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diff --git a/.gitattributes b/.gitattributes new file mode 100644 index 0000000..6833f05 --- /dev/null +++ b/.gitattributes @@ -0,0 +1,3 @@ +* text=auto +*.txt text +*.md text diff --git a/32790-8.txt b/32790-8.txt new file mode 100644 index 0000000..3670979 --- /dev/null +++ b/32790-8.txt @@ -0,0 +1,922 @@ +The Project Gutenberg EBook of Carta em resposta a outra bom senso e bom +gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr, by Elmano da Cunha + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: Carta em resposta a outra bom senso e bom gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr + +Author: Elmano da Cunha + +Release Date: June 13, 2010 [EBook #32790] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA EM RESPOSTA A OUTRA *** + + + + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + + + + + + CARTA + + DE + + ELMANO DA CUNHA + + EM RESPOSTA A OUTRA + + BOM-SENSO E BOM-GOSTO + + DIRIGIDA POR + + ANTHERO DO QUENTAL + + AO EXCELLENTISSIMO SENHOR + + ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO + + O INCOMPARAVEL TRADUCTOR DOS FASTOS DE OVIDIO + OBRA EM QUE SE FAZ O CONFRONTO DE ROMULO E JESUS-CHRISTO + OFFERECIDA AO INCOMPARAVEL + DUQUE DE SALDANHA + + + + COIMBRA + IMPRENSA DA UNIVERSIDADE + 1865 + + + + + CARTA + + DE + + ELMANO DA CUNHA + + EM RESPOSTA A OUTRA + + BOM-SENSO E BOM-GOSTO + + DIRIGIDA POR + + ANTHERO DO QUENTAL + + AO EXCELLENTISSIMO SENHOR + + ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO + + O INCOMPARAVEL TRADUCTOR DOS FASTOS DE OVIDIO + OBRA EM QUE SE FAZ O CONFRONTO DE ROMULO E JESUS-CHRISTO + OFFERECIDA AO INCOMPARAVEL + DUQUE DE SALDANHA + + + + COIMBRA + IMPRENSA DA UNIVERSIDADE + 1865 + + + + + Em Coimbra: ás 5 horas da madrugada do dia 20 de novembro de 1865; + ao concluir um innocente e util trabalho em que se pretende + demonstrar, que ao cantar da _segunda_ cigarra de Anacreonte, sob a + copa da frondosa olaia do Saturno portuguez, se está forjando o + dogma da infallibilidade litteraria do sobredito senhor; proclamando + o dom da inerrancia do mesmo; resuscitando um odio velho contra a + universidade de coimbra; condemnando o producto espontaneo do + trabalho intellectual, livre e independente; fazendo sordida + mercancia do futuro--_a quem mais der_--; permutando a lisonja vilan + pelos 30 dinheiros pharisaicos; transigindo ignominiosamente com as + paixões egoistas da actualidade a troco das ovações da burguezia, + senhora das situações prosperas e beneficentes. + +Amigo--Em que cyclo social andaram os talentos d'esta, ou de outra +qualquer terra, pela arreata das auctoridades?!... + +Em que geração andaram aguadeiros litterarios, com os canecos do genio +ás costas, dessedentando os sequiosos de verdade e inspiração, +aspergindo a agua lustral no seio das multidões, fornecendo as fontes do +espirito publico, pregoando a superior qualidade do producto litterario +ou scientifico nacional, porque traz a marca d'alfandega--A. F. C.?!... + +......................................................................... + +Pobres dos pilotos da humanidade se, tendo, através da esteira dos +tempos, que vão cahindo nos abysmos do passado, conduzido as +civilisações com a unica bussola do seu livre alvedrio, têm no seculo +XIX de fazer a figura de amphoras humanas nas mãos do primeiro aguadeiro +ambicioso!?... + +A mim, que fui embalado com os primeiros vagidos da eschola liberal, a +unica que tem as regalias, os privilegios, os foros da independencia, a +unica, que tem um axioma por principio, tinham-me dito, que a liberdade +de toda a industria humana é a primeira condição do seu desinvolvimento +e progressos; que o principio da responsabilidade individual é o +primeiro motor do bello, do grande, do util, do ideal; que o prysma +social tem apenas algumas faces, que reflectem já a septiforme côr da +aurora boreal do futuro, e infinitas que, os que nos precederam, +deixaram na obscuridade, e que é forçoso clarear de viva luz; que ao +livre trabalho do pensamento incumbe esta tarefa civilisadora; que a da +«mercancia por avareza, das lettras por vaidade, dos litigios +prolongados por caprichoso empenho», tem sido a thenia enorme que, +inoculando-se no coração das sociedades, vai seccando as fontes da +moralidade, viciando e prevertendo os abundantes succos nutritivos da +arvore do bem, torcendo vigorosos musculos sociaes, prostituindo a +mulher, desatando os vinculos da familia,--o fogo sagrado do +Estado,--dividindo os interesses da communa, semeando a descrença e o +desconforto nos orgãos da nacionalidade. + +A mim tinham-me dito principalmente, que a suprema fórmula de todo o +homem, é a sua moralidade e independencia; que esta consistia em ser +cada um responsavel pelo que pensa perante Deus, pelo que sente perante +a sua consciencia, pelo que escreve, pelo que diz perante a sociedade. + +Seria eu victima de um embuste grosseiro? Enganar-me-iam os apostolos do +Evangelho da liberdade a mim, que, sincero, puro e innocente, os +escutava em religioso silencio, numa quasi que idolatria?!... + +Tu, meu amigo, dizes-me que não; que o facto póde traduzir uma abjecção +moral, uma torpeza de todo o ponto condemnavel, mas que isto não é mais +que um accidente, susceptivel de correcção e exemplo: que a these é a +que bebemos com o leite da nova mãe social, aquella que me convida a +junctar hoje ao teu nome «quasi desconhecido» o meu que apenas consta de +um assento de baptismo que nunca ninguem leu. + +Deixo-o ahi escripto por duas considerações sómente; a primeira como +protesto, a segunda como cautela; a primeira, porque juro viver e morrer +á sombra da bandeira de Jules Simon, por nenhum preço a sombra da copa +da olaia de Antonio Feliciano de Castilho, que respeito como talento, +como homem que «_por entre os edificadores do futuro anda estudando o +passado_», que detesto como caracter, e como traficante convicto de +cambio litterario: a segunda porque sei que verdades amargas magoam o +alifafe moral de consciencias vulneraveis; porque sei que o principio da +auctoridade, a immodestia immoderada, a vaidade impertinente, a +consciencia da suprema gloria e do ultimo laudo em bom-senso e em +bom-gosto são entidades congenitas do principio da irritabilidade, e +porque finalmente os desvios da má indole e as paixões violentas da +soberba indomavel e indelicada poderiam _tosquiar_ algum camêlo ou +_fraco_ ou _innocente_. + +Postas as cousas a esta luz, benefica para quem se allumiar d'ella no +interesse do futuro e dos tibios do proprio campo, conversemos um pouco. + +Eu não quiz ler o escripto de _Antonio Feliciano de Castilho_ no +livro do sr. _Pinheiro Chagas_--_Poema da mocidade_--onde a +proposito de faltas de bom-senso e de bom-gosto se citam os nomes +illustres--Theophilo Braga--Vieira de Castro, e o teu «quasi +desconhecido», e se _tosquia_ sem clemencia nem piedade, com odio, com +azedume, a chamada eschola litteraria de Coimbra, eschola que não +existe, _camêlo_ imaginario, _camêlo_ creado pelo sr. Castilho nas suas +_segunda e terceira intenção_. Façamos justiça á pontaria do genio. +Encadernado na mais esplendida capa litteraria, que jámais vimos, está o +homem, que, fazendo fogo de caçador esperto, atira a dois alvos ao mesmo +tempo. É esta a verdade, isto o que é preciso ver e definir detalhadamente. + +Eu não quiz ler, por ter lido a--_conversação preambular_--do D. Jayme, +do sr. Thomaz Ribeiro. + +Era razão de sobejo. + +Conheci o sr. Thomaz Ribeiro antes do seu poema, e o poema depois, que +me deliciei eu com o ouvir recitar ao proprio auctor em 1860 na +sociedade do dr. Antonio de Oliveira Silva Gaio; á sombra da copa de +nenhuma olaia, não; no seio da estima não mercadejada, da admiração +desinteressada, da livre apreciação, sim. + +Que o auctor fôra bafejado no berço por espiritos bons, fadado para +destinos melhores ainda, para uma independente e mais que muito justa +reputação litteraria, soubemo-lo, e dissemol-o nós então. + +O sr. Thomaz Antonio Ribeiro nascera tambem no seio da eschola liberal, +ou, o que mais val, acceitára por amor e