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| author | Roger Frank <rfrank@pglaf.org> | 2025-10-15 02:13:56 -0700 |
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You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: Noticia de livreiros e impressores de Lisbôa na 2ª metade do seculo XVI + +Author: José Joaquim Gomes de Brito + +Release Date: February 20, 2008 [EBook #24657] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK LISBÔA *** + + + + +Produced by Rita Farinha and the Online Distributed +Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was +produced from images generously made available by National +Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) + + + + + + +</pre> + + +<div> +<div> +<div class="fbox"><b>Nota de editor:</b> +Devido à +quantidade de erros tipográficos existentes neste texto, +foram tomadas várias decisões quanto à +versão final. Em caso de dúvida, a grafia foi +mantida de acordo com o original. No final deste livro +encontrará a lista de erros corrigidos.<br /> + +<br /> + +<div style="text-align: right; font-style: italic;">Rita +Farinha (Fev. 2008) +</div> + +</div> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="bbox"><br /> + +<h3>GOMES DE BRITO</h3> + +<br /> + +<h2> +NOTICIA<br /> + +<br /> + +<span class="smallcaps">de</span><br /> + +<br /> + +Livreiros e Impressores +em Lisbôa</h2> + +<h3><span class="smallcaps">na</span></h3> + +<h3> +2.ª METADE DO SECULO XVI</h3> + +<br /> + +<div class="smallcaps" style="text-align: center;">composta +em face de um codice<br /> + +da camara municipal desta cidade<br /> + +</div> + +<br /> + +<br /> + +<div style="text-align: center;"><img style="width: 100px; height: 138px;" alt="" src="images/fig01.png" /><br /> + +</div> + +<br /> + +<div style="text-align: center;"><br /> + +1911<br /> + +<br /> + +<span class="smallcaps">Imprensa Libanio da Silva</span><br /> + +<em>Travessa do Fala-Só, 24</em><br /> + +</div> + +<div style="text-align: center;" class="smallcaps">lisboa</div> + +<br /> + +</div> + +<br /> + +<br /> + +<h2>Livreiros e Impressores em Lisbôa<br /> + +na 2.ª metade do Seculo XVI</h2> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>GOMES DE BRITO</h3> + +<br /> + +<h2> +NOTICIA<br /> + +<br /> + +<span class="smallcaps">de</span><br /> + +<br /> + +Livreiros e Impressores +em Lisbôa</h2> + +<h3><span class="smallcaps">na</span><span class="smallcaps"><br /> + +<br /> + +2.ª METADE DO SECULO XVI</span></h3> + +<br /> + +<div class="smallcaps" style="text-align: center;">composta +em face de um codice<br /> + +da camara municipal desta cidade<br /> + +</div> + +<br /> + +<br /> + +<div style="text-align: center;"><img style="width: 100px; height: 138px;" alt="" src="images/fig01.png" /><br /> + +</div> + +<br /> + +<div style="text-align: center;"><br /> + +1911<br /> + +<br /> + +<span class="smallcaps">Imprensa Libanio da Silva</span><br /> + +<em>Travessa do Fala-Só, 24</em><br /> + +</div> + +<div style="text-align: center;" class="smallcaps">lisboa</div> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div style="text-align: center;">Do <em>Boletim da +Sociedade de Bibliophilos</em><br /> + +<em>Barbosa Machado</em><br /> + +<br /> + +Tiragem: 50 exemplares<br /> + +<br /> + +N.º 44<br /> + +</div> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div style="text-align: center;"><img style="width: 500px; height: 172px;" alt="" src="images/fig02.png" /><br /> + +</div> + +<br /> + +<br /> + +<h3>NOTICIA<br /> + +<br /> + +<span class="smallcaps">de +</span><br /> + +Livreiros e Impressores em Lisbôa<br /> + +<br /> + +<span class="smallcaps">na</span><br /> + +<br /> + +<span class="smallcaps">2.ª METADE DO SECULO XVI</span> +</h3> + +</div> + +<br /> + +<div class="sbreak"> +<hr /></div> + +<br /> + +<br /> + +Até o tempo em que o Cardeal D. Henrique, depois +rei, procedeu á nova circumscripção +das parochias de Lisbôa, +erijindo mais cinco freguezias a ajuntar ás vinte e +cinco já existentes (1564 a 1569), demarcando-lhes o +territorio +nos recortes feitos a quatro destas, a secular compartilha +que resultava deste regimen, estabelecido no intuito +de accomodar o serviço religioso ás necessidades +dos fieis, e sua mais immediata satisfação, +soffrera tres +remodelações. Ordenara a ultima, durante a +regencia do +principe D. João, ausente em França seu pai, o +rei D. +Affonso V, o celebre cardeal de Alpedrinha.<br /> + +<br /> + +Por effeito daquelle regimen, grande numero de vias +públicas lisbonenses eram, como ainda hoje o são, +compartilhadas +por diversas freguezias confinantes. O +<em>Summario</em> +de Christovão Rodrigues de Oliveira, apezar de +imperfeito neste ponto, nos mostra, pela +repetição das +<em>denominações</em>, +que não dos <em>disticos</em>, +porque tal providencia +estava ainda por nascer, quaes e quantas eram as +<span class="pagenum">[6]</span> +vias públicas compartilhadas, por effeito da +remodelação +parochial então vigente.<br /> + +<br /> + +Comprehendia-se entre as deste numero a muito falada +«Rua Nova», dividida em dois troços, um +mais antigo +que o outro; um, o primeiro, fazendo parte do territorio da +freguezia da Magdalena, o outro pertencendo á freguezia +de «S. Gião» (S. Julião).<br /> + +<br /> + +Do mesmo modo, esta notavel rua da Lisbôa medieva, +que principiando no Pelourinho, ía entroncar na Calcetaria, +era conhecida por duas denominações, +correspondentes +á sua compartilha. Á parte oriental, territorio +da parochia +da Magdalena, que terminava no Arco dos Barretes, +chama Christovão «Rua Nova dos Ferros»; +a que +desde o predito Arco ía embeber-se na Calcetaria, um +pouco adiante do Chafariz dos Cavallos, é designada na +relação do +<em>Summario</em>, referida á +freguezia de S. Gião, +pela denominação de «Rua Nova dos +Mercadores».<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>I</h3> + +<br /> + +É em toda a extensão da Rua Nova, de um e outro +lado della, que, mercê de um valioso codice pertencente +á Camara Municipal de Lisbôa<sup><a href="#1">[1]</a></sup>, nós +vamos encontrar, de +porta aberta, nos annos intermedios dos já preditos (1565 +a 1567), não só alguns dos livreiros e editores +já conhecidos +dos que conversam o passado literario de Portugal, +mas outros tambem, ainda até agora não +mencionados.<br /> + +<br /> + +Começando a juzante da formosa linha de agua com a +<span class="pagenum">[7]</span> +qual a Rua Nova andava, se pode dizer, parallela, o primeiro +que se nos depara é Bartholomeu Lopes, que não +deixou de si, que saibamos, memoria averiguada, mas que +poderá ser, porventura, membro de uma notavel +geração +de livreiros deste appelido;―os Lopes.<sup><a href="#2">[2]</a></sup><br /> + +<br /> + +Em 1563, isto é, dois annos, apenas, antes do primeiro +dos dois a que o codice de onde extractamos estes apontamentos +se refere, havia um Christovão Lopes estabelecido +«á Porta da Sé», segundo se +vê do titulo seguinte, +que abreviamos, mas se pode ler completo em Innocencio, +<em>Diccion. Bibliog.</em> II, 166:<br /> + +<br /> + +«<em>Exposiçam da Regra do glorioso +Padre Sancto Augustinho... +por frey Diogo de Sam Miguel, &―Vendense</em> (sic) +<em>á porta da See, em +casa de Christouam Lopes +Liureyro a dous tostões em papel.―Foy impresso +em Lixboa em casa de Joannes Blavio de Agrippina +Colonia―Anno de 1563</em>».<br /> + +<br /> + +Vista a propinquidade dos annos, poderá acaso Bartholomeu +Lopes ter sido irmão, ou filho (?) de Christovão +Lopes, +e seu successor, passando o estabelecimento da Porta da +Sé para a Rua Nova, ou estabelecendo-se elle ahi de novo.<br /> + +<br /> + +É possivel tambem que este mesmo livreiro seja pae do +livreiro-impressor Simão Lopes, que deu em Lisbôa, +em +1593, a primeira edição do +<em>Itinerario</em>, de Fr. +Pantaleão +d'Aveiro, as <em>Cartas do +Japão</em>, etc., e em 1596 reimprimiu +a <em>Chronica de D. João II</em>, +de Garcia de Rezende.<br /> + +<br /> + +A seguir a Bartholomeu Lopes, seu visinho, estabelecido, +até, nas mesmas casas, tendo ambos por senhorio +um tal Jeronymo Corrêa, tinha a sua lojinha Sagramor +<span class="pagenum">[8]</span> +Fernandes. Era livreiro de modestas posses, a julgar pela +avaliação que os +«lançadores», para tal effeito +deputados, +deram á sua fazenda, na proporção de +cuja totalidade deveria, +como todos, pagar o respectivo escote. O nome baptismal +do homem era novellesco, mas as +<em>cavallarias</em>, ao +que parece, não eram grandes.<br /> + +<br /> + +A influencia das novellas de cavallaria faz-se ainda sentir +em toda a sua pujança no codice que nos facilita esta +noticia, imprimindo-lhe um matiz pictoresco e variado.<br /> + +<br /> + +O nome novellesco do obscuro livreiro não é unico +entre +os seus congeneres de ambos os sexos, inscriptos neste +curioso recenseamento. A par dos Sagramor ha os Lançarote; +de envolta com as Ginevras passam as Briolanjas. +A procedencia francesa e a italiana, dando-se as mãos. +Lançarote é o «Lancelot» +francez; Lancelot du Lac, o heroe +cavalheiresco de Gauthier Mapp, o amigo de Henrique +II de Inglaterra. Sagramor é o +«Sagromoro» milanez, +que Jorge Ferreira aportuguesou, fazendo-o heroe do seu +<em>Memorial</em>; Sagramor Constantino, +designado por el-rei +Arthur para seu successor, se a sorte das armas lhe fôsse +adversa.<br /> + +<br /> + +Por aproposito, lembraremos a dúvida que Barbosa Machado +fez nascer, ácerca da existencia dos +<em>Triumfos de +Sagramor</em>, novella que, segundo elle, teria sido +impressa +em Coimbra, em 1554, por João Alvarez, mas de que parece +que nem o douto Abbade de Sever, nem, de certeza, +o seu successor, o diligente Innocencio, viram jámais +exemplar +algum. Será esta hypotética novella o proprio +<em>Memorial</em>, +assim duplicado pelo auctor da <em>Bibliotheca +Lusitana</em>? +Eis um curioso thema, digno, nos parece, de attrahir +a attenção da nossa Sociedade, e a que o artigo +de +Innocencio (IV, n.º 2095, pag. 170) prestaria a base. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[9]</span> +Em compensação, porém, algumas lojas +mais adiante do +modesto Sagramor achava-se estabelecido o opulento João +de Borgonha. Livreiro-editor de nomeada, fornecedor de +artigos do seu ramo para a fazenda de S. A., proprietario +nas visinhanças do seu estabelecimento, e em mais de um +sitio,<sup><a href="#3">[3]</a></sup> os +seus teres, como negociante, foram avaliados +em «um conto de réis».<br /> + +<br /> + +Na epoca em que o encontrámos, tinha elle por seu +«obreiro», talvez o que hoje chamariamos seu +«director-technico», +seu administrador ou seu apoderado, a um certo +Miguel de Arenas, um castelhano, porventura, como da +Borgonha seria, com effeito, o patrão; estranjeiros quasi +todos, estes negociantes das letras portuguezas do seculo +XVI, que, vindo concorrer com os nacionaes, faziam, +ao que parece, mais fortuna que elles.<sup><a href="#4">[4]</a></sup><br /> + +<br /> + +Certo é que Miguel de Arenas estabeleceu-se posteriormente, +com o mesmo ramo de commercio, de sociedade +<span class="pagenum">[10]</span> +com João de Molina; tambem, e mais vulgarmente conhecido +por «João de Hespanha», outro abastado +mercador +de livros, mas não tanto como o seu confrade borgonhez. +O negocio de João de Hespanha foi avaliado em +«duzentos +mil réis». Como «obreiro» de +João de Borgonha, Miguel +de Arenas devia fazer bons interesses. Dos seus ordenados―e +foi por esta circumstancia que o suppuzemos +<em>empregado superior</em> da casa de seu +patrão―foram-lhe +arbitrados «cinquo mill rs», para na +razão delles pagar o +respectivo escote.<sup><a href="#5">[5]</a></sup><br /> + +<br /> + +A João de Borgonha segue-se, nas tendas de Alvaro de +Moraes, o livreiro Manoel Carvalho, provavelmente o pae +de Sebastião Carvalho, que em 1598 publicou, em 3.ª +edição, a <em>Recopilaçam +das cousas que conuem guardarse +no modo de preseruar a Cidade de Lisboa</em>, +instrucções +redigidas em 1569 pelos medicos Thomaz Alvarez +e Garcia de Salzedo Coronel, e repetidas na primeira +das datas a que acima nos referimos, «por mandado da +cidade de Lisbôa», &.<sup><a href="#6">[6]</a></sup> +Sebastião Carvalho conservaria +assim na mesma Rua Nova o estabelecimento paterno. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum"><a name="p11">[11]</a></span> +Apresentam-se, logo em seguida a Manoel Carvalho, +Diogo Machado, João Lopes e «Graviel» de +Araujo, dos +quaes não viramos ainda noticia, antes que o codice que +lhes revelou a existencia no'los désse a conhecer. Ao ultimo +destes segue Diogo Moniz, que por ter apresentado +carta de familiar do Santo Officio, foi escuso do escote. +Porfim, e quasi no extremo da parte da rua pertencente á +freguezia da Magdalena, o «Grafeo», isto +é, o livreiro-editor +Francisco Grapheo, em cujo estabelecimento se +vendia a novella <em>Menina e +Moça</em>, de <a href="#e1">Bernardim</a> +Ribeiro, +impressa em Colonia, em 1559,<sup><a href="#7">[7]</a></sup> +e uma das muitas +edições +da <em>Diana</em>, do nosso Jorge de +Montemor, ao qual +ainda não chegara a hora de ser incluído nos +<em>Indices expurgatorios</em> +das duas Inquisições peninsulares. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[12]</span> +<h3>II</h3> + +<br /> + +Continuando na mesma Rua Nova, agora já no territorio +da freguezia de «S. Giam»; isto é, para +a direita do +Arco dos Pregos, ainda ahi encontramos um Francisco +Mendes, que estará no caso de Sagramor Fernandes, visto +o diminuto do escote, bem como o «framengo» Giraldo +de +Frisa, que pertence tambem, ou nos enganaremos, ao numero +dos da sua classe, de que não chegára noticia +até +nossos dias.<br /> + +<br /> + +Emfim, na mesma Rua Nova, e territorio da sobredita +freguezia de «S. Giam» (S. Julião), mas +da banda das +Varandas, encontramos, fronteira ao Arco dos Pregos, a +«viuva de Salvador Martel», Leonor Nunes, a qual, +estabelecida, +com seu filho, nas casas de Fernão d'Alvarez +de Almeida, teve pelos lançadores a +avaliação de duzentos +mil réis.<br /> + +<br /> + +Salvador Martel foi livreiro conhecido. Deverá ter fallecido +no decurso das operações do +<em>Lançamento</em>, de +cujo livro tiramos estas singelas notas, visto como Tito +de Noronha ainda o refere ao anno de 1566.<sup><a href="#8">[8]</a></sup><br /> + +<br /> + +Algum tanto mais atrás, e tornando ao territorio da +freguezia +da Magdalena, voltando da rua de D. Gil Eanes, +pelo «Pelourinho», para a rua da Ourivesaria da +Prata, +<span class="pagenum">[13]</span> +em cuja entrada tinham suas lojas os «calciteiros», +encontramos +o livreiro Jeronymo de Aguiar, que tambem não +conheciamos, e, ali perto, no Poço da Fotéa, o +já mencionado +João de Molina, appelidado no codice que vamos +percorrendo «Johão de Espanha», +livreiro-editor que rivalisava, +sem comtudo o hombrear, como já notámos, com +o seu opulento confrade João de Borgonha.<br /> + +<br /> + +Não era, porém, só na famosa Rua Nova, +e suas immediações, +que se encontravam os mercadores de livros. Na +rua direita da Porta do Ferro,<sup><a href="#9">[9]</a></sup> +numas casas que ahi possuia +a camareira-mór, estava estabelecido «Jorge +Dagiar» +(Aguiar ou Aguilar?) talvez antecessor de Antonio de Aguilar, +que nesse sitio teve a sua loja em 1576.<br /> + +<br /> + +Pelas vizinhanças, na «travessa da porta travessa +da +Madalena», que se ligava á «rua do fim +do pé da Costa», +tinham tambem suas lojas Francisco Fernandes e «Bautista +da Fonsequa».<sup><a href="#10">[10]</a></sup> +Lá para a Porta do Mar, entre a +Mizericordia e a «Fonte da Pregiça»,<sup><a href="#11">[11]</a></sup> +nas tendas da Cidade +que jaziam nas costas do Terreiro do Trigo, vendia +livros um tal Manoel Francisco, lojista de medianos teres, +cuja fazenda foi avaliada em 10$000 réis. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[14]</span> +Por pouco mais abastado sería tido um Antonio Dias, +com estabelecimento na rua da Gibetaria,―15$000 réis +de fazenda.―E nos mesmos casos Pero Castanho, lá para +perto de Valverde, numa travessa que vinha de Paio de +Novaes para aquelle sitio, isto é, por perto do Rocio.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>III</h3> + +<br /> + +Estes são os livreiros que encontrámos arrolados +em +1565-1567 no <em>Livro do +Lançamento</em> que nos tem guiado.<br /> + +<br /> + +São <em>vinte</em>, isto +é, mais do dobro dos que Tito de Noronha +contou em sua já lembrada Memoria, referidos aos +mesmos annos.<br /> + +<br /> + +Não poderemos, todavia, affirmar que o João Lopes +(1588), da lista daquelle auctor, seja o mesmo que figura +nestas singelas notas. A identidade não se nos afigura +improvavel.<br /> + +<br /> + +Do Christovão Lopes (1563), daquella lista, já +dissemos +o que temos por presumivel. Quanto ao livreiro Antonio +Curvete (1565), mencionado tambem por Tito, não se nos +deparou no longo exame feito ao curioso codice, sob este +particular ponto de vista. Isto não quere dizer que elle se +não ache entre os 15:000 nomes contidos no volumoso +recenso. Bem poderá, porém, ter escapado, por +isso que +nem sempre as profissões dos fintados lhes acompanham +<span class="pagenum">[15]</span> +os nomes, ou achar-se-ha substituido por outro dos arrolados.<br /> + +<br /> + +Como quer que seja, um e outro do numero total dos +livreiros, apontado por Tito de Noronha e por nós, como +estabelecidos em Lisbôa entre 1565 e 1567, está +muito +longe do que mencionou Christovão, onze annos +antes<sup><a href="#12">[12]</a></sup>―«54». +Este numero, na verdade, inconcebivel por si só, +e sem mais explicações, é justificado +pelo ignorado auctor +da chamada <em>Estatistica de Lisboa</em>, de +1552, que se +guarda na Bibliotheca Nacional, de modo assás plausivel, +e que, demais, acerta muito satisfatoriamente a nossa +conta.<br /> + +<br /> + +Diz, com effeito, o auctor da +<em>Estatistica</em>:<br /> + +<br /> + +«Tem XX tendas de livreiros, e [na] maior parte delas +i i j, i i i j criados e sserã as p<sup>as</sup> +que nellas +trabalham +huas per outras lx...... 60 p<sup>as</sup>».<br /> + +<br /> + +Se em vez de Antonio Curvete, que nos falta, pode +estar algum dos diversos desconhecidos, de que damos os +nomes, hypothese que não parece improvavel, haveria +nesta capital, de 1565 a 1567, o mesmo numero de livreiros +que foi contado pelo auctor da +<em>Estatistica</em>, em 1552.<br /> + +<br /> + +Adoptada, com effeito, a conta dos «criados» ou +«obreyros +de livreiros» que os lojistas teriam a seu +serviço, calculada +pelo mesmo auctor, ahi teremos o numero de Christovão +assaz justificado.<br /> + +<br /> + +Será a seguinte Noticia dedicada aos +<em>Impressores</em>. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum"><a name="p16">[16]</a></span> +<h3>IV</h3> + +<br /> + +Ao <a href="#e2">testemunho</a> do curioso codice +do +Archivo Municipal, +que temos seguido, na famosa Lisbôa da segunda metade +do XVI.º seculo <em>seis</em> individuos +exerciam a «arte impressoria», +como a denominou Valentim de Moravia, em sua +traducção do livro de Nicolau Veneto.<br /> + +<br /> + +O primeiro dos seis «imprimidores», segundo se lhes +então chamava, e elles a si proprios se designavam, +encontrados +no alludido codice, é o velho João Blavio de +Agripina Colonia<sup><a href="#13">[13]</a></sup>, +cujas impressões, conforme a tabella +organisada por Tito de Noronha, em sua tão curiosa +quanto instructiva monographia;―<em>A Imprensa Portugueza +durante o seculo XVI</em>, remontam a 1554. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[17]</span> +É, porém, de notar que nesta tabella, ou lista +chronologica +dos impressores deste seculo, assigna-se á actividade +de João Blavio os onze annos, apenas, que começam +em +1554, e terminam em 1564.<br /> + +<br /> + +Ora, o ról do <em>Livro do +Lançamento</em>, onde apparece este +impressor, foi recebido pelos +<em>sacadores</em> (os encarregados +da cobrança da extraordinaria +imposição) em 11 de +março de 1566, e por elles entregue, com o producto da +cobrança, em 17 de agosto, do mesmo anno.<br /> + +<br /> + +Vê-se pois que a actividade de João Blavio se +prolongou +algum tanto mais do que o indica a citada lista. O +que fica para saber, é que genero de trabalhos produziria +este typographo durante o lapso de tempo em que se +averigúa agora ter elle ainda conservado a sua typographia, +e a data precisa da sua desapparição.