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authorRoger Frank <rfrank@pglaf.org>2025-10-14 19:58:15 -0700
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+The Project Gutenberg EBook of Carta em resposta a outra bom senso e bom
+gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr, by Elmano da Cunha
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: Carta em resposta a outra bom senso e bom gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr
+
+Author: Elmano da Cunha
+
+Release Date: June 13, 2010 [EBook #32790]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA EM RESPOSTA A OUTRA ***
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+
+Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
+of public domain material from Google Book Search)
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+ CARTA
+
+ DE
+
+ ELMANO DA CUNHA
+
+ EM RESPOSTA A OUTRA
+
+ BOM-SENSO E BOM-GOSTO
+
+ DIRIGIDA POR
+
+ ANTHERO DO QUENTAL
+
+ AO EXCELLENTISSIMO SENHOR
+
+ ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO
+
+ O INCOMPARAVEL TRADUCTOR DOS FASTOS DE OVIDIO
+ OBRA EM QUE SE FAZ O CONFRONTO DE ROMULO E JESUS-CHRISTO
+ OFFERECIDA AO INCOMPARAVEL
+ DUQUE DE SALDANHA
+
+
+
+ COIMBRA
+ IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
+ 1865
+
+
+
+
+ CARTA
+
+ DE
+
+ ELMANO DA CUNHA
+
+ EM RESPOSTA A OUTRA
+
+ BOM-SENSO E BOM-GOSTO
+
+ DIRIGIDA POR
+
+ ANTHERO DO QUENTAL
+
+ AO EXCELLENTISSIMO SENHOR
+
+ ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO
+
+ O INCOMPARAVEL TRADUCTOR DOS FASTOS DE OVIDIO
+ OBRA EM QUE SE FAZ O CONFRONTO DE ROMULO E JESUS-CHRISTO
+ OFFERECIDA AO INCOMPARAVEL
+ DUQUE DE SALDANHA
+
+
+
+ COIMBRA
+ IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
+ 1865
+
+
+
+
+ Em Coimbra: ás 5 horas da madrugada do dia 20 de novembro de 1865;
+ ao concluir um innocente e util trabalho em que se pretende
+ demonstrar, que ao cantar da _segunda_ cigarra de Anacreonte, sob a
+ copa da frondosa olaia do Saturno portuguez, se está forjando o
+ dogma da infallibilidade litteraria do sobredito senhor; proclamando
+ o dom da inerrancia do mesmo; resuscitando um odio velho contra a
+ universidade de coimbra; condemnando o producto espontaneo do
+ trabalho intellectual, livre e independente; fazendo sordida
+ mercancia do futuro--_a quem mais der_--; permutando a lisonja vilan
+ pelos 30 dinheiros pharisaicos; transigindo ignominiosamente com as
+ paixões egoistas da actualidade a troco das ovações da burguezia,
+ senhora das situações prosperas e beneficentes.
+
+Amigo--Em que cyclo social andaram os talentos d'esta, ou de outra
+qualquer terra, pela arreata das auctoridades?!...
+
+Em que geração andaram aguadeiros litterarios, com os canecos do genio
+ás costas, dessedentando os sequiosos de verdade e inspiração,
+aspergindo a agua lustral no seio das multidões, fornecendo as fontes do
+espirito publico, pregoando a superior qualidade do producto litterario
+ou scientifico nacional, porque traz a marca d'alfandega--A. F. C.?!...
+
+.........................................................................
+
+Pobres dos pilotos da humanidade se, tendo, através da esteira dos
+tempos, que vão cahindo nos abysmos do passado, conduzido as
+civilisações com a unica bussola do seu livre alvedrio, têm no seculo
+XIX de fazer a figura de amphoras humanas nas mãos do primeiro aguadeiro
+ambicioso!?...
+
+A mim, que fui embalado com os primeiros vagidos da eschola liberal, a
+unica que tem as regalias, os privilegios, os foros da independencia, a
+unica, que tem um axioma por principio, tinham-me dito, que a liberdade
+de toda a industria humana é a primeira condição do seu desinvolvimento
+e progressos; que o principio da responsabilidade individual é o
+primeiro motor do bello, do grande, do util, do ideal; que o prysma
+social tem apenas algumas faces, que reflectem já a septiforme côr da
+aurora boreal do futuro, e infinitas que, os que nos precederam,
+deixaram na obscuridade, e que é forçoso clarear de viva luz; que ao
+livre trabalho do pensamento incumbe esta tarefa civilisadora; que a da
+«mercancia por avareza, das lettras por vaidade, dos litigios
+prolongados por caprichoso empenho», tem sido a thenia enorme que,
+inoculando-se no coração das sociedades, vai seccando as fontes da
+moralidade, viciando e prevertendo os abundantes succos nutritivos da
+arvore do bem, torcendo vigorosos musculos sociaes, prostituindo a
+mulher, desatando os vinculos da familia,--o fogo sagrado do
+Estado,--dividindo os interesses da communa, semeando a descrença e o
+desconforto nos orgãos da nacionalidade.
+
+A mim tinham-me dito principalmente, que a suprema fórmula de todo o
+homem, é a sua moralidade e independencia; que esta consistia em ser
+cada um responsavel pelo que pensa perante Deus, pelo que sente perante
+a sua consciencia, pelo que escreve, pelo que diz perante a sociedade.
+
+Seria eu victima de um embuste grosseiro? Enganar-me-iam os apostolos do
+Evangelho da liberdade a mim, que, sincero, puro e innocente, os
+escutava em religioso silencio, numa quasi que idolatria?!...
+
+Tu, meu amigo, dizes-me que não; que o facto póde traduzir uma abjecção
+moral, uma torpeza de todo o ponto condemnavel, mas que isto não é mais
+que um accidente, susceptivel de correcção e exemplo: que a these é a
+que bebemos com o leite da nova mãe social, aquella que me convida a
+junctar hoje ao teu nome «quasi desconhecido» o meu que apenas consta de
+um assento de baptismo que nunca ninguem leu.
+
+Deixo-o ahi escripto por duas considerações sómente; a primeira como
+protesto, a segunda como cautela; a primeira, porque juro viver e morrer
+á sombra da bandeira de Jules Simon, por nenhum preço a sombra da copa
+da olaia de Antonio Feliciano de Castilho, que respeito como talento,
+como homem que «_por entre os edificadores do futuro anda estudando o
+passado_», que detesto como caracter, e como traficante convicto de
+cambio litterario: a segunda porque sei que verdades amargas magoam o
+alifafe moral de consciencias vulneraveis; porque sei que o principio da
+auctoridade, a immodestia immoderada, a vaidade impertinente, a
+consciencia da suprema gloria e do ultimo laudo em bom-senso e em
+bom-gosto são entidades congenitas do principio da irritabilidade, e
+porque finalmente os desvios da má indole e as paixões violentas da
+soberba indomavel e indelicada poderiam _tosquiar_ algum camêlo ou
+_fraco_ ou _innocente_.
+
+Postas as cousas a esta luz, benefica para quem se allumiar d'ella no
+interesse do futuro e dos tibios do proprio campo, conversemos um pouco.
+
+Eu não quiz ler o escripto de _Antonio Feliciano de Castilho_ no
+livro do sr. _Pinheiro Chagas_--_Poema da mocidade_--onde a
+proposito de faltas de bom-senso e de bom-gosto se citam os nomes
+illustres--Theophilo Braga--Vieira de Castro, e o teu «quasi
+desconhecido», e se _tosquia_ sem clemencia nem piedade, com odio, com
+azedume, a chamada eschola litteraria de Coimbra, eschola que não
+existe, _camêlo_ imaginario, _camêlo_ creado pelo sr. Castilho nas suas
+_segunda e terceira intenção_. Façamos justiça á pontaria do genio.
+Encadernado na mais esplendida capa litteraria, que jámais vimos, está o
+homem, que, fazendo fogo de caçador esperto, atira a dois alvos ao mesmo
+tempo. É esta a verdade, isto o que é preciso ver e definir detalhadamente.
+
+Eu não quiz ler, por ter lido a--_conversação preambular_--do D. Jayme,
+do sr. Thomaz Ribeiro.
+
+Era razão de sobejo.
+
+Conheci o sr. Thomaz Ribeiro antes do seu poema, e o poema depois, que
+me deliciei eu com o ouvir recitar ao proprio auctor em 1860 na
+sociedade do dr. Antonio de Oliveira Silva Gaio; á sombra da copa de
+nenhuma olaia, não; no seio da estima não mercadejada, da admiração
+desinteressada, da livre apreciação, sim.
