class="pagenum">[10]</span>
+com Jo&atilde;o de Molina; tambem, e mais vulgarmente conhecido
+por &laquo;Jo&atilde;o de Hespanha&raquo;, outro abastado
+mercador
+de livros, mas n&atilde;o tanto como o seu confrade borgonhez.
+O negocio de Jo&atilde;o de Hespanha foi avaliado em
+&laquo;duzentos
+mil r&eacute;is&raquo;. Como &laquo;obreiro&raquo; de
+Jo&atilde;o de Borgonha, Miguel
+de Arenas devia fazer bons interesses. Dos seus ordenados&#8213;e
+foi por esta circumstancia que o suppuzemos
+<em>empregado superior</em> da casa de seu
+patr&atilde;o&#8213;foram-lhe
+arbitrados &laquo;cinquo mill rs&raquo;, para na
+raz&atilde;o delles pagar o
+respectivo escote.<sup><a href="#5">[5]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+A Jo&atilde;o de Borgonha segue-se, nas tendas de Alvaro de
+Moraes, o livreiro Manoel Carvalho, provavelmente o pae
+de Sebasti&atilde;o Carvalho, que em 1598 publicou, em 3.&ordf;
+edi&ccedil;&atilde;o, a <em>Recopila&ccedil;am
+das cousas que conuem guardarse
+no modo de preseruar a Cidade de Lisboa</em>,
+instruc&ccedil;&otilde;es
+redigidas em 1569 pelos medicos Thomaz Alvarez
+e Garcia de Salzedo Coronel, e repetidas na primeira
+das datas a que acima nos referimos, &laquo;por mandado da
+cidade de Lisb&ocirc;a&raquo;, &amp;.<sup><a href="#6">[6]</a></sup>
+Sebasti&atilde;o Carvalho conservaria
+assim na mesma Rua Nova o estabelecimento paterno.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum"><a name="p11">[11]</a></span>
+Apresentam-se, logo em seguida a Manoel Carvalho,
+Diogo Machado, Jo&atilde;o Lopes e &laquo;Graviel&raquo; de
+Araujo, dos
+quaes n&atilde;o viramos ainda noticia, antes que o codice que
+lhes revelou a existencia no'los d&eacute;sse a conhecer. Ao ultimo
+destes segue Diogo Moniz, que por ter apresentado
+carta de familiar do Santo Officio, foi escuso do escote.
+Porfim, e quasi no extremo da parte da rua pertencente &aacute;
+freguezia da Magdalena, o &laquo;Grafeo&raquo;, isto
+&eacute;, o livreiro-editor
+Francisco Grapheo, em cujo estabelecimento se
+vendia a novella <em>Menina e
+Mo&ccedil;a</em>, de <a href="#e1">Bernardim</a>
+Ribeiro,
+impressa em Colonia, em 1559,<sup><a href="#7">[7]</a></sup>
+e uma das muitas
+edi&ccedil;&otilde;es
+da <em>Diana</em>, do nosso Jorge de
+Montemor, ao qual
+ainda n&atilde;o chegara a hora de ser inclu&iacute;do nos
+<em>Indices expurgatorios</em>
+das duas Inquisi&ccedil;&otilde;es peninsulares.
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[12]</span>
+<h3>II</h3>
+
+<br />
+
+Continuando na mesma Rua Nova, agora j&aacute; no territorio
+da freguezia de &laquo;S. Giam&raquo;; isto &eacute;, para
+a direita do
+Arco dos Pregos, ainda ahi encontramos um Francisco
+Mendes, que estar&aacute; no caso de Sagramor Fernandes, visto
+o diminuto do escote, bem como o &laquo;framengo&raquo; Giraldo
+de
+Frisa, que pertence tambem, ou nos enganaremos, ao numero
+dos da sua classe, de que n&atilde;o cheg&aacute;ra noticia
+at&eacute;
+nossos dias.<br />
+
+<br />
+
+Emfim, na mesma Rua Nova, e territorio da sobredita
+freguezia de &laquo;S. Giam&raquo; (S. Juli&atilde;o), mas
+da banda das
+Varandas, encontramos, fronteira ao Arco dos Pregos, a
+&laquo;viuva de Salvador Martel&raquo;, Leonor Nunes, a qual,
+estabelecida,
+com seu filho, nas casas de Fern&atilde;o d'Alvarez
+de Almeida, teve pelos lan&ccedil;adores a
+avalia&ccedil;&atilde;o de duzentos
+mil r&eacute;is.<br />
+
+<br />
+
+Salvador Martel foi livreiro conhecido. Dever&aacute; ter fallecido
+no decurso das opera&ccedil;&otilde;es do
+<em>Lan&ccedil;amento</em>, de
+cujo livro tiramos estas singelas notas, visto como Tito
+de Noronha ainda o refere ao anno de 1566.<sup><a href="#8">[8]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+Algum tanto mais atr&aacute;s, e tornando ao territorio da
+freguezia
+da Magdalena, voltando da rua de D. Gil Eanes,
+pelo &laquo;Pelourinho&raquo;, para a rua da Ourivesaria da
+Prata,
+<span class="pagenum">[13]</span>
+em cuja entrada tinham suas lojas os &laquo;calciteiros&raquo;,
+encontramos
+o livreiro Jeronymo de Aguiar, que tambem n&atilde;o
+conheciamos, e, ali perto, no Po&ccedil;o da Fot&eacute;a, o
+j&aacute; mencionado
+Jo&atilde;o de Molina, appelidado no codice que vamos
+percorrendo &laquo;Joh&atilde;o de Espanha&raquo;,
+livreiro-editor que rivalisava,
+sem comtudo o hombrear, como j&aacute; not&aacute;mos, com
+o seu opulento confrade Jo&atilde;o de Borgonha.<br />
+
+<br />
+
+N&atilde;o era, por&eacute;m, s&oacute; na famosa Rua Nova,
+e suas immedia&ccedil;&otilde;es,
+que se encontravam os mercadores de livros. Na
+rua direita da Porta do Ferro,<sup><a href="#9">[9]</a></sup>
+numas casas que ahi possuia
+a camareira-m&oacute;r, estava estabelecido &laquo;Jorge
+Dagiar&raquo;
+(Aguiar ou Aguilar?) talvez antecessor de Antonio de Aguilar,
+que nesse sitio teve a sua loja em 1576.<br />
+
+<br />
+
+Pelas vizinhan&ccedil;as, na &laquo;travessa da porta travessa
+da
+Madalena&raquo;, que se ligava &aacute; &laquo;rua do fim
+do p&eacute; da Costa&raquo;,
+tinham tambem suas lojas Francisco Fernandes e &laquo;Bautista
+da Fonsequa&raquo;.<sup><a href="#10">[10]</a></sup>
+L&aacute; para a Porta do Mar, entre a
+Mizericordia e a &laquo;Fonte da Pregi&ccedil;a&raquo;,<sup><a href="#11">[11]</a></sup>
+nas tendas da Cidade
+que jaziam nas costas do Terreiro do Trigo, vendia
+livros um tal Manoel Francisco, lojista de medianos teres,
+cuja fazenda foi avaliada em 10$000 r&eacute;is.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[14]</span>
+Por pouco mais abastado ser&iacute;a tido um Antonio Dias,
+com estabelecimento na rua da Gibetaria,&#8213;15$000 r&eacute;is
+de fazenda.&#8213;E nos mesmos casos Pero Castanho, l&aacute; para
+perto de Valverde, numa travessa que vinha de Paio de
+Novaes para aquelle sitio, isto &eacute;, por perto do Rocio.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>III</h3>
+
+<br />
+
+Estes s&atilde;o os livreiros que encontr&aacute;mos arrolados
+em
+1565-1567 no <em>Livro do
+Lan&ccedil;amento</em> que nos tem guiado.<br />
+
+<br />
+
+S&atilde;o <em>vinte</em>, isto
+&eacute;, mais do dobro dos que Tito de Noronha
+contou em sua j&aacute; lembrada Memoria, referidos aos
+mesmos annos.<br />
+
+<br />
+
+N&atilde;o poderemos, todavia, affirmar que o Jo&atilde;o Lopes
+(1588), da lista daquelle auctor, seja o mesmo que figura
+nestas singelas notas. A identidade n&atilde;o se nos afigura
+improvavel.<br />
+
+<br />
+
+Do Christov&atilde;o Lopes (1563), daquella lista, j&aacute;
+dissemos
+o que temos por presumivel. Quanto ao livreiro Antonio
+Curvete (1565), mencionado tambem por Tito, n&atilde;o se nos
+deparou no longo exame feito ao curioso codice, sob este
+particular ponto de vista. Isto n&atilde;o quere dizer que elle se
+n&atilde;o ache entre os 15:000 nomes contidos no volumoso
+recenso. Bem poder&aacute;, por&eacute;m, ter escapado, por
+isso que
+nem sempre as profiss&otilde;es dos fintados lhes acompanham
+<span class="pagenum">[15]</span>
+os nomes, ou achar-se-ha substituido por outro dos arrolados.<br />
+
+<br />
+
+Como quer que seja, um e outro do numero total dos
+livreiros, apontado por Tito de Noronha e por n&oacute;s, como
+estabelecidos em Lisb&ocirc;a entre 1565 e 1567, est&aacute;
+muito
+longe do que mencionou Christov&atilde;o, onze annos
+antes<sup><a href="#12">[12]</a></sup>&#8213;&laquo;54&raquo;.
+Este numero, na verdade, inconcebivel por si s&oacute;,
+e sem mais explica&ccedil;&otilde;es, &eacute; justificado
+pelo ignorado auctor
+da chamada <em>Estatistica de Lisboa</em>, de
+1552, que se
+guarda na Bibliotheca Nacional, de modo ass&aacute;s plausivel,
+e que, demais, acerta muito satisfatoriamente a nossa
+conta.<br />
+
+<br />
+
+Diz, com effeito, o auctor da
+<em>Estatistica</em>:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;Tem XX tendas de livreiros, e [na] maior parte delas
+i i j, i i i j criados e sser&atilde; as p<sup>as</sup>
+que nellas
+trabalham
+huas per outras lx...... 60 p<sup>as</sup>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Se em vez de Antonio Curvete, que nos falta, pode
+estar algum dos diversos desconhecidos, de que damos os
+nomes, hypothese que n&atilde;o parece improvavel, haveria
+nesta capital, de 1565 a 1567, o mesmo numero de livreiros
+que foi contado pelo auctor da
+<em>Estatistica</em>, em 1552.<br />
+
+<br />
+
+Adoptada, com effeito, a conta dos &laquo;criados&raquo; ou
+&laquo;obreyros
+de livreiros&raquo; que os lojistas teriam a seu
+servi&ccedil;o, calculada
+pelo mesmo auctor, ahi teremos o numero de Christov&atilde;o
+assaz justificado.<br />
+
+<br />
+
+Ser&aacute; a seguinte Noticia dedicada aos
+<em>Impressores</em>.
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum"><a name="p16">[16]</a></span>
+<h3>IV</h3>
+
+<br />
+
+Ao <a href="#e2">testemunho</a> do curioso codice
+do
+Archivo Municipal,
+que temos seguido, na famosa Lisb&ocirc;a da segunda metade
+do XVI.&ordm; seculo <em>seis</em> individuos
+exerciam a &laquo;arte impressoria&raquo;,
+como a denominou Valentim de Moravia, em sua
+traduc&ccedil;&atilde;o do livro de Nicolau Veneto.<br />
+
+<br />
+
+O primeiro dos seis &laquo;imprimidores&raquo;, segundo se lhes
+ent&atilde;o chamava, e elles a si proprios se designavam,
+encontrados
+no alludido codice, &eacute; o velho Jo&atilde;o Blavio de
+Agripina Colonia<sup><a href="#13">[13]</a></sup>,
+cujas impress&otilde;es, conforme a tabella
+organisada por Tito de Noronha, em sua t&atilde;o curiosa
+quanto instructiva monographia;&#8213;<em>A Imprensa Portugueza
+durante o seculo XVI</em>, remontam a 1554.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[17]</span>
+&Eacute;, por&eacute;m, de notar que nesta tabella, ou lista
+chronologica
+dos impressores deste seculo, assigna-se &aacute; actividade
+de Jo&atilde;o Blavio os onze annos, apenas, que come&ccedil;am
+em
+1554, e terminam em 1564.<br />
+
+<br />
+
+Ora, o r&oacute;l do <em>Livro do
+Lan&ccedil;amento</em>, onde apparece este
+impressor, foi recebido pelos
+<em>sacadores</em> (os encarregados
+da cobran&ccedil;a da extraordinaria
+imposi&ccedil;&atilde;o) em 11 de
+mar&ccedil;o de 1566, e por elles entregue, com o producto da
+cobran&ccedil;a, em 17 de agosto, do mesmo anno.<br />
+
+<br />
+
+V&ecirc;-se pois que a actividade de Jo&atilde;o Blavio se
+prolongou
+algum tanto mais do que o indica a citada lista. O
+que fica para saber, &eacute; que genero de trabalhos produziria
+este typographo durante o lapso de tempo em que se
+averig&uacute;a agora ter elle ainda conservado a sua typographia,
+e a data precisa da sua desappari&ccedil;&atilde;o.<sup><a href="#14">[14]</a></sup>
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[18]</span>
+Era pouco importante nesta epoca, segundo parece, a
+actividade officinal de Jo&atilde;o Blavio. A moderada
+avalia&ccedil;&atilde;o
+de 3$000 r&eacute;is, que teve, o est&aacute;
+inculcando.<br />
+
+<br />
+
+Achava-se o velho impressor estabelecido no &laquo;Beco de
+Gaspar das Naus&raquo;, freguezia de &laquo;Sam
+Giam&raquo;, nas casas de
+um tal Bento Gon&ccedil;alves. Aquella minguada arteria de
+Lisb&ocirc;a tinha sua entrada na Calcetaria, entre a rua dos
+Fornos, a L. e o beco da Ferraria, a O. Rematando-se,
+ao N., por uma especie de cotovello, sem sahida, bifurcava-se
+na liga&ccedil;&atilde;o com a rua dos Fornos, a que se chamava
+&laquo;beco do Loureiro&raquo;. O plano Pombalino, assentando
+sobre
+esta um tanto emmaranhada topographia, mostra-nos,
+como pode ver-se na <em>Est. I</em> da obra
+valedora do sr. Vieira
+da Silva, <em>As Muralhas da Ribeira de
+Lisboa</em>, o Beco
+de Gaspar das Naus atravessado transversalmente, de
+cima para baixo, na entrada da rua do Crucifixo, tendo
+a sua abertura no quarteir&atilde;o que fica entre a esquina P.
+da rua do Crucifixo e a do N. da rua Nova do Almada,
+fronteira, por conseguinte, &aacute; parede lateral esquerda da
+actual igreja da Concei&ccedil;&atilde;o Nova.<br />
+
+<br />
+
+O personagem que deu o nome a este beco, e provavelmente
+residiu nelle, f&ocirc;ra, a julgar pelo que allega o
+&laquo;<em>Negro</em>&raquo;,
+<span class="pagenum">[19]</span>
+na <em>Pratica de oito figuras</em>, do poeta
+Chiado, sujeito que
+empunhara no mercado a vara da justi&ccedil;a... policial.<br />
+
+<br />
+
+Diz com effeito,
+&laquo;<span class="smallcaps">Gama</span>&raquo;:<br />
+
+<br />
+
+<div class="poetry">&laquo;N&atilde;o vou por esse
+caminho!<br />
+
+Fallae ao que vos pergunto,<br />
+
+Dizei, negrinho sandeu:<br />
+
+saibamos que mal vos fiz,<br />
+
+porque n&atilde;o me daes perdiz,<br />
+
+pois que m'a compraes do meu?<br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+Responde o
+&laquo;<span class="smallcaps">Negro</span>&raquo;:<br />
+
+<br />
+
+<div class="poetry">&laquo;Nunca elle mim acha...<br />
+
+Muito caro, nunca bem...<br />
+
+Mim d&aacute;-le treze vintem<br />
+
+pr'o d&ocirc;zo; n&atilde;o quer&ecirc; d&aacute;.<br />
+
+A regat&ecirc;ra muito m&aacute;o!<br />
+
+Mim dize qu&eacute;re vend&ecirc;?<br />
+
+Elle logo saconde...<br />
+
+medo <em>Gasapar da n&aacute;o<br />
+
+proqu'elle logo prende</em>.&raquo;<sup><a href="#15">[15]</a></sup>
+</div>
+
+<br />
+
+Gaspar das Naus n&atilde;o &eacute; o unico a quem tenha sido
+applicado o cognome. Houve por esta epoca um outro individuo,
+chamado Manoel Lopes, tambem cognominado
+&laquo;das Naus&raquo;. Ainda n&atilde;o sabemos em que se
+occupasse.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>V</h3>
+
+<br />
+
+Segue-se, na ordem da leitura, Marcos Borges, que nos
+apparece arrolado como &laquo;imprimidor obreyro&raquo;,
+residindo em
+uma de tres vias p&uacute;blicas, enfeixadas pelos
+<em>lan&ccedil;adores</em>
+da sobredita imposi&ccedil;&atilde;o num s&oacute;
+titulo:&#8213;&laquo;<em>Rua de quebra
+<span class="pagenum">[20]</span>
+q... com travessa de calca</em>
+(cal&ccedil;a) <em>frades e Rua de
+pino vay</em>&raquo;<sup><a href="#16">[16]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+O rol onde figura Marcos Borges foi entregue aos
+<em>sacadores</em>
+em 2 de maio de 1566, sendo por elles restituido
+ao thesoureiro da imposi&ccedil;&atilde;o em 1 de agosto
+seguinte.<br />
+
+<br />
+
+Ora, &laquo;ao primeyro de janeiro de 1566&raquo; appareceu a
+p&uacute;blico,
+impresso por este typographo, o
+&laquo;<em>Paradoxo</em>&raquo;, de
+Jo&atilde;o Cointha, lendo-se no frontispicio da obra,
+al&eacute;m da
+sobredita data, mais a seguinte
+indica&ccedil;&atilde;o:&#8213;&laquo;<em>Vede se
+na
+empressam detraz de nossa senhora da
+Palma</em>&raquo;.<sup><a href="#17">[17]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+Se, pois, Marcos Borges j&aacute; no 1.&ordm; de janeiro de
+1566
+estava estabelecido por sua conta, e nos d&aacute; testemunho
+irrecusavel do facto na obra que lhe foi, porventura, estreia,
+como &eacute; que elle nos apparece classificado como
+&laquo;imprimidor
+obreyro&raquo;, em maio, deste mesmo anno? N&atilde;o deviam os
+individuos que o classificaram conhecer bem a sua
+posi&ccedil;&atilde;o?<br />
+
+<br />
+
+Por outro lado, a indica&ccedil;&atilde;o um tanto vaga:
+&laquo;detr&aacute;s de
+nossa senhora da Palma&raquo; poderia at&eacute; agora fazer
+supp&ocirc;r
+que Marcos Borges estava, com effeito, estabelecido nalgumas
+<span class="pagenum">[21]</span>
+casas situadas na parte posterior da capella-m&oacute;r
+da ermida daquella invoca&ccedil;&atilde;o, onde, de certeza,
+havia j&aacute;
+neste tempo casas para alugar, como as continuava havendo
+em 1755, e a ellas se referiram os engenheiros encarregados
+das medi&ccedil;&otilde;es dos Bairros, ordenadas no
+come&ccedil;o
+do anno seguinte pelo ministro do rei D. Jos&eacute;.<sup><a href="#18">[18]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+Desde, por&eacute;m, que Marcos Borges nos apparece residindo
+num sitio differente do indicado na obra, de que ter&aacute;
+sido o proprio editor, como tal indica&ccedil;&atilde;o nos
+auctorisa
+a cr&ecirc;r, ainda que ambos os locaes f&ocirc;ssem
+convizinhos, o
+que parece curial &eacute; entender-se que o impressor do
+&laquo;<em>Paradoxo</em>&raquo;,
+tendo, com effeito, a sua officina no sitio que
+a obra indica, residiria no &laquo;<em>Pino
+Vay</em>&raquo;, viela ingreme,
+quasi fronteira &aacute; parte posterior da ermida, e que laborava
+a escarpa, no alto da qual passava a &laquo;rua detraz de Santa
+Justa&raquo;, correspondendo, salvo o actual aspecto, &aacute;
+rua da Magdalena,
+na parte que vae da Betesga ao largo dos Caldas.
+Vamos ver adiante que Antonio Gon&ccedil;alves, confrade,
+j&aacute;
+agora celebre, de Marcos Borges, morava numas casas de
+certa rua, e tinha nella, e perto, em outras, a sua officina.<br />
+
+<br />
+
+Mas, encosta acima, enla&ccedil;ava-se no
+&laquo;<em>Pino vay</em>&raquo; a
+&laquo;<em>travessa
+de quebra q...</em>&raquo;, que rasgando-se entre a
+&laquo;<em>rua dos
+torneiros</em>&raquo; e a
+&laquo;<em>Correaria</em>&raquo;, um
+tanto mais abaixo da
+abertura inferior do &laquo;<em>Pino
+vay</em>&raquo;, &iacute;a formar com esta viella,
+a meio da encosta, o enlace que fica apontado.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum"><a name="p22">[22]</a></span>
+S&atilde;o poucos os contribuintes arrolados no grupo das
+tres vias p&uacute;blicas em quest&atilde;o, e tanto se pode
+supp&ocirc;r que
+Marcos Borges, sempre na hypothese de ter a sua officina
+&laquo;<em>atras de nossa senhora da
+Palma</em>&raquo;, morasse no
+&laquo;<em>Pino
+vay</em>&raquo; como na travessa predita, ou na
+<em>rua de cal&ccedil;a frades</em>.<br />
+
+<br />
+
+A circumstancia, por&eacute;m, de n&atilde;o mencionarem os
+lan&ccedil;adores
+pessoa alguma a fintar na parte posterior da ermida
+da Palma, justamente no anno em que este impressor
+se declarara, na obra que cit&aacute;mos, estabelecido nesse
+sitio desde o 1.&ordm; de janeiro, tenta-nos a ver em tal
+indica&ccedil;&atilde;o
+um <em>alibi</em>, por elle empregado, para
+remediar um inconveniente
+a que o decoro devia attender. O que se nos afigura
+por mais certo, &eacute; que os
+<em>sacadores</em> encontraram,
+com effeito, Marcos Borges residindo na mesma casa onde
+teria a sua officina, o que era regra, a bem dizer, geral,
+n&atilde;o &laquo;atr&aacute;s da ermida de nossa senhora
+da Palma&raquo;, mas
+na <em>travessa de quebra costas</em>, uma
+das tres do grupo
+<a href="#e3">onde</a> o seu nome apparece, entre
+outros, e da qual se pode
+<a href="#e4">admitir</a>, sem grande violencia, que
+ficasse
+fronteira, mas
+do lado opposto da <em>Correaria</em>,
+&aacute; parte posterior daquella
+ermida.<br />
+
+<br />
+
+Quanto &aacute; menos exacta qualifica&ccedil;&atilde;o que
+ao impressor
+foi attribuida pelos <em>sacadores</em>, pode
+entender-se egualmente,
+ou que houve equivoco da parte destes, ou que elles
+quizeram favorecer o recem-estabelecido
+&laquo;imprimidor&raquo;,
+conservando-lhe a qualifica&ccedil;&atilde;o de
+&laquo;obreyro&raquo;, com o fim
+de lhe minorar a importancia do escote. Marcos Borges,
+typographo proprietario de officina, poderia, &eacute; verdade,
+ser avaliado em 3$000 r&eacute;is, como o f&ocirc;ra o seu
+confrade
+Jo&atilde;o Blavio, e pagaria 21 rs. de escote, mas passando,
+por favor dos <em>sacadores</em>, por
+m&eacute;ro &laquo;imprimidor obreyro&raquo;,
+alcan&ccedil;ava o beneficio da &laquo;menor contia&raquo;,
+que eram 2$500
+<span class="pagenum">[23]</span>
+rs., correspondendo-lhe a contribui&ccedil;&atilde;o de 17 rs.
+Era uma
+differen&ccedil;a apreciavel. Valia a pena acceitar o favor. Marcos
+Borges, <em>encolhendo-se</em>, ganhava 4
+r&eacute;is, isto &eacute;, defraudava
+S. Alteza em obra de 30 r&eacute;is, de hoje.<br />
+
+<br />
+
+Este impressor, ainda em 1567; isto &eacute;, no anno seguinte
+&aacute;quelle em que se estabeleceu por sua conta, continuava
+a dar como s&eacute;de da sua typographia o mesmo sitio:
+&laquo;<em>detr&aacute;s de nossa senhora da
+Palma</em>&raquo;. Assim se l&ecirc;,
+com effeito, no fim da &laquo;<em>Chronica do valoroso
+principe e
+invencivel capit&atilde;o Jorge
+Castrioto</em>&raquo;, de Francisco de Andrade.