convicção o principio na sua +accepção mais larga, na sua concepção mais absoluta, curando menos dos +preceitos, e ainda menos dos preconceitos de eschola. Muito +intelligente, soube ser livre, tirou de si seus recursos, trabalhou por +sua conta e risco. Na pia baptismal do trabalho purificou as suas +crenças como homem e como escriptor, fortaleceu a sua religião social e +litteraria, não pedindo inspiração mais do que á fonte commum, a propria +natureza e a das cousas, alentos senão á vontade, que o trabalhava, +confortos senão á propria consciencia, elevação e independencia sómente +á sua dignidade, consolações sómente á maxima expressão de todo o homem, +a sua _moralidade_. + +Em 1860 pensavamos nós assim... Quem, quem havia de proferir a +blasphemia atroz, que o sr. Thomaz Ribeiro teria de sujeitar a sua bella +creação poetica ao insulto hypocrita da _primeira_ cigarra de +Anacreonte? Quem, conhecendo o caracter do illustre escriptor, havia de +suppor que para tanto e tão pouco tivera bondade, modestia, terrores +vagos, receios infundados?!... + +A nebulosa, a vaga, a astuta, a matreira, a equivoca--_conversação +preambular_--dera-nos a medida de uma prostituição e de uma infamia; +aquella de um, justificada, até certo ponto, e fertil de fecundos +ensinamentos a futuros escriptores; esta de outro, que, tendo um nome já +grande, carece de um outro nome para ser quanto merece. + +_Saturnus exultavit; flevit honor. Saturnus exultavit cum maerore et +luctu_, como sempre. + +Um obreiro de menos, uma iniciativa de mais: um successo a meio caminho, +porque a inveja insidiosa o atraiçoou pelos trinta dinheiros da eschola +do interesse proprio! + +_Saturnus flevit cum planctu magno_, e desatou a rir debaixo da copa da +sua olaia! + +A resignação é uma perpetua lagrima a sorrir-se: resignámo-nos. Estes +desvios de prumo não interrompem a construcção das pilastras de cada +seculo, em que vai assentando a abobeda da civilisação. Houve apenas um +atrazo. Depois os obreiros foram abrindo alicerces, baldeando materiaes, +cimentando paredes, cada um na medida das suas forças, livres de +preceito extranho e official, da correcção pretenciosa de um mestre de +obras do passado, todos amigos, todos innocentes e puros, todos +desinteressados, e o que mais é, nefando crime, todos apostolos do ideal! + +Eu, pobre de intelligencia, mas amigo do trabalho, do fundo do meu +retiro, da minha mansão de paz, minguada de tudo, menos de boa-vontade, +estava contemplando com amor, até mesmo com desvanecimento, esta +liberdade de pensar, estas auroras novas, este volitar de ideias, este +grangeio livre de alimentos futuros, este caminhar de cada um a sabor da +propria responsabilidade, sem nem sequer me lembrar da cigarra de +Anacreonte e de que houve outr'ora uma Divindade que comia os proprios +filhos; de subito vejo um membro da commum abandonar a christandade com +a obra debaixo do braço.... + +Era _Pinheiro Chagas_, que tambem abrira os olhos da alma á luz do +seculo que vai passando; um talento superior, um coração limpo de toda a +mancha, modesto tambem, e tambem fraco, tomado de terrores vagos, de +infundados receios, que dera os ultimos traços no--_Poema da +mocidade_--e receoso que lhe calumniassem a obra os invejosos confrades +da religião nacional, ia ao templo pagão sacrificar o cordeiro da sua +independencia! + +Um sacerdote de crenças bem diversas das nossas na indole e na +influencia social acabava de ministrar o sanctissimo sacramento do +baptismo litterario a um nome que não carecia de mendigar calor alheio +para crescer em celebridade e honras bem merecidas! + +Cantava a _segunda_ cigarra de Anacreonte na copa da frondosa olaia! + +_Saturnus exultavit cum planctu magno._ + +......................................................................... + +Eu que estava neste momento, quando tudo isto se passava, distinguindo á +luz do _bom-senso e do bom-gosto_ o paganismo e a ideia christã, abria +pela primeira vez a traducção dos _Fastos de Ovidio_, e pasmava, pasmava +sinceramente, de ver o hyerophante do seculo estabelecer o confronto do +seductor das sabinas e do casto Filho de Maria! + +Eu acabava de concluir na intimidade do meu pensamento, que os grandes +homens tinham jogado as nozes com os rapazes, e que dispensarem-se de +dizer _tolices_ como elles seria falta de logica.... + +Não obstante eu pedia ainda sobras á vontade para crer, que os talentos +saudosos do passado não negociavam com as suas crenças, quando o vento +do levante, entrando no meu gabinete de trabalho, me desdobrou a +primeira pagina do livro. Estava ahi escripta em lettras negras, +grandes, famosas, uma dedicatoria: + + _Ao incomparavel Duque de Saldanha!_ + +O sol nascia d'esta vez no meu pacifico retiro: um facho de luz +inundava-me a fronte carregada de pensamentos tenebrosos, e o jubilo +entrava em minha alma! + +Mentira! + +A opinião publica era a Messalina devassa que se prostituira ainda uma +vez ao erro voluntario de uma calumnia vilã, vendendo uns restos de +honestidade, que nunca ninguem perdeu, ao odio eterno e inclemente das +paixões partidarias. + +A opinião publica _indignada_, cujos murmurios escutava com vago terror, +que eu julgava apenas suffocada pela força das _conveniencias_, mas +distinguindo já através das sombras da posteridade um annel de fogo +envolvendo dois astros, que até mesmo no abysmo das miseraveis +vergonhas, a que sub-serviram, tiveram luz para se esconderem as +pustulas dos olhos investigadores da geração, que, cometas funestos, +esterilisaram por um lado, desmoralisaram por outro, instruiram pelo +ultimo; a opinião-publica, que via, que proclamava tudo isto, não era +dominada senão pela odio dos Titães, o odio que tentava escalar os +astros, que na obra do paganismo enlaçaram suas orbitas para maior +gloria do Christianismo! + +E todavia era uma infamia! + +Eu via, não podia duvidar: um genio coroava outro! + +Os pobres de espirito como eu poderiam errar, depositando uma oblata +christã sobre as aras ensanguentadas de Mavorte: os sanctos innocentes +da eschola de Coimbra poderiam ignorar as noções mais vulgares do bem e +do mal, a mais simples regra de honestidade, o mais ostensivo principio +de moral practica e de moral christã; mas a intelligencia, o genio, o +talento, a philosophia, a historia, a luz, a vista de aguia, não, não, e +não podiam ver a infamia, onde só mora a virtude, o ultramontanismo, +onde só mora a liberdade, a reacção, onde repousa a inercia, o templario +politico, onde se aninha a pomba innocente e immaculada, de olhar azul e +candido, magico, sereno, celestial, divino. + +E eu, que ás cinco horas da madrugada ia ser um ecco da opinião publica, +e de uma infame calumnia, ás oito sou apenas um bemaventurado! + +Eu ia talvez dizer, se o vento do levante me não traz aos olhos +a--_dedicatoria_--que quaesquer que fossem os nomes, que os nomes dos +grandes pretendessem illuminar e impôr aos livres pensadores da eschola +liberal, desciam, baixavam á condição servil dos que procuram diluir o +successo no expediente, justificar a immoralidade e a baixeza da +alienação do seu primeiro direito absoluto com o bom successo do jogo de +fundos litterarios; insinuar talvez, que existia ainda uma litteratura +unica, embora absurda, embora _metaphysica_, embora inintelligivel e +portanto ideal, ou ideal e portanto inintelligivel, embora asnatica, +embora desgraciosa na essencia e na fórma--innocente, casta, pura, +independente, espiritualista, moralisadora antes de tudo e sobre tudo; +que essa litteratura era a que se condemnava pelo talento serio de +Antonio Feliciano de Castilho no--_Poema da mocidade_--litteratura que +se não prostituira nos mercados publicos ao osculo do primeiro Judas +litterario do seculo. Se não existira uma atmosphera, pura e buliçosa, +onde podessemos ainda respirar, ia proclamar bem alto, que a litteratura +de Antheros, de Vieira de Castro, de Theophylo Braga, de todos os +Bragas, de todos os escriptores nobilitados pelo cunho da sua +independencia, de Coimbra, do Porto, de Lisboa, não é o producto liquido +e homogeneo de nenhuma eschola, porque