summaryrefslogtreecommitdiff
diff options
context:
space:
mode:
authorRoger Frank <rfrank@pglaf.org>2025-10-14 19:58:14 -0700
committerRoger Frank <rfrank@pglaf.org>2025-10-14 19:58:14 -0700
commit00b2dfcbe0e1eed14e3c3121e979675aee727e42 (patch)
treeb656d675ed0cebe635d1ff7c001a422010df9f44
initial commit of ebook 32789HEADmain
-rw-r--r--.gitattributes3
-rw-r--r--32789-8.txt947
-rw-r--r--32789-8.zipbin0 -> 17279 bytes
-rw-r--r--32789-h.zipbin0 -> 18592 bytes
-rw-r--r--32789-h/32789-h.htm1035
-rw-r--r--LICENSE.txt11
-rw-r--r--README.md2
7 files changed, 1998 insertions, 0 deletions
diff --git a/.gitattributes b/.gitattributes
new file mode 100644
index 0000000..6833f05
--- /dev/null
+++ b/.gitattributes
@@ -0,0 +1,3 @@
+* text=auto
+*.txt text
+*.md text
diff --git a/32789-8.txt b/32789-8.txt
new file mode 100644
index 0000000..2675192
--- /dev/null
+++ b/32789-8.txt
@@ -0,0 +1,947 @@
+The Project Gutenberg EBook of Camões e a Fisionomia Espiritual da Pátria, by
+Leonardo Coimbra
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: Camões e a Fisionomia Espiritual da Pátria
+
+Author: Leonardo Coimbra
+
+Release Date: June 13, 2010 [EBook #32789]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CAMÕES E A FISIONOMIA ***
+
+
+
+
+Produced by Pedro Saborano
+
+
+
+
+ JUNTA PATRIOTICA DO NORTE
+
+ LEONARDO COIMBRA
+
+ CAMÕES
+
+ E A
+
+ fisionomia espiritual da Pátria
+
+ SEPARATA DE CAMÕES
+ (DISCURSO PRONUNCIADO NO TEATRO
+ ÁGUIA DE OURO
+ NO DIA 10 DE JUNHO DE 1920)
+
+
+
+ PORTO MCMXX
+
+ POR BEM
+
+
+
+
+ MENINAS, MINHAS SENHORAS
+ E MEUS SENHORES:
+
+
+Imaginai que, subterrâneo e distante, vos corre sob os pés um regato, e
+donde em onde a terra se abre em bocas de verdura, falando o refrescante
+murmurio das águas profundas.
+
+Assim são os Poetas.
+
+A nossa alma é como velho arco de ponte, sob o qual flui o rio do tempo,
+levando no seu curso as verduras da terra e as luzes do firmamento,
+cabelos corredios de algas e filamentos luminosos de mundos, flôres das
+margens e cometas do Infinito.
+
+De quando em quando, da nossa própria alma tombam flôres mortas que o
+tempo leva e vai sumindo na imensidade da Distância.
+
+¿Voltarão a passar sob a mesma ponte os brancos corpos de Ofélias, que
+se afastaram, fluindo na algidez do luar?
+
+¿Qual o rio que, atravessando os mundos, os traga cinturados e
+reflectidos a repassarem as mesmas viagens, a repetirem o milagre do
+encontro?
+
+A Memória.
+
+Êsse o grande rio do tempo regressando à origem, como peregrino que
+fôsse a ver o mundo e ao lar doméstico voltasse, cabelos e alma empoados
+das flôres dos caminhos, rebrilhantes das pedrarias da terra e das
+cósmicas poeiras das alturas.
+
+Mas a Memória é onda dum mar transcendente, que só conhecemos pelo seu
+aromático desenho na praia que nós somos e onde ela vêm a morrer em
+corpo de misterioso e estonteante perfume.
+
+Longe de nós, fora do nosso Espaço, nas dimensões que nos são vedadas,
+nasce êsse Mar; o fluxo e refluxo das suas águas desenha em nossos
+cérebros linhas de memória, que se apagam e destroiem, mal seguras do
+instante em que fulguram.
+
+A vaga brilhou instantânea e logo outra vaga de memória fez o
+_esquecimento_ da primeira.
+
+A consciência flui adormecida e às escuras, mal entrevendo os
+esporádicos clarões dessa Memória, que à semelhança da fosforescência
+dos nossos Oceanos só de longe a longe iluminam o negrume da vaga.
+
+E toda a Vida é uma luta, um drama, um combate, um permanente esforço
+para segurar a instantânea luz da Memória, vaga dum mar de Outra-Vida,
+aflorando subtil a praia que nós somos...
+
+A realidade é êsse combate, levado a planos diferentes, e sómente
+vitorioso pela audácia dos Argonautas que se aventuram no grande Oceano
+da Memória que, espontaneamente, em catadupas jorra do infinito coração
+divino.
+
+Os Argonautas do Mistério são os sábios, os poetas e os santos.
+Debrucemo-nos com êles no arco da velha ponte e vejamos o mundo que passa.
+
+O Universo passa, o tempo corre e nas suas águas precipitam-se as flôres
+marginais, correm reflectidos os mundos e os sóis.
+
+O Poeta ouve o murmurio que transita, fixa o instante fugitivo, e como
+em chapa de aço candente as águas que recebe no peito são asas de névoa,
+ascenção e fulgor, caindo no Mar transcendente da Memória em perfeito e
+luminoso corpo de eternidade.
+
+E assim o Poeta eterniza o instante... e assim o Poeta ergue à
+Consciência os mais incoerciveis movimentos da alma, e assim o Poeta
+filtra no episodio a sua parte de eternidade, eleva sôbre os individuos
+transitórios a fisionomia espiritual das Pátrias, da Humanidade e Deus.
+
+O Poeta gera o Sábio e o Santo.
+
+O Santo é o homem do plano superior voluntariamente dado em sacrifício
+para que a luz divina, que o consome, guie e exalte os homens à
+transcendência de uma vida superior.
+
+O fogo purifica as podridões, a dor faz do sofrimento quotidiano uma
+coluna de fogo apontando os novos destinos e rumos.
+
+_O Santo vive, na labareda do momento, o incendio da eternidade._
+
+Dá o seu corpo ao sacrificio para que, no vazio que se fórma, as ondas
+da Memória se insinuem e aumentem o seu contacto com a terra, para que
+os abraços dessas ondas se alarguem e cinjam todas as almas suplices.
+
+O Santo é o Poeta praticante, as suas Canções penetram-lhe e modelam os
+lábios, são seres vivos caminhando, humildes e amorosos, a cuidar as
+chagas que, em nós, fizeram as mordeduras da Morte.
+
+O Sábio é o Poeta vagaroso: debruçado sobre a ponte, não vai em
+companhia das vidas que fogem a cercá-las das águas da Memória para que
+vivam e se não percam, espera que regressem e na repetição do que passou
+vê a grande unidade convivente de tudo o que existe. Procura a
+_identidade_ que une os seres, espera na _repetição_ o reaparecimento do
+que transita. A sua luta pela Consciência é a mais humilde e serena.
+
+A consciência scientifica é cheia de abdicação do que é própriamente
+humano, comovida de respeito pela Unidade social do Universo.
+
+O ascetismo do sábio, feito da possivel abdicação dos planos superiores,
+leva-o à mais completa companhia com as realidades do seu plano. O
+seu esforço para a consciência é o mais vigoroso esfôrço para fixar o
+desenho das vagas da Memória, sem a aventura argonáutica de deixar a
+praia em demanda do grande Oceano que a beija.
+
+Mas aquelas partes da sciência, que são as fontes que a alimentam, os
+núcleos de invenção, são ainda o mergulho duma alma nas mais altas marés
+do grande Oceano da Memória.
+
+O sábio criador é ainda e sempre o Poeta.
+
+Newton e Dante são igualmente infinitos.
+
+O seu pensamento tem sempre _oculto_, quere dizer que nenhuma leitura os
+exgota, porque, pela parte em que mergulham no infinito Oceano da
+Memória, são incomensuráveis com qualquer modo de contar, isto é,
+inexgotáveis, eternos e infinitos. Há, com efeito, uma distinção, e a
+unica que interessa, entre tôdas as obras.
+
+Aquelas cuja riqueza é exgotável por um numero finito de leituras (e
+quantas nem uma só leitura compensam!) e aquelas cuja riqueza é
+_criacionista_ e excedente, pois aumenta com as próprias tentativas de
+exaustão.
+
+Imaginai um Arquimedes procurando exaurir um volume terminado por linhas
+curvas e à medida que ia descontando paralelipípedos o fosse encontrando
+novo e acrescido. Assim são os livros dos verdadeiros Poetas: sua
+própria alma, infinita dádiva do seu perfeito Amor.
+
+Os outros... os outros podem ainda ser humildes soldados da Grande
+Guerra contra a Morte, sustentando com firmeza os troféus das vitórias
+já alcançadas.
+
+¡Mas ai do livro que depois de lido uma vez não foi mais desejado ainda
+que antes da primeira leitura! Êle leva dentro de si mais esquecimento e
+morte que vitória e consciência.
+
+Êsses livros que crescem, e sem fim, são os fios subtis que prendem o
+homem aos planos espirituais superiores, são as flechas dardejantes
+do mistério apontadas ao próprio coração humano.
+
+É neste sentido que há livros revelados e só legiveis na iluminação da
+própria luz espiritual que os embebe.
+
+É, neste sentido, que existem bíblias: vivas línguas de fogo acrisolando
+o pensamento humano.
+
+A Divina Comédia, D. Quixote, os Evangelhos: outras tantas línguas de
+fogo ligando a terra com o firmamento.
+
+Êsses livros serão humanos, pagãos e divinos.
+
+Tudo transita, flui e morre.
+
+Ou nos salvamos todos, ou é impossivel a salvação.
+
+O mais insignificante atrito duma areia póde inutilizar a mais poderosa
+e perfeita máquina.
+
+Um grão de esquecimento permitido no Universo introduzirá a desproporção
+que inutiliza a memória, será uma perda singular que há de tornar
+impossivel em qualquer outro ser a perfeita harmonia e conservação.
+
+Um general no momento critico duma batalha poderá acudir a um ponto
+principal da sua linha, sofrendo em retorno pequenas derrotas parciais
+em outros pontos. Essas derrotas parciais são o fumo de toda a labareda
+que sóbe, os resíduos duma evolução que se fez e irá recomeçar,
+aumentada da vitória alcançada, no coração da primeira derrota.
+
+O homem, que se eleva, só sustenta a sua fisionomia angélica ajudando a
+evolução, porque as forças de Morte ainda o hão de perseguir e, se não
+continua subindo, há de degradar-se em caricatura animal.