+Era ent&atilde;o j&aacute; &laquo;impressor delrey nosso
+senhor&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+N&atilde;o continuou, por&eacute;m, ahi. Do facto ficou
+testemunho
+no depoimento de Pero Alberto, flamengo, seu obreiro,
+que a 5 de novembro de 1571 declarava seu mestre estabelecido
+no &laquo;Arco dos Carangueijos&raquo;, se n&atilde;o
+&eacute; Arco do
+Caranguejo, simplesmente.<sup><a href="#19">[19]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+A indica&ccedil;&atilde;o &eacute; preciosa, porque nos
+mostra quem foi o
+successor da viuva de Germ&atilde;o Galharde, da qual adiante
+nos occuparemos com tal qual individua&ccedil;&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>VI</h3>
+
+<br />
+
+Ao &laquo;imprimidor&raquo; Marcos Borges seguem-se, no codice
+que estamos examinando, os seus dois confrades Manoel
+Jo&atilde;o e Francisco Corr&ecirc;a, encontrados, este na
+freguezia
+de Santa Justa, aquelle, na de S. Christov&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+&Eacute; Manoel Jo&atilde;o o primeiro, e delle e da sua
+actividade
+industrial vamos dar os breves respigos por n&oacute;s colhidos
+nas duas interessantes e eruditas monographias de Tito
+<span class="pagenum">[24]</span>
+de Noronha&#8213;<em>A Imprensa Portugueza</em>, e
+<em>Ordena&ccedil;&otilde;es do
+Reino</em>, ambas referidas ao seculo XVI.<sup><a href="#20">[20]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+Manoel Jo&atilde;o exerceu a sua arte entre os annos de
+1565 e 1578. Destes quatorze annos, por&eacute;m, os dois primeiros
+occupou-os o impressor em Lisb&ocirc;a, transferindo-se
+ap&oacute;s a Vizeu, onde trabalhou durante os seguintes
+d&eacute;z.
+Em 1576, provavelmente, Manoel Jo&atilde;o ter&aacute; voltado
+a esta
+capital, publicando nella, datados deste mesmo anno, os
+<em>Diesisiete coloquios</em>, de Baltazar
+Collazos. De 1578
+em diante, desapparece.<br />
+
+<br />
+
+Dever&aacute; ter sido limitada, e pouco sortida, a actividade
+industrial deste impressor, accrescendo que as obras sahidas
+do seu pr&eacute;lo n&atilde;o se distinguem por perfeitas.
+Para o
+facto concorria tambem o can&ccedil;ado tipo de que
+disp&ocirc;s, e
+o papel em que imprimiu. A decadencia da Arte come&ccedil;ava
+a accentuar-se.<br />
+
+<br />
+
+Dos dois primeiros annos do estabelecimento de Manoel
+Jo&atilde;o em Lisb&ocirc;a conhece-se, impressa no anno de
+1565, a
+4.&ordf; ed. das <em>Ordena&ccedil;&otilde;es do
+Reino</em>, dada a lume, como as
+anteriores, por mandado r&eacute;gio<sup><a href="#21">[21]</a></sup>.
+Esta
+edi&ccedil;&atilde;o foi feita &aacute;
+custa do livreiro Francisco Fernandes, e ser&aacute; o mesmo
+que referimos no Cap. II ter encontrado estabelecido na
+<span class="pagenum">[25]</span>
+&laquo;<em>Travessa da porta travessa da
+Madalena</em>&raquo;; isto &eacute;, por
+perto da actual cal&ccedil;ada do Correio Velho.<br />
+
+<br />
+
+No anno seguinte dava o nosso impressor a lume a
+segunda edi&ccedil;&atilde;o da <em>Primeira Parte
+da Chronica dos
+Menores</em>, como lembr&aacute;mos em uma das notas
+do Cap. IV.
+A esta obra seguiu-se a <em>Ora&ccedil;&atilde;o
+na traslada&ccedil;&atilde;o dos
+ossos de Affonso de Albuquerque</em>, e depois os
+<em>Artigos
+das Cizas</em>, edi&ccedil;&atilde;o geralmente
+desconhecida de nossos
+bibliographos, e de que Tito de Noronha menciona tres
+exemplares; o da livraria de Lord Stuart, e os de dois
+amadores do Porto<sup><a href="#22">[22]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+Em Vizeu, onde Tito conjectura se estabelecera Manoel
+Jo&atilde;o, a convite do bispo D. Jorge de Atayde, deu este
+impressor, em 1569, o <em>Compendio de
+Confessores</em>, e no
+anno seguinte as <em>Regulae
+Cancellariae</em>, de Pio V.<br />
+
+<br />
+
+Tal &eacute; a noticia abreviada da actividade officinal de
+Manoel Jo&atilde;o. Cumpriria agora ver como se exprimiu
+Basti&atilde;o
+de Lucena, o escriv&atilde;o da <em>voluntaria
+imposi&ccedil;&atilde;o</em>, gra&ccedil;as
+&aacute; qual nos foi possivel ajuntar as poucas noticias que
+constituem o assumpto de nossas singelas notas, ao lan&ccedil;ar
+no volumoso codice que estamos compulsando, o nome
+deste impressor entre os fintados da freguezia de S.
+Christov&atilde;o. Antes, por&eacute;m, importa que o benevolo
+leitor
+nos consinta um breve relance &aacute; topographia lisbonense,
+<span class="pagenum">[26]</span>
+da epoca a que pertence o interessante <em>Livro do
+Lan&ccedil;amento</em>
+que temos examinado. Ver-se-ha n&atilde;o ser sem motivo
+a digress&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>VII</h3>
+
+<br />
+
+Quem percorrer as t&atilde;o bem ordenadas listas da
+via&ccedil;&atilde;o
+p&uacute;blica parochial lisbonense, impressas no
+<em>Summario</em> de
+Christov&atilde;o Rodrigues de Oliveira, com as suas tres
+categorias
+de becos, ruas e travessas perfeitamente distinctas,
+e os seus sessenta e dois &laquo;Postos que nam sam
+ruas&raquo;,
+onde o auctor, ou os que taes listas organisaram, accommodam
+os &laquo;sitios&raquo;, os adros das parochias, os arcos, as
+varandas, os terreiros, ficar&aacute; de todo illudido, se cuidar
+que tudo na vida administrativa de Lisb&ocirc;a se passava com
+regularidade t&atilde;o exemplar, em pleno seculo XVI, que
+todos os habitantes da famosa cidade lhe conheciam as
+vias p&uacute;blicas, destrin&ccedil;ando-as umas das outras,
+como hoje
+o fazemos, por suas exactas denomina&ccedil;&otilde;es e
+categorias,
+sem ser preciso designa-las por signaes, ou auxiliar-se de
+referencias mais ou menos complicadas, para lhes descreverem
+a marcha itineraria.<br />
+
+<br />
+
+A prova de que tal regularidade n&atilde;o passou dos
+&laquo;roles&raquo;
+que os parochos de Lisb&ocirc;a ministraram ao guarda-roupa
+do Arcebispo, por ordem deste, e Christov&atilde;o fez imprimir
+ap&oacute;s as noticias que &iacute;a dando das differentes
+freguezias,
+est&aacute; neste codice que temos manuseado, e de que
+vamos dando noticia a nossos benignos leitores. No breve
+espa&ccedil;o dos quinze annos que medeiam entre a data que
+&eacute;
+costume attribuir &aacute; curiosa obra do sol&iacute;cito
+famulo do
+prelado lisbonense, &eacute; o <em>Livro do
+Lan&ccedil;amento</em>, do Archivo
+Municipal (1551-1565), um grande numero de vias p&uacute;blicas
+de todas as tres categorias se haviam aggregado &aacute;s
+<em>quinhentas
+<span class="pagenum">[27]</span>
+e vinte e uma</em>, de que o
+<em>Summario</em> pretende dar
+a conta, n&atilde;o em somma total, mas em sommas parciaes,
+referidas a cada qual das tres categorias<sup><a href="#23">[23]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+Estava no seu auge o facto que a
+<em>Miscellanea</em> de Garcia
+de Resende commemora;<br />
+
+<br />
+
+<div class="poetry">&laquo;Lisboa vimos crescer<br />
+
+Em povos e em grandeza.<br />
+
+E muito se nobrecer<br />
+
+Em edificios, riqueza&raquo;.<br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+Lisb&ocirc;a desenvolvera-se a olhos vistos, e uma nova
+remodela&ccedil;&atilde;o do territorio parochial,
+divis&atilde;o unica, de tal
+qual regularidade por ent&atilde;o em vigor, e essa mesma mais
+para o ecclesiastico, do que para o civil, estava imminente.
+<span class="pagenum">[28]</span>
+Ora, desde o 1.&ordm; de janeiro de 1560 que a freguezia de
+&laquo;Santa Catharina do Monte Sinay&raquo; encetava, pelo
+funccionamento
+da sua parochia, a s&eacute;rie de providencias, que
+o Cardeal Infante resolvera promover, para instituir mais
+cinco freguezias na cidade, recortando-as no territorio
+das vinte e quatro j&aacute; existentes, segundo
+lembr&aacute;mos no
+come&ccedil;o destas singelas Notas.<br />
+
+<br />
+
+Pois bem: cinco annos depois de ter come&ccedil;ado a funccionar
+esta parochia, ainda a grande maioria das vias
+p&uacute;blicas que lhe sulcavam o territorio carec&iacute;a de
+denomina&ccedil;&otilde;es,
+ou os <em>lan&ccedil;adores</em>,
+freguezes nella, e que haviam
+formado os roes da <em>voluntaria</em>
+derrama, lh'os n&atilde;o conheciam.<br />
+
+<br />
+
+A cal&ccedil;ada <em>do Congro</em><sup><a href="#24">[24]</a></sup>
+ahi figura j&aacute;, na verdade, substituindo
+se &aacute;
+denomina&ccedil;&atilde;o bem mais pictoresca de que
+dispusera, de cal&ccedil;ada da <em>Boa
+Vista</em>, no tempo em que,
+seguindo os roes de Christov&atilde;o, a vemos mencionada na
+freguezia de Nossa Senhora do Loreto, cujo territorio,
+<span class="pagenum">[29]</span>
+j&aacute; no come&ccedil;o da segunda metade do seculo XVI,
+alcan&ccedil;ava
+at&eacute; o &laquo;Valle das Chagas&raquo;. Nascera
+igualmente a
+&laquo;Rua do Conde&raquo;, que em nossos dias mandaram
+appelidar
+&laquo;Travessa do Caldeira&raquo;<sup><a href="#25">[25]</a></sup>,
+a &laquo;Bica do
+Bello&raquo;, de 1551,
+apparece j&aacute; em 1565 com a denomina&ccedil;&atilde;o
+com que ficou,
+de &laquo;Rua da Bica de Duarte Bello&raquo;, Fern&atilde;o
+Rodrigues de
+Almada d&aacute; o seu appelido &aacute; rua que ainda agora
+conserva
+tal nome, proximo &aacute; antiga &laquo;Cruz de
+Pao&raquo;, desde 1885,
+&laquo;Rua do Marechal Saldanha&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Em compensa&ccedil;&atilde;o, por&eacute;m, os roes dos
+<em>sacadores</em> falam-nos
+de 4 ruas que &laquo;v&atilde;o das Chagas para Santa
+Catharina&raquo;,
+assim como de 2 outras que &laquo;v&atilde;o por
+detr&aacute;s de
+Santa Catharina, uma para a Costa, outra para o Valle&raquo;,
+e destas seis n&atilde;o &eacute; em nenhuma maneira facil
+fixar a
+situa&ccedil;&atilde;o. Por outro lado, se conjecturamos que a
+&laquo;rua
+dereita [~q] vai p'la cal&ccedil;ada do congro abaixo&raquo;
+seja a actual
+rua do Sol, a &laquo;rua da Cruz para Santa Catharina&raquo; a
+actual
+rua do Marechal Saldanha, a &laquo;rua que vai da cruz da
+esperan&ccedil;a para as casas de Christov&atilde;o de
+mello&raquo; a actual
+rua dos Mastros, e assim como estas, outras ruas ou travessas,
+apenas indicadas por informa&ccedil;&otilde;es, nem sempre
+estas, se se pretendesse fazer um estudo comparativo
+local, seriam faceis de precisar.<br />
+
+<br />
+
+Ora, consoante a taes exemplos, tirados, ali&aacute;s, do
+territorio
+<span class="pagenum">[30]</span>
+parochial de uma freguezia incipiente, muitos
+outros se offerecem neste codice, dispersos por diversas
+freguezias, e at&eacute; por algumas das mais antigas.<br />
+
+<br />
+
+Mas n&atilde;o &eacute; s&oacute; isto. Palpita-nos que
+certas vias p&uacute;blicas
+das listas de Christov&atilde;o passaram a ser indicadas por
+differentes designa&ccedil;&otilde;es, o que se explicaria pela
+decadencia
+da respectiva determinante. Exemplos deste facto
+ha-os, at&eacute; bem mais recentes. A cal&ccedil;ada de
+Dami&atilde;o de
+Aguiar, do seculo XVII,
+passou a
+ser denominada &laquo;cal&ccedil;ada
+do Lavra&raquo; (ali&aacute;s Lavre), quando os Lopes de Lavre,
+do
+Concelho Ultramarino, vieram, pela infallivel lei das
+renova&ccedil;&otilde;es,
+e consequentes substitui&ccedil;&otilde;es, a entrar na posse
+do palacio e ermida que haviam pertencido &aacute;quelle
+desembargador;
+construc&ccedil;&atilde;o que f&oacute;rma a esquina
+esquerda da
+referida cal&ccedil;ada, sobre a rua de S. Jos&eacute;. Outra
+cal&ccedil;ada,
+a de Salvador Corr&ecirc;a de S&aacute;, trocou o nome pelo de
+S.
+Jo&atilde;o Nepomuceno, quando os religiosos protegidos pela
+rainha D. Maria Anna de Austria fundaram o seu hospicio,
+daquella invoca&ccedil;&atilde;o, nas abas occidentaes do monte
+de
+Santa Catharina.<br />
+
+<br />
+
+De outras vias p&uacute;blicas do codice em exame se pode
+inferir que se haja obliterado a significa&ccedil;&atilde;o do
+nome que
+as distinguia, visto como &eacute; evidente que Basti&atilde;o
+de Lucena,
+o escriv&atilde;o desta derrama, lhes desfigurou as
+denomina&ccedil;&otilde;es,
+com a mesma inconsciencia com que deformou
+o nome do velho Jo&atilde;o Blavio de Agripina Colonia. Uma
+viela, para exemplo; uma viela que recordava o appelido
+de certo parente do arcebispo de Genova, Agostinho
+Salvago, e que viera estabelecer-se em Lisb&ocirc;a, apparece-nos
+transformada por Lucena em "Beco da Salvaje&raquo;, e
+assim outras mais. Do mesmo modo que ha, em summa, no
+<em>Livro do Lan&ccedil;amento</em>
+muitas vias p&uacute;blicas n&atilde;o mencionadas
+<span class="pagenum">[31]</span>
+no <em>Summario</em> do guarda-roupa,
+ha neste livro noticia
+de grande numero de outras, de que aquelle codice
+n&atilde;o conservou memoria.<br />
+
+<br />
+
+Torna-se, pois, a concilia&ccedil;&atilde;o entre os roes do
+<em>Summario</em>,
+e a nomenclatura da via&ccedil;&atilde;o daquelle repositorio
+difficil,
+e n&atilde;o se consegue que s&aacute;ia perfeita. A
+impossibilidade
+de identifica&ccedil;&atilde;o &eacute; manifesta.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>VIII</h3>
+
+<br />
+
+Somos assim chegados ao ponto que nos levou &aacute; precedente
+digress&atilde;o. Onde, em que rua, travessa ou beco,
+apparece fintado, na freguezia de S. Christov&atilde;o, o
+&laquo;imprimidor&raquo;
+Manoel Jo&atilde;o?<br />
+
+<br />
+
+O titulo desta freguezia l&ecirc;-se no alto da fol. 406,
+v.<sup>o</sup> do
+volumoso codice, redigido nos seguintes textuaes termos:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;<em>T.<sup>o</sup> da freguezia De san
+Xpu&atilde;o&#8213;Come&ccedil;a o primeiro
+rol No chan Dalcamin pera a costa</em>&raquo;<sup><a href="#26">[26]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[32]</span>
+Vae seguindo o recenseamento, e a fls. 407 l&ecirc;-se:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;<em>Duas ruas [~q]
+come&ccedil;&atilde;o De san Xpu&atilde;o pera san
+Louren&ccedil;o</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+No v.<sup>o</sup> desta folha, e no alto della, assentou
+Basti&atilde;o de
+Lucena o 8.&ordm; lan&ccedil;amento deste titulo. Diz:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;It Manoel Joh&atilde;o Inprimidor em casas Do doutor
+Jo&atilde;o
+de bairos av.<sup>do</sup> [~e] seis mill rs. paguara rij
+rs&raquo;<sup><a href="#27">[27]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+Portanto, tudo quanto se colhe de similhante
+informa&ccedil;&atilde;o,
+sem nada adiantar ao nosso proposito, &eacute; que este
+sitio soffreu, em epoca n&atilde;o facil de determinar, ainda que
+n&atilde;o estej&acirc;mos longe de fixa-la de 1756 para
+diante, consideravel
+altera&ccedil;&atilde;o. Hoje, rua que comece de S.
+Christov&atilde;o
+para S. Louren&ccedil;o, apenas conhecemos todos
+<em>uma</em>;
+a rua das Farinhas, &aacute; qual o auctor do
+<em>Summario</em>, ou
+<span class="pagenum">[33]</span>
+quem para elle escreveu esta parte do livro, chama &laquo;Rua
+das Farinheiras&raquo;. Poderia, por&eacute;m, ter-se em
+considera&ccedil;&atilde;o
+que no terreno que fica entre a parochial de S. Christov&atilde;o
+e a garganta por onde se penetra na rua das Farinhas,
+e &eacute; denominado &laquo;rua de S.
+Christov&atilde;o&raquo;, haveria modo de
+existir nas eras remotas que nos occupam, qualquer viela
+que, embebendo-se em outra similhante, d&eacute;ssem ambas
+as &laquo;duas ruas que come&ccedil;am de S.
+Christov&atilde;o para S.
+Louren&ccedil;o&raquo;, segundo o abreviado modo de exprimir-se
+dos
+lan&ccedil;adores da imposi&ccedil;&atilde;o. &Eacute;,
+pelo menos, o que resulta
+das medi&ccedil;&otilde;es do Tombo do <em>Bairro
+do Rocio</em>, (1756), a
+fls. 121, onde se l&ecirc;: &laquo;Largo da Igreja de S.
+Christov&atilde;o&#8213;Corre
+o seu comprimento N. S. Tem de comprimento desde
+a rua do Regedor at&eacute; <em>&aacute; travessa
+que vai para a rua das
+Farinhas</em>, 214 p.; de largura pelo N. 35 p., e pelo S.
+45&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Ora, a lista das vias p&uacute;blicas, do
+<em>Summario</em>, que laboravam
+o territorio parochial de S. Christov&atilde;o comporta 9
+ruas, 3 travessas, 1 adro, 2 terreiros, 1 beco e 1 arco.<br />
+
+<br />
+
+De toda esta estatistica de via&ccedil;&atilde;o, apenas uma
+rua, a
+&laquo;do Crucifixo&raquo;, uma travessa, e os dois terreiros
+se n&atilde;o
+podem identificar com a actual topographia da parochia<sup><a href="#28">[28]</a></sup>.
+<span class="pagenum">[34]</span>
+E como naquelle tratado, a disposi&ccedil;&atilde;o das
+&laquo;Ruas&raquo;, tal qual
+quem ordenou a lista das vias p&uacute;blicas della as foi
+escrevendo,
+nos mostra que se come&ccedil;ou do N. para o S. da
+freguezia, isto &eacute; da &laquo;Rua das
+Fontainhas&raquo;, compartilhada
+pelas parochias de S. Louren&ccedil;o e de Santa Justa, para a
+extrema opposta; para a &laquo;Rua do ch&atilde;o
+dalcamim&raquo;, segue-se
+que a &laquo;Rua do Crucifixo&raquo;, por maior que seja o
+nosso
+desejo de precisar qual das &laquo;duas ruas que v&atilde;o de
+S.
+Christov&atilde;o para S. Louren&ccedil;o&raquo; era a que
+habitava, com
+a sua officina, o tipographo Manoel Jo&atilde;o, n&atilde;o
+parece que
+possa ser a designada, visto como se apresenta na lista
+parochial ap&oacute;s a &laquo;Rua do Regedor&raquo;, isto
+&eacute;, do lado diametralmente
+opposto &aacute; provavel situa&ccedil;&atilde;o daquellas
+duas ruas.<br />
+
+<br />
+
+Assim pois, se a tal &laquo;travessa que vai para a rua das
+Farinhas&raquo;, do Tombo Pombalino, n&atilde;o era, como, de
+facto, n&atilde;o parece ter sido, a &laquo;rua do
+Crucifixo&raquo;, do
+<em>Summario</em> de Christov&atilde;o,
+ainda existente, e conhecida
+por esta denomina&ccedil;&atilde;o em 1712, como se mostra na
+<em>Corografia</em>
+de Carvalho da Costa, e se n&atilde;o era, portanto,
+nella que Manoel Jo&atilde;o estava arrolado, tudo que se
+p&oacute;de
+concluir, &eacute; que o nosso impressor teve a sua officina no
+territorio da freguezia de S. Christov&atilde;o, e numa via
+p&uacute;blica
+muito proxima &aacute; s&eacute;de da parochia, mas para o N.
+do territorio desta.<br />
+
+<br />
+
+Em algum dos proximos capitulos veremos que a f&oacute;rma
+imperfeita como os
+<em>lan&ccedil;adores</em> organisaram os
+roes da
+derrama d&aacute; motivo a iguaes hesita&ccedil;&otilde;es
+e perplexidades
+que nos n&atilde;o deixam satisfeito, quanto ao sitio em que
+<span class="pagenum">[35]</span>
+teve a sua operosa officina tipographica o celebre Germ&atilde;o
+Galharde, e onde vamos ainda encontrar a sua viuva.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>IX</h3>
+
+<br />
+
+Como o seu confrade Manoel Jo&atilde;o, tambem Francisco
+Corr&ecirc;a, seguindo as noticias que deste impressor nos
+d&aacute;
+Deslandes, em sua <em>Historia da Typographia
+Portugueza</em>,
+exerceu a sua arte f&oacute;ra de Lisb&ocirc;a.<br />
+
+<br />
+
+Provavel &laquo;obreiro de imprimidor&raquo; de
+Germ&atilde;o Galharde,
+acaso foi convidado para ir dirigir em Coimbra a officina
+do Estudo Real, estabelecida na rua da Sophia, como seu
+presumivel mestre o f&ocirc;ra igualmente, para ir organisar a
+imprensa dos Cruzios, daquella cidade.<br />
+
+<br />
+
+Em tal situa&ccedil;&atilde;o ali se demorou, com effeito,
+Francisco
+Corr&ecirc;a desde o anno de 1549, em que principia a apparecer,
+at&eacute; 1555. Passando por este tempo ao Porto, ali
+deu &aacute; estampa o compendio de arithmetica, de Bento
+Fernandes<sup><a href="#29">[29]</a></sup>.
+Transferindo-se em seguida a Lisb&ocirc;a, onde
+<span class="pagenum">[36]</span>
+assentou pr&eacute;los at&eacute; 1585, anno que parece ter
+sido o do
+seu fallecimento, ainda em 1580 imprimiu em Almeirim,
+de parceria com seu confrade Antonio Ribeiro, segundo
+informa&ccedil;&otilde;es de Tito de Noronha,
+<em>in A Imprensa Portugueza</em>,
+as <em>Allega&ccedil;&otilde;es de
+direito</em> por parte da Infanta D.
+Catharina, sobrinha do Cardeal Infante.<br />
+
+<br />
+
+Al&eacute;m destas noticias, publ&iacute;ca tambem Deslandes
+em
+sua predita obra o Alv. de 12 de novembro de 1566, concedendo
+a Francisco Corr&ecirc;a isen&ccedil;&atilde;o de direitos,
+at&eacute; certa
+quantia, do papel que despachasse em cada anno, a come&ccedil;ar
+no de 1565. Pelo restante teor deste diploma se
+prova, outrosim, que Francisco Corr&ecirc;a foi arrendatario
+das officinas que, por morte de Jo&atilde;o Blavio, ficaram em
+Lisboa e na India, em G&ocirc;a, muito mais que provavelmente,
+sendo-lhe concedidos os 40$000 r&eacute;is que os herdeiros
+daquelle impressor haviam alcan&ccedil;ado se descontassem
+nos direitos do papel que despachassem para o expediente
+das preditas duas officinas.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[37]</span>
+Taes s&atilde;o em breve resumo, e salvo a
+supposi&ccedil;&atilde;o de
+que Francisco Corr&ecirc;a f&ocirc;sse compositor na officina
+de
+Germ&atilde;o Galharde, que &eacute; nossa, as noticias
+colhidas nas
+obras de Deslandes e de Tito de Noronha, acima apontadas,
+&aacute;cerca deste notavel tipographo, cujos trabalhos,
+al&eacute;m de numerosos, se avantajam, a testemunho do segundo
+daquelles dois auctores, em sua t&atilde;o curiosa monographia
+das <em>Ordena&ccedil;&otilde;es do
+Reino</em>, em nitidez e satisfactorio
+aspecto, aos do seu confrade Manoel Jo&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+Ao percorrermos no <em>Livro do
+Lan&ccedil;amento</em> o &laquo;3.&ordm; rol
+da freguezia de Santa Justa&raquo;, ahi se nos deparou a
+&laquo;Rua
+de Valverde&raquo;, e nella, como 16.&ordm; contribuinte:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;Francisco corea [~e]presor [~e] casas de margaida de matos
+avaliado [~e] seis mill rs paguara Rij rs.&raquo;<br />
+
+<br />
+
+O rol a que nos referimos teve come&ccedil;o na rua que
+&iacute;a do
+mosteiro de S. Domingos para a Porta de Santo
+Ant&atilde;o.