tal não existe em parte +alguma, e menos em Coimbra; que o primeiro estylista do paiz a +classificara assim para practicar uma dupla baixeza, impropria de um +talento raro e serio, de um homem honesto, desambicioso, desinteressado; +diria comtigo, Anthero--«Combatem-se os herejes da eschola de Coimbra +por causa do negro crime de sua dignidade, e do atrevimento de sua +reputação moral, do attentado de sua probidade litteraria, da impudencia +e miseria de serem independentes e pensarem por suas cabeças. E +combatem-se por faltarem ás virtudes de respeito humilde ás vaidades +omnipotentes, de submissão estupida, de baixeza e pequenez moral e +intellectual... Mas é que a eschola de Coimbra commetteu effectivamente +alguma cousa peor de que um crime--commetteu uma grande falta: _quiz +innovar_. Ora, para as litteraturas officiaes, para as reputações +estabelecidas, mais criminoso do que manchar a verdade com a baba dos +sophismas, do que envenenar com o erro as fontes do espirito publico, do +que pensar mal, do que escrever pessimamente, peior do que isto é essa +falta de querer caminhar por si, de _dizer_, e não _repetir_; de +_inventar_, e não de _copiar_. Porque? Porque todos os outros crimes +eram contra as ideias: haveria sempre um perdão para elles. Mas esta +falta era contra as pessoas; e essas taes são imperdoaveis.» Commettendo +sem duvida a esquerda indiscrição de asseverar que aquella dupla baixeza +consistia em envolver ao mesmo tempo tres nomes distinctos, que nunca +lhe pediram ao mestre nem protecção nem arrimo, na mesma damnação do seu +orgulho omnipotente, e presuppôr, armar, construir do alicerce até á +telha uma eschola litteraria em Coimbra, para a atirar á cara da +universidade, que o fez poeta e grande, cerrando-lhe as portas do +magisterio, porque a vida de lente é a cousa mais sinceramente prosaica, +que ainda houve--Affirmaria sem duvida que este odio é negro, é velho, e +ha de ser eterno! Diria que em principios do anno de 1835 a universidade +foi vivamente atacada pelos então chamados--_Institutarios_--que, +contando com as luctas e dissenções dos correligionarios dos dois +partidos extremos, que então se dilaceravam no proprio seio da +universidade, a desprestigiavam e calumniavam a academia d'esses tempos, +servindo-se de uma imprensa corrupta e vendida a um certo frade, que não +achava desgostosa a tisana de lodo que do Tibre lhe mandaram para +beber. Tractava-se nem mais nem menos do que da mudança da universidade +para Lisboa, onde os obreiros, negros na _alma_ e no _habito_, tinham o +seu principal centro de operações, onde seria arma terrivel contra as +instituições liberaes: que a bella e intelligente fronte da estudiosa +adolescente do paiz, vendo que lhe roubavam a liberdade e a honra, +despertara da somnolencia dos que soffrem, porque têm vida, que lhes não +deixam viver, e, acalentada pelos generosissimos e liberalissimos +sentimentos de alguns academicos distinctos, acceitára a luva que se +jogava á universidade: que o jornal, o _Academico_, fôra publicado em +principios do anno de 1835, e dahi até 28 de junho do mesmo anno, em 49 +numeros, evidenciára que á litteratura de Coimbra não presta para +baixezas, mas póde e sabe saldar as suas dividas de honra: que todos os +artigos do _Academico_, jornal ao mesmo tempo litterario, scientifico e +politico, d'aquella politica que convém a academicos--a da +imparcialidade--respiravam tanto bom-senso, tanto bom-gosto, e tanta +moderação, que foram elles que semearam no meio do paiz opiniões mais +justas e sensatas sobre a questão universitaria, que a final foi julgada +pelo parlamento do modo mais lisongeiro para a universidade. Perguntaria +depois d'isto ao sabio distincto, ao engenho raro:--Ereis estranho á +seita dos--_Institutarios_--conhecieis-l'os, vistel-os, sabieis-lhes os +nomes, apertastes-lhes as mãos, assentastes-vos com elles á sombra da +copa da vossa olaia a conversar, com razão ou sem ella, «em practica +chã, desenfadada e satisfeita, como é de uso entre lavradores chãos e +abonados depois de uma colheita abençoada»?!--Com a mão sobre a cabeça +respondei, senhor! Eu creio-vos, eu proclamei o dogma da vossa +infallibilidade: vós não podeis errar, enganar, e menos ser enganado! + +Se aquella veridica--_dedicatoria_--me não illuminasse o espirito, diria +que em 1854 o conselho de decanos da universidade negára ao illustre +escriptor a sala dos capellos, que sollicitára para ensinar á _eschola_ +de Coimbra o methodo de leitura repentina, com bem fundados receios de +que os nossos monarchas, os representantes de setecentos e cincoenta e +quatro annos de cousas serias, ririam até rebentar, o que não era +bonito: que por essa occasião, no salão do Instituto, o auctor do +methodo se dignára manifestar a consideração em que pôz sempre a +universidade: que o ouvi eu, que tenho o orgulho de ser d'aquelles, que +nunca deixaram cobrir da poeira do esquecimento insultos ou perolas que +de maduras cahissem na sua presença de labios sibylinos, ou viperinos: +affirmaria que o sr. Antonio Feliciano de Castilho na sua ultima visita +a Coimbra azedou com a suprema injuria da nenhuma practica que teve com +academicos á sombra da copa da sua olaia, porque nem um só devoto, ao +que me disseram, queimou um só grão de incenso e myrrha ao idolo dos que +por modestia, por bondade, por terror, por imitação, vão mendigar á sua +porta um obulo da graça das multidões, que com razão o admiram nas suas +inimitaveis traducções, nos seus poemas, nas suas imitações, e até mesmo +nas inimitaveis contrafações do seu caracter. + +Continuaria a dizer, que a cousa assim é mais commoda e mais decente, +porque é arteira, porque deixa sempre livre á tangente do seu odio por +todos e por tudo o systema matreiro da raposa velha. E diria ainda em +termos mais claros: o Ovidio portuguez, temendo «aventurar a _vida_ por +desempenhar um pontinho de honra propria», preparou e prepara sempre +previdentemente o terreno de vespera, semeia o pomo da discordia em +propriedade alheia, e deixa ao proprietario, agradecido da sua abençoada +lavoura, o cuidado de defender os renovos. Já cançado de _tosquiar_ +camêlos, como tão classicamente escreve, assenta-se com razão a +conversar em practica chã, desenfadada e satisfeita, como é de uso de +lavradores depois de uma feia acção, á sombra da copa da sua olaia, e, +reclamando serviço por serviço, entrega a defeza das suas causas e +cousas graves áquelles a quem deu saude e graça para correrem mundo. +Habil piloto, deposita nas mãos dos remeiros, a quem alugou a barca de +passagem, o fardo da sua dignidade, para lh'o levarem a porto de +salvamento. Se o fardo chega avariado, como é mais que provavel, aos +consignatarios da opinião publica--_aqui d'el-rei_--que foram elles que +o deixaram ao tempo! e eil-o a chamar gallego a todo o mundo, +inclusivamente ao mais honrado e independente caracter, que ainda houve +nesta terra--o sr. A. Herculano! No entretanto a cigarra de Anacreonte +vae cantando sobre a copa da proverbial olaia: e o Saturno portuguez, +tomando á sombra d'ella o café confortador, para mais facil digestão +dos tenros cordeirinhos que a cigarra _tosquiou_, e elle comeu para +ficar sosinho no seculo actual como agente, e os bôlos litterarios +nacionaes como pacientes. + +Isto sim, que é obra prima, accrescentaria eu, da mais fina +_methaphysica_; isto sim, que é a expressão do mais puro ideal de +refinada pouca-vergonha! É verdade que não aproveita a ninguem, nem á +humanidade actual, nem ás futuras, nem a coevos, nem a vindouros, nem á +Allemanha, nem á França, nem a Turim, nem ao Porto, nem a Lisboa, nem á +infame _eschola_ litteraria de Coimbra, que fazem escala por caminhos de +honra e honestidade, mas aproveita-lhe a elle, ao seu orgulho feroz, mas +ás suas entranhas insaciaveis de tudo, como de gloria, mas ao seu velho +odio sem treguas, sem clemencia, sem repouso, mas á sua suprema soberba +e á sua infinita vaidade. + +Elle, o mestre; elle, o poeta da arte; elle, o sabio; elle, a +intelligencia, que com mais felicidade e facilidade tem sabido assoalhar +as abundantes e