<sup><a href="#14">[14]</a></sup> +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[18]</span> +Era pouco importante nesta epoca, segundo parece, a +actividade officinal de João Blavio. A moderada +avaliação +de 3$000 réis, que teve, o está +inculcando.<br /> + +<br /> + +Achava-se o velho impressor estabelecido no «Beco de +Gaspar das Naus», freguezia de «Sam +Giam», nas casas de +um tal Bento Gonçalves. Aquella minguada arteria de +Lisbôa tinha sua entrada na Calcetaria, entre a rua dos +Fornos, a L. e o beco da Ferraria, a O. Rematando-se, +ao N., por uma especie de cotovello, sem sahida, bifurcava-se +na ligação com a rua dos Fornos, a que se chamava +«beco do Loureiro». O plano Pombalino, assentando +sobre +esta um tanto emmaranhada topographia, mostra-nos, +como pode ver-se na <em>Est. I</em> da obra +valedora do sr. Vieira +da Silva, <em>As Muralhas da Ribeira de +Lisboa</em>, o Beco +de Gaspar das Naus atravessado transversalmente, de +cima para baixo, na entrada da rua do Crucifixo, tendo +a sua abertura no quarteirão que fica entre a esquina P. +da rua do Crucifixo e a do N. da rua Nova do Almada, +fronteira, por conseguinte, á parede lateral esquerda da +actual igreja da Conceição Nova.<br /> + +<br /> + +O personagem que deu o nome a este beco, e provavelmente +residiu nelle, fôra, a julgar pelo que allega o +«<em>Negro</em>», +<span class="pagenum">[19]</span> +na <em>Pratica de oito figuras</em>, do poeta +Chiado, sujeito que +empunhara no mercado a vara da justiça... policial.<br /> + +<br /> + +Diz com effeito, +«<span class="smallcaps">Gama</span>»:<br /> + +<br /> + +<div class="poetry">«Não vou por esse +caminho!<br /> + +Fallae ao que vos pergunto,<br /> + +Dizei, negrinho sandeu:<br /> + +saibamos que mal vos fiz,<br /> + +porque não me daes perdiz,<br /> + +pois que m'a compraes do meu?<br /> + +</div> + +<br /> + +Responde o +«<span class="smallcaps">Negro</span>»:<br /> + +<br /> + +<div class="poetry">«Nunca elle mim acha...<br /> + +Muito caro, nunca bem...<br /> + +Mim dá-le treze vintem<br /> + +pr'o dôzo; não querê dá.<br /> + +A regatêra muito máo!<br /> + +Mim dize quére vendê?<br /> + +Elle logo saconde...<br /> + +medo <em>Gasapar da náo<br /> + +proqu'elle logo prende</em>.»<sup><a href="#15">[15]</a></sup> +</div> + +<br /> + +Gaspar das Naus não é o unico a quem tenha sido +applicado o cognome. Houve por esta epoca um outro individuo, +chamado Manoel Lopes, tambem cognominado +«das Naus». Ainda não sabemos em que se +occupasse.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>V</h3> + +<br /> + +Segue-se, na ordem da leitura, Marcos Borges, que nos +apparece arrolado como «imprimidor obreyro», +residindo em +uma de tres vias públicas, enfeixadas pelos +<em>lançadores</em> +da sobredita imposição num só +titulo:―«<em>Rua de quebra +<span class="pagenum">[20]</span> +q... com travessa de calca</em> +(calça) <em>frades e Rua de +pino vay</em>»<sup><a href="#16">[16]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +O rol onde figura Marcos Borges foi entregue aos +<em>sacadores</em> +em 2 de maio de 1566, sendo por elles restituido +ao thesoureiro da imposição em 1 de agosto +seguinte.<br /> + +<br /> + +Ora, «ao primeyro de janeiro de 1566» appareceu a +público, +impresso por este typographo, o +«<em>Paradoxo</em>», de +João Cointha, lendo-se no frontispicio da obra, +além da +sobredita data, mais a seguinte +indicação:―«<em>Vede se +na +empressam detraz de nossa senhora da +Palma</em>».<sup><a href="#17">[17]</a></sup><br /> + +<br /> + +Se, pois, Marcos Borges já no 1.º de janeiro de +1566 +estava estabelecido por sua conta, e nos dá testemunho +irrecusavel do facto na obra que lhe foi, porventura, estreia, +como é que elle nos apparece classificado como +«imprimidor +obreyro», em maio, deste mesmo anno? Não deviam os +individuos que o classificaram conhecer bem a sua +posição?<br /> + +<br /> + +Por outro lado, a indicação um tanto vaga: +«detrás de +nossa senhora da Palma» poderia até agora fazer +suppôr +que Marcos Borges estava, com effeito, estabelecido nalgumas +<span class="pagenum">[21]</span> +casas situadas na parte posterior da capella-mór +da ermida daquella invocação, onde, de certeza, +havia já +neste tempo casas para alugar, como as continuava havendo +em 1755, e a ellas se referiram os engenheiros encarregados +das medições dos Bairros, ordenadas no +começo +do anno seguinte pelo ministro do rei D. José.<sup><a href="#18">[18]</a></sup><br /> + +<br /> + +Desde, porém, que Marcos Borges nos apparece residindo +num sitio differente do indicado na obra, de que terá +sido o proprio editor, como tal indicação nos +auctorisa +a crêr, ainda que ambos os locaes fôssem +convizinhos, o +que parece curial é entender-se que o impressor do +«<em>Paradoxo</em>», +tendo, com effeito, a sua officina no sitio que +a obra indica, residiria no «<em>Pino +Vay</em>», viela ingreme, +quasi fronteira á parte posterior da ermida, e que laborava +a escarpa, no alto da qual passava a «rua detraz de Santa +Justa», correspondendo, salvo o actual aspecto, á +rua da Magdalena, +na parte que vae da Betesga ao largo dos Caldas. +Vamos ver adiante que Antonio Gonçalves, confrade, +já +agora celebre, de Marcos Borges, morava numas casas de +certa rua, e tinha nella, e perto, em outras, a sua officina.<br /> + +<br /> + +Mas, encosta acima, enlaçava-se no +«<em>Pino vay</em>» a +«<em>travessa +de quebra q...</em>», que rasgando-se entre a +«<em>rua dos +torneiros</em>» e a +«<em>Correaria</em>», um +tanto mais abaixo da +abertura inferior do «<em>Pino +vay</em>», ía formar com esta viella, +a meio da encosta, o enlace que fica apontado. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum"><a name="p22">[22]</a></span> +São poucos os contribuintes arrolados no grupo das +tres vias públicas em questão, e tanto se pode +suppôr que +Marcos Borges, sempre na hypothese de ter a sua officina +«<em>atras de nossa senhora da +Palma</em>», morasse no +«<em>Pino +vay</em>» como na travessa predita, ou na +<em>rua de calça frades</em>.<br /> + +<br /> + +A circumstancia, porém, de não mencionarem os +lançadores +pessoa alguma a fintar na parte posterior da ermida +da Palma, justamente no anno em que este impressor +se declarara, na obra que citámos, estabelecido nesse +sitio desde o 1.º de janeiro, tenta-nos a ver em tal +indicação +um <em>alibi</em>, por elle empregado, para +remediar um inconveniente +a que o decoro devia attender. O que se nos afigura +por mais certo, é que os +<em>sacadores</em> encontraram, +com effeito, Marcos Borges residindo na mesma casa onde +teria a sua officina, o que era regra, a bem dizer, geral, +não «atrás da ermida de nossa senhora +da Palma», mas +na <em>travessa de quebra costas</em>, uma +das tres do grupo +<a href="#e3">onde</a> o seu nome apparece, entre +outros, e da qual se pode +<a href="#e4">admitir</a>, sem grande violencia, que +ficasse +fronteira, mas +do lado opposto da <em>Correaria</em>, +á parte posterior daquella +ermida.<br /> + +<br /> + +Quanto á menos exacta qualificação que +ao impressor +foi attribuida pelos <em>sacadores</em>, pode +entender-se egualmente, +ou que houve equivoco da parte destes, ou que elles +quizeram favorecer o recem-estabelecido +«imprimidor», +conservando-lhe a qualificação de +«obreyro», com o fim +de lhe minorar a importancia do escote. Marcos Borges, +typographo proprietario de officina, poderia, é verdade, +ser avaliado em 3$000 réis, como o fôra o seu +confrade +João Blavio, e pagaria 21 rs. de escote, mas passando, +por favor dos <em>sacadores</em>, por +méro «imprimidor obreyro», +alcançava o beneficio da «menor contia», +que eram 2$500 +<span class="pagenum">[23]</span> +rs., correspondendo-lhe a contribuição de 17 rs. +Era uma +differença apreciavel. Valia a pena acceitar o favor. Marcos +Borges, <em>encolhendo-se</em>, ganhava 4 +réis, isto é, defraudava +S. Alteza em obra de 30 réis, de hoje.<br /> + +<br /> + +Este impressor, ainda em 1567; isto é, no anno seguinte +áquelle em que se estabeleceu por sua conta, continuava +a dar como séde da sua typographia o mesmo sitio: +«<em>detrás de nossa senhora da +Palma</em>». Assim se lê, +com effeito, no fim da «<em>Chronica do valoroso +principe e +invencivel capitão Jorge +Castrioto</em>», de Francisco de Andrade. +Era então já «impressor delrey nosso +senhor».<br /> + +<br /> + +Não continuou, porém, ahi. Do facto ficou +testemunho +no depoimento de Pero Alberto, flamengo, seu obreiro, +que a 5 de novembro de 1571 declarava seu mestre estabelecido +no «Arco dos Carangueijos», se não +é Arco do +Caranguejo, simplesmente.<sup><a href="#19">[19]</a></sup><br /> + +<br /> + +A indicação é preciosa, porque nos +mostra quem foi o +successor da viuva de Germão Galharde, da qual adiante +nos occuparemos com tal qual individuação.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>VI</h3> + +<br /> + +Ao «imprimidor» Marcos Borges seguem-se, no codice +que estamos examinando, os seus dois confrades Manoel +João e Francisco Corrêa, encontrados, este na +freguezia +de Santa Justa, aquelle, na de S. Christovão.<br /> + +<br /> + +É Manoel João o primeiro, e delle e da sua +actividade +industrial vamos dar os breves respigos por nós colhidos +nas duas interessantes e eruditas monographias de Tito +<span class="pagenum">[24]</span> +de Noronha―<em>A Imprensa Portugueza</em>, e +<em>Ordenações do +Reino</em>, ambas referidas ao seculo XVI.<sup><a href="#20">[20]</a></sup><br /> + +<br /> + +Manoel João exerceu a sua arte entre os annos de +1565 e 1578. Destes quatorze annos, porém, os dois primeiros +occupou-os o impressor em Lisbôa, transferindo-se +após a Vizeu, onde trabalhou durante os seguintes +déz. +Em 1576, provavelmente, Manoel João terá voltado +a esta +capital, publicando nella, datados deste mesmo anno, os +<em>Diesisiete coloquios</em>, de Baltazar +Collazos. De 1578 +em diante, desapparece.<br /> + +<br /> + +Deverá ter sido limitada, e pouco sortida, a actividade +industrial deste impressor, accrescendo que as obras sahidas +do seu prélo não se distinguem por perfeitas. +Para o +facto concorria tambem o cançado tipo de que +dispôs, e +o papel em que imprimiu. A decadencia da Arte começava +a accentuar-se.<br /> + +<br /> + +Dos dois primeiros annos do estabelecimento de Manoel +João em Lisbôa conhece-se, impressa no anno de +1565, a +4.ª ed. das <em>Ordenações do +Reino</em>, dada a lume, como as +anteriores, por mandado régio<sup><a href="#21">[21]</a></sup>. +Esta +edição foi feita á +custa do livreiro Francisco Fernandes, e será o mesmo +que referimos no Cap. II ter encontrado estabelecido na +<span class="pagenum">[25]</span> +«<em>Travessa da porta travessa da +Madalena</em>»; isto é, por +perto da actual calçada do Correio Velho.<br /> + +<br /> + +No anno seguinte dava o nosso impressor a lume a +segunda edição da <em>Primeira Parte +da Chronica dos +Menores</em>, como lembrámos em uma das notas +do Cap. IV. +A esta obra seguiu-se a <em>Oração +na trasladação dos +ossos de Affonso de Albuquerque</em>, e depois os +<em>Artigos +das Cizas</em>, edição geralmente +desconhecida de nossos +bibliographos, e de que Tito de Noronha menciona tres +exemplares; o da livraria de Lord Stuart, e os de dois +amadores do Porto<sup><a href="#22">[22]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +Em Vizeu, onde Tito conjectura se estabelecera Manoel +João, a convite do bispo D. Jorge de Atayde, deu este +impressor, em 1569, o <em>Compendio de +Confessores</em>, e no +anno seguinte as <em>Regulae +Cancellariae</em>, de Pio V.<br /> + +<br /> + +Tal é a noticia abreviada da actividade officinal de +Manoel João. Cumpriria agora ver como se exprimiu +Bastião +de Lucena, o escrivão da <em>voluntaria +imposição</em>, graças +á qual nos foi possivel ajuntar as poucas noticias que +constituem o assumpto de nossas singelas notas, ao lançar +no volumoso codice que estamos compulsando, o nome +deste impressor entre os fintados da freguezia de S. +Christovão. Antes, porém, importa que o benevolo +leitor +nos consinta um breve relance á topographia lisbonense, +<span class="pagenum">[26]</span> +da epoca a que pertence o interessante <em>Livro do +Lançamento</em> +que temos examinado. Ver-se-ha não ser sem motivo +a digressão.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>VII</h3> + +<br /> + +Quem percorrer as tão bem ordenadas listas da +viação +pública parochial lisbonense, impressas no +<em>Summario</em> de +Christovão Rodrigues de Oliveira, com as suas tres +categorias +de becos, ruas e travessas perfeitamente distinctas, +e os seus sessenta e dois «Postos que nam sam +ruas», +onde o auctor, ou os que taes listas organisaram, accommodam +os «sitios», os adros das parochias, os arcos, as +varandas, os terreiros, ficará de todo illudido, se cuidar +que tudo na vida administrativa de Lisbôa se passava com +regularidade tão exemplar, em pleno seculo XVI, que +todos os habitantes da famosa cidade lhe conheciam as +vias públicas, destrinçando-as umas das outras, +como hoje +o fazemos, por suas exactas denominações e +categorias, +sem ser preciso designa-las por signaes, ou auxiliar-se de +referencias mais ou menos complicadas, para lhes descreverem +a marcha itineraria.<br /> + +<br /> + +A prova de que tal regularidade não passou dos +«roles» +que os parochos de Lisbôa ministraram ao guarda-roupa +do Arcebispo, por ordem deste, e Christovão fez imprimir +após as noticias que ía dando das differentes +freguezias, +está neste codice que temos manuseado, e de que +vamos dando noticia a nossos benignos leitores. No breve +espaço dos quinze annos que medeiam entre a data que +é +costume attribuir á curiosa obra do solícito +famulo do +prelado lisbonense, é o <em>Livro do +Lançamento</em>, do Archivo +Municipal (1551-1565), um grande numero de vias públicas +de todas as tres categorias se haviam aggregado ás +<em>quinhentas +<span class="pagenum">[27]</span> +e vinte e uma</em>, de que o +<em>Summario</em> pretende dar +a conta, não em somma total, mas em sommas parciaes, +referidas a cada qual das tres categorias<sup><a href="#23">[23]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +Estava no seu auge o facto que a +<em>Miscellanea</em> de Garcia +de Resende commemora;<br /> + +<br /> + +<div class="poetry">«Lisboa vimos crescer<br /> + +Em povos e em grandeza.<br /> + +E muito se nobrecer<br /> + +Em edificios, riqueza».<br /> + +</div> + +<br /> + +Lisbôa desenvolvera-se a olhos vistos, e uma nova +remodelação do territorio parochial, +divisão unica, de tal +qual regularidade por então em vigor, e essa mesma mais +para o ecclesiastico, do que para o civil, estava imminente. +<span class="pagenum">[28]</span> +Ora, desde o 1.º de janeiro de 1560 que a freguezia de +«Santa Catharina do Monte Sinay» encetava, pelo +funccionamento +da sua parochia, a série de providencias, que +o Cardeal Infante resolvera promover, para instituir mais +cinco freguezias na cidade, recortando-as no territorio +das vinte e quatro já existentes, segundo +lembrámos no +começo destas singelas Notas.<br /> + +<br /> + +Pois bem: cinco annos depois de ter começado a funccionar +esta parochia, ainda a grande maioria das vias +públicas que lhe sulcavam o territorio carecía de +denominações, +ou os <em>lançadores</em>, +freguezes nella, e que haviam +formado os roes da <em>voluntaria</em> +derrama, lh'os não conheciam.<br /> + +<br /> + +A calçada <em>do Congro</em><sup><a href="#24">[24]</a></sup> +ahi figura já, na verdade, substituindo +se á +denominação bem mais pictoresca de que +dispusera, de calçada da <em>Boa +Vista</em>, no tempo em que, +seguindo os roes de Christovão, a vemos mencionada na +freguezia de Nossa Senhora do Loreto, cujo territorio, +<span class="pagenum">[29]</span> +já no começo da segunda metade do seculo XVI, +alcançava +até o «Valle das Chagas». Nascera +igualmente a +«Rua do Conde», que em nossos dias mandaram +appelidar +«Travessa do Caldeira»<sup><a href="#25">[25]</a></sup>, +a «Bica do +Bello», de 1551, +apparece já em 1565 com a denominação +com que ficou, +de «Rua da Bica de Duarte Bello», Fernão +Rodrigues de +Almada dá o seu appelido á rua que ainda agora +conserva +tal nome, proximo á antiga «Cruz de +Pao», desde 1885, +«Rua do Marechal Saldanha».<br /> + +<br /> + +Em compensação, porém, os roes dos +<em>sacadores</em> falam-nos +de 4 ruas que «vão das Chagas para Santa +Catharina», +assim como de 2 outras que «vão por +detrás de +Santa Catharina, uma para a Costa, outra para o Valle», +e destas seis não é em nenhuma maneira facil +fixar a +situação. Por outro lado, se conjecturamos que a +«rua +dereita [~q] vai p'la calçada do congro abaixo» +seja a actual +rua do Sol, a «rua da Cruz para Santa Catharina» a +actual +rua do Marechal Saldanha, a «rua que vai da cruz da +esperança para as casas de Christovão de +mello» a actual +rua dos Mastros, e assim como estas, outras ruas ou travessas, +apenas indicadas por informações, nem sempre +estas, se se pretendesse fazer um estudo comparativo +local, seriam faceis de precisar.<br /> + +<br /> + +Ora, consoante a taes exemplos, tirados, aliás, do +territorio +<span class="pagenum">[30]</span> +parochial de uma freguezia incipiente, muitos +outros se offerecem neste codice, dispersos por diversas +freguezias, e até por algumas das mais antigas.<br /> + +<br /> + +Mas não é só isto. Palpita-nos que +certas vias públicas +das listas de Christovão passaram a ser indicadas por +differentes designações, o que se explicaria pela +decadencia +da respectiva determinante. Exemplos deste facto +ha-os, até bem mais recentes. A calçada de +Damião de +Aguiar, do seculo XVII, +passou a +ser denominada «calçada +do Lavra» (aliás Lavre), quando os Lopes de Lavre, +do +Concelho Ultramarino, vieram, pela infallivel lei das +renovações, +e consequentes substituições, a entrar na posse +do palacio e ermida que haviam pertencido áquelle +desembargador; +construcção que fórma a esquina +esquerda da +referida calçada, sobre a rua de S. José. Outra +calçada, +a de Salvador Corrêa de Sá, trocou o nome pelo de +S. +João Nepomuceno, quando os religiosos protegidos pela +rainha D. Maria Anna de Austria fundaram o seu hospicio, +daquella invocação, nas abas occidentaes do monte +de +Santa Catharina.<br /> + +<br /> + +De outras vias públicas do codice em exame se pode +inferir que se haja obliterado a significação do +nome que +as distinguia, visto como é evidente que Bastião +de Lucena, +o escrivão desta derrama, lhes desfigurou as +denominações, +com a mesma inconsciencia com que deformou +o nome do velho João Blavio de Agripina Colonia. Uma +viela, para exemplo; uma viela que recordava o appelido +de certo parente do arcebispo de Genova, Agostinho +Salvago, e que viera estabelecer-se em Lisbôa, apparece-nos +transformada por Lucena em "Beco da Salvaje», e +assim outras mais. Do mesmo modo que ha, em summa, no +<em>Livro do Lançamento</em> +muitas vias públicas não mencionadas +<span class="pagenum">[31]</span> +no <em>Summario</em> do guarda-roupa, +ha neste livro noticia +de grande numero de outras, de que aquelle codice +não conservou memoria.<br /> + +<br /> + +Torna-se, pois, a conciliação entre os roes do +<em>Summario</em>, +e a nomenclatura da viação daquelle repositorio +difficil, +e não se consegue que sáia perfeita. A +impossibilidade +de identificação é manifesta.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>VIII</h3> + +<br /> + +Somos assim chegados ao ponto que nos levou á precedente +digressão. Onde, em que rua, travessa ou beco, +apparece fintado, na freguezia de S. Christovão, o +«imprimidor» +Manoel João?<br /> + +<br /> + +O titulo desta freguezia lê-se no alto da fol. 406, +v.<sup>o</sup> do +volumoso codice, redigido nos seguintes textuaes termos:<br /> + +<br /> + +«<em>T.<sup>o</sup> da freguezia De san +Xpuão―Começa o primeiro +rol No chan Dalcamin pera a costa</em>»<sup><a href="#26">[26]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[32]</span> +Vae seguindo o recenseamento, e a fls. 407 lê-se:<br /> + +<br /> + +«<em>Duas ruas [~q] +começão De san Xpuão pera san +Lourenço</em>».