+Comprehendia a rua do Chafariz do Rocio para a Mancebia,
+a que &iacute;a da estrebaria del-rei ao longo do muro para
+a Porta de Santo Ant&atilde;o, a &laquo;rua do beco&raquo;
+do chafariz do
+Rocio, e finalmente, a rua de Valverde, que laborou, provavelmente,
+parte da actual Pra&ccedil;a dos Restauradores,
+da banda do S., e vindo imbeber-se, talvez, na rua de
+Mestre Gon&ccedil;alo, isto &eacute;, no terreno da rua do
+Principe, e
+por perto da actual cal&ccedil;ada do Duque.<br />
+
+<br />
+
+Para o seguinte estudo, a viuva de Germ&atilde;o Galharde,
+a que acima alludimos, e o glorioso impressor da primeira
+edi&ccedil;&atilde;o dos
+<span class="smallcaps">Lusiadas</span>, Antonio
+Gon&ccedil;alves.
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[38]</span>
+<h3>X</h3>
+
+<br />
+
+Vamos folheando o volumoso recenseamento, onde colhemos
+as informa&ccedil;&otilde;es que temos transmitido a nossos
+benignos leitores, e achamo-nos agora em face do 7.&ordm; e
+ultimo rol da freguezia da Magdalena<sup><a href="#30">[30]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+Come&ccedil;am os sucintos apontamentos itinerarios dados
+neste rol aos <em>sacadores</em> encarregados
+da cobran&ccedil;a das
+<em>voluntarias</em> fintas, pela:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;<em>Rua Dos torneyros [~q] travessa para as
+pedras negras
+pela rua de Ilusuarte Peris<sup><a href="#31">[31]</a></sup>
+ate a rua drt.<sup>a</sup> da
+Costa</em>&raquo;.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[39]</span>
+N&atilde;o ocorreu ao escriv&atilde;o desta derrama, escrevendo
+para comparochianos, conhecedores como aos seus dedos
+de todas as enredadas arterias da sua freguezia, que alguns
+seculos depois, compatricios seus viriam que tivessem
+interesse em perceber, mais do que as suas garatujas
+pictorescas, as suas abreviadas, e at&eacute; menos exactas
+indica&ccedil;&otilde;es
+do territorio parochial a que se referiam!<br />
+
+<br />
+
+Se tal, com effeito, se houvera dado, n&atilde;o s&oacute;
+Basti&atilde;o
+de Lucena n&atilde;o estabeleceria, contra a exacta nomenclatura
+local, que a <em>rua</em> dos Torneiros
+atravessava para as
+Pedras Negras, vertendo assim uma confus&atilde;o de desnortear
+na compartilha parochial, mas n&atilde;o sacrificaria &aacute;
+extrema
+concis&atilde;o que adoptou a precisa clareza, para sabermos
+agora a que via p&uacute;blica, entre as comprehendidas na
+sua abreviada indica&ccedil;&atilde;o, viria a pertencer o
+35.&ordm; lan&ccedil;amento,
+<span class="pagenum">[40]</span>
+dos 38 lan&ccedil;ados sob o correspondente enunciado,
+e que &eacute; o seguinte:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;<em>It A molher de germ&atilde;o galharde
+[~e]primidor em casas
+suas avaliada [~e] settenta mill rs paguar&aacute; i i i j c l v
+rs</em>&raquo;<sup><a href="#32">[32]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+Com effeito, uma vez que se nos depar&aacute;ra aqui a viuva
+do celebre impressor franc&ecirc;s, que tanto realce deu
+&aacute; typographia
+lisbonense do XVI.&ordm; seculo, e t&atilde;o util
+foi
+&aacute;s letras
+portuguesas destas afastadas eras, bem natural f&ocirc;ra
+que desejassemos precisar o sitio, a rua, a travessa ou
+beco onde a digna matrona residisse. O mesmo seria que
+ficarmos sabendo precisamente onde seu defuncto marido
+ter&aacute; tido a sua operosa officina.<br />
+
+<br />
+
+A difficuldade, por&eacute;m, mostra-se insuperavel, ainda
+quando reponhamos, at&eacute;, em seu logar a desfigurada
+topographia
+local, e se, posteriormente, nenhum outro indicio
+nos n&atilde;o fizer suspeitar onde possa ter estado estabelecida
+esta t&atilde;o interessante imprensa, teremos o desgosto
+de nos contentarmos, &aacute; semelhan&ccedil;a do que nos
+aconteceu,
+tratando de Manoel Jo&atilde;o, com as vagas
+indica&ccedil;&otilde;es que
+ficam expressas.<br />
+
+<br />
+
+Procurando formar id&eacute;a da ordem que presidiu &aacute;
+elabora&ccedil;&atilde;o
+dos roes desta freguezia, conclu&iacute;mos que os
+lan&ccedil;adores
+adoptaram a orienta&ccedil;&atilde;o topographico-descriptiva
+do
+sul para o norte, isto &eacute;, das muralhas marginaes da cidade
+para cima; &laquo;Rua Nova dos Ferros&raquo;, &laquo;Porta
+d'Erva&raquo; e
+&laquo;Porta da Ribeira&raquo;,
+&laquo;Carna&ccedil;arias Velhas&raquo;,
+&laquo;Pelourinho&raquo;,
+&laquo;Misericordia&raquo;, &laquo;Rua do
+Principe&raquo;, &laquo;Rua da Ferraria Velha,
+por detr&aacute;s da Concei&ccedil;&atilde;o&raquo;,
+&laquo;Cristaleiras&raquo;, &laquo;Rua dos
+<span class="pagenum">[41]</span>
+Fanqueiros&raquo;, &laquo;Rua dos Corrieiros de obra grossa e
+delgada&raquo;,
+&amp;, &amp;. Todos estes sitios, todas estas vias
+p&uacute;blicas
+entram nos seis anteriores roes, com outras que, por
+abreviar, se n&atilde;o mencionam. Este 7.&ordm; rol
+comprehende,
+portanto, a zona alta da freguezia, e dentro delle observa-se
+disposi&ccedil;&atilde;o igual &aacute; que se adoptou para
+os anteriores.<br />
+
+<br />
+
+Se bem entendemos, pois, o breve apontamento de
+Basti&atilde;o de Lucena, havia na freguezia da Magdalena uma
+via p&uacute;blica, uma viella, como tantas outras deste tempo,
+que, partindo de qualquer ponto, por agora indeterminado,
+atravessava, mas n&atilde;o directamente, para as Pedras Negras.
+A travessia fazia-se com o auxilio da rua de Ilusuarte
+Peris. Portanto, o que se queria indicar aos
+<em>sacadores</em>,
+&eacute; que, principiando <em>as suas
+visitas</em> pela tal via
+p&uacute;blica, erradamente classificada e denominada
+&laquo;Rua dos
+Torneiros&raquo;, e continuando-as pela rua de Ilusuarte Peris,
+que se lhe seguia, f&ocirc;ssem indo at&eacute;
+alcan&ccedil;ar a rua direita
+da Costa, nesse tempo, como agora e sob a
+denomina&ccedil;&atilde;o
+de cal&ccedil;ada do Correio Velho, limite l&eacute;ste da
+predita freguezia.
+Uma vez chegados &aacute;quella rua, os
+<em>sacadores</em>,
+conforme se deprehende da continua&ccedil;&atilde;o da leitura
+deste
+7.&ordm; rol, desc&ecirc;-la-&iacute;am, entrariam na rua
+do Arco
+de Dona Tareja;
+isto &eacute;, retrocederiam para Oeste, e desta rua continuariam o
+seu itinerario por onde j&aacute; nos n&atilde;o importa
+segui-los.<br />
+
+<br />
+
+Est&aacute; tudo muito bem, menos uma circumstancia importante.
+N&atilde;o houve em Lisb&ocirc;a, em tempo algum, nenhuma
+&laquo;rua dos Torneiros&raquo;, nem na freguezia da Magdalena,
+nem em nenhuma outra freguezia da cidade. Existiu, sim,
+a &laquo;rua da Tornoaria&raquo;, mas essa pertencia
+&aacute; freguezia de
+S. Nicolau. Passava pela parte posterior do edificio parochial
+deste orago, e era, por conseguinte, o mais septemtrional
+dos successivos tramos em que se fraccionava a
+<span class="pagenum">[42]</span>
+longa, e em parte alcantilada via p&uacute;blica que ligava uma
+&aacute;
+outra as duas s&eacute;des parochiaes.<br />
+
+<br />
+
+Para se ir da Magdalena a S. Nicolau, haveria de percorrer-se
+a Correaria, a Fancaria, a Tornoaria, e ainda
+quando se quizesse admittir que os
+<em>lan&ccedil;adores</em>, e
+Basti&atilde;o
+de Lucena com elles, haviam chamado &laquo;rua dos
+Torneiros&raquo;
+&aacute; rua da Tornoaria, daqui se v&ecirc; que tal rua
+n&atilde;o podia ser
+compartilhavel entre a freguezia de S. Nicolau e a da
+Magdalena, como o n&atilde;o eram as suas duas parceiras, a
+Correaria e a Fancaria.<br />
+
+<br />
+
+Temos, pois, de recorrer ao
+<span class="smallcaps">Summario</span>, de
+Christov&atilde;o
+Rodrigues de Oliveira, para destramar a meada.<br />
+
+<br />
+
+Em boa hora o fazemos, porque a via p&uacute;blica que o solicito
+guarda-roupa do arcebispo D. Fernando nos aponta
+como situada na freguezia da Magdalena, em 1551, &eacute; a
+&laquo;<em>travessa dos
+Torneiros</em>&raquo;. Ora, &eacute; evidentemente
+tal &laquo;<em>travessa</em>&raquo;
+aquella a que se referem os lan&ccedil;adores, porque
+partindo, c&aacute; em baixo, da Tornoaria, em sentido transversal
+para L., galgava a barreira que separava o valle da Baixa
+das cumiadas que iam terminar na Alca&ccedil;ova, e surdindo
+muito proximamente no local fronteiro &aacute; actual Travessa
+das Pedras Negras, &iacute;a soldar-se &aacute; Rua de
+Ilusuarte Peris.
+Cumpre, no emtanto, advertir que o sitio que no seculo XVI.&ordm;
+deu
+origem &aacute;
+denomina&ccedil;&atilde;o &laquo;Pedras Negras&raquo;
+n&atilde;o era
+precisamente onde se rasgam, pela planta Pombalina, a
+rua e a travessa d'esta denomina&ccedil;&atilde;o, e que a rua
+de Ilusuarte
+Peris, ou desapparecera nos provaveis aspectos
+diversos que o sitio apresentou entre os seculos XVI.&ordm; e
+XVIII.&ordm;, ou
+se conservava ainda,
+acaso, &aacute;s vesperas do
+terremoto de 1755, mas com differente
+denomina&ccedil;&atilde;o; o
+que n&atilde;o seria de extranhar, como j&aacute;
+observ&aacute;mos. As &laquo;Pedras
+Negras&raquo;, como era o sitio a que deram o nome, anteriormente
+<span class="pagenum">[43]</span>
+ainda ao seculo XVI.&ordm;, p&oacute;de
+v&ecirc;r-se a
+configura&ccedil;&atilde;o
+provavel que tiveram em mais escuras eras, na planta
+que acompanha a obra valedora do sr. Vieira da
+Silva:&#8213;<span class="smallcaps">As
+Muralhas da Ribeira de Lisboa</span>.<br />
+
+<br />
+
+A &laquo;rua de Ilusuarte Peris&raquo; &eacute; que na
+mencionada planta
+n&atilde;o apparece, e mal se supp&otilde;e onde possa ter
+sido<sup><a href="#33">[33]</a></sup>. A
+travessa dos Torneiros &eacute; o &laquo;Beco de Nossa Senhora
+da
+Concei&ccedil;&atilde;o&raquo;, da sobredita planta, muito
+mais que provavelmente.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>XI</h3>
+
+<br />
+
+Fixados como &eacute;, j&aacute; agora, possivel
+faz&ecirc;-lo, a muito
+perto de trezentos e cincoenta annos de distancia, e com
+t&atilde;o escassos elementos topographicos, estes indispensaveis
+<span class="pagenum">[44]</span>
+pormenores, digamos agora o que se sabe do activo
+industrial de quem f&ocirc;ra &laquo;molher&raquo; a pessoa
+a quem se referiu
+o lan&ccedil;amento que &eacute; assumpto ao nosso
+despretencioso
+estudo.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+Germ&atilde;o Galharde, franc&ecirc;s de
+na&ccedil;&atilde;o, o que elle n&atilde;o
+deixou de recordar-nos em algumas de suas assignaturas<sup><a href="#34">[34]</a></sup>,
+foi, como anda sabido, o mais operoso impressor que teve
+o XVI.&ordm; seculo portugu&ecirc;s. Estabelecido em
+Lisb&ocirc;a
+pelos
+primeiros annos delle, conhecem-se, executadas no espa&ccedil;o
+de mais de quarenta annos, e at&eacute; 1560, data da sua
+morte, &laquo;70 edi&ccedil;&otilde;es&raquo; sahidas
+da sua officina, sem contar
+as leis avulsas, impressas, em geral, numa folha apenas<sup><a href="#35">[35]</a></sup>.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[45]</span>
+Quem poder&aacute; dizer quantas mais obras Germ&atilde;o
+Galharde
+ter&aacute; executado, de que o seculo ultimo e o acual
+n&atilde;o
+lograram j&aacute; ter
+conhecimento?&#8213;Interroga&ccedil;&atilde;o &eacute; esta que
+ter&aacute; de ficar sem resposta. Sabe-se apenas que da sua
+officina come&ccedil;aram a apparecer edi&ccedil;&otilde;es
+datadas de 1519,
+e que um lapso de revis&atilde;o, importante, levou alguns
+bibliophilos
+a retro-fixar o come&ccedil;o da operosa actividade do
+celebre impressor no ultimo anno da primeira d&eacute;cada do
+seculo que o viu trabalhar; no de 1509.<br />
+
+<br />
+
+Foi o caso que o <em>Missal</em> da igreja de
+Evora, de que se
+guarda um bom exemplar na Bibliotheca Nacional, apresenta
+como data de impress&atilde;o este predito anno. Notou-se
+o facto, e houve quem, n&atilde;o lhe occorrendo de quantos
+lapsos anda tecida a historia da typographia, em geral,
+tirasse delle irreflectido motivo para declarar Galharde estabelecido
+desde aquelle supposto anno. O academico Silva
+Tullio, que tanto no caso estava de desilludir os menos
+avisados, constituiu-se exactamente o paladino d'elles,
+sustentando contra Tito de Noronha a hypothetica possibilidade
+de ter o <em>Missal</em> sahido das officinas
+de Galharde
+no anno impugnado.<br />
+
+<br />
+
+Rebateu Tito, a nosso ver humilde com raciocinios de
+p&ecirc;so, as raz&otilde;es que Tullio bem escus&aacute;ra
+de ter produzido,
+visto como, se a verdade historica bem pouco poderia
+ganhar com semelhante improvavel accrescimo &aacute; actividade
+officinal do impressor franc&ecirc;s, ass&aacute;s mal parados
+ficaram,
+em troca, os cr&eacute;ditos do prestante conservador, insistindo
+em sustentar a m&eacute;ra presump&ccedil;&atilde;o que
+tudo se conjurava
+para invalidar<sup><a href="#36">[36]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+Tito, tendo feito notar o isolamento em que a data de
+<span class="pagenum"><a name="p46">[46]</a></span>
+1509, attribuida &aacute;quelle livro, ficava das obras por
+Galharde
+impressas em 1520, e qu&atilde;o pouco provavel era que
+entre um e outro anno obra alguma, naquella <a href="#e5">typographia</a>
+impressa, viesse quebrar o largo periodo de onze annos
+de inactividade officinal, lembrou que o <em>Missal
+Eborense</em>
+poder&aacute; ter sido impresso em
+<em>1529</em>, tendo faltado na
+subscrip&ccedil;&atilde;o latina o vocabulo
+&laquo;<em>vigesimo</em>&raquo;<sup><a href="#37">[37]</a></sup>.
+Esta probabilidade
+nada tem, com effeito, contra si que a invalide, e
+um facto, porque assim o dig&acirc;mos hodierno, a vem demonstrar
+plausivel:<br />
+
+<br />
+
+Convidou o editor Fernandes Lopes a Innocencio Francisco
+da Silva para dirigir a reimpress&atilde;o do
+<em>Elucidario</em>,
+de Santa Rosa de Viterbo. Em 1865 sahiu, com effeito, a
+lume esta obra dividida em dois tomos, como a 1.&ordf;
+edi&ccedil;&atilde;o,
+imprimindo-se no 1.&ordm; uma &laquo;Advertencia
+preliminar&raquo;
+do illustre
+bibliographo, a qual elle datou do &laquo;1.&ordm; de junho de
+1865&raquo;. Pois bem;... na capa e no frontispicio de cada
+um dos dois tomos assignou-se a esta reimpress&atilde;o, por
+<span class="pagenum">[47]</span>
+data, o anno de MCCCLXV! Este lapso, sendo t&atilde;o patente,
+salta para logo aos olhos de quem manuzear a obra<sup><a href="#38">[38]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+Continuemos agora a examinar quanto se nos offere&ccedil;a,
+do pouco aproveitavel que nos tem sido possivel ajuntar,
+que se relacione com a vida deste grande trabalhador typographo,
+que tanto illustrou a sua arte, e tantos testemunhos
+nos deixou, apesar das muito mais que certas lacunas
+da lista das suas impress&otilde;es, da
+perfei&ccedil;&atilde;o com que
+sustentou os cr&eacute;ditos da sua officina.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>XII</h3>
+
+<br />
+
+Dos antecedentes do operoso impressor nada se conhece.
+Que terra de Fran&ccedil;a lhe f&ocirc;sse a terra natal;
+quando
+tenha vindo para Lisb&ocirc;a, e se para esta cidade veiu, acaso,
+contratado como &laquo;<em>obreiro de
+imprimidor</em>&raquo; de algum
+de seus tres antecessores, Valentim de Moravia, Jo&atilde;o Pedro
+de Cremona ou Hermann de Kempis, que entre n&oacute;s
+ficou &laquo;Arm&atilde;o de Campos&raquo;, hypotheses que
+nos n&atilde;o parecem
+descabidas, outras tantas interroga&ccedil;&otilde;es
+s&atilde;o que teem
+de ficar sem resposta.<br />
+
+<br />
+
+Por igual, destinadas est&atilde;o ao mesmo resultado as que
+se referem ao modo como o activo &laquo;imprimidor&raquo;
+constituiu
+familia. Germ&atilde;o Galharde casou aqui, e tarde, ou veiu
+j&aacute; casado para Lisb&ocirc;a, o que n&atilde;o
+parece? Sua mulher era
+estrangeira, ou nascera em Portugal? Que o velho typographo
+<span class="pagenum">[48]</span>
+deixou um filho, por ventura continuador da sua
+prole, eis o de que n&atilde;o resta d&uacute;vida. E que
+falleceu deixando-o
+ainda menor, tambem n&atilde;o &eacute; menos certo. O livro
+que estamos examinando no-lo confirmar&aacute;.<br />
+
+<br />
+
+Suppondo que nascera em 1490, por exemplo, Germ&atilde;o
+Galharde poderia contar vinte e tres annos, quando, ao
+que Tito de Noronha conjectura, veiu a fallecer Valentim
+Fernandes<sup><a href="#39">[39]</a></sup>.
+E se tal data estivesse certa pouco teriam
+sobrevivido ao Patriarcha da Imprensa em Portugal os
+seus consocios Jo&atilde;o Pedro de Cremona e
+&laquo;Arm&atilde;o de
+Campos, bombardeiro de el-rei&raquo;, successivamente
+desapparecidos,
+em 1514, o primeiro, em 1518 o segundo.<br />
+
+<br />
+
+Valentim Fernandes, por&eacute;m, segundo adiante vai ver-se,
+ainda n'este &uacute;ltimo anno trabalhava, e se este, afinal,
+tem de ser considerado o &uacute;ltimo da sua vida, bem
+poder&aacute;
+ter-se dado que Germ&atilde;o Galharde, obreiro&#8213;quem sabe?&#8213;de
+qualquer d'estes seus tres antecessores, se habilitasse
+com o material do celebre impressor da viuva de D.
+Jo&atilde;o II, para come&ccedil;ar a sua
+labora&ccedil;&atilde;o de conta propria,
+logo no anno seguinte ao do desapparecimento d'este.
+Em 1519, com effeito, parece ter-se Germ&atilde;o Galharde
+estreiado
+com a primeira edi&ccedil;&atilde;o da
+<em>Arismetyca</em>, de Gaspar
+Nicolas,<sup><a href="#40">[40]</a></sup>
+levando desde ent&atilde;o a vida cheia de laboriosa
+<span class="pagenum">[49]</span>
+occupa&ccedil;&atilde;o at&eacute; os provaveis setenta
+annos, se exceptuarmos
+os dois que passou em Coimbra, em Lisboa, e, porventura,
+na mesma casa.<br />
+
+<br />
+
+Aonde era ella situada?<br />
+
+<br />
+
+V&ecirc;r-se-ha n'este estudo se &eacute; possivel responder,
+por
+presump&ccedil;&otilde;es, a tal pergunta.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>XIII</h3>
+
+<br />
+
+Chamou-se Anna Picaya a mulher do operoso impressor,
+e se n&atilde;o foi portuguesa, que a n&atilde;o deixa parecer
+compatriota nossa o appelido, arriscado ser&aacute;
+attribuir-se-lhe
+esta ou aquella nacionalidade. Confessemos, emtanto,
+que se um desengano d'esta ordem pudesse admittir-se
+<em>por palpite</em>, inclinados temos sempre
+estado a que Anna
+Picaya haja sido biscainha.<br />
+
+<br />
+
+Casou Germ&atilde;o Galharde mo&ccedil;o ainda? Esperou, pelo
+contrario, a idade da experiencia, para dar-se ao matrimonio?
+N&atilde;o temos, como j&aacute; ficou observado, modo de
+responder desenganadamente a taes perguntas. Tudo que
+pud&eacute;mos conjecturar, &eacute; que o filho que deixou
+menor
+ter&aacute; vindo ao mundo, adiantado j&aacute; seu pae em
+annos, se
+muito n&atilde;o erra a conta que lhe d&eacute;mos, ao vir
+busca-lo a
+Morte.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[50]</span>
+Esta circumstancia, comtudo, n&atilde;o se opp&otilde;e a que
+j&aacute;
+houvesse outros filhos, e at&eacute; poderia parecer que os houve,
+com effeito, se f&ocirc;sse possivel interpretar um tanto
+latitudinariamente
+certas express&otilde;es de um documento que
+n&atilde;o tarda a vir transcripto a este estudo.<br />
+
+<br />
+
+No emtanto, e posto que a typographia da <em>Viuva de
+Germ&atilde;o Galharde</em> se sustentasse ainda
+durante alguns annos,
+depois do fallecimento do seu celebre fundador, o
+seu material veiu a passar a novo proprietario, e nada
+nos indica terem-se filhos maiores, se os havia, ou ter-se
+o menor que ficou ao tempo do obito paterno, occupado,
+homem feito, na arte, que o progenitor tanto illustrou.<br />
+
+<br />
+
+Este appelido, a partir d'ent&atilde;o, mergulha no esquecimento,
+pelo menos aqui, em Lisb&ocirc;a; e apenas a meio do
+seculo XVII o nosso illustre polygrapho D. Francisco Manoel
+se lembr&aacute;ra, escrevendo ao seu amigo Azevedo, da
+lenda dos <em>Galhardos</em> da Serra da
+Estrella, que ali&aacute;s nenhuma
+rela&ccedil;&atilde;o tem com os de que aqui tratamos, para
+compara&ccedil;&atilde;o da brevidade com que fizera um seu
+livrinho.
+Esta carta, por&eacute;m, in&eacute;dita fic&aacute;ra, com
+a collec&ccedil;&atilde;o a que
+pertence, at&eacute; que um distincto cultor da memoria de
+t&atilde;o
+infeliz qu&atilde;o abalisado epistolographo a trouxe a lume em
+nossos dias<sup><a href="#41">[41]</a></sup>.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[51]</span>
+Assim contin&uacute;a o esquecimento, sem
+interrup&ccedil;&atilde;o, por
+esses tempos f&oacute;ra. A meiados por&eacute;m do
+XVII.&ordm;
+seculo apparece-nos,
+de repente, um typographo &laquo;Galhardo&raquo;. Diplomava-se
+com o titulo de &laquo;<em>Impressor do sr. Cardeal
+Patriarcha</em>&raquo;; chamou-se Antonio Rodrigues
+Galhardo, e
+teve a sua casa, com capella, horta e mais officinas, no
+Pateo a que a sua familia dava o nome;&#8213;o <em>Pateo dos
+Galhardos</em>, a Santa Izabel<sup><a href="#42">[42]</a></sup>.
+Muito depois, (1837)
+filhos
+seus, ligados sob a firma &laquo;<em>Galhardo
+&amp; Irm&atilde;os</em>&raquo;, imprimem
+na rua da Prociss&atilde;o, n.&ordm; 45, entre outros livros, a
+&laquo;<em>Chronica de El-Rei D. Sebasti&atilde;o,
+por Fr. Bernardo
+da Cruz, publicada por A. Herculano e o Dr. A. C.