abençoadas sementes, que por ahi estavam por celleiros +classicos a apodrecer na humidade e no abandono; elle, a mais esplendida +e luxuriosa fórma que tem vestido lettras portuguezas; elle, o +privilegiado do genio; elle, o que devia em fogo inextinguivel de amor e +honestidade alimentar os primeiros attributos da divindade, que allumiam +o destino de cada homem, e de cada sociedade; elle, que devia, e como +poucos podia, bafejar todas as vocações; acompanhar com respeito, com +veneração, com dulcidão d'alma, com candor de coração, toda a _eschola_ +nascente, toda a ideia nova e original, ao menos nesta terra; toda a +_utopia_, amiga do bom, do util, do social; todo o esforço dos limpos de +coração, para tornar a humanidade mais ideia, menos argilla; mais +absoluto, menos relativo; mais bem, menos miseria; mais virtude, menos +abjecção; mais amor, menos calculo; mais elevação moral, menos torpeza; +mais religião, menos descrença; mais perdão, menos vindicta; mais +caridade, menos odio; elle, que devia esmagar nos abysmos do coração, +com a mão firme da vontade, os seus resentimentos particulares, e as +reclamações exaggeradas da aspiração da gloria; domar pela sagacidade o +que em todo o homem existe de fera humana, cicatrisar pela braza viva +do seu talento de fogo a ferida do seu peccado original, enfrear o +sentimento da paixão individual, pela superior consideração dos +interesses sociaes de qualquer ordem; este homem, que devia comprehender +que todos os da sua esphera já hoje não podem nascer, sem perigo de +damnação social, para se consumirem no sentimento mesquinho do egoismo e +interesse proprios, senão sim para allumiarem, como o sol, que não cuida +de si, do nascimento ao occaso um hemispherio da sociedade, do occaso ao +nascimento os antipodas do progresso; elle, Castilho, falsifica +ignominiosamente a sua missão no seio da eschola liberal, dá cada dia um +abraço angustioso na ambição, que o domina, attrela-se ao carro da +inveja insidiosa, julga ainda pequenas as lettras de luz do seu nome, +que ninguem já póde apagar-lhe nas memorias do porvir, e chafurda-se +como a serpente do Eden na tremedal da hypocrisia astuta, offerecendo +com palavras ensopadas em ambrosia e nectar o pomo enganador aos +Evangelistas da _Divina palavra_, que hão-de levar com os seus o nome do +_Verbo_ aos quatro cantos do universo e ás christandades por-vir. + +A mim rasgava-se-me o coração se tivesse dito tudo isto, convencido de +um erro; se a aragem da madrugada do dia 20 de novembro de 1865, +impregnada do espirito invisivel da verdade, desdobrando aquella +primeira folha da traducção de Ovidio, me não viera evidenciar, que o +nome de um christão póde egualar o de um pagão, por consentimento tacito +do segundo, e acceitação expressa do primeiro. + +Mas então a que vim eu?--perguntarás tu, Theophylo Braga, Vieira de Castro. + +A dizer-vos, que Anthero do Quental póde e deve confessar que não teria +publicado a pagina decima primeira da sua Carta, se ao concluil-a +abrisse, por desenfado, o _Camões_ de Antonio Feliciano de Castilho, e o +gostasse com todos os cinco sentidos; se, virgulando o que escrevera, +houvesse tempo para ter em mór valia e consideração o seu bom-senso e +bom-gosto, que os seus, aliás justos, resentimentos: não a agradecer-vos +o delicado favor da vossa amisade, que não vem para aqui, ou a +absolver-vos de peccados, que todos commettemos mais ou menos, mas a +descarregar a minha consciencia de um pêso que de ha muito a +mortificava; a asseverar-vos finalmente que, digam o que disserem os +Sanctos Padres, que venero; os canones dos Concilios, que leio; os +decretos e bullas dos pontifices, que em conta de boas bullas terei +sempre; chovam raios e coriscos sobre a triste humanidade; rasgue-se o +véu do templo; sôe embora a trombeta do Juizo Final; resuscitem as +provas de agua e fogo; até morrer, e ainda mesmo a morrer hei-de +exclamar pelas mil boccas da minha fera vontade: + + _É o sol que está parado, é a terra que se move._ + +Dito isto, vou ler pela centesima vez a lei de 18 de agosto de 1769, a +lei da _Boa-razão_. É fastidiosa, detestavel, pessima para uns certos, +que se acoitam á sombra da arvore do bem e do mal a ruminarem torpezas é +iniquidades; uberrima, recreativa, bonissima para outros que, quando +menos, têm o bom-senso e o bom-gosto de a lerem, e comprehenderem. + +No sentido que deixo dito + + Vosso + + _Elmano da Cunha._ + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of Carta em resposta a outra bom senso e +bom gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr, by Elmano da Cunha + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA EM RESPOSTA A OUTRA *** + +***** This file should be named 32790-8.txt or 32790-8.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/2/7/9/32790/ + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. 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It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. + + +Section 3. 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Thus, we do not necessarily +keep eBooks in compliance with any particular paper edition. + + +Most people start at our Web site which has the main PG search facility: + + https://www.gutenberg.org + +This Web site includes information about Project Gutenberg-tm, +including how to make donations to the Project Gutenberg Literary +Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to +subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks. diff --git a/32790-8.zip b/32790-8.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..10ad802 --- /dev/null +++ b/32790-8.zip diff --git a/32790-h.zip b/32790-h.zip Binary files differnew file mode 100644 index 0000000..d4ef2f1 --- /dev/null +++ b/32790-h.zip diff --git a/32790-h/32790-h.htm b/32790-h/32790-h.htm new file mode 100644 index 0000000..a7b38c5 --- /dev/null +++ b/32790-h/32790-h.htm @@ -0,0 +1,993 @@ +<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.01 Transitional//EN" "http://www.w3.org/TR/html4/loose.dtd"> +<html> +<head> + <title>Carta de Elmano da Cunha</title> + <meta name="Author" content="Elmano da Cunha"> + <meta name="Edition" content="Coimbra. Imprensa da Universidade, 1865."> + <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=iso-8859-15"> + <style type="text/css"> + body{margin-left: 10%; + margin-right: 10%; + } + .pn { + text-indent: 0em; + text-decoration: none; + position: absolute; + left: 92%; + font-size: smaller; + text-align: right; + color: silver; + } + #corpo p{text-align: justify; text-indent: 1.5em;} + h1, h2, h3, h4 {text-align: center; margin-top: 2em;} + h2 {text-align: center; margin-bottom: 2em;} + #corpo p.sinopse {margin: 0; font-size: small; text-indent: 0;} + #corpo p.ni {text-indent: 0;} + hr.dotted {border: 0; border-bottom: dotted 2px #000;} + hr {border: 0; border-bottom: solid 2px #000;} + blockquote {margin-left: 10%; font-size: small;} + a {text-decoration: none;} + .rodape { + font-size: 0.7em; + color: gray; + margin-left: 2em; + margin-right: 2em; + } + .errata {border-bottom: dotted 2px #aaaaaa;} + .typo {border-bottom: dotted 2px #77dd77;} + .fbox {border: solid black 1px; background-color: #FFFFCC; font-size: 0.8em; + margin-left: 10%; margin-right: 10%;} + </style> +</head> + +<body> + + +<pre> + +The Project Gutenberg EBook of Carta em resposta a outra bom senso e bom +gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr, by Elmano da Cunha + +This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with +almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or +re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included +with this eBook or online at www.gutenberg.org + + +Title: Carta em resposta a outra bom senso e bom gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr + +Author: Elmano da Cunha + +Release Date: June 13, 2010 [EBook #32790] + +Language: Portuguese + +Character set encoding: ISO-8859-1 + +*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA EM RESPOSTA A OUTRA *** + + + + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + + + + + +</pre> + +<p> </p> + +<div