+
+Que o auctor fôra bafejado no berço por espiritos bons, fadado para
+destinos melhores ainda, para uma independente e mais que muito justa
+reputação litteraria, soubemo-lo, e dissemol-o nós então.
+
+O sr. Thomaz Antonio Ribeiro nascera tambem no seio da eschola liberal,
+ou, o que mais val, acceitára por amor e convicção o principio na sua
+accepção mais larga, na sua concepção mais absoluta, curando menos dos
+preceitos, e ainda menos dos preconceitos de eschola. Muito
+intelligente, soube ser livre, tirou de si seus recursos, trabalhou por
+sua conta e risco. Na pia baptismal do trabalho purificou as suas
+crenças como homem e como escriptor, fortaleceu a sua religião social e
+litteraria, não pedindo inspiração mais do que á fonte commum, a propria
+natureza e a das cousas, alentos senão á vontade, que o trabalhava,
+confortos senão á propria consciencia, elevação e independencia sómente
+á sua dignidade, consolações sómente á maxima expressão de todo o homem,
+a sua _moralidade_.
+
+Em 1860 pensavamos nós assim... Quem, quem havia de proferir a
+blasphemia atroz, que o sr. Thomaz Ribeiro teria de sujeitar a sua bella
+creação poetica ao insulto hypocrita da _primeira_ cigarra de
+Anacreonte? Quem, conhecendo o caracter do illustre escriptor, havia de
+suppor que para tanto e tão pouco tivera bondade, modestia, terrores
+vagos, receios infundados?!...
+
+A nebulosa, a vaga, a astuta, a matreira, a equivoca--_conversação
+preambular_--dera-nos a medida de uma prostituição e de uma infamia;
+aquella de um, justificada, até certo ponto, e fertil de fecundos
+ensinamentos a futuros escriptores; esta de outro, que, tendo um nome já
+grande, carece de um outro nome para ser quanto merece.
+
+_Saturnus exultavit; flevit honor. Saturnus exultavit cum maerore et
+luctu_, como sempre.
+
+Um obreiro de menos, uma iniciativa de mais: um successo a meio caminho,
+porque a inveja insidiosa o atraiçoou pelos trinta dinheiros da eschola
+do interesse proprio!
+
+_Saturnus flevit cum planctu magno_, e desatou a rir debaixo da copa da
+sua olaia!
+
+A resignação é uma perpetua lagrima a sorrir-se: resignámo-nos. Estes
+desvios de prumo não interrompem a construcção das pilastras de cada
+seculo, em que vai assentando a abobeda da civilisação. Houve apenas um
+atrazo. Depois os obreiros foram abrindo alicerces, baldeando materiaes,
+cimentando paredes, cada um na medida das suas forças, livres de
+preceito extranho e official, da correcção pretenciosa de um mestre de
+obras do passado, todos amigos, todos innocentes e puros, todos
+desinteressados, e o que mais é, nefando crime, todos apostolos do ideal!
+
+Eu, pobre de intelligencia, mas amigo do trabalho, do fundo do meu
+retiro, da minha mansão de paz, minguada de tudo, menos de boa-vontade,
+estava contemplando com amor, até mesmo com desvanecimento, esta
+liberdade de pensar, estas auroras novas, este volitar de ideias, este
+grangeio livre de alimentos futuros, este caminhar de cada um a sabor da
+propria responsabilidade, sem nem sequer me lembrar da cigarra de
+Anacreonte e de que houve outr'ora uma Divindade que comia os proprios
+filhos; de subito vejo um membro da commum abandonar a christandade com
+a obra debaixo do braço....
+
+Era _Pinheiro Chagas_, que tambem abrira os olhos da alma á luz do
+seculo que vai passando; um talento superior, um coração limpo de toda a
+mancha, modesto tambem, e tambem fraco, tomado de terrores vagos, de
+infundados receios, que dera os ultimos traços no--_Poema da
+mocidade_--e receoso que lhe calumniassem a obra os invejosos confrades
+da religião nacional, ia ao templo pagão sacrificar o cordeiro da sua
+independencia!
+
+Um sacerdote de crenças bem diversas das nossas na indole e na
+influencia social acabava de ministrar o sanctissimo sacramento do
+baptismo litterario a um nome que não carecia de mendigar calor alheio
+para crescer em celebridade e honras bem merecidas!
+
+Cantava a _segunda_ cigarra de Anacreonte na copa da frondosa olaia!
+
+_Saturnus exultavit cum planctu magno._
+
+.........................................................................
+
+Eu que estava neste momento, quando tudo isto se passava, distinguindo á
+luz do _bom-senso e do bom-gosto_ o paganismo e a ideia christã, abria
+pela primeira vez a traducção dos _Fastos de Ovidio_, e pasmava, pasmava
+sinceramente, de ver o hyerophante do seculo estabelecer o confronto do
+seductor das sabinas e do casto Filho de Maria!
+
+Eu acabava de concluir na intimidade do meu pensamento, que os grandes
+homens tinham jogado as nozes com os rapazes, e que dispensarem-se de
+dizer _tolices_ como elles seria falta de logica....
+
+Não obstante eu pedia ainda sobras á vontade para crer, que os talentos
+saudosos do passado não negociavam com as suas crenças, quando o vento
+do levante, entrando no meu gabinete de trabalho, me desdobrou a
+primeira pagina do livro. Estava ahi escripta em lettras negras,
+grandes, famosas, uma dedicatoria:
+
+ _Ao incomparavel Duque de Saldanha!_
+
+O sol nascia d'esta vez no meu pacifico retiro: um facho de luz
+inundava-me a fronte carregada de pensamentos tenebrosos, e o jubilo
+entrava em minha alma!
+
+Mentira!
+
+A opinião publica era a Messalina devassa que se prostituira ainda uma
+vez ao erro voluntario de uma calumnia vilã, vendendo uns restos de
+honestidade, que nunca ninguem perdeu, ao odio eterno e inclemente das
+paixões partidarias.
+
+A opinião publica _indignada_, cujos murmurios escutava com vago terror,
+que eu julgava apenas suffocada pela força das _conveniencias_, mas
+distinguindo já através das sombras da posteridade um annel de fogo
+envolvendo dois astros, que até mesmo no abysmo das miseraveis
+vergonhas, a que sub-serviram, tiveram luz para se esconderem as
+pustulas dos olhos investigadores da geração, que, cometas funestos,
+esterilisaram por um lado, desmoralisaram por outro, instruiram pelo
+ultimo; a opinião-publica, que via, que proclamava tudo isto, não era
+dominada senão pela odio dos Titães, o odio que tentava escalar os
+astros, que na obra do paganismo enlaçaram suas orbitas para maior
+gloria do Christianismo!
+
+E todavia era uma infamia!
+
+Eu via, não podia duvidar: um genio coroava outro!
+
+Os pobres de espirito como eu poderiam errar, depositando uma oblata
+christã sobre as aras ensanguentadas de Mavorte: os sanctos innocentes
+da eschola de Coimbra poderiam ignorar as noções mais vulgares do bem e
+do mal, a mais simples regra de honestidade, o mais ostensivo principio
+de moral practica e de moral christã; mas a intelligencia, o genio, o
+talento, a philosophia, a historia, a luz, a vista de aguia, não, não, e
+não podiam ver a infamia, onde só mora a virtude, o ultramontanismo,
+onde só mora a liberdade, a reacção, onde repousa a inercia, o templario
+politico, onde se aninha a pomba innocente e immaculada, de olhar azul e
+candido, magico, sereno, celestial, divino.
+
+E eu, que ás cinco horas da madrugada ia ser um ecco da opinião publica,
+e de uma infame calumnia, ás oito sou apenas um bemaventurado!