+Payva.</em>&raquo;<br />
+
+<br />
+
+Antonio Rodrigues Galhardo &eacute; descendente do
+&laquo;imprimidor&raquo;
+franc&ecirc;s Germ&atilde;o Galharde? Quem, j&aacute;
+agora, poder&aacute;
+affirma-lo, ou quem estar&aacute; habilitado para nega-lo?<br />
+
+<br />
+
+Emtanto, a coincidencia &eacute; para notar, e para notar fica
+sendo, tambem, que esta familia Galhardo veiu a apparentar-se
+com Alexandre Herculano, pelo casamento de um
+<span class="pagenum">[52]</span>
+amigo de juventude do Grande Escriptor, e depois seu
+camarada na emigra&ccedil;&atilde;o, o fallecido general da
+arma de
+artilharia, que foi, quando coronel, director da Escola do
+Exercito, Joaquim Antonio Rodrigues Galhardo, com a
+irm&atilde; do Auctor da <span class="smallcaps">Historia
+de
+Portugal</span>.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>XIV</h3>
+
+<br />
+
+Quando Germ&atilde;o Galharde falleceu, andava-se imprimindo
+na sua officina a <em>quarta</em>
+edi&ccedil;&atilde;o do &laquo;<em>Reportorio
+dos
+Tempos em linguajem portugues</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Este Repertorio, composto pelo sarago&ccedil;ano Andr&eacute;
+de
+Ly, f&ocirc;ra vertido em linguagem, com
+addi&ccedil;&otilde;es, por Valentim
+Fernandes, que dedicou a traduc&ccedil;&atilde;o a Antonio
+Carneiro,
+secretario do rei D. Manoel.<br />
+
+<br />
+
+Ora acontece&#8213;e n'este passo se patenteia qu&atilde;o arriscadas
+s&atilde;o affirmativas peremptorias em especies t&atilde;o
+dubitativas&#8213;;
+acontece, &iacute;amos dizendo, que em <em>Documentos
+para a Historia da Typographia Portugueza</em>, impressos
+em 1888, affirmou o t&atilde;o sabedor Deslandes
+&laquo;n&atilde;o ser conhecido
+exemplar algum da impress&atilde;o d'este
+<em>Repertorio</em>
+feita por Valentim Fernandes, comquanto se deva ter por
+certo que a houvesse dado &aacute; estampa em sua vida.&raquo;<br />
+
+<br />
+
+&#8213;Que veiu a dar-se ent&atilde;o?&#8213;Veiu a dar-se facto igual
+ao succedido com o exemplar do <em>Testamento da Infanta
+D. Maria</em>, impresso em 1610, e que o catalogo da
+Livraria
+Fernando Palha, ao descrever o exemplar que aquelle
+bibliophilo possu&iacute;a declara &laquo;<em>seul
+exemplaire connu d'une
+pi&egrave;ce non cit&eacute;e par les
+bibliographes</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Succede, por&eacute;m, que em 1907, percorrendo n&oacute;s um
+Inventario
+de Codices adquiridos pela Bibliotheca Nacional,
+publicado no <em>Boletim das Bibliothecas e
+Archivos</em>, N.&ordm; 1&#8213;3.&ordm;
+<span class="pagenum">[53]</span>
+anno, 1904, depara-se-nos a
+men&ccedil;&atilde;o de
+certo Codice
+da Coll. Vimieiro, em cujo mi&ocirc;lo vi&eacute;mos a
+encontrar um
+exemplar do predito <em>Testamento</em>, da
+mesma edi&ccedil;&atilde;o de 1610!<br />
+
+<br />
+
+Tal achado annulou, por conseguinte, o privilegio de
+&laquo;<em>seul exemplaire
+connu...</em>&raquo;, attribuido pelo catalogo
+sobredito
+ao exemplar que descreveu!<br />
+
+<br />
+
+Ao diligente bio-bibliophilo Deslandes outro tanto acontecera.
+N&atilde;o lhe f&ocirc;ra dado conhecer a bibliotheca do
+curioso
+architecto Jos&eacute; Maria Nepomuceno, e eis que, fallecido
+este, divulga-se em 1897 o catalogo da famosa livraria de
+que era possuidor intelligente. Ora, sob o N.&ordm; 683, ahi
+appareceu minuciosamente descripto um exemplar do
+<em>Reportorio
+dos tempos</em>, que &laquo;posto n&atilde;o traga
+indicado o logar
+da impress&atilde;o, nem o anno, se p&oacute;de quasi affirmar
+ter
+sido composto em Lisb&ocirc;a, e no anno de 1518, por isso
+que as taboas (astronomicas) indicam come&ccedil;arem &laquo;no
+presente
+anno&raquo;,&#8213;o predito.<br />
+
+<br />
+
+E j&aacute; agora, observaremos que, sendo este
+<em>Reportorio</em>,
+como no rosto indica, &laquo;trelladado e empremido por Val[~e]tym
+fern&atilde;des alemam&raquo;, est&aacute; n'estes termos
+implicito o
+testemunho formal de que o celebre impressor, contra o
+que julga Tito de Noronha, <em>in</em>
+<span class="smallcaps">Ordena&ccedil;&otilde;es
+do
+Reino</span>, ainda
+cinco annos ap&oacute;s o de 1513 era vivo, e exercia a arte.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+Por voltar a Germ&atilde;o Galharde, sabe-se que por A. de
+17 de mar&ccedil;o de 1539, lhe foi outorgado privilegio de
+d&eacute;z
+annos, para imprimir de novo o
+<em>Reportorio</em> de que se trata.
+Deslandes, por&eacute;m, affirma, e d'esta vez ainda n&atilde;o
+se
+apresentou facto que o contradiga, n&atilde;o conhecer, nem lhe
+constar que outrem conhecesse, exemplar algum da impress&atilde;o
+d'este livro, tirada durante os d&eacute;z annos do mencionado
+privilegio.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[54]</span>
+Declara, comtudo, em contraposi&ccedil;&atilde;o,
+<em>ter visto</em> exemplares
+sahidos da officina de Galharde em 1521 e 1528;
+edi&ccedil;&otilde;es estas que n&atilde;o andam notadas
+por nossos bibliographos.<br />
+
+<br />
+
+Por f&oacute;rma que, havendo j&aacute;
+<em>tres</em> edi&ccedil;&otilde;es
+conhecidas do
+<em>Reportorio dos tempos</em>, bem parece
+que s&ecirc;ja, por ora,
+capitulada <em>quarta</em>, como o
+fiz&eacute;mos, a de que se est&aacute; tratando.
+Isto, em obsequio &aacute;s que se dizem datadas de 1519,
+bem como &aacute; de 1557, citada por Barbosa, das quaes,
+at&eacute;
+agora, n&atilde;o se achou porque se confirme a existencia.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>XV</h3>
+
+<br />
+
+Foi Anna Picaya que terminou a impress&atilde;o do
+<em>Reportorio</em>,
+objecto do anterior capitulo.<br />
+
+<br />
+
+Na Nota<sup><a href="#43">[43]</a></sup>
+<em>infra</em>
+traslad&acirc;mos a competente subscrip&ccedil;&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+A seguir a este livro, vem em 1561, editado pelo opulento
+Jo&atilde;o de Borgonha, o t&atilde;o fallado elogio da
+Sig&eacute;a, de
+Mestre Andr&eacute; de Resende; em 1563, nova
+edi&ccedil;&atilde;o do precioso
+<em>Reportorio</em>, especie de
+<em>Diario Ecclesiastico</em>, dos
+Oratorianos, sem o qual nossos av&oacute;s do XVIII.&ordm;
+seculo
+n&atilde;o podiam passar. Finalmente, em 1564, d&aacute; ainda
+a Viuva
+<span class="pagenum">[55]</span>
+de Germ&atilde;o Galharde o <em>Exemplo pera bien
+bivir</em>, de Fern&atilde;o
+Peres de Gusm&atilde;o, obra acabada a 21 de mar&ccedil;o do
+predito anno<sup><a href="#44">[44]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+D'esta data em diante, at&eacute; 5 de setembro de 1898, nada
+mais se soube que se relacionasse com a officina typographica
+da viuva Galharde. Naquelle dia, por&eacute;m, publica o
+dr. Sousa Viterbo, como not&aacute;mos no f&ecirc;cho do Cap.
+V. e
+correspondente nota, destes <em>Estudos</em>,
+resumido e commentado,
+o depoimento, por den&uacute;ncia feita na
+Inquisi&ccedil;&atilde;o em 5
+de novembro de 1571, do flamengo Pero Alberto, obreiro
+de Marcos Borges.<sup><a href="#45">[45]</a></sup>
+Resulta de tal depoimento o ficarem
+desde ent&atilde;o confirmados dois factos; mais proximo um,
+mais remoto o outro. Pelo primeiro, corrobora-se a existencia
+da typographia da viuva Galharde em 1563. Este
+n&atilde;o &eacute; essencial. Que a celebre typographia
+funccionava
+ainda 1564 j&aacute; n&oacute;s sabiamos, e o leitor comnosco.
+O que
+tem val&ocirc;r &eacute; o outro facto; o que revela a
+transferencia da
+imprensa de Marcos Borges de
+&laquo;<em>detr&aacute;s de nossa Senhora
+da Palma</em>&raquo; para o Arco do Carangueijo. A
+indica&ccedil;&atilde;o
+<span class="pagenum">[56]</span>
+consider&aacute;mo-la preciosa, porque nos indicava quem
+f&ocirc;ra
+o successor da viuva Galharde; isto &eacute;, porque vinha
+concorrer,
+ainda que de modo indirecto, para nos fortalecer
+na presump&ccedil;&atilde;o de que era no Arco do Carangueijo,
+com
+effeito, onde vamos dentro em pouco encontrar Anna Picaya,
+com seu filho menor, que Germ&atilde;o Galharde fund&aacute;ra
+a officina por elle mantida durante 41 annos.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+Que ter&aacute;, por&eacute;m, succedido entre 21 de
+mar&ccedil;o de 1564,
+data do ultimo livro, conhecido, impresso pela &laquo;Viuva
+Galharde&raquo;, e 1571, anno em que Marcos Borges nos apparece
+estabelecido, segundo todas as probabilidades, na
+casa que ella occupara?<br />
+
+<br />
+
+Tudo que &eacute; possivel responder, resume-se no seguinte:<br />
+
+<br />
+
+Qualquer que haja sido o motivo, o velho estabelecimento
+typographico pouco mais ter&aacute; produzido, depois de
+1564, sob a gerencia da viuva de Germ&atilde;o Galharde, e se
+mais alguma obra veiu a lume, ap&oacute;s a de Fern&atilde;o
+Peres de
+Gusm&atilde;o, perdeu-se, como quasi de certeza outras se perderam,
+impressas pelo fundador da casa.<sup><a href="#46">[46]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+Certo &eacute; que a meiados de 1566, e contra o que estabeleceu
+Tito de Noronha, j&aacute; Antonio Gon&ccedil;alves, o nomeado
+<span class="pagenum"><a name="p57">[57]</a></span>
+impressor da 1.&ordf; ed. dos
+<span class="smallcaps">Lusiadas</span>, trabalhava
+por sua
+conta, muito distante do Arco do Carangueijo, com material
+que pertenc&ecirc;ra &aacute; officina de Galharde.<br />
+
+<br />
+
+Com effeito, do exame comparativo de algumas das
+obras impressas em uma e outra das duas officinas resulta
+absoluta certeza que Antonio Gon&ccedil;alves utilisou
+frontispicios
+e letras iniciaes de phantasia que pertenceram &aacute;quelle.
+J&aacute; Tito de Noronha deix&aacute;ra notado o facto, em uma
+de
+suas t&atilde;o copiosas quanto instructivas monographias.<br />
+
+<br />
+
+Por nossa parte, temos por bem possivel <a href="#e7">que</a>
+o
+4.&ordm;
+de
+dez folhas n. n., onde se acha impresso o <em>Auto das
+Regateiras</em>,
+de Antonio Ribeiro, o <em>Chiado</em>, e que
+n&atilde;o tendo
+segundo Innocencio narra, logar, data, nem nome de impressor,
+apresenta, comtudo, na portada letras que parece
+quererem designar <em>Germ&atilde;o
+Galharde</em>, haja sa&iacute;do da officina
+de Antonio Gon&ccedil;alves, applicando-lhe este alguma
+gravura de frontispicio que haja feito parte do material
+daquelle impressor.<br />
+
+<br />
+
+N&atilde;o temos, nesta occasi&atilde;o, o vagar preciso para
+examinar
+este folheto, que se acha na Bibliotheca Nacional, e
+pertenceu &aacute; livraria de D. Francisco de Mello Manoel da
+Camara. Acaso do exame resultaria alguma cousa de mais
+positivo. Seja, por&eacute;m, como f&ocirc;r, uma prova de
+decidir &eacute;
+a propria composi&ccedil;&atilde;o do frontispicio dos
+<span class="smallcaps">Lusiadas</span>, impressos
+por Antonio Gon&ccedil;alves em 1572. As pe&ccedil;as que o
+comp&otilde;em
+pertenceram ao material de Germ&atilde;o Galharde. Esta
+asser&ccedil;&atilde;o comprova-se, pondo em conspecto o
+frontispicio
+da edi&ccedil;&atilde;o
+<em>princeps</em> dos
+<span class="smallcaps">Lusiadas</span> (a do
+pelicano com o
+collo
+para a esquerda do leitor, bem entendido), e a do
+<em>Summario</em>,
+de Christov&atilde;o Rodrigues de Oliveira, sahido a lume
+procedente da officina de Galharde, depois de 1551, com
+toda a certeza, e talvez em 1554.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[58]</span>
+J&aacute; em 1570 Antonio Gon&ccedil;alves
+aproveit&aacute;ra este mesmo
+frontispicio no <em>Reportorio dos
+tempos</em>, que lhe coube imprimir
+tambem, edi&ccedil;&atilde;o que a Innocencio parece ter
+escapado,
+mas de que ha um exemplar nos Reservados da
+Bibliotheca Nacional. Este sempre lembrado impressor
+ter&aacute; come&ccedil;ado por ser
+&laquo;imprimidor-obreiro&raquo; do velho typographo
+franc&ecirc;s, sendo bem possivel que se haja conservado
+na casa, ap&oacute;s a morte de seu mestre. Resolvida Anna
+Picaya a fechar a officina, ou, porventura, fallecida, ter&aacute;
+o seu official, disposto a estabelecer-se, uma vez que a
+casa acabava, comprado os aprestos desta. Tudo parece
+conciliar-se para acreditar tal supposi&ccedil;&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+Mais difficil &eacute; o precisar desde quando Marcos Borges
+ter&aacute; passado a occupar as casas da viuva, e o motivo que
+lhe facilitaria o estabelecer-se nellas. N&atilde;o parece, com
+effeito, que as duas opera&ccedil;&otilde;es&#8213;venda do material
+a um,
+e cedencia da casa a outro, se cedencia foi, hajam
+res&uacute;ltado
+da mesma causa;&#8213;o desfazer da velha officina.
+Lembremo-nos que em 1567, isto &eacute;, um anno ap&oacute;s o
+estabelecer-se
+Antonio Gon&ccedil;alves, como provaremos, ainda
+Marcos Borges imprimia a <em>Chronica de Jorge
+Castrioto</em>
+no mesmo sitio onde come&ccedil;&aacute;ra a sua
+labora&ccedil;&atilde;o;
+&laquo;<em>atr&aacute;s
+de nossa senhora da Palma</em>&raquo;. Presumivel
+ser&aacute;, pois, que
+Anna Picaya se haja conservado, com seu filho, nas suas
+casas, ap&oacute;s ter acabado com a officina, vindo, porventura,
+a fallecer depois de 1568, adquirindo&#8213;quem sabe?&#8213;Marcos
+Borges a propriedade, e estabelecendo-se nella.<br />
+
+<br />
+
+Como quere que s&ecirc;ja, vamos ver agora como se chegou
+a presumir que a typographia de que temos tratado
+haja sido no Arco do Caranguejo.
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[59]</span>
+<h3>XVI</h3>
+
+<br />
+
+Fallecido Germ&atilde;o Galharde, procedeu-se a inventario,
+sendo Anna Picaya nomeada &laquo;titor&raquo; de seu filho
+Antonio.
+Concorriam mais filhos, j&aacute; maiores, &aacute;
+heran&ccedil;a? Eis o de
+que n&atilde;o ha certeza. Das quatro obras unicas de que nos
+restam exemplares, sahidas da officina do extincto, ap&oacute;s
+a morte deste, tres dizem-se impressas &laquo;<em>em
+casa da viuva
+molher que foi de Germ&atilde;o
+Galharde</em>.&raquo; No titulo e
+subscrip&ccedil;&atilde;o
+da quarta, por&eacute;m, segunda na ordem chronologica
+da impress&atilde;o, l&ecirc;-se:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;<em>Lvdovicae Sigaeae</em> | <em>Tvmvlvs</em>
+| &para;
+<em>L. Andrea Resendio</em> |
+<em>Auctore</em> | &para;
+<em>Apvd haeredes
+Germani</em> | <em>Galiardi.
+An.</em> |
+<em>MDLXI</em> | &para;
+<em>Olyssippone</em> | &para;
+<em>Venalis apud Iohannem de
+Borgo</em> | <em>Regium Bibliopolam, in vico
+nouo</em>.&raquo;<sup><a href="#47">[47]</a></sup><br />
+
+<br />
+
+Ora, esta excep&ccedil;&atilde;o,
+&laquo;<em>haeredes</em>&raquo;, que
+ali&aacute;s n&atilde;o resolve
+a d&uacute;vida, por isso que realisado o casamento de Galharde
+&laquo;&aacute; moda do reino&raquo;, co-herdeira com o
+filho menor era
+<span class="pagenum">[60]</span>
+a viuva, meieira na casa, parece-nos ter sido muito de
+proposito empregada naquelle impresso por motivo que
+a occasi&atilde;o tornava perfeitamente plausivel. Corria por
+esse tempo o inventario seus termos, e habilitavam se &aacute;
+heran&ccedil;a do chefe da familia a sua viuva e o filho menor. A
+express&atilde;o
+<em>haeredes</em>, posta na
+subscrip&ccedil;&atilde;o do
+<em>Elogio</em>, de
+Mestre Andr&eacute; de Resende, em 1561, era, portanto, de
+todo o ponto bem cabida; exprimia a situa&ccedil;&atilde;o de
+ambos,
+como inventariantes e como industriaes. Por isso se empregou.<br />
+
+<br />
+
+Quando os saccadores, em desempenho do seu cargo,
+<em>convidaram</em> a viuva impressora a
+entregar-lhes a importancia
+do escote que lhe coubera na
+<em>voluntaria</em>
+imposi&ccedil;&atilde;o,
+(entre 15 de fevereiro e 31 de outubro de 1566) pagou
+ella, sem repugnar, os 455 rs. em que foi fintada. Especie
+de contribui&ccedil;&atilde;o extraordinaria de maneio, a que
+s&oacute; escapavam
+os privilegiados;&#8213;familiares do Santo Officio,
+servidores de S. A. e quem quer que tivesse armas e cavallo,
+e &laquo;jogasse lan&ccedil;a de dezoito palmos para
+cima&raquo;<sup><a href="#48">[48]</a></sup>,&#8213;era
+<span class="pagenum">[61]</span>
+para todos os mais a commum sorte; n&atilde;o havia fugir-lhe.<br />
+
+<br />
+
+Mas, fechara-se, emfim, o inventario, julgara-se a partilha,
+e liquidou-se o que vinha a tocar ao menor; a sua
+legitima. Importava em &laquo;cincoenta e nove mil, quinhentos
+e vinte e dois r&eacute;is&raquo;. Havia mais
+orph&atilde;os em semelhantes
+circumstancias. A provis&atilde;o de S. A. beneficiava-os, para
+os effeitos da <em>voluntaria</em> derrama,
+com o desconto do
+&laquo;ter&ccedil;o&raquo; do valor total apurado, para que
+sobre o remanescente
+recahisse o talho. Anna Picaya, tutora de seu filho,
+teria de pagar por elle &laquo;duzentos e oitenta
+r&eacute;is&raquo;. Reclamou.
+Agora, n&atilde;o era a obriga&ccedil;&atilde;o do
+estabelecimento; era
+a legitima do orph&atilde;o, despiedada,&#8213;provaria
+at&eacute;&#8213;illegalmente
+desfalcada. O menor Antonio Galharde era filho de
+um homem que durante mais de quarenta annos tinha
+prestado assignalados servi&ccedil;os &aacute;s letras do
+pa&iacute;s que adoptara
+por patria. Os seus pr&eacute;los n&atilde;o tinham gemido
+s&oacute; em
+servi&ccedil;o de quantos praticavam a nobre arte de escrever,
+sen&atilde;o que tinham tambem trabalhado para a cor&ocirc;a.
+Antonio
+Galharde era filho de um &laquo;official impressor da casa
+real&raquo;<sup><a href="#49">[49]</a></sup>;
+a isen&ccedil;&atilde;o de que seu pae, se vivo f&ocirc;ra,
+gosaria, porque
+n&atilde;o mandava S. A. que aproveitasse ao filho menor?<br />
+
+<br />
+
+Que S. A., pois, &laquo;inclinasse por um pouco a
+magestade.&raquo;
+&Aacute; triste viuva, sobrecarregada com os encargos da tutella
+e ao filho orph&atilde;o devia-se-lhes
+contempla&ccedil;&atilde;o. Ambos
+receberiam merc&ecirc; no favoravel despacho com que S. A.
+se servisse attende-los.<br />
+
+<br />
+
+E se isto assim se passou, pode affirmar-se que a
+&laquo;titor&raquo;
+do menor Antonio Galharde venceu! No traslado da
+<span class="pagenum">[62]</span>
+certid&atilde;o do orphanologico que baixara aos encarregados
+da cobran&ccedil;a, e foi lan&ccedil;ado a fl.<sup>s</sup>
+685 e segg.,
+do <em>Livro do
+Lan&ccedil;amento</em>, riscou-se a
+designa&ccedil;&atilde;o do escote, escripta
+na margem esquerda, averbando-se na direita a significativa
+cota, constante do proprio documento remissor que segue:<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<div style="text-align: center;">&laquo;ORFFA&Atilde;OS&raquo;<br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+&laquo;T<sup>o</sup> Dos orf&atilde;os que
+Joh&atilde;o Do
+sal
+escriv&atilde;o Delles
+Mandou a esta cassa do lan&ccedil;am.<sup>to</sup> per
+sua sua
+certid&atilde;o&raquo;<br />
+
+<div class="dots"><br />
+
+</div>
+
+<div class="dots"><br />
+
+</div>
+
+<br />
+
+&laquo;It Ant.<sup>o</sup> filho de Jerm&atilde;o
+Galharde
+Imprimidor tem
+de
+ligitima cinquo&egrave;ta e noue mill e quinh&egrave;tos e
+vinte e dous rs
+abatido o terco paguara doz&egrave;tos e oytenta rs e sua titor<sup><a href="#50">[50]</a></sup>
+Ana Picaya sua may m<sup>or</sup> ao arquo do
+cangreijo&raquo;<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[63]</span>
+A margem direita do livro est&aacute; escripto: &laquo;abatido
+p.<sup>la</sup> provis&atilde;o de S. A. n&atilde;o
+vay a Rol&raquo;
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+Parece, pois, poder concluir-se do teor desta certid&atilde;o
+que a casa que Germ&atilde;o Galharde possuia, e onde residia
+e tinha a sua officina typographica, era <em>ao Arco do
+Carangueijo</em>,
+isto &eacute;, no extremo N. da rua deste nome, para
+al&eacute;m da actual rua das Pedras Negras, partindo em linha
+obliqua
+do come&ccedil;o da travessa do Almada. O chanfro existente
+no cunhal posterior do predio que faz face ao Largo da Magdalena,
+do lado de L., e que todos podem notar, &eacute; quanto
+resta do Arco de Dona Thereza, de onde ascendia para o
+N. a &laquo;Rua do Arco do Carangueijo.&raquo;<br />
+
+<br />
+
+Passaremos agora a tratar de Antonio Gon&ccedil;alves, e
+findaremos.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>XVII</h3>
+
+<br />
+
+Affirm&aacute;mos no cap. XV.&ordm; d'estes
+<em>Estudos</em> que a meiados
+de 1566 j&aacute; Antonio Gon&ccedil;alves, o nomeado impressor
+da 1.&ordf; ed. dos <span class="smallcaps">Lusiadas</span>,
+trabalhava por sua conta, muito
+distante do Arco do Caranguejo.<br />
+
+<br />
+
+Vamos procurar dizer onde era.<br />
+
+<br />
+
+Preliminarmente, por&eacute;m, preciso se torna lembrar que
+na segunda metade do seculo XVI, correspondente ao
+anno supra mencionado, Lisb&ocirc;a, sob o ponto de vista da
+sua divis&atilde;o ecclesiastica, a unica por ent&atilde;o
+estabelecida,
+achava-se, de um modo geral, dividida em tres grandes
+zonas; a oriental, a central e a septentrional. Confrangidas
+em torno dos pendores da primitiva cidade, e descendo
+para a vertente sul que lhes corresponde, todas as parochias
+de limitado territorio, successivamente fundadas
+<span class="pagenum">[64]</span>
+durante os quatro seculos anteriores. Na extrema esquerda,
+imminente ao Tejo, a de Santo Estev&atilde;o, excepcionando-se
+do acanhado territorio de todas as mais, pela
+tira enorme que a alongava at&eacute; Enxobregas<sup><a href="#51">[51]</a></sup>. Ao centro,
+S. Nicolau e Santas Justa e Rufina, soffregas de territorio,
+dominando tudo, abrangendo tudo, reservando apenas
+cada uma d'ellas para si as eminencias correspondentes &aacute;
+orienta&ccedil;&atilde;o das respectivas s&eacute;des. A
+primeira, alastrando-se
+por boa parte do valle central da cidade, e trepando
+para o &laquo;Bairro do Almirante&raquo;, o Carmo e
+circumvisinhan&ccedil;as,
+bracejava, a oeste, para os ferragiaes atinentes &aacute;s
+muralhas, dando a m&atilde;o &aacute;s suas duas convisinhas
+dos Martyres
+e do Loreto. A freguezia de Santa Justa, mais extensa
+ainda do que a de S. Nicolau, dominando, ao septemtri&atilde;o,
+o resto da ch&atilde;a que aquella lhe deixava, investia
+pelo povoado em f&oacute;ra at&eacute; &aacute; Areia
+Gorda, por um lado,
+at&eacute; Arroios, pelo outro, galgava o monte de Sant'Anna,
+laborava as cumiadas que a aproximavam da Alca&ccedil;ova,
+mal permittindo, suzerana desdenhosa, como a sua possante
+companheira, que algumas pequenas parochias circumstantes
+affirmassem a desvaliosa existencia.<br />
+
+<br />
+
+Eis porque se l&ecirc; no &laquo;Livro do
+Lan&ccedil;amento&raquo; que temos
+manuseado, a fls. 539, v.<sup>o</sup>, o seguinte titulo:
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[65]</span>
+&laquo;<em>Come&ccedil;a o quatorzeno Rol Da
+freguezia De Santa
+Justa: Na Rua das Casas de Manoel a.<sup>o</sup></em>
+(Affonso)
+<em>at&eacute;
+ao postiguo De Santo Andr&eacute;</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Estamos, pois, junto ao, de nossos dias, chamado Arco
+de Santo Andr&eacute;, que acaba de ser derribado, e que a
+Divis&atilde;o
+Parochial do Patriarcha D. Fernando de Sousa e
+Silva, de 1780, mandou considerar, por dentro e por f&oacute;ra,
+no territorio da freguezia daquella invoca&ccedil;&atilde;o
+constituindo
+em 1566 extremas de N. E. da parochia de Santa Justa.<br />
+
+<br />
+
+Por escusado temos affirmar que nas listas da
+via&ccedil;&atilde;o
+parochial, estampadas no Summario de Christov&atilde;o Rodrigues
+d'Oliveira, organisadas em 1551, ou pouco depois,<sup><a href="#52">[52]</a></sup>
+n&atilde;o se encontra semelhante denomina&ccedil;&atilde;o
+de rua, se tal
+modo de indicar uma via p&uacute;blica pode ser classificado
+&laquo;denomina&ccedil;&atilde;o&raquo;. &Eacute;,
+com effeito, evidente que o redactor
+d'esta especie de matriz, conte&uacute;da no &laquo;Livro do
+Lan&ccedil;amento&raquo;
+em exame, sabia bem quem era o individuo a quem
+<span class="pagenum"><a name="p66">[66]</a></span>
+chamou &laquo;Manoel Affonso&raquo;, seu contemporaneo ou
+n&atilde;o.