+
+No rio do tempo vão fugindo as cousas, os seres, os mundos e o homem.
+
+O Poeta é o seu redentor.
+
+A unica redenção é o grande baptismo no divino Oceano da Memória.
+
+O Poeta revelou a consciência aos homens, porque neles fixou e acendeu
+aquela serena e firme estrela, que, no seu ponto de interferência, os
+raios do Amor infinito geraram em Memória.
+
+Por essa Memória é o homem a praia onde marulham os oceanos de outras
+vidas, o foco onde se reunem as vibrações etéreas de todos os sóis.
+
+A Tragédia grega, D. Quixote, os Evangelhos, a Divina Comédia, Camões...
+
+D. Quixote é a Bíblia do Ideal!
+
+O Ideal é a ausência duma percepção espiritual, é nessa ausência que se
+insinua o Mistério...
+
+Eis porque o Ideal é presença invisível mas activa, fecunda presença de
+realidades superiores que, como o longínquo polo para a agulha,
+polarizam a vida do homem, embora este as não perceba, nem toque.
+
+D. Quixote é a própria fome do Ideal. Fome insatisfeita no plano de vida
+terrestre, porque é nesse plano a presença de realidades espirituais
+excedentes.
+
+Eis porque o D. Quixote é eterno; morto o planeta, êle será ainda em
+qualquer vida a sua distância a um plano superior.
+
+D. Quixote vive em todos os homens, são as próprias asas do seu sonho, é
+a ausência e o desejo de Deus.
+
+Sob êsse ponto de vista, todo o esforço para a consciência, que é a
+própria linha de evolução dos mundos, da vida e do homem, a sciência, a
+arte e a moral, é uma sedução quixotesca, é o influxo superior que uniu
+a alma de Cervantes às realidades espirituais transcendentes.
+
+D. Quixote é o Ideal; o Evangelho é a própria visão espiritual exaltada
+aos planos superiores da divindade.
+
+D. Quixote é o cego impelido para a Beleza por um pressentimento
+interior; Cristo é a própria Luz abrindo olhos de percepção espiritual
+na máscara pávida do homem.
+
+D. Quixote é a subida das águas no vazio que o turbilhão formara; Cristo
+é a _ascenção_ das almas na estrada de luz que a sua passagem incendiou.
+
+A tragédia grega é a luta do homem com a Fatalidade, isto é, das forças
+de vida contra todos os residuos da evolução amalgamados e condensados
+num unico bloco de Fatalidade.
+
+Por baixo do mais fácil e gracioso politeísmo corre e flutua um
+pandemonismo informe, recebendo todas as precipitações residuais do alto.
+
+Hesiodo e Eschylo passeiam entre as sombras; Sócrates e Platão entre as
+frescas claridades duma manhã de Abril.
+
+Mas Platão sabe que essas claridades podem ser as sombras duma outra luz
+e a alegoria da caverna _vive_ a chamar a atenção do homem...
+
+A Divina Comédia é o sonho de Jacob em plena vigilia, é a onda iniciada
+num estremecimento da alma do Poeta e alargando e subindo, penetrando em
+todos os planos da vida espiritual...
+
+Argonautas do Mistério que elevam a consciência a eternas visões da
+realidade.
+
+Mas o mais insignificante Poeta é ainda capaz de fixar qualquer fugitivo
+estremecimento e chamá-lo para a vida no próprio instante em que
+silenciosamente se ia fenecendo.
+
+ * * * * *
+
+A Arte é um formidável fenómeno de osmose: a alma do artista ressoa de
+tôdos os estremecimentos da natureza e a natureza é pintada com as
+tintas da sua alma.
+
+O Universo, é convívio, por isso o artista retribui, e em excesso, tôdas
+as dádivas que recebeu.
+
+_O Mar, o mar dos portugueses, entrou pelas órbitas do Poeta e saiu
+cantando as oitavas dos «Lusíadas»._
+
+E tão íntimo foi o abraço, tão perfeita a transfusão que o marulho
+longínquo do Oceano é esta própria fala:
+
+ «Bramindo o negro mar de longe brada
+ Como se desse em vão nalgum rochedo»
+
+Portugal encapela-se em ondas, a sua vida comunica-se e de praia a praia
+é um abraço cingindo o planeta.
+
+A vida do planeta é convivência no Infinito, a alma de Camões ligou,
+pelos fios invisiveis da memória, o Mar e a Pátria à vida espiritual do
+Universo.
+
+As oitavas dos _Lusíadas_, ondas do mar salgado, são eternos
+estremecimentos de Memória esculpindo no Infinito a _fisionomia
+espiritual da Pátria_.
+
+O homem pertence a vários planos de vida espiritual: é cidadão da sua
+pátria, membro da sua religião, parcela consciente no Universo.
+
+E cada plano é atravessado pelo esfôrço do homem-consciência para a
+conservação e para a Memória.
+
+É por isso que em cada plano há névoa e sonho e o homem estremece duma
+nostalgia inquietante.
+
+O homem é o desterrado de Soares dos Reis...
+
+Se o Universo desde o sábio ao Poeta (e sem que prejulgue o problema
+Mal) é convívio, a consciência do homem há de procurar as relações
+cósmicas na companhia das consciências mais próximas.
+
+Eis porque o homem, consciência no Infinito, é cidadão na sua Pátria e
+une a sua voz à voz de seus irmãos para erguer em côro a própria voz da
+Pátria. E, como as almas só crescem pelo sacrificio dos desejos de
+separatividade que as fôrças da Morte nelas insinuaram, o amor da Pátria
+é a primeira e a mais concreta experiência religiosa das almas.
+
+Mal vai, no entanto, às Pátrias que, vítimas dum orgulhoso isolamento
+demoniaco, não prolongam o sacrifício das almas não alargam os
+seus estremecimentos de amor até à vida cósmica e infinita.
+
+Se Deus é a própria consciência social, para que esta não pese e
+adormeça as almas necessario é que cresça e se ilimite em consciência
+social do Universo.
+
+O amor da Pátria será o amor dos homens e das coisas, encerrando-se em
+eterno e renovado amor de Deus.
+
+A voz dos portugueses, espessada, avolumando em ampliativos e excedentes
+abraços, será a epopeia da Pátria levando no seu canto o mar e a
+paisagem, os homens, a terra e o céu.
+
+As oitavas dos _Lusíadas_ são as ondas do mar levando em espuma as
+bandeiras das batalhas, trapejando ao vendaval dos heroismos, os sonhos
+da raça, o amor, Coimbra e o Mondego, os montes, campos e boninas...
+
+A crítica mais ou menos boticária entreviu nos _Lusíadas_ uma _mistura_
+do maravilhoso pagão e do maravilhoso cristão.
+
+É tempo de acabar com tanta incompreensão, de dizer bem alto que uma
+obra de arte é um ser vivo, uma viva consciência salvando para a Memória
+o fluxo que transita. Jamais será a mistura de mortes e quimeras.
+
+Há nos _Lusíadas_, como em toda a labareda, uma parte incombustivel que
+a chama não incendeia e tomba em inerte poeira de cinzas.
+
+Incombustível, quando o coração do Poeta não arde em tão alto fogo
+devorador que tudo queima.
+
+É a erudição do Poeta, que fornece o alimento à chama, e, se o fogo do
+pensamento é génio, tudo arde em vivo lume de beleza e eternidade.
+
+Por vezes, sim, por vezes o calor do pensamento não basta a requeimar
+essa erudição, e então na fluidez das oitavas boiam estátuas mutiladas
+de deuses mortos e ausentes.
+
+Mas êsse é o fumo que faz toda a labareda humana é o sinal de
+origem que, marcando a imperfeição do homem, sublinha a divindade do Poeta.
+
+O pensamento vulgar, não subindo acima das mais próximas realidades,
+ignora a natureza e o valor do simbolismo, chegando a supor que os
+símbolos poéticos são artifícios decorativos com que o Poeta procura
+deleitar-nos a sensibilidade.
+
+Daí a ideia dum maravilhoso que, como as decorações dos arraiais
+minhotos, passa de poeta em poeta.
+
+Se conhecer é relacionar, é sempre uma atenuada ou viva analogia a alma
+do próprio conhecimento, que da sciência à arte é sempre, embora
+diferentemente, um simbolismo.
+
+O simbolismo pagão é a grande concepção estética da Natureza e da Vida.
+As contradições entre o homem e a natureza resumem-se ainda às relações
+de silencio e convivio, que o homem encontra e harmoniza na quási
+tangibilidade dos deuses mal escondidos ainda no seio duma natureza amiga.
+
+O murmúrio da floresta é quási o sôpro, repousado e possante, duma
+respiração imensa; a tremulina de luz, que percorre o ribeiro quando um
+ruído se ergue do estremecimento do canavial, é o próprio corpo da
+Frescura a caminhar; o bulício das selvas multiplicando e fecundando a
+vida é a própria Vida espalhada e vagabunda juntando-se para crescer; o
+silêncio pontiluzente, meditativo e severo, da Noite estrelada é a
+própria serenidade da distância a olhar: sátiros, ninfas, hamadríadas,
+nereidas, faunos e deuses passeiam por entre os homens...
+
+O mundo é a convivência ingénua, mas já os dragões e as serpentes de
+novo assustam e repelem a sensibilidade do homem.
+
+Êle terá de reencontrar a companhia a dentro de si mesmo...
+
+Se o corpo de Vénus é feito da espuma do Mar, a Virgem Maria é a mais
+alta e translucida espuma da Alma.
+
+Um paganismo simples e gracioso apreendeu na vida universal as mesmas
+fôrças, tendências e elementares vontades, que trabalham silenciosamente
+nas profundezas do ser humano; mas já as lutas _titânicas_ revelam na
+Natureza vontades inimigas, que nos assediam e oprimem.
+
+Um titanismo vitorioso, coberto de glória e feridas, pode voltar a
+ressentir a beleza ingénua, a inocência e o bem, na fórma da aragem que
+embala as florinhas, na frescura humilde do arroio, na sombra acolhedora
+da árvore, no sonho que trespassa a grande voz dos elementos.
+
+Eis porque não há maravilhoso nem misturas de maravilhoso, há sim uma
+voz humana que é contemporaneamente estremecimento da alma e do ar, que
+fulgura, no éter interior e no éter envolvente, a mesma luminosa
+geometria. Nos _Lusíadas_ há alegria campesina, boninas, prados e
+jardins, uma natureza inocente e sem mácula; mas há tambêm águas que são
+já lágrimas de amor saudoso, há montes e ervinhas que andam a aprender
+no peito de Inês.