style="text-align:center; border: solid 1px #000; padding: 1em;"> +<p style="font-size: 2em;">CARTA</p> + +<p>DE</p> + +<p style="font-size: 1.2em;">ELMANO DA CUNHA</p> + +<p>EM RESPOSTA A OUTRA</p> + +<p style="font-size: 1.8em;">BOM-SENSO E BOM-GOSTO</p> + +<p>DIRIGIDA POR</p> + +<p style="font-size: 1.4em;">ANTHERO DO QUENTAL</p> + +<p>AO EXCELLENTISSIMO SENHOR</p> + +<p style="font-size: 1.4em;">ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO</p> + +<p><small>O INCOMPARAVEL TRADUCTOR DOS FASTOS DE OVIDIO<br> + +OBRA EM QUE SE FAZ O CONFRONTO DE ROMULO E JESUS-CHRISTO<br> + +OFFERECIDA AO INCOMPARAVEL<br> + +DUQUE DE SALDANHA</small><br> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p>COIMBRA<br> +<small>IMPRENSA DA UNIVERSIDADE</small><br> +1865</p> +</div> + +<p> </p> + +<div style="text-align:center;margin-left:auto;margin-right:auto;"> +<p style="font-size: 2em;">CARTA</p> + +<p>DE</p> + +<p style="font-size: 1.2em;">ELMANO DA CUNHA</p> + +<p>EM RESPOSTA A OUTRA</p> + +<p style="font-size: 1.8em;">BOM-SENSO E BOM-GOSTO</p> + +<p>DIRIGIDA POR</p> + +<p style="font-size: 1.4em;">ANTHERO DO QUENTAL</p> + +<p>AO EXCELLENTISSIMO SENHOR</p> + +<p style="font-size: 1.4em;">ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO</p> + +<p><small>O INCOMPARAVEL TRADUCTOR DOS FASTOS DE OVIDIO<br> + +OBRA EM QUE SE FAZ O CONFRONTO DE ROMULO E JESUS-CHRISTO<br> + +OFFERECIDA AO INCOMPARAVEL<br> + +DUQUE DE SALDANHA</small><br> + +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> +<p> </p> + +<p>COIMBRA<br> +<small>IMPRENSA DA UNIVERSIDADE</small><br> +1865</p> +</div> + +<p> </p> + +<p><span class="pn">{3}</span></p> + +<p> </p> + +<div id="corpo"> + +<blockquote> + <p style="margin-left:4em">Em Coimbra: ás 5 horas da madrugada do dia 20 de + novembro de 1865; ao concluir um innocente e util trabalho em que se pretende + demonstrar, que ao cantar da <i>segunda</i> cigarra de Anacreonte, sob a copa + da frondosa olaia do Saturno portuguez, se está forjando o dogma da + infallibilidade litteraria do sobredito senhor; proclamando o dom da + inerrancia do mesmo; resuscitando um odio velho contra a universidade de + coimbra; condemnando o producto espontaneo do trabalho intellectual, livre e + independente; fazendo sordida mercancia do futuro—<i>a quem mais der</i>—; + permutando a lisonja vilan pelos 30 dinheiros pharisaicos; transigindo + ignominiosamente com as paixões egoistas da actualidade a troco das ovações + da burguezia, senhora das situações prosperas e beneficentes.</p> +</blockquote> + +<p> </p> + +<p>Amigo—Em que cyclo social andaram os talentos d'esta, ou de outra qualquer +terra, pela arreata das auctoridades?!...</p> + +<p>Em que geração andaram aguadeiros litterarios, com os canecos do genio ás +costas, dessedentando os sequiosos de verdade e inspiração, aspergindo a agua +lustral no seio das multidões, fornecendo as fontes do espirito publico, +pregoando a superior qualidade do producto litterario ou scientifico nacional, +porque traz a marca d'alfandega—A. F. C.?!...<span class="pn">{4}</span></p> +<hr class="dotted"> + +<p>Pobres dos pilotos da humanidade se, tendo, através da esteira dos tempos, +que vão cahindo nos abysmos do passado, conduzido as civilisações com a unica +bussola do seu livre alvedrio, têm no seculo XIX de fazer a figura de amphoras +humanas nas mãos do primeiro aguadeiro ambicioso!?...</p> + +<p>A mim, que fui embalado com os primeiros vagidos da eschola liberal, a unica +que tem as regalias, os privilegios, os foros da independencia, a unica, que +tem um axioma por principio, tinham-me dito, que a liberdade de toda a +industria humana é a primeira condição do seu desinvolvimento e progressos; que +o principio da responsabilidade individual é o primeiro motor do bello, do +grande, do util, do ideal; que o prysma social tem apenas algumas faces, que +reflectem já a septiforme côr da aurora boreal do futuro, e infinitas que, os +que nos precederam, deixaram na obscuridade, e que é forçoso clarear de viva +luz; que ao livre trabalho do pensamento incumbe esta tarefa civilisadora; que +a da «mercancia por avareza, das lettras por vaidade, dos litigios prolongados +por caprichoso empenho», tem sido a thenia enorme que, inoculando-se no coração +das sociedades, vai seccando as fontes da moralidade, viciando e prevertendo os +abundantes succos nutritivos da arvore do bem, torcendo vigorosos musculos +sociaes, prostituindo a mulher, desatando os vinculos da familia,—o fogo +sagrado do Estado,—dividindo os interesses da communa, semeando a descrença e +o desconforto nos orgãos da nacionalidade.</p> + +<p>A mim tinham-me dito principalmente, que a suprema fórmula de todo o homem, +é a sua moralidade e independencia; que esta consistia em ser cada um +responsavel pelo que pensa perante Deus, pelo que sente perante a sua +consciencia, pelo que escreve, pelo que diz perante a sociedade.</p> + +<p>Seria eu victima de um embuste grosseiro? Enganar-me-iam os apostolos do +Evangelho da liberdade a mim, que, sincero, puro e innocente, os escutava em +religioso silencio, numa quasi que idolatria?!...</p> + +<p>Tu, meu amigo, dizes-me que não; que o facto póde traduzir uma abjecção +moral, uma torpeza de todo o ponto condemnavel, mas que isto não é mais que um +accidente, susceptivel de correcção e exemplo: que a these é a que bebemos com +o leite da nova mãe social, aquella que me convida<span class="pn">{5}</span> a +junctar hoje ao teu nome «quasi desconhecido» o meu que apenas consta de um +assento de baptismo que nunca ninguem leu.</p> + +<p>Deixo-o ahi escripto por duas considerações sómente; a primeira como +protesto, a segunda como cautela; a primeira, porque juro viver e morrer á +sombra da bandeira de Jules Simon, por nenhum preço a sombra da copa da olaia +de Antonio Feliciano de Castilho, que respeito como talento, como homem que +«<i>por entre os edificadores do futuro anda estudando o passado</i>», que +detesto como caracter, e como traficante convicto de cambio litterario: a +segunda porque sei que verdades amargas magoam o alifafe moral de consciencias +vulneraveis; porque sei que o principio da auctoridade, a immodestia +immoderada, a vaidade impertinente, a consciencia da suprema gloria e do ultimo +laudo em bom-senso e em bom-gosto são entidades congenitas do principio da +irritabilidade, e porque finalmente os desvios da má indole e as paixões +violentas da soberba indomavel e indelicada poderiam <i>tosquiar</i> algum +camêlo ou <i>fraco</i> ou <i>innocente</i>.</p> + +<p>Postas as cousas a esta luz, benefica para quem se allumiar d'ella no +interesse do futuro e dos tibios do proprio campo, conversemos um pouco.</p> + +<p>Eu não quiz ler o escripto de <i>Antonio Feliciano de Castilho</i> no livro +do sr. <i>Pinheiro Chagas</i>—<i>Poema da mocidade</i>—onde a proposito de +faltas de bom-senso e de bom-gosto se citam os nomes illustres—Theophilo +Braga—Vieira de Castro, e o teu «quasi desconhecido», e se <i>tosquia</i> sem +clemencia nem piedade, com odio, com azedume, a chamada eschola litteraria de +Coimbra, eschola que não existe, <i>camêlo</i> imaginario, <i>camêlo</i> creado +pelo sr. Castilho nas suas <i>segunda e terceira intenção</i>. Façamos justiça +á pontaria do genio. Encadernado na mais esplendida capa litteraria, que jámais +vimos, está o homem, que, fazendo fogo de caçador esperto, atira a dois alvos +ao mesmo tempo. É esta a verdade, isto o que é preciso ver e definir +detalhadamente.</p> + +<p>Eu não quiz ler, por ter lido a—<i>conversação preambular</i>—do D. Jayme, +do sr. Thomaz Ribeiro.</p> + +<p>Era razão de sobejo.</p> + +<p>Conheci o sr. Thomaz Ribeiro antes do seu poema, e o poema depois, que me +deliciei eu com o ouvir recitar ao proprio<span class="pn">{6}</span> auctor em +1860 na sociedade do dr. Antonio de Oliveira Silva Gaio; á sombra da copa de +nenhuma olaia, não; no seio da estima não mercadejada, da admiração +desinteressada, da livre apreciação, sim.</p> + +<p>Que o auctor fôra bafejado no berço por espiritos bons, fadado para destinos +melhores ainda, para uma independente e mais que muito justa reputação +litteraria, soubemo-lo, e dissemol-o nós então.