+Por nossa parte estamos <a href="#e8">persuadidos</a>
+que
+Basti&atilde;o de Lucena
+grandemente se equivocou, atribuindo o baptismal
+&laquo;Manoel&raquo; a um individuo que se chamou
+Estev&atilde;o, pois
+que esse &eacute; que teve casas na rua de que se trata, tendo
+ambos o mesmo sobrenome. Manoel Affonso, que foi um
+dos sacadores deste &laquo;Quatorzeno Rol&raquo;, era
+proprietario,
+sim, mas no Beco do Po&ccedil;o do Ceitil. Tinha ahi uma
+<em>atafana</em><sup><a href="#53">[53]</a></sup>
+e n'ella residia. Da coincidencia de sobrenomes
+ter&aacute;, porventura, nascido o equivoco.<br />
+
+<br />
+
+Como quer que seja, o designar semelhante
+indica&ccedil;&atilde;o
+a rua onde deviam come&ccedil;ar as opera&ccedil;&otilde;es
+da cobran&ccedil;a,
+apresenta-se, tanto para o lan&ccedil;ador das fintas como para os
+sacadores d'ellas, facto natural, correntio. A via p&uacute;blica
+de que se tracta poderia ter outra qualquer
+denomina&ccedil;&atilde;o,
+que para uns e outros esta que lhe foi attribuida bastou.<br />
+
+<br />
+
+E bastou tambem para n&oacute;s.<br />
+
+<br />
+
+De facto, se esta cobran&ccedil;a devia come&ccedil;ar n'uma
+rua
+que ia at&eacute; o postigo de Santo Andr&eacute;, que importa
+que
+lan&ccedil;ador e sacadores lhe chamassem, ou verdadeira ou
+equivocadamente, &laquo;Rua das casas de Manoel Affonso&raquo;,
+se d&uacute;vida n&atilde;o pode haver que tal via
+p&uacute;blica outra n&atilde;o &eacute;,
+sen&atilde;o o tro&ccedil;o mais ou menos modificado, no
+material e
+no aspecto topographico, da actual Costa do Castello que
+vae do baluarte de S. Louren&ccedil;o ao agora j&aacute;
+derribado
+Arco de Santo Andr&eacute;?<br />
+
+<br />
+
+Aquelle baluarte, entreposto nos lan&ccedil;os do norte da
+<em>c&ecirc;rca velha</em> da primitiva
+Lisboa, foi aproveitado pelos
+constructores da c&ecirc;rca de D. Fernando, para lhe apoiarem
+no paramento o arco do postigo que tomou aquella
+<span class="pagenum">[67]</span>
+denomina&ccedil;&atilde;o, tambem conhecido por
+&laquo;Postigo da Rosa&raquo;,
+depois da funda&ccedil;&atilde;o do mosteiro da rua das
+Farinhas.<sup><a href="#54">[54]</a></sup>
+Qualquer de nossos benevolos leitores pode ver ainda agora
+os vestigios das nervuras do arco embebidas no vetusto
+panno do baluarte, assim como, do lado opposto, os
+restos desfigurados do cubello onde o mesmo arco ia assentar.
+Tudo isto foi arrasado no ultimo anno do seculo
+XVIII.<br />
+
+<br />
+
+Do postigo de S. Louren&ccedil;o, a
+<em>c&ecirc;rca nova</em> descia a
+escarpa
+que vinha confundir-se no labiryntho de vielas que
+demoravam, como ainda agora, entre o vetusto edificio do
+chamado Colleginho e a Mouraria. Era-lhes canal de
+communica&ccedil;&atilde;o
+com a &laquo;rua de Manoel Affonso&raquo; a &laquo;Rua do
+Po&ccedil;o do Ceitil&raquo;, entalada entre a muralha nova e
+os muros
+da c&ecirc;rca da Casa de &laquo;Santo
+Ant&atilde;o&raquo;, a que depois se
+chamou &laquo;o Velho&raquo; para o distinguir da nova casa dos
+jesuitas,
+actual Hospital de S. Jos&eacute;. Esta &laquo;Rua do
+Po&ccedil;o do
+<span class="pagenum">[68]</span>
+Ceitil&raquo;, desde muito desapparecida, mas de que a carta
+topographica da Commiss&atilde;o Geodesica, dada a lume em
+1875, ainda nos quere parecer que marca os vestigios,
+constituiu a cabeceira do &laquo;Trezeno rol&raquo; da
+freguezia de
+Santa Justa.<br />
+
+<br />
+
+Conclue-se daqui pois que os arroladores continuavam
+a adoptar a marcha ascencional, como em nosso anterior
+estudo vimos, por isso que, explorada a zona de que
+aquella rua era o come&ccedil;o, passaram a encabe&ccedil;ar o
+14.&ordm;
+Rol pela via publica immediata.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>XVIII</h3>
+
+<br />
+
+Al&eacute;m destas raz&otilde;es de congruencia, confirmando
+ser,
+com effeito, a &laquo;Rua das casas de Manoel Affonso&raquo; o
+tro&ccedil;o
+da atual Costa do Castello que ficou indicado, outros
+testemunhos positivos existem que nos asseguram a identidade
+da rua do seculo XVI com a via publica do seculo XX.<br />
+
+<br />
+
+N&atilde;o podemos dispensar-nos de os apresentar, por muito
+que tal resolu&ccedil;&atilde;o possa parecer extranha ao nosso
+objecto. Ver-se-ha que o n&atilde;o &eacute;.<br />
+
+<br />
+
+Por Alv. datado de Evora, a 8 de junho de 1573, foi
+commettida ao Licenceado Luiz Louren&ccedil;o a
+organisa&ccedil;&atilde;o
+do tombo das propriedades foreiras &aacute; Camara desta cidade.
+De tal diligencia se conservam os respectivos Livros
+no Archivo Municipal. Examinando o segundo destes
+Livros, que tem seu come&ccedil;o na &laquo;Rua do Arco do
+Rosio,
+da banda da pra&ccedil;a da palha&raquo;, na freguezia de Santa
+Justa,
+averigua-se que de 1547 a 1565 havia a Cidade effectuado
+dez aforamentos na &laquo;rua que vai da porta de Santo
+<span class="pagenum">[69]</span>
+Andr&eacute; para o postigo de Sam Louren&ccedil;o, que por
+outro
+nome se chama Villa Quente&raquo;<sup><a href="#55">[55]</a></sup>.<br />
+
+<br />
+
+Confrontado este titulo com o que Basti&atilde;o de Lucena
+escreveu no Livro que estamos estudando, acha-se que a
+situa&ccedil;&atilde;o da via p&uacute;blica do Tombo da
+Cidade &eacute; de todo
+o ponto a mesma que se l&ecirc; naquelle Livro, salvo a
+orienta&ccedil;&atilde;o,
+que diametralmente diverge, visto que o juiz do
+Tombo partiu do postigo de Santo Andr&eacute; para o de S.
+Louren&ccedil;o, e Basti&atilde;o de Lucena fez o contrario,
+para o
+que, segundo acabamos de ver, teve uma excellente raz&atilde;o
+de ordem.<br />
+
+<br />
+
+Ora, que tanto uma como outra das duas
+descrip&ccedil;&otilde;es se
+accomodam sem obice algum &aacute; topographia actual,
+n&atilde;o
+resta d&uacute;vida, pois que o caminho de nossos dias
+municipalmente
+chamado Costa do Castello, come&ccedil;ando na sua
+extrema oriental no fim da rua do Milagre de Santo Antonio,
+passa, ao inflectir para o N., rente ao panno de
+muralha do baluarte de S. Louren&ccedil;o, e contin&uacute;a
+at&eacute; terminar
+junto do agora derruido Arco de Santo Andr&eacute;.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[70]</span>
+Se o leitor paciente o seguir comnosco, encontrar&aacute;,
+&aacute;
+sua direita, antes da rampa que termina a Costa e atinente
+a um lan&ccedil;o de muralha que sustenta um pequeno quintal,
+uma porta, tendo o n.&ordm; de policia 92 A, dando
+acc&eacute;sso
+a extenso escadorio, que torneja, l&aacute; no alto, &aacute;
+direita,
+e segue em varios e apertados lan&ccedil;os at&eacute;
+encontrar, &aacute;
+esquerda, a famigerada <em>Porta do
+Moniz</em>, aquella porta
+do Castello, origem da lenda que Herculano pulverisou.<sup><a href="#56">[56]</a></sup>
+No Tombo do Licenceado Luiz Louren&ccedil;o, as escadas
+alludidas s&atilde;o a &laquo;Rua que vai da rua direyta para o
+Postigo
+do Moniz&raquo;. As casas que ladeavam a entrada de tal
+&laquo;Rua&raquo; foram levantadas em ch&atilde;os
+pertencentes &aacute; Cidade.<br />
+
+<br />
+
+As da banda do Postigo de S. Louren&ccedil;o, na frente do
+muro do quintal acima alludido, e vinham a ser as
+&laquo;derradeiras
+casinhas quando querem voltar da dita rua pelo caminho
+que vai ao Postigo do Moniz&raquo;, possuia-as um casal,
+Antonio Fernandes e sua mulher Barbara Gon&ccedil;alves,
+&laquo;parda&raquo;. As da banda do Postigo de Santo
+Andr&eacute; pertenciam
+a Estev&atilde;o Affonso, porteiro. E eis porque desta
+circumstancia
+nos veiu a tenta&ccedil;&atilde;o de achar que
+Basti&atilde;o de
+Lucena se equivocou, atribuindo a Manoel Affonso as
+casas deste Estev&atilde;o. Se o porteiro foi dos primeiros
+edificadores
+que teve este tro&ccedil;o da Costa do Castello (1547),
+&eacute; bem provavel que o seu nome servisse de
+conhecen&ccedil;a
+para a <em>sua</em> rua, ent&atilde;o
+quando era este individuo o segundo
+de quantos foreiros a Cidade teve n'aquelle sitio, e
+aquelle o modo de distinguir as vias publicas lisbonenses
+umas das outras.<br />
+
+<br />
+
+Alem dos emphiteutas da Camara acima mencionados,
+<span class="pagenum">[71]</span>
+outros havia que figuram em ambos os documentos que
+temos citado. Assim, a Cidade tinha aforado ao dr. Affonso
+Figueira, desembargador da Casa do Civel e Ouvidor
+do crime, em dois annos diversos, 1555 e 1557, tres
+ch&atilde;os, sobre os quaes este magistrado levantara casas, e
+um quarto que elle reservara para seu quintal, e que o era
+ao tempo do Tombo que vamos seguindo. A loja de uma
+das casas estava em 1566 ocupada pelo tecel&atilde;o
+&laquo;Jo&atilde;o
+Francisquo&raquo;, conservando-se senhorio, o magistrado sobredito.
+Este ahi mesmo residiria, mas a toga excepcionou-o
+da obriga&ccedil;&atilde;o do escote, e por isso s&oacute;
+naquella qualidade
+apparece no rol da derrama. Do mesmo modo aforara
+a Cidade, em 1542 e 1547, dois outros ch&atilde;os perto
+dos antecedentes, a uma Guiomar Dias. Esta, precedendo
+a competente licen&ccedil;a, fez venda, em 1561, de uma das casas
+que n'elles edificara a Ambrosio Luis, feitor da
+imposi&ccedil;&atilde;o
+dos vinhos.<br />
+
+<br />
+
+Ora, tanto o magistrado Affonso Figueira como o funccionario
+fiscal apparecem em sua devida altura no Rol de
+Basti&atilde;o de Lucena, isto &eacute;, s&atilde;o
+mencionados como proprietarios
+das respectivas casas, indo do Postigo de Santo Andr&eacute;
+para o baluarte de S. Louren&ccedil;o, sendo a concordancia
+perfeita entre os dois documentos, por isso que umas das
+casas do dr. Affonso Figueira s&atilde;o no Tombo da Cidade,
+as primeiras, indo do Arco de Santo Andr&eacute;, partindo pelo
+N. E. com as de Ambrosio Luis e com outras de outro
+aforamento, realisado por aquelle magistrado dois annos
+depois.<sup><a href="#57">[57]</a></sup>
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[72]</span>
+Absolutamente certos, pois, de que dizer &laquo;Rua das Casas
+de Manoel Affonso at&eacute; o Postigo de Santo
+Andr&eacute;&raquo;, e
+&laquo;Rua que vai da Porta de Santo Andr&eacute; para o
+Postigo de
+Sam Louren&ccedil;o&raquo; &eacute; referir-se a uma mesma
+via p&uacute;blica, e
+que tal referencia corresponde ao tro&ccedil;o actual da Costa
+do Castello, que vai do Baluarte de S. Louren&ccedil;o
+at&eacute; o desembocar
+da mesma Costa no alto da cal&ccedil;ada de Santo
+Andr&eacute;, pedimos ao leitor benigno nos perdoe a longa e
+porventura enfadonha digress&atilde;o topographica, na
+considera&ccedil;&atilde;o
+de ser necessaria a nosso empenho:&#8213;o precisar,
+sem especie nenhuma de d&uacute;vida, onde foi que teve a sua
+officina typographica o j&aacute; agora t&atilde;o nomeado
+Antonio Gon&ccedil;alves,
+&laquo;imprimidor&raquo; da notavel
+edi&ccedil;&atilde;o
+<em>princeps</em> do poema
+<span class="smallcaps">Os Lusiadas</span>, do
+Grande Epico Luis
+de Cam&otilde;es, das duas
+que trazem a data de 1572, a que apresenta o
+<em>Pelicano</em>
+frontispicial com o collo voltado para a esquerda do leitor.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>XIX</h3>
+
+<br />
+
+A 17 de setembro de 1566, Manoel Affonso, atafaneiro,
+morador ao Po&ccedil;o do Ceitil e Jeronymo Gon&ccedil;alves,
+serralheiro,
+<span class="pagenum">[73]</span>
+morador na rua dos Cavalleiros, escolhidos para
+<em>sacadores</em> do
+&laquo;quatorzeno&raquo; rol da freguezia de Santa
+Justa, receberam nos Pa&ccedil;os do concelho desta &laquo;mui
+nobre,
+sempre leal cidade de Lisboa&raquo;, onde se tratava de
+dar execu&ccedil;&atilde;o ao Regimento da cobran&ccedil;a
+do <em>voluntario</em>
+imposto a que nos temos referido, as competentes copias
+do predito Rol, e trataram de avial-as.<br />
+
+<br />
+
+Deviam come&ccedil;ar, como vimos, da extrema superior da
+&laquo;Rua do Po&ccedil;o do Ceitil,&raquo; que
+desembocava, segundo dissemos,
+proximo do Baluarte de S. Louren&ccedil;o, pela parte
+posterior do Postigo da <em>Cerca nova</em>,
+sendo a primeira do
+&laquo;trezeno&raquo; Rol.<br />
+
+<br />
+
+Percorrendo toda a rua at&eacute; o Postigo de Santo
+Andr&eacute;,
+voltavam os dois <em>sacadores</em> para a
+cal&ccedil;ada desta denomina&ccedil;&atilde;o,
+internavam-se na Rua da Amendoeira, davam volta
+&aacute; travessa desta rua, que l&aacute; vimos ainda hoje, e
+sahindo
+pela rua das Tendas, que parece n&atilde;o logr&aacute;ra ainda
+um
+qualquer nome, vinham &aacute; dos Cavalleiros, findando-lhes
+a tarefa no &laquo;Beco de Thom&eacute; Correa&raquo;; um
+beco sem
+sahida, de nossos dias chamado <em>Beco do
+Forno</em>, primeiro
+&aacute; esquerda naquella rua, indo da Mouraria, e que tem
+l&aacute;,
+n&atilde;o sabemos porque bullas, advertencia de ser
+&laquo;<em>logradouro
+particular</em>&raquo;(!).<br />
+
+<br />
+
+Acompanhemos os honrados exactores na sua
+perigrina&ccedil;&atilde;o
+pela rua que &iacute;a do &laquo;Baluarte de Sam
+Louren&ccedil;o ao Postigo
+de Santo Andr&eacute;&raquo;. Despedir-mo-nos-hemos ahi
+d'elles.
+O que deste Postigo por diante haveriam de fazer n&atilde;o nos
+interessa. Depois veremos, por simples curiosidade, qual foi
+o importe da sua cobran&ccedil;a na area que lhes f&ocirc;ra
+designada.<br />
+
+<br />
+
+Por agora, attentemos um momento na fei&ccedil;&atilde;o da
+discutida
+via publica lisbonense, como ella parece ter sido no
+2.&ordm; semestre do anno de 1566.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[74]</span>
+Devia apresentar, ao menos por partes, mais largura do
+que hoje vemos ter, posto que n&atilde;o se avantajasse
+grandemente,
+neste particular, &aacute;s convisinhas. Muito mais desafogada
+era ella, por certo, do que &eacute; hoje.<br />
+
+<br />
+
+Ao longo da sua margem direita, indo para Santo Andr&eacute;,
+e at&eacute; alcan&ccedil;ar-lhe o Postigo, 21 propriedades, se
+a tal
+classifica&ccedil;&atilde;o poderiam aspirar as modestas
+casinhas que
+se iam encostando &aacute; barbac&atilde; do Castello, tendo na
+sua
+frente uma larga perspectiva panoramica, de surprehendente
+effeito. Da esquerda, a ondulada ribanceira, por
+onde, ainda 35 annos antes, se espregui&ccedil;ava a miseranda
+Villa Quente, at&eacute; ir topar com a c&ecirc;rca do
+Colleginho.
+L&aacute; quasi ao come&ccedil;ar o forte declive que, tal qual
+hoje,
+terminava a rua, o postigo aberto na muralha por onde
+se come&ccedil;ava a subir para o do Moniz. Diante d'elle,
+atravessada
+no caminho, a cruz de pao, demarcatoria nos titulos
+do Tombo municipal. Por ahi perto, talvez, sempre
+da esquerda, algum pequeno grupo de casinhas, restos da
+subvertida povoa&ccedil;&atilde;o. Ap&oacute;s, os declives
+sobre os quaes se
+levantou, no seculo seguinte, o palacete que assenta no
+espig&atilde;o da cal&ccedil;ada de Santo Andr&eacute;.<br />
+
+<br />
+
+Isto, quanto &aacute; topographia local.<br />
+
+<br />
+
+Vejamos agora quanto respeita &aacute;s
+construc&ccedil;&otilde;es, e, porfim,
+aos que as habitavam.<br />
+
+<br />
+
+As 21 casas da margem direita, que a rua contava pertenciam
+a outros tantos proprietarios. Destes, 12 habitavam
+nas proprias casas, ou s&oacute;s, ou tendo inquilinos. De
+todos os 21, o senhorio mais importante, era o clerigo
+Francisco Dias. O seu predio&#8213;algumas barraquitas,
+provavelmente&#8213;alojava
+9 inquilinos, entre os quaes, 2 cegos.
+De considera&ccedil;&atilde;o, na ordem social, Joanne
+Fernandes,
+mo&ccedil;o da camara da Infanta D. Isabel, tendo na loja
+<span class="pagenum">[75]</span>
+por inquilino um &laquo;sapateiro remend&atilde;o&raquo;.
+Joanne Fernandes
+morava nas proprias casas de que era dono, e foram-lhe
+avaliadas em 30$000 r&eacute;is. Pegado ao postigo de Santo
+Andr&eacute;, n&atilde;o esque&ccedil;a o nosso conhecido
+magistrado Affonso
+Figueira, e confrontando com elle, o Ambrosio Luiz, que
+superintendia na imposi&ccedil;&atilde;o dos vinhos. Algures,
+ali perto,
+um Joanes, cantor de el-rei, que nem por ser tal, se esquivou
+ao escote. Fecham a lista tr&ecirc;s senhoras do appelido
+Viegas; Filippa, Antonia e Anna.&#8213;Tres irm&atilde;as?&#8213;Que
+sabemos n&oacute;s? Os predios das duas primeiras, avaliados
+em 50$000 r&eacute;is cada um, obrigaram-nas a 350 r&eacute;is
+de contribui&ccedil;&atilde;o. As casas de Anna Viegas,&#8213;coisa
+parecida,
+&eacute; mais que certo&#8213;com as barracas do Padre
+Dias, foram computadas no dobro; em 100$000 r&eacute;is, e
+por isso teve de pagar 700 r&eacute;is.<br />
+
+<br />
+
+O predio devia valer a somma em que foi avaliado.
+Alem da senhoria, habitavam n'elle mais 6 inquilinos; 3
+var&otilde;es e 3 femeas, como se diz em estatistica de
+popula&ccedil;&atilde;o.
+Entre as femeas, duas eram viuvas; dos var&otilde;es, um
+fallecera ao tempo de chegarem l&aacute; os
+<em>sacadores</em>, outro
+abalara para parte incerta. O terceiro era typographo;&#8213;chamava-se
+Antonio Gon&ccedil;alves, e tinha aqui a sua officina.
+Elle e Maria Luiz, sua mulher, moravam mais abaixo,
+para o lado de Santo Andr&eacute;, no predio do pintor Garcia
+Fernandes.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<h3>XX</h3>
+
+<br />
+
+Estava, pois, Antonio Gon&ccedil;alves estabelecido j&aacute;
+em setembro
+de 1566, isto &eacute;, dois annos mais cedo, do que o
+que lhe supp&ocirc;s Tito de Noronha, na tabella com que enriqueceu
+a sua t&atilde;o valiosa monographia <em>A Imprensa
+Portugueza
+durante o seculo XVI</em>.