+
+E a paisagem de Coimbra ainda hoje vive a repetir essas lições; na
+Quinta das Lágrimas ainda hoje, da fonte correm sem descanço, ressoando
+em éco, os versos desta oitava:
+
+ «As filhas do Mondêgo a morte escura
+ Longo tempo chorando memoraram;
+ E por memória eterna, em fonte pura
+ As lágrimas choradas transformaram:
+ O nome lhe puseram, que inda dura,
+ Dos amôres de Inês, que ali passaram
+ Vêde que fresca fonte rega as flôres,
+ Que lágrimas são a água e o nome amores».
+
+A Natureza não existe fora da convivência do homem. Ora simples,
+silenciosa e profunda, duma inocente religiosidade elementar, ora
+destroçada e perdida se a não socorre a memória.
+
+Fonte que é o simples murmúrio da gratidão das sêdes, leito de
+frescura da ninfa adormecida, translucida neblina das rendas que a
+vestem; fonte que discorre em lágrimas as saudades dum amor distante...
+
+_É esta Natureza que o Poeta tem de conquistar para a alma, é esta
+natureza que a Pátria tem de desvendar para o mundo._
+
+_Viajar é compreender_: por ignotos rumos procurar e levar companhia aos
+seres e às cousas da distância, alargar, dilatar a alma para além dos
+horizontes, ampliando o convívio, _contactando_ por maior superficie a
+grande zona do Mistério.
+
+Ao partir para a viagem, acorrem tôdas as vozes da tranquilidade
+doméstica, demovendo e comovendo, tentando prender o homem à firmeza das
+ligações criadas, temendo a deslialdade e o esquecimento.
+
+Há vozes de egoísmo e de preguiça, mas há tambem vozes proféticas que
+acusam a nossa vontade pecaminosa de não ir em busca de novas amizades,
+mas de ambições e maiores egoísmos.
+
+Uma noite, era eu ainda colegial, senti, olhando da sala de estudo o
+côncavo firmamento estrelado, a atracção dum astro distante, e a minha
+alma infantil partiu súbitamente ao chamamento da distância; de repente
+um frio de isolamento, de abandono, me fez regressar instantaneamente ao
+calor e ao abrigo dos homens, que, embora pouco carinhoso, me falava,
+era meu, era convívio, conhecimento, mútuo amparo.
+
+Jamais se apagou da minha memória essa _sensação_ única, que hoje
+suponho o primeiro e mais perfeito contacto do meu ser com o Mistério.
+
+Tambem, ao partir, o Velho do Restelo virá... E à despedida, há de dizer
+egoísmos, mas há de tambem prevenir os egoísmos, as ambições e as
+cubiças para que não aumentem com o tamanho dos mundos que lhes vão ser
+dados.
+
+E o Velho sabe que a Viagem, a Epopeia, é uma obra prometaica, de «fogo
+de altos desejos que a movera».
+
+O homem Prometeu é o homem dando o infinito aos seus desejos, partindo
+para alêm dos deuses familiares, correndo o risco de ficar só e às
+escuras no Espaço sem fim, onde só um novo Deus de infinito amor poderá
+ser companhia.
+
+Êsse homem Prometeu, perdido e vagabundo, encontrou a mão de Jesus
+reconduzindo-o a Deus; ¿mas quantos ainda hoje passeiam num Infinito
+mudo a desolada estátua de sua solidão e tristeza?
+
+A Epopeia vai fazer-se: os portugueses partem ligando os mundos, e, ao
+dobrar da África, o velho do Restelo é o Prometeu português, o Adamastor
+petrificado, prevenindo de novo as almas das duras consequências da
+audácia, das dôres companheiras de toda a criação.
+
+O Velho desejara que o fogo dos altos desejos prometaicos não tivera
+ardido, e profetizara com uma voz tão sábia e prevenida que bem parece
+ser a própria voz dum doloroso saber de experiências.
+
+O Velho acompanha a frota e de novo. Maior, Imenso e Tormentoso, quere
+vedar o Mistério, conter as forças de bem e de mal que os navegadores
+estão prestes a libertar.
+
+Profetiza e ameaça, mas, quando interrogado em palavras lusíadas, conta
+aos portugueses, ao mar e às nuvens, a tragédia esquiliana da sua aventura.
+
+O irmão Prometeu roubara o fogo aos deuses, êle quisera furtar-lhes o amor.
+
+A Luz prometaica iluminara os mundos, mas o Espaço regelado não fôra
+comovido por essa fria luz da inteligência: a candeia cristã vai
+purificar e aquecer essa luz e será o Amor a Grande Presença Universal,
+dadivosa e inexgotável.
+
+Eis porque o Prometeu português tem um Cáucaso--é o términus do mundo
+conhecido, aprisionado em contacto com as primeiras ondas do mundo
+misterioso!
+
+Eis porque Adamastor tem um abutre--os próprios braços do amor, regaço
+ondulado de Thetis, fazendo estremecer infinitamente a bruteza
+penhascosa do seu corpo.
+
+ «Converte-se-me a carne em terra dura,
+ Em penedos os ossos se fizeram;
+ Estes membros que vês, e esta figura
+ Por estas longas agoas se estenderam:
+ Emfim, minha grandissima estatura
+ Neste remoto cabo converteram
+ Os deoses; e por mais dobradas magoas,
+ Me anda Thetis cercando destas agoas».
+
+O seu corpo é beijado pelas mil bôcas do amor que o devora, e, abraçado
+à névoa do corpo amado, sobe liberto o seu desejo, penetrando _em
+lágrimas_ as funduras oceânicas em que se abisma.
+
+E _chora_, _chove_, desfaz-se a nuvem negra e de novo o Sol reaquece
+mais desejos...
+
+¡Alma sedenta da Pátria, inextinguivel fome de imortalidade, com o amor
+cravado no mais intimo do seu querer!
+
+¡A fisionomia espiritual da Pátria traçada a fogo no próprio coração do
+Infinito!
+
+E lá vai Vasco da Gama num Mar, que não é do Planeta, levando a raça
+numa Viagem sem termo a ouvir e libertar Adamastores, correndo num
+pacifico Oceano de Memória a sua eterna aventura religiosa.
+
+E, cantando com o Poeta, tôdos nós somos já espectros duma outra vida,
+formas duma luz transcendente penetrando o planeta dos estremecimentos
+do Infinito.
+
+É a Grande Viagem: O Gama ao leme, o Poeta fazendo do seu canto o
+próprio Oceano em que vogamos, e nós, reconciliados com Êle, em êxtase,
+cantando a beleza profunda e eterna das almas...
+
+Faça cada português as suas pazes com Camões e, de novo, no Infinito,
+radiosa e feliz, a Pátria há de sorrir...
+
+
+(Disse).
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of Camões e a Fisionomia Espiritual da
+Pátria, by Leonardo Coimbra
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CAMÕES E A FISIONOMIA ***
+
+***** This file should be named 32789-8.txt or 32789-8.zip *****
+This and all associated files of various formats will be found in:
+ https://www.gutenberg.org/3/2/7/8/32789/
+
+Produced by Pedro Saborano
+
+Updated editions will replace the previous one--the old editions
+will be renamed.
+
+Creating the works from public domain print editions means that no
+one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
+(and you!) can copy and distribute it in the United States without
+permission and without paying copyright royalties. Special rules,
+set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
+copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
+protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project
+Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
+charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you
+do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
+rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose
+such as creation of derivative works, reports, performances and
+research. They may be modified and printed and given away--you may do
+practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is
+subject to the trademark license, especially commercial
+redistribution.
+
+
+
+*** START: FULL LICENSE ***
+
+THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
+PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK
+
+To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
+distribution of electronic works, by using or distributing this work
+(or any other work associated in any way with the phrase "Project
+Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
+Gutenberg-tm License (available with this file or online at
+https://gutenberg.org/license).
+
+
+Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
+electronic works
+
+1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
+electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
+and accept all the terms of this license and intellectual property
+(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all
+the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
+all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
+If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
+Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
+terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
+entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.
+
+1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be
+used on or associated in any way with an electronic work by people who
+agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few
+things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
+even without complying with the full terms of this agreement. See
+paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
+and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
+individual work is in the public domain in the United States and you are
+located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
+copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
+works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
+are removed. Of course, we hope that you will support the Project
+Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
+freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
+this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
+the work. You can easily comply with the terms of this agreement by
+keeping this work in the same format with its attached full Project
+Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.
+
+1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern
+what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in
+a constant state of change. If you are outside the United States, check
+the laws of your country in addition to the terms of this agreement
+before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
+creating derivative works based on this work or any other Project
+Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning
+the copyright status of any work in any country outside the United
+States.
+
+1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:
+
+1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate
+access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
+whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
+phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
+Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
+copied or distributed:
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
+from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
+posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
+and distributed to anyone in the United States without paying any fees
+or charges. If you are redistributing or providing access to a work
+with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
+work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
+through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
+Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
+1.E.9.
+
+1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
+with the permission of the copyright holder, your use and distribution
+must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
+terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked
+to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
+permission of the copyright holder found at the beginning of this work.
+
+1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
+License terms from this work, or any files containing a part of this
+work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.
+
+1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
+electronic work, or any part of this electronic work, without
+prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
+active links or immediate access to the full terms of the Project
+Gutenberg-tm License.
+
+1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,
+compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
+word processing or hypertext form. However, if you provide access to or
+distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
+"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
+posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
+you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
+copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
+request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
+form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
+License as specified in paragraph 1.E.1.
+
+1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
+performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
+unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.
+
+1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing
+access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
+that
+
+- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
+ the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
+ you already use to calculate your applicable taxes. The fee is
+ owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
+ has agreed to donate royalties under this paragraph to the
+ Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments
+ must be paid within 60 days following each date on which you
+ prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
+ returns. Royalty payments should be clearly marked as such and
+ sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
+ address specified in Section 4, "Information about donations to
+ the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."
+
+- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
+ you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
+ does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
+ License. You must require such a user to return or
+ destroy all copies of the works possessed in a physical medium
+ and discontinue all use of and all access to other copies of
+ Project Gutenberg-tm works.
+
+- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
+ money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
+ electronic work is discovered and reported to you within 90 days
+ of receipt of the work.
+
+- You comply with all other terms of this agreement for free
+ distribution of Project Gutenberg-tm works.
+
+1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
+electronic work or group of works on different terms than are set
+forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
+both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
+Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the
+Foundation as set forth in Section 3 below.
+
+1.F.
+
+1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
+effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
+public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
+collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
+works, and the medium on which they may be stored, may contain
+"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
+corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
+property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
+computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
+your equipment.