+
+Eu ia talvez dizer, se o vento do levante me não traz aos olhos
+a--_dedicatoria_--que quaesquer que fossem os nomes, que os nomes dos
+grandes pretendessem illuminar e impôr aos livres pensadores da eschola
+liberal, desciam, baixavam á condição servil dos que procuram diluir o
+successo no expediente, justificar a immoralidade e a baixeza da
+alienação do seu primeiro direito absoluto com o bom successo do jogo de
+fundos litterarios; insinuar talvez, que existia ainda uma litteratura
+unica, embora absurda, embora _metaphysica_, embora inintelligivel e
+portanto ideal, ou ideal e portanto inintelligivel, embora asnatica,
+embora desgraciosa na essencia e na fórma--innocente, casta, pura,
+independente, espiritualista, moralisadora antes de tudo e sobre tudo;
+que essa litteratura era a que se condemnava pelo talento serio de
+Antonio Feliciano de Castilho no--_Poema da mocidade_--litteratura que
+se não prostituira nos mercados publicos ao osculo do primeiro Judas
+litterario do seculo. Se não existira uma atmosphera, pura e buliçosa,
+onde podessemos ainda respirar, ia proclamar bem alto, que a litteratura
+de Antheros, de Vieira de Castro, de Theophylo Braga, de todos os
+Bragas, de todos os escriptores nobilitados pelo cunho da sua
+independencia, de Coimbra, do Porto, de Lisboa, não é o producto liquido
+e homogeneo de nenhuma eschola, porque tal não existe em parte
+alguma, e menos em Coimbra; que o primeiro estylista do paiz a
+classificara assim para practicar uma dupla baixeza, impropria de um
+talento raro e serio, de um homem honesto, desambicioso, desinteressado;
+diria comtigo, Anthero--«Combatem-se os herejes da eschola de Coimbra
+por causa do negro crime de sua dignidade, e do atrevimento de sua
+reputação moral, do attentado de sua probidade litteraria, da impudencia
+e miseria de serem independentes e pensarem por suas cabeças. E
+combatem-se por faltarem ás virtudes de respeito humilde ás vaidades
+omnipotentes, de submissão estupida, de baixeza e pequenez moral e
+intellectual... Mas é que a eschola de Coimbra commetteu effectivamente
+alguma cousa peor de que um crime--commetteu uma grande falta: _quiz
+innovar_. Ora, para as litteraturas officiaes, para as reputações
+estabelecidas, mais criminoso do que manchar a verdade com a baba dos
+sophismas, do que envenenar com o erro as fontes do espirito publico, do
+que pensar mal, do que escrever pessimamente, peior do que isto é essa
+falta de querer caminhar por si, de _dizer_, e não _repetir_; de
+_inventar_, e não de _copiar_. Porque? Porque todos os outros crimes
+eram contra as ideias: haveria sempre um perdão para elles. Mas esta
+falta era contra as pessoas; e essas taes são imperdoaveis.» Commettendo
+sem duvida a esquerda indiscrição de asseverar que aquella dupla baixeza
+consistia em envolver ao mesmo tempo tres nomes distinctos, que nunca
+lhe pediram ao mestre nem protecção nem arrimo, na mesma damnação do seu
+orgulho omnipotente, e presuppôr, armar, construir do alicerce até á
+telha uma eschola litteraria em Coimbra, para a atirar á cara da
+universidade, que o fez poeta e grande, cerrando-lhe as portas do
+magisterio, porque a vida de lente é a cousa mais sinceramente prosaica,
+que ainda houve--Affirmaria sem duvida que este odio é negro, é velho, e
+ha de ser eterno! Diria que em principios do anno de 1835 a universidade
+foi vivamente atacada pelos então chamados--_Institutarios_--que,
+contando com as luctas e dissenções dos correligionarios dos dois
+partidos extremos, que então se dilaceravam no proprio seio da
+universidade, a desprestigiavam e calumniavam a academia d'esses tempos,
+servindo-se de uma imprensa corrupta e vendida a um certo frade, que não
+achava desgostosa a tisana de lodo que do Tibre lhe mandaram para
+beber. Tractava-se nem mais nem menos do que da mudança da universidade
+para Lisboa, onde os obreiros, negros na _alma_ e no _habito_, tinham o
+seu principal centro de operações, onde seria arma terrivel contra as
+instituições liberaes: que a bella e intelligente fronte da estudiosa
+adolescente do paiz, vendo que lhe roubavam a liberdade e a honra,
+despertara da somnolencia dos que soffrem, porque têm vida, que lhes não
+deixam viver, e, acalentada pelos generosissimos e liberalissimos
+sentimentos de alguns academicos distinctos, acceitára a luva que se
+jogava á universidade: que o jornal, o _Academico_, fôra publicado em
+principios do anno de 1835, e dahi até 28 de junho do mesmo anno, em 49
+numeros, evidenciára que á litteratura de Coimbra não presta para
+baixezas, mas póde e sabe saldar as suas dividas de honra: que todos os
+artigos do _Academico_, jornal ao mesmo tempo litterario, scientifico e
+politico, d'aquella politica que convém a academicos--a da
+imparcialidade--respiravam tanto bom-senso, tanto bom-gosto, e tanta
+moderação, que foram elles que semearam no meio do paiz opiniões mais
+justas e sensatas sobre a questão universitaria, que a final foi julgada
+pelo parlamento do modo mais lisongeiro para a universidade. Perguntaria
+depois d'isto ao sabio distincto, ao engenho raro:--Ereis estranho á
+seita dos--_Institutarios_--conhecieis-l'os, vistel-os, sabieis-lhes os
+nomes, apertastes-lhes as mãos, assentastes-vos com elles á sombra da
+copa da vossa olaia a conversar, com razão ou sem ella, «em practica
+chã, desenfadada e satisfeita, como é de uso entre lavradores chãos e
+abonados depois de uma colheita abençoada»?!--Com a mão sobre a cabeça
+respondei, senhor! Eu creio-vos, eu proclamei o dogma da vossa
+infallibilidade: vós não podeis errar, enganar, e menos ser enganado!
+
+Se aquella veridica--_dedicatoria_--me não illuminasse o espirito, diria
+que em 1854 o conselho de decanos da universidade negára ao illustre
+escriptor a sala dos capellos, que sollicitára para ensinar á _eschola_
+de Coimbra o methodo de leitura repentina, com bem fundados receios de
+que os nossos monarchas, os representantes de setecentos e cincoenta e
+quatro annos de cousas serias, ririam até rebentar, o que não era
+bonito: que por essa occasião, no salão do Instituto, o auctor do
+methodo se dignára manifestar a consideração em que pôz sempre a
+universidade: que o ouvi eu, que tenho o orgulho de ser d'aquelles, que
+nunca deixaram cobrir da poeira do esquecimento insultos ou perolas que
+de maduras cahissem na sua presença de labios sibylinos, ou viperinos:
+affirmaria que o sr. Antonio Feliciano de Castilho na sua ultima visita
+a Coimbra azedou com a suprema injuria da nenhuma practica que teve com
+academicos á sombra da copa da sua olaia, porque nem um só devoto, ao
+que me disseram, queimou um só grão de incenso e myrrha ao idolo dos que
+por modestia, por bondade, por terror, por imitação, vão mendigar á sua
+porta um obulo da graça das multidões, que com razão o admiram nas suas
+inimitaveis traducções, nos seus poemas, nas suas imitações, e até mesmo
+nas inimitaveis contrafações do seu caracter.
+
+Continuaria a dizer, que a cousa assim é mais commoda e mais decente,
+porque é arteira, porque deixa sempre livre á tangente do seu odio por
+todos e por tudo o systema matreiro da raposa velha. E diria ainda em
+termos mais claros: o Ovidio portuguez, temendo «aventurar a _vida_ por
+desempenhar um pontinho de honra propria», preparou e prepara sempre
+previdentemente o terreno de vespera, semeia o pomo da discordia em
+propriedade alheia, e deixa ao proprietario, agradecido da sua abençoada
+lavoura, o cuidado de defender os renovos. Já cançado de _tosquiar_
+camêlos, como tão classicamente escreve, assenta-se com razão a
+conversar em practica chã, desenfadada e satisfeita, como é de uso de
+lavradores depois de uma feia acção, á sombra da copa da sua olaia, e,
+reclamando serviço por serviço, entrega a defeza das suas causas e
+cousas graves áquelles a quem deu saude e graça para correrem mundo.
+Habil piloto, deposita nas mãos dos remeiros, a quem alugou a barca de
+passagem, o fardo da sua dignidade, para lh'o levarem a porto de
+salvamento. Se o fardo chega avariado, como é mais que provavel, aos
+consignatarios da opinião publica--_aqui d'el-rei_--que foram elles que
+o deixaram ao tempo! e eil-o a chamar gallego a todo o mundo,
+inclusivamente ao mais honrado e independente caracter, que ainda houve
+nesta terra--o sr. A. Herculano! No entretanto a cigarra de Anacreonte
+vae cantando sobre a copa da proverbial olaia: e o Saturno portuguez,
+tomando á sombra d'ella o café confortador, para mais facil digestão
+dos tenros cordeirinhos que a cigarra _tosquiou_, e elle comeu para
+ficar sosinho no seculo actual como agente, e os bôlos litterarios
+nacionaes como pacientes.