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[76]</span>
+&Eacute; evidente que o auctor se governou, para a
+inscrip&ccedil;&atilde;o
+da data &laquo;1568&raquo;, pela data do primeiro livro que se
+conhece,
+sahido dos pr&eacute;los deste impressor;&#8213;as obras
+poeticas de Cadaval Gravio. (Pag. 82). O facto, por&eacute;m,
+corrobora o asserto j&aacute; por n&oacute;s enunciado nestas
+Notas;
+convem a saber: que hemos de convencer-nos, todos os
+que perlustramos estas materias, que, assim como a nenhum
+habitante da Terra ser&aacute; j&aacute;mais permittido ver a
+outra face do globo lunar, assim nos est&aacute; vedado, e aos
+que depois de n&oacute;s vierem, o descortinar quantas obras, e
+quaes assumptos vieram a lume, s&oacute; no seculo XVI que
+seja, em Lisboa, que para sempre de n&oacute;s e dos porvindouros
+ficar&atilde;o ignorados.<br />
+
+<br />
+
+&Eacute; provavel que Antonio Gon&ccedil;alves continuasse a
+residir
+na Costa do Castello, e ahi mantivesse egualmente a
+sua officina, at&eacute; passar a melhor vida. Nestas afastadas
+eras, o <em>inquilinato</em> ainda tinha mui
+fracas as azas. Voejava
+pouco, e com pouco se contentava. Ahi onde se constituia
+familia, ahi onde se ganhava a vida, ahi se criavam
+affectos; ahi se lan&ccedil;avam raizes. Na mesma parochia,
+onde marido e mulher uma vez se desobrigavam, at&eacute; o ultimo
+dia da vida se ficavam desobrigando. N'ella recebiam
+a agua lustral do baptismo, n'ella se casavam, n'ella continuavam
+a prole. Depois, no ch&atilde;o sagrado que todos os
+fieis pisavam, vindo adorar a Deus, tinham todos, quantas
+vezes de gera&ccedil;&atilde;o em
+gera&ccedil;&atilde;o!&#8213;o proprio e final encerro.<br />
+
+<br />
+
+Pela nota com que fechamos, emfim, estes singellos
+apontamentos, que um acaso nos permittiu redigir, se ver&aacute;
+desde quando e at&eacute; quando se conhecem impress&otilde;es
+sahidas
+da officina de Antonio Gon&ccedil;alves, e quaes as obras
+que se sabe terem sido objecto d'ellas.<br />
+
+<br />
+
+N&atilde;o esque&ccedil;a referir que a officina de Antonio
+Gon&ccedil;alves
+<span class="pagenum">[77]</span>
+foi avaliada em 5$000 r&eacute;is, pagando o futuro impressor
+dos <span class="smallcaps">Lusiadas</span> o
+escote de 35
+r&eacute;is para as necessidades
+da cor&ocirc;a.<br />
+
+<br />
+
+A 26 de abril de 1567 deram os honrados
+<em>sacadores</em> do
+&laquo;Quatorzeno Rol da Freguezia de Santa Justa&raquo; por
+finda
+a sua tarefa, entregando, com a nota de 239
+addi&ccedil;&otilde;es cobradas,
+ao Thesoureiro da Cidade, Andr&eacute; Luiz, recebedor do dinheiro
+deste Lan&ccedil;amento, a quantia de 26$476
+r&eacute;is, em que ellas importaram, jurando aos Santos Evangelhos
+terem procedido como homens de bem.<br />
+
+<br />
+
+Eis a Nota das impress&otilde;es conhecidas, sahidas dos
+pr&eacute;los
+de Antonio Gon&ccedil;alves, redigida por simples apontamentos,
+por se n&atilde;o ter prestado a occasi&atilde;o a uma
+minuciosa
+e integra descrip&ccedil;&atilde;o bibliographica das que
+ser&aacute;
+ainda possivel ver.<br />
+
+<br />
+
+<table style="text-align: left; width: 100%;" border="0" cellpadding="2" cellspacing="2">
+
+ <tbody>
+
+ <tr>
+
+ <td style="vertical-align: top;">1568</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td style="text-align: justify;"><em>Pythographia
+e
+Brachyologia</em>&#8213;Poemas publicados por Cadaval
+Gravio, segundo Tito de Noronha, in <em>A Primeira
+Edi&ccedil;&atilde;o dos Lusiadas</em>, pag. 82.</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="vertical-align: top;">1569</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td style="text-align: justify;"><em>Constitui&ccedil;&otilde;es
+Extravagantes do Arcebispado de Lisboa</em> (3.&ordf;
+ed.)&#8213;aos 7 dias do mes de Fevereiro. Mencionadas por
+Innocencio, <em>Diccion</em>, Tom. II, 105.</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: center; vertical-align: top;">&raquo;</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td style="text-align: justify;"><em>Leis
+extravagantes</em> collegidas e relatadas por mandado do
+muito alto e muito poderoso rey D. Sebastiam, nosso senhor,
+por Duarte Nunes do Liam.&#8213;Innoc. II, 210.</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="vertical-align: top;">1570</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td style="text-align: justify;"><em>Repertorio
+dos Tempos</em>. Visto
+por n&oacute;s na Sala dos
+ <em>Reservados</em>
+da Bibliotheca Nacional&#8213;B&#8213;11. Tem o frontispicio
+dois annos ap&oacute;s empregado pelo mesmo impressor
+ <em>in</em>
+ <span class="smallcaps">Lusiadas</span>,
+de Luiz de Cam&otilde;es. Material que pertenceu a
+Germ&atilde;o
+Galharde.</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="vertical-align: top;">1571</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td style="text-align: justify;"><em>De Rebus
+Emmanuelis</em>, do Bispo
+D. Jeronymo Osorio. Cit.
+por Innocencio&#8213;Letra J. pag. 272.</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="vertical-align: top;">1572</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td style="text-align: justify;"><span class="smallcaps">Os Lusiadas</span>&#8213;por
+Luiz de
+Cam&otilde;es. Frontispicio que pertenceu
+a Germ&atilde;o Galharde&#8213;(<em>Pelicano tendo o
+pesco&ccedil;o
+voltado para a esquerda do leitor</em>).</td>
+
+ </tr>
+
+ </tbody>
+</table>
+
+<span class="pagenum">[78]</span>
+<table style="text-align: left; width: 100%;" border="0" cellpadding="2" cellspacing="2">
+
+ <tbody>
+
+ <tr>
+
+ <td style="vertical-align: top;">1572</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td><em>Primeira Parte do Compendio da Chronica da
+Ordem... do
+Monte do Carmo</em>, por Fr. Sim&atilde;o Coelho. Deve
+cotejar-se
+a noticia de Innocencio com a descrip&ccedil;&atilde;o impressa
+no <em>Catalogo</em>
+n.&ordm; 7 da Livraria de Jos&eacute; dos Santos &amp;
+Irm&atilde;o.</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="vertical-align: top;">1573</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td><em>Commentario do c&ecirc;rco de Goa e
+Chaul</em>, &amp;&#8213;Ha um exemplar
+na Livraria da Torre do Tombo.</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="vertical-align: top;">1574</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td><em>Successo do Segundo C&ecirc;rco de
+Diu</em>, de Jeronymo C&ocirc;rte-Real.&#8213;Ha
+um exemplar entre os <em>Reservados</em> da
+Bibliotheca
+Nacional, mas n&atilde;o cheg&aacute;mos a v&ecirc;-lo, por
+falta de
+occasi&atilde;o.</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: center; vertical-align: top;">&raquo;</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td><em>Regras que
+ensinam a maneira de escrever a orthographia
+portuguesa</em>, por Pedro de Magalh&atilde;es de
+Gandavo. Informa&ccedil;&otilde;es
+de Innocencio, pois se n&atilde;o conhece exemplar algum.<br />
+
+ </td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="vertical-align: top;">1576</td>
+
+ <td style="vertical-align: top;">&#8213;</td>
+
+ <td>1576&#8213;<em>Historia da provincia de Sancta
+Cruz</em>, &amp;, pelo mesmo auctor
+supra-citado. &Eacute; util ler a informa&ccedil;&atilde;o
+de Innocencio,
+&aacute;cerca deste rarissimo livro.</td>
+
+ </tr>
+
+ </tbody>
+</table>
+
+<br />
+
+Por muito satisfeito nos daremos, que esta
+<em>Noticia</em> logre
+alcan&ccedil;ar o agrado de nossos consocios, mais certos
+leitores que ella poder&aacute; ter. Por sua especial bondade nos
+relevar&atilde;o elles, de certo, as deficiencias que se nella
+notarem,
+antes filhas da mingua de recursos, do que da falta
+de boa vontade em alcan&ccedil;ar o impossivel;&#8213;d&aacute;-las
+completas.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<div class="quote">
+Julho, 1913.</div>
+
+<br />
+
+<div class="smallcaps signature">Gomes de Brito.</div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<span class="pagenum">[79]</span>
+<h3>ADDENDA</h3>
+
+<br />
+
+&laquo;Aos cinquo dias do mes de novembro de mil e qujnhentos
+setenta
+e hum annos em Lisboa nos estaos na casa do despacho da Santa
+Inquisi&ccedil;am
+estando hi os senhores jnquisidores perante elles pareceo
+Pero Alberto, flamengo de na&ccedil;am, natural de Envres de jdade
+que
+dise ser de vimte e dous pera vimte e tres annos e dise que hee
+jmpremidor
+e trabalha na jmpres&atilde; de Marcos Borjes ao Arco de Cramgejo
+e pera em todo dizer verdade lhe deu juramento dos Santos
+Evangelhos e prometeu de a dizer e denunciando dise que elle vinha a
+este Santo Officio pera desencarregar sua consciencia e dizer o que
+sabja o qual hee que avera oito annos que elle partio desta cidade
+pera Arrochella com hum Jo&atilde;o de Leam, frances lyurejro o
+qual lhe
+disseram em Castella que estava nesta cidade e que fora ja preso
+pollo Santo Officio e jsto de preso lhe diseram aquj em Lisboa e
+tambem ffoj com elles hum cornelio flamengo de na&ccedil;am,
+naturall de
+Olanda que tambem hee jmprimidor e trabalhava en casa da viuva de
+Germam Galhardo e asj foj com elles hum frances por nome Pierres
+d'Alltabel casado nesta cidade com hua criada ou paremta de Njcolao
+Botardo que viuja na rua noua e vende papel e tambem era jmpresor
+ajnda que o nam usaua muito os quaes todos quatro hiam determjnados
+pera jmpremjr huas horas de Nosa Senhora em portugues
+e o Jo&atilde;o de Leam fazia o gasto e o Pierres e elle confesante
+e outro
+hiam por obrejros e chegando Arrochella por lhe nam quererem dar
+licen&ccedil;a pera as jmprjmjr as n&atilde;o jmprimjram e
+jmprimjram em lugar
+das oras ha gramatica de Joannes Espauterio e dizendo elle denunciante
+ao Cornelio em hum domjnguo se jriam ouvir mjssa e ouvindo
+jsto Jo&atilde;o de Leam perguntou ao Cornelio que era o que elle
+denunciante
+dezja e o Cornelio lhe respondeo que elle denunciante querja
+jr ouvjr mjssa ao que respondeo o dito Jo&atilde;o de Leam dizendo
+que
+senam podia ouvir mjssa na Arrochella porem queriam a
+prega&ccedil;am e
+dizendo jsto antes de jamtar &aacute;s oito ou noue horas o dito
+Joam de
+Leam os leuou todos tres a hua casa grande onde estaua muita gente
+e muitos banquuos e come&ccedil;ar&atilde;o a camtar por huns
+libros que tinham
+nas m&atilde;os e dezi&atilde;o Joam de Leam e Cornelio que
+aquillo que cantavam
+eram Salmos mas elle denunciante nam entendeo a linguoa e
+<span class="pagenum">[80]</span>
+despois se pos hum homem em hua cadejra alta a ler por hum liuro
+em frances espa&ccedil;o de hua hora e o que leo elle denunciante
+nam entendeo
+e acabado de ler se sajram todos da dita casa e se foram a
+jamtar e dahj a tres ou quatro dias elle denunciante, dejxou a dita
+companhia
+na Arrochella e se foj pera Leam de Fran&ccedil;a, perguntado que
+gente era aquela que estaua na casa da Arrochella onde elle denunciante
+foj com ho dito Joam de Leam e Cornelio e Pierres ouvjr cantar
+os salmos, disse que eram lutheranos, perguntado que doutrjna
+era a que se lia na dita casa ou se lho diseram, dise que Joam de
+Leam lhe disera que aquela era doutrjna e lej de Christo e toda
+aquela gente se chamavam ugunotes, perguntado se era aquella doutrjna
+que aly se jnsinaua a gente a jgreja catholica Romana disse que
+aquella doutrjna nam era da jgreja Romana porque nem a casa onde
+se lia era jgreja se nam hua casa sem santos como cavalaryza,
+perguntado
+se allgua pesoa o presuadio ou lhe dise que crese aquella
+doutrjna que alj ensinav&atilde;, dise que nam, perguntado com quem
+entrara
+na dita casa e onde estiveram sentados dise que com Joam de
+Leam e Cornelio e o Pierres e todos quatro se sentaram juntos em hum
+banquo e estiueram todos asj atee o cabo da predica que se sajram
+perguntado se sabe que allgua pesoa aprouaua a dita doutrjna que
+se lia na dita casa disse que soomente Joam de Leam lhe disse que
+aquella doutrjna era muito boa e lej de Christo e que os papistas
+chamavam
+aquella gente ugunotes e o mesmo lhe dise Pierres d'Alltabel
+perguntado qu&atilde;ntas vezes foram a dita casa onde se lia a
+dita doutrjna
+dise que hua soo vez foj la com os que dito tem, perguntado se
+vira jr allgua pesoa aos ditos ajuntamentos majs vezes, dise que nam,
+que os companhejros nam sabe se tornaram laa majs vezes porque
+elle se partio como dito tem pera Leam de Fran&ccedil;a e dispois
+destar
+seis ou sete meses em Leam de Fran&ccedil;a se tornou a Espanha
+onde foj
+preso pollo Santo Officio de Toledo e saio reconciliado com habito
+que lhe tiraram loguo no cadafalso e lhe deram em pena que estivesse
+alj em Toledo hun anno o qual esteue e despois pedio licen&ccedil;a
+pera jr
+trabalhar a Salamanqua e outras partes e lhe diser&atilde; que
+podia andar
+por toda Espanha e porem que se nam embarcasse pera outro reyno
+sem sua licen&ccedil;a e que ho principall intento que o trouxe a
+esta casa
+ffoj por lhe parecer que se podia saber nella que elle foj, estando na
+Arrochella aquela casa com ho dito Joam de Leam e os companhejros
+ouvir a doutrjna dos lutheranos por qu&atilde;oto hum Alexandre
+Lopez
+<span class="pagenum"><a name="p81">[81]</a></span>
+christ&atilde;o novo e outros que a ese tempo la estavam lhe
+diseram que
+elle denunciante fora ouvir a dita doutrjna e que se vem dasemto
+pera trabalhar aquj em seu officio e que ja isto confesou em Toledo
+com ho majs hall nam dise e do costume dise estava bem com todos e
+lhe ffoj mandado ter segredo no caso e elle o prometeo sob carguo
+do dito juramento e por o promottor fiscal requerer a elles senhores
+inquisidores que por ser o dito denunciante estrangeiro e se poder
+absentar pera lugar nam certo lhe reteficasemos em fforma elles
+senhores
+mandaram chamar os muito reverendos padres frej Belchior
+de Sam Mjguel e frej Estevam Caveira, ambos da ordem do bem
+aventurado Sam Domingos e pregadores perante os quaes despois de
+tomarem juramento de ter segredo em forma o dito denunciante disse
+que o dito contheudo em esta sua denuncia&ccedil;am que eu notario
+lhe li
+toda de verbo ad verbum e lida e por elle entendida disse que asj o
+disera e estava escripto na verdade e afirma e ratefica e de nouo torna
+a dizer e asjnou com os ditos senhores inquisidores e os ditos padres
+que estiveram presentes por honestas e religiosas pesoas e eu
+Joam Velho notario appostolico o sprevi, diz no riscado Symam de Saa
+Pereira e declarou sendo perguntado que na dita casa onde estava
+o dito ajuntamento de gente segundo seu parecer, Pierres tinha hum
+liuro na mam e que todos os ditos seus companhejros a saber Joam de
+Leam e Pierres e Cornelio cantavam com ha majs gente os ditos
+Sallmos em frances que elle denunciante nam entendia e asynou com
+elles Senhores padres e eu Joam Velho notario appostolico o sprevi
+(aa.) <em>Jorge Gonsallvez
+Ribeiro</em>&#8213;<em>Pedro
+Alberto</em>&#8213;<em>Sim&atilde;o de Saa
+Pereira</em>&#8213;<em>Frej Belchior de
+S&atilde;o Miguel</em>&#8213;<em>Frej
+Estev&atilde;o Caveira</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+<em>Livro de Denuncias do Santo Officio</em>
+(n.&ordm; 106).<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<b>Notas:</b><br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="1">[1]</a></sup> O <em>Livro
+do Lan&ccedil;amento e
+Servi&ccedil;o que a Cidade de Lisboa fez
+a El-Rei Nosso Senhor</em>, de que d&eacute;mos
+abreviada noticia no jornal
+<em>Novidades</em>, de 9 de junho de 1897,
+tendo come&ccedil;ado em 15 de abril
+de 1565, e terminado em 6 de setembro de 1567 as
+opera&ccedil;&otilde;es da cobran&ccedil;a,
+de que o alludido <em>Livro</em> &eacute;
+muito curioso registo.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="2">[2]</a></sup>
+&laquo;<em>T.<sup>o</sup>
+da fr. Da Madalena&#8213;Rua
+Nova dos feros Danbas as
+bandas</em>&raquo; f.<sup>o</sup> 44, V.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="3">[3]</a></sup>
+Jo&atilde;o de Borgonha era proprietario de umas casas
+na &laquo;rua da
+Gibetaria&raquo;, que tinham 5 inquilinos. Tinha outras casas na
+&laquo;rua do
+Terreiro da Portagem&raquo;, onde eram seus inquilinos um Pedro de
+Sousa, ourives de ouro, e um Jo&atilde;o Fernandes, mercador,
+recem-chegado
+do Peru.<br />
+
+<br />
+
+Os outros dois inquilinos, dos 4 que o predio tinha, n&atilde;o
+s&atilde;o de
+importancia.<br />
+
+<br />
+
+Finalmente, este abastado livreiro-editor ainda possuia umas
+&laquo;tendas&raquo; nas costas do Terreiro do Trigo.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="4">[4]</a></sup>
+&Aacute;s vezes, tambem n&atilde;o eram de todo
+bem succedidos em suas
+um tanto arriscadas especula&ccedil;&otilde;es; testemunha,
+Alonso de Leon,
+que, em 1575, foi denunciado &aacute;
+Inquisi&ccedil;&atilde;o por um tal Raphael Perestrello,
+porque entre os livros de que era mercador, em Lisb&ocirc;a,
+vendia alguns, impressos em Flandres ou em Fran&ccedil;a,
+&laquo;<em>e falavam
+contra o officio divino e contra a missa</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+<em>Arch. Histor. Portug.</em> fasc. n.<sup>os</sup>
+75 e 76, pag. 153.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="5">[5]</a></sup>
+&laquo;It Migel darenas liureiro seu obreiro.........
+avaliado [~e] cinquo
+mil rs...&raquo; (fol. 45 do cit. codice).<br />
+
+<br />
+
+&Aacute;cerca deste Miguel de Arenas e de seu parceiro
+Jo&atilde;o de Molina,
+assim como de Jo&atilde;o de Borgonha, e outros livreiros e
+impressores
+de que esta Noticia se occupa, leem-se com fructo os artigos
+que lhes respeitem <em>in Docum. para a Hist. da Typogr.
+Portug. &amp;</em>,
+de Venancio Deslandes, Lisboa, Imp. Nac., 1888.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="6">[6]</a></sup> A
+<em>Recopila&ccedil;am</em> tivera,
+segundo as primordiaes informa&ccedil;&otilde;es de
+Barbosa Machado, posteriormente ampliadas por Innocencio, duas
+edi&ccedil;&otilde;es; uma, de Coimbra, por Antonio de Maris,
+1569, outra, de
+Lisb&ocirc;a, por Marcos Borges, 158O. Nem de uma, nem de outra
+apparece,
+desde muito, exemplar algum.<br />
+
+<br />
+
+De uma terceira edi&ccedil;&atilde;o,&#8213;aquella a que o texto se
+refere&#8213;apenas existia um exemplar na copiosa livraria do convento de
+S. Francisco
+da Cidade. Delle se serviu Alexandre das Neves Portugal, para
+ajuntar &aacute; 2.&ordf; ed. das <em>Advertencias dos
+meios que os particulares
+podem usar para preservar-se da peste, &amp;</em>, por
+aquelle naturalista
+redigidas, e mandadas publicar pela Academia, em 1797 (?)<br />
+
+<br />
+
+Exhausta, com effeito, esta 1.&ordf; ed., voltou a douta
+corpora&ccedil;&atilde;o a
+fazer reimprimir 2.&ordf;, em 1801, ajuntando-lhe,
+por&eacute;m, agora,
+mas com
+rosto e pagina&ccedil;&atilde;o especial, o opusculo dos dois
+medicos sevilhanos,
+o qual na 1.&ordf; apenas f&ocirc;ra objecto de simples
+referencia,
+impressa no
+Prologo. O formato das duas edi&ccedil;&otilde;es das
+<em>Advertencias</em> &eacute; de 12.&ordm;<br />
+
+<br />
+
+Ficou, pois, a
+<em>Recopila&ccedil;am</em> em 4.&ordf; ed.,
+copiada da de 1598, conforme
+se v&ecirc; na folha do rosto.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="7">[7]</a></sup> Parece
+ser esta a 3.&ordf;
+edi&ccedil;&atilde;o,
+havendo entre esta e a de Ferrara,
+1554, uma de Evora, 1557-58. Nas edi&ccedil;&otilde;es de
+Ferrara, e de Colonia
+chama-se &aacute; novella: <em>Hystoria de Menina e
+Mo&ccedil;a</em>. Veja-se no pref.
+de <em>Menina e Mo&ccedil;a</em>, ed. do
+Porto, 1891, a Nota <sup>1</sup> de pag. LXXVIII,
+do punho do nosso consocio, sr. D. Jos&eacute; Pessanha.
+Innocencio n&atilde;o
+mencionou a ed. de Ferrara, por onde entende ser 2.&ordf; esta de
+Colonia.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="8">[8]</a></sup> <em>
+A Imprensa Portugueza no Seculo
+XVI</em>, cap. 4.&ordm;&#8213;Livreiros.
+No Archivo da Camara desta capital ha uma carta de venda, em que
+interessa a corpora&ccedil;&atilde;o dos livreiros da Irmandade
+de Santa Catharina,
+datada de 11 de maio de 1557, e na qual Salvador Martel assigna
+como testemunha de certas diligencias. Vid. <em>Elem. para
+a Hist.
+do Mun. de Lisboa</em>, Tom. II, 584, nota da pag. anter.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="9">[9]</a></sup> <em>T.<sup>o</sup>
+da freguezia da
+See</em>&raquo;, fol. 9.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="10">[10]</a></sup> A
+&laquo;rua da Costa&raquo;, da
+rela&ccedil;&atilde;o de Christov&atilde;o, na freguezia da
+Magdalena. Nesta freguezia d&aacute; a mesma
+rela&ccedil;&atilde;o &laquo;Duas travessas
+que n&atilde;o tem nome&raquo;. Uma destas poder&aacute;
+ser aquella onde estavam
+estabelecidos os dois livreiros.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="11">[11]</a></sup> Como se
+v&ecirc; por este exemplo e o outro supra,
+Basti&atilde;o de Lucena,
+escriv&atilde;o deste recenceamento, obrigava a syllaba
+&laquo;gi&raquo; a soar
+como &laquo;gui&raquo;, o que n&atilde;o &eacute;
+peregrino entre a gente menos letrada deste
+seculo.<br />
+
+<br />
+
+A Fonte da Pregui&ccedil;a ficava &laquo;al&eacute;m da
+Porta do Mar&raquo;, para oeste
+das casas de Affonso de Albuquerque &laquo;que tem as pontas de
+diamantes&raquo;, e logo a seguir a outras que pertenciam
+&aacute; Cidade, segundo
+o que se l&ecirc; no <em>L.<sup>o</sup>
+1.&ordm; do Tombo
+das
+propriedades foreiras &aacute; Camara</em>,
+codice do Archivo Municipal.<br />
+
+<br />
+
+Sobre a fonte erguiam-se umas casas, onde, na occasi&atilde;o deste
+arrolamento (1565), morava um tal Francisco d'Arruda, de quem,
+infelizmente,
+Basti&atilde;o de Lucena n&atilde;o mencionou a
+occupa&ccedil;&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="12">[12]</a></sup> Temos a
+opini&atilde;o de que o
+<em>Summario</em> n&atilde;o sahiu a lume
+antes de
+1554, embora se haja inferido das express&otilde;es de seu antes
+compilador,
+do que auctor, a data de 1551.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="13">[13]</a></sup>
+&Eacute; for&ccedil;oso confessar que
+Basti&atilde;o de Lucena, o escriv&atilde;o deste
+recenseamento, teria feito, se de tal se lhe quizesse supp&ocirc;r
+o proposito,
+quanto houvera sido preciso para negar &aacute; posteridade a
+existencia
+do velho Johanes Blavius, t&atilde;o mal affirmada nas folhas
+amarelladas
+do codice, onde lhe foi desfigurado o nome.<br />
+
+<br />
+
+O respectivo lan&ccedil;amento diz, com effeito, e em verdade, o
+seguinte:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;It cladio colon Inprimidor em cassas de bento giz av<sup>do</sup>
+[~e] tres mill
+rs paguara xxj rs&raquo;<br />
+
+<br />
+
+Ora, n&atilde;o s&oacute; n&atilde;o houve nenhum impressor
+estabelecido, deste
+tempo, que se chamasse Claudio, querendo ver a falta de um
+&laquo;u&raquo; no
+nome proprio escrito por Lucena, nem o &laquo;imprimidor&raquo;
+arrolado era
+simples &laquo;obreyro&raquo;; isto &eacute;, official
+typographo, para n&oacute;s desconhecido,
+porque, nesse caso, o escriv&atilde;o do recenseamento o declararia
+tal, como o fizera a respeito de Miguel de Arenas, e o fez,
+referindo-se
+a Marcos Borges, segundo adiante veremos.<br />
+
+<br />
+
+O presumivel, pois, ser&aacute; que Basti&atilde;o de Lucena
+haja desfigurado
+o nome de Jo&atilde;o Blavio, reunindo em dois inintelligiveis
+vocabulos o
+appelido do impressor, e a indica&ccedil;&atilde;o da sua terra
+natal.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="14">[14]</a></sup> De
+certeza, temos que a
+&laquo;<em>Primeira Parte da Chronica dos
+Menores</em>&raquo;, de Fr. Marcos de Lisboa, que
+Jo&atilde;o Blavio imprimira em
+1557, editada por Jo&atilde;o de Borgonha, foi reimpressa por
+Manoel
+Jo&atilde;o, em 1566. Pareceria curial que o impressor da
+1.&ordf;
+edi&ccedil;&atilde;o,
+estando ainda vivo, e estabelecido, como o vemos pelo texto, fosse
+o encarregado da reimpress&atilde;o, tanto mais que foi o mesmo
+Jo&atilde;o
+Blavio que em 1562 imprimiu, por conta daquelle opulento editor, a
+<em>Segunda Parte</em> da indicada
+<em>Chronica</em>.<br />
+
+<br />
+
+Pelo numero de obras, de que ha noticia terem existido, sem que
+chegassem at&eacute; n&oacute;s, se p&oacute;de fazer
+id&eacute;a de quantas se ter&atilde;o perdido,
+em edi&ccedil;&otilde;es que se n&atilde;o repetiram, e
+n&atilde;o conheceremos jamais.<br />
+
+<br />
+
+N&atilde;o anda liquido qual f&ocirc;sse a 1.&ordf; ed. do
+<em>Palmeirim</em>, em linguagem
+portugu&ecirc;sa, sendo certo que, se o conselheiro Macedo teve a
+que dizia ser 3.&ordf; ed., impressa em 1564, outras duas
+anteriores
+houvera
+j&aacute;, que assim como esta, se n&atilde;o conhecem.<br />
+
+<br />
+
+Tampouco se conhece a 1.&ordf; ed. da
+<em>Aulegraphia</em>, de Jorge Ferreira
+de Vasconcellos, deduzindo-se apenas pelo titulo da de 1561 dever
+ser esta a 2.&ordf;, pelo menos.<br />
+
+<br />
+
+Da <em>Comedia Ulysipo</em>, do mesmo Jorge
+Ferreira, tambem se n&atilde;o conhece a 1.&ordf; ed., muito
+anterior, por certo,
+&aacute;
+que seu genro D. Antonio
+de Noronha emprehendeu em 1619. Quanto aos <em>Triumphos
+de Sagramor</em>, do mesmo Ferreira, resta saber se as
+conjecturas de
+Innocencio, &aacute;cerca da existencia desta obra
+prevalecer&atilde;o, ou n&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+Enfim, uma prova, ainda que indirecta, de que se imprimiram
+no seculo XVI&ordm;. obras, de que nenhuma noticia resta,
+&eacute; que
+ha, applicados
+a outras obras conhecidas, frontispicios que decerto n&atilde;o
+foram
+feitos para ellas, sen&atilde;o para outras, em que pela primeira
+vez appareceriam, sem se saber quaes fossem, e quem hajam sido
+seus autores.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="15">[15]</a></sup> <span class="smallcaps">Obras do
+Poeta Chiado</span>, colligidas, &amp;, por Alberto Pimentel.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="16">[16]</a></sup>
+&laquo;<em>T<sup>o</sup>
+Da freguesia De San
+Nicol&aacute;o</em>&raquo;, fol. 176.<br />
+
+<br />
+
+&laquo;It Marcos Borjes Inprimidor obreyro em cassas da molher do
+doutor ant<sup>o</sup> medis/Bracal paguara x b j i
+rs&raquo;<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="17">[17]</a></sup> Eis o
+texto completo do rosto
+desta obra:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;<em>Paradoxo ou senten&ccedil;a
+philosophica contra a opini&atilde;o do
+vulgo: Que a natureza n&atilde;o fez o homem sen&atilde;o a
+industria. Dirigido
+ao muy alto &amp; inuictissimo Rey de Portugal dom
+Sebasti&atilde;o
+Primeyr</em> (sic) deste nome. Por Jo
+Cointha Senhor des Boulez Fidalgo
+frances... Agora nouamente, feyto &amp; impresso nesta cidade
+de Lixboa em casa de Marcos Borges empressor del Rey nosso
+senhor. Ao primeyr (sic) <em>de Janeyro
+de 1566. Vede se na empress&atilde;o
+detras de nossa senhora da Palma</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Em 29 quartos de papel, sem numera&ccedil;&atilde;o. Innocencio
+descreve o
+exemplar deste raro opusculo pertencente a Figani&egrave;re.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="18">[18]</a></sup>
+&laquo;Arcos por traz da Ermida da Palma.&raquo;
+Lado de L. 4 propriedades;
+lado do S. outras 4. <em>Tombo do Bairro do Rocio, fls.