+
+1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
+of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
+Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
+Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
+liability to you for damages, costs and expenses, including legal
+fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
+LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
+PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
+TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
+LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
+INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
+DAMAGE.
+
+1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
+defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
+receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
+written explanation to the person you received the work from. If you
+received the work on a physical medium, you must return the medium with
+your written explanation. The person or entity that provided you with
+the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
+refund. If you received the work electronically, the person or entity
+providing it to you may choose to give you a second opportunity to
+receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy
+is also defective, you may demand a refund in writing without further
+opportunities to fix the problem.
+
+1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth
+in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
+WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
+WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.
+
+1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied
+warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
+If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
+law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
+interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
+the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any
+provision of this agreement shall not void the remaining provisions.
+
+1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
+trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
+providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
+with this agreement, and any volunteers associated with the production,
+promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
+harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
+that arise directly or indirectly from any of the following which you do
+or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
+work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
+Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.
+
+
+Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
+electronic works in formats readable by the widest variety of computers
+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
+because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
+809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at https://pglaf.org
+
+For additional contact information:
+ Dr. Gregory B. Newby
+ Chief Executive and Director
+ gbnewby@pglaf.org
+
+
+Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation
+
+Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
+spread public support and donations to carry out its mission of
+increasing the number of public domain and licensed works that can be
+freely distributed in machine readable form accessible by the widest
+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
+
+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
+with these requirements. We do not solicit donations in locations
+where we have not received written confirmation of compliance. To
+SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
+particular state visit https://pglaf.org
+
+While we cannot and do not solicit contributions from states where we
+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
+against accepting unsolicited donations from donors in such states who
+approach us with offers to donate.
+
+International donations are gratefully accepted, but we cannot make
+any statements concerning tax treatment of donations received from
+outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
+
+Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
+methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
+ways including including checks, online payments and credit card
+donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate
+
+
+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
+
+Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
+
+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
+keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
+
+
+Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
+
+ https://www.gutenberg.org
+
+This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
+subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
diff --git a/32789-8.zip b/32789-8.zip
new file mode 100644
index 0000000..3ac4782
--- /dev/null
+++ b/32789-8.zip
Binary files differ
diff --git a/32789-h.zip b/32789-h.zip
new file mode 100644
index 0000000..32d06e2
--- /dev/null
+++ b/32789-h.zip
Binary files differ
diff --git a/32789-h/32789-h.htm b/32789-h/32789-h.htm
new file mode 100644
index 0000000..f86f943
--- /dev/null
+++ b/32789-h/32789-h.htm
@@ -0,0 +1,1035 @@
+<!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.01 Transitional//EN" "http://www.w3.org/TR/html4/loose.dtd">
+<html>
+<head>
+ <title>Camões a fisionomia espiritual da Pátria</title>
+ <meta name="Author" content="Leonardo Coimbra">
+ <meta name="Edition" content="Porto. Junta Patriotica do Norte, 1920.">
+ <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=iso-8859-15">
+ <style type="text/css">
+ body{margin-left: 10%;
+ margin-right: 10%;
+ }
+ .pn {
+ text-indent: 0em;
+ text-decoration: none;
+ position: absolute;
+ left: 92%;
+ font-size: smaller;
+ text-align: right;
+ color: silver;
+ }
+ #corpo p{text-align: justify; text-indent: 1.5em;}
+ h1, h2, h3, h4 {text-align: center; margin-top: 2em;}
+ h2 {text-align: center; margin-bottom: 2em;}
+ #corpo p.sinopse {margin: 0; font-size: small; text-indent: 0;}
+ #corpo p.ni {text-indent: 0;}
+ hr.dotted {border: 0; border-bottom: dotted 2px #000;}
+ hr {border: 0; border-bottom: solid 2px #000;}
+ blockquote {margin-left: 10%; font-size: small;}
+ a {text-decoration: none;}
+ .rodape {
+ font-size: 0.7em;
+ margin-left: 2em;
+ margin-right: 2em;
+ }
+ .errata {border-bottom: dotted 2px #aaaaaa;}
+ .typo {border-bottom: dotted 2px #77dd77;}
+ .fbox {border: solid black 1px; background-color: #FFFFCC; font-size: 0.8em;
+ margin-left: 10%; margin-right: 10%;}
+ </style>
+</head>
+
+<body>
+
+
+<pre>
+
+The Project Gutenberg EBook of Camões e a Fisionomia Espiritual da Pátria, by
+Leonardo Coimbra
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+
+Title: Camões e a Fisionomia Espiritual da Pátria
+
+Author: Leonardo Coimbra
+
+Release Date: June 13, 2010 [EBook #32789]
+
+Language: Portuguese
+
+Character set encoding: ISO-8859-1
+
+*** START OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CAMÕES E A FISIONOMIA ***
+
+
+
+
+Produced by Pedro Saborano
+
+
+
+
+
+</pre>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<div style="text-align:center; border: double 10px red; padding: 1em;">
+<p style="border: solid 1px red; margin-left: 10%; margin-right: 10%; font-size: 1.2em; color: red;">JUNTA PATRIOTICA DO NORTE</p>
+
+<p style="font-size: 1.2em;">LEONARDO COIMBRA</p>
+
+<hr style="width: 20%">
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="font-size: 2em;">CAMÕES</p>
+
+<p>E A</p>
+
+<p style="font-size: 1.8em;">fisionomia espiritual da Pátria</p>
+
+<hr style="width: 20%">
+
+<p style="font-size: 1.2em;">SEPARATA DE CAMÕES</p>
+
+<p style="font-size: 1.1em;">(DISCURSO PRONUNCIADO NO TEATRO<br>
+ÁGUIA DE OURO<br>
+NO DIA 10 DE JUNHO DE 1920)</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="font-size: 1.2em;">PORTO MCMXX</p>
+
+<p style="border: solid 1px red; margin-left: 10%; margin-right: 10%; font-size: 1.2em; color: red;">POR BEM</p>
+</div>
+
+<p><span class="pn">{3}</span></p>
+
+<div id="corpo">
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p style="text-align:right;margin-right:10%;">M<small>ENINAS, MINHAS</small>
+S<small>ENHORAS</small><br>
+<small>E MEUS</small> S<small>ENHORES:</small> </p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p class="ni"><big><big>I</big></big><small>MAGINAI</small> que, subterrâneo e
+distante, vos corre sob os pés um regato, e donde em onde a terra se abre em
+bocas de verdura, falando o refrescante murmurio das águas profundas.</p>
+
+<p>Assim são os Poetas.</p>
+
+<p>A nossa alma é como velho arco de ponte, sob o qual flui o rio do tempo,
+levando no seu curso as verduras da terra e as luzes do firmamento, cabelos
+corredios de algas e filamentos luminosos de mundos, flôres das margens e
+cometas do Infinito.</p>
+
+<p>De quando em quando, da nossa própria alma tombam flôres mortas que o tempo
+leva e vai sumindo na imensidade da Distância.</p>
+
+<p>¿Voltarão a passar sob a mesma ponte os brancos corpos de Ofélias, que se
+afastaram, fluindo na algidez do luar?</p>
+
+<p>¿Qual o rio que, atravessando os mundos, os traga cinturados e reflectidos a
+repassarem as mesmas viagens, a repetirem o milagre do encontro?</p>
+
+<p>A Memória.</p>
+
+<p>Êsse o grande rio do tempo regressando à origem, como peregrino que fôsse a
+ver o mundo e ao lar doméstico voltasse, cabelos e alma empoados das
+flôres<span class="pn">{6}</span> dos caminhos, rebrilhantes das pedrarias da
+terra e das cósmicas poeiras das alturas.</p>
+
+<p>Mas a Memória é onda dum mar transcendente, que só conhecemos pelo seu
+aromático desenho na praia que nós somos e onde ela vêm a morrer em corpo de
+misterioso e estonteante perfume.</p>
+
+<p>Longe de nós, fora do nosso Espaço, nas dimensões que nos são vedadas, nasce
+êsse Mar; o fluxo e refluxo das suas águas desenha em nossos cérebros linhas de
+memória, que se apagam e destroiem, mal seguras do instante em que fulguram.
+</p>
+
+<p>A vaga brilhou instantânea e logo outra vaga de memória fez o
+<i>esquecimento</i> da primeira.</p>
+
+<p>A consciência flui adormecida e às escuras, mal entrevendo os esporádicos
+clarões dessa Memória, que à semelhança da fosforescência dos nossos Oceanos só
+de longe a longe iluminam o negrume da vaga.</p>
+
+<p>E toda a Vida é uma luta, um drama, um combate, um permanente esforço para
+segurar a instantânea luz da Memória, vaga dum mar de Outra-Vida, aflorando
+subtil a praia que nós somos...</p>
+
+<p>A realidade é êsse combate, levado a planos diferentes, e sómente vitorioso
+pela audácia dos Argonautas que se aventuram no grande Oceano da Memória que,
+espontaneamente, em catadupas jorra do infinito coração divino.</p>
+
+<p>Os Argonautas do Mistério são os sábios, os poetas e os santos.