+
+Isto sim, que é obra prima, accrescentaria eu, da mais fina
+_methaphysica_; isto sim, que é a expressão do mais puro ideal de
+refinada pouca-vergonha! É verdade que não aproveita a ninguem, nem á
+humanidade actual, nem ás futuras, nem a coevos, nem a vindouros, nem á
+Allemanha, nem á França, nem a Turim, nem ao Porto, nem a Lisboa, nem á
+infame _eschola_ litteraria de Coimbra, que fazem escala por caminhos de
+honra e honestidade, mas aproveita-lhe a elle, ao seu orgulho feroz, mas
+ás suas entranhas insaciaveis de tudo, como de gloria, mas ao seu velho
+odio sem treguas, sem clemencia, sem repouso, mas á sua suprema soberba
+e á sua infinita vaidade.
+
+Elle, o mestre; elle, o poeta da arte; elle, o sabio; elle, a
+intelligencia, que com mais felicidade e facilidade tem sabido assoalhar
+as abundantes e abençoadas sementes, que por ahi estavam por celleiros
+classicos a apodrecer na humidade e no abandono; elle, a mais esplendida
+e luxuriosa fórma que tem vestido lettras portuguezas; elle, o
+privilegiado do genio; elle, o que devia em fogo inextinguivel de amor e
+honestidade alimentar os primeiros attributos da divindade, que allumiam
+o destino de cada homem, e de cada sociedade; elle, que devia, e como
+poucos podia, bafejar todas as vocações; acompanhar com respeito, com
+veneração, com dulcidão d'alma, com candor de coração, toda a _eschola_
+nascente, toda a ideia nova e original, ao menos nesta terra; toda a
+_utopia_, amiga do bom, do util, do social; todo o esforço dos limpos de
+coração, para tornar a humanidade mais ideia, menos argilla; mais
+absoluto, menos relativo; mais bem, menos miseria; mais virtude, menos
+abjecção; mais amor, menos calculo; mais elevação moral, menos torpeza;
+mais religião, menos descrença; mais perdão, menos vindicta; mais
+caridade, menos odio; elle, que devia esmagar nos abysmos do coração,
+com a mão firme da vontade, os seus resentimentos particulares, e as
+reclamações exaggeradas da aspiração da gloria; domar pela sagacidade o
+que em todo o homem existe de fera humana, cicatrisar pela braza viva
+do seu talento de fogo a ferida do seu peccado original, enfrear o
+sentimento da paixão individual, pela superior consideração dos
+interesses sociaes de qualquer ordem; este homem, que devia comprehender
+que todos os da sua esphera já hoje não podem nascer, sem perigo de
+damnação social, para se consumirem no sentimento mesquinho do egoismo e
+interesse proprios, senão sim para allumiarem, como o sol, que não cuida
+de si, do nascimento ao occaso um hemispherio da sociedade, do occaso ao
+nascimento os antipodas do progresso; elle, Castilho, falsifica
+ignominiosamente a sua missão no seio da eschola liberal, dá cada dia um
+abraço angustioso na ambição, que o domina, attrela-se ao carro da
+inveja insidiosa, julga ainda pequenas as lettras de luz do seu nome,
+que ninguem já póde apagar-lhe nas memorias do porvir, e chafurda-se
+como a serpente do Eden na tremedal da hypocrisia astuta, offerecendo
+com palavras ensopadas em ambrosia e nectar o pomo enganador aos
+Evangelistas da _Divina palavra_, que hão-de levar com os seus o nome do
+_Verbo_ aos quatro cantos do universo e ás christandades por-vir.
+
+A mim rasgava-se-me o coração se tivesse dito tudo isto, convencido de
+um erro; se a aragem da madrugada do dia 20 de novembro de 1865,
+impregnada do espirito invisivel da verdade, desdobrando aquella
+primeira folha da traducção de Ovidio, me não viera evidenciar, que o
+nome de um christão póde egualar o de um pagão, por consentimento tacito
+do segundo, e acceitação expressa do primeiro.
+
+Mas então a que vim eu?--perguntarás tu, Theophylo Braga, Vieira de Castro.
+
+A dizer-vos, que Anthero do Quental póde e deve confessar que não teria
+publicado a pagina decima primeira da sua Carta, se ao concluil-a
+abrisse, por desenfado, o _Camões_ de Antonio Feliciano de Castilho, e o
+gostasse com todos os cinco sentidos; se, virgulando o que escrevera,
+houvesse tempo para ter em mór valia e consideração o seu bom-senso e
+bom-gosto, que os seus, aliás justos, resentimentos: não a agradecer-vos
+o delicado favor da vossa amisade, que não vem para aqui, ou a
+absolver-vos de peccados, que todos commettemos mais ou menos, mas a
+descarregar a minha consciencia de um pêso que de ha muito a
+mortificava; a asseverar-vos finalmente que, digam o que disserem os
+Sanctos Padres, que venero; os canones dos Concilios, que leio; os
+decretos e bullas dos pontifices, que em conta de boas bullas terei
+sempre; chovam raios e coriscos sobre a triste humanidade; rasgue-se o
+véu do templo; sôe embora a trombeta do Juizo Final; resuscitem as
+provas de agua e fogo; até morrer, e ainda mesmo a morrer hei-de
+exclamar pelas mil boccas da minha fera vontade:
+
+ _É o sol que está parado, é a terra que se move._
+
+Dito isto, vou ler pela centesima vez a lei de 18 de agosto de 1769, a
+lei da _Boa-razão_. É fastidiosa, detestavel, pessima para uns certos,
+que se acoitam á sombra da arvore do bem e do mal a ruminarem torpezas é
+iniquidades; uberrima, recreativa, bonissima para outros que, quando
+menos, têm o bom-senso e o bom-gosto de a lerem, e comprehenderem.
+
+No sentido que deixo dito
+
+ Vosso
+
+ _Elmano da Cunha._
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of Carta em resposta a outra bom senso e
+bom gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr, by Elmano da Cunha
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA EM RESPOSTA A OUTRA ***
+
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+
+Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
+of public domain material from Google Book Search)
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+will be renamed.
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+one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
+(and you!) can copy and distribute it in the United States without
+permission and without paying copyright royalties. Special rules,
+set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
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+protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project
+Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
+charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you
+do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
+rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose
+such as creation of derivative works, reports, performances and
+research. They may be modified and printed and given away--you may do
+practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is
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+If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
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+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
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+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
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+or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
+work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
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+Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
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+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
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+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
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+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at https://pglaf.org
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+Literary Archive Foundation
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+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
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+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
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+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
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+ways including including checks, online payments and credit card
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+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
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+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
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+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
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+
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+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
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+
+
+<pre>
+
+The Project Gutenberg EBook of Carta em resposta a outra bom senso e bom
+gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr, by Elmano da Cunha
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: Carta em resposta a outra bom senso e bom gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr
+
+Author: Elmano da Cunha
+
+Release Date: June 13, 2010 [EBook #32790]
+
+Language: Portuguese
+