</p> + +<p>O sr. Thomaz Antonio Ribeiro nascera tambem no seio da eschola liberal, ou, +o que mais val, acceitára por amor e convicção o principio na sua accepção mais +larga, na sua concepção mais absoluta, curando menos dos preceitos, e ainda +menos dos preconceitos de eschola. Muito intelligente, soube ser livre, tirou +de si seus recursos, trabalhou por sua conta e risco. Na pia baptismal do +trabalho purificou as suas crenças como homem e como escriptor, fortaleceu a +sua religião social e litteraria, não pedindo inspiração mais do que á fonte +commum, a propria natureza e a das cousas, alentos senão á vontade, que o +trabalhava, confortos senão á propria consciencia, elevação e independencia +sómente á sua dignidade, consolações sómente á maxima expressão de todo o +homem, a sua <i>moralidade</i>.</p> + +<p>Em 1860 pensavamos nós assim... Quem, quem havia de proferir a blasphemia +atroz, que o sr. Thomaz Ribeiro teria de sujeitar a sua bella creação poetica +ao insulto hypocrita da <i>primeira</i> cigarra de Anacreonte? Quem, conhecendo +o caracter do illustre escriptor, havia de suppor que para tanto e tão pouco +tivera bondade, modestia, terrores vagos, receios infundados?!...</p> + +<p>A nebulosa, a vaga, a astuta, a matreira, a equivoca—<i>conversação +preambular</i>—dera-nos a medida de uma prostituição e de uma infamia; aquella +de um, justificada, até certo ponto, e fertil de fecundos ensinamentos a +futuros escriptores; esta de outro, que, tendo um nome já grande, carece de um +outro nome para ser quanto merece.</p> + +<p><i>Saturnus exultavit; flevit honor. Saturnus exultavit cum maerore et +luctu</i>, como sempre.</p> + +<p>Um obreiro de menos, uma iniciativa de mais: um successo a meio caminho, +porque a inveja insidiosa o atraiçoou pelos trinta dinheiros da eschola do +interesse proprio!<span class="pn">{7}</span></p> + +<p><i>Saturnus flevit cum planctu magno</i>, e desatou a rir debaixo da copa da +sua olaia!</p> + +<p>A resignação é uma perpetua lagrima a sorrir-se: resignámo-nos. Estes +desvios de prumo não interrompem a construcção das pilastras de cada seculo, em +que vai assentando a abobeda da civilisação. Houve apenas um atrazo. Depois os +obreiros foram abrindo alicerces, baldeando materiaes, cimentando paredes, cada +um na medida das suas forças, livres de preceito extranho e official, da +correcção pretenciosa de um mestre de obras do passado, todos amigos, todos +innocentes e puros, todos desinteressados, e o que mais é, nefando crime, todos +apostolos do ideal!</p> + +<p>Eu, pobre de intelligencia, mas amigo do trabalho, do fundo do meu retiro, +da minha mansão de paz, minguada de tudo, menos de boa-vontade, estava +contemplando com amor, até mesmo com desvanecimento, esta liberdade de pensar, +estas auroras novas, este volitar de ideias, este grangeio livre de alimentos +futuros, este caminhar de cada um a sabor da propria responsabilidade, sem nem +sequer me lembrar da cigarra de Anacreonte e de que houve outr'ora uma +Divindade que comia os proprios filhos; de subito vejo um membro da commum +abandonar a christandade com a obra debaixo do braço....</p> + +<p>Era <i>Pinheiro Chagas</i>, que tambem abrira os olhos da alma á luz do +seculo que vai passando; um talento superior, um coração limpo de toda a +mancha, modesto tambem, e tambem fraco, tomado de terrores vagos, de infundados +receios, que dera os ultimos traços no—<i>Poema da mocidade</i>—e receoso que +lhe calumniassem a obra os invejosos confrades da religião nacional, ia ao +templo pagão sacrificar o cordeiro da sua independencia!</p> + +<p>Um sacerdote de crenças bem diversas das nossas na indole e na influencia +social acabava de ministrar o sanctissimo sacramento do baptismo litterario a +um nome que não carecia de mendigar calor alheio para crescer em celebridade e +honras bem merecidas!</p> + +<p>Cantava a <i>segunda</i> cigarra de Anacreonte na copa da frondosa olaia!</p> + +<p><i>Saturnus exultavit cum planctu magno.</i><span class="pn">{8}</span></p> +<hr class="dotted"> + +<p>Eu que estava neste momento, quando tudo isto se passava, distinguindo á luz +do <i>bom-senso e do bom-gosto</i> o paganismo e a ideia christã, abria pela +primeira vez a traducção dos <i>Fastos de Ovidio</i>, e pasmava, pasmava +sinceramente, de ver o hyerophante do seculo estabelecer o confronto do +seductor das sabinas e do casto Filho de Maria!</p> + +<p>Eu acabava de concluir na intimidade do meu pensamento, que os grandes +homens tinham jogado as nozes com os rapazes, e que dispensarem-se de dizer +<i>tolices</i> como elles seria falta de logica....</p> + +<p>Não obstante eu pedia ainda sobras á vontade para crer, que os talentos +saudosos do passado não negociavam com as suas crenças, quando o vento do +levante, entrando no meu gabinete de trabalho, me desdobrou a primeira pagina +do livro. Estava ahi escripta em lettras negras, grandes, famosas, uma +dedicatoria:</p> + +<blockquote> + <i>Ao incomparavel Duque de Saldanha!</i></blockquote> + +<p>O sol nascia d'esta vez no meu pacifico retiro: um facho de luz inundava-me +a fronte carregada de pensamentos tenebrosos, e o jubilo entrava em minha +alma!</p> + +<p>Mentira!</p> + +<p>A opinião publica era a Messalina devassa que se prostituira ainda uma vez +ao erro voluntario de uma calumnia vilã, vendendo uns restos de honestidade, +que nunca ninguem perdeu, ao odio eterno e inclemente das paixões +partidarias.</p> + +<p>A opinião publica <i>indignada</i>, cujos murmurios escutava com vago +terror, que eu julgava apenas suffocada pela força das <i>conveniencias</i>, +mas distinguindo já através das sombras da posteridade um annel de fogo +envolvendo dois astros, que até mesmo no abysmo das miseraveis vergonhas, a que +sub-serviram, tiveram luz para se esconderem as pustulas dos olhos +investigadores da geração, que, cometas funestos, esterilisaram por um lado, +desmoralisaram por outro, instruiram pelo ultimo; a opinião-publica, que via, +que proclamava tudo isto, não era dominada senão pela odio dos Titães, o odio +que tentava escalar os astros, que na obra do paganismo enlaçaram suas orbitas +para maior gloria do Christianismo!<span class="pn">{9}</span></p> + +<p>E todavia era uma infamia!</p> + +<p>Eu via, não podia duvidar: um genio coroava outro!</p> + +<p>Os pobres de espirito como eu poderiam errar, depositando uma oblata christã +sobre as aras ensanguentadas de Mavorte: os sanctos innocentes da eschola de +Coimbra poderiam ignorar as noções mais vulgares do bem e do mal, a mais +simples regra de honestidade, o mais ostensivo principio de moral practica e de +moral christã; mas a intelligencia, o genio, o talento, a philosophia, a +historia, a luz, a vista de aguia, não, não, e não podiam ver a infamia, onde +só mora a virtude, o ultramontanismo, onde só mora a liberdade, a reacção, onde +repousa a inercia, o templario politico, onde se aninha a pomba innocente e +immaculada, de olhar azul e candido, magico, sereno, celestial, divino.</p> + +<p>E eu, que ás cinco horas da madrugada ia ser um ecco da opinião publica, e +de uma infame calumnia, ás oito sou apenas um bemaventurado!