+Debrucemo-nos com êles no arco da velha ponte e vejamos o mundo que passa.</p>
+
+<p>O Universo passa, o tempo corre e nas suas águas precipitam-se as flôres
+marginais, correm reflectidos os mundos e os sóis.</p>
+
+<p>O Poeta ouve o murmurio que transita, fixa o instante fugitivo, e como em
+chapa de aço candente as águas que recebe no peito são asas de névoa, ascenção
+e fulgor, caindo no Mar transcendente da Memória em perfeito e luminoso corpo
+de eternidade.</p>
+
+<p>E assim o Poeta eterniza o instante... e assim o<span class="pn">{7}</span>
+Poeta ergue à Consciência os mais incoerciveis movimentos da alma, e assim o
+Poeta filtra no episodio a sua parte de eternidade, eleva sôbre os individuos
+transitórios a fisionomia espiritual das Pátrias, da Humanidade e Deus.</p>
+
+<p>O Poeta gera o Sábio e o Santo.</p>
+
+<p>O Santo é o homem do plano superior voluntariamente dado em sacrifício para
+que a luz divina, que o consome, guie e exalte os homens à transcendência de
+uma vida superior.</p>
+
+<p>O fogo purifica as podridões, a dor faz do sofrimento quotidiano uma coluna
+de fogo apontando os novos destinos e rumos.</p>
+
+<p><i>O Santo vive, na labareda do momento, o incendio da eternidade.</i></p>
+
+<p>Dá o seu corpo ao sacrificio para que, no vazio que se fórma, as ondas da
+Memória se insinuem e aumentem o seu contacto com a terra, para que os abraços
+dessas ondas se alarguem e cinjam todas as almas suplices.</p>
+
+<p>O Santo é o Poeta praticante, as suas Canções penetram-lhe e modelam os
+lábios, são seres vivos caminhando, humildes e amorosos, a cuidar as chagas
+que, em nós, fizeram as mordeduras da Morte.</p>
+
+<p>O Sábio é o Poeta vagaroso: debruçado sobre a ponte, não vai em companhia
+das vidas que fogem a cercá-las das águas da Memória para que vivam e se não
+percam, espera que regressem e na repetição do que passou vê a grande unidade
+convivente de tudo o que existe. Procura a <i>identidade</i> que une os seres,
+espera na <i>repetição</i> o reaparecimento do que transita. A sua luta pela
+Consciência é a mais humilde e serena.</p>
+
+<p>A consciência scientifica é cheia de abdicação do que é própriamente humano,
+comovida de respeito pela Unidade social do Universo.</p>
+
+<p>O ascetismo do sábio, feito da possivel abdicação dos planos superiores,
+leva-o à mais completa companhia<span class="pn">{8}</span> com as realidades
+do seu plano. O seu esforço para a consciência é o mais vigoroso esfôrço para
+fixar o desenho das vagas da Memória, sem a aventura argonáutica de deixar a
+praia em demanda do grande Oceano que a beija.</p>
+
+<p>Mas aquelas partes da sciência, que são as fontes que a alimentam, os
+núcleos de invenção, são ainda o mergulho duma alma nas mais altas marés do
+grande Oceano da Memória.</p>
+
+<p>O sábio criador é ainda e sempre o Poeta.</p>
+
+<p>Newton e Dante são igualmente infinitos.</p>
+
+<p>O seu pensamento tem sempre <i>oculto</i>, quere dizer que nenhuma leitura
+os exgota, porque, pela parte em que mergulham no infinito Oceano da Memória,
+são incomensuráveis com qualquer modo de contar, isto é, inexgotáveis, eternos
+e infinitos. Há, com efeito, uma distinção, e a unica que interessa, entre
+tôdas as obras.</p>
+
+<p>Aquelas cuja riqueza é exgotável por um numero finito de leituras (e quantas
+nem uma só leitura compensam!) e aquelas cuja riqueza é <i>criacionista</i> e
+excedente, pois aumenta com as próprias tentativas de exaustão.</p>
+
+<p>Imaginai um Arquimedes procurando exaurir um volume terminado por linhas
+curvas e à medida que ia descontando paralelipípedos o fosse encontrando novo e
+acrescido. Assim são os livros dos verdadeiros Poetas: sua própria alma,
+infinita dádiva do seu perfeito Amor.</p>
+
+<p>Os outros... os outros podem ainda ser humildes soldados da Grande Guerra
+contra a Morte, sustentando com firmeza os troféus das vitórias já alcançadas.
+</p>
+
+<p>¡Mas ai do livro que depois de lido uma vez não foi mais desejado ainda que
+antes da primeira leitura! Êle leva dentro de si mais esquecimento e morte que
+vitória e consciência.</p>
+
+<p>Êsses livros que crescem, e sem fim, são os fios subtis que prendem o homem
+aos planos espirituais<span class="pn">{9}</span> superiores, são as flechas
+dardejantes do mistério apontadas ao próprio coração humano.</p>
+
+<p>É neste sentido que há livros revelados e só legiveis na iluminação da
+própria luz espiritual que os embebe.</p>
+
+<p>É, neste sentido, que existem bíblias: vivas línguas de fogo acrisolando o
+pensamento humano.</p>
+
+<p>A Divina Comédia, D. Quixote, os Evangelhos: outras tantas línguas de fogo
+ligando a terra com o firmamento.</p>
+
+<p>Êsses livros serão humanos, pagãos e divinos.</p>
+
+<p>Tudo transita, flui e morre.</p>
+
+<p>Ou nos salvamos todos, ou é impossivel a salvação.</p>
+
+<p>O mais insignificante atrito duma areia póde inutilizar a mais poderosa e
+perfeita máquina.</p>
+
+<p>Um grão de esquecimento permitido no Universo introduzirá a desproporção que
+inutiliza a memória, será uma perda singular que há de tornar impossivel em
+qualquer outro ser a perfeita harmonia e conservação.</p>
+
+<p>Um general no momento critico duma batalha poderá acudir a um ponto
+principal da sua linha, sofrendo em retorno pequenas derrotas parciais em
+outros pontos. Essas derrotas parciais são o fumo de toda a labareda que sóbe,
+os resíduos duma evolução que se fez e irá recomeçar, aumentada da vitória
+alcançada, no coração da primeira derrota.</p>
+
+<p>O homem, que se eleva, só sustenta a sua fisionomia angélica ajudando a
+evolução, porque as forças de Morte ainda o hão de perseguir e, se não continua
+subindo, há de degradar-se em caricatura animal.</p>
+
+<p>No rio do tempo vão fugindo as cousas, os seres, os mundos e o homem.</p>
+
+<p>O Poeta é o seu redentor.</p>
+
+<p>A unica redenção é o grande baptismo no divino Oceano da Memória.<span
+class="pn">{10}</span></p>
+
+<p>O Poeta revelou a consciência aos homens, porque neles fixou e acendeu
+aquela serena e firme estrela, que, no seu ponto de interferência, os raios do
+Amor infinito geraram em Memória.</p>
+
+<p>Por essa Memória é o homem a praia onde marulham os oceanos de outras vidas,
+o foco onde se reunem as vibrações etéreas de todos os sóis.</p>
+
+<p>A Tragédia grega, D. Quixote, os Evangelhos, a Divina Comédia, Camões...</p>
+
+<p>D. Quixote é a Bíblia do Ideal!</p>
+
+<p>O Ideal é a ausência duma percepção espiritual, é nessa ausência que se
+insinua o Mistério...</p>
+
+<p>Eis porque o Ideal é presença invisível mas activa, fecunda presença de
+realidades superiores que, como o longínquo polo para a agulha, polarizam a
+vida do homem, embora este as não perceba, nem toque.</p>
+
+<p>D. Quixote é a própria fome do Ideal. Fome insatisfeita no plano de vida
+terrestre, porque é nesse plano a presença de realidades espirituais
+excedentes.</p>
+
+<p>Eis porque o D. Quixote é eterno; morto o planeta, êle será ainda em
+qualquer vida a sua distância a um plano superior.</p>
+
+<p>D. Quixote vive em todos os homens, são as próprias asas do seu sonho, é a
+ausência e o desejo de Deus.</p>
+
+<p>Sob êsse ponto de vista, todo o esforço para a consciência, que é a própria
+linha de evolução dos mundos, da vida e do homem, a sciência, a arte e a moral,
+é uma sedução quixotesca, é o influxo superior que uniu a alma de Cervantes às
+realidades espirituais transcendentes.</p>
+
+<p>D. Quixote é o Ideal; o Evangelho é a própria visão espiritual exaltada aos
+planos superiores da divindade.</p>
+
+<p>D. Quixote é o cego impelido para a Beleza por um pressentimento interior;
+Cristo é a própria Luz abrindo olhos de percepção espiritual na máscara pávida
+do homem.<span class="pn">{11}</span></p>
+
+<p>D. Quixote é a subida das águas no vazio que o turbilhão formara; Cristo é a
+<i>ascenção</i> das almas na estrada de luz que a sua passagem incendiou.</p>
+
+<p>A tragédia grega é a luta do homem com a Fatalidade, isto é, das forças de
+vida contra todos os residuos da evolução amalgamados e condensados num unico
+bloco de Fatalidade.</p>
+
+<p>Por baixo do mais fácil e gracioso politeísmo corre e flutua um pandemonismo
+informe, recebendo todas as precipitações residuais do alto.</p>
+
+<p>Hesiodo e Eschylo passeiam entre as sombras; Sócrates e Platão entre as
+frescas claridades duma manhã de Abril.</p>
+
+<p>Mas Platão sabe que essas claridades podem ser as sombras duma outra luz e a
+alegoria da caverna <i>vive</i> a chamar a atenção do homem...</p>
+
+<p>A Divina Comédia é o sonho de Jacob em plena vigilia, é a onda iniciada num
+estremecimento da alma do Poeta e alargando e subindo, penetrando em todos os
+planos da vida espiritual...</p>
+
+<p>Argonautas do Mistério que elevam a consciência a eternas visões da
+realidade.</p>
+
+<p>Mas o mais insignificante Poeta é ainda capaz de fixar qualquer fugitivo
+estremecimento e chamá-lo para a vida no próprio instante em que
+silenciosamente se ia fenecendo.</p>
+
+<p style="text-align:center;margin-left:auto;margin-right:auto;"
+class="ni">*<br>
+*      *</p>
+
+<p>A Arte é um formidável fenómeno de osmose: a alma do artista ressoa de tôdos
+os estremecimentos da natureza e a natureza é pintada com as tintas da sua
+alma.</p>
+
+<p>O Universo, é convívio, por isso o artista retribui, e em excesso, tôdas as
+dádivas que recebeu.</p>
+
+<p><i>O Mar, o mar dos portugueses, entrou pelas órbitas do Poeta e saiu
+cantando as oitavas dos «Lusíadas».</i><span class="pn">{12}</span></p>
+
+<p>E tão íntimo foi o abraço, tão perfeita a transfusão que o marulho longínquo
+do Oceano é esta própria fala:</p>
+
+<blockquote>
+ «Bramindo o negro mar de longe brada<br>
+ Como se desse em vão nalgum rochedo»</blockquote>
+
+<p>Portugal encapela-se em ondas, a sua vida comunica-se e de praia a praia é
+um abraço cingindo o planeta.</p>
+
+<p>A vida do planeta é convivência no Infinito, a alma de Camões ligou, pelos
+fios invisiveis da memória, o Mar e a Pátria à vida espiritual do Universo.</p>
+
+<p>As oitavas dos <i>Lusíadas</i>, ondas do mar salgado, são eternos
+estremecimentos de Memória esculpindo no Infinito a <i>fisionomia espiritual da
+Pátria</i>.</p>
+
+<p>O homem pertence a vários planos de vida espiritual: é cidadão da sua
+pátria, membro da sua religião, parcela consciente no Universo.</p>
+
+<p>E cada plano é atravessado pelo esfôrço do homem-consciência para a
+conservação e para a Memória.</p>
+
+<p>É por isso que em cada plano há névoa e sonho e o homem estremece duma
+nostalgia inquietante.</p>
+
+<p>O homem é o desterrado de Soares dos Reis...</p>
+
+<p>Se o Universo desde o sábio ao Poeta (e sem que prejulgue o problema Mal) é
+convívio, a consciência do homem há de procurar as relações cósmicas na
+companhia das consciências mais próximas.</p>
+
+<p>Eis porque o homem, consciência no Infinito, é cidadão na sua Pátria e une a
+sua voz à voz de seus irmãos para erguer em côro a própria voz da Pátria. E,
+como as almas só crescem pelo sacrificio dos desejos de separatividade que as
+fôrças da Morte nelas insinuaram, o amor da Pátria é a primeira e a mais
+concreta experiência religiosa das almas.</p>
+
+<p>Mal vai, no entanto, às Pátrias que, vítimas dum orgulhoso isolamento
+demoniaco, não prolongam o<span class="pn">{13}</span> sacrifício das almas não
+alargam os seus estremecimentos de amor até à vida cósmica e infinita.</p>
+
+<p>Se Deus é a própria consciência social, para que esta não pese e adormeça as
+almas necessario é que cresça e se ilimite em consciência social do Universo.