<br /> + +<br /> + +No v.<sup>o</sup> desta folha, e no alto della, assentou +Bastião de +Lucena o 8.º lançamento deste titulo. Diz:<br /> + +<br /> + +«It Manoel Johão Inprimidor em casas Do doutor +João +de bairos av.<sup>do</sup> [~e] seis mill rs. paguara rij +rs»<sup><a href="#27">[27]</a></sup><br /> + +<br /> + +Portanto, tudo quanto se colhe de similhante +informação, +sem nada adiantar ao nosso proposito, é que este +sitio soffreu, em epoca não facil de determinar, ainda que +não estejâmos longe de fixa-la de 1756 para +diante, consideravel +alteração. Hoje, rua que comece de S. +Christovão +para S. Lourenço, apenas conhecemos todos +<em>uma</em>; +a rua das Farinhas, á qual o auctor do +<em>Summario</em>, ou +<span class="pagenum">[33]</span> +quem para elle escreveu esta parte do livro, chama «Rua +das Farinheiras». Poderia, porém, ter-se em +consideração +que no terreno que fica entre a parochial de S. Christovão +e a garganta por onde se penetra na rua das Farinhas, +e é denominado «rua de S. +Christovão», haveria modo de +existir nas eras remotas que nos occupam, qualquer viela +que, embebendo-se em outra similhante, déssem ambas +as «duas ruas que começam de S. +Christovão para S. +Lourenço», segundo o abreviado modo de exprimir-se +dos +lançadores da imposição. É, +pelo menos, o que resulta +das medições do Tombo do <em>Bairro +do Rocio</em>, (1756), a +fls. 121, onde se lê: «Largo da Igreja de S. +Christovão―Corre +o seu comprimento N. S. Tem de comprimento desde +a rua do Regedor até <em>á travessa +que vai para a rua das +Farinhas</em>, 214 p.; de largura pelo N. 35 p., e pelo S. +45».<br /> + +<br /> + +Ora, a lista das vias públicas, do +<em>Summario</em>, que laboravam +o territorio parochial de S. Christovão comporta 9 +ruas, 3 travessas, 1 adro, 2 terreiros, 1 beco e 1 arco.<br /> + +<br /> + +De toda esta estatistica de viação, apenas uma +rua, a +«do Crucifixo», uma travessa, e os dois terreiros +se não +podem identificar com a actual topographia da parochia<sup><a href="#28">[28]</a></sup>. +<span class="pagenum">[34]</span> +E como naquelle tratado, a disposição das +«Ruas», tal qual +quem ordenou a lista das vias públicas della as foi +escrevendo, +nos mostra que se começou do N. para o S. da +freguezia, isto é da «Rua das +Fontainhas», compartilhada +pelas parochias de S. Lourenço e de Santa Justa, para a +extrema opposta; para a «Rua do chão +dalcamim», segue-se +que a «Rua do Crucifixo», por maior que seja o +nosso +desejo de precisar qual das «duas ruas que vão de +S. +Christovão para S. Lourenço» era a que +habitava, com +a sua officina, o tipographo Manoel João, não +parece que +possa ser a designada, visto como se apresenta na lista +parochial após a «Rua do Regedor», isto +é, do lado diametralmente +opposto á provavel situação daquellas +duas ruas.<br /> + +<br /> + +Assim pois, se a tal «travessa que vai para a rua das +Farinhas», do Tombo Pombalino, não era, como, de +facto, não parece ter sido, a «rua do +Crucifixo», do +<em>Summario</em> de Christovão, +ainda existente, e conhecida +por esta denominação em 1712, como se mostra na +<em>Corografia</em> +de Carvalho da Costa, e se não era, portanto, +nella que Manoel João estava arrolado, tudo que se +póde +concluir, é que o nosso impressor teve a sua officina no +territorio da freguezia de S. Christovão, e numa via +pública +muito proxima á séde da parochia, mas para o N. +do territorio desta.<br /> + +<br /> + +Em algum dos proximos capitulos veremos que a fórma +imperfeita como os +<em>lançadores</em> organisaram os +roes da +derrama dá motivo a iguaes hesitações +e perplexidades +que nos não deixam satisfeito, quanto ao sitio em que +<span class="pagenum">[35]</span> +teve a sua operosa officina tipographica o celebre Germão +Galharde, e onde vamos ainda encontrar a sua viuva.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>IX</h3> + +<br /> + +Como o seu confrade Manoel João, tambem Francisco +Corrêa, seguindo as noticias que deste impressor nos +dá +Deslandes, em sua <em>Historia da Typographia +Portugueza</em>, +exerceu a sua arte fóra de Lisbôa.<br /> + +<br /> + +Provavel «obreiro de imprimidor» de +Germão Galharde, +acaso foi convidado para ir dirigir em Coimbra a officina +do Estudo Real, estabelecida na rua da Sophia, como seu +presumivel mestre o fôra igualmente, para ir organisar a +imprensa dos Cruzios, daquella cidade.<br /> + +<br /> + +Em tal situação ali se demorou, com effeito, +Francisco +Corrêa desde o anno de 1549, em que principia a apparecer, +até 1555. Passando por este tempo ao Porto, ali +deu á estampa o compendio de arithmetica, de Bento +Fernandes<sup><a href="#29">[29]</a></sup>. +Transferindo-se em seguida a Lisbôa, onde +<span class="pagenum">[36]</span> +assentou prélos até 1585, anno que parece ter +sido o do +seu fallecimento, ainda em 1580 imprimiu em Almeirim, +de parceria com seu confrade Antonio Ribeiro, segundo +informações de Tito de Noronha, +<em>in A Imprensa Portugueza</em>, +as <em>Allegações de +direito</em> por parte da Infanta D. +Catharina, sobrinha do Cardeal Infante.<br /> + +<br /> + +Além destas noticias, publíca tambem Deslandes +em +sua predita obra o Alv. de 12 de novembro de 1566, concedendo +a Francisco Corrêa isenção de direitos, +até certa +quantia, do papel que despachasse em cada anno, a começar +no de 1565. Pelo restante teor deste diploma se +prova, outrosim, que Francisco Corrêa foi arrendatario +das officinas que, por morte de João Blavio, ficaram em +Lisboa e na India, em Gôa, muito mais que provavelmente, +sendo-lhe concedidos os 40$000 réis que os herdeiros +daquelle impressor haviam alcançado se descontassem +nos direitos do papel que despachassem para o expediente +das preditas duas officinas. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[37]</span> +Taes são em breve resumo, e salvo a +supposição de +que Francisco Corrêa fôsse compositor na officina +de +Germão Galharde, que é nossa, as noticias +colhidas nas +obras de Deslandes e de Tito de Noronha, acima apontadas, +ácerca deste notavel tipographo, cujos trabalhos, +além de numerosos, se avantajam, a testemunho do segundo +daquelles dois auctores, em sua tão curiosa monographia +das <em>Ordenações do +Reino</em>, em nitidez e satisfactorio +aspecto, aos do seu confrade Manoel João.<br /> + +<br /> + +<br /> + +Ao percorrermos no <em>Livro do +Lançamento</em> o «3.º rol +da freguezia de Santa Justa», ahi se nos deparou a +«Rua +de Valverde», e nella, como 16.º contribuinte:<br /> + +<br /> + +«Francisco corea [~e]presor [~e] casas de margaida de matos +avaliado [~e] seis mill rs paguara Rij rs.»<br /> + +<br /> + +O rol a que nos referimos teve começo na rua que +ía do +mosteiro de S. Domingos para a Porta de Santo +Antão. +Comprehendia a rua do Chafariz do Rocio para a Mancebia, +a que ía da estrebaria del-rei ao longo do muro para +a Porta de Santo Antão, a «rua do beco» +do chafariz do +Rocio, e finalmente, a rua de Valverde, que laborou, provavelmente, +parte da actual Praça dos Restauradores, +da banda do S., e vindo imbeber-se, talvez, na rua de +Mestre Gonçalo, isto é, no terreno da rua do +Principe, e +por perto da actual calçada do Duque.<br /> + +<br /> + +Para o seguinte estudo, a viuva de Germão Galharde, +a que acima alludimos, e o glorioso impressor da primeira +edição dos +<span class="smallcaps">Lusiadas</span>, Antonio +Gonçalves. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[38]</span> +<h3>X</h3> + +<br /> + +Vamos folheando o volumoso recenseamento, onde colhemos +as informações que temos transmitido a nossos +benignos leitores, e achamo-nos agora em face do 7.º e +ultimo rol da freguezia da Magdalena<sup><a href="#30">[30]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +Começam os sucintos apontamentos itinerarios dados +neste rol aos <em>sacadores</em> encarregados +da cobrança das +<em>voluntarias</em> fintas, pela:<br /> + +<br /> + +«<em>Rua Dos torneyros [~q] travessa para as +pedras negras +pela rua de Ilusuarte Peris<sup><a href="#31">[31]</a></sup> +ate a rua drt.<sup>a</sup> da +Costa</em>». +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[39]</span> +Não ocorreu ao escrivão desta derrama, escrevendo +para comparochianos, conhecedores como aos seus dedos +de todas as enredadas arterias da sua freguezia, que alguns +seculos depois, compatricios seus viriam que tivessem +interesse em perceber, mais do que as suas garatujas +pictorescas, as suas abreviadas, e até menos exactas +indicações +do territorio parochial a que se referiam!<br /> + +<br /> + +Se tal, com effeito, se houvera dado, não só +Bastião +de Lucena não estabeleceria, contra a exacta nomenclatura +local, que a <em>rua</em> dos Torneiros +atravessava para as +Pedras Negras, vertendo assim uma confusão de desnortear +na compartilha parochial, mas não sacrificaria á +extrema +concisão que adoptou a precisa clareza, para sabermos +agora a que via pública, entre as comprehendidas na +sua abreviada indicação, viria a pertencer o +35.º lançamento, +<span class="pagenum">[40]</span> +dos 38 lançados sob o correspondente enunciado, +e que é o seguinte:<br /> + +<br /> + +«<em>It A molher de germão galharde +[~e]primidor em casas +suas avaliada [~e] settenta mill rs paguará i i i j c l v +rs</em>»<sup><a href="#32">[32]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +Com effeito, uma vez que se nos deparára aqui a viuva +do celebre impressor francês, que tanto realce deu +á typographia +lisbonense do XVI.º seculo, e tão util +foi +ás letras +portuguesas destas afastadas eras, bem natural fôra +que desejassemos precisar o sitio, a rua, a travessa ou +beco onde a digna matrona residisse. O mesmo seria que +ficarmos sabendo precisamente onde seu defuncto marido +terá tido a sua operosa officina.<br /> + +<br /> + +A difficuldade, porém, mostra-se insuperavel, ainda +quando reponhamos, até, em seu logar a desfigurada +topographia +local, e se, posteriormente, nenhum outro indicio +nos não fizer suspeitar onde possa ter estado estabelecida +esta tão interessante imprensa, teremos o desgosto +de nos contentarmos, á semelhança do que nos +aconteceu, +tratando de Manoel João, com as vagas +indicações que +ficam expressas.<br /> + +<br /> + +Procurando formar idéa da ordem que presidiu á +elaboração +dos roes desta freguezia, concluímos que os +lançadores +adoptaram a orientação topographico-descriptiva +do +sul para o norte, isto é, das muralhas marginaes da cidade +para cima; «Rua Nova dos Ferros», «Porta +d'Erva» e +«Porta da Ribeira», +«Carnaçarias Velhas», +«Pelourinho», +«Misericordia», «Rua do +Principe», «Rua da Ferraria Velha, +por detrás da Conceição», +«Cristaleiras», «Rua dos +<span class="pagenum">[41]</span> +Fanqueiros», «Rua dos Corrieiros de obra grossa e +delgada», +&, &. Todos estes sitios, todas estas vias +públicas +entram nos seis anteriores roes, com outras que, por +abreviar, se não mencionam. Este 7.º rol +comprehende, +portanto, a zona alta da freguezia, e dentro delle observa-se +disposição igual á que se adoptou para +os anteriores.<br /> + +<br /> + +Se bem entendemos, pois, o breve apontamento de +Bastião de Lucena, havia na freguezia da Magdalena uma +via pública, uma viella, como tantas outras deste tempo, +que, partindo de qualquer ponto, por agora indeterminado, +atravessava, mas não directamente, para as Pedras Negras. +A travessia fazia-se com o auxilio da rua de Ilusuarte +Peris. Portanto, o que se queria indicar aos +<em>sacadores</em>, +é que, principiando <em>as suas +visitas</em> pela tal via +pública, erradamente classificada e denominada +«Rua dos +Torneiros», e continuando-as pela rua de Ilusuarte Peris, +que se lhe seguia, fôssem indo até +alcançar a rua direita +da Costa, nesse tempo, como agora e sob a +denominação +de calçada do Correio Velho, limite léste da +predita freguezia. +Uma vez chegados áquella rua, os +<em>sacadores</em>, +conforme se deprehende da continuação da leitura +deste +7.º rol, descê-la-íam, entrariam na rua +do Arco +de Dona Tareja; +isto é, retrocederiam para Oeste, e desta rua continuariam o +seu itinerario por onde já nos não importa +segui-los.<br /> + +<br /> + +Está tudo muito bem, menos uma circumstancia importante. +Não houve em Lisbôa, em tempo algum, nenhuma +«rua dos Torneiros», nem na freguezia da Magdalena, +nem em nenhuma outra freguezia da cidade. Existiu, sim, +a «rua da Tornoaria», mas essa pertencia +á freguezia de +S. Nicolau. Passava pela parte posterior do edificio parochial +deste orago, e era, por conseguinte, o mais septemtrional +dos successivos tramos em que se fraccionava a +<span class="pagenum">[42]</span> +longa, e em parte alcantilada via pública que ligava uma +á +outra as duas sédes parochiaes.<br /> + +<br /> + +Para se ir da Magdalena a S. Nicolau, haveria de percorrer-se +a Correaria, a Fancaria, a Tornoaria, e ainda +quando se quizesse admittir que os +<em>lançadores</em>, e +Bastião +de Lucena com elles, haviam chamado «rua dos +Torneiros» +á rua da Tornoaria, daqui se vê que tal rua +não podia ser +compartilhavel entre a freguezia de S. Nicolau e a da +Magdalena, como o não eram as suas duas parceiras, a +Correaria e a Fancaria.<br /> + +<br /> + +Temos, pois, de recorrer ao +<span class="smallcaps">Summario</span>, de +Christovão +Rodrigues de Oliveira, para destramar a meada.<br /> + +<br /> + +Em boa hora o fazemos, porque a via pública que o solicito +guarda-roupa do arcebispo D. Fernando nos aponta +como situada na freguezia da Magdalena, em 1551, é a +«<em>travessa dos +Torneiros</em>». Ora, é evidentemente +tal «<em>travessa</em>» +aquella a que se referem os lançadores, porque +partindo, cá em baixo, da Tornoaria, em sentido transversal +para L., galgava a barreira que separava o valle da Baixa +das cumiadas que iam terminar na Alcaçova, e surdindo +muito proximamente no local fronteiro á actual Travessa +das Pedras Negras, ía soldar-se á Rua de +Ilusuarte Peris. +Cumpre, no emtanto, advertir que o sitio que no seculo XVI.º +deu +origem á +denominação «Pedras Negras» +não era +precisamente onde se rasgam, pela planta Pombalina, a +rua e a travessa d'esta denominação, e que a rua +de Ilusuarte +Peris, ou desapparecera nos provaveis aspectos +diversos que o sitio apresentou entre os seculos XVI.º e +XVIII.º, ou +se conservava ainda, +acaso, ás vesperas do +terremoto de 1755, mas com differente +denominação; o +que não seria de extranhar, como já +observámos. As «Pedras +Negras», como era o sitio a que deram o nome, anteriormente +<span class="pagenum">[43]</span> +ainda ao seculo XVI.º, póde +vêr-se a +configuração +provavel que tiveram em mais escuras eras, na planta +que acompanha a obra valedora do sr. Vieira da +Silva:―<span class="smallcaps">As +Muralhas da Ribeira de Lisboa</span>.<br /> + +<br /> + +A «rua de Ilusuarte Peris» é que na +mencionada planta +não apparece, e mal se suppõe onde possa ter +sido<sup><a href="#33">[33]</a></sup>. A +travessa dos Torneiros é o «Beco de Nossa Senhora +da +Conceição», da sobredita planta, muito +mais que provavelmente.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>XI</h3> + +<br /> + +Fixados como é, já agora, possivel +fazê-lo, a muito +perto de trezentos e cincoenta annos de distancia, e com +tão escassos elementos topographicos, estes indispensaveis +<span class="pagenum">[44]</span> +pormenores, digamos agora o que se sabe do activo +industrial de quem fôra «molher» a pessoa +a quem se referiu +o lançamento que é assumpto ao nosso +despretencioso +estudo.<br /> + +<br /> + +<br /> + +Germão Galharde, francês de +nação, o que elle não +deixou de recordar-nos em algumas de suas assignaturas<sup><a href="#34">[34]</a></sup>, +foi, como anda sabido, o mais operoso impressor que teve +o XVI.º seculo português. Estabelecido em +Lisbôa +pelos +primeiros annos delle, conhecem-se, executadas no espaço +de mais de quarenta annos, e até 1560, data da sua +morte, «70 edições» sahidas +da sua officina, sem contar +as leis avulsas, impressas, em geral, numa folha apenas<sup><a href="#35">[35]</a></sup>. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[45]</span> +Quem poderá dizer quantas mais obras Germão +Galharde +terá executado, de que o seculo ultimo e o acual +não +lograram já ter +conhecimento?―Interrogação é esta que +terá de ficar sem resposta. Sabe-se apenas que da sua +officina começaram a apparecer edições +datadas de 1519, +e que um lapso de revisão, importante, levou alguns +bibliophilos +a retro-fixar o começo da operosa actividade do +celebre impressor no ultimo anno da primeira década do +seculo que o viu trabalhar; no de 1509.<br /> + +<br /> + +Foi o caso que o <em>Missal</em> da igreja de +Evora, de que se +guarda um bom exemplar na Bibliotheca Nacional, apresenta +como data de impressão este predito anno. Notou-se +o facto, e houve quem, não lhe occorrendo de quantos +lapsos anda tecida a historia da typographia, em geral, +tirasse delle irreflectido motivo para declarar Galharde estabelecido +desde aquelle supposto anno. O academico Silva +Tullio, que tanto no caso estava de desilludir os menos +avisados, constituiu-se exactamente o paladino d'elles, +sustentando contra Tito de Noronha a hypothetica possibilidade +de ter o <em>Missal</em> sahido das officinas +de Galharde +no anno impugnado.<br /> + +<br /> + +Rebateu Tito, a nosso ver humilde com raciocinios de +pêso, as razões que Tullio bem escusára +de ter produzido, +visto como, se a verdade historica bem pouco poderia +ganhar com semelhante improvavel accrescimo á actividade +officinal do impressor francês, assás mal parados +ficaram, +em troca, os créditos do prestante conservador, insistindo +em sustentar a méra presumpção que +tudo se conjurava +para invalidar<sup><a href="#36">[36]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +Tito, tendo feito notar o isolamento em que a data de +<span class="pagenum"><a name="p46">[46]</a></span> +1509, attribuida áquelle livro, ficava das obras por +Galharde +impressas em 1520, e quão pouco provavel era que +entre um e outro anno obra alguma, naquella <a href="#e5">typographia</a> +impressa, viesse quebrar o largo periodo de onze annos +de inactividade officinal, lembrou que o <em>Missal +Eborense</em> +poderá ter sido impresso em +<em>1529</em>, tendo faltado na +subscripção latina o vocabulo +«<em>vigesimo</em>»<sup><a href="#37">[37]</a></sup>. +Esta probabilidade +nada tem, com effeito, contra si que a invalide, e +um facto, porque assim o digâmos hodierno, a vem demonstrar +plausivel:<br /> + +<br /> + +Convidou o editor Fernandes Lopes a Innocencio Francisco +da Silva para dirigir a reimpressão do +<em>Elucidario</em>, +de Santa Rosa de Viterbo. Em 1865 sahiu, com effeito, a +lume esta obra dividida em dois tomos, como a 1.ª +edição, +imprimindo-se no 1.º uma «Advertencia +preliminar» +do illustre +bibliographo, a qual elle datou do «1.º de junho de +1865». Pois bem;... na capa e no frontispicio de cada +um dos dois tomos assignou-se a esta reimpressão, por +<span class="pagenum">[47]</span> +data, o anno de MCCCLXV! Este lapso, sendo tão patente, +salta para logo aos olhos de quem manuzear a obra<sup><a href="#38">[38]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +Continuemos agora a examinar quanto se nos offereça, +do pouco aproveitavel que nos tem sido possivel ajuntar, +que se relacione com a vida deste grande trabalhador typographo, +que tanto illustrou a sua arte, e tantos testemunhos +nos deixou, apesar das muito mais que certas lacunas +da lista das suas impressões, da +perfeição com que +sustentou os créditos da sua officina.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>XII</h3> + +<br /> + +Dos antecedentes do operoso impressor nada se conhece. +Que terra de França lhe fôsse a terra natal; +quando +tenha vindo para Lisbôa, e se para esta cidade veiu, acaso, +contratado como «<em>obreiro de +imprimidor</em>» de algum +de seus tres antecessores, Valentim de Moravia, João Pedro +de Cremona ou Hermann de Kempis, que entre nós +ficou «Armão de Campos», hypotheses que +nos não parecem +descabidas, outras tantas interrogações +são que teem +de ficar sem resposta.