</p> + +<p>Eu ia talvez dizer, se o vento do levante me não traz aos olhos +a—<i>dedicatoria</i>—que quaesquer que fossem os nomes, que os nomes dos +grandes pretendessem illuminar e impôr aos livres pensadores da eschola +liberal, desciam, baixavam á condição servil dos que procuram diluir o successo +no expediente, justificar a immoralidade e a baixeza da alienação do seu +primeiro direito absoluto com o bom successo do jogo de fundos litterarios; +insinuar talvez, que existia ainda uma litteratura unica, embora absurda, +embora <i>metaphysica</i>, embora inintelligivel e portanto ideal, ou ideal e +portanto inintelligivel, embora asnatica, embora desgraciosa na essencia e na +fórma—innocente, casta, pura, independente, espiritualista, moralisadora antes +de tudo e sobre tudo; que essa litteratura era a que se condemnava pelo talento +serio de Antonio Feliciano de Castilho no—<i>Poema da +mocidade</i>—litteratura que se não prostituira nos mercados publicos ao +osculo do primeiro Judas litterario do seculo. Se não existira uma atmosphera, +pura e buliçosa, onde podessemos ainda respirar, ia proclamar bem alto, que a +litteratura de Antheros, de Vieira de Castro, de Theophylo Braga, de todos os +Bragas, de todos os escriptores nobilitados pelo cunho da sua independencia, de +Coimbra, do Porto, de Lisboa, não é o producto liquido e homogeneo de nenhuma +eschola, porque<span class="pn">{10}</span> tal não existe em parte alguma, e +menos em Coimbra; que o primeiro estylista do paiz a classificara assim para +practicar uma dupla baixeza, impropria de um talento raro e serio, de um homem +honesto, desambicioso, desinteressado; diria comtigo, Anthero—«Combatem-se os +herejes da eschola de Coimbra por causa do negro crime de sua dignidade, e do +atrevimento de sua reputação moral, do attentado de sua probidade litteraria, +da impudencia e miseria de serem independentes e pensarem por suas cabeças. E +combatem-se por faltarem ás virtudes de respeito humilde ás vaidades +omnipotentes, de submissão estupida, de baixeza e pequenez moral e +intellectual... Mas é que a eschola de Coimbra commetteu effectivamente alguma +cousa peor de que um crime—commetteu uma grande falta: <i>quiz innovar</i>. +Ora, para as litteraturas officiaes, para as reputações estabelecidas, mais +criminoso do que manchar a verdade com a baba dos sophismas, do que envenenar +com o erro as fontes do espirito publico, do que pensar mal, do que escrever +pessimamente, peior do que isto é essa falta de querer caminhar por si, de +<i>dizer</i>, e não <i>repetir</i>; de <i>inventar</i>, e não de <i>copiar</i>. +Porque? Porque todos os outros crimes eram contra as ideias: haveria sempre um +perdão para elles. Mas esta falta era contra as pessoas; e essas taes são +imperdoaveis.» Commettendo sem duvida a esquerda indiscrição de asseverar que +aquella dupla baixeza consistia em envolver ao mesmo tempo tres nomes +distinctos, que nunca lhe pediram ao mestre nem protecção nem arrimo, na mesma +damnação do seu orgulho omnipotente, e presuppôr, armar, construir do alicerce +até á telha uma eschola litteraria em Coimbra, para a atirar á cara da +universidade, que o fez poeta e grande, cerrando-lhe as portas do magisterio, +porque a vida de lente é a cousa mais sinceramente prosaica, que ainda +houve—Affirmaria sem duvida que este odio é negro, é velho, e ha de ser +eterno! Diria que em principios do anno de 1835 a universidade foi vivamente +atacada pelos então chamados—<i>Institutarios</i>—que, contando com as luctas +e dissenções dos correligionarios dos dois partidos extremos, que então se +dilaceravam no proprio seio da universidade, a desprestigiavam e calumniavam a +academia d'esses tempos, servindo-se de uma imprensa corrupta e vendida a um +certo frade, que não achava desgostosa<span class="pn">{11}</span> a tisana de +lodo que do Tibre lhe mandaram para beber. Tractava-se nem mais nem menos do +que da mudança da universidade para Lisboa, onde os obreiros, negros na +<i>alma</i> e no <i>habito</i>, tinham o seu principal centro de operações, +onde seria arma terrivel contra as instituições liberaes: que a bella e +intelligente fronte da estudiosa adolescente do paiz, vendo que lhe roubavam a +liberdade e a honra, despertara da somnolencia dos que soffrem, porque têm +vida, que lhes não deixam viver, e, acalentada pelos generosissimos e +liberalissimos sentimentos de alguns academicos distinctos, acceitára a luva que +se jogava á universidade: que o jornal, o <i>Academico</i>, fôra publicado em +principios do anno de 1835, e dahi até 28 de junho do mesmo anno, em 49 +numeros, evidenciára que á litteratura de Coimbra não presta para baixezas, mas +póde e sabe saldar as suas dividas de honra: que todos os artigos do +<i>Academico</i>, jornal ao mesmo tempo litterario, scientifico e politico, +d'aquella politica que convém a academicos—a da imparcialidade—respiravam +tanto bom-senso, tanto bom-gosto, e tanta moderação, que foram elles que +semearam no meio do paiz opiniões mais justas e sensatas sobre a questão +universitaria, que a final foi julgada pelo parlamento do modo mais lisongeiro +para a universidade. Perguntaria depois d'isto ao sabio distincto, ao engenho +raro:—Ereis estranho á seita dos—<i>Institutarios</i>—conhecieis-l'os, +vistel-os, sabieis-lhes os nomes, apertastes-lhes as mãos, assentastes-vos com +elles á sombra da copa da vossa olaia a conversar, com razão ou sem ella, «em +practica chã, desenfadada e satisfeita, como é de uso entre lavradores chãos e +abonados depois de uma colheita abençoada»?!—Com a mão sobre a cabeça +respondei, senhor! Eu creio-vos, eu proclamei o dogma da vossa infallibilidade: +vós não podeis errar, enganar, e menos ser enganado!</p> + +<p>Se aquella veridica—<i>dedicatoria</i>—me não illuminasse o espirito, +diria que em 1854 o conselho de decanos da universidade negára ao illustre +escriptor a sala dos capellos, que sollicitára para ensinar á <i>eschola</i> de +Coimbra o methodo de leitura repentina, com bem fundados receios de que os +nossos monarchas, os representantes de setecentos e cincoenta e quatro annos de +cousas serias, ririam até rebentar, o que não era bonito: que por essa +occasião, no salão do Instituto,<span class="pn">{12}</span> o auctor do +methodo se dignára manifestar a consideração em que pôz sempre a universidade: +que o ouvi eu, que tenho o orgulho de ser d'aquelles, que nunca deixaram cobrir +da poeira do esquecimento insultos ou perolas que de maduras cahissem na sua +presença de labios sibylinos, ou viperinos: affirmaria que o sr. Antonio +Feliciano de Castilho na sua ultima visita a Coimbra azedou com a suprema +injuria da nenhuma practica que teve com academicos á sombra da copa da sua +olaia, porque nem um só devoto, ao que me disseram, queimou um só grão de +incenso e myrrha ao idolo dos que por modestia, por bondade, por terror, por +imitação, vão mendigar á sua porta um obulo da graça das multidões, que com +razão o admiram nas suas inimitaveis traducções, nos seus poemas, nas suas +imitações, e até mesmo nas inimitaveis contrafações do seu caracter.</p> + +<p>Continuaria a dizer, que a cousa assim é mais commoda e mais decente, porque +é arteira, porque deixa sempre livre á tangente do seu odio por todos e por +tudo o systema matreiro da raposa velha. E diria ainda em termos mais claros: o +Ovidio portuguez, temendo «aventurar a <i>vida</i> por desempenhar um pontinho +de honra propria», preparou e prepara sempre previdentemente o terreno de +vespera, semeia o pomo da discordia em propriedade alheia, e deixa ao +proprietario, agradecido da sua abençoada lavoura, o cuidado de defender os +renovos. Já cançado de <i>tosquiar</i> camêlos, como tão classicamente escreve, +assenta-se com razão a conversar em practica chã, desenfadada e satisfeita, +como é de uso de lavradores depois de uma feia acção, á sombra da copa da sua +olaia, e, reclamando serviço por serviço, entrega a defeza das suas causas e +cousas graves áquelles a quem deu saude e graça para correrem mundo. Habil +piloto, deposita nas mãos dos remeiros, a quem alugou a barca de passagem, o +fardo da sua dignidade, para lh'o levarem a porto de salvamento. Se o fardo +chega avariado, como é mais que provavel, aos consignatarios da opinião +publica—<i>aqui d'el-rei</i>—que foram elles que o deixaram ao tempo! e eil-o +a chamar gallego a todo o mundo, inclusivamente ao mais honrado e independente +caracter, que ainda houve nesta terra—o sr. A. Herculano! No entretanto a +cigarra de Anacreonte vae cantando sobre a copa da proverbial olaia: e o +Saturno portuguez, tomando<span class="pn">{13}</span> á sombra d'ella o café +confortador, para mais facil digestão dos tenros cordeirinhos que a cigarra +<i>tosquiou</i>, e elle comeu para ficar sosinho no seculo actual como agente, +e os bôlos litterarios nacionaes como pacientes.