+</p>
+
+<p>O amor da Pátria será o amor dos homens e das coisas, encerrando-se em
+eterno e renovado amor de Deus.</p>
+
+<p>A voz dos portugueses, espessada, avolumando em ampliativos e excedentes
+abraços, será a epopeia da Pátria levando no seu canto o mar e a paisagem, os
+homens, a terra e o céu.</p>
+
+<p>As oitavas dos <i>Lusíadas</i> são as ondas do mar levando em espuma as
+bandeiras das batalhas, trapejando ao vendaval dos heroismos, os sonhos da
+raça, o amor, Coimbra e o Mondego, os montes, campos e boninas...</p>
+
+<p>A crítica mais ou menos boticária entreviu nos <i>Lusíadas</i> uma
+<i>mistura</i> do maravilhoso pagão e do maravilhoso cristão.</p>
+
+<p>É tempo de acabar com tanta incompreensão, de dizer bem alto que uma obra de
+arte é um ser vivo, uma viva consciência salvando para a Memória o fluxo que
+transita. Jamais será a mistura de mortes e quimeras.</p>
+
+<p>Há nos <i>Lusíadas</i>, como em toda a labareda, uma parte incombustivel que
+a chama não incendeia e tomba em inerte poeira de cinzas.</p>
+
+<p>Incombustível, quando o coração do Poeta não arde em tão alto fogo devorador
+que tudo queima.</p>
+
+<p>É a erudição do Poeta, que fornece o alimento à chama, e, se o fogo do
+pensamento é génio, tudo arde em vivo lume de beleza e eternidade.</p>
+
+<p>Por vezes, sim, por vezes o calor do pensamento não basta a requeimar essa
+erudição, e então na fluidez das oitavas boiam estátuas mutiladas de deuses
+mortos e ausentes.</p>
+
+<p>Mas êsse é o fumo que faz toda a labareda humana<span class="pn">{14}</span>
+é o sinal de origem que, marcando a imperfeição do homem, sublinha a divindade
+do Poeta.</p>
+
+<p>O pensamento vulgar, não subindo acima das mais próximas realidades, ignora
+a natureza e o valor do simbolismo, chegando a supor que os símbolos poéticos
+são artifícios decorativos com que o Poeta procura deleitar-nos a
+sensibilidade.</p>
+
+<p>Daí a ideia dum maravilhoso que, como as decorações dos arraiais minhotos,
+passa de poeta em poeta.</p>
+
+<p>Se conhecer é relacionar, é sempre uma atenuada ou viva analogia a alma do
+próprio conhecimento, que da sciência à arte é sempre, embora diferentemente,
+um simbolismo.</p>
+
+<p>O simbolismo pagão é a grande concepção estética da Natureza e da Vida. As
+contradições entre o homem e a natureza resumem-se ainda às relações de
+silencio e convivio, que o homem encontra e harmoniza na quási tangibilidade
+dos deuses mal escondidos ainda no seio duma natureza amiga.</p>
+
+<p>O murmúrio da floresta é quási o sôpro, repousado e possante, duma
+respiração imensa; a tremulina de luz, que percorre o ribeiro quando um ruído
+se ergue do estremecimento do canavial, é o próprio corpo da Frescura a
+caminhar; o bulício das selvas multiplicando e fecundando a vida é a própria
+Vida espalhada e vagabunda juntando-se para crescer; o silêncio pontiluzente,
+meditativo e severo, da Noite estrelada é a própria serenidade da distância a
+olhar: sátiros, ninfas, hamadríadas, nereidas, faunos e deuses passeiam por
+entre os homens...</p>
+
+<p>O mundo é a convivência ingénua, mas já os dragões e as serpentes de novo
+assustam e repelem a sensibilidade do homem.</p>
+
+<p>Êle terá de reencontrar a companhia a dentro de si mesmo...</p>
+
+<p>Se o corpo de Vénus é feito da espuma do Mar, a Virgem Maria é a mais alta e
+translucida espuma da Alma.<span class="pn">{15}</span></p>
+
+<p>Um paganismo simples e gracioso apreendeu na vida universal as mesmas
+fôrças, tendências e elementares vontades, que trabalham silenciosamente nas
+profundezas do ser humano; mas já as lutas <i>titânicas</i> revelam na Natureza
+vontades inimigas, que nos assediam e oprimem.</p>
+
+<p>Um titanismo vitorioso, coberto de glória e feridas, pode voltar a ressentir
+a beleza ingénua, a inocência e o bem, na fórma da aragem que embala as
+florinhas, na frescura humilde do arroio, na sombra acolhedora da árvore, no
+sonho que trespassa a grande voz dos elementos.</p>
+
+<p>Eis porque não há maravilhoso nem misturas de maravilhoso, há sim uma voz
+humana que é contemporaneamente estremecimento da alma e do ar, que fulgura, no
+éter interior e no éter envolvente, a mesma luminosa geometria. Nos
+<i>Lusíadas</i> há alegria campesina, boninas, prados e jardins, uma natureza
+inocente e sem mácula; mas há tambêm águas que são já lágrimas de amor saudoso,
+há montes e ervinhas que andam a aprender no peito de Inês.</p>
+
+<p>E a paisagem de Coimbra ainda hoje vive a repetir essas lições; na Quinta
+das Lágrimas ainda hoje, da fonte correm sem descanço, ressoando em éco, os
+versos desta oitava:</p>
+
+<blockquote>
+ «As filhas do Mondêgo a morte escura<br>
+ Longo tempo chorando memoraram;<br>
+ E por memória eterna, em fonte pura<br>
+ As lágrimas choradas transformaram:<br>
+ O nome lhe puseram, que inda dura,<br>
+ Dos amôres de Inês, que ali passaram<br>
+ Vêde que fresca fonte rega as flôres,<br>
+ Que lágrimas são a água e o nome amores».</blockquote>
+
+<p>A Natureza não existe fora da convivência do homem. Ora simples, silenciosa
+e profunda, duma inocente religiosidade elementar, ora destroçada e perdida se
+a não socorre a memória.</p>
+
+<p>Fonte que é o simples murmúrio da gratidão das<span class="pn">{16}</span>
+sêdes, leito de frescura da ninfa adormecida, translucida neblina das rendas
+que a vestem; fonte que discorre em lágrimas as saudades dum amor
+distante...</p>
+
+<p><i>É esta Natureza que o Poeta tem de conquistar para a alma, é esta
+natureza que a Pátria tem de desvendar para o mundo.</i></p>
+
+<p><i>Viajar é compreender</i>: por ignotos rumos procurar e levar companhia
+aos seres e às cousas da distância, alargar, dilatar a alma para além dos
+horizontes, ampliando o convívio, <i>contactando</i> por maior superficie a
+grande zona do Mistério.</p>
+
+<p>Ao partir para a viagem, acorrem tôdas as vozes da tranquilidade doméstica,
+demovendo e comovendo, tentando prender o homem à firmeza das ligações criadas,
+temendo a deslialdade e o esquecimento.</p>
+
+<p>Há vozes de egoísmo e de preguiça, mas há tambem vozes proféticas que acusam
+a nossa vontade pecaminosa de não ir em busca de novas amizades, mas de
+ambições e maiores egoísmos.</p>
+
+<p>Uma noite, era eu ainda colegial, senti, olhando da sala de estudo o côncavo
+firmamento estrelado, a atracção dum astro distante, e a minha alma infantil
+partiu súbitamente ao chamamento da distância; de repente um frio de
+isolamento, de abandono, me fez regressar instantaneamente ao calor e ao abrigo
+dos homens, que, embora pouco carinhoso, me falava, era meu, era convívio,
+conhecimento, mútuo amparo.</p>
+
+<p>Jamais se apagou da minha memória essa <i>sensação</i> única, que hoje
+suponho o primeiro e mais perfeito contacto do meu ser com o Mistério.</p>
+
+<p>Tambem, ao partir, o Velho do Restelo virá... E à despedida, há de dizer
+egoísmos, mas há de tambem prevenir os egoísmos, as ambições e as cubiças para
+que não aumentem com o tamanho dos mundos que lhes vão ser dados.</p>
+
+<p>E o Velho sabe que a Viagem, a Epopeia, é uma obra prometaica, de «fogo de
+altos desejos que a movera».<span class="pn">{17}</span></p>
+
+<p>O homem Prometeu é o homem dando o infinito aos seus desejos, partindo para
+alêm dos deuses familiares, correndo o risco de ficar só e às escuras no Espaço
+sem fim, onde só um novo Deus de infinito amor poderá ser companhia.</p>
+
+<p>Êsse homem Prometeu, perdido e vagabundo, encontrou a mão de Jesus
+reconduzindo-o a Deus; ¿mas quantos ainda hoje passeiam num Infinito mudo a
+desolada estátua de sua solidão e tristeza?</p>
+
+<p>A Epopeia vai fazer-se: os portugueses partem ligando os mundos, e, ao
+dobrar da África, o velho do Restelo é o Prometeu português, o Adamastor
+petrificado, prevenindo de novo as almas das duras consequências da audácia,
+das dôres companheiras de toda a criação.</p>
+
+<p>O Velho desejara que o fogo dos altos desejos prometaicos não tivera ardido,
+e profetizara com uma voz tão sábia e prevenida que bem parece ser a própria
+voz dum doloroso saber de experiências.</p>
+
+<p>O Velho acompanha a frota e de novo. Maior, Imenso e Tormentoso, quere vedar
+o Mistério, conter as forças de bem e de mal que os navegadores estão prestes a
+libertar.</p>
+
+<p>Profetiza e ameaça, mas, quando interrogado em palavras lusíadas, conta aos
+portugueses, ao mar e às nuvens, a tragédia esquiliana da sua aventura.</p>
+
+<p>O irmão Prometeu roubara o fogo aos deuses, êle quisera furtar-lhes o amor.