<br /> + +<br /> + +Por igual, destinadas estão ao mesmo resultado as que +se referem ao modo como o activo «imprimidor» +constituiu +familia. Germão Galharde casou aqui, e tarde, ou veiu +já casado para Lisbôa, o que não +parece? Sua mulher era +estrangeira, ou nascera em Portugal? Que o velho typographo +<span class="pagenum">[48]</span> +deixou um filho, por ventura continuador da sua +prole, eis o de que não resta dúvida. E que +falleceu deixando-o +ainda menor, tambem não é menos certo. O livro +que estamos examinando no-lo confirmará.<br /> + +<br /> + +Suppondo que nascera em 1490, por exemplo, Germão +Galharde poderia contar vinte e tres annos, quando, ao +que Tito de Noronha conjectura, veiu a fallecer Valentim +Fernandes<sup><a href="#39">[39]</a></sup>. +E se tal data estivesse certa pouco teriam +sobrevivido ao Patriarcha da Imprensa em Portugal os +seus consocios João Pedro de Cremona e +«Armão de +Campos, bombardeiro de el-rei», successivamente +desapparecidos, +em 1514, o primeiro, em 1518 o segundo.<br /> + +<br /> + +Valentim Fernandes, porém, segundo adiante vai ver-se, +ainda n'este último anno trabalhava, e se este, afinal, +tem de ser considerado o último da sua vida, bem +poderá +ter-se dado que Germão Galharde, obreiro―quem sabe?―de +qualquer d'estes seus tres antecessores, se habilitasse +com o material do celebre impressor da viuva de D. +João II, para começar a sua +laboração de conta propria, +logo no anno seguinte ao do desapparecimento d'este. +Em 1519, com effeito, parece ter-se Germão Galharde +estreiado +com a primeira edição da +<em>Arismetyca</em>, de Gaspar +Nicolas,<sup><a href="#40">[40]</a></sup> +levando desde então a vida cheia de laboriosa +<span class="pagenum">[49]</span> +occupação até os provaveis setenta +annos, se exceptuarmos +os dois que passou em Coimbra, em Lisboa, e, porventura, +na mesma casa.<br /> + +<br /> + +Aonde era ella situada?<br /> + +<br /> + +Vêr-se-ha n'este estudo se é possivel responder, +por +presumpções, a tal pergunta.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>XIII</h3> + +<br /> + +Chamou-se Anna Picaya a mulher do operoso impressor, +e se não foi portuguesa, que a não deixa parecer +compatriota nossa o appelido, arriscado será +attribuir-se-lhe +esta ou aquella nacionalidade. Confessemos, emtanto, +que se um desengano d'esta ordem pudesse admittir-se +<em>por palpite</em>, inclinados temos sempre +estado a que Anna +Picaya haja sido biscainha.<br /> + +<br /> + +Casou Germão Galharde moço ainda? Esperou, pelo +contrario, a idade da experiencia, para dar-se ao matrimonio? +Não temos, como já ficou observado, modo de +responder desenganadamente a taes perguntas. Tudo que +pudémos conjecturar, é que o filho que deixou +menor +terá vindo ao mundo, adiantado já seu pae em +annos, se +muito não erra a conta que lhe démos, ao vir +busca-lo a +Morte. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[50]</span> +Esta circumstancia, comtudo, não se oppõe a que +já +houvesse outros filhos, e até poderia parecer que os houve, +com effeito, se fôsse possivel interpretar um tanto +latitudinariamente +certas expressões de um documento que +não tarda a vir transcripto a este estudo.<br /> + +<br /> + +No emtanto, e posto que a typographia da <em>Viuva de +Germão Galharde</em> se sustentasse ainda +durante alguns annos, +depois do fallecimento do seu celebre fundador, o +seu material veiu a passar a novo proprietario, e nada +nos indica terem-se filhos maiores, se os havia, ou ter-se +o menor que ficou ao tempo do obito paterno, occupado, +homem feito, na arte, que o progenitor tanto illustrou.<br /> + +<br /> + +Este appelido, a partir d'então, mergulha no esquecimento, +pelo menos aqui, em Lisbôa; e apenas a meio do +seculo XVII o nosso illustre polygrapho D. Francisco Manoel +se lembrára, escrevendo ao seu amigo Azevedo, da +lenda dos <em>Galhardos</em> da Serra da +Estrella, que aliás nenhuma +relação tem com os de que aqui tratamos, para +comparação da brevidade com que fizera um seu +livrinho. +Esta carta, porém, inédita ficára, com +a collecção a que +pertence, até que um distincto cultor da memoria de +tão +infeliz quão abalisado epistolographo a trouxe a lume em +nossos dias<sup><a href="#41">[41]</a></sup>. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[51]</span> +Assim continúa o esquecimento, sem +interrupção, por +esses tempos fóra. A meiados porém do +XVII.º +seculo apparece-nos, +de repente, um typographo «Galhardo». Diplomava-se +com o titulo de «<em>Impressor do sr. Cardeal +Patriarcha</em>»; chamou-se Antonio Rodrigues +Galhardo, e +teve a sua casa, com capella, horta e mais officinas, no +Pateo a que a sua familia dava o nome;―o <em>Pateo dos +Galhardos</em>, a Santa Izabel<sup><a href="#42">[42]</a></sup>. +Muito depois, (1837) +filhos +seus, ligados sob a firma «<em>Galhardo +& Irmãos</em>», imprimem +na rua da Procissão, n.º 45, entre outros livros, a +«<em>Chronica de El-Rei D. Sebastião, +por Fr. Bernardo +da Cruz, publicada por A. Herculano e o Dr. A. C. +Payva.</em>»<br /> + +<br /> + +Antonio Rodrigues Galhardo é descendente do +«imprimidor» +francês Germão Galharde? Quem, já +agora, poderá +affirma-lo, ou quem estará habilitado para nega-lo?<br /> + +<br /> + +Emtanto, a coincidencia é para notar, e para notar fica +sendo, tambem, que esta familia Galhardo veiu a apparentar-se +com Alexandre Herculano, pelo casamento de um +<span class="pagenum">[52]</span> +amigo de juventude do Grande Escriptor, e depois seu +camarada na emigração, o fallecido general da +arma de +artilharia, que foi, quando coronel, director da Escola do +Exercito, Joaquim Antonio Rodrigues Galhardo, com a +irmã do Auctor da <span class="smallcaps">Historia +de +Portugal</span>.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>XIV</h3> + +<br /> + +Quando Germão Galharde falleceu, andava-se imprimindo +na sua officina a <em>quarta</em> +edição do «<em>Reportorio +dos +Tempos em linguajem portugues</em>».<br /> + +<br /> + +Este Repertorio, composto pelo saragoçano André +de +Ly, fôra vertido em linguagem, com +addições, por Valentim +Fernandes, que dedicou a traducção a Antonio +Carneiro, +secretario do rei D. Manoel.<br /> + +<br /> + +Ora acontece―e n'este passo se patenteia quão arriscadas +são affirmativas peremptorias em especies tão +dubitativas―; +acontece, íamos dizendo, que em <em>Documentos +para a Historia da Typographia Portugueza</em>, impressos +em 1888, affirmou o tão sabedor Deslandes +«não ser conhecido +exemplar algum da impressão d'este +<em>Repertorio</em> +feita por Valentim Fernandes, comquanto se deva ter por +certo que a houvesse dado á estampa em sua vida.»<br /> + +<br /> + +―Que veiu a dar-se então?―Veiu a dar-se facto igual +ao succedido com o exemplar do <em>Testamento da Infanta +D. Maria</em>, impresso em 1610, e que o catalogo da +Livraria +Fernando Palha, ao descrever o exemplar que aquelle +bibliophilo possuía declara «<em>seul +exemplaire connu d'une +pièce non citée par les +bibliographes</em>».<br /> + +<br /> + +Succede, porém, que em 1907, percorrendo nós um +Inventario +de Codices adquiridos pela Bibliotheca Nacional, +publicado no <em>Boletim das Bibliothecas e +Archivos</em>, N.º 1―3.º +<span class="pagenum">[53]</span> +anno, 1904, depara-se-nos a +menção de +certo Codice +da Coll. Vimieiro, em cujo miôlo viémos a +encontrar um +exemplar do predito <em>Testamento</em>, da +mesma edição de 1610!<br /> + +<br /> + +Tal achado annulou, por conseguinte, o privilegio de +«<em>seul exemplaire +connu...</em>», attribuido pelo catalogo +sobredito +ao exemplar que descreveu!<br /> + +<br /> + +Ao diligente bio-bibliophilo Deslandes outro tanto acontecera. +Não lhe fôra dado conhecer a bibliotheca do +curioso +architecto José Maria Nepomuceno, e eis que, fallecido +este, divulga-se em 1897 o catalogo da famosa livraria de +que era possuidor intelligente. Ora, sob o N.º 683, ahi +appareceu minuciosamente descripto um exemplar do +<em>Reportorio +dos tempos</em>, que «posto não traga +indicado o logar +da impressão, nem o anno, se póde quasi affirmar +ter +sido composto em Lisbôa, e no anno de 1518, por isso +que as taboas (astronomicas) indicam começarem «no +presente +anno»,―o predito.<br /> + +<br /> + +E já agora, observaremos que, sendo este +<em>Reportorio</em>, +como no rosto indica, «trelladado e empremido por Val[~e]tym +fernãdes alemam», está n'estes termos +implicito o +testemunho formal de que o celebre impressor, contra o +que julga Tito de Noronha, <em>in</em> +<span class="smallcaps">Ordenações +do +Reino</span>, ainda +cinco annos após o de 1513 era vivo, e exercia a arte.<br /> + +<br /> + +<br /> + +Por voltar a Germão Galharde, sabe-se que por A. de +17 de março de 1539, lhe foi outorgado privilegio de +déz +annos, para imprimir de novo o +<em>Reportorio</em> de que se trata. +Deslandes, porém, affirma, e d'esta vez ainda não +se +apresentou facto que o contradiga, não conhecer, nem lhe +constar que outrem conhecesse, exemplar algum da impressão +d'este livro, tirada durante os déz annos do mencionado +privilegio. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[54]</span> +Declara, comtudo, em contraposição, +<em>ter visto</em> exemplares +sahidos da officina de Galharde em 1521 e 1528; +edições estas que não andam notadas +por nossos bibliographos.<br /> + +<br /> + +Por fórma que, havendo já +<em>tres</em> edições +conhecidas do +<em>Reportorio dos tempos</em>, bem parece +que sêja, por ora, +capitulada <em>quarta</em>, como o +fizémos, a de que se está tratando. +Isto, em obsequio ás que se dizem datadas de 1519, +bem como á de 1557, citada por Barbosa, das quaes, +até +agora, não se achou porque se confirme a existencia.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>XV</h3> + +<br /> + +Foi Anna Picaya que terminou a impressão do +<em>Reportorio</em>, +objecto do anterior capitulo.<br /> + +<br /> + +Na Nota<sup><a href="#43">[43]</a></sup> +<em>infra</em> +trasladâmos a competente subscripção.<br /> + +<br /> + +A seguir a este livro, vem em 1561, editado pelo opulento +João de Borgonha, o tão fallado elogio da +Sigéa, de +Mestre André de Resende; em 1563, nova +edição do precioso +<em>Reportorio</em>, especie de +<em>Diario Ecclesiastico</em>, dos +Oratorianos, sem o qual nossos avós do XVIII.º +seculo +não podiam passar. Finalmente, em 1564, dá ainda +a Viuva +<span class="pagenum">[55]</span> +de Germão Galharde o <em>Exemplo pera bien +bivir</em>, de Fernão +Peres de Gusmão, obra acabada a 21 de março do +predito anno<sup><a href="#44">[44]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +D'esta data em diante, até 5 de setembro de 1898, nada +mais se soube que se relacionasse com a officina typographica +da viuva Galharde. Naquelle dia, porém, publica o +dr. Sousa Viterbo, como notámos no fêcho do Cap. +V. e +correspondente nota, destes <em>Estudos</em>, +resumido e commentado, +o depoimento, por denúncia feita na +Inquisição em 5 +de novembro de 1571, do flamengo Pero Alberto, obreiro +de Marcos Borges.<sup><a href="#45">[45]</a></sup> +Resulta de tal depoimento o ficarem +desde então confirmados dois factos; mais proximo um, +mais remoto o outro. Pelo primeiro, corrobora-se a existencia +da typographia da viuva Galharde em 1563. Este +não é essencial. Que a celebre typographia +funccionava +ainda 1564 já nós sabiamos, e o leitor comnosco. +O que +tem valôr é o outro facto; o que revela a +transferencia da +imprensa de Marcos Borges de +«<em>detrás de nossa Senhora +da Palma</em>» para o Arco do Carangueijo. A +indicação +<span class="pagenum">[56]</span> +considerámo-la preciosa, porque nos indicava quem +fôra +o successor da viuva Galharde; isto é, porque vinha +concorrer, +ainda que de modo indirecto, para nos fortalecer +na presumpção de que era no Arco do Carangueijo, +com +effeito, onde vamos dentro em pouco encontrar Anna Picaya, +com seu filho menor, que Germão Galharde fundára +a officina por elle mantida durante 41 annos.<br /> + +<br /> + +<br /> + +Que terá, porém, succedido entre 21 de +março de 1564, +data do ultimo livro, conhecido, impresso pela «Viuva +Galharde», e 1571, anno em que Marcos Borges nos apparece +estabelecido, segundo todas as probabilidades, na +casa que ella occupara?<br /> + +<br /> + +Tudo que é possivel responder, resume-se no seguinte:<br /> + +<br /> + +Qualquer que haja sido o motivo, o velho estabelecimento +typographico pouco mais terá produzido, depois de +1564, sob a gerencia da viuva de Germão Galharde, e se +mais alguma obra veiu a lume, após a de Fernão +Peres de +Gusmão, perdeu-se, como quasi de certeza outras se perderam, +impressas pelo fundador da casa.<sup><a href="#46">[46]</a></sup><br /> + +<br /> + +Certo é que a meiados de 1566, e contra o que estabeleceu +Tito de Noronha, já Antonio Gonçalves, o nomeado +<span class="pagenum"><a name="p57">[57]</a></span> +impressor da 1.ª ed. dos +<span class="smallcaps">Lusiadas</span>, trabalhava +por sua +conta, muito distante do Arco do Carangueijo, com material +que pertencêra á officina de Galharde.<br /> + +<br /> + +Com effeito, do exame comparativo de algumas das +obras impressas em uma e outra das duas officinas resulta +absoluta certeza que Antonio Gonçalves utilisou +frontispicios +e letras iniciaes de phantasia que pertenceram áquelle. +Já Tito de Noronha deixára notado o facto, em uma +de +suas tão copiosas quanto instructivas monographias.<br /> + +<br /> + +Por nossa parte, temos por bem possivel <a href="#e7">que</a> +o +4.º +de +dez folhas n. n., onde se acha impresso o <em>Auto das +Regateiras</em>, +de Antonio Ribeiro, o <em>Chiado</em>, e que +não tendo +segundo Innocencio narra, logar, data, nem nome de impressor, +apresenta, comtudo, na portada letras que parece +quererem designar <em>Germão +Galharde</em>, haja saído da officina +de Antonio Gonçalves, applicando-lhe este alguma +gravura de frontispicio que haja feito parte do material +daquelle impressor.<br /> + +<br /> + +Não temos, nesta occasião, o vagar preciso para +examinar +este folheto, que se acha na Bibliotheca Nacional, e +pertenceu á livraria de D. Francisco de Mello Manoel da +Camara. Acaso do exame resultaria alguma cousa de mais +positivo. Seja, porém, como fôr, uma prova de +decidir é +a propria composição do frontispicio dos +<span class="smallcaps">Lusiadas</span>, impressos +por Antonio Gonçalves em 1572. As peças que o +compõem +pertenceram ao material de Germão Galharde. Esta +asserção comprova-se, pondo em conspecto o +frontispicio +da edição +<em>princeps</em> dos +<span class="smallcaps">Lusiadas</span> (a do +pelicano com o +collo +para a esquerda do leitor, bem entendido), e a do +<em>Summario</em>, +de Christovão Rodrigues de Oliveira, sahido a lume +procedente da officina de Galharde, depois de 1551, com +toda a certeza, e talvez em 1554. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[58]</span> +Já em 1570 Antonio Gonçalves +aproveitára este mesmo +frontispicio no <em>Reportorio dos +tempos</em>, que lhe coube imprimir +tambem, edição que a Innocencio parece ter +escapado, +mas de que ha um exemplar nos Reservados da +Bibliotheca Nacional. Este sempre lembrado impressor +terá começado por ser +«imprimidor-obreiro» do velho typographo +francês, sendo bem possivel que se haja conservado +na casa, após a morte de seu mestre. Resolvida Anna +Picaya a fechar a officina, ou, porventura, fallecida, terá +o seu official, disposto a estabelecer-se, uma vez que a +casa acabava, comprado os aprestos desta. Tudo parece +conciliar-se para acreditar tal supposição.<br /> + +<br /> + +Mais difficil é o precisar desde quando Marcos Borges +terá passado a occupar as casas da viuva, e o motivo que +lhe facilitaria o estabelecer-se nellas. Não parece, com +effeito, que as duas operações―venda do material +a um, +e cedencia da casa a outro, se cedencia foi, hajam +resúltado +da mesma causa;―o desfazer da velha officina. +Lembremo-nos que em 1567, isto é, um anno após o +estabelecer-se +Antonio Gonçalves, como provaremos, ainda +Marcos Borges imprimia a <em>Chronica de Jorge +Castrioto</em> +no mesmo sitio onde começára a sua +laboração; +«<em>atrás +de nossa senhora da Palma</em>». Presumivel +será, pois, que +Anna Picaya se haja conservado, com seu filho, nas suas +casas, após ter acabado com a officina, vindo, porventura, +a fallecer depois de 1568, adquirindo―quem sabe?―Marcos +Borges a propriedade, e estabelecendo-se nella.<br /> + +<br /> + +Como quere que sêja, vamos ver agora como se chegou +a presumir que a typographia de que temos tratado +haja sido no Arco do Caranguejo. +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[59]</span> +<h3>XVI</h3> + +<br /> + +Fallecido Germão Galharde, procedeu-se a inventario, +sendo Anna Picaya nomeada «titor» de seu filho +Antonio. +Concorriam mais filhos, já maiores, á +herança? Eis o de +que não ha certeza. Das quatro obras unicas de que nos +restam exemplares, sahidas da officina do extincto, após +a morte deste, tres dizem-se impressas «<em>em +casa da viuva +molher que foi de Germão +Galharde</em>.» No titulo e +subscripção +da quarta, porém, segunda na ordem chronologica +da impressão, lê-se:<br /> + +<br /> + +«<em>Lvdovicae Sigaeae</em> | <em>Tvmvlvs</em> +| ¶ +<em>L. Andrea Resendio</em> | +<em>Auctore</em> | ¶ +<em>Apvd haeredes +Germani</em> | <em>Galiardi. +An.</em> | +<em>MDLXI</em> | ¶ +<em>Olyssippone</em> | ¶ +<em>Venalis apud Iohannem de +Borgo</em> | <em>Regium Bibliopolam, in vico +nouo</em>.»<sup><a href="#47">[47]</a></sup><br /> + +<br /> + +Ora, esta excepção, +«<em>haeredes</em>», que +aliás não resolve +a dúvida, por isso que realisado o casamento de Galharde +«á moda do reino», co-herdeira com o +filho menor era +<span class="pagenum">[60]</span> +a viuva, meieira na casa, parece-nos ter sido muito de +proposito empregada naquelle impresso por motivo que +a occasião tornava perfeitamente plausivel. Corria por +esse tempo o inventario seus termos, e habilitavam se á +herança do chefe da familia a sua viuva e o filho menor. A +expressão +<em>haeredes</em>, posta na +subscripção do +<em>Elogio</em>, de +Mestre André de Resende, em 1561, era, portanto, de +todo o ponto bem cabida; exprimia a situação de +ambos, +como inventariantes e como industriaes. Por isso se empregou.<br /> + +<br /> + +Quando os saccadores, em desempenho do seu cargo, +<em>convidaram</em> a viuva impressora a +entregar-lhes a importancia +do escote que lhe coubera na +<em>voluntaria</em> +imposição, +(entre 15 de fevereiro e 31 de outubro de 1566) pagou +ella, sem repugnar, os 455 rs. em que foi fintada. Especie +de contribuição extraordinaria de maneio, a que +só escapavam +os privilegiados;―familiares do Santo Officio, +servidores de S. A. e quem quer que tivesse armas e cavallo, +e «jogasse lança de dezoito palmos para +cima»<sup><a href="#48">[48]</a></sup>,―era +<span class="pagenum">[61]</span> +para todos os mais a commum sorte; não havia fugir-lhe.<br /> + +<br /> + +Mas, fechara-se, emfim, o inventario, julgara-se a partilha, +e liquidou-se o que vinha a tocar ao menor; a sua +legitima. Importava em «cincoenta e nove mil, quinhentos +e vinte e dois réis». Havia mais +orphãos em semelhantes +circumstancias. A provisão de S. A. beneficiava-os, para +os effeitos da <em>voluntaria</em> derrama, +com o desconto do +«terço» do valor total apurado, para que +sobre o remanescente +recahisse o talho. Anna Picaya, tutora de seu filho, +teria de pagar por elle «duzentos e oitenta +réis». Reclamou. +Agora, não era a obrigação do +estabelecimento; era +a legitima do orphão, despiedada,―provaria +até―illegalmente +desfalcada. O menor Antonio Galharde era filho de +um homem que durante mais de quarenta annos tinha +prestado assignalados serviços ás letras do +país que adoptara +por patria. Os seus prélos não tinham gemido +só em +serviço de quantos praticavam a nobre arte de escrever, +senão que tinham tambem trabalhado para a corôa. +Antonio +Galharde era filho de um «official impressor da casa +real»<sup><a href="#49">[49]</a></sup>; +a isenção de que seu pae, se vivo fôra, +gosaria, porque +não mandava S. A. que aproveitasse ao filho menor?