+156
+e 156 v.<sup>o</sup></em><br />
+
+<br />
+
+Como simples esclarecimento, que facilite o ajuisar da
+situa&ccedil;&atilde;o
+desta ermida, diremos que ficava por muito proximo do pequeno
+largo ainda agora conhecido por largo dos Torneiros, rasgando-se
+na rua dos Fanqueiros, na extrema L. da rua de S. Nicolau.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="19">[19]</a></sup>
+&laquo;<em>A Imprensa em Portugal no
+seculo XVI</em>&raquo;, artigo de Sousa
+Viterbo <em>in Diario de Noticias</em>, de 5
+de setembro de 1898.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="20">[20]</a></sup> O
+segundo destes valiosos estudos foi dado a lume na
+<em>Archeologia
+Artistica</em>, 1.&ordm; anno, vol. I, fasc. II, publicada
+pelo sr. Joaquim
+de Vasconcellos&#8213;Porto, 1873.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="21">[21]</a></sup> Manoel
+Jo&atilde;o rubricou os f&ecirc;chos do
+1.&ordm; e do 2.&ordm; Livros desta
+compila&ccedil;&atilde;o, imprimindo
+&laquo;Manoel&raquo;, empregando, comtudo, o
+&laquo;u&raquo; nos
+tres ultimos. Notemos que Tito de Noronha &eacute; tambem um de
+nossos
+diversos auctores modernos que seguem o exemplo dos que, nomeadamente
+no seculo XVII.&ordm;, adoptaram o &laquo;o&raquo; na
+graphia do
+nome proprio
+&laquo;Manoel&raquo;, distinguindo-o assim, e cr&ecirc;mos
+que bem, do seu igual
+castelhano.<br />
+
+<br />
+
+Francisco Manoel, Bocage, que adoptou para distinctivo academico o
+anagrama do seu baptismal:
+<em>Elmano</em>, e j&aacute; bem proximo
+a
+n&oacute;s o estadista Manoel da Silva Passos, ortographaram com
+&laquo;o&raquo; o
+seu nome proprio. A mesma pratica se observa entre as familias
+nobres que usam deste nome proprio, por appellido ou sobre-nome.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="22">[22]</a></sup> Uma
+anterior edi&ccedil;&atilde;o deste
+<em>Regimento</em>, datada de 1542, sahira
+dos pr&eacute;los de Germ&atilde;o Galharde. Innocencio cita-a
+na letra A (Artigos),
+e Tito igualmente se lhe refere na monographia
+<em>Ordena&ccedil;&otilde;es
+do Reino</em>, pag. 82.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="23">[23]</a></sup> O
+pobre do guarda-roupa, improvisado pregoeiro das
+grandezas
+de Lisb&ocirc;a, n&atilde;o attendendo a mais nada, sommou os
+&laquo;roles&raquo; das vias
+p&uacute;blicas das 23 freguezias que os tiveram (porque S.
+Martinho n&atilde;o
+teve &laquo;role&raquo;), e achou o total das 521, das tres
+categorias, que pormenorisou
+quasi no final do livro, sem contar as 2 cal&ccedil;adas e alguns
+&laquo;adros&raquo; que elle, ou outrem, fez entrar na especial
+dos &laquo;62 Postos&raquo;,
+a que no texto se fez referencia.<br />
+
+<br />
+
+N&atilde;o attentou, por&eacute;m, o diligente chronista
+lisbonense na <em>compartilha
+parochial</em>, e sommando, sem mais exame, as 23
+rela&ccedil;&otilde;es de vias
+p&uacute;blicas que os priores e curas da cidade lhe facilitaram,
+por ordem
+do Arcebispo, n&atilde;o deu porque 38 destas, obedecendo
+&aacute;quelle sistema,
+se apresentam <em>80 vezes</em> repetidas por
+2 e 3 freguezias, o que
+reduziu, por conseguinte, a 479 o numero verdadeiro das vias
+p&uacute;blicas
+constantes do <em>Summario</em>.<br />
+
+<br />
+
+Deve por&eacute;m advertir-se que na Lisb&ocirc;a do tempo
+deste livro havia
+j&aacute; muito antigas vias p&uacute;blicas que, por qualquer
+circumstancia, nelle
+n&atilde;o figuram. Daremos para exemplo, por ter adquirido a
+particular
+notoriedade que lhe vem de figurar no <em>Monge de
+Cister</em>, a celebre
+&laquo;rua de D. Mafalda&raquo;, que os lan&ccedil;adores
+de 1565 arrolaram, &laquo;com
+suas travessas e hospital&raquo; (o dos Palmeiros), na freguezia da
+&laquo;Madanela&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="24">[24]</a></sup>
+J&aacute;
+deix&aacute;mos explicado como o
+vocabulo &laquo;congro&raquo; traduz, neste
+caso, um acentuado barbarismo. Ao vulgo, &eacute; mais que certo,
+escapou
+naturalmente o termo letrado &laquo;combro&raquo;, de que
+poucos estariam,
+neste tempo; como ainda agora, no caso de alcan&ccedil;ar o
+significado.
+A ignorancia dos letreireiros que, ao alvorejar o seculo transcurso,
+foram encarregados pela Administra&ccedil;&atilde;o Geral dos
+Correios de
+app&ocirc;r os disticos nas vias p&uacute;blicas da nossa
+capital, foi origem a
+muitos desconcertos desta ordem. Assim, o Pateo do
+&laquo;Porcili&raquo;, appelido
+italiano, foi convertido em Pateo do &laquo;Pocildes&raquo;, o
+beco dos
+&laquo;Beguinos&raquo; ficou-se chamando beco dos
+&laquo;Biguinhos&raquo;; outro beco, o
+da &laquo;Calheta&raquo;, transformou-se em beco da
+&laquo;Galheta&raquo;, a Pra&ccedil;a dos
+&laquo;Remolares&raquo; foi muito tempo conhecida por
+Pra&ccedil;a dos &laquo;Romulares&raquo;,
+&amp;. Infelizmente, n&atilde;o occorreu verificar se a graphia
+dos <em>artistas</em>
+sa&iacute;ra triumphante da prova, e por isso, ainda agora se andam
+remediando
+estas aberra&ccedil;&otilde;es ortographicas municipaes.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="25">[25]</a></sup> Este
+<em>Conde</em> era um
+Domingos Fernandes, que tinha por alcunha
+&laquo;<em>o conde</em>&raquo;. Era
+&laquo;porteiro do concelho&raquo;, e morava na rua a que
+d&eacute;ra
+a alcunha, em casas suas.<br />
+
+<br />
+
+Pela coincidencia, notaremos que, ha quarenta e tantos annos,
+estacionava na ent&atilde;o denominada Rua de S. Francisco, um
+mo&ccedil;o de
+fretes, chamado tambem Domingos Fernandes, e que tendo sido
+criado de Almeida Garrett, era conhecido pela alcunha:
+<em>o visconde</em>,
+do titulo daquelle que f&ocirc;ra seu patr&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="26">[26]</a></sup>
+N&atilde;o se nos afigura f&oacute;ra de proposito
+esclarecer que o Ch&atilde;o
+d'Alcamim (&laquo;<span class="smallcaps">Alcamim</span>,
+hortali&ccedil;a s&ecirc;cca&raquo;, segundo Fr.
+Jo&atilde;o de Sousa,
+<em>in Vestigios da Lingua Arabica</em>),
+antigo cemiterio mourisco, e posteriormente
+provavel cemiterio da freguezia de S. Mamede, formava
+a divisoria territorial das duas freguezias, esta, e a de S.
+Christov&atilde;o,
+uma das suas convisinhas. Ficava sobranceiro ao modesto mas
+antiquissimo edificio parochial daquella
+invoca&ccedil;&atilde;o; isto &eacute;, occupava
+o terreno por onde agora discorre a cal&ccedil;ada do conde de
+Penafiel, e
+ligava-se &aacute; Costa do Castello, tal qual esta
+cal&ccedil;ada se liga &aacute; junc&ccedil;&atilde;o
+da extrema da rua do Milagre de Santo Antonio com o principio da
+sobredita Costa. A igreja parochial de S. Mamede assentava no
+sitio da meia laranja, denominada Largo do Correio-Mor.<br />
+
+<br />
+
+Ainda em principios da segunda metade do seculo passado, o terreno
+montuoso onde f&ocirc;ra o Ch&atilde;o d'Alcamim era
+vulgarmente conhecido
+pela denomina&ccedil;&atilde;o de <em>Entulhos da
+rua de S. Mamede</em>. No alto da rampa que se rasga sobre a
+Costa, e no
+rez-do-ch&atilde;o do predio
+que para ella faz esquina, &aacute; esquerda de quem sobe, estava
+estabelecida,
+na face de leste, sob o n.&ordm; 5, a tipographia de Luis Correia
+da Cunha, onde se imprimia, em 1860, a edi&ccedil;&atilde;o em
+16.&ordm; dos <span class="smallcaps">Lusiadas</span>,
+de Luis de Cam&otilde;es, adoptada para texto poetico nos
+Institutos
+de ensino livre, daquella &eacute;poca. Esta
+edi&ccedil;&atilde;o foi repetida pelo mesmo
+tipographo, em 1864, em formato igual, e igual numero de paginas.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="27">[27]</a></sup> Como
+estamos no terreno resvaladio das
+supposi&ccedil;&otilde;es e das probabilidades,
+seja-nos permittido aventurar a supposi&ccedil;&atilde;o de que
+este
+dr. Jo&atilde;o de Barros possa ser o proprio homonymo do auctor
+das
+<em>Decadas</em>, com quem alguma vez foi
+confundido, e que em 1540 deu
+a lume na cidade do Porto o <em>Espelho de
+Casados</em>, impresso por
+Vasco Dias Tanco de Frexenal. Dr. Jo&atilde;o de Barros ou nasceu
+no
+Porto ou em Braga, e vivia ainda em 1553, mas, se como informa
+Barbosa Machado, elle foi do Desembargo do rei D. Jo&atilde;o III,
+e seu
+escriv&atilde;o da camara, n&atilde;o ser&iacute;a
+impossivel que, fixando residencia,
+por tal facto, era Lisb&ocirc;a, adquirisse para sua
+habita&ccedil;&atilde;o a casa onde
+Manoel Jo&atilde;o estabeleceu a sua officina.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="28">[28]</a></sup>
+&Eacute; patente que todo aquelle plaino, aquella
+<em>achada</em> de que ahi
+perto se perpet&uacute;a a secular recorda&ccedil;&atilde;o
+(largo e rua assim denominados)
+passou, e por mais de uma vez, por grande
+transforma&ccedil;&atilde;o,
+depois do terremoto de 1755. Os antigos pa&ccedil;os de S.
+Christov&atilde;o,
+que occupavam na parte posterior muito maior area, do que a do
+actual palacio que foi dos Vagos, ficaram circumscriptos ao que ahi
+vemos. O lado esquerdo das ruas do Regedor e de S.
+Christov&atilde;o
+foi refeito. O proprio adro da parochia, onde havia
+<em>dois</em> cruzeiros,
+foi modificado. A medieval &laquo;travessa do monturo do
+benete&raquo; converteu-se,
+se n&atilde;o no todo, em parte ao menos, nas Escadinhas de
+S. Christov&atilde;o; o &laquo;arco de Jo&atilde;o
+Corr&ecirc;a&raquo;, que se encostava &aacute; esquina
+dos velhos pa&ccedil;os, donde a gentil princeza, irm&atilde;
+de Affonso V, sahiu desposada para Allemanha, refeito com o palacio
+novo,
+desappareceu
+posteriormente, deixando por testemunha da sua existencia ali
+o grande chanfro que modificou o cunhal do palacio, tal qual o
+l&aacute;
+vemos.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="29">[29]</a></sup> Esta
+noticia, transcripta como no texto advertimos, do
+livro
+opportunissimo de Venancio Deslandes, e se l&ecirc; a pag. 42, nota
+1,
+conjugada com os largos esclarecimentos da pag. 63 e seg. nota 1,
+da mesma obra, &aacute;cerca do rarissimo
+<em>Tratado</em> de Bento Fernandes,
+vem esclarecer o intrincado caso a que Innocencio se refere, ao
+registar este auctor, no vol. II do seu
+<em>Diccionario</em>.<br />
+
+<br />
+
+Ap&oacute;s ter inscripto a obra, sob o n.&ordm; 1858, seguindo
+a
+indica&ccedil;&atilde;o de
+Antonio Ribeiro dos Santos, que em suas
+<em>Memorias</em>, a pag. 108,
+d&eacute;ra
+noticia della, como impressa no Porto, em 1541, por Vasco Dias Tanco
+de Frexenal, parecendo, todavia, n&atilde;o a ter visto, nota, com
+effeito,
+o experiente bibliographo que Barbosa j&aacute; se referira a esta
+mesma
+obra, como impressa em 1555. Innocencio fecha a sua noticia,
+confessando
+que tambem nunca vira o <em>Tratado</em>, nem
+sabia onde existisse.<br />
+
+<br />
+
+Agora se concilia, pois, tudo. Bento Fernandes ter&aacute;, com
+effeito,
+dada uma 1.&ordf; edi&ccedil;&atilde;o em 1541,
+tirada
+dos pr&eacute;los de Vasco Dias Tanco,
+repetindo 2.&ordf; no proprio anno em que parece ter fallecido, a
+julgar
+pelo que escreveu o auctor da
+<em>Descrip&ccedil;&atilde;o Topographica do
+Porto</em>; isto &eacute;, em 1555, utilisando agora
+os servi&ccedil;os de Francisco
+Corr&ecirc;a.<br />
+
+<br />
+
+Accrescente se que Noronha, no final das
+<em>Tabellas</em> da
+<em>Imprensa
+Portugueza no Seculo XVI</em>, pag. 29, assigna a Vasco
+Dias Tanco
+os annos de 1540 1541, como os da sua permanencia no Porto, onde
+teria impresso 3 obras. Do mesmo modo, na
+Introdu&ccedil;&atilde;o do <em>Espelho
+de Casados</em>, do dr. Jo&atilde;o de Barros, fol. 7,
+v.<sup>o</sup>, regista a presen&ccedil;a
+de Francisco Corr&ecirc;a naquella cidade em 1555.<br />
+
+<br />
+
+V&ecirc;-se, pois, que os dois auctores est&atilde;o
+perfeitamente concordes,
+no tocante a cada uma das phases da vida dos dois tipographos, supra
+alludidas.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="30">[30]</a></sup>
+&laquo;T.<sup>o</sup> da fr. da
+Magdalena&raquo;,
+f.<sup>o</sup> 82
+v.<sup>o</sup><br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="31">[31]</a></sup>
+Ali&aacute;s
+<em>Lisarte</em>, de que, definitivamente,
+ve&iacute;u a formar-se
+<em>Lisardo</em>,
+por ex. &laquo;<em>Silvya de
+Lysardo</em>&raquo; (1597), passando assim o que
+parece
+ter sido nome proprio a appelido, como o seu consimilhante
+<em>Jusarte</em>,
+que de ambos os modos foi, de frequencia, empregado.<br />
+
+<br />
+
+A Jusarte Pacheco, morto no accomettimento de Calecut, filho do
+grande Duarte Pacheco, chama Gaspar Corr&ecirc;a
+&laquo;Lisuarte Pacheco&raquo;,
+segundo se l&ecirc; na <em>Lenda de Affonso de
+Albuquerque</em>, pag. 19. Na
+descendencia do genov&ecirc;s &laquo;Salvago&raquo;,
+naturalisado pelo rei D. Manoel,
+anda um Jusarte Salvago, a quem D. Jo&atilde;o III nomeou
+Almoxarife
+dos Armazens de Lisboa.<br />
+
+<br />
+
+De Jusarte, appellido, se deriva Zuzarte, e assim o nota o sr. Anselmo
+Braamcamp Freire, descrevendo o Bras&atilde;o dos
+<span class="smallcaps">Jusartes</span> na
+<em>Armaria Portuguesa</em>, pag. 284, da
+folha appensa ao <span class="smallcaps">Arch. Hist.
+Port.</span>, vol. VIII, fasc. 87 e 88.<br />
+
+<br />
+
+Ao passo, por&eacute;m, que Jusarte alterna com Lisuarte ou
+Lisarte, como
+nomes proprios, v&ecirc;mos Jusarte empregado n'este mesmo seculo,
+e
+muito proximo aos tempos dos Pachecos, na India, como appelido.<br />
+
+<br />
+
+Assim, o proprio Gaspar Corr&ecirc;a, al&eacute;m de outros de
+menos nomeada, se occupa extensamente na
+<em>Lenda</em> do 5.&ordm; Governador D.
+Duarte de Meneses, de Martim Affonso de Mello Jusarte,
+capit&atilde;o de
+Ormuz, cujos trabalhos em Malaca e outras partes narra com
+individua&ccedil;&atilde;o.<br />
+
+<br />
+
+Este appelido, revivescendo no seculo XVII na pessoa do escriptor
+Fr. Pedro da Cruz Jusarte, vem at&eacute; nossos dias ligado a uma
+das familias
+mais consideradas do Alemtejo; a dos Condes de Avillez, cujos
+antepassados e descendentes o empregam logo a seguir ao sobrenome&#8213;p.
+ex.: &laquo;Jorge d'Avillez Jusarte de Sousa Tavares de
+Campos&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Quanto ao ramo dos Zuzartes, vemos, ainda no <em>Tombo
+Pombalino</em>
+D. Marianna da Silva Zuzarte, proprietaria em 1755 de casas no
+beco do Bugio. Quando, posteriormente, se formou a rua da
+Sa&uacute;dade,
+derrubada a parte do beco onde taes casas eram, foi-lhes marcado
+terreno e alinhamento na nova rua, para a
+reconstruc&ccedil;&atilde;o, que
+veiu a receber o numero de policia 8. Em nossos dias, era proprietario
+d'estas casas um cavalheiro Araujo Zuzarte, antigo administrador
+de um dos Bairros d'esta Cidade.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="32">[32]</a></sup> Isto
+&eacute;: 455 r&eacute;is.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="33">[33]</a></sup> Este
+&laquo;Ilusuarte Peris&raquo;, cujo nome e
+appelido parecem ter soffrido
+a truculenta sorte de Jo&atilde;o Blavio de Agripina Colonia, sob a
+pena
+barbara de Basti&atilde;o de Lucena, era proprietario na rua que
+tinha o
+seu nome, sendo elle que, provavelmente, a
+<em>fundou</em>, &aacute;
+semelhan&ccedil;a de
+outros muitos exemplos mais, quer por aforamentos feitos &aacute;
+cor&ocirc;a
+dos terrenos onde se edificavam as primeiras casas, quer por qualquer
+outro modo que attribu&iacute;sse aos
+<em>fundadores</em> um tal qual direito
+de propriedade no denominar das vias p&uacute;blicas.<br />
+
+<br />
+
+As casas de Ilusuarte Peris constam dos lan&ccedil;amentos 27 a 29
+do
+grupo comprehendido no titulo expresso no texto, e tinham por
+inquilinos:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;Margaida Ribeyra, Francisca Anriquez, molher cortezan e
+Eytor
+Fernandes, Indio&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+O mesmo Ilusuarte Peris tinha tambem outras casas na &laquo;rua das
+Cristaleyras&raquo; e ahi eram seus inquilinos uma viuva e um
+tintureiro.
+Esta rua apparece j&aacute; nos roes de Christov&atilde;o
+(1554?). A de &laquo;Ilusuarte
+Peris&raquo; deve ter-se formado nos annos que separam a obra do
+guarda-roupa
+do Arcebispo lisbonense do recenseamento que estamos examinando.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="34">[34]</a></sup> Em
+qualquer das duas edi&ccedil;&otilde;es da
+<em>Pratica Darismetyca</em> (1519 e
+1530), impressas por Galharde, se declara este
+&laquo;<em>fr&atilde;cez</em>&raquo;,
+passando a
+primeira por ter sido a sua estreia, como chefe de officina. Por igual
+lhe declara a nacionalidade a subscrip&ccedil;&atilde;o do
+Livro 2.&ordm; das
+<em>Ordena&ccedil;&otilde;es</em>,
+bem como a do 3.&ordm;, e ainda a dos <em>Statutos da Ordem
+de
+Santiago</em>,
+n&atilde;o sendo difficil que se registem mais exemplos.<br />
+
+<br />
+
+Tambem no <em>Memorial de Pecados</em>, de
+Garcia de Resende, impresso
+em 1521, apparece o appelido d'este impressor composto, em parte,
+&aacute;
+francesa;&#8213;&laquo;<em>Gaillarde</em>&raquo;,
+e nas
+<em>Ordena&ccedil;&otilde;es</em>,
+&laquo;<em>Galhard</em>&raquo;.
+Al&eacute;m
+d'estas, ha outras variantes, taes como, a da <em>Cronica
+llamada el
+triunfo, &amp;</em>, onde parece que se l&ecirc;
+&laquo;<em>Gallarde</em>&raquo;, e a
+do <em>Cerimonial da
+missa</em>, que imprime
+&laquo;<em>Gallardo</em>&raquo;. Na
+<em>Cartilha que cont[~e] breuem[~e]te</em>
+&eacute; que o appelido do celebre impressor apparece como veiu a
+ficar:&#8213;&laquo;<em>Galhardo</em>&raquo;.
+<br />
+
+<br />
+
+Na diplomatica de D. Jo&atilde;o III chama se-lhe:
+&laquo;<em>Germ&atilde;o
+Galharte</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="35">[35]</a></sup>
+Affirma-o,
+como facto por elle proprio verificado, o
+conspicuo
+bibliographo Tito de Noronha, <em>in</em>
+<span class="smallcaps">Ordena&ccedil;&otilde;es
+do Reino&#8213;Seculo
+XVI</span>, <em>apud</em>
+<span class="smallcaps">Archeologia Artistica</span>,
+<em>1.&ordm; anno, vol. 1, fasc. II, cap.