+</p>
+
+<p>A Luz prometaica iluminara os mundos, mas o Espaço regelado não fôra
+comovido por essa fria luz da inteligência: a candeia cristã vai purificar e
+aquecer essa luz e será o Amor a Grande Presença Universal, dadivosa e
+inexgotável.</p>
+
+<p>Eis porque o Prometeu português tem um Cáucaso&mdash;é o términus do mundo
+conhecido, aprisionado em contacto com as primeiras ondas do mundo misterioso!
+</p>
+
+<p>Eis porque Adamastor tem um abutre&mdash;os próprios braços do amor, regaço
+ondulado de Thetis, fazendo<span class="pn">{18}</span> estremecer
+infinitamente a bruteza penhascosa do seu corpo.</p>
+
+<blockquote>
+ «Converte-se-me a carne em terra dura,<br>
+ Em penedos os ossos se fizeram;<br>
+ Estes membros que vês, e esta figura<br>
+ Por estas longas agoas se estenderam:<br>
+ Emfim, minha grandissima estatura<br>
+ Neste remoto cabo converteram<br>
+ Os deoses; e por mais dobradas magoas,<br>
+ Me anda Thetis cercando destas agoas». </blockquote>
+
+<p>O seu corpo é beijado pelas mil bôcas do amor que o devora, e, abraçado à
+névoa do corpo amado, sobe liberto o seu desejo, penetrando <i>em lágrimas</i>
+as funduras oceânicas em que se abisma.</p>
+
+<p>E <i>chora</i>, <i>chove</i>, desfaz-se a nuvem negra e de novo o Sol
+reaquece mais desejos...</p>
+
+<p>¡Alma sedenta da Pátria, inextinguivel fome de imortalidade, com o amor
+cravado no mais intimo do seu querer!</p>
+
+<p>¡A fisionomia espiritual da Pátria traçada a fogo no próprio coração do
+Infinito!</p>
+
+<p>E lá vai Vasco da Gama num Mar, que não é do Planeta, levando a raça numa
+Viagem sem termo a ouvir e libertar Adamastores, correndo num pacifico Oceano
+de Memória a sua eterna aventura religiosa.</p>
+
+<p>E, cantando com o Poeta, tôdos nós somos já espectros duma outra vida,
+formas duma luz transcendente penetrando o planeta dos estremecimentos do
+Infinito.</p>
+
+<p>É a Grande Viagem: O Gama ao leme, o Poeta fazendo do seu canto o próprio
+Oceano em que vogamos, e nós, reconciliados com Êle, em êxtase, cantando a
+beleza profunda e eterna das almas...</p>
+
+<p>Faça cada português as suas pazes com Camões e, de novo, no Infinito,
+radiosa e feliz, a Pátria há de sorrir...</p>
+
+<p>&nbsp;</p>
+
+<p>(Disse).</p>
+</div>
+
+
+
+
+
+
+
+<pre>
+
+
+
+
+
+End of the Project Gutenberg EBook of Camões e a Fisionomia Espiritual da
+Pátria, by Leonardo Coimbra
+
+*** END OF THIS PROJECT GUTENBERG EBOOK CAMÕES E A FISIONOMIA ***
+
+***** This file should be named 32789-h.htm or 32789-h.zip *****
+This and all associated files of various formats will be found in:
+ https://www.gutenberg.org/3/2/7/8/32789/
+
+Produced by Pedro Saborano
+
+Updated editions will replace the previous one--the old editions
+will be renamed.
+
+Creating the works from public domain print editions means that no
+one owns a United States copyright in these works, so the Foundation
+(and you!) can copy and distribute it in the United States without
+permission and without paying copyright royalties. Special rules,
+set forth in the General Terms of Use part of this license, apply to
+copying and distributing Project Gutenberg-tm electronic works to
+protect the PROJECT GUTENBERG-tm concept and trademark. Project
+Gutenberg is a registered trademark, and may not be used if you
+charge for the eBooks, unless you receive specific permission. If you
+do not charge anything for copies of this eBook, complying with the
+rules is very easy. You may use this eBook for nearly any purpose
+such as creation of derivative works, reports, performances and
+research. They may be modified and printed and given away--you may do
+practically ANYTHING with public domain eBooks. Redistribution is
+subject to the trademark license, especially commercial
+redistribution.
+
+
+
+*** START: FULL LICENSE ***
+
+THE FULL PROJECT GUTENBERG LICENSE
+PLEASE READ THIS BEFORE YOU DISTRIBUTE OR USE THIS WORK
+
+To protect the Project Gutenberg-tm mission of promoting the free
+distribution of electronic works, by using or distributing this work
+(or any other work associated in any way with the phrase "Project
+Gutenberg"), you agree to comply with all the terms of the Full Project
+Gutenberg-tm License (available with this file or online at
+https://gutenberg.org/license).
+
+
+Section 1. General Terms of Use and Redistributing Project Gutenberg-tm
+electronic works
+
+1.A. By reading or using any part of this Project Gutenberg-tm
+electronic work, you indicate that you have read, understand, agree to
+and accept all the terms of this license and intellectual property
+(trademark/copyright) agreement. If you do not agree to abide by all
+the terms of this agreement, you must cease using and return or destroy
+all copies of Project Gutenberg-tm electronic works in your possession.
+If you paid a fee for obtaining a copy of or access to a Project
+Gutenberg-tm electronic work and you do not agree to be bound by the
+terms of this agreement, you may obtain a refund from the person or
+entity to whom you paid the fee as set forth in paragraph 1.E.8.
+
+1.B. "Project Gutenberg" is a registered trademark. It may only be
+used on or associated in any way with an electronic work by people who
+agree to be bound by the terms of this agreement. There are a few
+things that you can do with most Project Gutenberg-tm electronic works
+even without complying with the full terms of this agreement. See
+paragraph 1.C below. There are a lot of things you can do with Project
+Gutenberg-tm electronic works if you follow the terms of this agreement
+and help preserve free future access to Project Gutenberg-tm electronic
+works. See paragraph 1.E below.
+
+1.C. The Project Gutenberg Literary Archive Foundation ("the Foundation"
+or PGLAF), owns a compilation copyright in the collection of Project
+Gutenberg-tm electronic works. Nearly all the individual works in the
+collection are in the public domain in the United States. If an
+individual work is in the public domain in the United States and you are
+located in the United States, we do not claim a right to prevent you from
+copying, distributing, performing, displaying or creating derivative
+works based on the work as long as all references to Project Gutenberg
+are removed. Of course, we hope that you will support the Project
+Gutenberg-tm mission of promoting free access to electronic works by
+freely sharing Project Gutenberg-tm works in compliance with the terms of
+this agreement for keeping the Project Gutenberg-tm name associated with
+the work. You can easily comply with the terms of this agreement by
+keeping this work in the same format with its attached full Project
+Gutenberg-tm License when you share it without charge with others.
+
+1.D. The copyright laws of the place where you are located also govern
+what you can do with this work. Copyright laws in most countries are in
+a constant state of change. If you are outside the United States, check
+the laws of your country in addition to the terms of this agreement
+before downloading, copying, displaying, performing, distributing or
+creating derivative works based on this work or any other Project
+Gutenberg-tm work. The Foundation makes no representations concerning
+the copyright status of any work in any country outside the United
+States.
+
+1.E. Unless you have removed all references to Project Gutenberg:
+
+1.E.1. The following sentence, with active links to, or other immediate
+access to, the full Project Gutenberg-tm License must appear prominently
+whenever any copy of a Project Gutenberg-tm work (any work on which the
+phrase "Project Gutenberg" appears, or with which the phrase "Project
+Gutenberg" is associated) is accessed, displayed, performed, viewed,
+copied or distributed:
+
+This eBook is for the use of anyone anywhere at no cost and with
+almost no restrictions whatsoever. You may copy it, give it away or
+re-use it under the terms of the Project Gutenberg License included
+with this eBook or online at www.gutenberg.org
+
+1.E.2. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is derived
+from the public domain (does not contain a notice indicating that it is
+posted with permission of the copyright holder), the work can be copied
+and distributed to anyone in the United States without paying any fees
+or charges. If you are redistributing or providing access to a work
+with the phrase "Project Gutenberg" associated with or appearing on the
+work, you must comply either with the requirements of paragraphs 1.E.1
+through 1.E.7 or obtain permission for the use of the work and the
+Project Gutenberg-tm trademark as set forth in paragraphs 1.E.8 or
+1.E.9.
+
+1.E.3. If an individual Project Gutenberg-tm electronic work is posted
+with the permission of the copyright holder, your use and distribution
+must comply with both paragraphs 1.E.1 through 1.E.7 and any additional
+terms imposed by the copyright holder. Additional terms will be linked
+to the Project Gutenberg-tm License for all works posted with the
+permission of the copyright holder found at the beginning of this work.
+
+1.E.4. Do not unlink or detach or remove the full Project Gutenberg-tm
+License terms from this work, or any files containing a part of this
+work or any other work associated with Project Gutenberg-tm.
+
+1.E.5. Do not copy, display, perform, distribute or redistribute this
+electronic work, or any part of this electronic work, without
+prominently displaying the sentence set forth in paragraph 1.E.1 with
+active links or immediate access to the full terms of the Project
+Gutenberg-tm License.
+
+1.E.6. You may convert to and distribute this work in any binary,
+compressed, marked up, nonproprietary or proprietary form, including any
+word processing or hypertext form. However, if you provide access to or
+distribute copies of a Project Gutenberg-tm work in a format other than
+"Plain Vanilla ASCII" or other format used in the official version
+posted on the official Project Gutenberg-tm web site (www.gutenberg.org),
+you must, at no additional cost, fee or expense to the user, provide a
+copy, a means of exporting a copy, or a means of obtaining a copy upon
+request, of the work in its original "Plain Vanilla ASCII" or other
+form. Any alternate format must include the full Project Gutenberg-tm
+License as specified in paragraph 1.E.1.
+
+1.E.7. Do not charge a fee for access to, viewing, displaying,
+performing, copying or distributing any Project Gutenberg-tm works
+unless you comply with paragraph 1.E.8 or 1.E.9.