<br /> + +<br /> + +Que S. A., pois, «inclinasse por um pouco a +magestade.» +Á triste viuva, sobrecarregada com os encargos da tutella +e ao filho orphão devia-se-lhes +contemplação. Ambos +receberiam mercê no favoravel despacho com que S. A. +se servisse attende-los.<br /> + +<br /> + +E se isto assim se passou, pode affirmar-se que a +«titor» +do menor Antonio Galharde venceu! No traslado da +<span class="pagenum">[62]</span> +certidão do orphanologico que baixara aos encarregados +da cobrança, e foi lançado a fl.<sup>s</sup> +685 e segg., +do <em>Livro do +Lançamento</em>, riscou-se a +designação do escote, escripta +na margem esquerda, averbando-se na direita a significativa +cota, constante do proprio documento remissor que segue:<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div style="text-align: center;">«ORFFAÃOS»<br /> + +</div> + +<br /> + +«T<sup>o</sup> Dos orfãos que +Johão Do +sal +escrivão Delles +Mandou a esta cassa do lançam.<sup>to</sup> per +sua sua +certidão»<br /> + +<div class="dots"><br /> + +</div> + +<div class="dots"><br /> + +</div> + +<br /> + +«It Ant.<sup>o</sup> filho de Jermão +Galharde +Imprimidor tem +de +ligitima cinquoèta e noue mill e quinhètos e +vinte e dous rs +abatido o terco paguara dozètos e oytenta rs e sua titor<sup><a href="#50">[50]</a></sup> +Ana Picaya sua may m<sup>or</sup> ao arquo do +cangreijo»<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[63]</span> +A margem direita do livro está escripto: «abatido +p.<sup>la</sup> provisão de S. A. não +vay a Rol» +<br /> + +<br /> + +<br /> + +Parece, pois, poder concluir-se do teor desta certidão +que a casa que Germão Galharde possuia, e onde residia +e tinha a sua officina typographica, era <em>ao Arco do +Carangueijo</em>, +isto é, no extremo N. da rua deste nome, para +além da actual rua das Pedras Negras, partindo em linha +obliqua +do começo da travessa do Almada. O chanfro existente +no cunhal posterior do predio que faz face ao Largo da Magdalena, +do lado de L., e que todos podem notar, é quanto +resta do Arco de Dona Thereza, de onde ascendia para o +N. a «Rua do Arco do Carangueijo.»<br /> + +<br /> + +Passaremos agora a tratar de Antonio Gonçalves, e +findaremos.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>XVII</h3> + +<br /> + +Affirmámos no cap. XV.º d'estes +<em>Estudos</em> que a meiados +de 1566 já Antonio Gonçalves, o nomeado impressor +da 1.ª ed. dos <span class="smallcaps">Lusiadas</span>, +trabalhava por sua conta, muito +distante do Arco do Caranguejo.<br /> + +<br /> + +Vamos procurar dizer onde era.<br /> + +<br /> + +Preliminarmente, porém, preciso se torna lembrar que +na segunda metade do seculo XVI, correspondente ao +anno supra mencionado, Lisbôa, sob o ponto de vista da +sua divisão ecclesiastica, a unica por então +estabelecida, +achava-se, de um modo geral, dividida em tres grandes +zonas; a oriental, a central e a septentrional. Confrangidas +em torno dos pendores da primitiva cidade, e descendo +para a vertente sul que lhes corresponde, todas as parochias +de limitado territorio, successivamente fundadas +<span class="pagenum">[64]</span> +durante os quatro seculos anteriores. Na extrema esquerda, +imminente ao Tejo, a de Santo Estevão, excepcionando-se +do acanhado territorio de todas as mais, pela +tira enorme que a alongava até Enxobregas<sup><a href="#51">[51]</a></sup>. Ao centro, +S. Nicolau e Santas Justa e Rufina, soffregas de territorio, +dominando tudo, abrangendo tudo, reservando apenas +cada uma d'ellas para si as eminencias correspondentes á +orientação das respectivas sédes. A +primeira, alastrando-se +por boa parte do valle central da cidade, e trepando +para o «Bairro do Almirante», o Carmo e +circumvisinhanças, +bracejava, a oeste, para os ferragiaes atinentes ás +muralhas, dando a mão ás suas duas convisinhas +dos Martyres +e do Loreto. A freguezia de Santa Justa, mais extensa +ainda do que a de S. Nicolau, dominando, ao septemtrião, +o resto da chãa que aquella lhe deixava, investia +pelo povoado em fóra até á Areia +Gorda, por um lado, +até Arroios, pelo outro, galgava o monte de Sant'Anna, +laborava as cumiadas que a aproximavam da Alcaçova, +mal permittindo, suzerana desdenhosa, como a sua possante +companheira, que algumas pequenas parochias circumstantes +affirmassem a desvaliosa existencia.<br /> + +<br /> + +Eis porque se lê no «Livro do +Lançamento» que temos +manuseado, a fls. 539, v.<sup>o</sup>, o seguinte titulo: +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[65]</span> +«<em>Começa o quatorzeno Rol Da +freguezia De Santa +Justa: Na Rua das Casas de Manoel a.<sup>o</sup></em> +(Affonso) +<em>até +ao postiguo De Santo André</em>».<br /> + +<br /> + +Estamos, pois, junto ao, de nossos dias, chamado Arco +de Santo André, que acaba de ser derribado, e que a +Divisão +Parochial do Patriarcha D. Fernando de Sousa e +Silva, de 1780, mandou considerar, por dentro e por fóra, +no territorio da freguezia daquella invocação +constituindo +em 1566 extremas de N. E. da parochia de Santa Justa.<br /> + +<br /> + +Por escusado temos affirmar que nas listas da +viação +parochial, estampadas no Summario de Christovão Rodrigues +d'Oliveira, organisadas em 1551, ou pouco depois,<sup><a href="#52">[52]</a></sup> +não se encontra semelhante denominação +de rua, se tal +modo de indicar uma via pública pode ser classificado +«denominação». É, +com effeito, evidente que o redactor +d'esta especie de matriz, conteúda no «Livro do +Lançamento» +em exame, sabia bem quem era o individuo a quem +<span class="pagenum"><a name="p66">[66]</a></span> +chamou «Manoel Affonso», seu contemporaneo ou +não. +Por nossa parte estamos <a href="#e8">persuadidos</a> +que +Bastião de Lucena +grandemente se equivocou, atribuindo o baptismal +«Manoel» a um individuo que se chamou +Estevão, pois +que esse é que teve casas na rua de que se trata, tendo +ambos o mesmo sobrenome. Manoel Affonso, que foi um +dos sacadores deste «Quatorzeno Rol», era +proprietario, +sim, mas no Beco do Poço do Ceitil. Tinha ahi uma +<em>atafana</em><sup><a href="#53">[53]</a></sup> +e n'ella residia. Da coincidencia de sobrenomes +terá, porventura, nascido o equivoco.<br /> + +<br /> + +Como quer que seja, o designar semelhante +indicação +a rua onde deviam começar as operações +da cobrança, +apresenta-se, tanto para o lançador das fintas como para os +sacadores d'ellas, facto natural, correntio. A via pública +de que se tracta poderia ter outra qualquer +denominação, +que para uns e outros esta que lhe foi attribuida bastou.<br /> + +<br /> + +E bastou tambem para nós.<br /> + +<br /> + +De facto, se esta cobrança devia começar n'uma +rua +que ia até o postigo de Santo André, que importa +que +lançador e sacadores lhe chamassem, ou verdadeira ou +equivocadamente, «Rua das casas de Manoel Affonso», +se dúvida não pode haver que tal via +pública outra não é, +senão o troço mais ou menos modificado, no +material e +no aspecto topographico, da actual Costa do Castello que +vae do baluarte de S. Lourenço ao agora já +derribado +Arco de Santo André?<br /> + +<br /> + +Aquelle baluarte, entreposto nos lanços do norte da +<em>cêrca velha</em> da primitiva +Lisboa, foi aproveitado pelos +constructores da cêrca de D. Fernando, para lhe apoiarem +no paramento o arco do postigo que tomou aquella +<span class="pagenum">[67]</span> +denominação, tambem conhecido por +«Postigo da Rosa», +depois da fundação do mosteiro da rua das +Farinhas.<sup><a href="#54">[54]</a></sup> +Qualquer de nossos benevolos leitores pode ver ainda agora +os vestigios das nervuras do arco embebidas no vetusto +panno do baluarte, assim como, do lado opposto, os +restos desfigurados do cubello onde o mesmo arco ia assentar. +Tudo isto foi arrasado no ultimo anno do seculo +XVIII.<br /> + +<br /> + +Do postigo de S. Lourenço, a +<em>cêrca nova</em> descia a +escarpa +que vinha confundir-se no labiryntho de vielas que +demoravam, como ainda agora, entre o vetusto edificio do +chamado Colleginho e a Mouraria. Era-lhes canal de +communicação +com a «rua de Manoel Affonso» a «Rua do +Poço do Ceitil», entalada entre a muralha nova e +os muros +da cêrca da Casa de «Santo +Antão», a que depois se +chamou «o Velho» para o distinguir da nova casa dos +jesuitas, +actual Hospital de S. José. Esta «Rua do +Poço do +<span class="pagenum">[68]</span> +Ceitil», desde muito desapparecida, mas de que a carta +topographica da Commissão Geodesica, dada a lume em +1875, ainda nos quere parecer que marca os vestigios, +constituiu a cabeceira do «Trezeno rol» da +freguezia de +Santa Justa.<br /> + +<br /> + +Conclue-se daqui pois que os arroladores continuavam +a adoptar a marcha ascencional, como em nosso anterior +estudo vimos, por isso que, explorada a zona de que +aquella rua era o começo, passaram a encabeçar o +14.º +Rol pela via publica immediata.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>XVIII</h3> + +<br /> + +Além destas razões de congruencia, confirmando +ser, +com effeito, a «Rua das casas de Manoel Affonso» o +troço +da atual Costa do Castello que ficou indicado, outros +testemunhos positivos existem que nos asseguram a identidade +da rua do seculo XVI com a via publica do seculo XX.<br /> + +<br /> + +Não podemos dispensar-nos de os apresentar, por muito +que tal resolução possa parecer extranha ao nosso +objecto. Ver-se-ha que o não é.<br /> + +<br /> + +Por Alv. datado de Evora, a 8 de junho de 1573, foi +commettida ao Licenceado Luiz Lourenço a +organisação +do tombo das propriedades foreiras á Camara desta cidade. +De tal diligencia se conservam os respectivos Livros +no Archivo Municipal. Examinando o segundo destes +Livros, que tem seu começo na «Rua do Arco do +Rosio, +da banda da praça da palha», na freguezia de Santa +Justa, +averigua-se que de 1547 a 1565 havia a Cidade effectuado +dez aforamentos na «rua que vai da porta de Santo +<span class="pagenum">[69]</span> +André para o postigo de Sam Lourenço, que por +outro +nome se chama Villa Quente»<sup><a href="#55">[55]</a></sup>.<br /> + +<br /> + +Confrontado este titulo com o que Bastião de Lucena +escreveu no Livro que estamos estudando, acha-se que a +situação da via pública do Tombo da +Cidade é de todo +o ponto a mesma que se lê naquelle Livro, salvo a +orientação, +que diametralmente diverge, visto que o juiz do +Tombo partiu do postigo de Santo André para o de S. +Lourenço, e Bastião de Lucena fez o contrario, +para o +que, segundo acabamos de ver, teve uma excellente razão +de ordem.<br /> + +<br /> + +Ora, que tanto uma como outra das duas +descripções se +accomodam sem obice algum á topographia actual, +não +resta dúvida, pois que o caminho de nossos dias +municipalmente +chamado Costa do Castello, começando na sua +extrema oriental no fim da rua do Milagre de Santo Antonio, +passa, ao inflectir para o N., rente ao panno de +muralha do baluarte de S. Lourenço, e continúa +até terminar +junto do agora derruido Arco de Santo André. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[70]</span> +Se o leitor paciente o seguir comnosco, encontrará, +á +sua direita, antes da rampa que termina a Costa e atinente +a um lanço de muralha que sustenta um pequeno quintal, +uma porta, tendo o n.º de policia 92 A, dando +accésso +a extenso escadorio, que torneja, lá no alto, á +direita, +e segue em varios e apertados lanços até +encontrar, á +esquerda, a famigerada <em>Porta do +Moniz</em>, aquella porta +do Castello, origem da lenda que Herculano pulverisou.<sup><a href="#56">[56]</a></sup> +No Tombo do Licenceado Luiz Lourenço, as escadas +alludidas são a «Rua que vai da rua direyta para o +Postigo +do Moniz». As casas que ladeavam a entrada de tal +«Rua» foram levantadas em chãos +pertencentes á Cidade.<br /> + +<br /> + +As da banda do Postigo de S. Lourenço, na frente do +muro do quintal acima alludido, e vinham a ser as +«derradeiras +casinhas quando querem voltar da dita rua pelo caminho +que vai ao Postigo do Moniz», possuia-as um casal, +Antonio Fernandes e sua mulher Barbara Gonçalves, +«parda». As da banda do Postigo de Santo +André pertenciam +a Estevão Affonso, porteiro. E eis porque desta +circumstancia +nos veiu a tentação de achar que +Bastião de +Lucena se equivocou, atribuindo a Manoel Affonso as +casas deste Estevão. Se o porteiro foi dos primeiros +edificadores +que teve este troço da Costa do Castello (1547), +é bem provavel que o seu nome servisse de +conhecença +para a <em>sua</em> rua, então +quando era este individuo o segundo +de quantos foreiros a Cidade teve n'aquelle sitio, e +aquelle o modo de distinguir as vias publicas lisbonenses +umas das outras.<br /> + +<br /> + +Alem dos emphiteutas da Camara acima mencionados, +<span class="pagenum">[71]</span> +outros havia que figuram em ambos os documentos que +temos citado. Assim, a Cidade tinha aforado ao dr. Affonso +Figueira, desembargador da Casa do Civel e Ouvidor +do crime, em dois annos diversos, 1555 e 1557, tres +chãos, sobre os quaes este magistrado levantara casas, e +um quarto que elle reservara para seu quintal, e que o era +ao tempo do Tombo que vamos seguindo. A loja de uma +das casas estava em 1566 ocupada pelo tecelão +«João +Francisquo», conservando-se senhorio, o magistrado sobredito. +Este ahi mesmo residiria, mas a toga excepcionou-o +da obrigação do escote, e por isso só +naquella qualidade +apparece no rol da derrama. Do mesmo modo aforara +a Cidade, em 1542 e 1547, dois outros chãos perto +dos antecedentes, a uma Guiomar Dias. Esta, precedendo +a competente licença, fez venda, em 1561, de uma das casas +que n'elles edificara a Ambrosio Luis, feitor da +imposição +dos vinhos.<br /> + +<br /> + +Ora, tanto o magistrado Affonso Figueira como o funccionario +fiscal apparecem em sua devida altura no Rol de +Bastião de Lucena, isto é, são +mencionados como proprietarios +das respectivas casas, indo do Postigo de Santo André +para o baluarte de S. Lourenço, sendo a concordancia +perfeita entre os dois documentos, por isso que umas das +casas do dr. Affonso Figueira são no Tombo da Cidade, +as primeiras, indo do Arco de Santo André, partindo pelo +N. E. com as de Ambrosio Luis e com outras de outro +aforamento, realisado por aquelle magistrado dois annos +depois.<sup><a href="#57">[57]</a></sup> +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[72]</span> +Absolutamente certos, pois, de que dizer «Rua das Casas +de Manoel Affonso até o Postigo de Santo +André», e +«Rua que vai da Porta de Santo André para o +Postigo de +Sam Lourenço» é referir-se a uma mesma +via pública, e +que tal referencia corresponde ao troço actual da Costa +do Castello, que vai do Baluarte de S. Lourenço +até o desembocar +da mesma Costa no alto da calçada de Santo +André, pedimos ao leitor benigno nos perdoe a longa e +porventura enfadonha digressão topographica, na +consideração +de ser necessaria a nosso empenho:―o precisar, +sem especie nenhuma de dúvida, onde foi que teve a sua +officina typographica o já agora tão nomeado +Antonio Gonçalves, +«imprimidor» da notavel +edição +<em>princeps</em> do poema +<span class="smallcaps">Os Lusiadas</span>, do +Grande Epico Luis +de Camões, das duas +que trazem a data de 1572, a que apresenta o +<em>Pelicano</em> +frontispicial com o collo voltado para a esquerda do leitor.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>XIX</h3> + +<br /> + +A 17 de setembro de 1566, Manoel Affonso, atafaneiro, +morador ao Poço do Ceitil e Jeronymo Gonçalves, +serralheiro, +<span class="pagenum">[73]</span> +morador na rua dos Cavalleiros, escolhidos para +<em>sacadores</em> do +«quatorzeno» rol da freguezia de Santa +Justa, receberam nos Paços do concelho desta «mui +nobre, +sempre leal cidade de Lisboa», onde se tratava de +dar execução ao Regimento da cobrança +do <em>voluntario</em> +imposto a que nos temos referido, as competentes copias +do predito Rol, e trataram de avial-as.<br /> + +<br /> + +Deviam começar, como vimos, da extrema superior da +«Rua do Poço do Ceitil,» que +desembocava, segundo dissemos, +proximo do Baluarte de S. Lourenço, pela parte +posterior do Postigo da <em>Cerca nova</em>, +sendo a primeira do +«trezeno» Rol.<br /> + +<br /> + +Percorrendo toda a rua até o Postigo de Santo +André, +voltavam os dois <em>sacadores</em> para a +calçada desta denominação, +internavam-se na Rua da Amendoeira, davam volta +á travessa desta rua, que lá vimos ainda hoje, e +sahindo +pela rua das Tendas, que parece não lográra ainda +um +qualquer nome, vinham á dos Cavalleiros, findando-lhes +a tarefa no «Beco de Thomé Correa»; um +beco sem +sahida, de nossos dias chamado <em>Beco do +Forno</em>, primeiro +á esquerda naquella rua, indo da Mouraria, e que tem +lá, +não sabemos porque bullas, advertencia de ser +«<em>logradouro +particular</em>»(!).<br /> + +<br /> + +Acompanhemos os honrados exactores na sua +perigrinação +pela rua que ía do «Baluarte de Sam +Lourenço ao Postigo +de Santo André». Despedir-mo-nos-hemos ahi +d'elles. +O que deste Postigo por diante haveriam de fazer não nos +interessa. Depois veremos, por simples curiosidade, qual foi +o importe da sua cobrança na area que lhes fôra +designada.<br /> + +<br /> + +Por agora, attentemos um momento na feição da +discutida +via publica lisbonense, como ella parece ter sido no +2.º semestre do anno de 1566. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[74]</span> +Devia apresentar, ao menos por partes, mais largura do +que hoje vemos ter, posto que não se avantajasse +grandemente, +neste particular, ás convisinhas. Muito mais desafogada +era ella, por certo, do que é hoje.<br /> + +<br /> + +Ao longo da sua margem direita, indo para Santo André, +e até alcançar-lhe o Postigo, 21 propriedades, se +a tal +classificação poderiam aspirar as modestas +casinhas que +se iam encostando á barbacã do Castello, tendo na +sua +frente uma larga perspectiva panoramica, de surprehendente +effeito. Da esquerda, a ondulada ribanceira, por +onde, ainda 35 annos antes, se espreguiçava a miseranda +Villa Quente, até ir topar com a cêrca do +Colleginho. +Lá quasi ao começar o forte declive que, tal qual +hoje, +terminava a rua, o postigo aberto na muralha por onde +se começava a subir para o do Moniz. Diante d'elle, +atravessada +no caminho, a cruz de pao, demarcatoria nos titulos +do Tombo municipal. Por ahi perto, talvez, sempre +da esquerda, algum pequeno grupo de casinhas, restos da +subvertida povoação. Após, os declives +sobre os quaes se +levantou, no seculo seguinte, o palacete que assenta no +espigão da calçada de Santo André.<br /> + +<br /> + +Isto, quanto á topographia local.<br /> + +<br /> + +Vejamos agora quanto respeita ás +construcções, e, porfim, +aos que as habitavam.<br /> + +<br /> + +As 21 casas da margem direita, que a rua contava pertenciam +a outros tantos proprietarios. Destes, 12 habitavam +nas proprias casas, ou sós, ou tendo inquilinos. De +todos os 21, o senhorio mais importante, era o clerigo +Francisco Dias. O seu predio―algumas barraquitas, +provavelmente―alojava +9 inquilinos, entre os quaes, 2 cegos. +De consideração, na ordem social, Joanne +Fernandes, +moço da camara da Infanta D. Isabel, tendo na loja +<span class="pagenum">[75]</span> +por inquilino um «sapateiro remendão». +Joanne Fernandes +morava nas proprias casas de que era dono, e foram-lhe +avaliadas em 30$000 réis. Pegado ao postigo de Santo +André, não esqueça o nosso conhecido +magistrado Affonso +Figueira, e confrontando com elle, o Ambrosio Luiz, que +superintendia na imposição dos vinhos. Algures, +ali perto, +um Joanes, cantor de el-rei, que nem por ser tal, se esquivou +ao escote. Fecham a lista três senhoras do appelido +Viegas; Filippa, Antonia e Anna.―Tres irmãas?―Que +sabemos nós? Os predios das duas primeiras, avaliados +em 50$000 réis cada um, obrigaram-nas a 350 réis +de contribuição. As casas de Anna Viegas,―coisa +parecida, +é mais que certo―com as barracas do Padre +Dias, foram computadas no dobro; em 100$000 réis, e +por isso teve de pagar 700 réis.