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+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA EM RESPOSTA A OUTRA ***
+
+
+
+
+Produced by Pedro Saborano (produced from scanned images
+of public domain material from Google Book Search)
+
+
+
+
+
+
+</pre>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div style="text-align:center; border: solid 1px #000; padding: 1em;">
+<p style="font-size: 2em;">CARTA</p>
+
+<p>DE</p>
+
+<p style="font-size: 1.2em;">ELMANO DA CUNHA</p>
+
+<p>EM RESPOSTA A OUTRA</p>
+
+<p style="font-size: 1.8em;">BOM-SENSO E BOM-GOSTO</p>
+
+<p>DIRIGIDA POR</p>
+
+<p style="font-size: 1.4em;">ANTHERO DO QUENTAL</p>
+
+<p>AO EXCELLENTISSIMO SENHOR</p>
+
+<p style="font-size: 1.4em;">ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO</p>
+
+<p><small>O INCOMPARAVEL TRADUCTOR DOS FASTOS DE OVIDIO<br>
+
+OBRA EM QUE SE FAZ O CONFRONTO DE ROMULO E JESUS-CHRISTO<br>
+
+OFFERECIDA AO INCOMPARAVEL<br>
+
+DUQUE DE SALDANHA</small><br>
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>COIMBRA<br>
+<small>IMPRENSA DA UNIVERSIDADE</small><br>
+1865</p>
+</div>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div style="text-align:center;margin-left:auto;margin-right:auto;">
+<p style="font-size: 2em;">CARTA</p>
+
+<p>DE</p>
+
+<p style="font-size: 1.2em;">ELMANO DA CUNHA</p>
+
+<p>EM RESPOSTA A OUTRA</p>
+
+<p style="font-size: 1.8em;">BOM-SENSO E BOM-GOSTO</p>
+
+<p>DIRIGIDA POR</p>
+
+<p style="font-size: 1.4em;">ANTHERO DO QUENTAL</p>
+
+<p>AO EXCELLENTISSIMO SENHOR</p>
+
+<p style="font-size: 1.4em;">ANTONIO FELICIANO DE CASTILHO</p>
+
+<p><small>O INCOMPARAVEL TRADUCTOR DOS FASTOS DE OVIDIO<br>
+
+OBRA EM QUE SE FAZ O CONFRONTO DE ROMULO E JESUS-CHRISTO<br>
+
+OFFERECIDA AO INCOMPARAVEL<br>
+
+DUQUE DE SALDANHA</small><br>
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>COIMBRA<br>
+<small>IMPRENSA DA UNIVERSIDADE</small><br>
+1865</p>
+</div>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p><span class="pn">{3}</span></p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div id="corpo">
+
+<blockquote>
+ <p style="margin-left:4em">Em Coimbra: ás 5 horas da madrugada do dia 20 de
+ novembro de 1865; ao concluir um innocente e util trabalho em que se pretende
+ demonstrar, que ao cantar da <i>segunda</i> cigarra de Anacreonte, sob a copa
+ da frondosa olaia do Saturno portuguez, se está forjando o dogma da
+ infallibilidade litteraria do sobredito senhor; proclamando o dom da
+ inerrancia do mesmo; resuscitando um odio velho contra a universidade de
+ coimbra; condemnando o producto espontaneo do trabalho intellectual, livre e
+ independente; fazendo sordida mercancia do futuro&mdash;<i>a quem mais der</i>&mdash;;
+ permutando a lisonja vilan pelos 30 dinheiros pharisaicos; transigindo
+ ignominiosamente com as paixões egoistas da actualidade a troco das ovações
+ da burguezia, senhora das situações prosperas e beneficentes.</p>
+</blockquote>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>Amigo&mdash;Em que cyclo social andaram os talentos d'esta, ou de outra qualquer
+terra, pela arreata das auctoridades?!...</p>
+
+<p>Em que geração andaram aguadeiros litterarios, com os canecos do genio ás
+costas, dessedentando os sequiosos de verdade e inspiração, aspergindo a agua
+lustral no seio das multidões, fornecendo as fontes do espirito publico,
+pregoando a superior qualidade do producto litterario ou scientifico nacional,
+porque traz a marca d'alfandega&mdash;A. F. C.?!...<span class="pn">{4}</span></p>
+<hr class="dotted">
+
+<p>Pobres dos pilotos da humanidade se, tendo, através da esteira dos tempos,
+que vão cahindo nos abysmos do passado, conduzido as civilisações com a unica
+bussola do seu livre alvedrio, têm no seculo XIX de fazer a figura de amphoras
+humanas nas mãos do primeiro aguadeiro ambicioso!?...</p>
+
+<p>A mim, que fui embalado com os primeiros vagidos da eschola liberal, a unica
+que tem as regalias, os privilegios, os foros da independencia, a unica, que
+tem um axioma por principio, tinham-me dito, que a liberdade de toda a
+industria humana é a primeira condição do seu desinvolvimento e progressos; que
+o principio da responsabilidade individual é o primeiro motor do bello, do
+grande, do util, do ideal; que o prysma social tem apenas algumas faces, que
+reflectem já a septiforme côr da aurora boreal do futuro, e infinitas que, os
+que nos precederam, deixaram na obscuridade, e que é forçoso clarear de viva
+luz; que ao livre trabalho do pensamento incumbe esta tarefa civilisadora; que
+a da «mercancia por avareza, das lettras por vaidade, dos litigios prolongados
+por caprichoso empenho», tem sido a thenia enorme que, inoculando-se no coração
+das sociedades, vai seccando as fontes da moralidade, viciando e prevertendo os
+abundantes succos nutritivos da arvore do bem, torcendo vigorosos musculos
+sociaes, prostituindo a mulher, desatando os vinculos da familia,&mdash;o fogo
+sagrado do Estado,&mdash;dividindo os interesses da communa, semeando a descrença e
+o desconforto nos orgãos da nacionalidade.</p>
+
+<p>A mim tinham-me dito principalmente, que a suprema fórmula de todo o homem,
+é a sua moralidade e independencia; que esta consistia em ser cada um
+responsavel pelo que pensa perante Deus, pelo que sente perante a sua
+consciencia, pelo que escreve, pelo que diz perante a sociedade.</p>
+
+<p>Seria eu victima de um embuste grosseiro? Enganar-me-iam os apostolos do
+Evangelho da liberdade a mim, que, sincero, puro e innocente, os escutava em
+religioso silencio, numa quasi que idolatria?!...</p>
+
+<p>Tu, meu amigo, dizes-me que não; que o facto póde traduzir uma abjecção
+moral, uma torpeza de todo o ponto condemnavel, mas que isto não é mais que um
+accidente, susceptivel de correcção e exemplo: que a these é a que bebemos com
+o leite da nova mãe social, aquella que me convida<span class="pn">{5}</span> a
+junctar hoje ao teu nome «quasi desconhecido» o meu que apenas consta de um
+assento de baptismo que nunca ninguem leu.</p>
+
+<p>Deixo-o ahi escripto por duas considerações sómente; a primeira como
+protesto, a segunda como cautela; a primeira, porque juro viver e morrer á
+sombra da bandeira de Jules Simon, por nenhum preço a sombra da copa da olaia
+de Antonio Feliciano de Castilho, que respeito como talento, como homem que
+«<i>por entre os edificadores do futuro anda estudando o passado</i>», que
+detesto como caracter, e como traficante convicto de cambio litterario: a
+segunda porque sei que verdades amargas magoam o alifafe moral de consciencias
+vulneraveis; porque sei que o principio da auctoridade, a immodestia
+immoderada, a vaidade impertinente, a consciencia da suprema gloria e do ultimo
+laudo em bom-senso e em bom-gosto são entidades congenitas do principio da
+irritabilidade, e porque finalmente os desvios da má indole e as paixões
+violentas da soberba indomavel e indelicada poderiam <i>tosquiar</i> algum
+camêlo ou <i>fraco</i> ou <i>innocente</i>.</p>
+
+<p>Postas as cousas a esta luz, benefica para quem se allumiar d'ella no
+interesse do futuro e dos tibios do proprio campo, conversemos um pouco.</p>
+
+<p>Eu não quiz ler o escripto de <i>Antonio Feliciano de Castilho</i> no livro
+do sr. <i>Pinheiro Chagas</i>&mdash;<i>Poema da mocidade</i>&mdash;onde a proposito de
+faltas de bom-senso e de bom-gosto se citam os nomes illustres&mdash;Theophilo
+Braga&mdash;Vieira de Castro, e o teu «quasi desconhecido», e se <i>tosquia</i> sem
+clemencia nem piedade, com odio, com azedume, a chamada eschola litteraria de
+Coimbra, eschola que não existe, <i>camêlo</i> imaginario, <i>camêlo</i> creado
+pelo sr. Castilho nas suas <i>segunda e terceira intenção</i>. Façamos justiça
+á pontaria do genio. Encadernado na mais esplendida capa litteraria, que jámais
+vimos, está o homem, que, fazendo fogo de caçador esperto, atira a dois alvos
+ao mesmo tempo. É esta a verdade, isto o que é preciso ver e definir
+detalhadamente.</p>
+
+<p>Eu não quiz ler, por ter lido a&mdash;<i>conversação preambular</i>&mdash;do D. Jayme,
+do sr. Thomaz Ribeiro.</p>
+
+<p>Era razão de sobejo.</p>
+
+<p>Conheci o sr. Thomaz Ribeiro antes do seu poema, e o poema depois, que me
+deliciei eu com o ouvir recitar ao proprio<span class="pn">{6}</span> auctor em
+1860 na sociedade do dr. Antonio de Oliveira Silva Gaio; á sombra da copa de
+nenhuma olaia, não; no seio da estima não mercadejada, da admiração
+desinteressada, da livre apreciação, sim.</p>
+
+<p>Que o auctor fôra bafejado no berço por espiritos bons, fadado para destinos
+melhores ainda, para uma independente e mais que muito justa reputação
+litteraria, soubemo-lo, e dissemol-o nós então.</p>
+
+<p>O sr. Thomaz Antonio Ribeiro nascera tambem no seio da eschola liberal, ou,
+o que mais val, acceitára por amor e convicção o principio na sua accepção mais
+larga, na sua concepção mais absoluta, curando menos dos preceitos, e ainda
+menos dos preconceitos de eschola. Muito intelligente, soube ser livre, tirou
+de si seus recursos, trabalhou por sua conta e risco. Na pia baptismal do