+
+1.E.8. You may charge a reasonable fee for copies of or providing
+access to or distributing Project Gutenberg-tm electronic works provided
+that
+
+- You pay a royalty fee of 20% of the gross profits you derive from
+ the use of Project Gutenberg-tm works calculated using the method
+ you already use to calculate your applicable taxes. The fee is
+ owed to the owner of the Project Gutenberg-tm trademark, but he
+ has agreed to donate royalties under this paragraph to the
+ Project Gutenberg Literary Archive Foundation. Royalty payments
+ must be paid within 60 days following each date on which you
+ prepare (or are legally required to prepare) your periodic tax
+ returns. Royalty payments should be clearly marked as such and
+ sent to the Project Gutenberg Literary Archive Foundation at the
+ address specified in Section 4, "Information about donations to
+ the Project Gutenberg Literary Archive Foundation."
+
+- You provide a full refund of any money paid by a user who notifies
+ you in writing (or by e-mail) within 30 days of receipt that s/he
+ does not agree to the terms of the full Project Gutenberg-tm
+ License. You must require such a user to return or
+ destroy all copies of the works possessed in a physical medium
+ and discontinue all use of and all access to other copies of
+ Project Gutenberg-tm works.
+
+- You provide, in accordance with paragraph 1.F.3, a full refund of any
+ money paid for a work or a replacement copy, if a defect in the
+ electronic work is discovered and reported to you within 90 days
+ of receipt of the work.
+
+- You comply with all other terms of this agreement for free
+ distribution of Project Gutenberg-tm works.
+
+1.E.9. If you wish to charge a fee or distribute a Project Gutenberg-tm
+electronic work or group of works on different terms than are set
+forth in this agreement, you must obtain permission in writing from
+both the Project Gutenberg Literary Archive Foundation and Michael
+Hart, the owner of the Project Gutenberg-tm trademark. Contact the
+Foundation as set forth in Section 3 below.
+
+1.F.
+
+1.F.1. Project Gutenberg volunteers and employees expend considerable
+effort to identify, do copyright research on, transcribe and proofread
+public domain works in creating the Project Gutenberg-tm
+collection. Despite these efforts, Project Gutenberg-tm electronic
+works, and the medium on which they may be stored, may contain
+"Defects," such as, but not limited to, incomplete, inaccurate or
+corrupt data, transcription errors, a copyright or other intellectual
+property infringement, a defective or damaged disk or other medium, a
+computer virus, or computer codes that damage or cannot be read by
+your equipment.
+
+1.F.2. LIMITED WARRANTY, DISCLAIMER OF DAMAGES - Except for the "Right
+of Replacement or Refund" described in paragraph 1.F.3, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation, the owner of the Project
+Gutenberg-tm trademark, and any other party distributing a Project
+Gutenberg-tm electronic work under this agreement, disclaim all
+liability to you for damages, costs and expenses, including legal
+fees. YOU AGREE THAT YOU HAVE NO REMEDIES FOR NEGLIGENCE, STRICT
+LIABILITY, BREACH OF WARRANTY OR BREACH OF CONTRACT EXCEPT THOSE
+PROVIDED IN PARAGRAPH F3. YOU AGREE THAT THE FOUNDATION, THE
+TRADEMARK OWNER, AND ANY DISTRIBUTOR UNDER THIS AGREEMENT WILL NOT BE
+LIABLE TO YOU FOR ACTUAL, DIRECT, INDIRECT, CONSEQUENTIAL, PUNITIVE OR
+INCIDENTAL DAMAGES EVEN IF YOU GIVE NOTICE OF THE POSSIBILITY OF SUCH
+DAMAGE.
+
+1.F.3. LIMITED RIGHT OF REPLACEMENT OR REFUND - If you discover a
+defect in this electronic work within 90 days of receiving it, you can
+receive a refund of the money (if any) you paid for it by sending a
+written explanation to the person you received the work from. If you
+received the work on a physical medium, you must return the medium with
+your written explanation. The person or entity that provided you with
+the defective work may elect to provide a replacement copy in lieu of a
+refund. If you received the work electronically, the person or entity
+providing it to you may choose to give you a second opportunity to
+receive the work electronically in lieu of a refund. If the second copy
+is also defective, you may demand a refund in writing without further
+opportunities to fix the problem.
+
+1.F.4. Except for the limited right of replacement or refund set forth
+in paragraph 1.F.3, this work is provided to you 'AS-IS' WITH NO OTHER
+WARRANTIES OF ANY KIND, EXPRESS OR IMPLIED, INCLUDING BUT NOT LIMITED TO
+WARRANTIES OF MERCHANTIBILITY OR FITNESS FOR ANY PURPOSE.
+
+1.F.5. Some states do not allow disclaimers of certain implied
+warranties or the exclusion or limitation of certain types of damages.
+If any disclaimer or limitation set forth in this agreement violates the
+law of the state applicable to this agreement, the agreement shall be
+interpreted to make the maximum disclaimer or limitation permitted by
+the applicable state law. The invalidity or unenforceability of any
+provision of this agreement shall not void the remaining provisions.
+
+1.F.6. INDEMNITY - You agree to indemnify and hold the Foundation, the
+trademark owner, any agent or employee of the Foundation, anyone
+providing copies of Project Gutenberg-tm electronic works in accordance
+with this agreement, and any volunteers associated with the production,
+promotion and distribution of Project Gutenberg-tm electronic works,
+harmless from all liability, costs and expenses, including legal fees,
+that arise directly or indirectly from any of the following which you do
+or cause to occur: (a) distribution of this or any Project Gutenberg-tm
+work, (b) alteration, modification, or additions or deletions to any
+Project Gutenberg-tm work, and (c) any Defect you cause.
+
+
+Section 2. Information about the Mission of Project Gutenberg-tm
+
+Project Gutenberg-tm is synonymous with the free distribution of
+electronic works in formats readable by the widest variety of computers
+including obsolete, old, middle-aged and new computers. It exists
+because of the efforts of hundreds of volunteers and donations from
+people in all walks of life.
+
+Volunteers and financial support to provide volunteers with the
+assistance they need are critical to reaching Project Gutenberg-tm's
+goals and ensuring that the Project Gutenberg-tm collection will
+remain freely available for generations to come. In 2001, the Project
+Gutenberg Literary Archive Foundation was created to provide a secure
+and permanent future for Project Gutenberg-tm and future generations.
+To learn more about the Project Gutenberg Literary Archive Foundation
+and how your efforts and donations can help, see Sections 3 and 4
+and the Foundation web page at https://www.pglaf.org.
+
+
+Section 3. Information about the Project Gutenberg Literary Archive
+Foundation
+
+The Project Gutenberg Literary Archive Foundation is a non profit
+501(c)(3) educational corporation organized under the laws of the
+state of Mississippi and granted tax exempt status by the Internal
+Revenue Service. The Foundation's EIN or federal tax identification
+number is 64-6221541. Its 501(c)(3) letter is posted at
+https://pglaf.org/fundraising. Contributions to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation are tax deductible to the full extent
+permitted by U.S. federal laws and your state's laws.
+
+The Foundation's principal office is located at 4557 Melan Dr. S.
+Fairbanks, AK, 99712., but its volunteers and employees are scattered
+throughout numerous locations. Its business office is located at
+809 North 1500 West, Salt Lake City, UT 84116, (801) 596-1887, email
+business@pglaf.org. Email contact links and up to date contact
+information can be found at the Foundation's web site and official
+page at https://pglaf.org
+
+For additional contact information:
+ Dr. Gregory B. Newby
+ Chief Executive and Director
+ gbnewby@pglaf.org
+
+
+Section 4. Information about Donations to the Project Gutenberg
+Literary Archive Foundation
+
+Project Gutenberg-tm depends upon and cannot survive without wide
+spread public support and donations to carry out its mission of
+increasing the number of public domain and licensed works that can be
+freely distributed in machine readable form accessible by the widest
+array of equipment including outdated equipment. Many small donations
+($1 to $5,000) are particularly important to maintaining tax exempt
+status with the IRS.
+
+The Foundation is committed to complying with the laws regulating
+charities and charitable donations in all 50 states of the United
+States. Compliance requirements are not uniform and it takes a
+considerable effort, much paperwork and many fees to meet and keep up
+with these requirements. We do not solicit donations in locations
+where we have not received written confirmation of compliance. To
+SEND DONATIONS or determine the status of compliance for any
+particular state visit https://pglaf.org
+
+While we cannot and do not solicit contributions from states where we
+have not met the solicitation requirements, we know of no prohibition
+against accepting unsolicited donations from donors in such states who
+approach us with offers to donate.
+
+International donations are gratefully accepted, but we cannot make
+any statements concerning tax treatment of donations received from
+outside the United States. U.S. laws alone swamp our small staff.
+
+Please check the Project Gutenberg Web pages for current donation
+methods and addresses. Donations are accepted in a number of other
+ways including including checks, online payments and credit card
+donations. To donate, please visit: https://pglaf.org/donate
+
+
+Section 5. General Information About Project Gutenberg-tm electronic
+works.
+
+Professor Michael S. Hart was the originator of the Project Gutenberg-tm
+concept of a library of electronic works that could be freely shared
+with anyone. For thirty years, he produced and distributed Project
+Gutenberg-tm eBooks with only a loose network of volunteer support.
+
+
+Project Gutenberg-tm eBooks are often created from several printed
+editions, all of which are confirmed as Public Domain in the U.S.
+unless a copyright notice is included. Thus, we do not necessarily
+keep eBooks in compliance with any particular paper edition.
+
+
+Most people start at our Web site which has the main PG search facility:
+
+ https://www.gutenberg.org
+
+This Web site includes information about Project Gutenberg-tm,
+including how to make donations to the Project Gutenberg Literary
+Archive Foundation, how to help produce our new eBooks, and how to
+subscribe to our email newsletter to hear about new eBooks.
+
+
+</pre>
+
+</body>
+</html>
diff --git a/LICENSE.txt b/LICENSE.txt
new file mode 100644
index 0000000..6312041
--- /dev/null
+++ b/LICENSE.txt
@@ -0,0 +1,11 @@
+This eBook, including all associated images, markup, improvements,
+metadata, and any other content or labor, has been confirmed to be
+in the PUBLIC DOMAIN IN THE UNITED STATES.
+
+Procedures for determining public domain status are described in
+the "Copyright How-To" at https://www.gutenberg.org.
+
+No investigation has been made concerning possible copyrights in
+jurisdictions other than the United States. Anyone seeking to utilize
+this eBook outside of the United States should confirm copyright
+status under the laws that apply to them.
diff --git a/README.md b/README.md
new file mode 100644
index 0000000..24c9daa
--- /dev/null
+++ b/README.md
@@ -0,0 +1,2 @@
+Project Gutenberg (https://www.gutenberg.org) public repository for
+eBook #32789 (https://www.gutenberg.org/ebooks/32789)