<br /> + +<br /> + +O predio devia valer a somma em que foi avaliado. +Alem da senhoria, habitavam n'elle mais 6 inquilinos; 3 +varões e 3 femeas, como se diz em estatistica de +população. +Entre as femeas, duas eram viuvas; dos varões, um +fallecera ao tempo de chegarem lá os +<em>sacadores</em>, outro +abalara para parte incerta. O terceiro era typographo;―chamava-se +Antonio Gonçalves, e tinha aqui a sua officina. +Elle e Maria Luiz, sua mulher, moravam mais abaixo, +para o lado de Santo André, no predio do pintor Garcia +Fernandes.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<h3>XX</h3> + +<br /> + +Estava, pois, Antonio Gonçalves estabelecido já +em setembro +de 1566, isto é, dois annos mais cedo, do que o +que lhe suppôs Tito de Noronha, na tabella com que enriqueceu +a sua tão valiosa monographia <em>A Imprensa +Portugueza +durante o seculo XVI</em>. +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[76]</span> +É evidente que o auctor se governou, para a +inscripção +da data «1568», pela data do primeiro livro que se +conhece, +sahido dos prélos deste impressor;―as obras +poeticas de Cadaval Gravio. (Pag. 82). O facto, porém, +corrobora o asserto já por nós enunciado nestas +Notas; +convem a saber: que hemos de convencer-nos, todos os +que perlustramos estas materias, que, assim como a nenhum +habitante da Terra será jámais permittido ver a +outra face do globo lunar, assim nos está vedado, e aos +que depois de nós vierem, o descortinar quantas obras, e +quaes assumptos vieram a lume, só no seculo XVI que +seja, em Lisboa, que para sempre de nós e dos porvindouros +ficarão ignorados.<br /> + +<br /> + +É provavel que Antonio Gonçalves continuasse a +residir +na Costa do Castello, e ahi mantivesse egualmente a +sua officina, até passar a melhor vida. Nestas afastadas +eras, o <em>inquilinato</em> ainda tinha mui +fracas as azas. Voejava +pouco, e com pouco se contentava. Ahi onde se constituia +familia, ahi onde se ganhava a vida, ahi se criavam +affectos; ahi se lançavam raizes. Na mesma parochia, +onde marido e mulher uma vez se desobrigavam, até o ultimo +dia da vida se ficavam desobrigando. N'ella recebiam +a agua lustral do baptismo, n'ella se casavam, n'ella continuavam +a prole. Depois, no chão sagrado que todos os +fieis pisavam, vindo adorar a Deus, tinham todos, quantas +vezes de geração em +geração!―o proprio e final encerro.<br /> + +<br /> + +Pela nota com que fechamos, emfim, estes singellos +apontamentos, que um acaso nos permittiu redigir, se verá +desde quando e até quando se conhecem impressões +sahidas +da officina de Antonio Gonçalves, e quaes as obras +que se sabe terem sido objecto d'ellas.<br /> + +<br /> + +Não esqueça referir que a officina de Antonio +Gonçalves +<span class="pagenum">[77]</span> +foi avaliada em 5$000 réis, pagando o futuro impressor +dos <span class="smallcaps">Lusiadas</span> o +escote de 35 +réis para as necessidades +da corôa.<br /> + +<br /> + +A 26 de abril de 1567 deram os honrados +<em>sacadores</em> do +«Quatorzeno Rol da Freguezia de Santa Justa» por +finda +a sua tarefa, entregando, com a nota de 239 +addições cobradas, +ao Thesoureiro da Cidade, André Luiz, recebedor do dinheiro +deste Lançamento, a quantia de 26$476 +réis, em que ellas importaram, jurando aos Santos Evangelhos +terem procedido como homens de bem.<br /> + +<br /> + +Eis a Nota das impressões conhecidas, sahidas dos +prélos +de Antonio Gonçalves, redigida por simples apontamentos, +por se não ter prestado a occasião a uma +minuciosa +e integra descripção bibliographica das que +será +ainda possivel ver.<br /> + +<br /> + +<table style="text-align: left; width: 100%;" border="0" cellpadding="2" cellspacing="2"> + + <tbody> + + <tr> + + <td style="vertical-align: top;">1568</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td style="text-align: justify;"><em>Pythographia +e +Brachyologia</em>―Poemas publicados por Cadaval +Gravio, segundo Tito de Noronha, in <em>A Primeira +Edição dos Lusiadas</em>, pag. 82.</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="vertical-align: top;">1569</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td style="text-align: justify;"><em>Constituições +Extravagantes do Arcebispado de Lisboa</em> (3.ª +ed.)―aos 7 dias do mes de Fevereiro. Mencionadas por +Innocencio, <em>Diccion</em>, Tom. II, 105.</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: center; vertical-align: top;">»</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td style="text-align: justify;"><em>Leis +extravagantes</em> collegidas e relatadas por mandado do +muito alto e muito poderoso rey D. Sebastiam, nosso senhor, +por Duarte Nunes do Liam.―Innoc. II, 210.</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="vertical-align: top;">1570</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td style="text-align: justify;"><em>Repertorio +dos Tempos</em>. Visto +por nós na Sala dos + <em>Reservados</em> +da Bibliotheca Nacional―B―11. Tem o frontispicio +dois annos após empregado pelo mesmo impressor + <em>in</em> + <span class="smallcaps">Lusiadas</span>, +de Luiz de Camões. Material que pertenceu a +Germão +Galharde.</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="vertical-align: top;">1571</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td style="text-align: justify;"><em>De Rebus +Emmanuelis</em>, do Bispo +D. Jeronymo Osorio. Cit. +por Innocencio―Letra J. pag. 272.</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="vertical-align: top;">1572</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td style="text-align: justify;"><span class="smallcaps">Os Lusiadas</span>―por +Luiz de +Camões. Frontispicio que pertenceu +a Germão Galharde―(<em>Pelicano tendo o +pescoço +voltado para a esquerda do leitor</em>).</td> + + </tr> + + </tbody> +</table> + +<span class="pagenum">[78]</span> +<table style="text-align: left; width: 100%;" border="0" cellpadding="2" cellspacing="2"> + + <tbody> + + <tr> + + <td style="vertical-align: top;">1572</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td><em>Primeira Parte do Compendio da Chronica da +Ordem... do +Monte do Carmo</em>, por Fr. Simão Coelho. Deve +cotejar-se +a noticia de Innocencio com a descripção impressa +no <em>Catalogo</em> +n.º 7 da Livraria de José dos Santos & +Irmão.</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="vertical-align: top;">1573</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td><em>Commentario do cêrco de Goa e +Chaul</em>, &―Ha um exemplar +na Livraria da Torre do Tombo.</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="vertical-align: top;">1574</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td><em>Successo do Segundo Cêrco de +Diu</em>, de Jeronymo Côrte-Real.―Ha +um exemplar entre os <em>Reservados</em> da +Bibliotheca +Nacional, mas não chegámos a vê-lo, por +falta de +occasião.</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: center; vertical-align: top;">»</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td><em>Regras que +ensinam a maneira de escrever a orthographia +portuguesa</em>, por Pedro de Magalhães de +Gandavo. Informações +de Innocencio, pois se não conhece exemplar algum.<br /> + + </td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="vertical-align: top;">1576</td> + + <td style="vertical-align: top;">―</td> + + <td>1576―<em>Historia da provincia de Sancta +Cruz</em>, &, pelo mesmo auctor +supra-citado. É util ler a informação +de Innocencio, +ácerca deste rarissimo livro.</td> + + </tr> + + </tbody> +</table> + +<br /> + +Por muito satisfeito nos daremos, que esta +<em>Noticia</em> logre +alcançar o agrado de nossos consocios, mais certos +leitores que ella poderá ter. Por sua especial bondade nos +relevarão elles, de certo, as deficiencias que se nella +notarem, +antes filhas da mingua de recursos, do que da falta +de boa vontade em alcançar o impossivel;―dá-las +completas.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="quote"> +Julho, 1913.</div> + +<br /> + +<div class="smallcaps signature">Gomes de Brito.</div> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<span class="pagenum">[79]</span> +<h3>ADDENDA</h3> + +<br /> + +«Aos cinquo dias do mes de novembro de mil e qujnhentos +setenta +e hum annos em Lisboa nos estaos na casa do despacho da Santa +Inquisiçam +estando hi os senhores jnquisidores perante elles pareceo +Pero Alberto, flamengo de naçam, natural de Envres de jdade +que +dise ser de vimte e dous pera vimte e tres annos e dise que hee +jmpremidor +e trabalha na jmpresã de Marcos Borjes ao Arco de Cramgejo +e pera em todo dizer verdade lhe deu juramento dos Santos +Evangelhos e prometeu de a dizer e denunciando dise que elle vinha a +este Santo Officio pera desencarregar sua consciencia e dizer o que +sabja o qual hee que avera oito annos que elle partio desta cidade +pera Arrochella com hum João de Leam, frances lyurejro o +qual lhe +disseram em Castella que estava nesta cidade e que fora ja preso +pollo Santo Officio e jsto de preso lhe diseram aquj em Lisboa e +tambem ffoj com elles hum cornelio flamengo de naçam, +naturall de +Olanda que tambem hee jmprimidor e trabalhava en casa da viuva de +Germam Galhardo e asj foj com elles hum frances por nome Pierres +d'Alltabel casado nesta cidade com hua criada ou paremta de Njcolao +Botardo que viuja na rua noua e vende papel e tambem era jmpresor +ajnda que o nam usaua muito os quaes todos quatro hiam determjnados +pera jmpremjr huas horas de Nosa Senhora em portugues +e o João de Leam fazia o gasto e o Pierres e elle confesante +e outro +hiam por obrejros e chegando Arrochella por lhe nam quererem dar +licença pera as jmprjmjr as não jmprimjram e +jmprimjram em lugar +das oras ha gramatica de Joannes Espauterio e dizendo elle denunciante +ao Cornelio em hum domjnguo se jriam ouvir mjssa e ouvindo +jsto João de Leam perguntou ao Cornelio que era o que elle +denunciante +dezja e o Cornelio lhe respondeo que elle denunciante querja +jr ouvjr mjssa ao que respondeo o dito João de Leam dizendo +que +senam podia ouvir mjssa na Arrochella porem queriam a +pregaçam e +dizendo jsto antes de jamtar ás oito ou noue horas o dito +Joam de +Leam os leuou todos tres a hua casa grande onde estaua muita gente +e muitos banquuos e começarão a camtar por huns +libros que tinham +nas mãos e dezião Joam de Leam e Cornelio que +aquillo que cantavam +eram Salmos mas elle denunciante nam entendeo a linguoa e +<span class="pagenum">[80]</span> +despois se pos hum homem em hua cadejra alta a ler por hum liuro +em frances espaço de hua hora e o que leo elle denunciante +nam entendeo +e acabado de ler se sajram todos da dita casa e se foram a +jamtar e dahj a tres ou quatro dias elle denunciante, dejxou a dita +companhia +na Arrochella e se foj pera Leam de França, perguntado que +gente era aquela que estaua na casa da Arrochella onde elle denunciante +foj com ho dito Joam de Leam e Cornelio e Pierres ouvjr cantar +os salmos, disse que eram lutheranos, perguntado que doutrjna +era a que se lia na dita casa ou se lho diseram, dise que Joam de +Leam lhe disera que aquela era doutrjna e lej de Christo e toda +aquela gente se chamavam ugunotes, perguntado se era aquella doutrjna +que aly se jnsinaua a gente a jgreja catholica Romana disse que +aquella doutrjna nam era da jgreja Romana porque nem a casa onde +se lia era jgreja se nam hua casa sem santos como cavalaryza, +perguntado +se allgua pesoa o presuadio ou lhe dise que crese aquella +doutrjna que alj ensinavã, dise que nam, perguntado com quem +entrara +na dita casa e onde estiveram sentados dise que com Joam de +Leam e Cornelio e o Pierres e todos quatro se sentaram juntos em hum +banquo e estiueram todos asj atee o cabo da predica que se sajram +perguntado se sabe que allgua pesoa aprouaua a dita doutrjna que +se lia na dita casa disse que soomente Joam de Leam lhe disse que +aquella doutrjna era muito boa e lej de Christo e que os papistas +chamavam +aquella gente ugunotes e o mesmo lhe dise Pierres d'Alltabel +perguntado quãntas vezes foram a dita casa onde se lia a +dita doutrjna +dise que hua soo vez foj la com os que dito tem, perguntado se +vira jr allgua pesoa aos ditos ajuntamentos majs vezes, dise que nam, +que os companhejros nam sabe se tornaram laa majs vezes porque +elle se partio como dito tem pera Leam de França e dispois +destar +seis ou sete meses em Leam de França se tornou a Espanha +onde foj +preso pollo Santo Officio de Toledo e saio reconciliado com habito +que lhe tiraram loguo no cadafalso e lhe deram em pena que estivesse +alj em Toledo hun anno o qual esteue e despois pedio licença +pera jr +trabalhar a Salamanqua e outras partes e lhe diserã que +podia andar +por toda Espanha e porem que se nam embarcasse pera outro reyno +sem sua licença e que ho principall intento que o trouxe a +esta casa +ffoj por lhe parecer que se podia saber nella que elle foj, estando na +Arrochella aquela casa com ho dito Joam de Leam e os companhejros +ouvir a doutrjna dos lutheranos por quãoto hum Alexandre +Lopez +<span class="pagenum"><a name="p81">[81]</a></span> +christão novo e outros que a ese tempo la estavam lhe +diseram que +elle denunciante fora ouvir a dita doutrjna e que se vem dasemto +pera trabalhar aquj em seu officio e que ja isto confesou em Toledo +com ho majs hall nam dise e do costume dise estava bem com todos e +lhe ffoj mandado ter segredo no caso e elle o prometeo sob carguo +do dito juramento e por o promottor fiscal requerer a elles senhores +inquisidores que por ser o dito denunciante estrangeiro e se poder +absentar pera lugar nam certo lhe reteficasemos em fforma elles +senhores +mandaram chamar os muito reverendos padres frej Belchior +de Sam Mjguel e frej Estevam Caveira, ambos da ordem do bem +aventurado Sam Domingos e pregadores perante os quaes despois de +tomarem juramento de ter segredo em forma o dito denunciante disse +que o dito contheudo em esta sua denunciaçam que eu notario +lhe li +toda de verbo ad verbum e lida e por elle entendida disse que asj o +disera e estava escripto na verdade e afirma e ratefica e de nouo torna +a dizer e asjnou com os ditos senhores inquisidores e os ditos padres +que estiveram presentes por honestas e religiosas pesoas e eu +Joam Velho notario appostolico o sprevi, diz no riscado Symam de Saa +Pereira e declarou sendo perguntado que na dita casa onde estava +o dito ajuntamento de gente segundo seu parecer, Pierres tinha hum +liuro na mam e que todos os ditos seus companhejros a saber Joam de +Leam e Pierres e Cornelio cantavam com ha majs gente os ditos +Sallmos em frances que elle denunciante nam entendia e asynou com +elles Senhores padres e eu Joam Velho notario appostolico o sprevi +(aa.) <em>Jorge Gonsallvez +Ribeiro</em>―<em>Pedro +Alberto</em>―<em>Simão de Saa +Pereira</em>―<em>Frej Belchior de +São Miguel</em>―<em>Frej +Estevão Caveira</em>».<br /> + +<br /> + +<em>Livro de Denuncias do Santo Officio</em> +(n.º 106).<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<b>Notas:</b><br /> + +<br /> + +<br /> + +<sup><a name="1">[1]</a></sup> O <em>Livro +do Lançamento e +Serviço que a Cidade de Lisboa fez +a El-Rei Nosso Senhor</em>, de que démos +abreviada noticia no jornal +<em>Novidades</em>, de 9 de junho de 1897, +tendo começado em 15 de abril +de 1565, e terminado em 6 de setembro de 1567 as +operações da cobrança, +de que o alludido <em>Livro</em> é +muito curioso registo.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="2">[2]</a></sup> +«<em>T.<sup>o</sup> +da fr. Da Madalena―Rua +Nova dos feros Danbas as +bandas</em>» f.<sup>o</sup> 44, V.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="3">[3]</a></sup> +João de Borgonha era proprietario de umas casas +na «rua da +Gibetaria», que tinham 5 inquilinos. Tinha outras casas na +«rua do +Terreiro da Portagem», onde eram seus inquilinos um Pedro de +Sousa, ourives de ouro, e um João Fernandes, mercador, +recem-chegado +do Peru.<br /> + +<br /> + +Os outros dois inquilinos, dos 4 que o predio tinha, não +são de +importancia.<br /> + +<br /> + +Finalmente, este abastado livreiro-editor ainda possuia umas +«tendas» nas costas do Terreiro do Trigo.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="4">[4]</a></sup> +Ás vezes, tambem não eram de todo +bem succedidos em suas +um tanto arriscadas especulações; testemunha, +Alonso de Leon, +que, em 1575, foi denunciado á +Inquisição por um tal Raphael Perestrello, +porque entre os livros de que era mercador, em Lisbôa, +vendia alguns, impressos em Flandres ou em França, +«<em>e falavam +contra o officio divino e contra a missa</em>».<br /> + +<br /> + +<em>Arch. Histor. Portug.</em> fasc. n.<sup>os</sup> +75 e 76, pag. 153.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="5">[5]</a></sup> +«It Migel darenas liureiro seu obreiro......... +avaliado [~e] cinquo +mil rs...» (fol. 45 do cit. codice).<br /> + +<br /> + +Ácerca deste Miguel de Arenas e de seu parceiro +João de Molina, +assim como de João de Borgonha, e outros livreiros e +impressores +de que esta Noticia se occupa, leem-se com fructo os artigos +que lhes respeitem <em>in Docum. para a Hist. da Typogr. +Portug. &</em>, +de Venancio Deslandes, Lisboa, Imp. Nac., 1888.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="6">[6]</a></sup> A +<em>Recopilaçam</em> tivera, +segundo as primordiaes informações de +Barbosa Machado, posteriormente ampliadas por Innocencio, duas +edições; uma, de Coimbra, por Antonio de Maris, +1569, outra, de +Lisbôa, por Marcos Borges, 158O. Nem de uma, nem de outra +apparece, +desde muito, exemplar algum.<br /> + +<br /> + +De uma terceira edição,―aquella a que o texto se +refere―apenas existia um exemplar na copiosa livraria do convento de +S. Francisco +da Cidade. Delle se serviu Alexandre das Neves Portugal, para +ajuntar á 2.ª ed. das <em>Advertencias dos +meios que os particulares +podem usar para preservar-se da peste, &</em>, por +aquelle naturalista +redigidas, e mandadas publicar pela Academia, em 1797 (?)<br /> + +<br /> + +Exhausta, com effeito, esta 1.ª ed., voltou a douta +corporação a +fazer reimprimir 2.ª, em 1801, ajuntando-lhe, +porém, agora, +mas com +rosto e paginação especial, o opusculo dos dois +medicos sevilhanos, +o qual na 1.ª apenas fôra objecto de simples +referencia, +impressa no +Prologo. O formato das duas edições das +<em>Advertencias</em> é de 12.º<br /> + +<br /> + +Ficou, pois, a +<em>Recopilaçam</em> em 4.ª ed., +copiada da de 1598, conforme +se vê na folha do rosto.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="7">[7]</a></sup> Parece +ser esta a 3.ª +edição, +havendo entre esta e a de Ferrara, +1554, uma de Evora, 1557-58. Nas edições de +Ferrara, e de Colonia +chama-se á novella: <em>Hystoria de Menina e +Moça</em>. Veja-se no pref. +de <em>Menina e Moça</em>, ed. do +Porto, 1891, a Nota <sup>1</sup> de pag. LXXVIII, +do punho do nosso consocio, sr. D. José Pessanha. +Innocencio não +mencionou a ed. de Ferrara, por onde entende ser 2.ª esta de +Colonia.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="8">[8]</a></sup> <em> +A Imprensa Portugueza no Seculo +XVI</em>, cap. 4.º―Livreiros. +No Archivo da Camara desta capital ha uma carta de venda, em que +interessa a corporação dos livreiros da Irmandade +de Santa Catharina, +datada de 11 de maio de 1557, e na qual Salvador Martel assigna +como testemunha de certas diligencias. Vid. <em>Elem. para +a Hist. +do Mun. de Lisboa</em>, Tom. II, 584, nota da pag. anter.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="9">[9]</a></sup> <em>T.<sup>o</sup> +da freguezia da +See</em>», fol. 9.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="10">[10]</a></sup> A +«rua da Costa», da +relação de Christovão, na freguezia da +Magdalena. Nesta freguezia dá a mesma +relação «Duas travessas +que não tem nome». Uma destas poderá +ser aquella onde estavam +estabelecidos os dois livreiros.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="11">[11]</a></sup> Como se +vê por este exemplo e o outro supra, +Bastião de Lucena, +escrivão deste recenceamento, obrigava a syllaba +«gi» a soar +como «gui», o que não é +peregrino entre a gente menos letrada deste +seculo.<br /> + +<br /> + +A Fonte da Preguiça ficava «além da +Porta do Mar», para oeste +das casas de Affonso de Albuquerque «que tem as pontas de +diamantes», e logo a seguir a outras que pertenciam +á Cidade, segundo +o que se lê no <em>L.<sup>o</sup> +1.