+trabalho purificou as suas crenças como homem e como escriptor, fortaleceu a
+sua religião social e litteraria, não pedindo inspiração mais do que á fonte
+commum, a propria natureza e a das cousas, alentos senão á vontade, que o
+trabalhava, confortos senão á propria consciencia, elevação e independencia
+sómente á sua dignidade, consolações sómente á maxima expressão de todo o
+homem, a sua <i>moralidade</i>.</p>
+
+<p>Em 1860 pensavamos nós assim... Quem, quem havia de proferir a blasphemia
+atroz, que o sr. Thomaz Ribeiro teria de sujeitar a sua bella creação poetica
+ao insulto hypocrita da <i>primeira</i> cigarra de Anacreonte? Quem, conhecendo
+o caracter do illustre escriptor, havia de suppor que para tanto e tão pouco
+tivera bondade, modestia, terrores vagos, receios infundados?!...</p>
+
+<p>A nebulosa, a vaga, a astuta, a matreira, a equivoca&mdash;<i>conversação
+preambular</i>&mdash;dera-nos a medida de uma prostituição e de uma infamia; aquella
+de um, justificada, até certo ponto, e fertil de fecundos ensinamentos a
+futuros escriptores; esta de outro, que, tendo um nome já grande, carece de um
+outro nome para ser quanto merece.</p>
+
+<p><i>Saturnus exultavit; flevit honor. Saturnus exultavit cum maerore et
+luctu</i>, como sempre.</p>
+
+<p>Um obreiro de menos, uma iniciativa de mais: um successo a meio caminho,
+porque a inveja insidiosa o atraiçoou pelos trinta dinheiros da eschola do
+interesse proprio!<span class="pn">{7}</span></p>
+
+<p><i>Saturnus flevit cum planctu magno</i>, e desatou a rir debaixo da copa da
+sua olaia!</p>
+
+<p>A resignação é uma perpetua lagrima a sorrir-se: resignámo-nos. Estes
+desvios de prumo não interrompem a construcção das pilastras de cada seculo, em
+que vai assentando a abobeda da civilisação. Houve apenas um atrazo. Depois os
+obreiros foram abrindo alicerces, baldeando materiaes, cimentando paredes, cada
+um na medida das suas forças, livres de preceito extranho e official, da
+correcção pretenciosa de um mestre de obras do passado, todos amigos, todos
+innocentes e puros, todos desinteressados, e o que mais é, nefando crime, todos
+apostolos do ideal!</p>
+
+<p>Eu, pobre de intelligencia, mas amigo do trabalho, do fundo do meu retiro,
+da minha mansão de paz, minguada de tudo, menos de boa-vontade, estava
+contemplando com amor, até mesmo com desvanecimento, esta liberdade de pensar,
+estas auroras novas, este volitar de ideias, este grangeio livre de alimentos
+futuros, este caminhar de cada um a sabor da propria responsabilidade, sem nem
+sequer me lembrar da cigarra de Anacreonte e de que houve outr'ora uma
+Divindade que comia os proprios filhos; de subito vejo um membro da commum
+abandonar a christandade com a obra debaixo do braço....</p>
+
+<p>Era <i>Pinheiro Chagas</i>, que tambem abrira os olhos da alma á luz do
+seculo que vai passando; um talento superior, um coração limpo de toda a
+mancha, modesto tambem, e tambem fraco, tomado de terrores vagos, de infundados
+receios, que dera os ultimos traços no&mdash;<i>Poema da mocidade</i>&mdash;e receoso que
+lhe calumniassem a obra os invejosos confrades da religião nacional, ia ao
+templo pagão sacrificar o cordeiro da sua independencia!</p>
+
+<p>Um sacerdote de crenças bem diversas das nossas na indole e na influencia
+social acabava de ministrar o sanctissimo sacramento do baptismo litterario a
+um nome que não carecia de mendigar calor alheio para crescer em celebridade e
+honras bem merecidas!</p>
+
+<p>Cantava a <i>segunda</i> cigarra de Anacreonte na copa da frondosa olaia!</p>
+
+<p><i>Saturnus exultavit cum planctu magno.</i><span class="pn">{8}</span></p>
+<hr class="dotted">
+
+<p>Eu que estava neste momento, quando tudo isto se passava, distinguindo á luz
+do <i>bom-senso e do bom-gosto</i> o paganismo e a ideia christã, abria pela
+primeira vez a traducção dos <i>Fastos de Ovidio</i>, e pasmava, pasmava
+sinceramente, de ver o hyerophante do seculo estabelecer o confronto do
+seductor das sabinas e do casto Filho de Maria!</p>
+
+<p>Eu acabava de concluir na intimidade do meu pensamento, que os grandes
+homens tinham jogado as nozes com os rapazes, e que dispensarem-se de dizer
+<i>tolices</i> como elles seria falta de logica....</p>
+
+<p>Não obstante eu pedia ainda sobras á vontade para crer, que os talentos
+saudosos do passado não negociavam com as suas crenças, quando o vento do
+levante, entrando no meu gabinete de trabalho, me desdobrou a primeira pagina
+do livro. Estava ahi escripta em lettras negras, grandes, famosas, uma
+dedicatoria:</p>
+
+<blockquote>
+ <i>Ao incomparavel Duque de Saldanha!</i></blockquote>
+
+<p>O sol nascia d'esta vez no meu pacifico retiro: um facho de luz inundava-me
+a fronte carregada de pensamentos tenebrosos, e o jubilo entrava em minha
+alma!</p>
+
+<p>Mentira!</p>
+
+<p>A opinião publica era a Messalina devassa que se prostituira ainda uma vez
+ao erro voluntario de uma calumnia vilã, vendendo uns restos de honestidade,
+que nunca ninguem perdeu, ao odio eterno e inclemente das paixões
+partidarias.</p>
+
+<p>A opinião publica <i>indignada</i>, cujos murmurios escutava com vago
+terror, que eu julgava apenas suffocada pela força das <i>conveniencias</i>,
+mas distinguindo já através das sombras da posteridade um annel de fogo
+envolvendo dois astros, que até mesmo no abysmo das miseraveis vergonhas, a que
+sub-serviram, tiveram luz para se esconderem as pustulas dos olhos
+investigadores da geração, que, cometas funestos, esterilisaram por um lado,
+desmoralisaram por outro, instruiram pelo ultimo; a opinião-publica, que via,
+que proclamava tudo isto, não era dominada senão pela odio dos Titães, o odio
+que tentava escalar os astros, que na obra do paganismo enlaçaram suas orbitas
+para maior gloria do Christianismo!<span class="pn">{9}</span></p>
+
+<p>E todavia era uma infamia!</p>
+
+<p>Eu via, não podia duvidar: um genio coroava outro!</p>
+
+<p>Os pobres de espirito como eu poderiam errar, depositando uma oblata christã
+sobre as aras ensanguentadas de Mavorte: os sanctos innocentes da eschola de
+Coimbra poderiam ignorar as noções mais vulgares do bem e do mal, a mais
+simples regra de honestidade, o mais ostensivo principio de moral practica e de
+moral christã; mas a intelligencia, o genio, o talento, a philosophia, a
+historia, a luz, a vista de aguia, não, não, e não podiam ver a infamia, onde
+só mora a virtude, o ultramontanismo, onde só mora a liberdade, a reacção, onde
+repousa a inercia, o templario politico, onde se aninha a pomba innocente e
+immaculada, de olhar azul e candido, magico, sereno, celestial, divino.</p>
+
+<p>E eu, que ás cinco horas da madrugada ia ser um ecco da opinião publica, e
+de uma infame calumnia, ás oito sou apenas um bemaventurado!</p>
+
+<p>Eu ia talvez dizer, se o vento do levante me não traz aos olhos
+a&mdash;<i>dedicatoria</i>&mdash;que quaesquer que fossem os nomes, que os nomes dos
+grandes pretendessem illuminar e impôr aos livres pensadores da eschola
+liberal, desciam, baixavam á condição servil dos que procuram diluir o successo
+no expediente, justificar a immoralidade e a baixeza da alienação do seu
+primeiro direito absoluto com o bom successo do jogo de fundos litterarios;
+insinuar talvez, que existia ainda uma litteratura unica, embora absurda,
+embora <i>metaphysica</i>, embora inintelligivel e portanto ideal, ou ideal e
+portanto inintelligivel, embora asnatica, embora desgraciosa na essencia e na
+fórma&mdash;innocente, casta, pura, independente, espiritualista, moralisadora antes
+de tudo e sobre tudo; que essa litteratura era a que se condemnava pelo talento
+serio de Antonio Feliciano de Castilho no&mdash;<i>Poema da
+mocidade</i>&mdash;litteratura que se não prostituira nos mercados publicos ao
+osculo do primeiro Judas litterario do seculo. Se não existira uma atmosphera,
+pura e buliçosa, onde podessemos ainda respirar, ia proclamar bem alto, que a
+litteratura de Antheros, de Vieira de Castro, de Theophylo Braga, de todos os
+Bragas, de todos os escriptores nobilitados pelo cunho da sua independencia, de
+Coimbra, do Porto, de Lisboa, não é o producto liquido e homogeneo de nenhuma
+eschola, porque<span class="pn">{10}</span> tal não existe em parte alguma, e
+menos em Coimbra; que o primeiro estylista do paiz a classificara assim para
+practicar uma dupla baixeza, impropria de um talento raro e serio, de um homem
+honesto, desambicioso, desinteressado; diria comtigo, Anthero&mdash;«Combatem-se os
+herejes da eschola de Coimbra por causa do negro crime de sua dignidade, e do
+atrevimento de sua reputação moral, do attentado de sua probidade litteraria,
+da impudencia e miseria de serem independentes e pensarem por suas cabeças. E
+combatem-se por faltarem ás virtudes de respeito humilde ás vaidades
+omnipotentes, de submissão estupida, de baixeza e pequenez moral e
+intellectual... Mas é que a eschola de Coimbra commetteu effectivamente alguma
+cousa peor de que um crime&mdash;commetteu uma grande falta: <i>quiz innovar</i>.