</p> + +<p>Isto sim, que é obra prima, accrescentaria eu, da mais fina +<i>methaphysica</i>; isto sim, que é a expressão do mais puro ideal de refinada +pouca-vergonha! É verdade que não aproveita a ninguem, nem á humanidade actual, +nem ás futuras, nem a coevos, nem a vindouros, nem á Allemanha, nem á França, +nem a Turim, nem ao Porto, nem a Lisboa, nem á infame <i>eschola</i> litteraria +de Coimbra, que fazem escala por caminhos de honra e honestidade, mas +aproveita-lhe a elle, ao seu orgulho feroz, mas ás suas entranhas insaciaveis +de tudo, como de gloria, mas ao seu velho odio sem treguas, sem clemencia, sem +repouso, mas á sua suprema soberba e á sua infinita vaidade.</p> + +<p>Elle, o mestre; elle, o poeta da arte; elle, o sabio; elle, a intelligencia, +que com mais felicidade e facilidade tem sabido assoalhar as abundantes e +abençoadas sementes, que por ahi estavam por celleiros classicos a apodrecer na +humidade e no abandono; elle, a mais esplendida e luxuriosa fórma que tem +vestido lettras portuguezas; elle, o privilegiado do genio; elle, o que devia +em fogo inextinguivel de amor e honestidade alimentar os primeiros attributos +da divindade, que allumiam o destino de cada homem, e de cada sociedade; elle, +que devia, e como poucos podia, bafejar todas as vocações; acompanhar com +respeito, com veneração, com dulcidão d'alma, com candor de coração, toda a +<i>eschola</i> nascente, toda a ideia nova e original, ao menos nesta terra; +toda a <i>utopia</i>, amiga do bom, do util, do social; todo o esforço dos +limpos de coração, para tornar a humanidade mais ideia, menos argilla; mais +absoluto, menos relativo; mais bem, menos miseria; mais virtude, menos +abjecção; mais amor, menos calculo; mais elevação moral, menos torpeza; mais +religião, menos descrença; mais perdão, menos vindicta; mais caridade, menos +odio; elle, que devia esmagar nos abysmos do coração, com a mão firme da +vontade, os seus resentimentos particulares, e as reclamações exaggeradas da +aspiração da gloria; domar pela sagacidade o que em todo o homem existe de fera +humana, cicatrisar pela braza viva do<span class="pn">{14}</span> seu talento +de fogo a ferida do seu peccado original, enfrear o sentimento da paixão +individual, pela superior consideração dos interesses sociaes de qualquer +ordem; este homem, que devia comprehender que todos os da sua esphera já hoje +não podem nascer, sem perigo de damnação social, para se consumirem no +sentimento mesquinho do egoismo e interesse proprios, senão sim para +allumiarem, como o sol, que não cuida de si, do nascimento ao occaso um +hemispherio da sociedade, do occaso ao nascimento os antipodas do progresso; +elle, Castilho, falsifica ignominiosamente a sua missão no seio da eschola +liberal, dá cada dia um abraço angustioso na ambição, que o domina, attrela-se +ao carro da inveja insidiosa, julga ainda pequenas as lettras de luz do seu +nome, que ninguem já póde apagar-lhe nas memorias do porvir, e chafurda-se como +a serpente do Eden na tremedal da hypocrisia astuta, offerecendo com palavras +ensopadas em ambrosia e nectar o pomo enganador aos Evangelistas da <i>Divina +palavra</i>, que hão-de levar com os seus o nome do <i>Verbo</i> aos quatro +cantos do universo e ás christandades por-vir.</p> + +<p>A mim rasgava-se-me o coração se tivesse dito tudo isto, convencido de um +erro; se a aragem da madrugada do dia 20 de novembro de 1865, impregnada do +espirito invisivel da verdade, desdobrando aquella primeira folha da traducção +de Ovidio, me não viera evidenciar, que o nome de um christão póde egualar o de +um pagão, por consentimento tacito do segundo, e acceitação expressa do +primeiro.</p> + +<p>Mas então a que vim eu?—perguntarás tu, Theophylo Braga, Vieira de +Castro.</p> + +<p>A dizer-vos, que Anthero do Quental póde e deve confessar que não teria +publicado a pagina decima primeira da sua Carta, se ao concluil-a abrisse, por +desenfado, o <i>Camões</i> de Antonio Feliciano de Castilho, e o gostasse com +todos os cinco sentidos; se, virgulando o que escrevera, houvesse tempo para +ter em mór valia e consideração o seu bom-senso e bom-gosto, que os seus, aliás +justos, resentimentos: não a agradecer-vos o delicado favor da vossa amisade, +que não vem para aqui, ou a absolver-vos de peccados, que todos commettemos +mais ou menos, mas a descarregar a minha consciencia de um pêso que de ha muito +a mortificava; a asseverar-vos finalmente que, digam o que disserem os +Sanctos<span class="pn">{15}</span> Padres, que venero; os canones dos +Concilios, que leio; os decretos e bullas dos pontifices, que em conta de boas +bullas terei sempre; chovam raios e coriscos sobre a triste humanidade; +rasgue-se o véu do templo; sôe embora a trombeta do Juizo Final; resuscitem as +provas de agua e fogo; até morrer, e ainda mesmo a morrer hei-de exclamar pelas +mil boccas da minha fera vontade:</p> + +<blockquote> + <i>É o sol que está parado, é a terra que se move.</i></blockquote> + +<p>Dito isto, vou ler pela centesima vez a lei de 18 de agosto de 1769, a lei +da <i>Boa-razão</i>. É fastidiosa, detestavel, pessima para uns certos, que se +acoitam á sombra da arvore do bem e do mal a ruminarem torpezas é iniquidades; +uberrima, recreativa, bonissima para outros que, quando menos, têm o bom-senso +e o bom-gosto de a lerem, e comprehenderem.</p> + +<p>No sentido que deixo dito</p> + +<p> </p> + +<p style="text-align:right;margin-left:auto;margin-right:20%;">Vosso</p> + +<p style="text-align:right;margin-left:auto;margin-right:10%;"><em>Elmano da +Cunha.</em></p> +</div> + + + + + + + +<pre> + + + + + +End of the Project Gutenberg EBook of Carta em resposta a outra bom senso e +bom gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr, by Elmano da Cunha + +*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA EM RESPOSTA A OUTRA *** + +***** This file should be named 32790-h.htm or 32790-h.zip ***** +This and all associated files of various formats will be found in: + https://www.gutenberg.org/3/2/7/9/32790/ + +Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images +of public domain material from Google Book Search) + + +Updated editions will replace the previous one--the old editions +will be renamed. + +Creating the works from public domain print editions means that no +one owns a United States copyright in these works, so the Foundation +(and you!) can copy and distribute it in the United States without +permission and without paying copyright royalties. Special rules, +set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to +copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to +protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. 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It exists +because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from +people in all walks of life. + +Volunteers and financial support to provide volunteers with the +assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's +goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will +remain freely available for generations to come. In 2001, the Project +Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure +and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations. +To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation +and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4 +and the Foundation web page at https://www.pglaf.org. + + +Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive +Foundation + +The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit +501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the +state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal +Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification +number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at +https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg +Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent +permitted by U.S. federal laws and your state's laws. + +The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S. +Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered +throughout numerous locations. Its business office is located at +809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email +business@pglaf.org. 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