º do Tombo +das +propriedades foreiras á Camara</em>, +codice do Archivo Municipal.<br /> + +<br /> + +Sobre a fonte erguiam-se umas casas, onde, na occasião deste +arrolamento (1565), morava um tal Francisco d'Arruda, de quem, +infelizmente, +Bastião de Lucena não mencionou a +occupação.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="12">[12]</a></sup> Temos a +opinião de que o +<em>Summario</em> não sahiu a lume +antes de +1554, embora se haja inferido das expressões de seu antes +compilador, +do que auctor, a data de 1551.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="13">[13]</a></sup> +É forçoso confessar que +Bastião de Lucena, o escrivão deste +recenseamento, teria feito, se de tal se lhe quizesse suppôr +o proposito, +quanto houvera sido preciso para negar á posteridade a +existencia +do velho Johanes Blavius, tão mal affirmada nas folhas +amarelladas +do codice, onde lhe foi desfigurado o nome.<br /> + +<br /> + +O respectivo lançamento diz, com effeito, e em verdade, o +seguinte:<br /> + +<br /> + +«It cladio colon Inprimidor em cassas de bento giz av<sup>do</sup> +[~e] tres mill +rs paguara xxj rs»<br /> + +<br /> + +Ora, não só não houve nenhum impressor +estabelecido, deste +tempo, que se chamasse Claudio, querendo ver a falta de um +«u» no +nome proprio escrito por Lucena, nem o «imprimidor» +arrolado era +simples «obreyro»; isto é, official +typographo, para nós desconhecido, +porque, nesse caso, o escrivão do recenseamento o declararia +tal, como o fizera a respeito de Miguel de Arenas, e o fez, +referindo-se +a Marcos Borges, segundo adiante veremos.<br /> + +<br /> + +O presumivel, pois, será que Bastião de Lucena +haja desfigurado +o nome de João Blavio, reunindo em dois inintelligiveis +vocabulos o +appelido do impressor, e a indicação da sua terra +natal.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="14">[14]</a></sup> De +certeza, temos que a +«<em>Primeira Parte da Chronica dos +Menores</em>», de Fr. Marcos de Lisboa, que +João Blavio imprimira em +1557, editada por João de Borgonha, foi reimpressa por +Manoel +João, em 1566. Pareceria curial que o impressor da +1.ª +edição, +estando ainda vivo, e estabelecido, como o vemos pelo texto, fosse +o encarregado da reimpressão, tanto mais que foi o mesmo +João +Blavio que em 1562 imprimiu, por conta daquelle opulento editor, a +<em>Segunda Parte</em> da indicada +<em>Chronica</em>.<br /> + +<br /> + +Pelo numero de obras, de que ha noticia terem existido, sem que +chegassem até nós, se póde fazer +idéa de quantas se terão perdido, +em edições que se não repetiram, e +não conheceremos jamais.<br /> + +<br /> + +Não anda liquido qual fôsse a 1.ª ed. do +<em>Palmeirim</em>, em linguagem +portuguêsa, sendo certo que, se o conselheiro Macedo teve a +que dizia ser 3.ª ed., impressa em 1564, outras duas +anteriores +houvera +já, que assim como esta, se não conhecem.<br /> + +<br /> + +Tampouco se conhece a 1.ª ed. da +<em>Aulegraphia</em>, de Jorge Ferreira +de Vasconcellos, deduzindo-se apenas pelo titulo da de 1561 dever +ser esta a 2.ª, pelo menos.<br /> + +<br /> + +Da <em>Comedia Ulysipo</em>, do mesmo Jorge +Ferreira, tambem se não conhece a 1.ª ed., muito +anterior, por certo, +á +que seu genro D. Antonio +de Noronha emprehendeu em 1619. Quanto aos <em>Triumphos +de Sagramor</em>, do mesmo Ferreira, resta saber se as +conjecturas de +Innocencio, ácerca da existencia desta obra +prevalecerão, ou não.<br /> + +<br /> + +Enfim, uma prova, ainda que indirecta, de que se imprimiram +no seculo XVIº. obras, de que nenhuma noticia resta, +é que +ha, applicados +a outras obras conhecidas, frontispicios que decerto não +foram +feitos para ellas, senão para outras, em que pela primeira +vez appareceriam, sem se saber quaes fossem, e quem hajam sido +seus autores.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="15">[15]</a></sup> <span class="smallcaps">Obras do +Poeta Chiado</span>, colligidas, &, por Alberto Pimentel.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="16">[16]</a></sup> +«<em>T<sup>o</sup> +Da freguesia De San +Nicoláo</em>», fol. 176.<br /> + +<br /> + +«It Marcos Borjes Inprimidor obreyro em cassas da molher do +doutor ant<sup>o</sup> medis/Bracal paguara x b j i +rs»<br /> + +<br /> + +<sup><a name="17">[17]</a></sup> Eis o +texto completo do rosto +desta obra:<br /> + +<br /> + +«<em>Paradoxo ou sentença +philosophica contra a opinião do +vulgo: Que a natureza não fez o homem senão a +industria. Dirigido +ao muy alto & inuictissimo Rey de Portugal dom +Sebastião +Primeyr</em> (sic) deste nome. Por Jo +Cointha Senhor des Boulez Fidalgo +frances... Agora nouamente, feyto & impresso nesta cidade +de Lixboa em casa de Marcos Borges empressor del Rey nosso +senhor. Ao primeyr (sic) <em>de Janeyro +de 1566. Vede se na empressão +detras de nossa senhora da Palma</em>».<br /> + +<br /> + +Em 29 quartos de papel, sem numeração. Innocencio +descreve o +exemplar deste raro opusculo pertencente a Figanière.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="18">[18]</a></sup> +«Arcos por traz da Ermida da Palma.» +Lado de L. 4 propriedades; +lado do S. outras 4. <em>Tombo do Bairro do Rocio, fls. +156 +e 156 v.<sup>o</sup></em><br /> + +<br /> + +Como simples esclarecimento, que facilite o ajuisar da +situação +desta ermida, diremos que ficava por muito proximo do pequeno +largo ainda agora conhecido por largo dos Torneiros, rasgando-se +na rua dos Fanqueiros, na extrema L. da rua de S. Nicolau.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="19">[19]</a></sup> +«<em>A Imprensa em Portugal no +seculo XVI</em>», artigo de Sousa +Viterbo <em>in Diario de Noticias</em>, de 5 +de setembro de 1898.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="20">[20]</a></sup> O +segundo destes valiosos estudos foi dado a lume na +<em>Archeologia +Artistica</em>, 1.º anno, vol. I, fasc. II, publicada +pelo sr. Joaquim +de Vasconcellos―Porto, 1873.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="21">[21]</a></sup> Manoel +João rubricou os fêchos do +1.º e do 2.º Livros desta +compilação, imprimindo +«Manoel», empregando, comtudo, o +«u» nos +tres ultimos. Notemos que Tito de Noronha é tambem um de +nossos +diversos auctores modernos que seguem o exemplo dos que, nomeadamente +no seculo XVII.º, adoptaram o «o» na +graphia do +nome proprio +«Manoel», distinguindo-o assim, e crêmos +que bem, do seu igual +castelhano.<br /> + +<br /> + +Francisco Manoel, Bocage, que adoptou para distinctivo academico o +anagrama do seu baptismal: +<em>Elmano</em>, e já bem proximo +a +nós o estadista Manoel da Silva Passos, ortographaram com +«o» o +seu nome proprio. A mesma pratica se observa entre as familias +nobres que usam deste nome proprio, por appellido ou sobre-nome.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="22">[22]</a></sup> Uma +anterior edição deste +<em>Regimento</em>, datada de 1542, sahira +dos prélos de Germão Galharde. Innocencio cita-a +na letra A (Artigos), +e Tito igualmente se lhe refere na monographia +<em>Ordenações +do Reino</em>, pag. 82.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="23">[23]</a></sup> O +pobre do guarda-roupa, improvisado pregoeiro das +grandezas +de Lisbôa, não attendendo a mais nada, sommou os +«roles» das vias +públicas das 23 freguezias que os tiveram (porque S. +Martinho não +teve «role»), e achou o total das 521, das tres +categorias, que pormenorisou +quasi no final do livro, sem contar as 2 calçadas e alguns +«adros» que elle, ou outrem, fez entrar na especial +dos «62 Postos», +a que no texto se fez referencia.<br /> + +<br /> + +Não attentou, porém, o diligente chronista +lisbonense na <em>compartilha +parochial</em>, e sommando, sem mais exame, as 23 +relações de vias +públicas que os priores e curas da cidade lhe facilitaram, +por ordem +do Arcebispo, não deu porque 38 destas, obedecendo +áquelle sistema, +se apresentam <em>80 vezes</em> repetidas por +2 e 3 freguezias, o que +reduziu, por conseguinte, a 479 o numero verdadeiro das vias +públicas +constantes do <em>Summario</em>.<br /> + +<br /> + +Deve porém advertir-se que na Lisbôa do tempo +deste livro havia +já muito antigas vias públicas que, por qualquer +circumstancia, nelle +não figuram. Daremos para exemplo, por ter adquirido a +particular +notoriedade que lhe vem de figurar no <em>Monge de +Cister</em>, a celebre +«rua de D. Mafalda», que os lançadores +de 1565 arrolaram, «com +suas travessas e hospital» (o dos Palmeiros), na freguezia da +«Madanela».<br /> + +<br /> + +<sup><a name="24">[24]</a></sup> +Já +deixámos explicado como o +vocabulo «congro» traduz, neste +caso, um acentuado barbarismo. Ao vulgo, é mais que certo, +escapou +naturalmente o termo letrado «combro», de que +poucos estariam, +neste tempo; como ainda agora, no caso de alcançar o +significado. +A ignorancia dos letreireiros que, ao alvorejar o seculo transcurso, +foram encarregados pela Administração Geral dos +Correios de +appôr os disticos nas vias públicas da nossa +capital, foi origem a +muitos desconcertos desta ordem. Assim, o Pateo do +«Porcili», appelido +italiano, foi convertido em Pateo do «Pocildes», o +beco dos +«Beguinos» ficou-se chamando beco dos +«Biguinhos»; outro beco, o +da «Calheta», transformou-se em beco da +«Galheta», a Praça dos +«Remolares» foi muito tempo conhecida por +Praça dos «Romulares», +&. Infelizmente, não occorreu verificar se a graphia +dos <em>artistas</em> +saíra triumphante da prova, e por isso, ainda agora se andam +remediando +estas aberrações ortographicas municipaes.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="25">[25]</a></sup> Este +<em>Conde</em> era um +Domingos Fernandes, que tinha por alcunha +«<em>o conde</em>». Era +«porteiro do concelho», e morava na rua a que +déra +a alcunha, em casas suas.<br /> + +<br /> + +Pela coincidencia, notaremos que, ha quarenta e tantos annos, +estacionava na então denominada Rua de S. Francisco, um +moço de +fretes, chamado tambem Domingos Fernandes, e que tendo sido +criado de Almeida Garrett, era conhecido pela alcunha: +<em>o visconde</em>, +do titulo daquelle que fôra seu patrão.<br /> + +<br /> + +<br /> + +<sup><a name="26">[26]</a></sup> +Não se nos afigura fóra de proposito +esclarecer que o Chão +d'Alcamim («<span class="smallcaps">Alcamim</span>, +hortaliça sêcca», segundo Fr. +João de Sousa, +<em>in Vestigios da Lingua Arabica</em>), +antigo cemiterio mourisco, e posteriormente +provavel cemiterio da freguezia de S. Mamede, formava +a divisoria territorial das duas freguezias, esta, e a de S. +Christovão, +uma das suas convisinhas. Ficava sobranceiro ao modesto mas +antiquissimo edificio parochial daquella +invocação; isto é, occupava +o terreno por onde agora discorre a calçada do conde de +Penafiel, e +ligava-se á Costa do Castello, tal qual esta +calçada se liga á juncção +da extrema da rua do Milagre de Santo Antonio com o principio da +sobredita Costa. A igreja parochial de S. Mamede assentava no +sitio da meia laranja, denominada Largo do Correio-Mor.<br /> + +<br /> + +Ainda em principios da segunda metade do seculo passado, o terreno +montuoso onde fôra o Chão d'Alcamim era +vulgarmente conhecido +pela denominação de <em>Entulhos da +rua de S. Mamede</em>. No alto da rampa que se rasga sobre a +Costa, e no +rez-do-chão do predio +que para ella faz esquina, á esquerda de quem sobe, estava +estabelecida, +na face de leste, sob o n.º 5, a tipographia de Luis Correia +da Cunha, onde se imprimia, em 1860, a edição em +16.º dos <span class="smallcaps">Lusiadas</span>, +de Luis de Camões, adoptada para texto poetico nos +Institutos +de ensino livre, daquella época. Esta +edição foi repetida pelo mesmo +tipographo, em 1864, em formato igual, e igual numero de paginas.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="27">[27]</a></sup> Como +estamos no terreno resvaladio das +supposições e das probabilidades, +seja-nos permittido aventurar a supposição de que +este +dr. João de Barros possa ser o proprio homonymo do auctor +das +<em>Decadas</em>, com quem alguma vez foi +confundido, e que em 1540 deu +a lume na cidade do Porto o <em>Espelho de +Casados</em>, impresso por +Vasco Dias Tanco de Frexenal. Dr. João de Barros ou nasceu +no +Porto ou em Braga, e vivia ainda em 1553, mas, se como informa +Barbosa Machado, elle foi do Desembargo do rei D. João III, +e seu +escrivão da camara, não sería +impossivel que, fixando residencia, +por tal facto, era Lisbôa, adquirisse para sua +habitação a casa onde +Manoel João estabeleceu a sua officina.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="28">[28]</a></sup> +É patente que todo aquelle plaino, aquella +<em>achada</em> de que ahi +perto se perpetúa a secular recordação +(largo e rua assim denominados) +passou, e por mais de uma vez, por grande +transformação, +depois do terremoto de 1755. Os antigos paços de S. +Christovão, +que occupavam na parte posterior muito maior area, do que a do +actual palacio que foi dos Vagos, ficaram circumscriptos ao que ahi +vemos. O lado esquerdo das ruas do Regedor e de S. +Christovão +foi refeito. O proprio adro da parochia, onde havia +<em>dois</em> cruzeiros, +foi modificado. A medieval «travessa do monturo do +benete» converteu-se, +se não no todo, em parte ao menos, nas Escadinhas de +S. Christovão; o «arco de João +Corrêa», que se encostava á esquina +dos velhos paços, donde a gentil princeza, irmã +de Affonso V, sahiu desposada para Allemanha, refeito com o palacio +novo, +desappareceu +posteriormente, deixando por testemunha da sua existencia ali +o grande chanfro que modificou o cunhal do palacio, tal qual o +lá +vemos.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="29">[29]</a></sup> Esta +noticia, transcripta como no texto advertimos, do +livro +opportunissimo de Venancio Deslandes, e se lê a pag. 42, nota +1, +conjugada com os largos esclarecimentos da pag. 63 e seg. nota 1, +da mesma obra, ácerca do rarissimo +<em>Tratado</em> de Bento Fernandes, +vem esclarecer o intrincado caso a que Innocencio se refere, ao +registar este auctor, no vol. II do seu +<em>Diccionario</em>.<br /> + +<br /> + +Após ter inscripto a obra, sob o n.º 1858, seguindo +a +indicação de +Antonio Ribeiro dos Santos, que em suas +<em>Memorias</em>, a pag. 108, +déra +noticia della, como impressa no Porto, em 1541, por Vasco Dias Tanco +de Frexenal, parecendo, todavia, não a ter visto, nota, com +effeito, +o experiente bibliographo que Barbosa já se referira a esta +mesma +obra, como impressa em 1555. Innocencio fecha a sua noticia, +confessando +que tambem nunca vira o <em>Tratado</em>, nem +sabia onde existisse.<br /> + +<br /> + +Agora se concilia, pois, tudo. Bento Fernandes terá, com +effeito, +dada uma 1.ª edição em 1541, +tirada +dos prélos de Vasco Dias Tanco, +repetindo 2.ª no proprio anno em que parece ter fallecido, a +julgar +pelo que escreveu o auctor da +<em>Descripção Topographica do +Porto</em>; isto é, em 1555, utilisando agora +os serviços de Francisco +Corrêa.<br /> + +<br /> + +Accrescente se que Noronha, no final das +<em>Tabellas</em> da +<em>Imprensa +Portugueza no Seculo XVI</em>, pag. 29, assigna a Vasco +Dias Tanco +os annos de 1540 1541, como os da sua permanencia no Porto, onde +teria impresso 3 obras. Do mesmo modo, na +Introdução do <em>Espelho +de Casados</em>, do dr. João de Barros, fol. 7, +v.<sup>o</sup>, regista a presença +de Francisco Corrêa naquella cidade em 1555.<br /> + +<br /> + +Vê-se, pois, que os dois auctores estão +perfeitamente concordes, +no tocante a cada uma das phases da vida dos dois tipographos, supra +alludidas.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="30">[30]</a></sup> +«T.<sup>o</sup> da fr. da +Magdalena», +f.<sup>o</sup> 82 +v.<sup>o</sup><br /> + +<br /> + +<sup><a name="31">[31]</a></sup> +Aliás +<em>Lisarte</em>, de que, definitivamente, +veíu a formar-se +<em>Lisardo</em>, +por ex. «<em>Silvya de +Lysardo</em>» (1597), passando assim o que +parece +ter sido nome proprio a appelido, como o seu consimilhante +<em>Jusarte</em>, +que de ambos os modos foi, de frequencia, empregado.<br /> + +<br /> + +A Jusarte Pacheco, morto no accomettimento de Calecut, filho do +grande Duarte Pacheco, chama Gaspar Corrêa +«Lisuarte Pacheco», +segundo se lê na <em>Lenda de Affonso de +Albuquerque</em>, pag. 19. Na +descendencia do genovês «Salvago», +naturalisado pelo rei D. Manoel, +anda um Jusarte Salvago, a quem D. João III nomeou +Almoxarife +dos Armazens de Lisboa.<br /> + +<br /> + +De Jusarte, appellido, se deriva Zuzarte, e assim o nota o sr. Anselmo +Braamcamp Freire, descrevendo o Brasão dos +<span class="smallcaps">Jusartes</span> na +<em>Armaria Portuguesa</em>, pag. 284, da +folha appensa ao <span class="smallcaps">Arch. Hist. +Port.</span>, vol. VIII, fasc. 87 e 88.<br /> + +<br /> + +Ao passo, porém, que Jusarte alterna com Lisuarte ou +Lisarte, como +nomes proprios, vêmos Jusarte empregado n'este mesmo seculo, +e +muito proximo aos tempos dos Pachecos, na India, como appelido.<br /> + +<br /> + +Assim, o proprio Gaspar Corrêa, além de outros de +menos nomeada, se occupa extensamente na +<em>Lenda</em> do 5.º Governador D. +Duarte de Meneses, de Martim Affonso de Mello Jusarte, +capitão de +Ormuz, cujos trabalhos em Malaca e outras partes narra com +individuação.<br /> + +<br /> + +Este appelido, revivescendo no seculo XVII na pessoa do escriptor +Fr. Pedro da Cruz Jusarte, vem até nossos dias ligado a uma +das familias +mais consideradas do Alemtejo; a dos Condes de Avillez, cujos +antepassados e descendentes o empregam logo a seguir ao sobrenome―p. +ex.: «Jorge d'Avillez Jusarte de Sousa Tavares de +Campos».<br /> + +<br /> + +Quanto ao ramo dos Zuzartes, vemos, ainda no <em>Tombo +Pombalino</em> +D. Marianna da Silva Zuzarte, proprietaria em 1755 de casas no +beco do Bugio. Quando, posteriormente, se formou a rua da +Saúdade, +derrubada a parte do beco onde taes casas eram, foi-lhes marcado +terreno e alinhamento na nova rua, para a +reconstrucção, que +veiu a receber o numero de policia 8. Em nossos dias, era proprietario +d'estas casas um cavalheiro Araujo Zuzarte, antigo administrador +de um dos Bairros d'esta Cidade.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="32">[32]</a></sup> Isto +é: 455 réis.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="33">[33]</a></sup> Este +«Ilusuarte Peris», cujo nome e +appelido parecem ter soffrido +a truculenta sorte de João Blavio de Agripina Colonia, sob a +pena +barbara de Bastião de Lucena, era proprietario na rua que +tinha o +seu nome, sendo elle que, provavelmente, a +<em>fundou</em>, á +semelhança de +outros muitos exemplos mais, quer por aforamentos feitos á +corôa +dos terrenos onde se edificavam as primeiras casas, quer por qualquer +outro modo que attribuísse aos +<em>fundadores</em> um tal qual direito +de propriedade no denominar das vias públicas.<br /> + +<br /> + +As casas de Ilusuarte Peris constam dos lançamentos 27 a 29 +do +grupo comprehendido no titulo expresso no texto, e tinham por +inquilinos:<br /> + +<br /> + +«Margaida Ribeyra, Francisca Anriquez, molher cortezan e +Eytor +Fernandes, Indio».<br /> + +<br /> + +O mesmo Ilusuarte Peris tinha tambem outras casas na «rua das +Cristaleyras» e ahi eram seus inquilinos uma viuva e um +tintureiro. +Esta rua apparece já nos roes de Christovão +(1554?). A de «Ilusuarte +Peris» deve ter-se formado nos annos que separam a obra do +guarda-roupa +do Arcebispo lisbonense do recenseamento que estamos examinando.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="34">[34]</a></sup> Em +qualquer das duas edições da +<em>Pratica Darismetyca</em> (1519 e +1530), impressas por Galharde, se declara este +«<em>frãcez</em>», +passando a +primeira por ter sido a sua estreia, como chefe de officina. Por igual +lhe declara a nacionalidade a subscripção do +Livro 2.º das +<em>Ordenações</em>, +bem como a do 3.º, e ainda a dos <em>Statutos da Ordem +de +Santiago</em>, +não sendo difficil que se registem mais exemplos.