+Ora, para as litteraturas officiaes, para as reputações estabelecidas, mais
+criminoso do que manchar a verdade com a baba dos sophismas, do que envenenar
+com o erro as fontes do espirito publico, do que pensar mal, do que escrever
+pessimamente, peior do que isto é essa falta de querer caminhar por si, de
+<i>dizer</i>, e não <i>repetir</i>; de <i>inventar</i>, e não de <i>copiar</i>.
+Porque? Porque todos os outros crimes eram contra as ideias: haveria sempre um
+perdão para elles. Mas esta falta era contra as pessoas; e essas taes são
+imperdoaveis.» Commettendo sem duvida a esquerda indiscrição de asseverar que
+aquella dupla baixeza consistia em envolver ao mesmo tempo tres nomes
+distinctos, que nunca lhe pediram ao mestre nem protecção nem arrimo, na mesma
+damnação do seu orgulho omnipotente, e presuppôr, armar, construir do alicerce
+até á telha uma eschola litteraria em Coimbra, para a atirar á cara da
+universidade, que o fez poeta e grande, cerrando-lhe as portas do magisterio,
+porque a vida de lente é a cousa mais sinceramente prosaica, que ainda
+houve&mdash;Affirmaria sem duvida que este odio é negro, é velho, e ha de ser
+eterno! Diria que em principios do anno de 1835 a universidade foi vivamente
+atacada pelos então chamados&mdash;<i>Institutarios</i>&mdash;que, contando com as luctas
+e dissenções dos correligionarios dos dois partidos extremos, que então se
+dilaceravam no proprio seio da universidade, a desprestigiavam e calumniavam a
+academia d'esses tempos, servindo-se de uma imprensa corrupta e vendida a um
+certo frade, que não achava desgostosa<span class="pn">{11}</span> a tisana de
+lodo que do Tibre lhe mandaram para beber. Tractava-se nem mais nem menos do
+que da mudança da universidade para Lisboa, onde os obreiros, negros na
+<i>alma</i> e no <i>habito</i>, tinham o seu principal centro de operações,
+onde seria arma terrivel contra as instituições liberaes: que a bella e
+intelligente fronte da estudiosa adolescente do paiz, vendo que lhe roubavam a
+liberdade e a honra, despertara da somnolencia dos que soffrem, porque têm
+vida, que lhes não deixam viver, e, acalentada pelos generosissimos e
+liberalissimos sentimentos de alguns academicos distinctos, acceitára a luva que
+se jogava á universidade: que o jornal, o <i>Academico</i>, fôra publicado em
+principios do anno de 1835, e dahi até 28 de junho do mesmo anno, em 49
+numeros, evidenciára que á litteratura de Coimbra não presta para baixezas, mas
+póde e sabe saldar as suas dividas de honra: que todos os artigos do
+<i>Academico</i>, jornal ao mesmo tempo litterario, scientifico e politico,
+d'aquella politica que convém a academicos&mdash;a da imparcialidade&mdash;respiravam
+tanto bom-senso, tanto bom-gosto, e tanta moderação, que foram elles que
+semearam no meio do paiz opiniões mais justas e sensatas sobre a questão
+universitaria, que a final foi julgada pelo parlamento do modo mais lisongeiro
+para a universidade. Perguntaria depois d'isto ao sabio distincto, ao engenho
+raro:&mdash;Ereis estranho á seita dos&mdash;<i>Institutarios</i>&mdash;conhecieis-l'os,
+vistel-os, sabieis-lhes os nomes, apertastes-lhes as mãos, assentastes-vos com
+elles á sombra da copa da vossa olaia a conversar, com razão ou sem ella, «em
+practica chã, desenfadada e satisfeita, como é de uso entre lavradores chãos e
+abonados depois de uma colheita abençoada»?!&mdash;Com a mão sobre a cabeça
+respondei, senhor! Eu creio-vos, eu proclamei o dogma da vossa infallibilidade:
+vós não podeis errar, enganar, e menos ser enganado!</p>
+
+<p>Se aquella veridica&mdash;<i>dedicatoria</i>&mdash;me não illuminasse o espirito,
+diria que em 1854 o conselho de decanos da universidade negára ao illustre
+escriptor a sala dos capellos, que sollicitára para ensinar á <i>eschola</i> de
+Coimbra o methodo de leitura repentina, com bem fundados receios de que os
+nossos monarchas, os representantes de setecentos e cincoenta e quatro annos de
+cousas serias, ririam até rebentar, o que não era bonito: que por essa
+occasião, no salão do Instituto,<span class="pn">{12}</span> o auctor do
+methodo se dignára manifestar a consideração em que pôz sempre a universidade:
+que o ouvi eu, que tenho o orgulho de ser d'aquelles, que nunca deixaram cobrir
+da poeira do esquecimento insultos ou perolas que de maduras cahissem na sua
+presença de labios sibylinos, ou viperinos: affirmaria que o sr. Antonio
+Feliciano de Castilho na sua ultima visita a Coimbra azedou com a suprema
+injuria da nenhuma practica que teve com academicos á sombra da copa da sua
+olaia, porque nem um só devoto, ao que me disseram, queimou um só grão de
+incenso e myrrha ao idolo dos que por modestia, por bondade, por terror, por
+imitação, vão mendigar á sua porta um obulo da graça das multidões, que com
+razão o admiram nas suas inimitaveis traducções, nos seus poemas, nas suas
+imitações, e até mesmo nas inimitaveis contrafações do seu caracter.</p>
+
+<p>Continuaria a dizer, que a cousa assim é mais commoda e mais decente, porque
+é arteira, porque deixa sempre livre á tangente do seu odio por todos e por
+tudo o systema matreiro da raposa velha. E diria ainda em termos mais claros: o
+Ovidio portuguez, temendo «aventurar a <i>vida</i> por desempenhar um pontinho
+de honra propria», preparou e prepara sempre previdentemente o terreno de
+vespera, semeia o pomo da discordia em propriedade alheia, e deixa ao
+proprietario, agradecido da sua abençoada lavoura, o cuidado de defender os
+renovos. Já cançado de <i>tosquiar</i> camêlos, como tão classicamente escreve,
+assenta-se com razão a conversar em practica chã, desenfadada e satisfeita,
+como é de uso de lavradores depois de uma feia acção, á sombra da copa da sua
+olaia, e, reclamando serviço por serviço, entrega a defeza das suas causas e
+cousas graves áquelles a quem deu saude e graça para correrem mundo. Habil
+piloto, deposita nas mãos dos remeiros, a quem alugou a barca de passagem, o
+fardo da sua dignidade, para lh'o levarem a porto de salvamento. Se o fardo
+chega avariado, como é mais que provavel, aos consignatarios da opinião
+publica&mdash;<i>aqui d'el-rei</i>&mdash;que foram elles que o deixaram ao tempo! e eil-o
+a chamar gallego a todo o mundo, inclusivamente ao mais honrado e independente
+caracter, que ainda houve nesta terra&mdash;o sr. A. Herculano! No entretanto a
+cigarra de Anacreonte vae cantando sobre a copa da proverbial olaia: e o
+Saturno portuguez, tomando<span class="pn">{13}</span> á sombra d'ella o café
+confortador, para mais facil digestão dos tenros cordeirinhos que a cigarra
+<i>tosquiou</i>, e elle comeu para ficar sosinho no seculo actual como agente,
+e os bôlos litterarios nacionaes como pacientes.</p>
+
+<p>Isto sim, que é obra prima, accrescentaria eu, da mais fina
+<i>methaphysica</i>; isto sim, que é a expressão do mais puro ideal de refinada
+pouca-vergonha! É verdade que não aproveita a ninguem, nem á humanidade actual,
+nem ás futuras, nem a coevos, nem a vindouros, nem á Allemanha, nem á França,
+nem a Turim, nem ao Porto, nem a Lisboa, nem á infame <i>eschola</i> litteraria
+de Coimbra, que fazem escala por caminhos de honra e honestidade, mas
+aproveita-lhe a elle, ao seu orgulho feroz, mas ás suas entranhas insaciaveis
+de tudo, como de gloria, mas ao seu velho odio sem treguas, sem clemencia, sem
+repouso, mas á sua suprema soberba e á sua infinita vaidade.</p>
+
+<p>Elle, o mestre; elle, o poeta da arte; elle, o sabio; elle, a intelligencia,
+que com mais felicidade e facilidade tem sabido assoalhar as abundantes e
+abençoadas sementes, que por ahi estavam por celleiros classicos a apodrecer na
+humidade e no abandono; elle, a mais esplendida e luxuriosa fórma que tem
+vestido lettras portuguezas; elle, o privilegiado do genio; elle, o que devia
+em fogo inextinguivel de amor e honestidade alimentar os primeiros attributos
+da divindade, que allumiam o destino de cada homem, e de cada sociedade; elle,
+que devia, e como poucos podia, bafejar todas as vocações; acompanhar com