+XI</em>, pag. 76 (1873).<br />
+
+<br />
+
+Repetiu a affirmativa <em>in</em>
+<span class="smallcaps">A Primeira
+Edi&ccedil;&atilde;o dos
+Lusiadas</span>,
+Porto, 1880, a pag. 80, nota (68), <em>in
+fine</em>.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="36">[36]</a></sup> <em>Jornal
+do Commercio</em>, de
+2 de maio do 1871.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="37">[37]</a></sup> <em></em>Mais
+outra vez vem a lume o titulo d'este livro quasi
+quatro vezes
+secular. &Eacute; como segue:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;Missale secumdum consuetudinem Elborensis ecclesiae
+noviter
+impressum&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Na subscrip&ccedil;&atilde;o final l&ecirc;-se:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;Impressum Ulixipone expensis magistri Antonii Lermet
+Elborensis
+civitatis librarius per Germanus Galhardum. Anno salutis nostre
+millessimo
+<em>quingentessimo nono</em>. Pridie Kalendas
+martii. Deo Gratias&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+Assim, pelo plausivel alvitre de Tito de Noronha, entre
+&laquo;<em>quingentessimo</em>&raquo;
+e &laquo;<em>nono</em>&raquo; devia
+ter-se composto <em>vigesimo</em>, falta que
+s&oacute; quem
+n&atilde;o sabe quanto &eacute; facil de escapar, ainda ao mais
+attento revisor, o
+salto da composi&ccedil;&atilde;o de um vocabulo entalado entre
+outros, e n'uma
+data, principalmente, n&atilde;o comprehender&aacute;. No texto
+se exemplifica
+um curioso similhante caso de nossos dias.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="38">[38]</a></sup> Em sua <span class="smallcaps">Bibliographia
+Historica
+<a href="#e6">Portugueza</a></span> consigna
+Figani&egrave;re
+ter visto em um exemplar da terceira Decada da
+<b>Asia</b>, de Jo&atilde;o
+de Barros, impresso por Jo&atilde;o de Barreira em 1563, a
+omiss&atilde;o typographica
+M. D. LIII.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="39">[39]</a></sup> Isto
+&eacute;, em
+1513-&laquo;<span class="smallcaps">Ordena&ccedil;&otilde;es
+do
+Reino</span>&#8213;Seculo XVI&raquo;, pag. 31.<br />
+
+<br />
+
+Adiante veremos que a conjectura n&atilde;o se confirma.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="40">[40]</a></sup> Gaspar
+Nicolas, natural de Guimar&atilde;es, foi
+escriv&atilde;o da tabola de
+Coimbra e das cizas da mesma cidade, como consta de varios diplomas
+de nomea&ccedil;&atilde;o e quita&ccedil;&atilde;o, das
+chancellarias de D. Manoel e D.
+Jo&atilde;o III, no Arch. Nac. da Torre do Tombo.<br />
+
+<br />
+
+Era, pois, como hoje diriamos, um funccionario de fazenda, e, portanto,
+no caso de se occupar da materia que foi assumpto ao seu,
+desde seculos, rarissimo livro.<br />
+
+<br />
+
+Tito de Noronha determinou, em 1874, o come&ccedil;o da actividade
+officinal de Germ&atilde;o Galharde, pelo conhecimento
+que teve do exemplar
+e edi&ccedil;&atilde;o citados no texto; exemplar, pertencente,
+ou que veiu a pertencer
+ao sr. visconde de Azevedo. Innocencio, por&eacute;m j&aacute;
+em 1859
+notava que no catalogo da livraria de Joaquim Pereira da Costa andava
+descripto um exemplar da <em>Pratica
+Darismetyca</em>, com
+a data de
+1519. Ao diligente bibliographo, parecia, comtudo,
+<em>erro</em> semelhante
+data, e aqui v&ecirc;mos como se enganou!<br />
+
+<br />
+
+Germ&atilde;o Galharde, como est&aacute; registado no
+come&ccedil;o da nota <sup>1</sup>, de
+pag. 44, fez 2.&ordf; edic. do Tratado sobredito em 1530.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="41">[41]</a></sup> Eis
+as express&otilde;es do fecundissimo polygrapho:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;Duvido se tem V. m. j&aacute; noticia de outro livrinho
+que estou imprimindo,
+e o fiz mais depressa do que a <em>Calsada dos
+Galhardos</em>.
+Chamo-lhe Pantheon, ter&aacute; quatro at&eacute; sinco folhas,
+com 2500 versos.&raquo;<br />
+
+<br />
+
+Bibliot. Nacion. de Lisb&ocirc;a&#8213;MM s.&#8213;Fundo antigo, 155.
+&laquo;<span class="smallcaps">Cartas
+de D. Francisco Manuel de Mello a Antonio Luiz de
+Azevedo</span>,
+com introd. e notas, por Edgar Prestage&#8213;Imp. Nac. 1911&raquo;.
+&Eacute; a n.&ordm; 24, e o passo l&ecirc;-se a pag. 70.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="42">[42]</a></sup> Este
+pateo &eacute; o primeiro, &aacute; esquerda,
+na rua de Santo Ambrosio,
+tendo o port&atilde;o que lhe d&aacute; entrada o n.&ordm;
+17.
+Depois que os Galhardos
+o largaram, habitaram ahi <em>as
+Patinhas</em>, isto &eacute;, as filhas de um Don
+Jos&eacute; Pati&ntilde;o que exerceu aqui, em
+Lisb&ocirc;a, qualquer cargo official do
+seu pa&iacute;s.&#8213;Um appelido estrangeiro convertido em assumpto de
+galhofa.<br />
+
+<br />
+
+Morreram <em>as Patinhas</em>, e succedeu na
+denomina&ccedil;&atilde;o do pateo um
+tal Jos&eacute; Alexandre, que ahi persistiu at&eacute; ha
+pouco.<br />
+
+<br />
+
+Hoje, o Pateo &eacute; <em>Villa</em>,
+porque os estrangeirismos, ainda que prestem
+a riso, s&atilde;o-nos mais bem acceitos, do que o que sempre teve
+sabor nacional. J&aacute; o dizia, ainda que por f&oacute;rma
+muito mais conceituosa,
+no seculo XVII, um dos nossos mais distinctos escriptores.<br />
+
+<br />
+
+Emfim, a <em>Villa</em> appellida-se
+&laquo;<em>Domingues</em>&raquo;, e
+voltar&aacute; a andar por
+ali outra vez o dominio castelhano...<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="43">[43]</a></sup>
+Frontispicio:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;<em>Reportorio dos tempos em linguajem
+portugu&ecirc;s.<br />
+
+<br />
+
+Foy impresso em Lixboa em casa de Germ&atilde;o Galharde, Anno
+1560.</em>&raquo;<br />
+
+<br />
+
+Fecho:<br />
+
+<br />
+
+&laquo;<em>Acabou-se o Reportorio dos Tempos em
+linguagem portugu&ecirc;s.
+Agora nouamente emendado e impresso c&otilde; muytas cousas
+acrescentadas
+de nouo</em>, etc., <em>O qual foy impresso
+em a muy nobre e s[~e]pre
+leal cidade de Lixboa, em casa da viuua, molher que foi de
+Germ&atilde;o Galharde [~q] sancta gloria aja. Anno de
+1560.</em>&raquo;<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="44">[44]</a></sup>
+Reservados
+da Bibliotheca Nacional&#8213;A&#8213;443.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="45">[45]</a></sup> Tendo
+nosso presado amigo, sr. dr. Antonio
+Bai&atilde;o, publicado
+no <span class="smallcaps">Archivo Historico Portuguez</span>,
+vol. VII, pag. 150 e seg., (1909)
+o extracto desta denuncia, como fazendo parte de suas noticias
+&aacute;cerca
+da <em>Inquisi&ccedil;&atilde;o em Portugal e
+Brazil</em>, appensaremos aos presentes
+<em>Estudos</em> o seu teor, na integra, para
+que nossos benignos leitores
+possam ajuisar plenamente do valor deste documento, n&atilde;o
+s&oacute; quanto
+ao caso que nos occupa, sen&atilde;o tambem quanto ao que elle
+revela, sob
+o ponto de vista do triste estado dos espiritos em Portugal, na
+&eacute;poca
+t&atilde;o bem retratada no predito documento.<br />
+
+<br />
+
+Ao nosso presado amigo muito agradecemos o grande obsequio
+que lhe fic&aacute;mos devendo, com a copia deste depoimento, que
+t&atilde;o
+amavel qu&atilde;o solicitamente se serviu communicar-nos.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="46">[46]</a></sup> Entre
+as gravuras frontispiciaes conhecidas do seculo XVI
+algumas
+ha que foram executadas para obras que n&atilde;o chegaram
+at&eacute;
+n&oacute;s. Lembra-nos, por exemplo, a que se v&ecirc; na Sala
+dos Reservados
+da Bibliotheca Nacional, n.&ordm; A&#8213;149, que deve ter sido
+expressamente
+aberta para obra differente daquella em que ali se nos patenteia,
+e que todavia, se n&atilde;o conhece.<br />
+
+<br />
+
+Porventura se ter&aacute; presente o que, referindo-nos em uma das
+Notas do Cap. IV, &aacute; <em>Primeira Parte da
+Chronica dos Menores</em>, de
+Fr. Marcos de Lisboa, se nos offereceu ponderar, a respeito de obras
+que se sabe terem sido impressas, mas que de todo desappareceram.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="47">[47]</a></sup> Nosso
+venerado Patrono, Diogo Barbosa Machado,
+j&aacute; d&eacute;ra noticia
+desta obra, com a competente indica&ccedil;&atilde;o,
+<em>ipsis verbis</em>, do respectivo
+titulo.<br />
+
+<br />
+
+A ella se referiu, repetindo-o, ainda que menos pontualmente, o
+incan&ccedil;avel Innocencio, notando, com ass&aacute;s de
+raz&atilde;o, as imperfei&ccedil;&otilde;es
+infelismente commettidas pelo douto Antonio Ribeiro dos Santos, no
+tocante a este particular motivo.<br />
+
+<br />
+
+Ultimamente, o Sr. Anselmo Braamcamp Freire deu a
+descrip&ccedil;&atilde;o
+da obra, e seu titulo, imprimindo este com toda a
+perfei&ccedil;&atilde;o, <em>in</em>
+<span class="smallcaps">Archivo
+Historico Portuguez</span>, vol. VIII, n.<sup>os</sup>
+8 a 11 (92 a
+95&#8213;1911),
+fielmente transcriptos uma e outro dos que lhe deu a Sr.&ordf; D.
+Carolina
+Micha&euml;lis de Vasconcellos, por copia do exemplar que a S.
+Ex.&ordf;
+pertence. &Eacute; este mesmo titulo que est&aacute; presente
+na occasi&atilde;o, e se
+transcreve de preferencia aos dois citados
+<em>supra</em>.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="48">[48]</a></sup> Manda,
+todavia, a
+<span class="smallcaps">Ordena&ccedil;&atilde;o</span>,
+no Liv. II, Tit. 61, &laquo;que qualquer
+pessoa que de n&oacute;s tiver Privilegio, de qualquer sorte que
+seja,
+ou que o tenha por respeito da pessoa com quem viver, em qualquer
+maneira que pelo Privilegio da tal pessoa guardado f&ocirc;r, tenha
+lan&ccedil;a
+de <em>vinte palmos</em>, ou dahi para cima,
+em sua casa&raquo;.&#8213;Isto &eacute;, tenha
+lan&ccedil;a de 4,<sup>m</sup>40, ou superior a esta
+medida.<br />
+
+<br />
+
+V&ecirc;-se, portanto, do confronto dos dois textos que a
+medida-padr&atilde;o
+destas armas diminuira, pelo discurso do tempo, muito perto
+de 0,50.<br />
+
+<br />
+
+Na Europa do XIV.&ordm; seculo, a medida mais commum das
+lan&ccedil;as
+com que se armava a gente collecticia a soldo de qualquer procer,
+era, segundo Cibrario, <em>in</em>
+<span class="smallcaps">Economia Politica da Meia Edade</span>,
+de
+<em>dezoito p&eacute;s</em>, o que
+corresponde a 5,<sup>m</sup>94.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="49">[49]</a></sup> Carta
+de 14 de fevereiro de 1530,
+<em>in</em> Deslandes, <span class="smallcaps">Doc.
+para a
+Hist. da Typ. Portug.</span><br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="50">[50]</a></sup> Este
+vocabulo, e o seguinte em abreviatura,
+&laquo;morador&raquo;, denunciam
+uns restos de barbarismos de concordancia, que ainda nesta
+epoca j&aacute; adiantada do seculo, e at&eacute; no seguinte,
+transparecem aqui,
+ali, no commum falar e escrever.<br />
+
+<br />
+
+Reinava uma como especie de pregui&ccedil;a em acommodar
+&aacute; f&oacute;rma
+feminina os vocabulos em <em>or</em>, e um
+que outro mais.<br />
+
+<br />
+
+A materia foi superiormente versada pelo t&atilde;o infeliz,
+qu&atilde;o abalisado
+philologo Francisco Dias Gomes, que em sua
+&laquo;<em>Analyse sobre
+a elocu&ccedil;&atilde;o e estylo de S&aacute; de
+Miranda</em>&raquo;, deu, entre varios exemplos,
+um, com o primeiro dos dois apontados vocabulos, tirado de Ruy de
+Pina:&#8213;&laquo;E a entregou aa Ifante Dona Briatriz como
+<em>titor</em> que era do
+duque Dom Diogo seu filho.&raquo;<br />
+
+<br />
+
+Correlativamente, os determinativos n&atilde;o acompanhavam a
+f&oacute;rma
+feminina que designavam, como n'aquelle caso que nos occorre do
+informador de Christov&atilde;o Rodrigues de Oliveira:
+&laquo;<em>Os</em> dignidades
+que ha na See.&raquo;<br />
+
+<br />
+
+A Memoria de Francisco Dias l&ecirc;-se entre as de
+<span class="smallcaps">Litteratura
+da Academia</span>, tom. IV, pag. 26 e segg.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="51">[51]</a></sup> A
+freguezia de Santa Engracia s&oacute; teve Breve de
+desannexa&ccedil;&atilde;o
+da de Santo Estev&atilde;o em 1568. S&oacute; depois de 1606
+&eacute; que o edificio parochial
+foi patente ao culto. O parocho de Santo Estev&atilde;o pastoreou
+durante <em>trinta e um annos</em> ambas as
+freguezias cummulativamente;
+isto &eacute;, desde 1576, anno em que come&ccedil;ou, emfim, a
+vigorar a desannexa&ccedil;&atilde;o,
+at&eacute; 1607, em que havia j&aacute; na nova parochia
+cartorio proprio,
+e independente da parochia <em>mater</em>.
+Veja-se o que escrevemos
+no vol. VIII, pag. 5, do <span class="smallcaps">Archivo
+Historico
+Portuguez</span>&#8213;1910&#8213;Art.
+<em>As Ten&ccedil;as Testamentarias da Infanta D.
+Maria</em>.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="52">[52]</a></sup>
+J&aacute;
+temos advertido que o livro do guarda-roupa
+do Arcebispo
+de Lisboa n&atilde;o pode ser da data que anda em costume
+attribuir-se-lhe;&#8213;1551.
+O proprio livro cont&eacute;m em alguma de suas paginas, ao
+referir-se
+&aacute; Misericordia, e &aacute;s esmolas que esta
+Institui&ccedil;&atilde;o recebia, a
+confirma&ccedil;&atilde;o do que affirmamos.<br />
+
+<br />
+
+Como, por&eacute;m, o auctor conta ter sido no anno de 1551 que o
+Arcebispo
+lhe commetteu o encargo de fazer o livro, nada se opp&otilde;e a
+que desde este anno elle come&ccedil;asse a colligir os materiaes
+para elle,
+dirigindo-se aos parochos, para alcan&ccedil;ar os
+&laquo;roles&raquo; das vias publicas,
+feitos&#8213;&eacute; evidente&#8213;&aacute; face das
+<em>desobrigas</em>. E como entre
+encommenda-los
+e o conseguir have-los &aacute; m&atilde;o sempre mediaria
+algum tempo,
+sendo 25 os parochos collaboradores n'esta obra de louvores
+&aacute;s
+grandezas e magnificencias lisbonenses, pareceu-nos que pelos termos
+que empreg&aacute;mos alcan&ccedil;ariamos exprimir com
+exac&ccedil;&atilde;o o nosso
+pensamento.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="53">[53]</a></sup> E
+portanto <em>atafaneiro</em>.
+&Eacute; v&oacute;z
+arabica;&#8213;&laquo;<em>atahana</em>&raquo;.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="54">[54]</a></sup> O
+tra&ccedil;ado descrito e os pormenores
+s&atilde;o os que resultam da leitura
+do passo respectivo no Tom. VIII dos <em>Elementos para a
+Historia
+do Municipio de Lisboa</em>, de nosso t&atilde;o
+distinto colega, sr. Freire
+de Oliveira, aliada &aacute; do muito elucidativo texto tecnico da
+valedora
+monografia <em>A C&ecirc;rca Moura de
+Lisboa</em>, do nosso prestante amigo sr.
+Vieira da Silva.<br />
+
+<br />
+
+Nossa, &eacute; s&oacute; a conjectura de que os edificadores
+da c&ecirc;rca de D.
+Fernando apoiariam o postigo de Santo Andr&eacute; &aacute;
+torre que a <em>barbac&atilde;</em>
+ou cinta muralhada que circundava o monte do Castello ali poderia
+ter, aproveitando os lan&ccedil;os d'esta para ligarem &aacute;
+velha a nova c&ecirc;rca,
+partindo, para a continua&ccedil;&atilde;o da obra, do baluarte
+de S. Louren&ccedil;o.
+Resta uma pergunta:&#8213;Tinha <em>toda</em> a
+muralha que abra&ccedil;ava o monte
+do Castello, desde a Porta de D. Fradique at&eacute; &aacute;
+porta da Alca&ccedil;ova
+ou de S. Jorge ou vice-versa, antiguidade egual &aacute; do
+baluarte de S.
+Louren&ccedil;o? Por outra, &eacute; tudo obra mourisca, ou
+anterior, se tal baluarte
+o &eacute; tambem?<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="55">[55]</a></sup> Villa
+Quente, que um desagregamento do solo pendurado do
+monte do Castello subvertera em 1531, e passa, a nosso v&ecirc;r,
+menos
+justificadamente, por um <em>tremor de
+terra</em> mais, a ajuntar &aacute; longa
+lista dos que tem affligido Lisboa, no decorrer dos seculos, era um
+punhado de humildes casas, semeadas entre o come&ccedil;o da actual
+cal&ccedil;ada
+de Santo Andr&eacute;, e o &laquo;caminho que &iacute;a ao
+postigo do Monis&raquo;,
+diante de cuja entrada havia uma &laquo;cruz de pao&raquo;. A
+rampa que o pequeno
+povoado occupava para o N. da cinta muralhada que circumdava
+o monte do Castello, e o abrangia como um annel, em toda a
+sua circumferencia, estendia-se pelo limitado espa&ccedil;o que
+servia de
+recosto &aacute; c&ecirc;rca de Santo Ant&atilde;o
+(Colleginho), vindo confundir-se com
+os meandros de betesgas e encruzilhadas que o separavam da Mouraria,
+constituindo o que alguma vez se chamou &laquo;o bairro da rua
+suja&raquo;.
+<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="56">[56]</a></sup> <em>Historia
+de Portugal</em>,
+vol. I, 3.&ordf; ed. MDCCCLXIII; nota XXIII,
+a pag. 531.<br />
+
+<br />
+
+<sup><a name="57">[57]</a></sup>
+Aforamento
+de um ch&atilde;o junto da Porta de Santo
+Andr&eacute;, da
+banda de f&oacute;ra, no principio da rua que vai da dita Porta
+para o postigo
+de Sam Louren&ccedil;o, feito pela cidade ao dr. Affonso Figueira,
+onde este magistrado edificara umas casas que partiam da banda
+do Poente
+<em>com muro e torre da cidade,
+&amp;</em>.<br />
+
+<br />
+
+Esta <em>torre</em> &eacute; a que
+suppomos existir j&aacute; na barbac&atilde; do Castello, no
+angulo formado pelo lan&ccedil;o que devia descer da Porta de D.
+Fradique
+a entestar com a parte que se continuava na rua que ia ao baluarte
+de S. Louren&ccedil;o.<br />
+
+<br />
+
+Deveria jazer pela parte posterior do actual
+<em>Passo</em>, e ter&aacute; sido
+aproveitada para guarda do Postigo de Santo Andr&eacute;. Dominava
+assim
+a aspera cal&ccedil;ada que se lhe desenrolava em frente, e vinha
+ligar-se
+&aacute; muito antiga &laquo;Rua dos Cavalleiros.&raquo;
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<br />
+
+<div class="fbox">
+<h2>Lista de erros corrigidos</h2>
+
+<div style="text-align: center;">Aqui encontram-se
+listados todos os erros encontrados e corrigidos:</div>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<table style="width: 80%; text-align: left; margin-left: auto; margin-right: auto;" border="0" cellpadding="4" cellspacing="4">
+
+ <tbody>
+
+ <tr align="right">
+
+ <td style="width: 87px;"></td>
+
+ <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 119px;">Original</td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 5px;"></td>
+
+ <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 118px;">Correc&ccedil;&atilde;o</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: right; width: 87px;"><a name="e1"></a><a href="#p11">#p&aacute;g.
+11</a></td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 119px;">Bernaldim</td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 5px;">...</td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 118px;">Bernardim</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: right; width: 87px;"><a name="e2"></a><a href="#p16">#p&aacute;g.
+16</a></td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 119px;">testemunh</td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 5px;">...</td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 118px;">testemunho</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: right; width: 87px;"><a name="e3"></a><a href="#p22">#p&aacute;g.
+22</a></td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 119px;">ondo</td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 5px;">...</td>
+
+ <td style="text-align: center; width: 118px;">onde</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: right;"><a name="e4"></a><a href="#p22">#p&aacute;g. 22</a></td>
+
+ <td style="text-align: center;">admtitir</td>
+
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+
+ <td style="text-align: center;">admitir</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: right;"><a name="e5"></a><a href="#p46">#p&aacute;g. 46</a></td>
+
+ <td style="text-align: center;">typographfa</td>
+
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+
+ <td style="text-align: center;">typographia</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: right;"><a name="e7"></a><a href="#p57">#p&aacute;g. 57</a></td>
+
+ <td style="text-align: center;">quo</td>
+
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+
+ <td style="text-align: center;">que</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: right;"><a name="e8"></a><a href="#p66">#p&aacute;g. 66</a></td>
+
+ <td style="text-align: center;">persuadido</td>
+
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+
+ <td style="text-align: center;">persuadidos</td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: right;"></td>
+
+ <td style="text-align: center;"></td>
+
+ <td style="text-align: center;"></td>
+
+ <td style="text-align: center;"></td>
+
+ </tr>
+
+ <tr>
+
+ <td style="text-align: right;"><a name="e6"></a><a href="#38">#nota
+38</a></td>
+
+ <td style="text-align: center;"><span class="smallcaps">Portugteza</span></td>
+
+ <td style="text-align: center;">...</td>
+
+ <td style="text-align: center;"><span class="smallcaps">Portugueza</span></td>
+
+ </tr>
+
+ </tbody>
+</table>
+
+<br />
+
+<br />
+
+<div style="text-align: center;">Os s&iacute;mbolos de
+igual (da <a href="#p81">p&aacute;g. 81</a>)
+foram substitu&iacute;dos por tra&ccedil;os longos ('&#8213;').<br />
+
+</div>
+
+<div style="text-align: center;"><br />
+
+<br />
+
+</div>
+
+</div>
+
+</div>
+
+
+
+
+
+
+
+
+<pre>
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of Noticia de livreiros e impressores de
+Lisbôa na 2ª metade do seculo XVI, by José Joaquim Gomes de Brito
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK LISBÔA ***
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+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
+individual work is in the public domain in the United States and you are
+located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
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+works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
+are removed. Of course, we hope that you will support the Project
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+ sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
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+ money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
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+- You comply with all other terms of this agreement for free
+ distribution of Project Gutenberg-tm works.
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+1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
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+forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
+both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
+Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the
+Foundation as set forth in Section 3 below.
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+promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
+harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
+that arise directly or indirectly from any of the following which you do
+or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
+work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
+Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.
+
+
+Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
+electronic works in formats readable by the widest variety of computers
+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
+because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need, is critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at http://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+http://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
+809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at http://pglaf.org
+
+For additional contact information:
+ Dr. Gregory B. Newby
+ Chief Executive and Director
+ gbnewby@pglaf.org
+
+
+Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation
+
+Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
+spread public support and donations to carry out its mission of
+increasing the number of public domain and licensed works that can be
+freely distributed in machine readable form accessible by the widest
+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
+
+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
+with these requirements. We do not solicit donations in locations
+where we have not received written confirmation of compliance. To
+SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
+particular state visit http://pglaf.org
+
+While we cannot and do not solicit contributions from states where we
+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
+against accepting unsolicited donations from donors in such states who
+approach us with offers to donate.
+
+International donations are gratefully accepted, but we cannot make
+any statements concerning tax treatment of donations received from
+outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
+
+Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
+methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
+ways including checks, online payments and credit card donations.
+To donate, please visit: http://pglaf.org/donate
+
+
+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
+
+Professor Michael S. Hart is the originator of the Project Gutenberg-tm
+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
+
+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
+keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
+
+
+Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
+
+ http://www.gutenberg.org
+
+This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
+subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
+
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