<br /> + +<br /> + +Tambem no <em>Memorial de Pecados</em>, de +Garcia de Resende, impresso +em 1521, apparece o appelido d'este impressor composto, em parte, +á +francesa;―«<em>Gaillarde</em>», +e nas +<em>Ordenações</em>, +«<em>Galhard</em>». +Além +d'estas, ha outras variantes, taes como, a da <em>Cronica +llamada el +triunfo, &</em>, onde parece que se lê +«<em>Gallarde</em>», e a +do <em>Cerimonial da +missa</em>, que imprime +«<em>Gallardo</em>». Na +<em>Cartilha que cont[~e] breuem[~e]te</em> +é que o appelido do celebre impressor apparece como veiu a +ficar:―«<em>Galhardo</em>». +<br /> + +<br /> + +Na diplomatica de D. João III chama se-lhe: +«<em>Germão +Galharte</em>».<br /> + +<br /> + +<sup><a name="35">[35]</a></sup> +Affirma-o, +como facto por elle proprio verificado, o +conspicuo +bibliographo Tito de Noronha, <em>in</em> +<span class="smallcaps">Ordenações +do Reino―Seculo +XVI</span>, <em>apud</em> +<span class="smallcaps">Archeologia Artistica</span>, +<em>1.º anno, vol. 1, fasc. II, cap. +XI</em>, pag. 76 (1873).<br /> + +<br /> + +Repetiu a affirmativa <em>in</em> +<span class="smallcaps">A Primeira +Edição dos +Lusiadas</span>, +Porto, 1880, a pag. 80, nota (68), <em>in +fine</em>.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="36">[36]</a></sup> <em>Jornal +do Commercio</em>, de +2 de maio do 1871.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="37">[37]</a></sup> <em></em>Mais +outra vez vem a lume o titulo d'este livro quasi +quatro vezes +secular. É como segue:<br /> + +<br /> + +«Missale secumdum consuetudinem Elborensis ecclesiae +noviter +impressum».<br /> + +<br /> + +Na subscripção final lê-se:<br /> + +<br /> + +«Impressum Ulixipone expensis magistri Antonii Lermet +Elborensis +civitatis librarius per Germanus Galhardum. Anno salutis nostre +millessimo +<em>quingentessimo nono</em>. Pridie Kalendas +martii. Deo Gratias».<br /> + +<br /> + +Assim, pelo plausivel alvitre de Tito de Noronha, entre +«<em>quingentessimo</em>» +e «<em>nono</em>» devia +ter-se composto <em>vigesimo</em>, falta que +só quem +não sabe quanto é facil de escapar, ainda ao mais +attento revisor, o +salto da composição de um vocabulo entalado entre +outros, e n'uma +data, principalmente, não comprehenderá. No texto +se exemplifica +um curioso similhante caso de nossos dias.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="38">[38]</a></sup> Em sua <span class="smallcaps">Bibliographia +Historica +<a href="#e6">Portugueza</a></span> consigna +Figanière +ter visto em um exemplar da terceira Decada da +<b>Asia</b>, de João +de Barros, impresso por João de Barreira em 1563, a +omissão typographica +M. D. LIII.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="39">[39]</a></sup> Isto +é, em +1513-«<span class="smallcaps">Ordenações +do +Reino</span>―Seculo XVI», pag. 31.<br /> + +<br /> + +Adiante veremos que a conjectura não se confirma.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="40">[40]</a></sup> Gaspar +Nicolas, natural de Guimarães, foi +escrivão da tabola de +Coimbra e das cizas da mesma cidade, como consta de varios diplomas +de nomeação e quitação, das +chancellarias de D. Manoel e D. +João III, no Arch. Nac. da Torre do Tombo.<br /> + +<br /> + +Era, pois, como hoje diriamos, um funccionario de fazenda, e, portanto, +no caso de se occupar da materia que foi assumpto ao seu, +desde seculos, rarissimo livro.<br /> + +<br /> + +Tito de Noronha determinou, em 1874, o começo da actividade +officinal de Germão Galharde, pelo conhecimento +que teve do exemplar +e edição citados no texto; exemplar, pertencente, +ou que veiu a pertencer +ao sr. visconde de Azevedo. Innocencio, porém já +em 1859 +notava que no catalogo da livraria de Joaquim Pereira da Costa andava +descripto um exemplar da <em>Pratica +Darismetyca</em>, com +a data de +1519. Ao diligente bibliographo, parecia, comtudo, +<em>erro</em> semelhante +data, e aqui vêmos como se enganou!<br /> + +<br /> + +Germão Galharde, como está registado no +começo da nota <sup>1</sup>, de +pag. 44, fez 2.ª edic. do Tratado sobredito em 1530.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="41">[41]</a></sup> Eis +as expressões do fecundissimo polygrapho:<br /> + +<br /> + +«Duvido se tem V. m. já noticia de outro livrinho +que estou imprimindo, +e o fiz mais depressa do que a <em>Calsada dos +Galhardos</em>. +Chamo-lhe Pantheon, terá quatro até sinco folhas, +com 2500 versos.»<br /> + +<br /> + +Bibliot. Nacion. de Lisbôa―MM s.―Fundo antigo, 155. +«<span class="smallcaps">Cartas +de D. Francisco Manuel de Mello a Antonio Luiz de +Azevedo</span>, +com introd. e notas, por Edgar Prestage―Imp. Nac. 1911». +É a n.º 24, e o passo lê-se a pag. 70.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="42">[42]</a></sup> Este +pateo é o primeiro, á esquerda, +na rua de Santo Ambrosio, +tendo o portão que lhe dá entrada o n.º +17. +Depois que os Galhardos +o largaram, habitaram ahi <em>as +Patinhas</em>, isto é, as filhas de um Don +José Patiño que exerceu aqui, em +Lisbôa, qualquer cargo official do +seu país.―Um appelido estrangeiro convertido em assumpto de +galhofa.<br /> + +<br /> + +Morreram <em>as Patinhas</em>, e succedeu na +denominação do pateo um +tal José Alexandre, que ahi persistiu até ha +pouco.<br /> + +<br /> + +Hoje, o Pateo é <em>Villa</em>, +porque os estrangeirismos, ainda que prestem +a riso, são-nos mais bem acceitos, do que o que sempre teve +sabor nacional. Já o dizia, ainda que por fórma +muito mais conceituosa, +no seculo XVII, um dos nossos mais distinctos escriptores.<br /> + +<br /> + +Emfim, a <em>Villa</em> appellida-se +«<em>Domingues</em>», e +voltará a andar por +ali outra vez o dominio castelhano...<br /> + +<br /> + +<sup><a name="43">[43]</a></sup> +Frontispicio:<br /> + +<br /> + +«<em>Reportorio dos tempos em linguajem +português.<br /> + +<br /> + +Foy impresso em Lixboa em casa de Germão Galharde, Anno +1560.</em>»<br /> + +<br /> + +Fecho:<br /> + +<br /> + +«<em>Acabou-se o Reportorio dos Tempos em +linguagem português. +Agora nouamente emendado e impresso cõ muytas cousas +acrescentadas +de nouo</em>, etc., <em>O qual foy impresso +em a muy nobre e s[~e]pre +leal cidade de Lixboa, em casa da viuua, molher que foi de +Germão Galharde [~q] sancta gloria aja. Anno de +1560.</em>»<br /> + +<br /> + +<sup><a name="44">[44]</a></sup> +Reservados +da Bibliotheca Nacional―A―443.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="45">[45]</a></sup> Tendo +nosso presado amigo, sr. dr. Antonio +Baião, publicado +no <span class="smallcaps">Archivo Historico Portuguez</span>, +vol. VII, pag. 150 e seg., (1909) +o extracto desta denuncia, como fazendo parte de suas noticias +ácerca +da <em>Inquisição em Portugal e +Brazil</em>, appensaremos aos presentes +<em>Estudos</em> o seu teor, na integra, para +que nossos benignos leitores +possam ajuisar plenamente do valor deste documento, não +só quanto +ao caso que nos occupa, senão tambem quanto ao que elle +revela, sob +o ponto de vista do triste estado dos espiritos em Portugal, na +época +tão bem retratada no predito documento.<br /> + +<br /> + +Ao nosso presado amigo muito agradecemos o grande obsequio +que lhe ficámos devendo, com a copia deste depoimento, que +tão +amavel quão solicitamente se serviu communicar-nos.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="46">[46]</a></sup> Entre +as gravuras frontispiciaes conhecidas do seculo XVI +algumas +ha que foram executadas para obras que não chegaram +até +nós. Lembra-nos, por exemplo, a que se vê na Sala +dos Reservados +da Bibliotheca Nacional, n.º A―149, que deve ter sido +expressamente +aberta para obra differente daquella em que ali se nos patenteia, +e que todavia, se não conhece.<br /> + +<br /> + +Porventura se terá presente o que, referindo-nos em uma das +Notas do Cap. IV, á <em>Primeira Parte da +Chronica dos Menores</em>, de +Fr. Marcos de Lisboa, se nos offereceu ponderar, a respeito de obras +que se sabe terem sido impressas, mas que de todo desappareceram.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="47">[47]</a></sup> Nosso +venerado Patrono, Diogo Barbosa Machado, +já déra noticia +desta obra, com a competente indicação, +<em>ipsis verbis</em>, do respectivo +titulo.<br /> + +<br /> + +A ella se referiu, repetindo-o, ainda que menos pontualmente, o +incançavel Innocencio, notando, com assás de +razão, as imperfeições +infelismente commettidas pelo douto Antonio Ribeiro dos Santos, no +tocante a este particular motivo.<br /> + +<br /> + +Ultimamente, o Sr. Anselmo Braamcamp Freire deu a +descripção +da obra, e seu titulo, imprimindo este com toda a +perfeição, <em>in</em> +<span class="smallcaps">Archivo +Historico Portuguez</span>, vol. VIII, n.<sup>os</sup> +8 a 11 (92 a +95―1911), +fielmente transcriptos uma e outro dos que lhe deu a Sr.ª D. +Carolina +Michaëlis de Vasconcellos, por copia do exemplar que a S. +Ex.ª +pertence. É este mesmo titulo que está presente +na occasião, e se +transcreve de preferencia aos dois citados +<em>supra</em>.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="48">[48]</a></sup> Manda, +todavia, a +<span class="smallcaps">Ordenação</span>, +no Liv. II, Tit. 61, «que qualquer +pessoa que de nós tiver Privilegio, de qualquer sorte que +seja, +ou que o tenha por respeito da pessoa com quem viver, em qualquer +maneira que pelo Privilegio da tal pessoa guardado fôr, tenha +lança +de <em>vinte palmos</em>, ou dahi para cima, +em sua casa».―Isto é, tenha +lança de 4,<sup>m</sup>40, ou superior a esta +medida.<br /> + +<br /> + +Vê-se, portanto, do confronto dos dois textos que a +medida-padrão +destas armas diminuira, pelo discurso do tempo, muito perto +de 0,50.<br /> + +<br /> + +Na Europa do XIV.º seculo, a medida mais commum das +lanças +com que se armava a gente collecticia a soldo de qualquer procer, +era, segundo Cibrario, <em>in</em> +<span class="smallcaps">Economia Politica da Meia Edade</span>, +de +<em>dezoito pés</em>, o que +corresponde a 5,<sup>m</sup>94.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="49">[49]</a></sup> Carta +de 14 de fevereiro de 1530, +<em>in</em> Deslandes, <span class="smallcaps">Doc. +para a +Hist. da Typ. Portug.</span><br /> + +<br /> + +<sup><a name="50">[50]</a></sup> Este +vocabulo, e o seguinte em abreviatura, +«morador», denunciam +uns restos de barbarismos de concordancia, que ainda nesta +epoca já adiantada do seculo, e até no seguinte, +transparecem aqui, +ali, no commum falar e escrever.<br /> + +<br /> + +Reinava uma como especie de preguiça em acommodar +á fórma +feminina os vocabulos em <em>or</em>, e um +que outro mais.<br /> + +<br /> + +A materia foi superiormente versada pelo tão infeliz, +quão abalisado +philologo Francisco Dias Gomes, que em sua +«<em>Analyse sobre +a elocução e estylo de Sá de +Miranda</em>», deu, entre varios exemplos, +um, com o primeiro dos dois apontados vocabulos, tirado de Ruy de +Pina:―«E a entregou aa Ifante Dona Briatriz como +<em>titor</em> que era do +duque Dom Diogo seu filho.»<br /> + +<br /> + +Correlativamente, os determinativos não acompanhavam a +fórma +feminina que designavam, como n'aquelle caso que nos occorre do +informador de Christovão Rodrigues de Oliveira: +«<em>Os</em> dignidades +que ha na See.»<br /> + +<br /> + +A Memoria de Francisco Dias lê-se entre as de +<span class="smallcaps">Litteratura +da Academia</span>, tom. IV, pag. 26 e segg.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="51">[51]</a></sup> A +freguezia de Santa Engracia só teve Breve de +desannexação +da de Santo Estevão em 1568. Só depois de 1606 +é que o edificio parochial +foi patente ao culto. O parocho de Santo Estevão pastoreou +durante <em>trinta e um annos</em> ambas as +freguezias cummulativamente; +isto é, desde 1576, anno em que começou, emfim, a +vigorar a desannexação, +até 1607, em que havia já na nova parochia +cartorio proprio, +e independente da parochia <em>mater</em>. +Veja-se o que escrevemos +no vol. VIII, pag. 5, do <span class="smallcaps">Archivo +Historico +Portuguez</span>―1910―Art. +<em>As Tenças Testamentarias da Infanta D. +Maria</em>.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="52">[52]</a></sup> +Já +temos advertido que o livro do guarda-roupa +do Arcebispo +de Lisboa não pode ser da data que anda em costume +attribuir-se-lhe;―1551. +O proprio livro contém em alguma de suas paginas, ao +referir-se +á Misericordia, e ás esmolas que esta +Instituição recebia, a +confirmação do que affirmamos.<br /> + +<br /> + +Como, porém, o auctor conta ter sido no anno de 1551 que o +Arcebispo +lhe commetteu o encargo de fazer o livro, nada se oppõe a +que desde este anno elle começasse a colligir os materiaes +para elle, +dirigindo-se aos parochos, para alcançar os +«roles» das vias publicas, +feitos―é evidente―á face das +<em>desobrigas</em>. E como entre +encommenda-los +e o conseguir have-los á mão sempre mediaria +algum tempo, +sendo 25 os parochos collaboradores n'esta obra de louvores +ás +grandezas e magnificencias lisbonenses, pareceu-nos que pelos termos +que empregámos alcançariamos exprimir com +exacção o nosso +pensamento.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="53">[53]</a></sup> E +portanto <em>atafaneiro</em>. +É vóz +arabica;―«<em>atahana</em>».<br /> + +<br /> + +<sup><a name="54">[54]</a></sup> O +traçado descrito e os pormenores +são os que resultam da leitura +do passo respectivo no Tom. VIII dos <em>Elementos para a +Historia +do Municipio de Lisboa</em>, de nosso tão +distinto colega, sr. Freire +de Oliveira, aliada á do muito elucidativo texto tecnico da +valedora +monografia <em>A Cêrca Moura de +Lisboa</em>, do nosso prestante amigo sr. +Vieira da Silva.<br /> + +<br /> + +Nossa, é só a conjectura de que os edificadores +da cêrca de D. +Fernando apoiariam o postigo de Santo André á +torre que a <em>barbacã</em> +ou cinta muralhada que circundava o monte do Castello ali poderia +ter, aproveitando os lanços d'esta para ligarem á +velha a nova cêrca, +partindo, para a continuação da obra, do baluarte +de S. Lourenço. +Resta uma pergunta:―Tinha <em>toda</em> a +muralha que abraçava o monte +do Castello, desde a Porta de D. Fradique até á +porta da Alcaçova +ou de S. Jorge ou vice-versa, antiguidade egual á do +baluarte de S. +Lourenço? Por outra, é tudo obra mourisca, ou +anterior, se tal baluarte +o é tambem?<br /> + +<br /> + +<sup><a name="55">[55]</a></sup> Villa +Quente, que um desagregamento do solo pendurado do +monte do Castello subvertera em 1531, e passa, a nosso vêr, +menos +justificadamente, por um <em>tremor de +terra</em> mais, a ajuntar á longa +lista dos que tem affligido Lisboa, no decorrer dos seculos, era um +punhado de humildes casas, semeadas entre o começo da actual +calçada +de Santo André, e o «caminho que ía ao +postigo do Monis», +diante de cuja entrada havia uma «cruz de pao». A +rampa que o pequeno +povoado occupava para o N. da cinta muralhada que circumdava +o monte do Castello, e o abrangia como um annel, em toda a +sua circumferencia, estendia-se pelo limitado espaço que +servia de +recosto á cêrca de Santo Antão +(Colleginho), vindo confundir-se com +os meandros de betesgas e encruzilhadas que o separavam da Mouraria, +constituindo o que alguma vez se chamou «o bairro da rua +suja». +<br /> + +<br /> + +<sup><a name="56">[56]</a></sup> <em>Historia +de Portugal</em>, +vol. I, 3.ª ed. MDCCCLXIII; nota XXIII, +a pag. 531.<br /> + +<br /> + +<sup><a name="57">[57]</a></sup> +Aforamento +de um chão junto da Porta de Santo +André, da +banda de fóra, no principio da rua que vai da dita Porta +para o postigo +de Sam Lourenço, feito pela cidade ao dr. Affonso Figueira, +onde este magistrado edificara umas casas que partiam da banda +do Poente +<em>com muro e torre da cidade, +&</em>.<br /> + +<br /> + +Esta <em>torre</em> é a que +suppomos existir já na barbacã do Castello, no +angulo formado pelo lanço que devia descer da Porta de D. +Fradique +a entestar com a parte que se continuava na rua que ia ao baluarte +de S. Lourenço.<br /> + +<br /> + +Deveria jazer pela parte posterior do actual +<em>Passo</em>, e terá sido +aproveitada para guarda do Postigo de Santo André. Dominava +assim +a aspera calçada que se lhe desenrolava em frente, e vinha +ligar-se +á muito antiga «Rua dos Cavalleiros.» +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<br /> + +<div class="fbox"> +<h2>Lista de erros corrigidos</h2> + +<div style="text-align: center;">Aqui encontram-se +listados todos os erros encontrados e corrigidos:</div> + +<br /> + +<br /> + +<table style="width: 80%; text-align: left; margin-left: auto; margin-right: auto;" border="0" cellpadding="4" cellspacing="4"> + + <tbody> + + <tr align="right"> + + <td style="width: 87px;"></td> + + <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 119px;">Original</td> + + <td style="text-align: center; width: 5px;"></td> + + <td style="font-weight: bold; text-align: center; width: 118px;">Correcção</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right; width: 87px;"><a name="e1"></a><a href="#p11">#pág. +11</a></td> + + <td style="text-align: center; width: 119px;">Bernaldim</td> + + <td style="text-align: center; width: 5px;">...</td> + + <td style="text-align: center; width: 118px;">Bernardim</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right; width: 87px;"><a name="e2"></a><a href="#p16">#pág. +16</a></td> + + <td style="text-align: center; width: 119px;">testemunh</td> + + <td style="text-align: center; width: 5px;">...</td> + + <td style="text-align: center; width: 118px;">testemunho</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right; width: 87px;"><a name="e3"></a><a href="#p22">#pág. +22</a></td> + + <td style="text-align: center; width: 119px;">ondo</td> + + <td style="text-align: center; width: 5px;">...</td> + + <td style="text-align: center; width: 118px;">onde</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right;"><a name="e4"></a><a href="#p22">#pág. 22</a></td> + + <td style="text-align: center;">admtitir</td> + + <td style="text-align: center;">...</td> + + <td style="text-align: center;">admitir</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right;"><a name="e5"></a><a href="#p46">#pág. 46</a></td> + + <td style="text-align: center;">typographfa</td> + + <td style="text-align: center;">...</td> + + <td style="text-align: center;">typographia</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right;"><a name="e7"></a><a href="#p57">#pág. 57</a></td> + + <td style="text-align: center;">quo</td> + + <td style="text-align: center;">...</td> + + <td style="text-align: center;">que</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right;"><a name="e8"></a><a href="#p66">#pág. 66</a></td> + + <td style="text-align: center;">persuadido</td> + + <td style="text-align: center;">...</td> + + <td style="text-align: center;">persuadidos</td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right;"></td> + + <td style="text-align: center;"></td> + + <td style="text-align: center;"></td> + + <td style="text-align: center;"></td> + + </tr> + + <tr> + + <td style="text-align: right;"><a name="e6"></a><a href="#38">#nota +38</a></td> + + <td style="text-align: center;"><span class="smallcaps">Portugteza</span></td> + + <td style="text-align: center;">...</td> + + <td style="text-align: center;"><span class="smallcaps">Portugueza</span></td> + + </tr> + + </tbody> +</table> + +<br /> + +<br /> + +<div style="text-align: center;">Os símbolos de +igual (da <a href="#p81">pág. 81</a>) +foram substituídos por traços longos ('―').<br /> + +</div> + +<div style="text-align: center;"><br /> + +<br /> + +</div> + +</div> + +</div> + + + + + + + + +<pre> + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of Noticia de livreiros e impressores de +Lisbôa na 2ª metade do seculo XVI, by José Joaquim Gomes de Brito + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK LISBÔA *** + +***** This file should be named 24657-h.htm or 24657-h.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + http://www.gutenberg.org/2/4/6/5/24657/ + +Produced by Rita Farinha and the Online Distributed +Proofreading Team at http://www.pgdp.net (This file was +produced from images generously made available by National +Library of Portugal (Biblioteca Nacional de Portugal).) + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. 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