+respeito, com veneração, com dulcidão d'alma, com candor de coração, toda a
+<i>eschola</i> nascente, toda a ideia nova e original, ao menos nesta terra;
+toda a <i>utopia</i>, amiga do bom, do util, do social; todo o esforço dos
+limpos de coração, para tornar a humanidade mais ideia, menos argilla; mais
+absoluto, menos relativo; mais bem, menos miseria; mais virtude, menos
+abjecção; mais amor, menos calculo; mais elevação moral, menos torpeza; mais
+religião, menos descrença; mais perdão, menos vindicta; mais caridade, menos
+odio; elle, que devia esmagar nos abysmos do coração, com a mão firme da
+vontade, os seus resentimentos particulares, e as reclamações exaggeradas da
+aspiração da gloria; domar pela sagacidade o que em todo o homem existe de fera
+humana, cicatrisar pela braza viva do<span class="pn">{14}</span> seu talento
+de fogo a ferida do seu peccado original, enfrear o sentimento da paixão
+individual, pela superior consideração dos interesses sociaes de qualquer
+ordem; este homem, que devia comprehender que todos os da sua esphera já hoje
+não podem nascer, sem perigo de damnação social, para se consumirem no
+sentimento mesquinho do egoismo e interesse proprios, senão sim para
+allumiarem, como o sol, que não cuida de si, do nascimento ao occaso um
+hemispherio da sociedade, do occaso ao nascimento os antipodas do progresso;
+elle, Castilho, falsifica ignominiosamente a sua missão no seio da eschola
+liberal, dá cada dia um abraço angustioso na ambição, que o domina, attrela-se
+ao carro da inveja insidiosa, julga ainda pequenas as lettras de luz do seu
+nome, que ninguem já póde apagar-lhe nas memorias do porvir, e chafurda-se como
+a serpente do Eden na tremedal da hypocrisia astuta, offerecendo com palavras
+ensopadas em ambrosia e nectar o pomo enganador aos Evangelistas da <i>Divina
+palavra</i>, que hão-de levar com os seus o nome do <i>Verbo</i> aos quatro
+cantos do universo e ás christandades por-vir.</p>
+
+<p>A mim rasgava-se-me o coração se tivesse dito tudo isto, convencido de um
+erro; se a aragem da madrugada do dia 20 de novembro de 1865, impregnada do
+espirito invisivel da verdade, desdobrando aquella primeira folha da traducção
+de Ovidio, me não viera evidenciar, que o nome de um christão póde egualar o de
+um pagão, por consentimento tacito do segundo, e acceitação expressa do
+primeiro.</p>
+
+<p>Mas então a que vim eu?&mdash;perguntarás tu, Theophylo Braga, Vieira de
+Castro.</p>
+
+<p>A dizer-vos, que Anthero do Quental póde e deve confessar que não teria
+publicado a pagina decima primeira da sua Carta, se ao concluil-a abrisse, por
+desenfado, o <i>Camões</i> de Antonio Feliciano de Castilho, e o gostasse com
+todos os cinco sentidos; se, virgulando o que escrevera, houvesse tempo para
+ter em mór valia e consideração o seu bom-senso e bom-gosto, que os seus, aliás
+justos, resentimentos: não a agradecer-vos o delicado favor da vossa amisade,
+que não vem para aqui, ou a absolver-vos de peccados, que todos commettemos
+mais ou menos, mas a descarregar a minha consciencia de um pêso que de ha muito
+a mortificava; a asseverar-vos finalmente que, digam o que disserem os
+Sanctos<span class="pn">{15}</span> Padres, que venero; os canones dos
+Concilios, que leio; os decretos e bullas dos pontifices, que em conta de boas
+bullas terei sempre; chovam raios e coriscos sobre a triste humanidade;
+rasgue-se o véu do templo; sôe embora a trombeta do Juizo Final; resuscitem as
+provas de agua e fogo; até morrer, e ainda mesmo a morrer hei-de exclamar pelas
+mil boccas da minha fera vontade:</p>
+
+<blockquote>
+ <i>É o sol que está parado, é a terra que se move.</i></blockquote>
+
+<p>Dito isto, vou ler pela centesima vez a lei de 18 de agosto de 1769, a lei
+da <i>Boa-razão</i>. É fastidiosa, detestavel, pessima para uns certos, que se
+acoitam á sombra da arvore do bem e do mal a ruminarem torpezas é iniquidades;
+uberrima, recreativa, bonissima para outros que, quando menos, têm o bom-senso
+e o bom-gosto de a lerem, e comprehenderem.</p>
+
+<p>No sentido que deixo dito</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="text-align:right;margin-left:auto;margin-right:20%;">Vosso</p>
+
+<p style="text-align:right;margin-left:auto;margin-right:10%;"><em>Elmano da
+Cunha.</em></p>
+</div>
+
+
+
+
+
+
+
+<pre>
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of Carta em resposta a outra bom senso e
+bom gosto dirigida por Anthero do Quental ao ex.mo sr. A. F. de Castilho o incomparavel tr, by Elmano da Cunha
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CARTA EM RESPOSTA A OUTRA ***
+
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+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
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+works. See paragraph 1.E below.
+
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+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
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+or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
+work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
+Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.
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+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
+electronic works in formats readable by the widest variety of computers
+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
+because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
+809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at https://pglaf.org
+
+For additional contact information:
+ Dr. Gregory B. Newby
+ Chief Executive and Director
+ gbnewby@pglaf.org
+
+
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+Literary Archive Foundation
+
+Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
+spread public support and donations to carry out its mission of
+increasing the number of public domain and licensed works that can be
+freely distributed in machine readable form accessible by the widest
+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
+
+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
+with these requirements. We do not solicit donations in locations
+where we have not received written confirmation of compliance. To
+SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
+particular state visit https://pglaf.org
+
+While we cannot and do not solicit contributions from states where we
+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
+against accepting unsolicited donations from donors in such states who
+approach us with offers to donate.
+
+International donations are gratefully accepted, but we cannot make
+any statements concerning tax treatment of donations received from
+outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
+
+Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
+methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
+ways including including checks, online payments and credit card
+donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate
+
+
+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
+
+Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
+
+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
+keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
+
+
+Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
+
+ https://www.gutenberg.org
+
+This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
+subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
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+This eBook, including all associated images, markup, improvements,
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+the "Copyright How-To" at https://www.gutenberg.org.
+
+No investigation has been made concerning possible copyrights in
+jurisdictions other than the United States. Anyone seeking to utilize
+this eBook outside of the United States should confirm copyright
+status under the laws that apply to them.
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+Project Gutenberg (https://www.gutenberg.org) public repository for
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